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Amílcar Cabral - o poeta da liberdade


Amílcar Cabral

Amílcar Lopes Cabral (poeta, político, e agrônomo). nasceu em 12 de setembro de 1924 em Bafatá, na Guiné, filho de Juvenal Lopes Cabral e de Iva Pinhel Évora. Aos 12 anos de idade junta-se ao pai, que nessa altura já havia regressado a Cabo Verde, e efetua os seus estudos primários na Rua Serpa Pinto, na Praia. Seguidamente inscreve-se em São Vicente no liceu Infante D. Henrique onde termina os estudos liceais em 1944, classificado como o melhor aluno. Ainda na sua juventude, Cabral evidenciava já uma especial avidez pela percepção do mundo que o rodeava, fato que se espelhava nos seus dotes de poeta e de escritor. Os seus sentimentos nacionalistas eram vistos com reprovação pelas autoridades coloniais.
Em 1945, Cabral é um dos primeiros jovens das colônias portuguesas a ser contemplado com uma bolsa para freqüentar os estabelecimentos de ensino superior em Portugal e matricula-se no Instituto Superior de Agronomia em Lisboa. A vida de estudante constituiu uma oportunidade para aprofundar o seu sentimento progressista anti-colonial, participando ativamente nas atividades estudantis clandestinas que se desenvolviam à volta da Casa dos Estudantes do Império e da Casa de África; foi aí que veio a conhecer Marcelino dos Santos, Vasco Cabral, Agostinho Neto, Eduardo Mondlane e outros estudantes que viriam a ser futuros líderes dos movimentos de libertação.
Estando de férias em Cabo Verde, em 1949, Cabral participa na Rádio-Clube elaborando um conjunto de programas de índole cultural que logo são interditados pelas autoridades, devido à sua mensagem nacionalista que era bem acolhida sobretudo no seio dos jovens.
Regressando a Lisboa para continuar os estudos, Cabral retoma as suas atividades políticas, com os estudantes africanos, não obstante a vigilância cerrada e as ameaças cada vez mais insinuantes da polícia política portuguesa, a PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado).
Em 1952 Cabral terminou o curso e casou-se com Maria Helena Atalaide Vilhena Rodrigues.
No início de 1953 Cabral é colocado como engenheiro agrônomo na Guiné-Bissau, para trabalhar na estação agrária experimental de Pessubé. Ele aproveita-se então da sua atividade profissional para percorrer a Guiné de ponta a ponta e adquirir um bom conhecimento do terreno bem como da constituição social das suas populações; é Cabral quem realiza o primeiro recenseamento agrícola dessa colônia portuguesa.
Amílcar Cabral
Depois de ter militado durante cerca de um ano no MING (Movimento de Libertação Nacional da Guiné), Amílcar Cabral decide fundar o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde), a 19 de setembro de 1956.
Um ano mais tarde, Amílcar Cabral foi trabalhar em Angola e aí participou também na criação do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) em Luanda, tendo desenvolvido uma intensa atividade na mobilização de jovens angolanos para a luta contra a dominação colonial.
Em dezembro de 1957, Cabral viaja para Paris onde se encontra com Marcelino dos Santos, da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), e com Lúcio Lara, Mário de Andrade e Viriato da Cruz, do MPLA. Juntos resolvem então realizar a primeira reunião de concertação entre os movimentos de libertação das colônias portuguesas, na qual decidem cooperar em atividades conjuntas no campo internacional e criar em Lisboa um centro que coordenaria as ações entre esses movimentos. Na seqüência dessa reunião, Cabral ao regressar de Paris passa por Lisboa onde mobiliza os estudantes nacionalistas africanos para criarem o MAC (Movimento Anti Colonialista), primeira organização clandestina formada em Portugal por estudantes oriundos das colônias portuguesas.
