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Ruy Duarte de Carvalho - a mitopoética das africanidades

Ruy Duarte de Carvalho - escritor, antropólogo e cineasta


Ruy Duarte de Carvalho
(escritor, antropólogo e cineasta). Nasceu em Santarém, Portugal em 1941 mas passou a sua infância e adolescência no sul de Angola. Regente agrícola, foi criador de ovelhas caracul, mais tarde estudou cinema em Londres e antropologia em Paris. É doutor em Antropologia, pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris.

Doutorando-se com uma tese sobre os pescadores da Ilha de Luanda foi professor universitário, lecionou na Universidade de Luanda, foi Professor Convidado na Universidade de Coimbra e da Universidade de São Paulo.
Em 1982, levou a cabo um pioneiro exercício de tradução/apropriação da grande tradição lírica oral nas várias línguas autóctones africanas que reuniu em Ondula Savana Branca,
Autor referência da língua portuguesa, publicou, entre outras obrasÉ autor de Vou lá visitar pastores (1999), sobre os Kuvale, sociedade pastoril do sudoeste de Angola.
Na poesia, salienta Chão de Oferta (1972), A Decisão da Idade (1976), Observação Directa (2000), entre outros, tendo reunido em Lavra poemas de 1970 a 2000.
É ainda autor de obras de ficção (e Como se o mundo não tivesse Leste, (1977 e 2003), Vou lá visitar pastores (1999), vasto fresco sobre os kuvale, sociedade pastoril do sudoeste de Angola e adaptado ao cinema e "Os Papéis do Inglês"(2000)
Para além da atividade literária, realizou as longas-metragens Nelisita: narrativas nyaneka (1982) e Moia: o recado das ilhas (1989). Profundo conhecedor das práticas agro-pastoris tradicionais situou o cenário das suas pesquisas na região etnocultural Kuvale, no sul do país, como cineasta e antropólogo.
Recebeu o Premio Literário Casino da Póvoa com Desmedida - Luanda, São Paulo, São Francisco e volta (2008). Também em 2008 o Centro Cultural de Belém realizou um ciclo sobre a sua vida e obra, o primeiro que dedicou a um autor de língua portuguesa.
Em 2010 residia em Swakopmund, na Namíbia onde faleceu.
:: Fonte: Lusofonia Poética (acessado em 11.2.2016).


"Os  poderes  actuais  herdaram  dos  poderes  coloniais  não  só  o  lugar  de  decisão  mas também o ângulo da visão. E nem a cena podia ser outra, porque afinal os instrumentos cognitivos  que  uns  e  outros  utilizaram  e  utilizam,  independente  da  forma  como  o fizeram ou fazem, são os mesmos (as elites a quem foi transmitido o poder – de uma maneira  ou  de  outra – foram,  naturalmente,  as  mais  ocidentalizadas.  Como  se  o ocidente tivesse estendido um espelho à África no qual os africanos são hoje obrigados a ver-se)."
- Ruy Duarte de Carvalho, em "A câmara, a escrita e a coisa dita... fitas, textos e palestras". Lisboa: Cotovia, 2008, p. 43.



PRÊMIOS LITERÁRIOS
1972 - Prémio Motta Veiga de Poesia, Luanda|Angola, pela livro "Chão de oferta".
1982 - Menção honrosa, Exposição dos Livros Mais Belos do Mundo, Leipzig, pela obra "Ondula, savana branca".
1989 - Prémio Nacional de Literatura, Luanda|Angola, pelo livro "Hábito da terra" (1988).

2008 - Prémio Casino da Póvoa, Póvoa de Varzim, pelo livro "Desmedida. Luanda - São Paulo - São Francisco e volta. Crônicas do Brasil".


"[...] partindo da poesia e entrando pela antropologia adentro pela ponte do cinema, e deixando que a antropologia, por sua vez, me catapultasse para a ficção que ando finalmente a arriscar... Se foi a poesia, passando pela ponte do cinema, que me transportou à antropologia, à apreensão fundamentada no conhecimento dito objetivo disponível sobre a substância humana com que a vida me implicou, foi a antropologia – embora sem programa prévio mas sempre como via também de expressão e de intervenção – que me transportou à ficção…"
 
- Ruy Duarte de Carvalho, em "A câmara, a escrita e a coisa dita... fitas, textos e palestras". Lisboa: Cotovia, 2008, p. 12.


Ruy Duarte de Carvalho

OBRA DE RUY DUARTE DE CARVALHO
Poesia
:: Chão de oferta. Luanda: Culturang, 1972.
:: A decisão da idade: poemas. Luanda|Lisboa: UEA; Sá da Costa Editora, 1976.
:: Exercícios de  crueldade. Lisboa: E Etc., 1978.
:: Ondula, savana branca. Luanda|Lisboa: UEA; Sá da Costa Editora, 1982.
:: Lavra paralela. Luanda:
União dos Escritores Angolanos - UEA, 1987.
:: Hábito da Terra. Luanda: União dos Escritores Angolanos - UEA, 1988.
:: Memória de tanta guerra: antologia poética. Lisboa: Editora Vega, 1992.
:: Ordem de esquecimento. Lisboa: Quetzal Editores, 1997.
:: Lavra reiterada. Luanda: Edições Nzila, 2000
:: Observação directa. Lisboa: Edições Cotovia, 2000.
:: Lavra: poesia reunida 1970-2000. Lisboa: Edições Cotovia, 2005,  445p.


Contos
:: Como se o mundo não tivesse leste. Luanda|Porto: UEA; Limiar 2, 1977 | Lisboa: Cotovia, 2003, 159p.

:: Vou lá visitar pastores: exploração epistolar de um percurso angolano em território Kuvale (1992-1997). Lisboa: Cotovia, 1999. 185p. | Rio de Janeiro: Gryphus, 2000.
:: Os papéis do inglês ou o Ganguela do Coice. Lisboa: Edições Cotovia, 2000, 371p.; São Paulo: Companhia Letras, 2007. 
:: As paisagens propícias. Lisboa: Edições Cotovi, 2005.
:: A terceira metade. Lisboa: Edições Cotovia, 2009.

Narrativa - prosa
::
Ruy Duarte de Carvalho, por Nelson Paim
Sinais misteriosos ... já se vê...[7 textos e 10 desenhos de inspiração mumuíla].
Luanda|Lisboa: UEA; Edições 70, 1980.
:: Actas da maianga: dizer das guerras em Angola. Lisboa: Livros Cotovia, 2003.
:: Desmedida: Luanda - São Paulo - São Francisco e volta. Crônicas do Brasil. Lisboa: Cotovia, 2006, 323p. | Rio de Janeiro: Língua Geral 2010.

Ensaio
:: O camarada e a câmara, cinema e antropologia para além do  filme   etnográfico. Luanda: INALD, 1980.
:: Ana a Manda- os filhos da rede:  identidade colectiva, criatividade social e produção da diferença cultural: um casomuxiluanda. Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical, 1989.

:: A câmara, a escrita e a coisa dita... fitas, textos e palestras. Luanda: INALD, 1997; Lisboa: Cotovia, 2008, 461p.
:: Aviso á navegação: olhar sucinto e preliminar sobre os apstores Kuvale da província do Namibe com um relancesobre as outras sociedades pastoris do sudoeste de Angola. Luanda: INALD, 1997.
:: Os Kuvale na história, nas guerras e nas crises: artigos e comunicações. Luanda: N'Zila, 2000.


Ensaios e artigos em jornais e revistas
CARVALHO, Ruy Duarte de.. Falas & vozes, fronteiras & paisagens ... escritas, literaturas e entendimentos. in: Setepalcos, n. 5. Coimbra: Cena Lusófona, julho de 2006.

_________ . Audiovisual e antropologia uma experiência angolana / Ruy Duarte de Carvalho. in: África. - nº 12/13 (1989-1990), p. 209/212.
_________ . Decálogo neo-animista - Ruy Duarte de Carvalho. in: BUALA: cultura africana contemporânea, 15 Abril 2010. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016). 
_________ . Cinema e antropologia para além do filme etnográfico - sobre a série Presente Angolano, tempo Mumuíla (1979). in: BUALA: cultura africana contemporânea, 2 Julho 2010. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016).
_________ . Uma espécie de habilidade autobiográfica. in: BUALA: cultura africana contemporânea, 12 Agosto 2010. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016). 
_________ . Desmedida - pré-publicação Ruy Duarte de Carvalho. in: BUALA: cultura africana contemporânea, 14 Agosto 2010. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016).
_________ . O direito à exigência. in: BUALA: cultura africana contemporânea, 11 Julho 2011. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016).
_________ . Tempo de ouvir o ‘outro’ enquanto o “outro” existe, antes que haja só o outro... Ou pré - manifesto neo-animista. in: BUALA: cultura africana contemporânea, 17 Junho 2011. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016).
_________ . Da tradição oral à cópia standard, a experiência de Nelisita. in: BUALA: cultura africana contemporânea, 10 Setembro 2011. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016).
_________ . "A Construção da Nação e a Consciência Nacional", entrevista a Ruy Duarte de Carvalho. in: BUALA: cultura africana contemporânea, 17 Setembro 2011. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016).
_________ . O futuro já começou?. in: BUALA: cultura africana contemporânea, 1 Setembro 2013. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016).

