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António Vilhena - poeta e cronista português

Antonio Vilhena - arquivo do autor
António Manuel Vilhena (Beja - Portugal, 14 de outubro de 1960)Licenciado em psicologia pela Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação da Universidade de Coimbra, mestre em Estudos Clássicos e doutorado em Mundo Antigo pela Faculdade de Letras na Universidade de Coimbra. Membro convidado do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Faculdade de Letras de Universidade de Coimbra. Poeta, cronista e autor de livros infantis. Desempenha, actualmente, as funções de Curador da Casa da Escrita, em Coimbra. Foi vereador na Câmara Municipal de Coimbra de 2009 a 2013.
 Pedimos emprestadas as palavras da doutora Nair de Nazaré Castro Soares, catedrática da Universidade de Coimbra que prefaciou o livro "Cartas a um Amor ausente":
"No êxtase da palavra e do silêncio, entretece o poeta o sonho que o percorre, no espaço sem tempo e sem lugar, e anuncia imperecível, transfigurada, a verdade que o transcende. Em Cartas a Um Amor Ausente, o amor é a substância primeira, o sujeito e o objecto da narrativa poética. Dali parte, ali regressa. E, nesse amor tão escrupuloso, o autor põe uma tão comovida atenção, uma tal graça ingénua na estilização do mundo que é o seu, que a sua palavra, o que nos dá a ver, leva-nos a afirmar com Hölderlin que a poesia é a mais inocente das actividades. (…)"
:: Fonte: o autor


 “Sem embargo da crescente revelação de dotes para a realização cativante noutros tipos de criação literária, com a literatura para crianças a crescer por entre a crónica e a ficção de narrativa breve, a vocação literária de António Vilhena permanece fiel à primazia da poesia lírica, que tão precocemente se afirmou sobre a herança mítica e a tradição do canto da mátria alentejana. Memória afectiva da subjectividade e memória cívica da comunidade, sem engodos de evasão pitoresca ou nostálgica, essa presença originária do Alentejo – matriz existencial e metáfora sinérgica do inconformismo social e do anseio existencial de um bem maior – desdobra-se ao longo da obra de António Vilhena e interage alusivamente com outras eficientes figurações para dizer a inquietação e o horizonte da vida como travessia. Mas sobre tudo isso se descobre, afinal desde Do Ventre da Terra (1987) até Trança d’ Água (1989), desde Mais Felizes que o Sonho (1996) até Canto Imperecível das Aves (2012), uma estruturante poética dos Elementos arquetípicos: primeiro, emergiu a lírica da terra convulsa (e do eros latejante), mas trazendo já em «Liberdade» o elemento purificador da água, de tal modo que ambas, terra e água, logo crepitavam ao fogo (Ardor de todas as palavras / Que acreditam no desejo»), para depois se expandirem pelo ar que no Canto Imperecível das Ave* é espaço vibrante da luz que fulgura no encontro das energias amorosas (e da Luz iniciática que promete outro Conhecimento).”
- José Carlos Seabra Pereira, na "apresentação" do livro de poesia "Canto Imperecível das Aveas", de António Vilhena. 


Antonio Vilhena - foto: (...)
OBRA DE ANTÓNIO VILHENA
Poesia
:: Do ventre da terra. Ediliber Edições, 1987.
:: Trança d`água. [prefácio José Carlos Seabra Pereira; ilustrações João Carlos; fotografia Luís Carregã]. Coimbra: Académica Editora, 1989.
:: Mais felizes que o sonho. [prefácio Fernando Dacosta]. Coimbra: Mar da Palavra Edições, 1996.
:: Canto imperecível das avesCoimbra: Caracol Edições, 2012.
:: Templo do fogo insaciável. [apresentação Susana Pita Soares]. Coimbra: Caracol Edições, 2013.

Prosa poética
:: A eterna paixão de nunca estar contente. [prefácio de Natália Correia]. Coimbra: Académica Editora, 1991.
:: Cartas a um amor ausente. [prefácio Nair de Nazaré Castro Soares]. Coimbra: Caracol Edições, 2014.

Crónica 
:: Diálogos de rosa e espada. [prefácio Maria Teresa Roberto]. Colecção Maré alta. Coimbra: Mar da Palavra Edições, 2004.

Infantil
:: O piano adormecido. [ilustrações Andreia Travassos]. Coimbra: Mar da Palavra Edições, 2006.
:: A formiga barriguda[ilustrações Inês Massano]. Coimbra: Caracol Edições, 2012.
:: As férias da formiga barriguda[ilustrações Inês Massano]. Coimbra: Caracol Edições, 2013.
:: A orquestra da formiga barriguda e os sons da água. [ilustrações Inês Massano]. Coimbra: Caracol Edições, 2014.
:: Picó seis dedos no planeta azul. 2016.

