COMPARTILHE NAS SUAS REDES

Rubens Jardim - cantares poéticos

Rubens Jardim - foto: acervo do autor

Rubens Eduardo Ferreira Jardim (jornalista e poeta) nasceu em São Paulo, em 25 de maio de 1946. Publicou poemas em diversas antologias, entre as quais: 4 Novos poetas na poesia nova (1965, SP), Antologia da catequese poética (1968, SP), Poesia del Brasile Doggi (1969, Itália), Vício da palavra (1977, SP), Fui Eu (1998, SP), Poesia para todos (2000, RJ), Antologia poética da geração 60 (2000, SP), Letras de Babel (2001, Uruguai), Paixão por São Paulo (2004, SP), Rayo de Esperanza (2004, Espanha), Congresso brasileiro de poesia (2008, RS). 

É autor de três livros de poemas: 'Ultimatum', 'Espelho riscado' e 'Cantares da paixão'. Publicou o livro 'Jorge, 80 Anos' e promoveu e organizou o Ano Jorge de Lima em 1973, em comemoração aos 80 anos do nascimento do poeta alagoano), evento que contou com o apoio de Carlos Drummond de Andrade, Menotti del Pichia, Cassiano Ricardo, Raduan Nassar e outras figuras importantes da Literatura Brasileira. Integrou o movimento Catequese Poética, iniciado por Lindolf Bell, em 1964, cujo lema era: o lugar do poeta é onde possa inquietar. O lugar do poema são todos os lugares.

Participou da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília (2008), com poemas visuais no Museu Nacional e na Biblioteca Nacional. Fez também leituras no Café Balaio, Rayuela Bistrô e Barca Brasília e participou da Mini Feira do Livro, com o lançamento de Carta ao Homem do Sertão, livro-homenagem ao centenário de Guimarães Rosa. Em abril de 2009, foi convidado a participar das comemorações dos 70 Anos da Guerra Civil Espanhola, evento realizado no Instituto Cervantes de São Paulo. Na ocasião, Rubens Jardim leu um poema feito especialmente para a ocasião: Carta em homenagem aos Combatentes da Guerra Civil Espanhola. Participaram dessa comemoração outros poetas e escritores como Alan Mills (Guatemala), Nurit Kasztelán (Argentina), Yaxkin Melchy (México), Hector Hernandez (Chile), Marília Gabriela, Alice Ruiz e Marcelino Freire (Brasil). 

Rubens Jardim - foto: (...)
No final de 2012, uma seleta de seus poemas, 'Fora da estante', foi publicada na Coleção poesia viva, do Centro Cultural São Paulo. Participou, em 2013, das homenagens realizadas na Câmara Municipal de São Paulo ao 25 de Abril português. Na ocasião, leu poema escrito especialmente para a celebração dos 39 anos da Revolução dos Cravos. Em maio de 2014, organizou e participou das comemorações dos 50 Anos da Catequese Poética, evento especial do Chama Poética, realizado na Casa das Rosas, que contou com a leitura de poemas de Lindolf Bell feita por diversos poetas amigos e companheiros de geração. Entre eles, Péricles Prade, Eunice Arruda, Eulália Maria Radtke, Celso de Alencar, Helen Francine, Raquel Naveira, Fernanda de Almeida Prado e outros. Em julho deste ano, esteve em Belo Horizonte participando do programa do Museu Nacional de Poesia, de Regina Mello, Poesia no Parque. Ainda em Belo Horizonte, participou do Banquete de Poesia, programa realizado pelo poeta Rodrigo Starling. Em ambas as ocasiões, lançou Lindolf Bell 50 Anos de Catequese Poética, antologia que organizou e reúne poemas de vários integrantes do movimento, como Luiz Carlos Mattos, Érico Max Muller, Iosito Aguiar, Iracy Gentile, Nilza Amaral, Carlos Vogt, Jaa Torrano.
:: Fonte: site do autor/escritas (acessado em 3.2.2016).


Autorretrato
Até que enfim
Não dei em nada
Dei em mim

- Rubens Jardim, em "Fora da estante - Rubens Jardim". 

Coleção Poesia Viva. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2012.


Rubens Jardim lê poema na Casa das Rosas/São Paulo - foto: acervo do autor


OBRA DE RUBENS JARDIM
Poesia
:: Refazeres - poemas. São Paulo:,. 

:: ULTIMATUM. São Paulo: Editora Texto, 1966.
:: Espelho riscado. São Paulo: Editora Cadernos de Poesia, 1978.

:: Cantares da paixão. São Paulo: Arte Paubrasil, 2008, 164p.

Organização
Rubens Jardim, por Tuca Vieira
:: Jorge de Lima 80 anos. [organização Rubens Jardim]. São Paulo: Edições do autor, 1973.
:: Lindolf Bell - 50 anos de Catequese Poética. [organização Rubens Jardim]. São Paulo: Editora Patuá, 2014. 

Seleta 
:: Fora da estante - Rubens Jardim. Coleção Poesia Viva. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2012. Disponível no link. e link. (acessado em 3.2.2016).  

Em e-books*
:: A coragem de criar. (ensaio). Edições do autor, 1995; reedição 2011.
:: Palavras essenciais 1. (Seleta de frases e versos de escritores). Edições do autor, 2004.
:: Jorge de Lima, 80 anos. Edições do autor, 2006.
:: Carta ao poeta Lindolf Bell. Edições do autor, 2006.
:: Carta ao homem do sertão. Edições do autor, 2007. 
:: Carta para mamãe. Edições do autor, 2008.
:: Carta ao poeta Fernando Pessoa. Edições do autor, 2008.
:: A poesia é mesmo a mais terrível inocência (palestra). Edições do autor, 2010.
:: Bell & a catequese poética (palestra). Edições do autor, 2010.
:: Lembranças de Lindolf Bell (palestra). Edições do autor, 2010.
:: Anotações de viagem (viagem). Edições do autor, 2012.
(*) Edições disponíveis no site do autor/link. (acessado em 3.2.2016).

Antologias (organização)
:: As mulheres poetas na literatura. 'coletâneas'. [organização Rubens Jardim]. São Paulo: Blog Rubens Jardim, s/data. (acessado em 26.2.2016). 
:: As mulheres poetas na literatura. 'coletâneas'. 3 vol's. [organização Rubens Jardim]. São Paulo: Edição do autor, 2020. Disponível no ISSUU. vol. 1 - vol. 2 e vol. 3 (acessado em 17.12.2020).
:: As mulheres poetas: na literatura brasileira. [organização, capa e projeto gráfico Rubens Jardim]. São Paulo: Arribaçã Editora, 2021. {a antologia reúne 328 poetas de todo o Brasil, de épocas, estilos e estados diferentes, confira no link as poetas presentes na coletânea}.