Cabral desenvolve nessa altura uma série de contctos visando buscar apoios externos para a luta contra a dominação colonial.
Depois do massacre de Pidjiguiti realizado em Bissau pelas forças coloniais de repressão, a 3 de agosto de 1959, ele resolve regressar à Guiné-Bissau onde reúne a direção do PAIGC para analisar a situação da luta no país. Fica então decidido que o PAIGC deveria dar atenção prioritária à mobilização das populações rurais, com vista à preparação de condições para a passagem à luta armada, já que a repressão colonial havia demonstrado não admitir nenhuma veleidade de contestação legal ao sistema.
Em 1960, Cabral decide fugir com os seus companheiros para a Guiné-Conakry onde passaria a ficar instalada a sede do PAIGC. A partir desse país ele trabalha ativamente nos preparativos para o reforço do PAIGC e o arranque da luta armada de libertação nacional.
Em abril de 1960, em Casablanca, ele participa na criação da Conferência das Organizações Nacionalistas das colônias Portuguesas - CONCP.
Durante cerca de três anos Amílcar Cabral desenvolve uma intensa atividade de mobilização das populações no interior da Guiné, ao mesmo tempo que, no campo internacional desenvolve contatos para a obtenção dos apoios indispensáveis para a passagem a uma nova fase de luta.
A 23 de janeiro de 1963 inicia-se a luta armada na Guiné-Bissau.
Revelando-se um homem de grande capacidade intelectual e dotado de uma firme convicção na luta pela liberdade e a justiça social, Amílcar Cabral dedicou todos os seus esforços em prol da independência dos povos da Guiné e de Cabo Verde. De forma genial ele conseguiu conjugar os sucessos que se iam alcançando no terreno da luta militar na Guiné e no da luta política clandestina em Cabo Verde, com o desenvolvimento de uma ação diplomática que ele pessoalmente conduziu da forma mais eficaz.
Vários acontecimentos cruciais durante os anos da luta de libertação nacional constituem hoje datas marcantes da história de Cabo Verde cuja ocorrência se deve fundamentalmente à ação incansável de Amílcar Cabral. De entre eles podemos destacar:
• a elaboração em 1965 das "Palavras de Ordem" do PAIGC destinadas aos combatentes;
• o juramento de fidelidade realizado a 15 de janeiro de 1967, pelo primeiro grupo de 30 cabo-verdianos que receberam formação militar, com vista à preparação para a luta em Cabo Verde;
• a realização do Seminário de Quadros do PAIGC, em 1969;
• o reconhecimento do PAIGC pelas mais altas instâncias internacionais;
• o encontro do Papa em Roma, com os dirigentes dos movimentos de libertação das colônias portuguesas, em 1972;
• a preparação da independência da Guiné-Bissau.
Devido ao sucesso inquestionável que a sua ação vinha conseguindo, fazendo com que o sistema colonial português se sentisse cada vez mais desesperado no plano interno e mais isolado no plano internacional, Amílcar Cabral foi barbaramente assassinado a 20 de janeiro de 1973, por agentes a soldo do colonialismo.
:: Fonte: Gazeta do Racionalismo Cristão (Colaboração de Manuel ROCHA, fevereiro de 2007. Dados extraídos do livro Liberdade, ainda e sempre ..., de autoria da Associação dos Combatentes da Liberdade da Pátria (ACOLP), editado em julho de 1997). Disponível no link. (acessado em 5.7.2015).
:: Apontamentos para uma biografia, em Fundação Amilcar Cabral
(acessado em 5.7.2015).