Obras no prelo para 2016/2017
:: Poesia - Só Há Uma Vida e Uma Morte
:: Crônicas - A Valsa dos Insultos

:: Infantil - Os Olhos do Coração


Antonio Vilhena - arquivo do autor


POEMAS ESCOLHIDOS DE ANTÓNIO VILHENA

Alentejo
Quando as sombras sobem na parede branca
dos montes alentejanos o sol afoga-se no ocaso,
é nesses momentos que sinto os teus olhos
e vejo o amor derramado na paisagem do sul.

O que fica, quando a noite se abeira das bocas,
é uma chilreada de beijos, uma pressa lenta
perpetuando a intimidade no horizonte.
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.



Ama-me
Dás a sombra onde a luz oculta a silhueta do corpo
só damos o que não nos pertence
e se recebemos do outro a parte de cada um
fica escrito que o mar não é um rio
nem nós somos as margens desse leito.

Se me amares a luz dará sentido às coisas
e não separará o fogo do ar.

Se não me amares tudo será separado
pela água, como se fossemos a pira do efémero.
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.



Amor oculto
Há um amor indizível à espera dos corpos 
um amor quase oculto feito de sombras 
e desejos que não cabem 
nas palavras de um amor convencional.
Há um arco sem fim entre as margens
dessa espera, um dragão de fogo renascido
na esperança onde a solidão é coisa 
de adolescentes e de amantes separados.
Há a voz indelével como as águas livres 
da montanha o eco e a insónia no rubor
da tua face branca onde adormecem
as noites e o luar das mãos. 
- António Vilhena, em "Só há uma vida e uma morte". 2015 (inédito).


Beleza
Não sabia que existias…Só se ama o que se conhece!
Quem espera traz uma esperança antiga,
uma praça em festa de solidão oculta.
Às vezes, é preciso que as velas ardam até ao fim.
Depois, vem a madrugada e o chocalhar dos rebanhos,
os trilhos, o incenso, a voz e o horizonte iniciático.
A beleza nos sentidos é um rio de fogo,
atravessa-nos como a paixão imperativa,
véu intemporal de um amor para sempre. 
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.


Claustro
Quando ficava só
todas as palavras sucumbiam à mudez
as sombras, quase monásticas, atravessavam os claustros
as tuas mãos resgatavam as conversas inacabadas.

Por detrás das colunas ancestrais
o sol desenhava o teu rosto no rendilhado da pedra.

Era de filigrana a paciência
o tempo era um véu de linho. 
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.


Cuidar de ti
Cuidar de ti é trazer a Primavera cativa
os aromas do amor num aquário azul
peixes e beijos desenhados na boca.
Cuidar de ti é acordar corpo a corpo
eternidade dos instantes sem pressa
num mar de desejos em pleno fogo.
Cuidar de ti é ser tudo quanto somos
guardar o antes e o depois na melodia
de um verso que viva dentro de nós.
Cuidar de ti é dar-te sem que me peças
nunca é muito se nos damos ao outro
e ao sonho nesse mar a que regressas.
- António Vilhena, em "Só há uma vida e uma morte". 2015 (inédito).



Demora
Desce a tarde onde a noite espera depois do sol.
Quem demora e não sabe a pressa do amor agora
chega depois, chega tarde, às dobras do lençol
como se chegasse cedo com pressa de ir embora.
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.


Dor
Quando o nosso amor está doente 
as estrelas parecem ainda mais distantes 
há uma dor indizível sob a pele mesmo se não dizemos nada.
Sei do que falas quando falas dessa dor 
que nos acorda ao nascer do dia
e se entranha quando as aves nocturnas saem para a caçada.
A dor mais funda é onde a liberdade atravessa o olhar 
como um rio levada na corrente inadiável 
de um amor inteiro sem lágrimas.
- António Vilhena, em "Só há uma vida e uma morte". 2015 (inédito).


Dúvida
Tenho muitas dúvidas.
A vida é o que fazemos por ela.
Tenho poucas verdades absolutas.

Guardo sempre no silêncio os nomes
que revelaram outros sinónimos
da beleza que atravessa a paixão.

Se me disserem eu sei
se não disserem eu recordo.
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.


É tão nosso...
É tão nosso este amor, poético e puro, sorridente e alegre! 
É tão nosso o cheiro a manhã, o pão quente partilhado, 
com meio-beijo ou beijo inteiro, a gargalhada esvoaçante.
É tão nosso o olhar que derramamos sobre a varanda
em busca do sol ou, ainda, quando ficamos em silêncio
adivinhando as viagens nos corpos tatuados a sémen.
É tão nosso esse gesto de pedir colo sem dizer nada
com a ponta dos dedos e acrobacias sensuais.
É tão nosso o tempo sem pressa e as palavras da noite 
segredadas na pele, iluminada de horizontes e sonhos.
É tão nosso não pedir nada, ser apenas de cada um
onde permanece o muito que nos quer.
- António Vilhena, em "Só há uma vida e uma morte". 2015 (inédito).


Espera
Há-de chegar esse dia
em que um de nós não terá a mão do outro,
em que o sentido das coisas não terá sentido nenhum.