Antologias (participação)
:: 4 novos poetas na poesia nova. (autores Ana Cristina, Luiz Carlos Mattos, Lilian Lupatteli, Rubens Jardim). São Paulo: 1965. 
Rubens Jardim, por BRRamos
:: Catequese poética - antologia. (reúne poemas de Rubens Jardim, Lindolf Bell, Luiz Carlos Mattos, Érico Max Muller, Edson Santana, Iosito Aguiar, Reni Cardoso).. [organização Lindolf Bell]. São Paulo: Editora ILA Palma, 1968, 128p.
:: Poesia del Brasile D'Oggi. Ed. ILA Palma; Palermo/Itália, 1969.
:: Vício da palavra. [edição e organização Valdir Zwetsch; capa Luiz Gê; e ilustrações Maria Lídia dos Santos Magliani]. São Paulo: Edições Cooperativas Garnizé, 1977.
:: Fui eu. (41 autores debruçaram-se sobre a pintura FUI EU, de Valdir Rocha).. [organização Eunice Arruda]. São Paulo: Escrituras, 1998, 54p.
:: Antologia poética da geração 60. [organização Álvaro Alves de Faria]. São Paulo: Nanquim Editorial, 2000, 260p.
:: Poesia para todos. Rio de Janeiro: Edições Galo Branco, 2000.
:: Letras de Babel: antología multilingüe. [poetas: Rubens Jardim; Ana María Mayol, et al.]. Colección Señales de vida. (espanhol). Montevidéo/Uruguai: Bianchi editores; Brasília: Edições Pilar, 2001.
:: Paixão por São Paulo. (reúne 47 poetas em homenagem a cidade de São Paulo).. [organização Luiz Roberto Guedes]. São Paulo: Terceiro Nome, 2004, 184p.
:: Rayo de Esperanza: Antología de Poesía. [Manuel López Rodríguez editor].. Madrid, España: Editorial Centro de Estudios Poéticos, 2004.
:: Congresso Brasileiro de Poesia - Porto Alegre. Antologia. (O livro reúne 58 autores = poemas e contos).. Porto Alegre: Editora Alcance, 2008.
:: OBRANOME III: Antologia de poesia visual / Poesia Portuguesa. [organização editorial, projeto e curadoria Wagner Barja]. Brasília: Edição AVE Promoção e Produção Cultural, 2013.
:: É que os hussardos chegam hoje. (Antologia Poética).. [organização Ana Rüsche, Eduardo Lacerda, Elisa Andrade Buzzo, Lilian Aquino e Stefanni Marion]. São Paulo: Editora Patuá, 2014.
:: Cama de gato. Antología bilíngue de poesia contemporânea Argentina/Brasil // Antología bilingüe de poesía contemporánea Argentina/Brasil. [organização e tradução Araceli Otamendi e Christina Ramalho; capa: fotografia e concepção Christina Ramalho]. Natal/RN: Lucgraf, 2021. {autores presentes(Argentina) Aldo Luis Novelli, Alicia Silva Rey, Ana Arzoumanian, Ana María Manceda, Araceli Otamendi, Blanca Salcedo, Carlos Enrique Cartolano, Diego Rodríguez Reis, Ernesto Rojas, Fernando de Leonardis, Gabriela Rivero, Germán Mastellone, Gustavo Tisocco, Jenny Wasiuk, Juan Carlos Rodríguez, Juan Ramón Ortiz Galeano, Lecko Audencio Zamora, Liliana Lukin, Manuel Lozano Gombault, Nerina Thomas, Olga Liliana Reinoso, Paulina Juszko, Sergio Giuliodibari, Susana Szwarc; (Brasil) Alberto Pucheu, Ana de Santana, Antônio Mariano, Beatriz H. Ramos Amaral, Carmen Moreno, Christina Ramalho, Cida Pedrosa, Eliane Potiguara, Frederico Barbosa, Ítalo de Melo Ramalho, Lau Siqueira, Lívio Oliveira, Márcia Batista Ramos, Marilia Kubota, Paulo Ferraz, Prisca Agustoni, Ramon Diego, Rosângela Trajano, Rubens Jardim, Susanna Busato, Tanussi Cardoso, Tarso de Melo, Telma Scherer, Tiago Hakiy | ilustrações: Anne Mariano, Carlos Fernando Nogueira, Lucy Fazolla, Mariana Siqueira, Muirakytan Kennedy de Macedo, Rosângela Trajano, Tamara Quírico, Telma Scherer, Tieko Irii, Thainá Carvalho, Ulisses Toledo (ulixo Punk) e W. J. Solha.}. Disponível no link. (acessado em 14.12.2021).

Artigos e ensaios* em revistas e jornais
JARDIM, Rubens. Poemas do quintal. (sobre o poeta Paulo Marcos del Greco). in: Cronópios. Disponível no link. (acessado em 3.2.2016). 
_______ . Nei Duclós, um poeta que segue firme na poesia. in: Overmundo, 23.4.2013. Disponível no link. (acessado em 31.1.2016).

_______ . A poesia vai ao encontro do leitor. in: Protexto, 5.3.2013. Disponível no link. (acessado em 3.2.2016).
(*) outros ensaios e artigos você pode ler no site do autor.  Acessando AQUI!


Rubens Jardim - foto: acervo do autor

POEMAS ESCOLHIDOS DE RUBENS JARDIM

A desejada
Onde está a desejada da minha alma,
a mulher que criou janelas, portas e abismos
e se escondeu de todos os meus caminhos?
Antes que o tempo destrua minha calma

Eu quero me debruçar sobre sua presença.
Ou sobre sua lembrança. Preciso de um prisma
Para celebrar as suas cóleras, as suas cismas.
A desejada da minha alma é uma sentença

Que ficou no avesso controverso do fichário,
é o verso rabiscado em um momento raro,
é a urgência escrita desta brasa imaginária.

Sou o construtor desta mulher lendária
que me habita como botequim ignaro
e me faz louvar até as mágoas mais ordinárias.

- Rubens Jardim, em "em "site do autor". 19/5/2006.


§

Rubens Jardim - foto: acervo do autor
Amor é albergue
Amor é
albergue
de
andorinha
:
coisa
arisca.

Quem se arrisca? 
- Rubens Jardim, em "Fora da estante - Rubens Jardim". Coleção Poesia Viva. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2012.

§

Expropriação
1
Quando eu era pequeno
e andava de mãos dadas com minha mãe
o mundo inteiro era minha casa.
Hoje, nem minha casa
é minha casa.
 


2
Os anjos desapareceram
do espelho.
Da rua.
Da vila.
Eles não habitam mais
nem as igrejas.
 


3
Antes o mundo era dádiva
acolhimento
oferenda.
Hoje estou fora de todas as coisas.
Sempre fora.
Sempre em face das coisas
em face do mundo
em face dos homens.

Sozinho diante de Deus.
- Rubens Jardim, em "Fora da estante - Rubens Jardim". Coleção Poesia Viva. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2012. 

§

Exercícios de viagem
1
entre a via veneto
e a peixoto gomide
existe um fosso

e nenhum castelo

existe um poço
e nenhuma água

existe eu posso?
2
entre Roma
e São Paulo
eu fico com Cotia
sem caos aéreo
e sem palavras importantes
como Campidoglio
Coliseu, Piazza Navona
ou Fontana di Trevi.
Eu quero as palavras sem gala
as palavras simples
que nomeiam a maria-sem-vergonha
e um pássaro que passa
sem nome
– mas voa!

- Rubens Jardim, em "Fora da estante - Rubens Jardim". Coleção Poesia Viva. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2012. 

§

Flagrante
O morto na avenida
está livre da sepultura.
Não sei se é desaforo
ficar assim estendido
no chão. Mas a morte
é a quebra de protocolo,
a entrega de uma carta
endereçada ao nada.

- Rubens Jardim, em "Fora da estante - Rubens Jardim". Coleção Poesia Viva. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2012. 

§

Fontana di trevi
Ouve o murmúrio dessas águas.
Aperta o círculo impassível das moedas.
[E em diálogo secreto
reinventa a cena
apalpa os seios]

e celebra

      quadro
     a
    quadro

   a forma

       o fiume

e as águas que retornam
cinematograficamente
na memória

- Rubens Jardim, em "em "site do autor". 26/11/2006.

§

Fragmentos
I
Minha alma é pequena
e minha memória menor ainda.
Não fosse isso estaria mais perto
daquilo que me corrói:
o leite derramado.
 


II
Não vou me encontrar
se não encontrar em outra parte
A parte de mim que não responde:
Grito soterrado.
 


III
Já tentei acertar contas
com Deus e o Diabo
E as terras do sol.
Mas minha dívida
é comigo mesmo.
 


IV
Julgador e julgado
Réu e juiz
Não há farsa
nessa trama
Mas haverá proclamas?

- Rubens Jardim, em "em "página do autor". 2014.

§

Impotência
Palavrarquitetada: impotência

Este poema não diz nada
Da mesma forma
Que a história não diz tudo.
Língua cortada
Este poema não fala:
-falha.
E insiste:
-dedo em riste.

- Rubens Jardim "DicionáriArquitetado". in: Estudos Lusófonos, 26 de novembro de 2015.

§

Rubens Jardim - foto: acervo do autor
Janelas
Nesta janela aberta
meu olho devassado
meu espírito movediço

meu gesto imperfeito.
Nesta janela aberta
minhas celebrações

minha província

minha referencialidade.

Através disso
consagro a travessia:

o dever de ir

e o devir
 

- Rubens Jardim, em "Cantares da paixão". São Paulo: Arte Paubrasil, 2008.

§

Mallarmagem
Um lance de dados
jamais abolirá o acaso

E se é por acaso,
lance os dados!

- Rubens Jardim, em "Cantares da paixão". São Paulo: Arte Paubrasil, 2008.

§


Metamorfose
Morto e reciclado
O poema está no lixo

Em cestos coloridos
Conquistou um lugar

Tornou-se energia
E junto dos ratos
Na réstia de sol

Resiste
Em silêncio

- Rubens Jardim, em "É que os Hussardos Chegam Hoje. (Antologia Poética)".. [organização Ana Rüsche, Eduardo Lacerda, Elisa Andrade Buzzo, Lilian Aquino e Stefanni Marion]. São Paulo: Editora Patuá, 2014.