Amílcar Cabral
OBRA DE AMÍLCAR CABRAL
Livros
:: P.A.I.G.C. – Manual político. Porto: Afrontamento, 1974.
:: Guiné-Bissau: nação africana forjada na luta. Lisboa: Nova Aurora, 1974.
:: Obras escolhidas de Amílcar Cabral - Unidade e luta I: A arma da teoria[textos coordenados por Mário Pinto de Andrade]. Lisboa: Seara Nova, 1978.
:: Obras escolhidas de Amílcar Cabral - Unidade e luta II: A prática revolucionária. [textos coordenados por Mário Pinto de Andrade]. Lisboa: Seara Nova, 1977.
:: Análise de alguns tipos de resistência. Guiné-Bissau: Imprensa Nacional, 1979.
:: Estudos agrários de Amílcar Cabral. Lisboa: IICT, 1988.
:: Nacionalismo e Cultura. Galiza: Edicións Laiovento, 1999.
:: As mulheres na frente da nossa vida e da nossa luta. Arquivo Amílcar Cabral, Fundação Mário Soares, documento 07060.027.027.

Artigos
CABRAL, Amílcar. A propósito da educação. Boletim de propaganda e Informação, 1947, n.º21 p. 24-25. 
_______ , Amílcar. Algumas considerações acerca das Chuvas. Boletim de Propaganda e Informação, 1949, n.º 1, p. 5-7. 
_______, Amílcar. Em defesa da terra. Boletim de Propaganda e Informação, 1949-1951, n.º 1 a 24.
_______ , Amílcar. A Cultura e o combate pela independência. Seara Nova, 1974, n.º 1544. 
_______ , Amílcar. Apontamentos sobre a poesia caboverdiana. Revista de Cultura Vozes, N. 1 / 1976 / Ano 70 p. 15 a 21.

Obra poética de Amílcar Cabral
:: Emergência da poesia em Amílcar Cabral (30 poemas de Amílcar Cabral).. [recolhidos e organizados por Oswaldo Osório]. Colecção Dragoeiro. Praia: Edição Grafedito, 1983. 


"Era natural (...) que com a morte do famoso estadista e intelectual africano, biógrafos e outros investigariam todas as facetas pertinentes da vida pública e particular de Amílcar Cabral. Deste modo, a revelação mais ampla de Cabral o poeta, além de ser uma homenagem ao herói martirizado, faz parte da restituição da história de Cabo Verde (...) na inter- secção das três esferas. A projecção da poesia de Cabral é uma incorporação, consciente ou inconsciente, de um modo quase esquecido e de uma visão retros- pectiva deste momento."
- Russel G. Hamilton in Literatura Africana Literatura Necessária- II. (fonte: FMSoares).


Amílcar Cabral
POEMAS ESCOLHIDOS DE AMÍLCAR CABRAL

A minha poesia sou eu
... Não, Poesia:
Não te escondas nas grutas de meu ser, 
não fujas à Vida.
Quebra as grades invisíveis da minha prisão, 
abre de par em par as portas do meu ser
— sai...
Sai para a luta (a vida é luta)
os homens lá fora chamam por ti, 
e tu, Poesia és também um Homem. 
Ama as Poesias de todo o Mundo,
— ama os Homens
Solta teus poemas para todas as raças,
para todas as coisas.
Confunde-te comigo...
Vai, Poesia:
Toma os meus braços para abraçares o Mundo,
dá-me os teus braços para que abrace a Vida. 
A minha Poesia sou eu.
- Amílcar Cabral, em "revista Seara Nova". 1946.


Eu sou tudo e sou nada...
Eu sou tudo e sou nada,
Mas busco-me incessantemente,
- Não me encontro!

Oh farrapos de nuvens, passarões não alados,
levai-me convosco!
Já não quero esta vida,
quero ir nos espaços
para onde não sei.
- Amílcar Cabral, em "Emergência da poesia em Amílcar Cabral" (30 poemas).. [recolhidos e organizados por Oswaldo Osório]. Colecção Dragoeiro. Praia: Edição Grafedito, 1983.


Ilha
Tu vives — mãe adormecida —  
nua e esquecida,
 seca,
fustigada pelos ventos,
ao som de músicas sem música
das águas que nos prendem…  

Ilha:  
teus montes e teus vales  
não sentiram passar os tempos  
e ficaram no mundo dos teus sonhos  
— os sonhos dos teus filhos —  
a clamar aos ventos que passam,  
e às aves que voam, livres,  
as tuas ânsias!  