Aprendemos a vida vivendo-a
e partilhando a metade do outro que nos completa.
Quando olho as estrelas ao teu lado
vejo nos teus olhos o brilho da paixão
a menina de saia rodada saltitando na hora do recreio.

Aprendemos a esperar um pelo outro.
Os anos foram gastando os dias e, de tanto esperar,
as noites desaguaram nos sonhos
até o vento içar nos corpos o templo do fogo.
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.


Esperar
Esperar por ti foi inventar a paciência
juntar as partes desavindas na procura
depois de tanta ira e tanta ausência
em regressos e idas de pouca dura.

Esperar por ti foi uma invenção
um capricho do corpo resgatado
onde o vício foi medo e paixão
depois de tudo ter acabado.

Esperar por ti foi sobreviver ao silêncio
no dia em que a noite deixou de o ser
e em que o mar abraçou o rio
como se o poeta nascesse para morrer.

Finalmente, há um horizonte sem fim
no teu rosto de menina quando a tarde
traz os ventos e os melros ficam assim:
olhando nos teus lábios o fogo que arde.
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.

Espigas
As palavras são como as espigas
podem ser o excesso depois do olhar.
A planície inteira dentro de mim
sem palavras, com silêncio e emoções
é o Alentejo: horizonte e distância.
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.


Íris
Procuro os silêncios permitidos
o perfume no olhar, o instante e a confidência.

Esse encontro transformou as pequenas
semelhanças na cordilheira das memórias.

Dos escassos relâmpagos verdes
as tuas íris permaneceram
bailarinas da esperança. 
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.


Lembrar
Lembrar-me de ti
era inventar as rotas das viagens que desenhámos
nos vidros embaciados quando o sonho se confundia
com o sono da manhã.

Lembrar-me de ti
era desejar-te o corpo de rosas na praia branca
onde a nudez tinha segredos e os seios aureolados,
sóis de luz, cerziam os meus olhos.

Lembrar-me de ti
é esconder-te, ainda, no silêncio das verdades inteiras
onde nada se esquece para ser lembrado nos dias
vindouros onde gastaremos a pele.

Lembrar-me de ti
será prometer-te paciência quando a paixão resiste
aos fins de tarde depois dos pássaros misturarem
os sons no ancoradouro da espera.
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.



Memória
Gastámos a pele num areal sem gaivotas
incendiados na lava do desejo onde outrora
trocavam escravos de outras especiarias.
Nas bocas de Agosto a sede trouxe
a espuma do efémero depois do sol.

Somámos a solidão das rosas e os aromas
da viagem que acrescenta sonho ao horizonte.
Gastámos os sentidos sem sabermos um do outro
e os dias imaginados num poema escrito avulso
na face do vento.

Quando não estás a pele desoculta as cicatrizes
como se o nevoeiro desnudasse o passado
e a urgência do presente te trouxesse
desse tempo em que o teu olhar
fugidio se fundia na cumplicidade antiga
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.


Olhei-te nos olhos
estavam lá todas as paisagens que cresceram no silêncio, 
onde apenas sobrevivem os que se entregam pelo coração.
Vi o que outros não viram antes e, talvez, os que hão-de vir.
Vi a púrpura nos lábios, tinta de muitos poemas, 
subtraída ao luar nesse imenso espelho de água, 
onde se afogam as mágoas e as tormentas.
Vi o Adamastor sulcando a porta das especiarias, 
temor de naus e caravelas antes e depois de Calecute. 
Vi o Minotauro lançando-se sobre o linho indefeso das Vestais. 
Vi o que outros não viram antes e, talvez, os que hão-de vir. 
Vi a beleza num castiçal luminoso, cercado de sombras e de medos 
sob a mão indizível do mestre-de-cerimónias. 
Onde se abriam rosas, havia paredes brancas e barra azul 
para perpetuares as manhãs e o céu nos meus olhos. 
Vi o que chega tarde e nunca vai embora: a arte inquieta dos instantes, 
dividindo os dias e as noites numa cegueira cúmplice. 
Vi o que outros não viram antes e, talvez, os que hão-de vir. 
- António Vilhena, em "Só há uma vida e uma morte". 2015 (inédito).


Ousar
Não é fácil ocultar as cicatrizes
o tempo passa e alimentam a dúvida existencial.

Seremos capazes?
Somos, pelo menos, obrigados a tentar.
Há um dever de resistência pela própria vida. 
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.


Palavras
Se dizes o que quero ouvir, eu gosto.
Mas se dizes o que devo ouvir, eu penso.
Prefiro sempre aprender a gostar,
mesmo que seja estranho o que dizes.

Nem sempre as palavras trazem
nenúfares para receber os sentidos.
Gosto das palavras que deixam
uma pétala onde repousas o olhar. 
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.


Planície
Nos seus rostos não há lugar para ironias
a planície inteira está na pele
queimada como tatuagem da terra.
Quando a noite chega
os círios sinalizam
os percursos da intimidade
e a solidão ganha vida nas trevas
dos que ficam sem companhia.
Nunca um alentejano cantou sozinho,
a sua voz ecoa solidária, o silêncio atravessa
um tambor de paixões
orquestrando o amor de Orpheu e Eurídice.
- António Vilhena, em "Canto imperecível das aves". Coimbra: Caracol Edições, 2012.