§


O invisível poema
Aqui se cruzam os caminhos
de épocas remotas e atuais.
Neste espaço finco os beirais
desta casa onírica. Meu ninho

é esta escrita em pergaminho.
São as fantasmagorias banais,
os sons obsessivos das vogais
e as libações efêmeras do vinho.

Não falo de casas em burburinho,
nem de monumentos e catedrais.
Registro, apenas, nesta escrivaninha

o invisível poema em redemoinho,
capturando o lido e o olvido e os ais
escutados na partição dos caminhos

- Rubens Jardim, em "Fora da estante - Rubens Jardim". Coleção Poesia Viva. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2012.

§

Pietá
Tão longe do meu olhar
fechada em si
e a si mesma devotada
a pedra, na Pietá
adentra o gesto
adensa a face
no apedrar-se da luz
no apiedar-se da pedra

- Rubens Jardim (Roma/outono 2006), em "Fora da estante - Rubens Jardim". Coleção Poesia Viva. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2012.

§

Rubens Jardim - foto: acervo do autor
Poema do avesso
O que há em mim
é a lenta preparação
do que há em ti
sombra segada
sangrada
e sagrada
até nos olhos dos meninos
que nasceram sem olhos

vidência única
(vide o verso)

visão múltipla
(vede o anverso)

e tudo que está
do outro lado

do espelho.
- Rubens Jardim, em "Fora da estante - Rubens Jardim". Coleção Poesia Viva. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2012.

§

Replanta teu nome
Com a palavra

Reinventa o gesto
Com a partida

E já sem forças de guardar

Celebra o amor
Que em amor se guarda
 

- Rubens Jardim, em "Cantares da paixão". São Paulo: Arte Paubrasil, 2008.

§

Toda mulher é miragem
Toda mulher é uma viagem
ao desconhecido. Igual poesia
avessa ao verso e à trucagem,
mulher é iniciação do dia,

promessa, surpresa, miragem.
De nada adiantam mapas, guias,
cenas ensaiadas ou pilhagens.
Controverso ser, mulher é via

de mão única, abismo, moagem.
É também risco máximo, magia,
caminho íngreme na paisagem.

Simplificando: mulher é linguagem,
palavra nova, imagem que anistia
o ser, o vir-a-ser e outras bobagens.

- Rubens Jardim, em "Fora da estante - Rubens Jardim". Coleção Poesia Viva. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2012.

§

Vestígios
Não, não adianta libertar
a memória de teus vestígios
nem apagar a lousa nem abandonar
a sombra cansada numa cadeira
e o sinal definitivo na torre
do sarcasmo. Inútil inquirir o tempo
o espelho riscado
os amantes à meia-noite.
Não há ponte entre o que foi
e o que não era. Por isso somos
lentos ao abraçar o ambíguo:
este símbolo que corrói o sim
de todas as bocas e faz do mistério
nosso único mister.

- Rubens Jardim, em "Cantares da paixão". São Paulo: Arte Paubrasil, 2008.


Rubens Jardim - foto: acervo do autor

FORTUNA CRÍTICA DE RUBENS JARDIM
DUCLÓS, Nei. Poesia, a linguagem de resistência. in: Jornal Opção, edição 1966 de 10 a 16 de março de 2013. Disponível no link. (acessado em 3.2.2016).

DUCLÓS, Nei. Rubens Jardim, a palavra plena. in: Outubro, 24 de novembro de 2008. Disponível no link. (acessado em 4.2.2016). 
FARIA, Álvaro Alves de.. Livro novo do poeta Rubens Jardim. in: Overmundo, 30.10.2016. Disponível no link. (acessado em 4.2.2016).
LUNKES, Juliete. Livro que celebra os 50 anos da Catequese Poética de Lindolf Bell será lançado em Timbó. in: NDonline, 12.11.2014. Disponível no link. (acessado em 4.2.2016).
OBRANOME 2: Catálogo da exposição de poesia visual [organização e curadoria Wagner Barja]. Brasília: Museu Nacional de Brasília, 2008.
POETAS brasileiros - Rubens Jardim. in: Revista Biografia. Disponível no link. (acessado em 3.2.2016).
RUBENS Jardim. Poemas. in: ZUNÁI - Revista de poesia & debates. Disponível no link. (acessado em 5.2.2016).
TIMBÓ. Exposição Girassóis para Lindolf e livro 50 anos de catequese poética são lançados na casa do poeta. in: notícias, portal da Prefeitura de Timbó SC, 5.11.2014. Disponível no link. (acessado em 4.2.2016).
VERMELHO. A palavra revolucionária de Rubens Jardim. in: Vermelho Portal - Prosa, Poesia & Arte , 12 de junho 2015. Disponível no link. (acessado em 3.2.2016).

Rubens Jardim - foto: acervo do autor

OPINIÕES E CRÍTICA SOBRE A OBRA DE RUBENS JARDIM

4 NOVOS POETAS NA POESIA NOVA
“Rubens Jardim, que parece ser o mais maduro do grupo --mais maduro e, no fundo, mais amargurado -- diz, significativamente, que sua infância foi exata como um relógio sem ponteiros.”.
- Rolmes Barbosa, em "Suplemento Literario do Estado de São Paulo", maio de 1965.

ULTIMATUM
“Poeta de talento o jovem Rubens Jardim do Ultimatum, que diz com o desassombro de seus 20 anos poesia em praça pública (como naquele Comício Poético, em outubro de 65, na Praça da Sé, em São Paulo)... E eu planto aqui no cerne de cada coração, o ultimatum da minha última esperança..."
- Stella Leonardos, em 'Jornal de Letras', 1966.

JORGE, 80 ANOS
“Rubens Jardim, você celebrou os 80 anos de Jorge com o mais belo monumento... Não sei de ensaio mais penetrante desse milagre da Poesia que foi Jorge de Lima... Um abraço Jardim, herói dessa façanha.”
- Menotti del Picchia, em 'carta' ao poeta Rubens Jardim (1973).

ESPELHO RISCADO
“Poeta Rubens Jardim: deixo de responder à sua carta-desencanto porque a melhor resposta lhe foi dada por você mesmo, em Espelho Riscado, cadernos de poesia-2.A poesia é exatamente o projeto de solução que encontramos para os desencontros e absurdos do mundo. E você dá bravamente o recado, em seus versos. Portanto, é seguir em frente, com as armas da lucidez e da esperança.”
- Carlos Drummond de Andrade, em 'carta' ao poeta Rubens Jardim (1979).

CANTARES DA PAIXÃO
“Rubens Jardim solucionou, ao seu modo, e de maneira criativa uma série de impasses vividos pela poesia nas últimas décadas...
Neste livro ele se dá uma liberdade rara transitando entre as mais variadas formas. Pode-se dizer que ele faz uma síntese do que seria o poema-cartaz, o hai-kai, o poema-piada, o caligrama, a publicidade e o poema convencional. Pode tanto produzir um poema com o mínimo de palavras ou letras, como um magnífico soneto. Pode compor um poema voltado para problemas sociais ou para a repressão política, ou pode dedicar-se à sua infância e a temas subjetivamente familiares. E tudo com a desenvoltura de quem sabe o que está fazendo..."

- Affonso Romano de Sant’Anna, em 'texto de orelha' do livro "Cantares da paixão" de Rubens Jardim. São Paulo: Arte Paubrasil, 2008. 
  



Rubens Jardim, em "Cantares da paixão".  São
  Paulo: Arte Paubrasil, 2008

AMIZADES LITERÁRIAS

Poetas da Catequese Poética - acervo Rubens Jardim


Ana e Rubens Jardim, ao fundo o poeta Mário Chamie, anos 90 auditório da SECultura  do
Estado de São  Paulo - foto: acervo Rubens Jardim

Eulália M. Radtke, Carmen Silvia Presotto, Antonio Lázaro de Almeida Prado,  Cristina M. 
Radtke, Rubens Jardim, Nilza Barude e Fernanda De Almeida Prado - foto: acervo Rubens Jardim

Rubens Jardim, Zuleika Reis, Eunice Arruda, Massao Ohno e
Álvaro Alves de Faria, em 2008 - foto: acervo Rubens Jardim.