Antologia (participação - poesia e ensaios)
CAHEN
, Michel (coord.). Transitions liberales en afrique lusophone. (ensaio). Paris: Editions Karthala, 1995. 

CECHIN, Lúcia (sel. e org.). Antologia angolana: poesia e conto. Porto Alegre: [s.n.], 1985.
FERREIRA, Vergílio Alberto Ferreira (sel.). Monangola: a jovem poesia angolana. Porto: Limiar, 1976. 

FERREIRA, Manuel (org.). No reino de Caliban: antologia panorâmica da poesia africana de expressão portuguesa - Vol. II: Angola e São Tome e Príncipe. Lisboa: Seara Nova, 1976.
GALANO, Ana Maria (coord.). Língua mar: criações e confrontos em português. (ensaio). 2ª ed., Rio de Janeiro: Funarte, 1997. 
MORAES, Anita M. R. de; MARTIN, Vilma Lia R. (Org.). O Brasil na poesia africana de língua portuguesa: Antologia. São Paulo: Kapulana, 2019. {poetas presentes: Caetano da Costa Alegre, José da Silva Maia Ferreira, Ruy Duarte de Carvalho, João Melo, Carlos Ferreira, José Luís Mendonça, Ondjaki, Noémia de Sousa, Luís Carlos Patraquim,  Vera Duarte}.
SECCO, Carmen Lúcia Tindó Ribeiro (coord.). Antologia do mar na poesia africana de língua portuguesa do século XX: Cabo Verde /Angola/Moçambique/.../. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999. 
SOARES, Francisco (org.). Antologia da nova poesia angolana (1985–2000). Lisboa: Imprensa Nacional- Casa da Moeda, 2001. 
TORIELLO, Fernanda (org.). Poesia angolana moderna. [direção Giuliano Macchi, Luciana Stegnano Picchio, Fernanda Toriello]. Bari: Adriatica Editrice, 1981.
VASCONCELOS, Adriano Botelho de (org.) Todos os sonhos. Antologia da Poesia Moderna Angolana. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2005, 593p.
:: O Brasil na poesia africana de língua portuguesa: antologia. [organização Anita M.R. de Moraes, Vima Lia R. Martin]. Coleção Vozes da África. São Paulo: Kapulana, 2019. {autores presentes: São Tomé e Príncipe - Caetano da Costa Alegre; Angola - José da Silva Maia Ferreira, Ruy Duarte de Carvalho, João Melo, Carlos Ferreira e José Luís Mendonça e Ondjaki; Moçambique - Noémia de Sousa, Luís Carlos Patraquim e Nelson Saúte; Cabo Verde - Vera Duarte}.


Filmografia
1976 - Uma festa para viver. 40', p/b, 16mm, TPA
- Prémio da Solidariedade Afro-Asiática, Taschkent.
1976 - Angola 76: é a vez da voz do povo. (série de 3 documentários), 100’, p/b, 16 mm, TPA.

1976 - Sacode o pó da batalha. 4O’, p/b, TPA.
1976 - Está tudo sentado no chão. 4O’, p/b, 16mm, TPA;
1976 - Como foi como não foi. 2O’, p/b, 16mm, TPA - Prémio da Solidariedade Afro-Asiática, Festival de Moscovo.
1976 - Faz lá coragem, camarada. 12O', p/b, 16 mm, TPA.
1976 - O deserto e os Mucubais. 2O', p/b, 16mm, TPA.
1979 - Presente angolano, tempo Mumuíla - série de 10 documentários:

     :: A Huíla e os Mumuílas. 2O’, p/b, 16 mm, TPA.
     :: Lua da seca menor. 6O’, p/b, 16mm, TPA.
     :: Pedra sozinha não sustém panela. 4O’, p/b, 16 mm, TPA.
     

     :: Hayndongo - o valor de um homem. 4O’, p/b, 16 mm, TPA.     
     :: Makumukas. 3O’, p/b, 16 mm, TPA.     
     :: O kimbanda kambia. 4O’, p/b, 16 mm, TPA.    
     :: Kimbanda. 2O’, cor, 16 mm, TPA.     
     :: Ekwenge. 2O’, p/b, 16 mm, TPA.     
     :: Ondyelwa. 4O’, cor, 16 mm, TPA.     
     :: Ofícios. 3O’, p/b, 16 mm, TPA.
1982 - O balanço do tempo na cena de Angola. 45', cor, 16 mm, IAC - Prémio para a melhor média metragem, Festival de Aveiro (1984).
1982 - Nelisita. 7O', p/b, 16 mm, IAC - Prémio especial do júri, Festival de Cartago; Prémio Cidade de Amiens (1983);  Prémio para a melhor realização e prémio da UNESCO.
1986 Videocarta para o meu irmão Antoninho. 40', cor, video.
1989Moia: o recado das ilhas. 90’ cor, 35 mm, Madragoa Filmes / Gemini Films.


"não há tempo sem espaço e sem movimento,
é essa a condição de todas as percepções
e de todas as relatividades."
 

- Ruy Duarte de Carvalho, em "Vou lá visitar pastores". Rio de Janeiro: Gryphus, 2000. 


  • Ruy Duarte de Carvalho - escritor, antropólogo e cineasta


POEMAS ESCOLHIDOS DE RUY DUARTE DE CARVALHO

Adoço-te as costas
com licor de acácia.
Espremo-te os rins:
um favo de dem-dém.

Vou fundo em ti
feroz
e oiço-te um ai:
faz eco em mim
a voz
do meu país in-tacto.

- Ruy Duarte de Carvalho, em "Chão de oferta". Luanda: Culturang, 1972.

§ 

A gravação do rosto
Na superfícia branca do deserto
na atmosfera ocre das distâncias
no verde breve da chuva de Novembro
deixei gravado meu rosto
minha mão
minha vontade e meu esperma;
prendi aos montes os gestos de entrega
cumpri as trajectórias do encontro
gravei nas águas a fúria da conquista
            da devolução do amor.

Os calcários e os granitos desta terra
foram por mim pesados.
Dei-lhes afagos
leves olhares
insónias longas
impacientes esperas.

- Ruy Duarte de Carvalho, em "Chão de oferta". Luanda: Culturang, 1972.

§

A terra que te ofereço

1
Quando,
ansiosa,
pela primeira vez
pisares
a terra que te ofereço,
estarei presente
para auscultar,
no ar,
a viação suave do encontro
da lua que transportas
com a sólida
a materna nudez do horizonte.

Quando,
ansioso,
te vir a caminhar
no chão de minha oferta,
coloco,
brandamente,
em tuas mãos,
uma quinda de mel
colhido em tardes quentes
de irreversível
votação ao Sul.

2
Trago
para ti
em cada mão
aberta,
os frutos mais recentes
desse Outono
que te ofereço verde:
o mês mais farto de óleos
e ternura avulsa.
E dou-te a mão
para que possas
ver,
mais confiante,
a vastidão
sonora
de uma aurora
elaborada em espera
e reflectida
na rápida torrente
que se mede em cor.

3
Num mapa
desdobrado para ti,
eu marcarei
as rotas
que sei já
e quero dar-te:
o deslizar de um gesto,
a esteira fumegante
de um archote
aceso,
um tracejar
vermelho
de pés nus,
um corredor aberto
na savana,
um navegável
mar de plasma
quente.

- Ruy Duarte de Carvalho, em "A decisão da idade". Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1976.

§

Ruy Duarte de Carvalho, 
por Fernando Campos
Canção de guerra
(Origem Kwanyama)
 
O covarde ficou
voltou para trás
agiu de acordo com a mãe.
De nós porém
bravos homens
muitos morreram
porque lutaram.

(chora a hiena chora a hiena chora)

O nosso camarada jaz no chão
não dormirá conosco.
Ali o deixamos
pernas e pés na berma da estrada
a cabeça tombada
no meio da rama.

Soldados de Nekanda
conquistadores de gado para Hayvinga
filho de Nasitai:
somos rivais em casa
pelas mulheres.
Na guerra, na floresta
somos da mesma mãe.
 

