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Cristiano Menezes - o poeta cosmopolita

Cristiano Ottoni de Menezes - foto: arquivo do autor
Cristiano Ottoni de Menezes nasceu em 9 de setembro de 1948, faleceu em 1 de setembro de 2016. Poeta, radialista e jornalista. Já atuou como repórter, editor, produtor, locutor, programador musical, roteirista e apresentador e exerceu cargos de gestão.
Cristiano carioca, morador de Copacabana, nascido e criado em Botafogo. Cresceu jogando bola, matando aula e mudando de escola. Fez o ginásio no São Bento e Zé Bonifácio, clássico no Santo Inácio, o que não foi fácil, chegou a estudar direito, mas saiu errando por aí. 
Nos anos 1970, meteu o pé na estrada, rodou o país de carona. Foi ator na peça “A dança da Lebre Celeste” direção de Mossa Ossa (Teatro Ipanema, RJ e Oficina, SP). Descobriu o rádio e tornou-se um louco-ator. Levou a poesia e o teatro para os microfones das emissoras em que atuou durante 37 anos. Poetas da Nuvem Cigana e outros tantos passaram por seus programas. Começou a publicar seus poemas em suplementos literários e antologias. Fez programas para região amazônica roteirizando e dramatizando o conteúdo das cartas que recebia dos ouvintes. Passou a dizer seus poemas em bares, teatros, praças, livrarias, festas e feiras literárias.  
Trabalhou em jornal, televisão e rádio, como programador musical, locutor, repórter, produtor e apresentador. Foi produtor no Circo Voador, produziu shows de bandas como Blitz, Legião Urbana, Brylho, entre outras. É autor de letras em parcerias com Cláudio Nucci, Jovi Joviniano e Perinho Santana. Escreveu e dirigiu radionovelas. Produziu e apresentou programas sobre meio ambiente e ciência & tecnologia. Apresentou programas de auditório na Rádio Nacional com o Conjunto Época de Ouro, onde recebia artistas com Paulinho da Viola, Dona Ivone Lara, Roberto Silva, Paulo Moura, Beth Carvalho, Monarco, Nelson Sargento, Cláudio Jorge, Yamandú Costa, Hamilton de Hollanda, Joel Nascimento, entre outros, muitos outros. 
É autor de “Guardanapos“ (Editora 7 Letras – 2014). Em 2016, escreve e viaja. Em todos os sentidos. Brincou nas onze, Mantém-se inquieto e prepara novo livro.


"O poeta Cristiano escreve quase como se fala, sem artifício, como se atirasse numa pauta musical livre de cinco linhas. Deve ser o pistom, ou a noite, o samba, o jazz, a canção, os amores, as luzes da cidade."
- Xico Chaves, no 'prefácio' de Guardanapos. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014, p 8.


OBRA POÉTICA
:: Guardanapos. [prefácio  Xico Chaves]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.

Antologia (participação)
:: República dos Poetas - antologia poética. [organização Ricardo Muniz de Ruiz]. Rio de Janeiro: Museu da República Editora, 2005.
:: Antologia poética “Trinta Anos-Luz: Poetas celebram 30 anos de Psiu Poético. [organização Aroldo Pereira, Luis Turiba e Wagner Merije]. São Paulo: Aquarela Brasileira Livros, 2016. 
:: Poesias para a pandemia. [seleção e organização Paulo Sabino]. Rio de Janeiro: selo Bem-Te-Li; Autografia Editora, 2021 {142 poemas e textos poéticos de 142 autores}.

Cristiano Menezes visita o Jardim Botânico de Brasília - foto: arquivo do autor

POEMAS ESCOLHIDOS DE CRISTIANO MENEZES

Ciclos
    Súbito surge
    exige súditos
entorna-se devastadora
    até que reflui
e novamente se faz navegável 
    enfim amável

   Às vezes percebo
     às vezes não
  e quando assim
     me instrua
me lembre das máres
    das fases da lua
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Circunstâncias
Quando me foge a certeza
   só me resta a leveza

     Aí fico balão
corro o risco dos ventos
   me esqueço do chão
me aceno como um lenço

E não penso no que duvido
   muito menos onde pousar

Mas quando tenho a certeza
   sou âncora tatuada
 nos braços dos mares
     namoro as baías
 me exibo nos bares

   E ao sabor dos vinhos
vencendo a todos os moinhos
       festejo
   entro na dança
   e com Sancho
 encho a pança
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Comigo mesmo
   Não tenho mais o cordão 
dele só a marca no umbigo
     com frio no coração
aprendi o calor dos amigos

      Podia ter morrido
junto com tudo o que matei
    mas nasci atento
pras coisas que ainda não sei

      E assim, a cada dia novo dia,
   sempre dono do meu nariz
     vivo o medo e a alegria
de quem está sempre por um triz

  Na corda bamba é o que se vê quem é
o passo adiante é pra quem está solto
    lá embaixo a plateia está de pé 
   aqui no peito o meu mar revolto