Rubens Jardim e Ernesto Hernandez - poeta e fotógrafo Venezuelano, (Brasília 2008).
foto: acervo Rubens Jardim

Nelly Novaes e Rubens Jardim - foto: acervo Rubens Jardim
lançamento de livro na Casa das Rosas, 2015.

Rubens Jardim e Marina Colasanti - foto: acervo Rubens Jardim

Antonio Miranda, Rubens Jardim e Zelia Bora - foto: acervo Rubens Jardim
1ª Bienal Internacional de Poesia de Brasília, 2008 

Thiago de Mello e Rubens Jardim - foto: acervo Rubens Jardim
1ª Bienal Internacional de Poesia de Brasília, 2008

Reynaldo Jardim e Rubens Jardim - foto: acervo Rubens Jardim
1ª Bienal Internacional de Poesia de Brasília, 2008.

Labirinto
Palavrarquitetada: labirinto

Anarda era uma viagem
Dentro do tinteiro. Cor e acorde
Anarda era uma âncora
Dentro do tinteiro. Antes marco
E agora traço, Anarda é signo,
Insígnia, dentro do tinteiro.
Não diante do papel ou adiante
Da vida, mas antes e depois
(dentro)
Pois apesar das penas e seus galos
Mortos, Anarda é ave, vôo
Dentro do tinteiro.

- Rubens Jardim "DicionáriArquitetado". in: Estudos Lusófonos, 26 de novembro de 2015.


ICONOGRAFIA 
Livrinho - Refazeres - poemas



1º livro, 1966. U L T I M A T U M

2º livro, 1978. Espelho riscado

3º livro, 2008. Cantares da paixão

80 anos de Jorge de Lima, 1973


Lindolf Bell - 50 anos de Catequese Poética (org.) Rubens Jardim

Dedicatória do poeta Lindolf Bell ao poeta Rubens Jardim

Catequese poética - antologia

4 novos poeta na poesia nova

MEMÓRIAS E FAMÍLIA

Rubens Jardim e a irmã Maria Eliza,  no morro do elefante
em Campos do Jordão SP - foto: acervo Rubens Jardim

Rubens Jardim menino - foto: acervo Rubens Jardim

Rubens Jardim menino - foto: acervo Rubens Jardim

Rubens Jardim jovem - foto: acervo Rubens Jardim

Rubens Jardim com os filhos  Luiz Gustavo Leitão Vieira, Guilherme
Leitão e Christiano Jardim. - foto: acervo Rubens Jardim

Rubens Jardim, Ana Maria Leitão e Christiano Jardim - foto: acervo Rubens Jardim

Rubens Jardim - foto: acervo do autor

Rubens Jardim no Café Tortoni, em Buenos Aires, 2010 - foto: acervo do autor

Paixão
Palavrarquitetada: limiar

No limiar é promessa
No limite é ruptura
Tudo dentro do escuro.
 
- Rubens Jardim "DicionáriArquitetado". in: Estudos Lusófonos, 26 de novembro de 2015.



A CATEQUESE POÉTICA
Lindolf Bell foi o responsável pelo Movimento de divulgação da poesia junto aos mais diversos públicos, utilizando-se dos meios de comunicação menos tradicionais. A Catequese Poética foi iniciada em 1964, projetando o poeta nacionalmente. Este movimento mobilizou outros artistas, desenvolvendo uma nova linguagem poética e ampliando a intervenção social de jovens escritores. A Catequese Poética é considerada um marco tanto na cultura popular brasileira como na literatura. A partir de Lindolf Bell a poesia assumiu sua função transformadora do tempo, do homem e da sociedade.

A Catequese poética - iniciada pelo poeta Lindolf Bell
A Catequese obteve respaldo popular que ressoou nos sentimentos e nas aspirações do homem, adquirindo uma característica temporal e de reciclagem a cada nova geração. Esta chama acesa na década de sessenta, incorporou novos personagens e assumiu expressões particulares em cada canto que se manifestou. No início o palco era a praça, pois dali extraía-se o pedestre de seu rumo anônimo e indeterminado, reavivando sua condição de homem, cidadão. Como prova desta identidade humana, anos depois Milton Nascimento passou a cantar o artista tem que ir aonde o povo está.
(...)

A Catequese Poética, possibilitou a agregação de poetas das mais variadas tendências a participaram do Movimento: Rubens Jardim, Luiz Carlos Mattos, Iracy Gentilli, Reni Cardoso, Érico Max Muller, Marli Medalha, Milton Eric Nepomuceno e outros, num convívio sem conflitos estéticos. (...)
:: Fonte/leia mais em: Casa do poeta Lindolf Bell (acessado em 4.2.2016).


Rubens Jardim - foto: acervo do autor

QUINTA POÉTICA - GRUPO EDITORIAL ESCRITURAS
A Quinta Poética é um sarau poético mensal organizado pela Escrituras Editora, que acontece desde novembro de 2006 na Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, na Avenida Paulista, em São Paulo, Brasil, que conta com a colaboração de diversos curadores, que se revezam nas edições.

A Quinta Poética é um grande encontro dos amantes da boa poesia e conta com a presença de poetas consagrados e novos talentos, que têm a oportunidade de apresentar seu trabalho por meio de intervenções artísticas das mais diferentes expressões, como dança, música, artes plásticas, cultura popular, que envolvem a leitura dos poemas. (...)
:: Fonte: escrituras. (acessado em 4.2.2016)


Rubens Jardim - foto: acervo do autor
SITE DO POETA RUBENS JARDIM
:: Acesse AQUI!


OUTRAS REFERÊNCIAS E FONTES DE PESQUISA
:: Amigos do Livro - o portal do livro
:: Cronópios
:: Escritas
:: Protexto
:: Recanto das Letras 
:: Revista Lusofonia  
:: Antonio Miranda (poesia visual de Rubens Jardim)
:: Vidráguas 
:: Editora Beco dos Poetas 


© Direitos reservados ao autor

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske

=== === ===

Trabalhos sobre o autor:
Caso, você tenha algum trabalho não citado e queira que ele seja incluído - exemplo: livro, tese, dissertação, ensaio, artigo - envie os dados para o nosso "e-mail de contato", para que possamos incluir as referências do seu trabalho nesta pagina. 


Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Rubens Jardim - cantares poéticos. Templo Cultural Delfos, Agosto/2021. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
** Página atualizada em 14.12.2021.
** Postagem original de Fevereiro/2016.



Direitos Reservados © 2021 Templo Cultural Delfos

Graça Graúna - a poética indígena

Graça Graúna - escritora, crítica literária e professora de literatura e direitos humanos


© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske
Por gentileza citar conforme consta no final desse trabalho. 
Página original FEVEREIRO/2016 | ** Página revisada e atualizada SETEMBRO/2021.


"dançamos a dor/ tecemos o encanto/ de índios e negros/ da nossa gente”
 

- Graça Graúna, no poema "Resistência". in: Cadernos Negros 29. São Paulo: Quilombhoje, 2006, p. 120.



ESBOÇO BIOBIBLIOGRÁFICO DE GRAÇA GRAÚNA


Graça Graúna é o pseudônimo de Maria das Graças FerreiraIndígena Potiguara, nasceu em 1948, em São José do Campestre - Rio Grande do Norte. 

Escritora, poeta e crítica literária, é graduada, mestre e doutora em Letras pela UFPE e pós-doutora em Literatura, Educação e Direitos Indígenas pela UMESP.  Integra o grupo de Escritores Indígenas.

Professora adjunta em Literaturas de Língua Portuguesa e Cultura Brasileira na Universidade de Pernambuco – UPE – Campus Garanhuns, onde coordena o Grupo de Estudos Comparados: Literatura, Memória e Interdisciplinaridade (GRUPEC-UPE).

Publicou "Canto Mestizo" (poesia, Ed. Blocos, 1999); "Tessituras da terra" (poesia, ed. M.E, 2000), "Tear da palavra" (poesia, Ed. Mulheres, 2001), "Criaturas de Ñanderu" (narrativa infantil e juvenil, Ed. Amarylis, 2010), "Contrapontos da Literatura Indígena Contemporânea no Brasil" (Mazza Edições, 2013), "Flor da mata" (haicais, Peninha Edições, 2014).

Colaborou em jornais e revistas do Brasil e do exterior, entre eles: o Arte e Palavra (Sergipe), Suplemento Literário do Minas (BH) e o Jornal de Letras (Lisboa).

Participa de várias antologias poéticas no Brasil e no exterior e é responsável pelo site Tecido de Vozes.