- Ruy Duarte de Carvalho, em "Ondula, savana branca". Lisboa: Sá da Costa Editora, 1982.

§ 

Chagas de salitre
Olha-me este país a esboroar-se
em chagas de salitre
e os muros, negros, dos fortes
roídos pelo vegetar
da urina e do suor
da carne virgem mandada
cavar glórias e grandeza
do outro lado do mar.
Olha-me a história de um país perdido:
marés vazantes de gente amordaçada,
a ingénua tolerância aproveitada
em carne. Pergunta ao mar,
que é manso e afaga ainda
a mesma velha costa erosionada.
Olha-me as brutas construções quadradas:
embarcadouros, depósitos de gente.
Olha-me os rios renovados de cadáveres,
os rios turvos do espesso deslizar
dos braços e das mães do meu país.
Olha-me as igrejas restauradas
sobre ruínas de propalada fé:
paredes brancas de um urgente brio
escondendo ferros de educar gentio.
Olha-me a noite herdada, nestes olhos
de um povo condenado a amassar-te o pão.
Olha-me amor, atenta podes ver
uma história de pedra a construir-se
sobre uma história morta a esboroar-se
em chagas de salitre.

- Ruy Duarte de Carvalho, em "A decisão da idade". Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1976.

§
 
Noção geográfica
A esses que me perguntam
donde lhes vem a direcção escolhida
e são apenas a direcção lançada
ao centro indefinido da razão;

e que empunham as armas sem saber
razão fundamental para o seu uso;
e que indecisos se erguem para indagar
a que futuro apontam

elevo a voz para dizer
das múltiplas razões para uma entrega
ao tempo de partir e edificar
as naves de arremesso

e construir uma nação sem muros
onde se expanda o eco da alegria
cavada em vossos peitos
pelo resgatar dos corpos e da cor
de encontro à bruma que ficou contida
entre os dois tempos de uma manhã morta
adonde nos jazia a decisão
e atônitos olhávamos os dias
perdidos entre a noite e sem saber-lhe o fim.

- Ruy Duarte de Carvalho, em "Lavra: poesia reunida 1970-2000." Lisboa: Edições Cotovia, 2005, p. 79.

§ 

Profecia de Nakulenga 
(Origem Kwanyama)
 

Algo de estranho se agita nas águas
algo de estranho se arrasta na terra.
Era longe, ficou perto, agora é cá.
E o povo já foge.
Talvez até caia
um pau de omuhama

na estrada a indicar que para o rei
a morte vai chegar
a vida é breve.

Eles vêm de um país muito distante
e trazem para dizer coisas diferentes
que é preciso avaliar com atenção.
Cruzava o país e dos nobres eu via
os ricos currais.

Renovo a viagem
e que vejo agora?
Dos nobres agora não vejo os currais
mas vejo dos brancos
suas construções.
 

- Ruy Duarte de Carvalho, em "Ondula, savana branca". Lisboa: Sá da Costa Editora, 1982.

§

Venho de um sul
Eu vim ao leste
dimensionar a noite
em gestos largos
que inventei no sul 
pastoreando mulolas e anharas 
claras
como coxas recordadas em maio. 


Venho de um sul
medido claramente
em transparência de água fresca de amanhã.
De um tempo circular
liberto de estações.
De uma nação de corpos transumantes
confundidos
na cor da crosta acúlea
de um negro chão elaborado em brasa.  

- Ruy Duarte de Carvalho, em "Chão de oferta". Luanda: Culturang, 1972, p. 35.



Ruy Duarte de Carvalho

FORTUNA CRÍTICA DE RUY DUARTE DE CARVALHO
BARBOSA, Giliard Avila. As tramas discursivas do gênero em 'Desmedida', de Ruy Duarte de Carvalho. In: Colóquio Fluxos Literários: Ética e Estética, 2012, Florianópolis. Anais do Colóquio Fluxos Literários: Ética e Estética. Florianópolis: Editora da UFSC, 2011. p. 355-363. 
CARDOSO, Claudia Fabiana de Oliveira. O deserto sagrado da poesia: experiências de sentido em Ruy Duarte de Carvalho e Paula Tavares. (Tese Doutorado em Literatura Comparada). Universidade Federal Fluminense, UFF, 2013.
CARDOSO, Claudia Fabiana de Oliveira. A poesia de Ruy Duarte de Carvalho para além de fronteiras. Via Atlântica (USP), p. 57-73, 2015. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016).
CARDOSO, Claudia Fabiana de Oliveira. O poeta viajante e a experiência da modernidade: os casos de Ruy Duarte de Carvalho e Paula Tavares. Revista e-scrita: revista do curso de Letras da UNIABEU, v. 5, p. 26-38, 2014.  
CARDOSO, Claudia Fabiana de Oliveira. A jornada do herói em dois poemas de Ruy Duarte de Carvalho. Mulemba, v. 1, p. 4, 2011. 
CARDOSO, Claudia Fabiana de Oliveira. Da noção geográfica do deserto: a narrativa de Ruy Duarte de Carvalho. In: Maria Nazareth Soares Fonseca; Maria Zilda Ferreira Cury. (Org.). África: dinâmicas culturais e literárias. 1ª ed., Belo Horizonte: Ed. PUC Minas, 2012, v. , p. 461-469.
CARDOSO, Claudia Fabiana de Oliveira. Veredas ao sul: a escrita ficcional de Ruy Duarte de Carvalho. Revista IPOTESI, Juiz de Fora: UFJF, v. 14, n. 2, p. 159-167, jul./dez. 2010.
NEVES, Alexandre Gomes. Narrativas de Ruy Duarte de Carvalho. (Tese Doutorado em Letras). Universidade de São Paulo, USP, 2014. 
CASTRILLON, Susanne Maria Lima. O Surrealismo na poética de Lobivar Matos e Ruy Duarte de Carvalho. In: II Congresso Internacional de Educação, 2014, Cáceres-MT. Linguagem e Arte. Cáceres-MT, 2014. v. 2. p. 11-13. 
CAVACAS, Fernanda; GOMES, Aldónio. Dicionário de Autores de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho, 1997.
CHAVES, Rita. A formação do romance angolano. 1ª ed., São Paulo: Via Atlântica / Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa, 1999. v. 1. 224p.  
CHAVES, Rita. Ruy Duarte de Carvalho: escritas de viagem. in: Cerrados (UnB. Impresso), v. 30, p. 281-293, 2010. 
CHAVES, Rita. Ruy Duarte de Carvalho's Desmedida; The voyage as Sintheses and Invetion. In: Ana Leite; Hilary Owen, LIvia Apa, Rita Chaves. (Org.). Narrating the postcolonial nation. 1ª ed., Berna: Peter Lang, 2014, v. 1, p. 143-161.
CHAVES, Rita. A propósito da narrativa contemporânea em Angola: notas sobre a noção de espaço em Luandino Vieira e Ruy Duarte de Carvalho. In: Carmen Tindó Secco; Maria Teresa Salgado; Sílvio Renato Jorge. (Org.). África, escritas literárias. 1ª ed., Rio de Janeiro / Luanda: Editora da UFRJ / União dos Escritores Angolano, 2010, v. 1, p. 13-21.
CHAVES, Rita; APA, Livia; LEITE, Ana Mafalda. A desmedida de Ruy Duarte de Carvalho: a viagem como síntese e invenção. In: CHAVES, Rita; APA, Livia: LEITE, Ana Mafalda. (Org.). Nação e narrativa pós-colonial I. 1ª ed., Lisboa: Colibri, 2012, v. 1, p. 143-157.  
CHAVES, Rita; CURY, Maria Zilda; WALTY, Ivete. L.; ALMEIDA, Sandra. Do curso e do discurso das viagens: Desmedida, de Ruy Duarte de Carvalho. In: WALTY, Ivete L. C.; CURY, Maria Zilda F.; ALMEIDA, Sandra Regina G.. (Org.). Mobilidades culturais: agentes e processos. Belo Horizonte:: Veredas & Cenários, 2009, v. , p. 177-188. 
CHAVES, Rita; MACÊDO, Tania; VECCHIA, Rejane. Ruy Duarte de Carvalho - a educação pela terra. In: Rita Chaves; Tania Macêdo; Rejane Vecchia. (Org.). A kinda e a misanga - Encontros brasileiros com a literatura angolana. 1ª ed., São Paulo / Luanda: Cultura Acadêmica / Nzila, 2007, v. 1, p. 109-116.
Ruy Duarte de Carvalho
CHAVES, Rita; MACÊDO, Tania; VECCHIA, Rejane. Modos de ver e escrever o mundo em Ruy Duarte de Carvalho. In: Rita Chaves; Tania Macêdo; Rejane Vecchia. (Org.). A kinda e a misanga - Encontros brasileiros com a literatura angolana. 1ª ed., São Paulo / Luanda: Cultura Acadêmica / Nzila, 2007, v. 1, p. 335-347.
CHAVES, Rita. Ruy Duarte de Carvalho: literatura e identidade para além do mundo do tino comum. In: Maria da Penha Campos Fernandes. (Org.). História(s) da Literatura. Coimbra: Almedina, 2005, v. 1, p. 301-309.
 CHAVES, Rita. Ruy Duarte de Carvalho: a palavra entre as decisões motivadas. Sete Palcos, Coimbra, v. 5, p. 19-24, 2006.  
CHAVES, Rita. Ruy Duarte de Carvalho: antropologia e ficção na representação do mundo. Africa Review Of Books, Moçambique, p. 7-8, 2005. 
CHAVES, Rita. Ruy Duarte de Carvalho: anthropologie, fiction et la représentation du monde. Africa Review Of Books, Maputo, p. 7-8, 2005.
CHAVES, Rita. Desmedida: o Brasil, para além da paisagem, em Ruy Duarte de Carvalho. in: Remate de Males – 26(2) – jul./dez. 2006. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016). 
CHAVES, Rita. Literatura e identidade(s): algum percurso de Ruy Duarte de Carvalho. in: VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, 2004. 
CHAVES, Rita. Ruy Duarte de Carvalho: antropologia e ficção na representação do mundo. in: Africa Review Of Books, Moçambique, p. 7-8, 2005. 
CHAVES, Rita. "Vou lá visitar pastores" - literatura, antropologia e identidade(s). in: Carta Maior, 25.10.2006. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016). 
CHAVES, Rita. Os papéis do inglês, de Ruy Duarte de Carvalho. in: Carta Maior, 6.6.2007. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016). 
CROSARIOL, Isabelita Maria. O legado de Próspero: Uma investigação do projeto narrativo de Ruy Duarte de Carvalho. (Tese Doutorado em Letras). Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, 2013.
CROSARIOL, Isabelita Maria. Impérios desmitificados: Ruy Duarte de Carvalho e o passado colonial reescrito. (Dissertação Mestrado em Letras). Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, 2009.
CROSARIOL, Isabelita Maria. Corpo negro em liberdade na obra de Ruy Duarte de Carvalho. In: Nágila Oliveira dos Santos; André Luiz dos Santos Silva. (Org.). Cadernos África e Africanidade 1: Literaturas Africanas e Afro-brasileiras. 1ª ed., Rio de Janeiro: África e Africanidades, 2009, v. 1, p. 74-81.  
CROSARIOL, Isabelita Maria. Discurso sobre o discurso: uma reflexão sobre a obra Os papéis do Inglês. In: Maria Célia Lima-Hernandes; Maria João Marçalo; Guaraciaba Micheletti; Vima Lia de Rossi Martin.. (Org.). A língua portuguesa no mundo. São Paulo: FFLCH-USP, 2008, v. 1, p. -. 
CROSARIOL, Isabelita Maria. Violência e testemunho na produção literária de Ruy Duarte de Carvalho. In: Carmen Lúcia Tindó Ribeiro Seco; Sílvio Renato Jorge; Maria Teresa Salgado Guimarães da Silva. (Org.). PENSANDO ÁFRICA - III Encontro de Professores de Literaturas Africanas. 1ª ed., Rio de Janeiro: -----, 2008, v. 1, p. 1-1.  
CROSARIOL, Isabelita Maria. O dizer da guerra na poética de Ruy Duarte de Carvalho. Darandina - revisteletrônica – Programa de Pós-Graduação em Letras / UFJF – vol. 2 – n 2, 2010. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016).
CROSARIOL, Isabelita Maria. Corpo  negro  em  liberdade  na poética    de    Ruy    Duarte    de Carvalho. Revista África e Africanidades- Ano I- n. 4 –  Fev. 2009. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016). 
COUTINHO, Alexandre Montaury Baptista. Derivas identitárias, ficção e paisagens literárias: (Desmedidas, de Ruy Duarte de Carvalho). In: Paola Mildonian; Biagio D´Angelo. (Org.). Comparaciones en vertical: conflictos mitológicos en la literatura de las Americas. 1ª ed., Veneza: Supernova, 2009, v. 1, p. 168-177.  
DASSIE, Franklin Alves; GANDOLFI, L.. Alguns poemas de Ruy Duarte de Carvalho. Et Cetera (Curitiba), Curitiba, p. 72-77, 5 set. 2004.
ERVEDOSA, Carlos. Roteiro da literatura angolana. 4ª ed., Luanda: União dos Escritores Angolanos, s.d. 
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FISCHGOLD, Christian Rodrigues. Representações pós-coloniais em Ruy Duarte de Carvalho. Uma leitura de Os papéis do inglês. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, 2014.