          O salto é meu
a mão, do companheiro,
    e só quando me lanço
    é que me sinto inteiro

         Agradeço a carona
mas sou filho de mim mesmo
        do norte, do sul
   da minha vida a esmo
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Criação
o espetáculo dos ensaios
   não cabe nas molduras
    se não transbordar 
     não transforma
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Fio da meada
O presente sem memória
     é linha partida
     pipa solta no ar
e a estória de quem pegar
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Frio 
O seu olhar indiferente
     mais do que vago
é a expressão do vácuo
        É o nada
     Nem morno
       nem frio
    nem quente
 Vazio que invade
   cala profundo
no beijo não dado
 Eco da ausência
  avesso de tudo
 antes tão presente
O seu olhar indiferente...
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Nitidez
Para ver melhor 
meus contornos
entre o espelho
   e o papel
escolho escrever
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Nuances
Os segredos têm a beleza das sombras
   De textura sutil como os casulos
     gestam a surpresa dos voos
       As mentiras são feias
         pegajosas teias
     tecem a escuridão
com que se disfarçam os medos.
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.



Cristiano Ottoni de Menezes - foto: arquivo do autor
Palavras
Que não nos faltem as palavras
    palavras faladas
     ou no papel
   palavras ao léu
      palavras
      contato

  Palavras sem tato
    palavras claras
      fanhas
      loucas
    ou roucas

  Palavras aflitas
 palavras medidas
   palavras soltas
nas línguas ferinas
ou afogadas no batom
  de bocas carnudas

  Palavras confete,
     desnudas
envoltas em serpentinas
  palavras purpurina
  na festa da carne

Palavras sapecas
   atrevidas
   cintilando
Nas rimas do meu samba na avenida

   Palavras signos
do código que nos decifra
  alegorias dos enredos
    marolas do rio
  que me leva ao mar

São palavras que me fazem amar
       ou brigar

    Palavras excitam
    palavras hesitam
      e me lançam 
       como flecha
  nos corações desavisados

    Palavras
 que não nos faltem as palavras
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Sempre
  Às vezes me afogo
no fundo de um pouco
    até que um afago
  me faz menos louco

   Às vezes me afobo
com a pressa que não sinto
    até que me acalma
 um velho e bom tinto

   Às vezes me acho
 tão longe do perto
    até que um susto
 me faz mais esperto

      Às vezes falo 
   e não digo palavra
     até que me calo
 e prossigo na lavra
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Trilha
  O que será que há
depois daquela curva

  O que será
ao fim deste caminho
  que se oferece
    e me instiga
       a seguir
  passo a passo
     hesitante
 atento ao estalo
   de cada galho
   em que piso
  neste caminho
 que se estende
   entre verdes
  e esperanças

    O que será
   ali à frente
  quando vira
parece que desce
não sei pra onde
  e mais adiante
 segue morro acima

  O que será que há
depois daquela ladeira
Onde vai dar este caminho
    que agora vejo
    não tem volta
    este caminho
   que não conheço
  mas a cada passo
    enfim percebo
  é meu este caminho
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Vida que segue
Quero sentir o perigo
  não para morrer
mas para buscar a saída
 desse marasmo antigo
que boceja sem perceber
 o bafo da pouca vida

Impossível sair tranquilo
       ou escolher
  o jeito mais delicado
   de dizer com estilo
que não há como esconder
  nosso anel quebrado

    É hora de rabiscar
 seguir os traços loucos
dessa mensagem amassada
 no guardanapo do bar
onde em desenhos roucos
digo, somos página virada
- Cristiano Menezes, em "Guardanapos". Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2014.


Claudia Pinheiro, Thiago de Mello e Cristiano Menezes - foto: arquivo do autor

FORTUNA CRÍTICA
CORREIO Braziliense. Poeta Cristiano Menezes lança livro de poesia Guardanapos. Correio Braziliense, 16.10.2014. Disponível no link. (acessado em 11.9.2015).
GLOBO. Morre Cristiano Ottoni de Menezes, poeta, jornalista e produtor, aos 67 anos. in: O Globo, 2.9.2016. Disponível no link. (acessado em 2.9.2016).
MPB/DCA. Cristiano Menezes. in: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Disponível no link. (acessado em 11.9.2015).
MENDES, André di Bernardi Batista. Universo dentro do peito. (entrevista). in: Divirta-se Uai, 13/9/2014. Disponível no link. (acessado em 11.9.2015).
VIRGÍLIO, Paulo. Morre no Rio o radialista Cristiano Menezes, ex-diretor da Rádio Nacional. in: Agencia Brasil - EBC, 1.9.2016. Disponível no link. (acessado em 1.9.2016)


BLOG OFICIAL DO AUTOR
:: Cristiano Menezes (poeta)

Cristiano Ottoni de Menezes - foto: arquivo do autor

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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Cristiano Menezes - o poeta cosmopolita. Templo Cultural Delfos, março/2022. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
** Página atualizada em 30.3.2022.
** Página original SETEMBRO/2015.



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