COMPARTILHE NAS SUAS REDES

Pablo Neruda - poemas

Pablo Neruda - foto (...)
"Em todas as épocas a poesia foi dada como morta, ela porém se tem mostrado centrífuga e sempiterna, se tem mostrado vitalícia, ressuscita com grande intensidade, parece ser eterna. Com Dante pareceu que terminava. Porém pouco depois Jorge Marinque lançava uma centelha, espécie de sputinik, que prosseguia cintilando nas trevas. E logo Victor Hugo parecia arrasar, não ficava nada para os demais. Então o senhor Charles Baudelaire apresentou-se corretamente trajado de dândi, seguido do jovem Arthur Rimbaud, trajado de vagabundo, e a poesia começou de novo. Depois de Walt Whitman, que esperança!, já ficaram plantadas todas as folhas de relva, não se podia pisar no relvado. Não obstante, veio Maiakovski e a poesia parecia uma casa de máquinas: deram-se assobios, disparos, suspiros, soluços, ruídos de trens e de carros blindados. E assim prossegue a história.
É claro que os inimigos da poesia sempre pretenderam assestar-lhe uma pedrada num olho ou um golpe de garrote na nuca. Fizeram-no de diversos modos, como marechais individuais, inimigos da luz, ou regimentos burocráticos que marcharam com passo de ganso contra os poetas. Conseguiram a desesperação de alguns, a decepção de outros, as tristes retificações dos menos. Mas a poesia começou a brotar como uma fonte ou manar como uma ferida, ou a construir com o braço partido, ou a cantar no deserto, ou a levantar-se como uma árvore, ou a transbordar como um rio, ou a estrelar-se como a noite nas mesetas da Bolívia.
A poesia acompanhou os agonizantes e estancou as dores, conduziu às vitórias, acompanhou os solitários, foi queimante como o fogo, leve e fresca como a neve, teve mãos, dedos e punhos, teve brotos como a primavera, teve olhos como a cidade de Granada, foi mais veloz do que os projéteis dirigidos, foi mais forte pelas fortalezas: deitou raízes no coração do homem.
[...] A poesia tem comunicação secreta com os sofrimentos do homem. Há que ouvir os poetas. É uma lição de história."
- Pablo Neruda, em "Respondendo a uma pesquisa", no livro “Para nascer nasci”. [tradução Rolando Roque da Silva]. Rio de Janeiro: DIFEL, 1981. - Texto extraído 'Releituras' - onde você poderá ler o mesmo íntegra, acessando AQUI! (acessado em 2.5.2016) 


Passeio ao Crepúsculo, de Vincent van Gogh  - 1889-1890
Acervo Museu de Arte de São Paulo - MASP
POEMAS ESCOLHIDOS (BILÍNGUE PORTUGUÊS - ESPANHOL) DA OBRA 'CREPUSCULÁRIO' DE PABLO NERUDA

HÉLIOS - HELIOS

INICIAL
TENHO ANDADO sob Hélios, sangrento mirante,
trabalhando em silêncio meus jardins ausentes.

A minha voz será a do semeador que cante
quando lança nos sulcos ardente semente.

E fecho, fecho os lábios, e em rosas trementes
desata-se a voz, como a água na fonte.

Que se não têm a pompa, e se não são fragrantes,
são as primeiras rosas - irmão caminhante -
do desconsolo, o meu jardim adolescente.


INICIAL
HE IDO bajo Helios, que me mira sangrante
laborando en silencio mis jardines ausentes.

Mi voz será la misma del sembrador que cante
cuando bote a los surcos siembras de pulpa ardiente.

Cierro, cierro los labios, pero en rosas, tremantes
se desata mi voz, como el agua en la fuente.

Que si no son pomposas, que si no son fragantes,
son las primeras rosas —hermano caminante—

de mi desconsolado jardín adolescente.
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM, 2011.

§

VELHO CEGO, CHORAVAS
VELHO CEGO, choravas quando a tua vida 
era boa, quando possuías nos teus olhos o sol: 
mas se o silêncio já chegou, o que é que esperas, 
o que é que esperas, cego, desta maior dor?

Em teu rincão pareces menino nascido  
sem pés para a terra e sem olhos de mar 
e como os animais dentro da noite cega 
- sem dia e sem crepúsculo - cansas de esperar.

Porque se conheces o caminho que leva 
em dois ou três minutos para a vida nova, 
velho cego, o que esperas, que podes esperar?

E se pela amargura mais dura e destino,
animal velho e cego em caminho e tino,
eu que tenho dois olhos saberei te ensinar.


VIEJO CIEGO, LLORABAS
Viejo ciego, llorabas cuando tu vida era
buena, cuando tenías en tus ojos el sol:
pero si ya el silencio llegó, ¿qué es lo que esperas,
qué es lo que esperas, ciego, qué esperas del dolor?

En tu rincón semejas un niño que naciera
sin pies para la tierra, sin ojos para el mar,
y como las bestias entre la noche ciega
sin día y sin crepúsculo- se cansan de esperar.