:: Fontes: Rede de Escritoras Brasileiras - REBRA / Blocos Online / Inter criaturas de Ñanderu: releituras (acessado em 2.2.2016).


Ser potiguara
– Vamu apanhá sol?
– Vamu.

De sal a sol, multiplicar a semente
pelo caminho de volta
com Tupuna sorrindo.
 
- Graça Graúna, em "Poesia para mudar o mundo". (org.). Leila Míccolis,
 Blocos online, 2013.


****

OBRA DE GRAÇA GRAÚNA

Poesia
:: Canto mestizo
Graça Graúna. [prefácio Leila Miccolis]. 1ª ed., Maricá RJ: Editora Blocos, 1999. 
:: Tessituras da terraGraça Graúna. [prefácio Tânia Diniz]. 2ª ed., Belo Horizonte MG: Mulheres Emergentes - Coleção Milênio, 2001. 
:: Tear da palavraGraça Graúna. Belo Horizonte MG: M.E Edições Alternativas, coleção ME 18, 2007.
:: Flor da mata: poesia indígena (haicais). Graça Graúna. [ilustrações Carmen Barbi; capa Letícia Santana Gomes]. 1ª ed., Belo Horizonte: Mazza Edições; Peninha Edições, 2014. v. 1. 48p.
:: Fios do tempo (quase haikais). Graça Graúna. [apresentação Paula Santana]. São Paulo: Editora Baleia Cartonera, 2021.

Infanto-juvenil
 
:: Criatura de Ñanderu
Graça Graúna. [ilustrações José Carlos Lollo]. São Paulo: Edições Amarylis, 'Selo Manole', 2010, 34p.

Crônicas
:: Lugar e memória
Graça Graúna. 2008.

Ensaio
:: Contrapontos da literatura indígena contemporânea no Brasil
Graça Graúna. 1ª ed., Belo Horizonte MG: Mazza Edições, 2012. v. 1. 200p. 

Organização
:: Impressões de leitura do texto. [organização Graça Graúna]. Recife, PE: Editora Todas as Musas, 2015.
:: Direitos humanos em movimento. [organização Graça Graúna, Magdalena Almeida,  E. M. Santos,  Waldenia Leão].  1ª ed., Recife PE: Edupe, 2011. v. 1. 188p.

Dissertação e tese
GRAÚNA, Maria das Graças Ferreira. O imaginário dos povos indígenas na literatura infantil. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, 1991.
GRAÚNA, Maria das Graças Ferreira. Contrapontos da Literatura indígena contemporânea no Brasil. (Tese Doutorado em Letras). Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, 2003.

Capítulos em livros (ensaios, poesia e crônica)
Graça Graúna - foto: (...)
GRAÚNA, Maria das Graças Ferreira. A recriação do mítico na prosa poética de Pascoal MottaIn: Silviano Santiago; Tania Franco Carvalhal; Luiz Costa Lima; Nádia Gotlib; Donaldo Schüller e outros. (Org.). 3º Congresso ABRALIC - Limites. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Niterói: ABRALIC, 1995, v. 2, p. 233-236.
________ . Crônica para um narrador. 
In: Antonio Viana e Ricardo Paes Barreto. (org.). Opúsculo de múltiplas vozes sobre o. Recife: Companhia Pacífica, 1999, v. 1, p. -.
________ . Diálogo multiétnico: história e memória de negros e índios em Toni Morrison e Vargas Llosa. 
In: Sonia Torres. (org.). Raízes e Rumos: perspectivas interdisciplinares em estudos americanos. Rio de janeiro: 7letras, 2001, v. , p. 435-441.
________ . A apreensão dos sonhos do homem em Cecília Meireles
In: Antonio Viana. (org.). Retratos de Cecília Meireles. Recife: Editora do Organizador, 2001, v. 1, p. 23-26.
________ . Colheita
In: Lourdes Sarmento; Beatriz Alcântara. (org.). Fauna e flora dos trópicos. Fortaleza: Editora Secult, 2002, v. , p. 127-127.
________ . A nostalgia da linguagem em Osman LinsIn: Antonio Fernando Viana. (Org.). Cruzamentos poéticos: Portugal - Brasil. Recife: Editora Nova Presença, 2002, v. ,
p. 103-108.
________ . O caminho das pedras na poesia luso-brasileiraIn:Antonio Fernando Viana. (Org.). Cruzamentos poéticos: Portugal - Brasil. 58ª ed., Recife: Editora Nova Presença, 2002, v. ,  p. 53-58.
________ . RetratosIn: Elizabeth Angélia Santos Siqueira. (org.). A poesia feminina contemporânea em Pernambuco. Recife: Edições Bagaço, 2004, v. , p. 99-104.
________ . Flor de mutirões
In: Lucio Ferreira. (org.). Estas coisas cá de dentro. Recife: Edições Bagaço, 2004, v. , p. 00-00.
________ . Canción peregrina
In: Joyce Cavalcante (org.). Talento feminino em prosa e verso. São Paulo: Rebra, 2004, v. , p. 65-68. 
________ . Identidade
In: Zeni Brasil. (org.). Terra Latina: antologia internacional. Curitiba: Abrali, 2005, v. , p. 121-130.
________ . Resistência. In: Esmeralda Ribeiro; Marcio Barbosa. (org.). Cadernos negros. São Paulo: Quilomboje, 2006, v. 29, p. 119-126.
________ . Poema torto. In: Jairo Luna. (org.). Orfeu SPAM 17/18. São Paulo: Jairo Luna, 2007, v. , p. -.
________ . Para um Canindé perdido no Tietê
In: Lourdes Nicácio. (Org.). Antologia das águas. Recife: Editora Novo Horizonte, 2007, v. , p. 34-35.
________ . Encruzilhadas poéticas em Anônio Cícero
In: Roland Walter. (org.). Seleção de artigos do Seminário As Americas: encruzilhadas glocais. Recife: NEC-UFPE, 2007, v. I, p. 319-323.
________ . Cênica. Antologia. 
In: Joyce Cavalcante (org.). Talento delas: prosa e verso. São Paulo: Rebra, 2007, v. , p. 65-68. 
________ . Vozes ancestrais e exclusão na literatura brasileira
In: Benedito Goms Bzerra e Jairo Nogueira Luna. (org.). Língua, literatura e ensino: subsídios teóricos e aplicados. Recife: Edupe - Editora Universidade de Prnambuco, 2009, v. 1, p. 151-162.
________ . Notas sobre o romance sonâmbulo
In: BEZERRA, B.G.; MEDEIROS, M. (org.). Educação, linguagem e ciência: práticas de pesquisa.. Recife: EDUPE, 2009, v. 1, p. 89-94. 
________ . Mulheres emergentes: fênix da poesia invencível. In: BEZERRA, B.G.; MEDEIROS, M. (org.). Educação, linguagem e ciência: práticas de pesquisa.. Recife: EDUPE, 2009, v. 1, p. 83-88. 

________ . A palavra indígena sempre existiu. In: Gabriela Saraiva de Mello e Sebastián Gerlic (org's). Memórias do movimento indígena do Nordeste. Thydêwá; Pontos de Memória, 2015, p. 4-5.  Disponível no link. (acessado em 2.2.2016).
________ . Literatura e violência: dos saberes ancestrais à exclusão. In: Denise Almeida Silva e Luana Teixeira Porto. (Org.). Pensando as Américas: narrativas e violencia. 1ed.Santa Cruz do Sul: Catarse, 2016, v. 1, p. 82-95.
________ . De Graça Graúna para os ancestrais. In: Suzane Lima Costa e Rafael Xucuru-Kariri. (Org.). Cartas para o Bem Viver. 1ª ed., Salcador: Boto-Cor-de-Rosa livros arte e café, 2020, v. 1, p. 1-308. Disponível no link. (acessado em 23.9.2021).
 
Artigos e ensaios em jornais e revistas

GRAÚNA, Maria das Graças Ferreira. Tiradentes confessa-se. Jornal de Letras de Lisboa, Lisboa - Portugal, p. 18-18, 1992. 
________ . Um flagrante do marginalizado na literatura brasileira.. Jornal Porantim, Brasília/DF, n.216, p. 5-5, 1999. 
________ . A nostalgia da linguagem em Osman Lins. in: II Encontro de Literatura luso-brasileira: de Camões a Osman Lins. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1999. v. 1. p. 21-27.
________ . Encontro luso-brasileiro: perspectiva para uma literatura aplicada. in: IV Encontro de literatura luso-brasileira, 2000, Belém do São Francisco/PE. Dos rumores do Tejo aos murmúrios do São Francisco. Recife: Editora Universitaria UFPE, 2001. v. 1. p. 25-29.
________ . Diálogo múltiétnico: história e memória de índios e negros em T. Morison e V. llosa. In: Raízes e Rumos, 2001, Niterói/RJ. Raízes e Rumos. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2001. v. 1. p. 435-441.