GOMES, Simone Caputo. A produção de Ruy Duarte de Carvalho: gêneros literários em conversão e derivação. Teia Literária, v. 2, p. 183-200, 2008. 
IWAI, Marcia Miyuki. Os papéis do inglês, de Ruy Duarte de Carvalho, e a desconstrução do romance de aventura. Aurora (PUCSP. Online), v. 6, p. 36-49, 2009.  
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ORNELLAS, Sandro Santos. Ruy Duarte de Carvalho em transumância pelos discursos. Eutomia (Recife), v. II, p. 191-211, 2009.  
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PEREIRA, Luena Nascimento Nunes. Resenha: ?Vou lá visitar pastores: exploração epistolar de um percurso angolano em território Kuvale (1992-1997)? de Ruy Duarte de Carvalho.. África - Revista do Centro de Estudos Africanos, São Palo, v. 22/23, p. 161-162, 2004.
RODRIGUES, Inara de Oliveira. Palavras e cenas de uma história por contar: Os papéis do inglês, de Ruy Duarte de Carvalho. In: VII Seminário Internacional em Letras - Linguagem, Cultura e Identidade. Santa Maria: Editora UNIFRA, 2007.  
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SANTOS, Fernanda Cristina da Encarnação dos.. O Olhar do Viajante em Luanda-São Paulo-São Francisco e Volta, de Ruy Duarte de Carvalho. In: II Anais do II Congresso Africanidades e Brasilidades. Vitória: UFES, 2015. v. 1. p. 1-10.
SANTOS, Fernanda Cristina da Encarnação dos.. O Olhar do Viajante em Desmedida, Luanda-São Paulo-São Francisco e volta, de Ruy Duarte de Carvalho. In: II Congresso Nacional de Africanidades e Brasilidades, 2014, Vitória. II Congresso Nacional Africanidades e Brasilidades: Culturas e Territorialidades. Vitória: NAFRICAB, 2014. v. 1. p. 36-37.
SECCO, Carmen Tindó; SALGADO, Maria Teresa; JORGE, Silvio Renato (Orgs.). África: escritas literárias. Rio de Janeiro|Luanda: Editora UFRJ/UEA, 2010.
SILVESTRE, Osvaldo. Notas sobre a paisagem e o tempo em Ruy Duarte de Carvalho. in: Setepalcos n. 5, Coimbra: Cena Lusófona, julho de 2006, p. 26.
SOUZA, Marli Paz de.. Do sul de Angola ao nordeste brasileiro: um itinerário poético. (Tese Doutorado em Literatura e Cultura). Universidade Federal da Paraíba, UFPB, 2007. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016).
TETTAMANZY, Ana Lúcia Liberato. Ficções de si: auto-etnografia em Ruy Duarte de Cavalho. in: Mulemba - n.7 v. 1, p. 4-19, UFRJ - Rio de Janeiro -Brasil, dezembro|2012. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016).

TÓTOLI, Aline. Ruy Duarte por ele mesmo: uma leitura de Os filhos de Próspero. in: SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 14, n. 27, p. 53-62, 2º sem. 2010. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016). 
VALLE, Laura Regina dos Santos Dela. O espaço vivido: literatura e antropologia em Ruy Duarte de Carvalho. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, 2015.
VALLE, Laura Regina dos Santos Dela. Ruy Duarte de Carvalho: a viagem, o discurso e a poesia. in: Boitatá - Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016). 
VALLE, Laura Regina dos Santos Dela. Ruy Duarte de Carvalho: caminhos de um poeta antropólogo. Nau Literária, PPG-LET-UFRGS, Porto Alegre, vol. 9., nº 1, jan/jun 2013. Disponível no link. (acessado em 11.2.2016).


"Todas as expressões literárias locais se constituiriam assim como literaturas de fronteira em que a paisagem seria a língua maior, e que aí, uma vez realizadas, se transmudariam em voz... virando fala que passa a ser voz, perturbe a expressão do poder que a língua também é..."
- Ruy Duarte de Carvalho, em "A câmara, a escrita e a coisa dita... fitas, textos e palestras". Lisboa: Cotovia, 2008, p. 22. 