Porque si tú conoces el camino que lleva
en dos o tres minutos hacia la vida nueva,
viejo ciego ¿qué esperas, qué puedes esperar?

Y si por la amargura más bruta del destino,
animal viejo y ciego, no sabes el camino,

ya que tengo dos ojos te lo puedo enseñar.
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.

§

SENSAÇÃO DE DOR
FRAGRÂNCIA,
lilases...

Claro entardecer de minha longínqua infância
que flui como leito de águas mais tranquilas.

E depois foi um lenço a tremer na distância.
Embaixo de um céu de seda a estrela cintila...

Nada mais. Pés cansados nas longas errâncias
e uma dor, dor a remorder e que titila.

... Ao longe os sinos e as canções, tristezas, ânsias, 
virgens que possuíam tão doces pupilas.

Fragrância,
lilases...


SENSACIÓN DE OLOR
FRAGANCIA
de lilas...

Claros atardeceres de mi lejana infancia
que fluyó como el cauce de unas aguas tranquilas.

Y después un pañuelo temblando en la distancia.
Bajo el cielo de seda la estrella que titila.

Nada más. Pies cansados en las largas errancias
y un dolor, un dolor que remuerde y se afila.

...Y a lo lejos campanas, canciones, penas, ansias,
vírgenes que tenían tan dulces las pupilas.

Fragancia

de lilas...
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket,  2011.

§


FAREWELL, E OS SOLUÇOS - FAREWELL, Y LOS SOLLOZOS

FAREWELL
                          1
DESDE o mais fundo de ti e ajoelhado,
um menino triste, como eu, nos olha.

Por essa vida que arderá em tuas veias
teriam que amarrar-se nossas vidas.

Por essas mãos, que de tuas mãos são filhas,
teriam que matar-se as mãos tão minhas.

Por teus olhos abertos nessa terra
verei as lágrimas nos teus um dia.

                          2
Eu não o quero, Amada.

Para que nada nos amarre
que não nos una nada.

Nem a palavra que aromou tua boca,
nem o que não disseram as palavras.

Nem a festa de amor que não tivemos,
nem teus soluços junto da janela.

                          3
(Amo o amor dos marinheiros
que beijam e se vão.

Deixam promessa,
não voltam nunca mais.

Em cada porto uma mulher espera:
os marinheiros beijam e se vão.

Uma noite irão dormir com a morte
em seu leito de mar.

                          4
Amo o amor que se reparte
em beijos, leite e pão.

Amor que pode ser eterno
e pode ser fugaz.

Amor que quer liberdade
para voltar a amar.

Amor divinizado que vem vindo,
amor divinizado que se vai.)

                          5
Já não se encantarão meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti minha dor.

Mas até onde for levarei o teu olhar
e a té onde tu fores levarás minha dor.

Fui teu e foste minha. Mais? juntos fizemos
um desvio no caminho onde o amor passou.

Fui teu e foste minha. Serás do que te ame, 
do que colha no teu horto o que eu plantei.

E me vou, estou triste: mas sempre estou triste.
Venho desde teus braços. Não sei aonde vou.

... Desde teu coração diz adeus um menino.
E eu lhe digo adeus.


FAREWELL
                        1

DESDE el fondo de ti, y arrodillado,
un niño triste, como yo, nos mira.

Por esa vida que arderá en sus venas
tendrían que amarrarse nuestras vidas.

Por esas manos, hijas de tus manos, 
tendrían que matar las manos mías.

Por sus ojos abiertos en la tierra
veré en los tuyos lágrimas un día.

                        2

YO NO lo quiero, Amada.

Para que nada nos amarre
que no nos una nada.

Ni la palabra que aromó tu boca,
ni lo que no dijeron las palabras.

Ni la fiesta de amor que no tuvimos,
ni tus sollozos junto a la ventana.

                        3

(AMO el amor de los marineros
que besan y se van.

Dejan una promesa.
No vuelven nunca más.

En cada puerto una mujer espera:
los marineros besan y se van.

Una noche se acuestan con la muerte
en el lecho del mar.

                        4

AMO el amor que se reparte
en besos, lecho y pan.

Amor que puede ser eterno
y puede ser fugaz.

Amor que quiere libertarse
para volver a amar.

Amor divinizado que se acerca
Amor divinizado que se va.)

                        5

YA NO se encantarán mis ojos en tus ojos,
ya no se endulzará junto a ti mi dolor.

Pero hacia donde vaya llevaré tu mirada
y hacia donde camines llevarás mi dolor.

Fui tuyo, fuiste mía. Qué más? Juntos hicimos 
un recodo en la ruta donde el amor pasó.

Fui tuyo, fuiste mía. Tu serás del que te ame,
del que corte en tu huerto lo que he sembrado yo.

Yo me voy. Estoy triste: pero siempre estoy triste. 
Vengo desde tus brazos. No sé hacia dónde voy.

...Desde tu corazón me dice adiós un niño.
Y yo le digo adiós.
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.

§

O PAI
TERRA de semeadura inculta e brava,
terra que não tem estreitos nem sendas,
minha vida sob o sol treme e alarga.