________ . Diálogo Multiétnico: história e memória de negros e índios. Raízes e Rumos Perspectivas Interdisciplinares mm Estudos Americanos Abea Uff, Rio de Janeiro, v. 1, p. 435-441, 2001.
________ ; FISCHMANN, Roseli. Literatura indígena no Brasil contemporâneo e outras questões em aberto. in: Educação & Linguagem, São Bernardo do Campo/SP, p. 266 - 276, 1 jun. 2012.
________ . O guarani - poema I. Poesia sempre, Rio de Janeiro, p. 231 - 231, 8 fev. 2013.________ . Almas peregrinas - poema II. Poesia sempre, Rio de Janeiro, p. 232 - 232, 8 fev. 2013.
________ . Canção peregrina. Poesia sempre, Rio de Janeiro, p. 229 - 230, 8 fev. 2013.
________ . Dos saberes indígenas: o nosso papel também é fazer arte. In: Revista Literatura em Debate, v. 12, p. 223-230-230, 2017. Disponível no link. (acessado em 23.9.2021).

Entrevistas
LIMA, Tarsila de Andrade Ribeiro. Entrevista com Graça Graúna, escritora indígena e professora da Universidade de Pernambuco. in: Palimpsesto, nº 20, Ano 14 - 2015, p. 136-149. Disponível no link. (acessado em 2.2.2016). 

Graça Graúna, por (...)
Em Antologias e seletas (participação)
:: A nova poesia brasileira. [org. Christina Oiticica]. São Paulo: Shogun Editora e Arte, 1985, p. 77.
:: Águas dos trópicos. [org. Beatriz Alcântra e Lourdes Sarmento]. Recife PE: Editora Bagaço; Ceará: Secult, 2000, p. 230.
:: Antologia de poetas nordestinos. [org. Benito Araújo]. Recife PE: Editora Micro, 2000, p. 141-146.
:: Leituras natalinas. [org. Ricardo P. Barreto e Antonio Viana]. Recife PE:, 2001, p. 9.
:: Retratos: a poesia feminina contemporânea em Pernambuco. [org. Elizabeth Angela Santos]. Recife PE: Editora Bagaço, 2004, p. 99-104.
:: Terra latina: antologia internacional. [org. Zeni Brasil]. Curitiba PR: Abrali, 2005, p. 121-130.
:: Cadernos Negros. vol. 29: poemas afro-brasileiros. [org. Esmeralda Riberio e Márcio Barbosa]. São Paulo: Quilombhoje, 2006. 
:: Saciedade dos poetas vivos. digital vol. 1. (antologia)..  [org. e seleção Leila Míccolis]. Blocos online, 2006. Disponível no link. (acessado em 3.2.2016). 
:: Antologia ME 18: prosa e verso. [org. Tania Diniz]. Belo Horizonte: M.E Tania Diniz, 2007, p. 45. 
:: Vozes: a  crônica feminina contemporânea em Pernambuco. [org. Elizabeth Siqueira e Laura Areias]. Recife PE: Companhia Editora de Pernambuco, 2007, p. 95-99.
:: Antologia das águas: verso e prosa. [org. Lourdes Nicácio]. Recife PE: Editora Novo Horizonte, 2007, p. 34-35.  
:: Antologia indígena. [organização Daniel Munduruku e Cristino Wapichana]. Cuiabá: Secretaria de Estado de Cultura: NEARIN, 2009. {autores participantes: Ailton Krenak, Aurilene Tabajara (Auritha), Cristino Wapichana, Estevão Carlos Taukane, Carlos Tiago Saterê Mawé (Tiago Hakiy), Daniel Matenho Cabixi, Daniel Munduruku, Edson Kayapó, Eliane Potiguara, Graça Graúna, Luciana Kaingang, Manoel Moura Tukano, Márcio Bororo, Rony Wasiry Guará, Rosi Whaikon, Severiá Idiorê e Verônica Manauara}.
:: Collar de historias y lunas: Antología de poesía de mujeres indígenas de América Latina. [Julieta Noel Díaz]. AA.VV. Colección Letras-Memoria-Patrimonio. Ministerio Coordinar del Patrimonio del Ecuador, Quito, 2011. 
:: Escritos indígenas: uma antologia. São Paulo: Cintra, 2013.. E-book. {autores presentes: Aldair Marauáh, Giselda Jerá, Graça Graúna, Guaynê Maraguá, Jaime Diakara, Lia Minápoty, Nilson Karaí, Olívio Jekupé, Roní Wasiry Guará, Tiago Hakiy e Yaguarê Yamã}.
:: Poesia para mudar o mundo. vol. I. [org. e seleção Leila Míccolis]. Blocos Online, 2013. Disponível no link. (acessado em 3.2.2016).
:: Poesia para mudar o mundo. vol. II. [org. e seleção Leila Míccolis]. Blocos Online, 2014. Disponível no link. (acessado em 3.2.2016).
:: Poesia para mudar o mundo. vol. III. [org. e seleção Leila Míccolis]. Blocos Online, 2015. Disponível no link. (acessado em 3.2.2016).
:: Educação em rede . vol. 7 -  Culturas indígenas, diversidade e educação. (ensaios). Rio de Janeiro: SESC - Departamento Nacional, 2019. {autores presentes: Daniel Munduruku, Graça Graúna, Ailton Krenak, Angelise Nadal Pimenta, Bruno Kaingang, Edson Kayapó, Gersem Baiwa, José Ribamar Bessa Freira, Rita Gomes do Nascimento}Disponível no link. (acessado em 23.9.2021). 
:: Poesia indígena hoje: resiliência. [organização Beatriz Azevedo e Julie Dorrico]. Dossiês 1. Revista p-o-e-s-i-a, n. 1 . 2020. {“Cardumes poéticos” - conta com participação de: Ailton Krenak, Aline Pachamama (puri), Auritha Tabajara, Ãtekáy (pataxó), Eliane Potiguara, Edson Krenak, Graça Graúna (potiguara/RN), Gustavo Caboco (wapichana), Ian Wapichana, Itayná Ranny Tuxá, Jamile Nunes (parintintim), Juliana Kerexu (guarani), Julie Dorrico (makuxi), Marcia Mura, Marcia Kambeba, Olivio Jecupé (guarani), Renata Machado (Tupinambá), Tiago Hakiy (mawé), Yaguaré Yamã (sateré-mawé) e Zélia Balbina (puri) | ensaios “Sementes” - conta com participação de: Daniel Munduruku, Fernanda Vieira (xocó/SE), Geni Ñunez (guarani), Jaider Esbell (makuxi), Kaka Werá (Tapuia) e Maria Elis Nunc-Nfôonro (xokleng)}. Disponível no link. (acessado em 23.9.2021).


****


Graça Graúna - escritora, crítica literária e professora de literatura e direitos humanos

POEMAS ESCOLHIDOS DE GRAÇA GRAÚNA


Abismos
toda lua é engano
todo anjo é cruel
no abismo de eternidade
e ânsia
do corpoema
 
- Graça Graúna, em "Saciedade dos poetas vivos digital". vol. 1. (antologia)..[seleção e organização Leila Míccolis]. Blocos online, 2006.

§

Canción peregrina
I
Yo canto el dolor
desde el exilio
tejendo um collar
de muchas historias
y diferentes etnias
 

II
Em cada parto
y canción de partida,
a la Madre-Tierra pido refugio
al Hermano-Sol más energia
y a la Luna-Hermana
pido permiso (poético)
a fin de calentar tambores
y tecer um collar
de muchas historias
y diferentes etnias.


III
Las piedras de mi collar
son historia y memória
del flujo del espírito
de montañas y riachos
de lagos y cordilleras
de hermanos y hermanas
en los desiertos de la ciudad
o en el seno de las florestas.
 

IV
Son las piedras de mi collar
y los colores de mis guias:
amarillo
rojo
branco
y negro
de Norte a Sur
de Este a Oeste
de Ameríndia o Latinoamérica
povos excluidos.
 