Sabedoria
Somos feitos de paciência e nervos.
Temos tantas vidas na vida que sabemos e ocultamos.
Se o que somos é muito mais do que parecemos
parecer o que ocultamos é sabedoria. 
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.


Saudade
Olho-te na fotografia. Está lá um horizonte,
uma página à tua espera para escreveres, depois
de tanta ausência. Estão lá as linhas convergentes
como uma nódoa de esperança na pele branca
do poema. Não sou capaz de dizer os instantes à
beira do cais, onde aceno aos navios que outrora
visitaram os meus sonhos, como se estivesses nas
rotas de todos os encontros e as tuas mãos fossem
velas puídas pelo tempo. Olho-me na fotografia.
Acrescento-lhe os anos, mas não posso inventar
o que não vivemos.
- António Vilhena, em "Canto imperecível das aves". Coimbra: Caracol Edições, 2012.


Silêncio
Quando digo que vivíamos em silêncio um no outro,
não ignoro que tanta ausência significou outros encontros
mas o teu perfume permanece como o amor nas cartas.
Embriagados na punção licorosa dos beijos
tropeçamos, ainda, na efémera luz da manhã
onde a seda magoa os dedos.
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.


Sonho
Quando o tempo era jovem
era velho o sonho que trazia dentro de mim.
Agora, o tempo velho deu lugar a um sonho novo.

Já não sei se sinto a sombra desse lugar
onde os teus olhos me traziam cativo.

Hoje sou refém do tempo
em que a liberdade de pensar
o futuro esculpe no jovem
o tempo velho de um sonho novo.
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.


Tempo
A idade fez-te esquecer algumas palavras:
o tempo gasta a novidade.
Mas há verdades que atravessam o tempo
como se nunca envelhecessem.

É dessas palavras que falo. Tu sabes...
Quando um dia te lembrares das emoções
e das palavras sob as tardes,
talvez a noite ilumine a memória
e eu não esteja à tua beira
para partilhar as galáxias
espelho de viagens no rosto gasto.
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.


Terra
Na noite silenciosa oiço o chocalhar do gado na planície
profunda. Os únicos sons chegam com a natureza:
as aves, os rebanhos de vacas e de ovelhas. Para
se chegar a este lugar é preciso amargar muito pó de
terra batida. Sinto que regressei à minha matriz ancestral,
ao “humus”, onde Anteu recriou a moira, o
destino, para os gregos antigos.
Há neste aconchego da terra o conforto do despojamento
e a indiferença pela intriga e a inveja. Aqui, lê-se
Homero. Tenho a companhia da lua crescente, os olhos
imaginários e a respiração da esperança. 
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.


Tudo
Nos poemas onde as metáforas
e as tranças se desnudam
as cumplicidades e os abraços
enlaçam as árvores
entre o perto e o longe
nesse mar de sargaços
onde tudo parece pouco
quando estamos a dois
e o tempo antes de o ser
era mais que o teu nome
num vale de pétalas.
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.


Vida
A vida não é um desejo agrilhoado
cobiça do fogo entre dias, noites
e nomes que trazemos do passado. 
- António Vilhena, em "Templo do fogo insaciável". Coimbra: Caracol Edições, 2013.


FORTUNA CRÍTICA DE ANTÓNIO VILHENA
COSTA, Viegas Fernandes da.. Cartas a um amor ausente. in Blog Viegas da Costa. Disponível no link. (acessado em 16.9.2015).
SOUSA, Pedro Miguel. "Cartas a um amor ausente" de António Vilhena. in: blog pedromiguelsousa, 4 de agosto de 2014. Disponível no link. (acessado em 17.9.2015).


"Manifesto pela paixão"
Anda o mundo triste, falta-lhe o brilho das horas completas. Andam caladas as vozes do coração, os rios já não transbordam, há um mau feitio que não nos deixa ser felizes. Há um cheiro nauseabundo entranhado na pele que sufoca as emoções, vestígios de medo em busca do sorriso certo para semear manhãs nos olhos dos amantes.
É tudo a metade, tudo incompleto, feito para não existir. É esta vida que não se chega a viver até ao fim que faz sofrer a humanidade, que tem um corpo mas apenas metade do coração.(...).

- António Vilhena, em "A eterna paixão de nunca estar contente". Coimbra: Académica Editora, 1991.



Antonio Vilhena - foto: (...)
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). António Vilhena - poeta e cronista português. Templo Cultural Delfos, setembro/2015. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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** Página atualizada em 27.8.2016.