Pai, os teus olhos doces nada podem, 
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as fontes.

O mal de amor cegou a minha vista
e nesta fonte doce do meu sonho
refletiu-se outra água estremecida.

Depois... Pergunta a Deus por que me deram
o que me deram e por que depois
soube da solidão de terra e céu.

Olha, minha juventude foi broto
puro que ficou sem abrir, perdeu
sua doçura de sangues e de sucos.

O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de beijá-la... E sendo outono,
Pai, os teus olhos na podem.

Escutarei na noite tuas palavras:
... menino, meu menino...
                        e na noite imensa
seguirei com as minhas e as tuas chagas.


EL PADRE
TIERRA de sembradura inculta y brava,
tierra en que no hay esteros ni caminos
mi vida bajo el Sol tiembla y se alarga.

Padre, tus ojos dulces nada pueden,
como nada pudieron las estrellas
que me abrasan los ojos y las sienes.

El mal de amor me encergueció la vista
y en la fontana dulce de mi sueño
se reflejó otra fuente estremecida.

Después... Pregunta a Dios por qué me dieron
lo que me dieron y por qué después
supe una soledad de tierra y cielo.

Mira, mi juventud fué un brote puro
que se quedó sin estallar y pierde
su dulzura de sangres y de jugos.

El sol que cae y cae eternamente
se cansó de besarla... Y el otoño.
Padre, tus ojos dulces nada pueden.

Escucharé en la noche tus palabras, ... niño, mi niño...
                       Y en la noche inmensa
seguiré con mis llagas y tus llagas.
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.

§

AMOR
MULHER, teria sido teu filho por beber
o leite dos teus seios como um manancial,
por te olhar e te sentir ao meu lado e ter
tido em teu riso de ouro uma voz essencial.

Por te sentir em minhas veias um Deus no rio
e te adorar nos tristes ossos de pó e cal,
porque teu ser passou sem pena e sem ter vício
saindo na estrofe pura - limpo desse mal -.

Como eu saberia te amar, mulher, saberia
amar, e amar, ninguém amou assim jamais!
Morrer e no entanto
amar-te mais.
E no entanto 
amar-te mais
                        e mais


AMOR
MUJER, yo hubiera sido tu hijo, por beberte
la leche de los senos como de un manantial,
por mirarte y sentirte a mi lado y tenerte
en la risa de oro y la voz de cristal.

Por sentirte en mis venas como Dios en los ríos
y adorarte en los tristes huesos de polvo y cal,
porque tu ser pasara sin, pena al lado mío,
y saliera en la estrofa —limpio de todo mal—.

... Cómo sabría amarte, mujer como sabría
amarte, amarte como nadie supo jamás.
Morir y todavía
amarte más.
Y todavía
amarre más

                      y más.
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.

§

PONTES
PONTES: arcos de aço azul de onde vêm 
a dar sua despedida os caminhantes
— por cima os trens, 
embaixo as águas —,
enfermos de seguir tão grande viagem
que principia, que segue e nunca acaba.
Céus - acima  —, céus,
pássaros que passam
sem parar, caminhando sempre e como
os trens e as águas.

Que maldição caiu sobre vocês?
O que esperam na noite densa e larga
com os braços abertos de um menino
que morre na chegada de sua irmã?

Que voz de maldição passiva e negra
as asas estendeu sobre vocês,
para fazer seguir
sempre viajando
as paisagens, a vida, o sol, a terra,
os trens e as águas,
enquanto a angústia imóvel do puro aço
funde-se mais na terra e mais a afirma?


PUENTES
PUENTES: arcos de acero azul adonde vienen
a dar su despedida los que pasan,
— por arriba los trenes,
por abajo las aguas —,
enfermo de seguir un largo viaje
que precipia, que sigue y nunca acaba.
Cielos — arriba —, cielos,
y pájaros que pasan
sin detenerse, caminando como
los trenes y las aguas.

¿Qué maldición cayó sobre vosotros?
¿Qué esperáis en la noche densa y larga
con los brazos abiertos como un niño
que muere a la llegada de su hermana?

¿Qué voz de maldición pasiva y negra
sobre vosotros extendió sus alas,
para hacer que siguieran
el viaje que no acaba
los paisajes, la vida, el sol, la tierra,
los trenes y las aguas,
mientras la angustia inmóvil del acero

se hunde más en la tierra y más la clava?
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.

§


ACÁCIA AMARELA EM TERRAS DE LONCOCHE
A PATA GRIS do Mal pisou as pardas terras,
feriu os doces sulcos, moveu curvos montes,
arrasou as planícies guardadas por fieira
rural de paralela alameda bifronte.

O terraço jacente moveu o cansaço,
aberta feito mão desesperada a serra,
em cavalgadas ébrias montavam as nuvens
arrancando de Deus, da terra e céu o fado.

Água entrou na terra enquanto a terra fugia
abertas suas entranhas e a submersa face: 
quatro ventos rodando nas tardes malditas,
fazendo girar trens e ulular como tigres.