Ruy Duarte de Carvalho

"Na memória íntima que consigna o registro das minhas emoções, porém, o que retenho não contempla essa margem de apreensão de conhecimento mas antes a dilatação dos horizontes da minha própria experiência pessoal (...) Vou ter que contar-me, tratar-me, pois, enquanto personagem dessa estória. E essa então será, comigo a actuar lá dentro e a primeira inscrita nela, a tal estória que tenho para contar-te. E quem narra não há-de ter, ele também que dar-se a contar?" 
- Ruy Duarte de Carvalho, em "Os papéis do inglês". Lisboa: Cotovia, 2000, p. 38.




Ruy Duarte de Carvalho - foto: Marta Lança (2009)
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"Fazedores de opinião...
Por toda a parte os há
e por toda a parte se revelam,
manifestam, no espaço
e nos terrenos que o poder,
que os poderes, lhes consignam..."

- Ruy Duarte de Carvalho, em "Como se o mundo não tivesse leste". Lisboa: Cotovia, 2003.



Ruy Duarte de Carvalho - foto: Walter Fernandes
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FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Ruy Duarte de Carvalho - a mitopoética das africanidades. Templo Cultural Delfos, julho/2021. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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* Página atualizada em 6.12.2021
** Pagina originalmente publicado em fevereiro/2016.




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António Cardoso - a poética da resistência

António Mendes Cardoso (poeta angolano)


António Mendes Cardoso (poeta angolano) . nasceu em Luanda/Angola, em 8 de abril de 1933 - faleceu em Lisboa/Portugal,  em 2006. Filho de pais europeus, viveu vários anos no antigo musseque Braga, dos subúrbios da capital angolana. Frequentou o Liceu de Luanda e foi empregado de escritório e bancário naquela cidade. Militante do MPLA desde a sua fundação, foi preso pela PIDE em 1960 e em 1961 (duas vezes), acabando por ser internado no campo de concentração do Tarrafal, Cabo Verde, de 1961 até 1974, só tendo sido libertado seis dias após a revolução de 25 de Abril. De regresso a Angola, onde acabaria por fixar-se, voltou ao seu lugar de empregado bancário, passando mais tarde à atividade de jornalista, tendo sido sequestrado e torturado pela FNLA, quando, já depois da independência, exercia as funções de diretor da Emissora de Angola. Exerceu o cargo de diretor do Departamento de Espetáculos do Centro Nacional de Cultura de Angola e foi secretário-geral da Associação dos Escritores Angolanos.

Estreou-se, como poeta, em O Estudante, órgão da Associação Escolar do Liceu Salvador Correia, de Luanda. A sua atividade cultural desenvolve-se de par com a sua produção poética, quer colaborando nas revistas literárias de Luanda dos anos cinquenta, quer fazendo parte dos corpos gerentes da Sociedade Cultural de Angola.

António Mendes Cardoso
Tem colaboração dispersa pelos jornais e revistas Mensagem, Cultura, Jornal de Angola, da Associação dos Naturais de Angola, Mensagem, da Casa dos Estudantes do Império de Lisboa, África, também de Lisboa, e Présence Africaine, de Paris, além de jornais vários de Portugal, Moçambique, Brasil e Argentina. Em alguma desta colaboração usou o pseudónimo de Tony Dicar.

Está representado, entre outras, nas antologias: Poetas Angolanos, de Carlos Ervedosa (Lisboa, 1959); Poetas Angolanos, de Alfredo Margarido (Lisboa, 1962); Antologia Poética Angolana, de Garibaldino de Andrade e Leonel Cosme (Sá da Bandeira, hoje Lubango, 1963); Poetas e Contistas Africanos de Expressão Portuguesa, de João Alves das Neves (São Paulo, 1963); Poèziia Afriki [Poesia de África], de Robert Rozhdéstvensky e V. Mirimanov (Moscovo, 1972); Poesia Angolana (Lisboa, 1974); Poesia Angolana de Revolta, de Giuseppe Mea (Porto, 1975); Antologia de Poesia Pré-Angolana, de Pires Laranjeira (Porto, 1976); Poesia de Angola (Luanda, 1976); No Reino de Caliban, de Manuel Ferreira (Lisboa, vol. 2, 1976); Poèziia Bor'by [A Poesia da Luta], de Helena A. Riáuzova (Moscovo, 1976); Manguxi da Nossa Esperança (Luanda, 1979); Poemas para Pioneiros (Luanda, 1979).
Fonte: Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. VI, Lisboa, 1999./ in: DGLAB - Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas. (acessado em 10.2.2016). 



OBRA DO POETA ANTÓNIO CARDOSO 
(primeiras edições e reedições)
Poesia
:: Poemas de circunstância. Lisboa: Editorial Minerva, 1959, 30p.
:: São Paulo: poema. Sá da Bandeira (actual Lubango): Caderno Colectivo da Colecção Imbondeiro, 1960.
:: Chuva antiga. Lubango., 1964.
:: 21 poemas da cadeia. Lisboa: Plátano, 1979; Cadernos lavra & oficina, 16. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1979, 30p. 
:: Baixa & Musseques. Lisboa: Plátano, 1980.
:: Chão de exílio. Lisboa: África Editora, 1980. 
:: Lição de coisas. Lisboa: Ulmeiro, 1980.
:: Nunca é velha a esperança. Lisboa: Plátano,1980.  
:: Poemas circunstâncias e São Paulo. Lisboa: África Editora, 1980.
:: Poemas de circunstâncias (1949-1960).. [apresentação Mário Dionísio]. Luanda: Editorial Nzila, Luanda, 2003, 182p.

Antônio Cardoso - poemas de circunstância
Prosa
:: A casa da mãezinha: cinco estórias incompletas de mulheres. Lisboa: Ulmeiro, 1980, 136p.
:: A fortuna: novela de amor.
Lisboa: África Editora, 1981; Coleção Biblioteca de Literatura Angolana. Luanda: Edições Maianga, 2004.

Ensaio poético
:: Economia política, poética. [prefácio António Jacinto]. reprodução facsimilada do manuscrito redigido no pavilhão prisional da PIDE, em Luanda, em 1962. s.l.: s.n., 1979.
:: Panfleto poético. [prefácio Manuel Ferreira].
Lisboa: Caderno da Casa dos Estudantes do Império (CEI), 1979.

Ensaio, crônicas e artigos em jornais e revistas
CARDOSO, António Mendes. Poderá identificar-se Congo e Cuango?. In: Boletim Cultural Museu de Angola, 2 (1960), p. 61-64.

______ . Aviso. in: África, Literatura, Arte e Cultura (Lisboa), 3, año 1, (Jan.-Mar.-1979), p. 292.
______ . Redacção sobre a forca. Lavra & oficina - Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1979, p. 25.
______ . Namibe: recordação de Abril de 61. in: Lavra & Oficina: União dos Escritores Angolanos (Luanda), 34-39, (1981), p. 13.
______ . Contrato. in: África, Literatura, Arte e Cultura (Lisboa), 3, año 1, (Jan.-Mar.-1979), p. 292.
______ . Construção civil. in: África, Literatura, Arte e Cultura (Lisboa), 3, año 1, (Jan.-Mar.-1979), p. 294.


Antologias (participação)
FIGUEIREDO, Jaime de (sel. e apres.). Modernos poetas caboverdianos: antologia. Praia|Cabo Verde: Edições Henriquinas Achamento de Cabo Verde, 1961.
TRIGUEIROS, Luís Forjaz (org.). O ultramar português: Angola. Lisboa: Livraria Bertrand, 1961. 
POETAS angolanos. Casa dos Estudantes do Império. Lisboa: Secretaria de Estado da Educação e Cultura, 1962.
MEA, Giuseppe (org.). Poesia angolana de revolta: antologia. Porto: Paisagem, 1975. 
FERREIRA, Serafim (org.). Resistência africana. Lisboa: Diabril, 1975. 
FERREIRA, Manuel (org.). No reino de Caliban: antologia panorâmica da poesia africana de expressão portuguesa - Vol. II: Angola e São Tome e Príncipe. Lisboa: Seara Nova, 1976.
TORIELLO, Fernanda (org.). Poesia angolana moderna. [direção Giuliano Macchi, Luciana Stegnano Picchio, Fernanda Toriello]. Bari: Adriatica Editrice, 1981.
FREUDENHTHAL. A. (org.). Antologias de Poesia da Casa dos Estudantes do Império, 1951-1963. Angola, São Tomé e Príncipe. Lisboa: Edição CEI, vol. I, 1994.
TRIGO, Salvato (org.). Matrilíngua.  vol. II. Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo, 1997.
SECCO, Carmen Lúcia Tindó Ribeiro (coord.). Antologia do mar na poesia africana de língua portuguesa do século XX: Cabo Verde /Angola/Moçambique/.../. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999.
VASCONCELOS, Adriano Botelho de (org.) Todos os sonhos. Antologia da Poesia Moderna Angolana. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2005, 593p.