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Zygmunt Bauman - vivemos tempos líquidos

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Zygmunt Bauman nasceu em 1925, na Polônia. Sociólogo, iniciou sua carreira na Universidade de Varsóvia, onde teve artigos e livros censurados e em 1968 foi afastado da universidade. Logo em seguida emigrou da Polônia, reconstruindo sua carreira no Canadá, Estados Unidos e Austrália, até chegar à Grã-Bretanha, onde em 1971 se tornou professor titular da Universidade de Leeds, cargo que ocupou por vinte anos. Responsável por uma prodigiosa produção intelectual, recebeu os prêmios Amalfi (em 1989, por sua obra Modernidade e Holocausto) e Adorno (em 1998, pelo conjunto de sua obra). Professor emérito das universidades de Varsóvia e Leeds, tem mais de trinta livros publicados no Brasil, com enorme sucesso de público, dentre os quais destacam-se Amor Líquido, Globalização: as Consequências Humanas e Vidas Desperdiçadas. 
Fonte: Livraria Travessa.


"Se os direitos políticos podem ser usados para enraizar e solidificar as liberdades pessoais assentadas no poder econômico, dificilmente garantirão liberdades pessoais aos despossuídos, que não têm direito aos recursos sem os quais a liberdade pessoal não pode ser obtida nem, na prática, desfrutada."
- Zygmunt Bauman, em "Tempos líquidos". Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p. 70.  


Cegueira moral: a perda da sensibilidade na modernidade líquida

"Pensar tira nossa mente da tarefa em curso, que requer sempre a corrida e a manutenção da velocidade. E na falta do pensamento, o patinar sobre o gelo fino que é uma fatalidade para todos os indivíduos frágeis na realidade porosa pode ser equivocadamente tomado como seu destino."
– Zygmunt Bauman, trecho do livro "Modernidade líquida". [tradução Plinio Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001.

Zigmunt Bauman - foto: (...)

Entrevista: Diálogos com Zygmunt Bauman
Zygmunt Bauman, filósofo polonês, reflete sobre a individualização da sociedade contemporânea em entrevista exclusiva concedida a Fernando Schüler e Mário Mazzilli na Inglaterra. Democracia, laços sociais, comunidade, rede, pós-modernidade, dentre outros tópicos analisados por uma das grandes mentes da contemporaneidade. Conferencista do Fronteiras do Pensamento 2011.
Ficha técnica
Fronteiras do Pensamento
Produção Telos Cultural
Produção Audiovisual Mango Films 
Montagem Tokyo Filmes
Edição Pedro Zimmermann
Finalização Marcelo Allgayer
Tradução Wilney Ferreira Giozza

Zygmunt Bauman - Fronteiras do Pensamento - 2011 (legendado pt)

Entrevista: Zygmunt Bauman: la crítica como llamado al cambio
Zygmunt Bauman es sociólogo y filósofo polaco. Es uno de los pensadores más representativos de la actual crítica de la cultura, Tras la invasión nazi, su familia se refugió en la zona soviética y Bauman se alistó en el ejército polaco, que liberaría su país junto a las tropas soviéticas. Fue miembro del Partido Comunista hasta la represión antisemita de 1968; la consiguiente purga le obligó a abandonar su puesto como profesor de filosofía y sociología en la Universidad de Varsovia. Desde entonces ha enseñado sociología en Israel, Estados Unidos y Canadá. Es profesor emérito en la Universidad de Leeds. Su pensamiento se ha movido desde la especificidad del análisis del movimiento obrero hasta la critica global de la modernidad. Es autor de una obra abundante, entre la que se encuentran libros fundamentales de la sociología contemporánea como La vida líquida, Vida consumo, El arte de la vida, Miedo líquido, y tantas otras obras.
Bauman ha alcanzado un notorio reconocimiento público y sus obras cada vez tienen más difusión en castellano. 
Este video es una grabación realizada en la casa del autor en Leeds, Gran Bretaña.

Zygmunt Bauman: la crítica como llamado al cambio (em espanhol)

Entrevista: Encontro com Zygmunt Bauman: prof. João Manfio
Encontro com Zygmunt Bauman: prof. João Manfio.


"O medo está lá, saturando diariamente a existência humana, enquanto a desregulamentação penetra profundamente nos seus alicerces e os bastiões de defesa da sociedade civil desabam. O medo está lá - e recorrer a seus suprimentos aparentemente inexauríveis e avidamente renovados a fim de reconstruir um capital político depauperado é uma tentação à qual muitos políticos acham difícil resistir. E a estratégia de lucrar com o medo está igualmente bem arraigada, na verdade uma tradição que remonta aos anos iniciais do ataque liberal ao Estado social."
- Zygmunt Bauman, em "Tempos líquidos". Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p. 23.


"Massas cada vez maiores de pessoas desperdiçadas no equilíbrio político e social da coexistência humana planetária. A conseqüência da globalização do mercado financeiro e de trabalho, da modernização administrativa pelo capital, do modo de vida moderno, colaboram para os “escoadouros” humanos, excluindo os não pertencentes ao meio. [...] A vida moderna produz uma “escala crescente: a população supérflua, supranumerária e irrelevante - a grande quantidade de sobras do mercado de trabalho e o refugo da economia orientada para o mercado, acima da capacidade dos dispositivos de reciclagem.”
- Zygmunt Bauman, em "Tempos líquidos". Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p. 35. 