Ilha:  
colina sem fim de terra vermelha  
— terra dura —  
rochas escarpadas tapando os horizontes,  
mas aos quatro ventos prendendo as nossas ânsias!
- Amílcar Cabral (Praia, Cabo Verde, 1945).


Naus sem rumo
Dispersas,
emersas,
sozinhas sôbre o Oceano …
Sequiosas,
rochosas,
pedaços do Africano,
do negro continente,
as engeitadas filhas,
nossas ilhas,
navegam tristemente …

Qual naus da antiguidade,
qual naus
do velho Portugal,
aquelas que as entradas
do imenso mar abriram …
As naus
que as nossas descobriram.

Ao vento, à tempestade,
navegam
de Cabo Verde as ilhas,
as filhas
do ingente
e negro continente …

São dez as caravelas
em busca do Infinito …
São dez as caravelas,
sem velas,
em busca do Infinito …
A tempestade e ao vento,
caminham …
navegam mansamente
as ilhas,
as filhas
do negro continente …

- Onde ides naus da Fome,
da Morna,
do Sonho,
e da Desgraça? …

- Onde ides? …

Sem rumo e sem ter fito,
Sozinhas,
dispersas,
emersas,
nós vamos,
sonhando,
sofrendo,
em busca do Infinito! …
- Amílcar Cabral, em "Emergência da poesia em Amílcar Cabral" (30 poemas).. [recolhidos e organizados por Oswaldo Osório]. Colecção Dragoeiro. Praia: Edição Grafedito, 1983.


No fundo de mim mesmo...
No fundo de mim mesmo
eu sinto qualquer coisa que fere minha carne,
que me dilacera e tortura …

… qualquer coisa estranha (talvez seja ilusão),
qualquer coisa estranha que eu tenho não sei onde
que faz sangrar meu corpo,
que faz sangrar também
a Humanidade inteira!

Sangue.

Sangue escaldante pingando gota a gota
no íntimo de mim mesmo,
na taça inesgotável das minhas esperanças!
Luta tremenda, esta luta do Homem:
E beberei de novo – sempre, sempre, sempre -
este sangue não sangue, que escorre do meu corpo,

este sangue invisível – que é talvez a Vida!
- Amílcar Cabral, em "Emergência da poesia em Amílcar Cabral" (30 poemas).. [recolhidos e organizados por Oswaldo Osório]. Colecção Dragoeiro. Praia: Edição Grafedito, 1983.


(Poemas da juventude)
Eu lembro-me ainda dos tempos antigos, 
Dos tempos sem nome, só teus e só teus …
Em que eras um homem de poucos amigos,
Metido contigo, contigo e com Deus …

Outro homem és hoje – e outro serás,
Bem forte na luta, em prol dos Humanos.
Na luta da vida – eu sei – vencerás,
Num Mundo de todos, sem Mal e sem danos.
- Amílcar Cabral, em "Emergência da poesia em Amílcar Cabral" (30 poemas).. [recolhidos e organizados por Oswaldo Osório]. Colecção Dragoeiro. Praia: Edição Grafedito, 1983.


Regresso
Mamãe Velha, venha ouvir comigo
o bater da chuva lá no seu portão.
É um bater de amigo
que vibra dentro do meu coração.

A chuva amiga, Mamãe Velha, a chuva,
que há tanto tempo não batia assim...
Ouvi dizer que a Cidade-Velha,
— a ilha toda —
Em poucos dias já virou jardim...
Dizem que o campo se cobriu de verde,
da cor mais bela, porque é a cor da esp´rança.
Que a terra, agora, é mesmo Cabo Verde.
— É a tempestade que virou bonança...