V
Yo tengo um collar
de muchas historias
y diferentes etnias.
Se no lo reconocem, paciência.
Nosotros habemos de continuar
gritando
la angustia acumulada
hace más de 500 años.
 

VI
Y se nos largaren al viento?
Yo no temeré,
nosotros no temeremos.
Si! Antes del exílio
nuestro Hermano-Viento
conduce nuestras alas
al sagrado circulo
donde el amalgama del saber
de viejos y niños
hace eco en los suenos
de los excluidos.


VII
Yo tengo um collar
de muchas historias
y diferentes etnias.
 
- Graça Graúna, em "Tear da palavra". Belo Horizonte MG: M.E Edições Alternativas, coleção ME 18, 2007. 

§

Canto mestizo
Donde hay una voluntad
hay un camino de espera.
Apesar de las fronteras
las carceles se quebrantan.
Mira! En mi tierra mestiza
un pájaro de América canta!

Canta la Libertad, hermano!
Canta la Libertad!

Canta la fuerza del pueblo
del niño solo en la calle
del campesino y el obrero
hermanos de la Verdad.
La Libertad incendia
tu voz cruzando el aire.

Canta la Libertad, hermano!
Canta la Libertad!

- Graça Graúna, em "Canto mestizo". Maricá RJ: Editora Blocos, 1999. 

§

Caos climático
É temerário descartar
a memória das Águas
o grito da Terra
o chamado do Fogo
o clamor do Ar.

As folhas secas rangem sob os nossos pés.
Na ressonância o elo da nossa dor
em meio ao caos
a pavorosa imagem
de que somos capazes de expor
a nossa ganância
até não mais ouvir
nem mais chorar
nem meditar,
nem cantar...
só ganância, mais nada.

É temerário descartar
a memória das Águas
o grito da Terra
o chamado do Fogo
o clamor do Ar.
 

- Graça Graúna (outubro 2009), in: LIMA, Tarsila de Andrade Ribeiro. Entrevista com Graça Graúna(...). Palimpsesto, nº 20, Ano 14 - 2015, p. 146.

§

Dores d’África
Eh, meu pai!
Em vez de prantos
é melhor que cantemos.

Eh, meu pai!
É melhor que cantemos
a dor contínua
a solidária luta
de poetas-bantos
contra a tirania

- Graça Graúna, em "Canto mestizo". Maricá RJ: Blocos, 1999, p. 49.

§

Escritos
...e se me ponho a juntar
escritos de gozos
raízes de abraços

bem sei: não é apenas saudade
ou mesmo lembranças
a dor que me cerca

é algo mais forte
que o tempo da distância
não alivia, nem basta.

- Graça Graúna, em "Tessituras da Terra". Belo Horizonte: M.E. Edições Alternativas, 2001. 

§

Estações
O terraço da casa da velha senhora
parecia uma estação de primavera.
Faz tanto tempo...!

Cadeiras de balanço
barcos de papel, velocípedes
jarros de cacto e jasmins
encantos aos pares:
quantos sóis, quantas luas
e um punhado de estrelas.
Coisas da vida
que iluminam a alma
para manter o equilíbrio do planeta.

“...tempo de verão fazia poeira...”
os sonhos se multiplicaram
e o flamboiã ganhou tamanho
igual ao pé de feijão
(quase tocando o céu)
em meio a uma infinda
ciranda de fantasias.

Brotava uma luz
no rosto da velha senhora.
Agora,
as folhas de outono
cobrem o terraço de silêncio.

- Graça Graúna.'Estações'. em "Terra latina: antologia internacional". (org.). Zeni Brasil. Curitiba/PR: Editora Abrali, 2005, p.124.


§

Geografia do poema
I

O dia deu em chuvoso
na geografia do poema.
Um corpo virou cinzas
um sonho foi desfeito
e mil povos proclamaram:
- Não à violência!
A terra está sentida
de tanto sofrimento.
 
 
II
Na geografia do poema voam balas
passam na TV os seres nus
o pátio aglomerado
o chão vermelho
onde a regra do jogo
da velha é sentença
marcada na réstia
do sol quadrado.
 

III
Pelas ruas
a tristeza dos tempos
a impossibilidade do abraço.
Crianças
nos corredores da morte
nos becos da fome
consomem a miséria
matéria prima da sua sobrevivência.
 

IV
Nos quarteirões
dobrando a esquina
homens e mulheres
idôneos, cansados
a lastimar o destino
de esmolar o direito
dos tempos madrugados.


V
Se o medo se espalha
virá o silêncio
o espectro das horas
e as cores sombrias.
Se o medo se espalha
amargo será sempre o poema
 

VI
O dia deu em chuvoso
na geografia do poema
um sonho foi desfeito
mil povos pratearam.
A terra está sentida de tanto sofrimento.
Mas...
 

VII
Haverá manhã
e o sol cobrirá
com os seus raios de luz
a rosa dos ventos
 
- Graça Graúna, em "Tessituras da Terra". Belo Horizonte: M.E. Edições Alternativas, 2001, p. 46-49.

§

Macunaima
Do fundo da mata virgem
ele ri mui gostosamente alto
e diz: – ai que preguiça!

Coisa de sarapantar
os sons e os sentidos
espalham-se
um
três
trezentos
amarelos
brancos
pretos retintos
pícaros/ícaros
Brasil
brazis
crias de um homem submerso

- Graça Graúna, em "Canto mestizo". Maricá RJ: Editora Blocos, 1999. 


§

marGARIdas
Nem todas as flores
vivem gloriosamente em flor.
Uma delas sobrevive
catando os nossos restos
juntando os nossos pedaços
do playground à lixeira

marGARIda-amarela
marGARIda-do-campo
marGARIda-sem-terra
marGARIda-rasteira
marGARIda-sem-teto
marGARIda-menor

pela terra mais garrida
de maio a maio arrastando
o seu carrinho de GARI.

Catando os nossos restos
juntando os nossos pedaços
vai e vem uma marGARIda
brotar no seu jardim

- Graça Graúna, em "Tessituras da terra". Belo Horizonte: M.E. Edições Alternativas, 2001.


§

Memórias das cinzas
anjos caídos sob os viadutos
segredam sonhos
em meio ao alumbramento
de um terça-feira gorda
a legião se mistura
para renascer das cinzas
em qualquer dia de sol
ou quando a chuva vier
 

- Graça Graúna, em "Poesia para mudar o mundo". (org.). Leila Míccolis, Blocos online, 2013.

§

Quase haicais
Tempo de estio:
sobre a carcaça do boi
um cão faminto

***
Da serra ao mar
os ancestrais dialogam
ao som do vento

- Graça Graúna, em "Poesia para mudar o mundo". (org.). Leila Míccolis, Blocos online, 2013.
 
§

Quase-haikai I 
1.
Braços para o infinito
o espantalho subverte
a ferocidade do mundo


2.
Entre o sono e a vigília
o canto da cigarra
inunda o sertão


3.
Noctívaga dor-em-dor
pouso na árvore do mundo
clandestina


4.
Porque és pedra
o que dirá a poesia
sem a tua presença?

5.
Dias de sol
distendo as velhas asas
num hai kai latino

- Graça Graúna. 'Hai kais'. em "Canto mestizo". 1ª parte. Maricá/RJ: Blocos, 1999, p. 17-21.


§

Resistência
Ouvi do meu pai que a minha avó benzia 
e o meu avô dançava 
o bambelô na praia, e batia palmas
com as mãos encovadas
ao coco improvisado,
ritmando as paixões 
na alma da gente.             
Ouvi do meu pai que o meu avô cantava 
as noites de lua, e contava histórias
de alegrar a gente e as três Marias.

Meu avô contava:
a nossa África será sempre uma menina.
Meu pai dizia:
ô lapa de caboclo é esse Brasil, menino!
E coro entoava:
_ dançamos a dor
tecemos o encanto
de índios e negros
da nossa gente
 
- Graça Graúna,poema "Resistência". in: RIBEIRO, Esmeralda; BARBOSA, Marcio (Org.) Cadernos Negros, nº 29. São Paulo: Quilombhoje, 2006, p. 120. 

§

Reverso do cárcere
Na alta madrugada
o coro entoava
estamos todos aqui
no ofício de ser
criador
criatura
traçando, tecendo
das circunstâncias
vertentes.
Assim, torno a ver
no reverso do cárcere
o lado negro e cru
do ofício de escrever

- Graça Graúna. em "Tessituras da terra". Belo Horizonte: M.E. Edições Alternativas, 2001, p.36.