"[…] Tomar distância, tomar tempo – a fim de separar o destino e a fatalidade, de emancipar o destino da fatalidade, de torná-lo livre para confrontar a fatalidade e desafiá-la: essa é a vocação da sociologia. E é o que os sociólogos pode fazer caso de esforcem consciente, deliberada e honestamente para refundir a vocação a que atendem – sua fatalidade – em seu destino."
– Zygmunt Bauman, trecho do livro "Modernidade líquida". [tradução Plinio Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001.


Zigmunt Bauman - foto: (...)
OBRA DE ZYGMUNT BAUMAN PUBLICADA NO BRASIL 
:: Ética pós-moderna, de Zygmunt Bauman. [tradução João Rezende Costa]. 1ª ed., São Paulo: Paulus Editora, 1997.
:: Modernidade e holocausto, de Zygmunt Bauman. [tradução Marcus Antunes Penchel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
:: Modernidade e ambivalência, de Zygmunt Bauman. [tradução Marcus Antunes Penchel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
:: Globalização: as consequências humanas, de Zygmunt Bauman. [tradução Marcus Penchel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
:: O mal-estar da pós-modernidade, de Zygmunt Bauman. [tradução Cláudia Martinelli Gama e Mauro Gama]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1999. Disponível em pdf no link. (acessado em 13.9.2015).
:: Em busca da política, de Zygmunt Bauman. [tradução Marcus Antunes Penchel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 2000. Disponível em pdf no link. (acessado em 13.9.2015).
:: Modernidade líquida, de Zygmunt Bauman. [tradução Plinio Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001.
:: Comunidade: a busca por segurança no mundo atual, de Zygmunt Bauman. [tradução Plinio Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2003.
:: Amor líquidode Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2004.
:: Vidas desperdiçadas, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005.
:: Identidadede Zygmunt Bauman. (Entrevista a Benedetto Vecchi).. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005.
:: Europa - uma aventura inacabadade Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005.
:: Vida líquida, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2007.
:: Tempos líquidos, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2007.
:: Medo líquido, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2008.
:: Vida para consumo, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2008.
:: A sociedade individualizada - vidas contadas e histórias vividas, de Zygmunt Bauman. [tradução José Gradel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2008. 
:: Confiança e medo na cidade, de Zygmunt Bauman. [tradução Eliana Aguiar]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2009.
Zigmunt Bauman - foto: (...)
:: A arte da vida, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2009.
:: Capitalismo parasitário, de Zygmunt Bauman. [tradução Eliana Aguiar]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.
:: Legisladores e interpretes, de Zygmunt Bauman. [tradução Renato Aguiar]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.
:: A ética é possível num mundo de consumidores?, de Zygmunt Bauman. [tradução Alexandre Vieira Werneck]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.
:: Aprendendo a pensar com a sociologia, de Zygmunt Bauman e Tim May. [tradução 
Alexandre Vieira Werneck]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.
:: A vida a  crédito, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.
:: Bauman sobre Bauman, de Zygmunt Bauman. (Biografia).. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011.
:: Vida em fragmentos - sobre a ética pós-moderna, de Zygmunt Bauman.[tradução Alexandre Vieira Werneck]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011.
:: 44  cartas do mundo líquido moderno, de Zygmunt Bauman. [tradução Vera Pereira]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011.
:: Ensaios sobre o conceito de cultura, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2012.
:: A cultura no mundo líquido moderno, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2012. 
:: Isto não é um diário, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2012. 
:: Sobre a educação e juventudede Zygmunt Bauman. (Conversas com Riccardo Mazzeo).. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2013.
:: Danos colaterais - desigualdades sociais numa era globalde Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2013. 
:: Vigilância líquida, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2014.
:: Cegueira moral: a perda da sensibilidade na modernidade líquida, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2014.
:: A riqueza de poucos beneficia todos nós?, de Zygmunt Bauman. [tradução Renato Aguiar]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2014.
:: Para que serve a sociologia?, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2015.