Venha comigo, Mamãe Velha, venha,
recobre a força e chegue-se ao portão.
A chuva amiga já falou mantenha
e bate dentro do meu coração!
- Amílcar Cabral, em "Emergência da poesia em Amílcar Cabral" (30 poemas).. [recolhidos e organizados por Oswaldo Osório]. Colecção Dragoeiro. Praia: Edição Grafedito, 1983.


Sim quero-te...
Quero-te quando solitário cismo
na nossa vida,
nossa triste vida …
e optimista, esperançoso eu vejo
o meu futuro,
o teu futuro,
e uma vida melhor …

Quero-te quando a nossa melodia,
a nossa morna,
cantas docemente …
… e eu sonho, eu vivo, e eu subo a escada mágica
da tua voz serena,
e eu vou viver contigo!

Quero-te quando contemplo o nosso mundo,
um mundo de misérias,
de dor,
e de ilusões …
… e penso, e creio e tenho
a máxima Certeza
de que o romper da aurora
do “dia para todos”
não tarda … e vem já perto …

… E o mundo de misérias
será um mundo de Homens …

Eu quero-te! Eu quero-te!
Como o dia de amanhã! …
- Amílcar Cabral, em "Emergência da poesia em Amílcar Cabral" (30 poemas).. [recolhidos e organizados por Oswaldo Osório]. Colecção Dragoeiro. Praia: Edição Grafedito, 1983.


Poema
Quem é que não se lembra
Daquele grito que parecia trovão?!
– É que ontem
Soltei meu grito de revolta.
Meu grito de revolta ecoou pelos vales mais longínquos da Terra,
Atravessou os mares e os oceanos,
Transpôs os Himalaias de todo o Mundo,
Não respeitou fronteiras
E fez vibrar meu peito...

Meu grito de revolta fez vibrar os peitos de todos os Homens,
Confraternizou todos os Homens
E transformou a Vida...

... Ah! O meu grito de revolta que percorreu o Mundo,
Que não transpôs o Mundo,
O Mundo que sou eu!

Ah! O meu grito de revolta que feneceu lá longe,
Muito longe,
Na minha garganta!


Na garganta de todos os Homens
- Amílcar Cabral, em "Emergência da poesia em Amílcar Cabral" (30 poemas).. [recolhidos e organizados por Oswaldo Osório]. Colecção Dragoeiro. Praia: Edição Grafedito, 1983.


Que fazer?!...
Eu não compreendo o Amor,
eu não compreendo a Vida
Mistérios insondáveis,
Formidáveis,
Mistérios que o Homem enfrenta
Mistérios de um mistério
Que é a alma humana …

Eu não compreendo a Vida:
Há luta entre os humanos,
Há guerra,
Há fome, e há injustiça imensa:
H á pobres seculares,
Aspirações que morrem …
Enquanto os fortes gastam
Em gastos não precisos
Aquilo que outros querem …

Eu não compreendo o amor:
Amamos quem sabemos impossível
Sentir por nós aquilo
Que tanto cobiçamos …

A Vida não me entende,
Eu não compreendo a Vida.
Quero entender o Amor,

E o amor não me compreende!
- Amílcar Cabral, em "Emergência da poesia em Amílcar Cabral" (30 poemas).. [recolhidos e organizados por Oswaldo Osório]. Colecção Dragoeiro. Praia: Edição Grafedito, 1983.

Amilcar Cabral
FORTUNA CRÍTICA DE AMÍLCAR CABRAL
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Amílcar Cabral, por Fabiana Miraz de Freitas Grecco
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VILLEN, Patrícia. Amílcar Cabral e a crítica ao colonialismo. 1ª ed., São Paulo: Expressão Popular, 2013.
VILLEN, Patrícia. Cultura, resistência e transformação na teoria de Amílcar Cabral. Capoeira. Revista de Humanidades e Letras, v. 1, p. 30-44, 2014. 