Eu sou uma palavra de paisagem morta,
eu sou o coração deste céu tão vazio:
quando vou pelos campos com a alma no vento,
as veias continuam o rumor dos rios.

Para onde vais agora? - Sobre o céu a greda
do crepúsculo pára os dedos da noite ocre.
Não brilharão estrelas.... Meus olhos se enredam 
na acácia amarela em terras de Loncoche.



AROMOS RUBIOS EN LOS CAMPOS DE LONCOCHE
LA PATA gris del Malo pisó estas pardas tierras,
hirió estos dulces surcos, movió estos cuervos montes,
rasguñó las llanuras guardadas por la hilera
rural de las derechas alamedas bifrontes.

El terraplén yacente removió su cansancio,
se abrió como una mano desesperada el cerro,
en cabalgatas ebrias galopaban las nubes
arrancando de Dios, de la tierra y del cielo.

El agua entró en la tierra mientras la tierra huía
abiertas las entrañas y anegada la frente:
hacia los cuatro vientos, en las tardes malditas,
rodaban -ululando como tigres- los trenes.

Yo soy una palabra de este paisaje muerto,
yo soy el corazón de este cielo vacío:
cuando voy por los campos, con el alma en el viento,
mis venas continúan el rumor de los ríos.

¿A dónde vas ahora? —Sobre el cielo la greda
del crepúsculo, para los dedos de la noche.
No alumbrában estrellas... A mis ojos se enredan
aromos rubios en los campos de Loncoche.
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.

§

GRITA
AMOR, quando chegares na fonte distante,
cuida para não me morder com voz de sonho:
para que a minha dor não morra nas tuas asas,
que na garganta de ouro voz não se afogue.

                       Amor - quando chegares
                       na fonte mais distante,
                       sê turbilhão que assola,
                       sê rompante que crava.

                       Amor, desfaz o ritmo
                       da minha água tranquila:
saibas tu ser a dor que retine e que sofre,
saibas tu ser a angústia que retorce e grita.

                       Não seja eu esquecido
                       não me dês a ilusão
Porque todas as folhas que caíram na terra
foram tingindo de ouro meu coração.

                       Amor - quando chegares
                       na fonte mais distante,
                       desvia minhas vertentes,
                       crispa as minhas entranhas.
E assim uma tarde - Amor que tens as mãos cruéis -,
ajoelharei ante de ti e te darei graças.


GRITA
AMOR, llegado que hayas a mi fuente lejana,
cuida de no morderme con tu voz de ilusión;
que mi dolor oscuro no se muera en tus alas,
que en tu garganta de oro no se ahogue mi voz.

                       Amor —llegado que hayas
                       a mi fuente lejana,
                       sé turbian que desuella,
                       sé rompiente que clava.

                       Amor deshace el ritmo
                       de mi aguas tranquilas;
sabe ser el dolor que retiemblan y que sufre,
sábeme ser la angustia que se retuerce y grita.

                       No me des el olvido.
                       No me des la ilusión.
Porque todas las hojas que a la tierra han caído
me tienen amarillo de oro el corazón.

                       Amor —llegado que hayas
                       a mi fuente lejana,
                       tuérceme las vertientes,
                       críspame las entrañas.
Y así una tarde —Amor de manos crueles—,

arrodillado, te daré las gracias.
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.

§


OS CREPÚSCULOS DE MARURI - LOS CREPÚSCULOS DE MARURI

A TARDE SOBRE OS TELHADOS
                                      Lentíssimo

A TARDE sobre os telhados
cai 
e cai...
Quem mandou que lhe viessem
asas de ave?

E este silêncio que preenche
           tudo,
desde que país de astros
           veio sozinho?
E por que a bruma
           - trêmula pluma - 
beijo de chuva
           - sensitiva -

Caiu em silêncio - e para sempre - 
           na minha vida?


LA TARDE SOBRE LOS TEJADOS
                                     Lentísimo

LA TARDE sobre los tejados
cae
y cae...
Quién le dio para que viniera
alas de ave?

Y este silencio que lo llena
           todo,
desde qué país de astros
           se vino solo?

Y por qué esta brurna
         —plúmula trémula—;
beso de lluvia
          —sensitiva—

cayó en silencio —y para siempre—

          sobre mi vida?
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.

§

SE DEUS ESTÁ NO MEU VERSO
MEU CÃO.
Se Deus está no meu verso,
eu sou Deus.

Se Deus está em teus olhos doloridos,
tu és Deus.

Neste mundo imenso não tem ninguém
que se ajoelhe diante de nós dois.


SI DIOS ESTÁ EN MI VERSO
PERRO MÍO.
Si Dios está en mi verso,
Dios soy yo.

Si Dios está en tus ojos doloridos,
tú eres Dios.

Y en este mundo inmenso nadie existe

que se arrodille ante nosotros dos!
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.

§


AMIGO
                         1
AMIGO, leva contigo o que queiras,
penetra o teu olhar sobre os rincões,
e se assim desejares, dou minha alma inteira,
com suas brancas avenidas e suas canções.