Editora no Brasil
:: Zahar editora


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Entrevistas com Zigmunt Bauman
ALMEIDA, Nara. Comunicação líquida. (entrevista). Observatório da Imprensa, 27 de janeiro de 2015. Disponível no link. (acessado em 12.9.2015).
BARRANCO, Justo. Zygmunt Bauman: "É possível que já estejamos em plena revolução". (entrevista). MGMagazine/ Fronteiras do Pensamento, 09 de dezembro de 2014. Disponível no link. (acessado em 12.9.2015).
BITTENCOURT, Renato Nunes. A aflição de uma vida líquida. (entrevista). Portal Ciência e vida - revista Filosofia. Disponível no link. (acessado em 12.9.2015).
DINES, Alberto. O construtor em tempos líquidos. Observatório da Imprensa, edição 867, 11 de setembro de 2015. Disponível no link. (acessado em 12.9.2015).
DUARTE, Fernando. 'Foi um motim de consumidores excluídos', diz sociólogo Zygmunt Bauman. (entrevista). O Globo, 12 de agosto de 2011. Disponível no link. (acessado em 12.9.2015).
OLIVEIRA, Dennis de.. Entrevista – Zygmunt Bauman. Revista Cult, edição 138, ano 12, 03/08/2009. Disponível no link. (acessado em 12.9.2015).
PALLARES- BURKE, Maria Lúcia Garcia. Entrevista com Zigmunt Bauman. Tempo social, vol.16 nº1, São Paulo - Junho 2004. Disponível no link. (acessado em 12.9.2015).
PRADO, Adriana. Zygmunt Bauman "Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar". (entrevista). Istoé entrevista- online. 24 de setembro de 2010. Disponível no link. (acessado em 12.9.2015).
LA REPUBBLICA. A elite na sociedade líquido-moderna. Artigo de Zygmunt Bauman. [tradução Moisés Sbardelotto]. IHU. Unisinos, 29 janeiro de 2009 [artigo originalmente publicado no jornal La Repubblica, 19-01-2009]. Disponível no link. (acessado em 26.9.2015).

Livros sobre Zigmunt Bauman
SILVA, Paulo Fernando da.. Conceito de ética na contemporaneidade segundo Bauman. São Paulo: FEU - Fundação Editora Unesp); Cultura Acadêmica, 2013.


"Transformações sociais, culturais e políticas associadas à passagem do estágio "sólido" para o estágio "líquido" da modernidade, o afastamento da nova elite (localmente estabelecida, mas globalmente orientada e apenas ligada de forma distante ao lugar em que se instalou) de seu antigo compromisso com a população local e a resultante brecha espiritual/ comunicacional."
- Zygmunt Bauman, em "Tempos líquidos". Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p. 84. 


"O amor pode ser, e frequentemente é, tão atemorizante quanto a morte. Só que ele encobre essa verdade com a comoção do desejo e do excitamento. Faz sentido pensar na diferença entre amor e morte como na que existe entre atração e repulsa. Pensando bem, contudo, não se pode ter tanta certeza disso. As promessas do amor são, via de regra, menos ambíguas do que suas dádivas. Assim, a tentação de apaixonar-se é grande e poderosa, mas também o é a atração de escapar. E o fascínio da procura de uma rosa sem espinhos nunca está muito longe, e é sempre difícil de resistir." 
Zygmunt Bauman, trecho de livro "Amor líquido". [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2004.


"Nós somos responsáveis pelo outro, estando atento a isto ou não, desejando ou não, torcendo positivamente ou indo contra, pela simples razão de que, em nosso mundo globalizado, tudo o que fazemos (ou deixamos de fazer) tem impacto na vida de todo mundo e tudo o que as pessoas fazem (ou se privam de fazer) acaba afetando nossas vidas."
– Zygmunt Bauman, trecho do livro "Modernidade líquida". [tradução Plinio Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001.

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Umberto Eco - migração e refugiados

Umberto Eco - foto: Nuno Botelho/Expresso
“Acontecerá algo terrível antes de se encontrar um equilíbrio.”
- Umberto Eco

A entrevista dele ao Expresso era sobre livros, mas Umberto Eco falou sobre mais - incluindo este tema que o preocupa há muito, o da migração e dos refugiados. Recuperamos o que ele enunciou em abril agora que estamos despertos para uma tragédia que se estende não há dias nem semanas, mas há meses e quase anos. É uma reflexão dura: “ A Europa irá mudar de cor. E isto é um processo que demorará muito tempo e custará imenso sangue”. Mas também com fé no outros homens - nos que estão e nos que vêm: “A migração produz a cor da Europa”

Era abril quando entrevistámos Umberto Eco no seu apartamento em Milão. Atendeu o intercomunicador e abriu a porta de casa, revelando a sua alta figura e a cordialidade que seria uma constante durante a conversa. De eterno cigarro apagado entre os dedos - desistiu de fumar mas não se desfez do gesto - ofereceu café e sentou-se na sua poltrona de cabedal. Falámos da infância, da escrita, de jornalismo - central em "Número Zero", o novo romance que saiu em maio em Portugal. Mas falámos também da Europa e dos longos processos migratórios que a configuraram. Para Eco, estamos a atravessar um deles e não será um caminho fácil nem desprovido de desafios. Eis alguns excertos da entrevista.
- por Luciana Leiderfarb [texto]/Expresso (Portugal)

1. CULTURA NÃO QUER DIZER ECONOMIA
"Desde a juventude que sou um apoiante da União Europeia. Acredito na unidade fundamental da cultura europeia, aquém das diferenças linguísticas. Percebemos que somos europeus quando estamos na América ou na China, vamos tomar um copo com os colegas e inconscientemente preferimos falar com o sueco do que com o norte-americano. Somos similares. Cultura não quer dizer economia e só vamos sobreviver se desenvolvermos a ideia de uma unidade cultural."