Amílcar Cabral
"(...) sentimento de protesto, nascido da inadequação dos valores culturais próprios às situações de opressão e discriminação (...). conduziu à emergência da revolta que se afirmaria como traço distintivo da sua personalidade e factor de formação do revolucionário consequente em que se tornou. Ainda na juventude, estes valores e este espírito traduziram-se em formas de expressão que vão de incursões no campo da literatura à intensa actividade de divulgação cultural! É uma produção literária, quer em verso quer no domínio da ficção, a traduzir um engajamento com a realidade circundante, é a preocupação do estudante de agronomia a debruçar-se na área da sua especialidade, sobre o fenómeno da erosão, problema candente na luta pela sobrevivência do povo caboboverdiano, e a animação cultural através de programas radiofónicos de forte penetração popular que, alertada, a autoridade colonial suspende."
- Aristides Pereira. O perfil de Cabral e a actualidade do seu pensamento, In CONTINUAR CABRAL (Simpósio Internacional Amílcar Cabral).. (fonte: FMSoares).


DOCUMENTÁRIOS E EPISÓDIOS




Cabralista - part 1: Amilcar Cabral



PAIGC/Guiné _ Tite Primeiros Tiros Luta Armada 1963



Assassinato de Amilcar Cabral (1973)


AFRICA EM PAUTA 
Amílcar Cabral, por (...)
:: África em Pauta - memória, história, arte  


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Amílcar Cabral, por  Jaílson Delgado (Jan.2013)
REFERÊNCIAS E OUTRAS FONTES DE PESQUISA
:: Cesar Schofield Cardoso
:: CIDAC
:: Fundação Amílcar Cabral
:: Fundação Mário Soares
:: Vida e Obra de Amílcar Cabral (notícias sapo)


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FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Amílcar Cabral - o poeta da liberdade. Templo Cultural Delfos, setembro/2015. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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** Página atualizada em 11.9.2015.



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Cristiano Menezes - o poeta cosmopolita

Cristiano Ottoni de Menezes - foto: arquivo do autor
Cristiano Ottoni de Menezes nasceu em 9 de setembro de 1948, faleceu em 1 de setembro de 2016. Poeta, radialista e jornalista. Já atuou como repórter, editor, produtor, locutor, programador musical, roteirista e apresentador e exerceu cargos de gestão.
Cristiano carioca, morador de Copacabana, nascido e criado em Botafogo. Cresceu jogando bola, matando aula e mudando de escola. Fez o ginásio no São Bento e Zé Bonifácio, clássico no Santo Inácio, o que não foi fácil, chegou a estudar direito, mas saiu errando por aí. 
Nos anos 1970, meteu o pé na estrada, rodou o país de carona. Foi ator na peça “A dança da Lebre Celeste” direção de Mossa Ossa (Teatro Ipanema, RJ e Oficina, SP). Descobriu o rádio e tornou-se um louco-ator. Levou a poesia e o teatro para os microfones das emissoras em que atuou durante 37 anos. Poetas da Nuvem Cigana e outros tantos passaram por seus programas. Começou a publicar seus poemas em suplementos literários e antologias. Fez programas para região amazônica roteirizando e dramatizando o conteúdo das cartas que recebia dos ouvintes. Passou a dizer seus poemas em bares, teatros, praças, livrarias, festas e feiras literárias.  
Trabalhou em jornal, televisão e rádio, como programador musical, locutor, repórter, produtor e apresentador. Foi produtor no Circo Voador, produziu shows de bandas como Blitz, Legião Urbana, Brylho, entre outras. É autor de letras em parcerias com Cláudio Nucci, Jovi Joviniano e Perinho Santana. Escreveu e dirigiu radionovelas. Produziu e apresentou programas sobre meio ambiente e ciência & tecnologia. Apresentou programas de auditório na Rádio Nacional com o Conjunto Época de Ouro, onde recebia artistas com Paulinho da Viola, Dona Ivone Lara, Roberto Silva, Paulo Moura, Beth Carvalho, Monarco, Nelson Sargento, Cláudio Jorge, Yamandú Costa, Hamilton de Hollanda, Joel Nascimento, entre outros, muitos outros. 
É autor de “Guardanapos“ (Editora 7 Letras – 2014). Em 2016, escreve e viaja. Em todos os sentidos. Brincou nas onze, Mantém-se inquieto e prepara novo livro.