António Mendes Cardoso (poeta angolano)


POEMAS ESCOLHIDOS DE ANTÓNIO MENDES CARDOSO

Árvore de frutos
Cheiras ao caju da minha infância
e tens a cor do barro vermelho molhado
de antigamente;
há sabor a manga a escorrer-te na boca
e dureza de maboque a saltar-te nos seios.

Misturo-te com a terra vermelha
e com as noites
de histórias antigas
ouvidas há muito.

No teu corpo
sons antigos dos batuques à minha porta,
com que me provocas,
enchem-me o cérebro de fogo incontido.

Amor, és o sonho feito carne
do meu bairro antigo do musseque!

- António Mendes Cardoso, em "No reino de Caliban: antologia panorâmica da poesia africana de expressão portuguesa - Vol. II: Angola e São Tome e Príncipe". [organização Manuel Ferreira]. Lisboa: Seara Nova, 1976.

§

Cresc[imento] [d]a força – ventre do futuro
Hoje vou deitar-me sobre o mundo
Como se cama de algodão fosse.
Insuflar o peito, sorver fundo
Toda sua sânie amarga - e - doce...
(Na raiz desperta sangue e sonho,
Na luta, a aurora rediviva...
– Vem imagem certa, onde te ponho
Flor desabrochada e sempre esquiva)

Hoje vou deitar-me sobre o mundo
Como se cama de algodão fosse.
Insuflar o peito, sorver fundo
Todo seu calor amargo - e - doce...
(... andam no ar lábios de mulher

– cresce a força-ventre do futuro!)

- António Mendes Cardoso  Tarrafal, 18.7.70), em "Chão de exílio". Lisboa: África Editora, 1980, p. 37.

§

É inútil chorar
É inútil chorar:
«Se choramos aceitamos. É preciso não aceitar.»
Por todos os que tombam pela verdade
Ou que julgam tombar.
O importante neles é já sentir a vontade
De lutar por ela,
Por isso é inútil chorar.
Ao menos se as lágrimas
Dessem pão,
Já não haveria fome.
Ao menos se o desespero vazio
Das nossas vidas
Desse campos de trigo.
Mas o que importa
É não chorar:
«Se choramos aceitamos. É preciso não aceitar.»
Mesmo quando já não se sinta calor
É bom pensar que há fogueiras
E que a dor também ilumina.
Que cada um de nós
Lance a lenha que tiver,
Mas que não chore
Embora tenha frio:
«Se choramos aceitamos. É preciso não aceitar.»

- António Mendes Cardoso (21.2.55), em "Poemas de circunstâncias". (1949-1960). Luanda: Editorial Nzila, Luanda, 2003.


§  

Exílio
Eu vivo na minha terra
Mas estou exilado.
Quem vive nela não sou eu
Mas outro que em mim vive.

A minha terra está por vir
E o meu outro ser vive, vive...
...vive à espera desse porvir
 

- António Mendes Cardoso, em ""Poemas de circunstâncias". (1949-1960). Luanda: Editorial Nzila, Luanda, 2003.

§

Há Momentos
Há momentos na vida de um Homem
Em que sabe que acordou diferente
E que já não é o mesmo para ele,
Mesmo que o seja para toda a gente...
Há momentos na vida de um Homem
Onde só pode entrar uma Mulher
Aquela que lhe trouxer
A flor do sexo
Desenhada a vermelho no ventre
E nada lhe perguntar...
Há momentos na vida de um Homem
Onde só pode entrar uma mulher
Aquela que lhe trouxer,
Num abraço total,
A ilusão da vida inteira...
E, depois, partir
Com a esperança de vida que ele semeou...
Há momentos na vida de um Homem
Onde só pode entrar uma Mulher
Para todo o Mundo se resumir
À flor vermelha
Como um bocado de sol
Que desponta numa telha!

- António Mendes Cardoso (21.2.55), em "Poemas de circunstâncias". (1949-1960). Luanda: Editorial Nzila, Luanda, 2003.

§

O mar visto da cadeia
O mar é largo
E profundo.
Tão largo e profundo,
Que cabe todo inteiro
E amargo, no fundo
Do simples olhar que lhe deito ...

Estendido e liso,
Refeito como um ventre de mulher
Apetecido sem aviso,
Já teve sereias e monstros,
Ossos a apodrecer,
Para ser, agora,
De um qualquer ...

Desencanto a apodrecer-
-me  o canto, nesta hora?
— Só se for nas areias
Onde morre monótono,
E nas marés-cheias
De tanto luar e espanto
Na memoria...

Já o tive
Insatisfeito,
Na cova da mão,
No búzio dos ouvidos,
E no sonho que ainda vive
De urna doce ilusão ...

Inventei-lhe
Desaparecidos ecos,
Talvez reinos perdidos,
Tesouros, conchas,
Algas e palácios
Encantados de mouros ...

Depois ficou só mar
Vulgar, indigesto,
Azul, verde, prateado,
«Grande ... grande ... »,
Com o resto afogado
No coração ...

Chegou então a hora
Do mar lúcido
Sem papão,
Apreendido,
Económico,
Assassino, embora,
Mas também elo de ligação
 

- António Mendes Cardoso, em "21 poemas da cadeia". Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1979. 

§

Poema
Na espuma verde
do mar
desenharei o teu nome,

Em cada areia
da praia
em cada pólen
da flor
em cada gota
do orvalho
o teu nome
deixarei gravado

No protesto calado
de cada homem ultrajado
em cada insulto
em cada folha caída
em cada boca faminta
hei de escrever
o teu nome

Nos seios férteis
das virgens
nos sorrisos perenes
das mães
nos dedos dos namorados
no embrião da semente
na luz irreal das estrelas
nos limites do tempo
hei de uma esperança semear.
 
- António Mendes Cardoso (N.ª S.ª Conceição, Ilha do Fogo, Cabo Verde, 5/10/1935). em "Modernos poetas caboverdianos: antologia". [sel. e apresentação Jaime de Figueiredo]. Praia: Edições Henriquinas Achamento de Cabo Verde, 1961, p. 189-190.

§

Uma canção
Uma canção
em casa grito
de agonia

Uma flor
em cada sonho
violado

Um painel
em cada aurora
ensanguentada

Um poema
em cada gota de sangue
derramada.
 
- António Mendes Cardoso (N.ª S.ª da Conceição, Ilha do Fogo, Cabo Verde, 5/10/1935), em "No reino de Caliban: antologia panorâmica da poesia africana de expressão portuguesa - Vol. II: Angola e São Tome e Príncipe". [organização Manuel Ferreira]. Lisboa: Seara Nova, 1976, p. 261.

António Cardoso


FORTUNA CRÍTICA DE ANTÓNIO CARDOSO
BARROS, Victor. Campos de concentração em Cabo Verde: as ilhas como espaços de deportação e de prisão no estado novo. Coimbra: Universidade de Coimbra, 2009.
CARDOSO, Jerónimo. Obra literária - prosa latina. tomo I. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2009.
CAVACAS, Fernanda; GOMES, Aldónio. Dicionário de Autores de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho, 1997.
LABAN, Michel. Encontro com António Cardoso. in: Encontro com Escritores. Fundação Eng. António de Almeida, Luanda, 1988, p.332-359.
MACÊDO, Tania. Luanda: literatura, história e identidade de Angola. in: VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, Coimbra, Universidade de Coimbra, 16 a 18 de setembro de 2004. Disponível no link. (acessado em 10.2.2016).
MATA, Inocência. A Casa dos Estudantes do Império e o lugar da literatura na consciencialização política. Coleção Autores da Casa dos Estudantes do Império. Lisboa: União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), 2015.
OLIVEIRA, Mário António Fernandes de.. Reler África. [apresentação, revisão e nota bibliográfica de Heitor Gomes Teixeira]. Coimbra: Instituto de Antropologia|Universidade de Coimbra, 1990, p.187.
PADILHA, Laura Cavalcante. Guerra, poesia, estilhaç[ament]os - um olhar para Angola. in: Mulemba - n.1 - UFRJ - Rio de Janeiro - Brasil - Outubro de 2009. Disponível no link. (acessado em 10.2.2016).
PAPELO, João. António Cardoso, um poeta caído nas malhas do esquecimento. in: O País, 7 de janeiro de 2015. Disponível no link. (acessado em 10.2.2016).
PARPAROTO, Tércio de Abreu. A lição de coisas de António Cardoso: uma poética para além da prisão. (Tese Doutorado em Estudos Comparados de Literaturas Africanas de Lingua Portuguesa). Universidade de São Paulo, USP, 2009.
ROCHA, Darliane. Identidade, etnicidade e angolanidade em António Cardoso. in: XI Congresso Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais - Diversidade e (Des)Igualdades, UFBA, Campus de Ondina, Salvador, 7 a 10 de agosto de 2011. Disponível no link. (acessado em 10.2.2016).