2. UM GRANDE ORGULHO
"Quando atravesso a fronteira sem mostrar o passaporte e sem ter de trocar dinheiro, sinto um grande orgulho. Durante dois mil anos, a Europa foi o cenário de massacres constantes. Agora, esperemos um bocado: mesmo que o mundo hoje seja mais veloz, não se pode fazer em 50 anos o que só fomos capazes de fazer em dois mil. E mesmo indo nessa direção, não sei como os países europeus poderão sobreviver: estão a tornar-se menos importantes do que a Coreia do Sul, e não apenas do ponto de vista industrial. Culturalmente, está-se a traduzir mais livros lá do que em França."

3. A COMISSÃO DAS PESSOAS SÁBIAS
Umberto Eco - foto: Nuno Botelho/Expresso
"Entidades nacionais como Portugal ou Itália tornar-se-ão irrelevantes se não fizerem parte de uma unidade maior. Mas nada disto se constrói em pouco tempo. O problema da Europa é estar a ser governada por burocratas. Uma vez, uma instituição europeia - não me recordo qual - decidiu criar uma comissão de pessoas sábias. Estava lá Gabriel García Márquez, Michel Serres e eu próprio. Os outros convidados eram burocratas europeus. Cada reunião servia para discutir a ordem de trabalhos da reunião seguinte. Aquilo era o retrato da Europa: pessoas a governarem uma máquina autorreferencial. Porém, é o que temos. É como a democracia segundo Winston Churchill: um sistema horrível, mas melhor do que os outros."

4. UM PROCESSO QUE CUSTARÁ IMENSO SANGUE
"Estou muito preocupado, não por mim, mas pelos meus netos. Escrevi-o há 30 anos: o que se passa no mundo não é um fenómeno de imigração, mas de migração. A migração produz a cor da Europa. Quem aceitar esta ideia, muito bem. Quem não a aceitar, pode ir suicidar-se. A Europa irá mudar de cor, tal como os Estados Unidos. E isto é um processo que demorará muito tempo e custará imenso sangue. A migração dos alemães bárbaros para o Império Romano, que produziu os novos países da Europa, levou vários séculos. Portanto, vai acontecer algo terrível antes de se encontrar um novo equilíbrio. Há um ditado chinês que diz: 'Desejo-te que vivas numa era interessante'. Nós estamos a viver numa era interessante."

5. A ÉTICA DA REPÚBLICA
"Não se deve perguntar porque haverá derramamento de sangue: é um facto. Vejamos a França. É o caso típico de um país que acreditou poder absorver a migração. Porém, por um lado, impôs logo aos migrantes a ética da República; e, por outro, arrumou-os nos bairros remotos. É muito raro encontrar um migrante a viver ao lado de Notre-Dame."

6. INTEGRAÇÃO E ÓDIO
"Porque é que um muçulmano em França se torna fundamentalista? Acha que isso aconteceria se vivesse num apartamento perto de Notre-Dame? A sua integração não foi completa nem poderia ser. De novo, é um facto. A migração a longo prazo pode produzir integração mas a curto prazo não, e a não-integração produz uma reação, que pode ser de ódio."

7. NO SENTIDO EM QUE HITLER NÃO ERA A CRISTANDADE
"O inimigo é sempre inventado, construído. Precisamos dele para definir a nossa identidade. A extrema-direita italiana acredita que são os ciganos ou os migrantes pobres, ou o Islão em geral, ainda que o Islão possa assumir muitas formas. Ora, o Estado Islâmico não é o Islão, no sentido em que Hitler não era a cristandade."

8. RESPOSTA: NÃO
Umberto Eco - foto: Nuno Botelho/Expresso
"A Idade Média não existe, porque tem dez séculos. É uma construção artificial. De qualquer forma, vemos que é uma época de transição entre dois tipos de civilização. E provavelmente - falávamos de migração - estamos numa era de transição, que é sempre difícil. A questão é: houve alguma era que não fosse de transição? Resposta: não. Mas houve momentos em que cada um vivendo no seu país não se apercebia de que havia uma transição a acontecer no mundo."

9. CHAMA OS BOMBEIROS
"Qual o papel do intelectual hoje? Não dar muitas entrevistas! [risos] Falando a sério, penso que é duplo. Primeiro, é dizer o que as outras pessoas não dizem. Não é dizer que há desemprego em Itália. Segundo, não é resolver os problemas imediatos, é olhar para a frente. Se um poeta está num teatro e há um incêndio, não se põe a recitar poemas: chama os bombeiros. Pode é escrever sobre incêndios futuros."

10. PERDA DO PASSADO
"É impossível pensar o futuro se não nos lembrarmos do passado. Da mesma forma, é impossível saltar para a frente se não se der alguns passos atrás. Um dos problemas da atual civilização - da civilização da internet - é a perda do passado."
:: Fonte: Expresso/sapo.pt - “Acontecerá algo terrível antes de se encontrar um equilíbrio.” Migração e refugiados, por Umberto Eco, publicado em 07.09.2015. Disponível no link. (acessado em 11.9.2015).

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** Página atualizada em 13.4.2016



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