"O poeta Cristiano escreve quase como se fala, sem artifício, como se atirasse numa pauta musical livre de cinco linhas. Deve ser o pistom, ou a noite, o samba, o jazz, a canção, os amores, as luzes da cidade."
- Xico Chaves, no 'prefácio' de Guardanapos. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014, p 8.


OBRA POÉTICA
:: Guardanapos. [prefácio  Xico Chaves]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.

Antologia (participação)
:: República dos Poetas - antologia poética. [organização Ricardo Muniz de Ruiz]. Rio de Janeiro: Museu da República Editora, 2005.
:: Antologia poética “Trinta Anos-Luz: Poetas celebram 30 anos de Psiu Poético. [organização Aroldo Pereira, Luis Turiba e Wagner Merije]. São Paulo: Aquarela Brasileira Livros, 2016. 
:: Poesias para a pandemia. [seleção e organização Paulo Sabino]. Rio de Janeiro: selo Bem-Te-Li; Autografia Editora, 2021 {142 poemas e textos poéticos de 142 autores}.

Cristiano Menezes visita o Jardim Botânico de Brasília - foto: arquivo do autor

POEMAS ESCOLHIDOS DE CRISTIANO MENEZES

Ciclos
    Súbito surge
    exige súditos
entorna-se devastadora
    até que reflui
e novamente se faz navegável 
    enfim amável

   Às vezes percebo
     às vezes não
  e quando assim
     me instrua
me lembre das máres
    das fases da lua
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Circunstâncias
Quando me foge a certeza
   só me resta a leveza

     Aí fico balão
corro o risco dos ventos
   me esqueço do chão
me aceno como um lenço

E não penso no que duvido
   muito menos onde pousar

Mas quando tenho a certeza
   sou âncora tatuada
 nos braços dos mares
     namoro as baías
 me exibo nos bares

   E ao sabor dos vinhos
vencendo a todos os moinhos
       festejo
   entro na dança
   e com Sancho
 encho a pança
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Comigo mesmo
   Não tenho mais o cordão 
dele só a marca no umbigo
     com frio no coração
aprendi o calor dos amigos

      Podia ter morrido
junto com tudo o que matei
    mas nasci atento
pras coisas que ainda não sei

      E assim, a cada dia novo dia,
   sempre dono do meu nariz
     vivo o medo e a alegria
de quem está sempre por um triz

  Na corda bamba é o que se vê quem é
o passo adiante é pra quem está solto
    lá embaixo a plateia está de pé 
   aqui no peito o meu mar revolto

          O salto é meu
a mão, do companheiro,
    e só quando me lanço
    é que me sinto inteiro

         Agradeço a carona
mas sou filho de mim mesmo
        do norte, do sul
   da minha vida a esmo
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Criação
o espetáculo dos ensaios
   não cabe nas molduras
    se não transbordar 
     não transforma
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Fio da meada
O presente sem memória
     é linha partida
     pipa solta no ar
e a estória de quem pegar
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Frio 
O seu olhar indiferente
     mais do que vago
é a expressão do vácuo
        É o nada
     Nem morno
       nem frio
    nem quente
 Vazio que invade
   cala profundo
no beijo não dado
 Eco da ausência
  avesso de tudo
 antes tão presente
O seu olhar indiferente...
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Nitidez
Para ver melhor 
meus contornos
entre o espelho
   e o papel
escolho escrever
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Nuances
Os segredos têm a beleza das sombras
   De textura sutil como os casulos
     gestam a surpresa dos voos
       As mentiras são feias
         pegajosas teias
     tecem a escuridão
com que se disfarçam os medos.
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.