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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). António Cardoso - a poética da resistência. Templo Cultural Delfos, fevereiro/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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Costa Andrade - poesia e política


Francisco Fernando Costa Andrade
Francisco Fernando da Costa Andrade ou simplesmente Costa Andrade, também conhecido por Ndunduma wé Lépi, nome de guerra adotado nos tempos da guerrilha no Leste de Angola, durante os idos anos 60 e 70, é natural do Lépi, localidade situada na atual província Huambo, onde nasceu há 71 anos, em 1936, portanto. Fez os estudos primários e liceais na cidade do Huambo e Lubango. Por razões que se prendiam com a falta de universidades ou outras escolas superiores na Angola colonial, como acontecia na generalidade com os jovens da sua geração, Costa Andrade encontrava-se em Portugal, nas décadas de 40 e 50, com o objetivo de, em Lisboa, realizar estudos de Arquitetura.Com Carlos Ervedosa, foi editor da Coleção Autores Ultramarinos da Casa dos Estudantes do Império, que desempenhou um papel decisivo na divulgação das literaturas africanas de língua portuguesa, especialmente da literatura angolana.
Tem colaboração dispersa em várias publicações periódicas. Publicou textos sob vários pseudônimos, sendo o mais recente o heterônimo Wayovoka André. Além de Portugal, fixou residência por longos períodos de tempo do seu exílio em países como Brasil, Yugoslávia e Itália, onde, além de prosseguir os estudos, desenvolveu uma intensa atividade de conferencista. É membro fundador da União dos Escritores Angolanos. Entre os vários pseudônimos que usou, destacam-se Africano Paiva, Angolano de Andrade, Fernando Emílio, Flávio Silvestre, Nando Angola. A versatilidade de Costa Andrade, confirma-se com a sua já conhecida faceta de artista plástico. Mas tal prova acima de tudo uma personalidade, um escritor, um artista que se encontra em permanente busca de materiais e matérias para o trabalho criativo, avultando na sua história pessoal a arte do compromisso e da ruptura ao mesmo tempo. Da sua bibliografia, em que se inscrevem obras de poesia, ficção e ensaio, destacam-se, entretanto, pelo seu número as obras de poesia. Publicou: Terra de Acácias Rubras, (poesia, 1961) Tempo Angolano em Itália (poesia, 1963); Poesia com Armas (poesia, 1975); O regresso e o canto (poesia,1975); O caderno dos Heróis (poesia, 1977); No velho ninguém toca (texto dramático, 1979); Literatura Angolana ( Opiniões), (ensaio, 1980); No país de Bissalanka (poesia, 1980); Estórias de Contratados (conto, 1980); Cunene corre para sul (poesia, 1984); Ontem e Depois (poesia, 1985) Lenha Seca (versões em português do fabulário de língua Umbundu, 1986); Os sentidos da pedra ( poesia, 1989); Falo de Amor por Amar (poesia), Lwini (poesia) com o heterônimo Wayovoka André, Limos de Lume (poesia, 1989); Irritação (poesia, 1996); Luanda: Poema em Movimento Marítimo (poesia) 1997.

:: Fonte: Embaixada de Angola em Portugal / Nexus (acessado em 9.2.2016).



OBRAS DE COSTA ANDRADE
Poesia

Francisco Fernando Costa Andrade
:: Terras das acácias rubras. Lisboa: Casa dos Estudantes do Império, 1961, 46p.
:: Tempo Angolano em Itália. São Paulo: Felman-Rego. 1963.
:: Armas com poesia e uma certeza. Cazombo: M.P.L.A. Frente Leste, 1973. (Edição policopiada: 500 exemplares)
:: O regresso e o canto.  Lobito: Cadernos Capricórnio, 1975.
:: Poesia com armas. [prefácio Mário Pinto de Andrade]. Lisboa|Luanda: Sá da Costa; U.E.A, 1975, 160p.
:: Caderno dos  heróis. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1977.

:: No velho ninguém toca: poema dramático com Jika. [prefácio Basil Davidson]. Lisboa: Sá da Costa, 1979.
:: O país de Bissalanka. [prefácio Aristides Pereira]. Lisboa|Luanda: Sá da Costa; U.E.A, 1980.
:: O cunene corre para o sul: poesia revoltada. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1981.

:: Falo de amor por amar. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1985.
:: Ontem e depois. Lisboa: Edições 70,1985.
:: Os sentimentos da pedra. Lisboa|Luanda:  Editora Asa; U.E.A., 1989. 

:: Limos de lume. {sob heterônimo Wayovoka André}. Luanda|Porto, Ediçoes ASA; U.E.A., 1989.
:: Memórias de purpura. {sob heterônimo Wayovoka André}. Porto|Luanda Lito Tipo; U.E.A., 1990.
:: Lwini: crónica de um amor trágico. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1991.
:: Irritação - poesia agora. (poesia e pintura).. {sob heterônimo Wayovoka André}.. [carta-prefácio Rui Duarte Carvalho].Lisboa|Luanda: Reproscan; Sonangol e Lito-Tipo, 1994.
:: Luanda: poemas em movimento marítimo.  Luanda: Executive Center, 1997.
:: Terra gretada: poesia. Luanda: Chá de Caxinde, 2000.

Prosa
:: Estórias de contratados. (contos).. [prefácio Pepetela]. Lisboa|Luanda: Edições 70; U.E.A., 1980.
:: Lenha seca – fábulas recontadas na noite. Lisboa|Luanda: Sá da Costa; U.E.A., 1986.

 
Provérbios
:: Dizer assim (versões em português de provérbios da língua Umbundu). 1986.

Ensaio
:: Literatura angolana. (Opiniões)
.. [prefácio Henrique Abranches]. Lisboa|Luanda: Edições 70; U.E.A., 1980.
:: Com verso comigo. 30º Aniversário da Independência Nacional. Luanda|Angola: Caxinde, 2005, 57p.

Catalogo (exposição)
ANDRADE, Fernando Costa. (Ndunduma). Um rio cheio de sede. Catálogo de exposição de pintura. Luanda: Instituto Camões e Centro Cultural Português, s.d.

Artigos e ensaios em jornais e revistas
ANDRADE, Fernando Costa. A política como poética. in: Lavra & Oficina, Luanda, 10/1985, p. 11.
________ . O grande desafio ganho. in: Lavra & Oficina, Luanda, U.E.A., 10/11/1985, p. 8. 


Correspondência e documentos
ARQUIVO Mário Ponto de Andrade - Correspondência: Fernando Costa Andrade. in: Fundação Mário Soares. [Pasta: 04312.002.002 - Pasta: 04333.001.003 - Pasta: 04312.002.001 - Pasta: 04311.002.007 - Pasta: 04311.002.006] Disponível no link. (acessado em 9.2.2016).

________ . Canto de acusação, seguido do o Capim nasceu vermelho. [Pasta: 04312.002.003]. in: Casa Comum. Disponível no link. (acessado em 9.2.2016). 

Antologia (participação)
MEA, Giuseppe (org.). Poesia angolana de revolta: antologia. Porto: Paisagem, 1975.
FERREIRA, Manuel (org.). No reino de Caliban: antologia panoramica da poesia africana de expressao portuguesa - Vol. II: Angola e Sao Tome e Principe". Lisboa: Seara Nova, 1976, 489p. 
FREUDENHTHAL. A. (org.). Antologias de Poesia da Casa dos Estudantes do Império, 1951-1963. Angola, São Tomé e Príncipe. Lisboa: Edição CEI, vol. I, 1994.
VASCONCELOS, Adriano Botelho de (org.) Todos os sonhos. Antologia da Poesia Moderna Angolana. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2005, 593p.


POEMAS ESCOLHIDOS DE FERNANDO COSTA ANDRADE 

A cidade é morena
cor de azeitona
sorriso claro
aberto, quase inocente

- Não chega a ser morena como tu, querida.
Tu és flor de baobá
sombra de obó
e mais ainda
essa força nossa
  que primeiro foi mistério
   
   depois exotismo
     mais tarde negritude
hoje é terceiro mundo.