                         2
Amigo - com a tarde faça partir
este velho inútil desejo de vencer.

Bebe do meu cântaro se tens sede.

Amigo - com a tarde faça partir
o meu desejo de que todo rosal
pertença a mim.

                         Amigo,
Come do meu pão se tiveres fome.

                         3
Tudo amigo, eu o fiz para ti. Tudo isto
que sem olhar verás na minha estância nua:
tudo isto que se eleva em muros altos, retos
- como meu coração - sempre buscando altura.

É engraçado - amigo. Que importa! Ninguém sabe
entregar em mãos o que se esconde por dentro,
mas te darei... Meno aquela lembrança...

... Que na casa vazia aquele amor perdido
é uma rosa branca que se abre em silêncio...


AMIGO
                         1
AMIGO, llévate lo que tú quieras,
penetra tu mirada en los rincones
y si así lo deseas, yo te doy mi alma entera
con sus blancas avenidas y sus canciones.

                         2
Amigo - con la tarde haz que se vaya
este inútil y viejo deseo de vencer.

Bebe de mi cántaro si tienes sed.

Amigo — con la tarde haz que se vaya
este deseo mío de que todo el rosal
me pertenezca,

                        Amigo,
si tienes hambre come de mi pan.

                         3
Todo, amigo, lo he hecho para ti. Todo esto
que sin mirar verás en mi estancia desnuda:
todo esto que se eleva por los muros derechos
—como mi corazón— siempre buscando altura.

Te sonríes —amigo... ¡Qué importa! Nadie sabe
entregar en las manos lo que se esconde adentro,
pero yo te doy mi alma, ánfora de mieles suaves,
y todo te lo doy... Menos aquel recuerdo...
... Que en mi heredad vacía aquel amor perdido,
es una rosa blanca, que se abre en el silencio...
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.

§

DÁ-ME A FESTA MÁGICA
DEUS - e de onde é que tiras para acender o céu
este maravilhoso entardecer de cobre?
Por ele soube encontrar de novo a alegria,
e a má visão eu soube torná-la mais nobre.

Nas chamas coloridas de amarelo e verde
iluminou-se a lâmpada de um outro sol
que fez rachar azuis as planícies do Oeste
e verteu nas montanhas suas fontes e rios.

Deus, dá-me a festa mágica na minha vida,
dá-me os teus fogos para iluminar a terra,
deixa em meu coração tua lâmpada acendida
pura que eu seja o óleo de tua luz suprema.

E eu irei pelos campos na noite estrelada
com os braços abertos e a face desnuda,
cantando árias ingênuas com as mesmas palavras
com que na noite falam os campos e a lua.

DAME LA MAGA FIESTA
DIOS -¿de donde sacaste para encender el cielo
este maravilloso crepúsculo de cobre?
Por él supe llenarme de alegría de nuevo
y la palabra dura supe tornarla noble.

Entre las llamaradas amarillas y verdes
se alumbró el lampadario de un sol desconocido,
que rasgó las azules llanuras del Oeste
y volcó en las montañas, sus fuentes y sus ríos.

Dame la maga fiesta. Dios, déjala en mi vida,
dame los fuegos tuyos para alumbrar la tierra,
deja en mi corazón tu lámpara encendida
y yo seré el aceite de su lumbre suprema.

Y me iré por los campos en la noche estrellada,
con los brazos abiertos y la frente desnuda,
cantando aires ingenuos con las mismas palabras
que en la noche se dicen los campos y la luna.
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.

§

SAUDADE
SAUDADE ... — Que será.. eu não sei... tenho buscado
em certos dicionários poeirentos e antigos
e outros livros que ocultam o significado
dessa doce palavra de perfis ambíguos.

Dizem que as montanhas são azuis como ela,
que nela empalidecem longínquos amores,
e um nobre e bom amigo meu (e das estrelas)
nomeia com os cílios e as mãos em tremores.

E no Eça de Queiroz sem olhar a adivinho,
o segredo se evade em sua doçura e sede,
com essa mariposa, corpo em desalinho,
Sempre longe - tão longe! - das minhas calmas redes.

Saudade... tens, vizinho, o real significado
dessa palavra branca que, peixe, se evade?
Não... trem na boca seu tremor delicado...
Saudade...


SAUDADE
SAUDADE —¿Qué será?... yo no sé... lo he buscado
en unos diccionarios empolvados y antiguos
y en otros libros que no me han dado el significado
de esta dulce palabra de perfiles ambiguos.

Dicen que azules son las montañas como ella,
que en ella se oscurecen los amores lejanos,
y un noble y buen amigo mío (y de las estrellas)
la nombra en un temblor de trenzas y de manos.

Y hoy en Eça de Queiroz sin mirar la adivino,
su secreto se evade, su dulzura me obsede
como una mariposa de cuerpo extraño y fino
siempre lejos —¡tan lejos!— de mis tranquilas redes.

Saudade... Oiga, vecino, ¿sabe el significado
de esta palabra blanca que como un pez se evade?
No... Y me tiembla en la boca su temblor delicado...
Saudade...
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.