Cristiano Ottoni de Menezes - foto: arquivo do autor
Palavras
Que não nos faltem as palavras
    palavras faladas
     ou no papel
   palavras ao léu
      palavras
      contato

  Palavras sem tato
    palavras claras
      fanhas
      loucas
    ou roucas

  Palavras aflitas
 palavras medidas
   palavras soltas
nas línguas ferinas
ou afogadas no batom
  de bocas carnudas

  Palavras confete,
     desnudas
envoltas em serpentinas
  palavras purpurina
  na festa da carne

Palavras sapecas
   atrevidas
   cintilando
Nas rimas do meu samba na avenida

   Palavras signos
do código que nos decifra
  alegorias dos enredos
    marolas do rio
  que me leva ao mar

São palavras que me fazem amar
       ou brigar

    Palavras excitam
    palavras hesitam
      e me lançam 
       como flecha
  nos corações desavisados

    Palavras
 que não nos faltem as palavras
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Sempre
  Às vezes me afogo
no fundo de um pouco
    até que um afago
  me faz menos louco

   Às vezes me afobo
com a pressa que não sinto
    até que me acalma
 um velho e bom tinto

   Às vezes me acho
 tão longe do perto
    até que um susto
 me faz mais esperto

      Às vezes falo 
   e não digo palavra
     até que me calo
 e prossigo na lavra
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Trilha
  O que será que há
depois daquela curva

  O que será
ao fim deste caminho
  que se oferece
    e me instiga
       a seguir
  passo a passo
     hesitante
 atento ao estalo
   de cada galho
   em que piso
  neste caminho
 que se estende
   entre verdes
  e esperanças

    O que será
   ali à frente
  quando vira
parece que desce
não sei pra onde
  e mais adiante
 segue morro acima

  O que será que há
depois daquela ladeira
Onde vai dar este caminho
    que agora vejo
    não tem volta
    este caminho
   que não conheço
  mas a cada passo
    enfim percebo
  é meu este caminho
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Vida que segue
Quero sentir o perigo
  não para morrer
mas para buscar a saída
 desse marasmo antigo
que boceja sem perceber
 o bafo da pouca vida

Impossível sair tranquilo
       ou escolher
  o jeito mais delicado
   de dizer com estilo
que não há como esconder
  nosso anel quebrado

    É hora de rabiscar
 seguir os traços loucos
dessa mensagem amassada
 no guardanapo do bar
onde em desenhos roucos
digo, somos página virada
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Claudia Pinheiro, Thiago de Mello e Cristiano Menezes - foto: arquivo do autor

FORTUNA CRÍTICA
CORREIO Braziliense. Poeta Cristiano Menezes lança livro de poesia Guardanapos. Correio Braziliense, 16.10.2014. Disponível no link. (acessado em 11.9.2015).
GLOBO. Morre Cristiano Ottoni de Menezes, poeta, jornalista e produtor, aos 67 anos. in: O Globo, 2.9.2016. Disponível no link. (acessado em 2.9.2016).
MPB/DCA. Cristiano Menezes. in: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Disponível no link. (acessado em 11.9.2015).
MENDES, André di Bernardi Batista. Universo dentro do peito. (entrevista). in: Divirta-se Uai, 13/9/2014. Disponível no link. (acessado em 11.9.2015).
VIRGÍLIO, Paulo. Morre no Rio o radialista Cristiano Menezes, ex-diretor da Rádio Nacional. in: Agencia Brasil - EBC, 1.9.2016. Disponível no link. (acessado em 1.9.2016)


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Cristiano Ottoni de Menezes - foto: arquivo do autor

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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Cristiano Menezes - o poeta cosmopolita. Templo Cultural Delfos, março/2022. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
** Página atualizada em 30.3.2022.
** Página original SETEMBRO/2015.



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