Isso é o que tu és e é Luanda, o Huambo, Benguela
mas não pode ser esta cidade.

- Fernando Costa Andrade, em "Tempo Angolano em Itália". São Paulo: Felman-Rego, 1963.

§

A voz da terra
Eu sei irmão que a tua dor
não posso avaliá-la exactamente
mas nasci com um caminho igual ao teu.

Isso me basta
para sentir na carne
as feridas que tu sentes e os anseios.
 
- Costa Andrade, em "Ontem e depois". Lisboa: Edições 70,1985.

§

É grata
É grata esta certeza de encontrar
Após luas mais pesadas que cidades
Venceremos a palavra escrita em cada tronco do Maiombe.
Caia um braço as pernas fiquem pelas mulolas
Farrapos de pele nas espinheiras

Os olhos não!
Os olhos vejam
a ambicionada luz que se negara
antes de fevereiro

Teus lábios molhados de poesia
Condensada em gotas de cacimbo
cantam com os rios.

Túmidos estão os seios das mães e as folhas verdes

os mortos
agora já são vivos para sempre.

- Fernando Costa Andrade, em "Poesia com armas". Lisboa: Sá da Costa, 1975.

§

Limos de lume
conto ainda
e já o conto
ai nos zeros
dos biliões

um milhão trezentos mil
cinco milhões e prossigo
oito milhões
ou dez?
os números também falecem
com o seu tempo a contar
ainda agora há pouco tempo
e tanto tempo passou passa o tempo
passará
passaria doutro modo?

Passe o tempo temporão
somos tantos e tão poucos
vem a paz demora ainda?
Quem espera pela demora?

é tempo de caminha!
 

- Fernando Costa Andrade, em "Limos de lume". [sob heterônimo Wayovoka André]. Luanda|Porto, Ediçoes ASA; U.E.A., 1989.

§

Luanda é o poeta ou o poema?
Luanda é o poeta ou o poema?
poema que nasce na Mutamba
e se aperta no mais cheio maximbombo
do Cazenga dos Ramiros ou da Funda
que importa a linha e o destino
se Luanda vai no verso
e no canto da sereia?

Luanda é um poema que se canta ou pinta
e se dança em ritmos amantes e viscosos
 

- Fernando Costa Andrade, em "Luanda: poemas em movimento marítimo". Luanda: Executive Center, 1997.  

Fernando Costa Andrade, em "Luanda: poemas em movimento marítimo". Luanda: Executive Center, 1997. fonte: Antonio Miranda


"Entre a nossa literatura e a vossa, amigos brasileiros, os elos são muito fortes. Experiências semelhantes e influências simultâneas se verificaram. É fácil, ao observador corrente, encontrar Jorge Amado e os seus capitães de areia nos nossos melhores escritores. Drummond de Andrade, Graciliano, Jorge de Lima, Cruz e Sousa, Mário  de  Andrade  e  Solano  Trindade,  Guimarães  Rosa,  têm uma presença grata e amiga, uma presença de mestres das novas gerações de escritores angolanos. E por isso mesmo, pelo impacto que tem junto do nosso povo, são vetados pelos colonialistas. Eles estão presentes, porém, nas preocupações literárias dos que lutam pela liberdade."
- Costa Andrade, em "Literatura angolana. (Opiniões)". Lisboa|Luanda: Edições 70; U.E.A., 1980, p. 26.


Francisco Fernando Costa Andrade

FORTUNA CRÍTICA DE COSTA ANDRADE
ABRANCHES, Henrique. Prefácio. in: Literatura Angolana (Opiniões), Lisboa/Luanda, Edições 70/U.E.A., pp. 11-14.
ANDRADE, Mário Pinto de.. O canto armado do povo angolano. In: COSTA ANDRADE, Fernando Poesia com armas. Lisboa: Sá da Costa, 1975, p. 1-18. 
PEREIRA, Aristides. À guisa de prefácio. in: O país de Bissalanka, Lisboa/Luanda, Sá da Costa/U.E.A., 1980, p. 3-5. 
CARVALHO, Ruy Duarte. Carta-prefácio. in: ANDRÉ, Wayovoka (Fernando Costa Andrade). Irritação. Poesia agora. Lisboa; Luanda: Reproscan; Sonangol e Lito-Tipo, 1994.
CAVACAS, Fernanda; GOMES, Aldónio. Dicionário de Autores de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho, 1997. 
CHALENDAR, Pierrette et Gérard. Politique – La fable comme genre littéraire: À propos de Lenha Seca de Costa Andrade. in: Estudos Portugueses e Africanos, Campinas, n° 16, 1990.
DAVIDSON, Basil. In the Eye of the Storm: Angola’s people. Garden City: Doubleday, 1972, 367p.
DAVIDSON, Basil. Prefácio. in: No velho ninguém toca. Lisboa/Luanda: Sá da Costa/U.E.A., 1978, p.3-9.
FERREIRA, Manuel. Literaturas de expressão portuguesa, Vols.1 e 2, Venda Nova, Amadora, Portugal: Instituto de Cultura Portuguesa, 1977. 142 p. (vol.1) e 152p. (vol 2). Disponível no link o vol. II. (acessado em 9.2.2016).
MATA, Inocência. A Casa dos Estudantes do Império e o lugar da literatura na consciencialização política. Coleção Autores da Casa dos Estudantes do Império. Lisboa: União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), 2015.
MARTIN, Vima Lia; MORAES, Anita Martins Rodrigues de.. O Brasil e a poesia africana de língua portuguesa. in: SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 15, n. 29, p. 69-84, 2º sem. 2011. Disponível no link. (acessado em 9.2.2016).
MELO, João de (org.). Os anos da guerra 1961-1975: os portugueses em África - crónica, ficção e história. Lisboa: Dom Quixote, 1988; 2ª ed., 1998.

MOREIRA, Maria Luci De Biaji. Tempo histórico, espaço e resistência no corpo da linguagem poética de Costa Andrade. Revista Língua & Literatura, v. 16, n. 27, p. 9-29, dez. 2014.
MOREIRA, Maria Luci De Biaji. Costa Andrade. In: Monica Rector e Richard Vernon (edis). African Lusophone Writers. Farmington Mills, MI: Gale - Cengage Learning, 2012. Vol. 367. p. 42-44. 
MOSER, Gerald; FERREIRA, Manuel. Bibliografia das literaturas africanas de expressão portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1983, 405p. 
OLIVEIRA, Vera Lúcia de. Fernando Costa Andrade: poeta angolano em luta. In: Via Atlântica, n.3, v. 1, 1999, p. 70-88.
PADILHA, Laura Cavalcante. Guerra, poesia, estilhaç[ament]os - um olhar para Angola. in: Mulemba - n.1 - UFRJ - Rio de Janeiro - Brasil - Outubro de 2009. Disponível no link. (acessado em 10.2.2016).
PAPPEN, Paulo Henrique. Um angolano na Itália e um italiano em Angola: diferentes formas de ser estrangeiro. (Monografia Graduação em Letras). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFGRS, 2013. Disponível no link. (acessado em 9.2.2016).
PEPETELA, . Prefácio. in: Estórias de contratados. Lisboa/Luanda, U.E.A./Edições 70, 1980, pp.11-l4. 
RUI, Manuel. Requiem para um homem. in: Lavra & Oficina, Luanda, n.1, 2 e 3, Luanda, 1981, p. 8. 
SECCO, Carmen Lucia Tindó. Costa Andrade e o lapidar da pedra da memória: enlaces entre poesia e pintura. in: ABRIL - Revista do Núcleo de Estudos de Literatura Portuguesa e Africana da UFF, Vol. 3, n° 5, Novembro de 2010. Disponível no link. (acessado em 9.2.2016).
SIMÕES, Manuel G.. Formas de transmissão oral em ‘Estórias de Contratados’. in: Jornal de Angola, 18/7/1989, p. 11.
TAVARES, Ana Paula. in: ANDRADE, Fernando Costa (Ndunduma). Um rio cheio de sede. Catálogo da exposição de pintura de Fernando Costa Andrade Ndunduma. Luanda: Instituto Camões; Centro Cultural Português, s.d., p.16.
TORIELLO, Fernanda. Poesia angolana moderna. Bari, Italia: Adriatica Editrice, 1981, 467p. 

Fernando Costa Andrade, em "Luanda: poemas em movimento marítimo". Luanda: Executive Center, 1997. fonte: Antonio Miranda


"Juntei na mão
os meus poemas
e lancei-os ao deserto
para que as areias
     se transformem em protesto."

- Costa Andrade, no poema "Motivo", em "Poesia com armas". Lisboa: Sá da Costa, 1975, p. 21.



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