§

EU NÃO O TINHA OLHADO
EU NÃO o tinha olhado e nossos passos
soavam juntos

Nunca escutei sua voz e minha voz ia enchendo ia 
enchendo o mundo.

Houve um dia de sol e minha alegria
em mim não coube,

Senti a angústia de carregar a nova 
solidão do crepúsculo.

Senti-o junto a mim, braços ardendo, 
limpo, sangrante, puro.

Dentro da noite negra a minha dor
entrou no coração.

E vamos juntos.


NO LO HABÍA MIRADO
NO LO HABÍA mirado y nuestros pasos
sonaban juntos.

Nunca escuché su voz y mi voz iba
llenando el mundo.

Y hubo un día de sol y mi alegría
en mí no cupo.

Sentí la angustia de cargar la nueva
soledad del crepúsculo.

Lo sentí junto a mí, brazos ardiendo,
limpio, sangrante, puro.

Y mi dolor, bajo la noche negra
entró en su corazón.

Y vamos juntos.
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.

§


JANELA NO CAMINHO - VENTANA AL CAMINO

CAMPONESA
NOS sulcos, corpo de moreno anseio,
és como um ramo que na terra chega.
Volta teus olhos, olha nos teus seios,
são duas sementes ácidas e cegas.

Tua carne é terra que será madura
quando o outono as mãos for te oferecer,
e o sulco que será tua sepultura
tremerá, tremerá, um humano ser,

ao receber tuas carnes e teus ossos
- rosas com polpa de rosas de cal:
rosas que aso primeiros beijos nossos
vibraram com um cálice de cristal -.

A palavra, de que pleno conceito
será teu corpo? Não se vai conhecer!
Torna teus olhos ternos, olha os seios,
talvez não chegarás nunca a florescer.


CAMPESINA
ENTRE los surcos tu cuerpo moreno
es un racimo que a la tierra llega.
Torna los ojos, mírate los senos,
son dos semillas ácidas y ciegas.

Tu carne es tierra que será madura
cuando el otoño te tienda las manos,
y el surco que será tu sepultura
temblará, temblará, como un humano

al recibir tus carnes y tus huesos
-rosas de pulpa con rosas de cal-
rosas que en el primero de los besos
vibraron como un vaso de cristal.

La palabra de qué concepto pleno
será tu cuerpo? ¡No lo he de saber!
Torna los ojos, mírate los senos,
tal vez no alcanzarás a florecer.
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.

§

A CIDADE
A SOMBRA deste monte protetor, propício, 
como manta indiana aérea e rural me cobre:
bebo azul do céu por meus olhos sem vício
como um terneiro mama o leite em tetas nobres.

Ao pé da colina a cidade deita e eu sinto,
sem querer, sempre a rodar os tranways urbanos:
a igreja se eleva para cravar o vento,
mas vagabundo foge em mãos e desenganos.

Cidade, és triste e cinza. Tens as ruas largas,
e um odor de armazém por tuas ruas passeia.
Encontro as águas dos teus poços mais amargas.
As almas de teus homens me parecem feias.

Não sabem a beleza da fonte que canta,
nem de quem a transvasa e floresce em conceito.
Que não vai parar nunca, a água na garganta, 
dos seus corações se vai ao verso perfeito.

Cidade, és gris e triste. Se estou só eu penso
que a ausência parece aproximar-se de mim. 
Regresso, até o céu tem um bocejo imenso.
Cresce em minha alma um ódio, anterior, intenso.

Aqui ela vive e fim


EL PUEBLO
LA SOMBRA de este monte protector y propicio,
como una manta indiana fresca y rural me cubre;
bebo el azul del cielo por mis ojos sin vicio
como un ternero mama la leche de las ubres.

Al pie de la colina se extiende el pueblo, y siento,
sin quererlo, el rodar de los tranways urbanos;
una iglesia se eleva para clavar el viento,
pero el muy vagabundo se le va de las manos.

Pueblo, eres triste y gris. Tienes las calles largas,
y un olor de almacén por tus calles pasea.
El agua de tus pozos la encuentro más amarga.
Las almas de tus hombres me parecen más feas.

No saben la belleza de un surtidor que canta,
ni del que la trasvasa floreciendo un concepto.
Sin detenerse, como el agua en la garganta.
Desde sus corazones se va el verso perfecto.

El pueblo es gris y triste. Si estoy ausente pienso
que la ausencia parece que lo acercara a mí.
Regreso, y hasta el cielo tiene un bostezo inmenso.
Y crece en mi alma un odio, como el de antes, intenso.

Pero ella vive aquí.
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.

§


PÉLIAS E MELISANDA - PELLEAS Y MELISANDA

O ENCANTAMENTO
MELISANDA, a mais doce, se extraviou da rota:
Pélias, lírio azul desse jardim imperial,
leve-a nos braços, a cesta de fruta ignota.


EL ENCANTAMIENTO
MELISANDA, la dulce, se ha extraviado de ruta,
Pelleas, lirio azul de un jardín imperial,

se la lleva en los brazos, como un cesto de fruta.
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.

§

FINAL
FORAM CRIADAS por mim estas palavras
com o meu sangue e com as dores minhas
foram criadas!
Tudo eu compreendo, amigos, eu compreendo tudo.
Misturaram-se vozes alheias às minhas,
tudo eu compreendo, amigos!
Como se voar eu quisesse e me chegassem
para me ajudar as asas das aves,
todas as asas,
assim vieram as palavras estrangeiras
desatar a ebriedade escura de minha alma.

É manhã, e parece
que não se me apertaram as angústias
em tão terríveis nós em torno da garganta.
E no entanto,
foram criadas,
com o meu sangue e com as dores minhas,
foram criadas por mim estas palavras!

Palavras para alegria
quando era meu coração 
uma coroa de chamas
palavras de dor que penetra,
e dos instintos que remordem,
e dos impulsos que ameaçam,
e dos infinitos desejos,
e das inquietudes amargas,
palavras de amor que em minha vida florescem
como terra roxa cheia de umbelas brancas.

Não caiam em mim, nunca couberam.
Menino minha dor foi grito,
foi minha alegria silêncio.

Depois os olhos
esqueceram as lágrimas
do coração de todos varridos no vento.

Agora, digam-me, amigos,
onde esconder aquela aguda 
fúria de soluços.

Diga-me, amigos, onde
esconder o silêncio para que ninguém
nunca o sentisse com os ouvidos ou olhos.

As palavras vieram e meu coração,
incontido como um amanhecer,
rompeu-se nas palavras, no apego do vôo,
e em suas fugas heróicas o levam e arrastam,
adandonando e louco, e esquecido sob elas
como um pássaro morto, embaixo de suas asas.

1923


FINAL
FUERON CREADOS por mí estas palabras
con sangre mía, con dolores míos,
fueron creadas!
Yo lo comprendo, amigos, yo lo comprendo todo.
Se mezclaron voces ajenas a las mías,
yo lo comprendo, amigos!
Como si yo quisiera volar y amí llegaran
en ayuda las alas de las aves,
todas las alas,
así vinieron estas palabras extranjeras
a desatar la oscura ebriedad de mi alma

Es el alba, y parece
que no se apretaran las angustias
en tan terribles nudos en torno a la garganta.
Y sin embargo,
fueron creadas,
con sangre mía, con dolores míos,
fueron creadas por mí estas palabras!

Palabras para la alegría
cuando era mi corazón
una corola de llamas;
palabras del dolor que clva,
de los instintos que remuerden,
de los impulsos que amenazan,
de los infinitos deseos,
de las inquietudes amargas,
palabras del amor, que en mi vida florece
como una tierra roja llena de umbelas blancas.
No cabían en mí. Nunca cupieron.
De niño mi dolor fué grito
y mi alegría fué silencio.

Después los ojos
olvidaron las lágrimas
barridas por el viento del corazón de todos.

Ahora, decidme, amigos,
dónde esconder aquella aguda
furia de los sollozos.

Decidme, amigos, dónde
esconder el silencio, para que nunca nadie,
lo sintiera con los oídos o con los ojos.

Vinieron las palabras, y mi corazón,
incontenible como un amanecer,
se rompió en las palabras y se apegó a su vuelo,
y en sus fugas heroicas lo llevan y lo arrastran,
abandonado y loco, y olvidado bajo ellas

como un pájaro muerto, debajo de sus alas.

1923
- Pablo Neruda, em "Crepusculário". [tradução José Eduardo Degrazia]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2011.


Pablo Neruda - foto: Seix Barral 
BREVE BIOGRAFIA DE PABLO NERUDA
Pablo Neruda (Ricardo Neftalí Reyes Basoalto) nasceu na cidade chilena de Parral, em 12 de julho de 1904. Sua mãe era professora e morreu logo após o nascimento do filho. Seu pai, que era funcionário de ferrovia, mudou-se, alguns anos mais tarde, para a cidade de Temuco onde se casou novamente com Trinidad Candia Malverde. Ricardo passou a infân­cia perto de florestas, em meio à natureza virgem, o que marcaria para sempre seu imaginário, refletindo-se na sua obra literária. 
Em Temuco, conheceu a poetisa Gabriela Mistral, então diretora de uma escola, que muito se afeiçoou a ele.
Pablo Neruda
Com treze anos, Ricardo começou a contribuir com alguns textos para o jornal La montaña. Foi em 1920 que surgiu o pseudônimo Pablo Neruda – uma homenagem ao poeta tchecos­lovaco Jan Neruda (1834-1891) –, sob o qual o jovem publicava poemas no periódico literário Selva austral. Vários dos poemas deste período estão presentes em Crepusculário, o primeiro livro do poeta a ser publicado, em 1923. No ano seguinte, 1924, foi publicado o livro Veinte poemas de amor y uma canción desesperada, no qual a mulher simboliza o mundo que o jovem poeta ansia por conhecer.
Além das suas atividades literárias, Neruda estudou francês e pedagogia na Universidade do Chile. No período de 1927 a 1935, trabalhou como diplomata para o governo chileno, vivendo em Burma, Ceilão, Java, Cingapura, Buenos Aires, Barcelona e Madri. Em 1930, casou-se com María Antonieta Hagenaar, de quem se divorciaria em 1936. Viveu com Delia de Carril a partir de meados da década de 30 (casaria-se com ela em 1943 e dela se divorciaria em 1955).
Em meio às turbulências políticas de proporções mundiais do período do entre-guerras, Neruda publicou o livro que marcaria um novo período em sua obra, Residência na terra (1933). Surgia uma poesia de um pessimismo social angus­tiado, marcada pela orientação política e culminando no grito pela revolução. Em 1936, o estouro da Guerra Civil Espanhola e o assassinato de Federico García Lorca, a quem Neruda conhecia, aproximam o poeta chileno dos republicanos espanhóis e faz com que ele seja destituído de seu cargo consular. Neruda exalta as forças republicanas espanholas em Espanha no coração (1937), livro de poemas que foi impresso no front da Guerra Espanhola e que, posteriormente, passou a integrar o livro Terceira residência (1947). Também no poema Canto a Stalingrado, recolhido em Terceira residência mas escrito nos anos antecedentes à Segunda Guerra Mundial, se pode perceber a forte inclinação esquerdista e engajamento político-social do poeta.
Em 1943, Neruda voltou ao Chile, e em 1945 foi eleito senador da república, filiando-se ao partido comunista chileno. Devido a suas manifestações contra a política repressiva do presidente Gonzales Videla para com mineiros em greve, teve de viver clandestinamente em seu próprio país por dois anos, até exilar-se, em 1949. Em 1950, foi publicado no México e clandestinamente no Chile o livro Canto geral, escrito por Neruda quando era cônsul-geral no México. Além de ser o título mais célebre de Neruda, Canto geral é uma obra-prima de poesia telúrica que exalta poderosamente toda a vida do Novo Mundo – os vegetais, os homens, os animais –, denuncia a impostura dos conquistadores e a tristeza dos povos explorados, expressando um grito de fraternidade através de imagens poderosas.
Neruda frente al mar en Isla Negra
Após viver em diversos países, Neruda voltou ao Chile em 1952. Muito do que ele escreveu nesse tempo tem profundas marcas políticas, como é o caso de As uvas e o vento (1954), que pode ser considerado o diário de exílio do poeta.
Em 1955, ano de seu divórcio com sua segunda mulher, Neruda iniciaria um relacionamento com Mathilde Urrutia que duraria até a morte do poeta. Seguiram-se os livros Estravagario (1958), Odas elementales (1954-1959), Cem sonetos de amor (1959), que inclui poemas dedicados a Matilde, Memorial de isla negra, obra autobiográfica em cinco volumes publicada em 1964, por ocasião do 60º aniversário do poeta, Arte de pájaros (1966), La barcarola (1967), a peça Fulgor e morte de Joaquín Murieta (1967), Las manos del día (1968), Fin del mundo (1969), Las piedras del cielo (1970) e La Espada encendida (1970).
Em 1971, Pablo Neruda recebeu a honraria máxima para um escritor, o Prêmio Nobel de Literatura, por causa de sua poesia que, “com a ação de forças elementares dá vida ao destino e aos sonhos de todo um continente”. Publicou, a seguir, Geografia infructuosa (1972). Pablo Neruda morreu em Santiago do Chile, em 23 de setembro de 1973, apenas alguns dias após o golpe militar que depusera da presidência do país o seu amigo Salvador Allende, em 11 de setembro. Vários livros de poesia daquele que foi a voz poética mais célebre e universal do século 20 foram publicados postumamente. São eles: El mar y las campanas (1973), El corazón amarillo (1974), Defectos escogidos (1974), El libro de las preguntas (1974), Elegia (1974) e Jardim de inverno (1975). Também foram publicados após a morte de Neruda os livros de prosa Confesso que vivi (memórias), 1974, e Para nascer he nascido (1978).
:: Fonte: LPM Editora (acessado em 2.5.2016)


Pablo Neruda, por Xulio Formoso (2013)

VEJA A ENTREVISTA DE PABLO NERUDA CONCEDIDA A CLARICE LISPECTOR
:: Acesse AQUI!


PABLO NERUDA (EM ESPANHOL)
:: Literatura (US)
:: Casa museu Isla Negra de Pablo Neruda
:: Pablo Neruda - Universidad de Chile


PABLO NERUDA (PORTUGUÊS)
:: A Mágia da Poesia
:: Releituras



© Direitos reservados aos seus herdeiros
____
Página atualizada em 2.5.2016.



Licença de uso: O conteúdo deste site, vedado ao seu uso comercial, poderá ser reproduzido desde que citada a fonte, excetuando os casos especificados em contrário. 
Direitos Reservados © 2016 Templo Cultural Delfos

2 comentários:

Agradecemos a visita. Deixe seu comentário!

COMPARTILHE NAS SUAS REDES