§
 
Tessituras
Ser todo coração
enquanto houver poesia:
essa ponte entre mundos apartados

- Graça Graúna. em "Tessituras da terra". Belo Horizonte: M.E. Edições Alternativas, 2001, p.31.


§

Uns cavaleiros
No deserto das cidades
uns cavaleiros sonham
mas sonham só
seduzidos pela mais valia.

De resto,
lugar nenhum no coração
para encantar Dulcinéias.

Onde o herói contra os moinhos?

- Graça Graúna, em "Canto mestizo". Maricá RJ: Editora Blocos, 1999, p. 45.


§

Vagamundo
Carrego cicatrizes
(...e quem não as tem?)
De algumas esqueço,
enquanto outras sangram
porque feitas de punhais-palavras.
A cada (a)talho, vago pelo mundo
para driblar esse mal
chamado coração.
 
 
- Graça Graúna, em "Poesia para mudar o mundo". Blocos online, 2013.



****

Graça Graúna - foto: (...)

FORTUNA CRÍTICA DE GRAÇA GRAÚNA

BRANDES, Silvely. Diálogos interculturais na literatura indígena contemporânea: uma perspectiva baktiniana. (Dissertação Mestrado em Linguagem, Identidade e Subjetividade). Universidade Estadual de Ponta Grossa, UEPG, 2017. Disponível no link. (acessado em 22.11.2021).
COELHO
, Nelly Novaes (org.). Dicionário crítico de escritoras brasileiras: 1711-2001. Escrituras Editora, 2002, p. 235.
COSTA, Heliene Rosa da.. Identidades e ancestralidades das mulheres indígenas na poética de Eliane Potiguara. (Tese Doutorado em Estudos Literários). Universidade Federal de Uberlândia, UFU, 2020. Disponível no link. (acessado em 23.9.2021).
COUTINHO, Afrânio (org.). Enciclopédia de  literatura brasileira. São Paulo: Global, 2001. 
DANNER, Leno Francisco; DORRICO, Julie; CORREIA, Heloisa Helena Siqueira; DANNER, Fernando (Orgs.). Literatura indígena brasileira contemporânea: criação, crítica, recepção. [prefácio Ana Lúcia Liberato Tettamanzy]. 1ª ed., Porto Alegre: Editora Fi, 2018. Disponível no link. (acessado em 7.12.2021).
GUESSE, Érika Bergamasco. Shenipabu miyui: literatura e mito. (Tese Doutorado em Estudos Literários). Faculdade de Ciências e Letras – Unesp/Araraquara, 2014. Disponível no link. (acessado em 2.2.2016).
LIMA, Elizabeth Gonzaga de; BARROS, Randra Kevelyn Barbosa. Culturas e identidades indígenas na contemporaneidade: a experiência diaspórica em Criaturas de Ñanderu, de Graça Graúna. In: XV Enecult Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, Salvador. Anais XV Enecult. Salvador: Enecult, 2019. v. 1. p. 1-12. Disponível no link. (acessado em 23.9.2021).
LOURES, Marisa. Graça Graúna: “Ao escrever, dou conta da ancestralidade, do caminho de volta, do meu lugar no mundo” [entrevista]. In: Tribuna de Minas, 6.8.2019. Disponível no link. (acessado em 23.9.2021).
MACHADO, Ananda. A oralidade ancestral de Graça Graúna e Paulina Chiziane na literatura em língua portuguesa. In: Roberto Mibielli; Sílvio Renato Jorge; Sonia Maria Gomes Sampaio. (Org.). Trânsitos e fronteiras literárias: representações. 1ª ed., Boa Vista: Edufrr, 2020, v. 3, p. 92-110.
MARCOS, Eidson Miguel da Silva; QUEIROZ, Amarino. Graça Graúna e Inaldete Pinheiro de Andrade: invisibilizadas vozes femininas na literatura potiguar contemporânea. Caravela: revista de literatura potiguar, Natal/RN, p. 63-66.
MARCOS, Eidson Miguel da Silva; QUEIROZ, Amarino. Histórias de Resistência: memória e identidade na literatura infanto-juvenil de de Graça Graúna e Inaldete Pinheiro. In: III Encontro Nacional e II Internacional de Linguística e Literatura - ENILLI, 2015, Garanhuns/PE. Anais do ENILLI. Garanhuns/PE: Universidade de Pernambuco, 2015. v. 1. p. 704-712. 

Graça Graúna - foto: (...)
MATOS, Cláudia Neiva de.. Escritoras indígenas: uma experiência poética-pedagógica. in: Boitatá – Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL, Londrina, n. 12, p. 29-51, jul-dez 2011. Disponível no link. (acessado em 2.2.2016).
MELLO, Isabela Nunes; ALMEIDA, Helena Azevedo Paulo de. Escre(vivência) originária: uma proposta de descolonização do ensino de História.  In: ALMEIDA, Flávio Aparecido de (Org.). Ensino de História: histórias, memórias, perspectivas e interfaces. Editora Científica Digital, 2021. Disponível no link. (acessado em 14.12.2021).
MELO, Carlos Augusto de; SOARES, Laís; SANTOS, Márcia Dias dos.. Um olhar sobre memória e identidade indígenas na obra Flor da mata, de Graça Graúna. In: Cerrados, v. 55, p. 219-242, 2021. 
MELO, Carlos Augusto de; VIEIRA FILHO, J.; SOARES, Laís. A poética de resistência indígena de Graça Graúna em Canto Mestizo. In: Todas as Musas: Revista Literária e das Múltiplas Linguagens da Arte (Online), v. 13 - n. 1, p. 6-15, 2021.
MENDES, Ana Claudia Duarte. Textualidade indígena: lirismo e resistência, em Graça Graúna. In: 5º Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários Políticas públicas, ética, internacionalização e pesquisa: discursos, práticas e desafios - Anais. Maringá/PR, v. 1. p. 1524-1533. 2018.
OLIVEIRA, Claudio de.. Os versos indígenas. in: Diário de Cuiabá, 25.8.2010. Disponível no link. (acessado em 2.2.2016).
PALMEIRA, Francineide Santos. Vozes Femininas nos Cadernos Negros:representações de Insurgência. (Dissertação Mestrado em  em Letras e Lingüística). Universidade Federal da Bahia, UFBA, 2010.
PALMEIRA, Francineide Santos. Representações de mulheres negras sob a ótica feminina nos Cadernos Negros. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores(as) Negros(as) - ABPN, v. 1, p. 191-209, 2010. 
PALMEIRA, Francineide Santos. Poesia e Memória na Produção Feminina nos Cadernos Negros. Inventário (Universidade Federal da Bahia. Online), v. 7, p. 1-15, 2009. Disponível no link. (acessado em 2.2.2016). 
QUEIROZ, Amarino Oliveira de; MARCOS, E. M. S.. Literatura potiguar e deslocamentos identitários: o lugar de Graça Graúna e Inaldete Pinheiro de Andrade. In: LIMA, T.; SANTOS. D. (Org.). Griots - Literaturas & Culturas Africanas. 1ª ed., Fortaleza: Mangues & Letras, 2016, v. , p. 151-161.
SILVA FILHO, Joel Vieira da.. Literatura indígena contemporânea: vozes dessilenciadas de Graça Graúna, Eliane Potiguara e Daniel Munduruku. (TCC Graduação em Letras).  Universidade Federal de Alagoas, UFAL, 2019. Disponível no link. (acessado em 23.9.2021).
WALTER, Roland. Entre Gritos, Silêncios e Visões: Pós-Colonialismo, Ecologia e Literatura Brasileira. in: Revista Brasileira de Literatura Comparada, n.21, 2012. Disponível no link. (acessado em 2.2.2016).
 


“A literatura indígena é um lugar de confluência de vozes silenciadas e exiladas ao longo da história há mais de 500 anos. Enraizada nas origens, esse instrumento de luta e sobrevivência vem se preservando na autohistória de escritores (as) indígenas e descendentes e na recepção de um público diferenciado, isto é, uma minoria que semeia outras leituras possíveis no universo de poemas e prosas autóctones.”
- Graça Graúna


Graça Graúna  - foto (...)
BLOGUE DA ESCRITORA GRAÇA GRAÚNA
:: 
 Tecido de Vozes
:: Contato da autora ( grauna3@gmail.com )


Utopia e cantar
uma trajetória possível:
Pindorama
 

- Graça Graúna, em "Canto mestizo". Maricá RJ: Editora Blocos, 1999.
  
 
OUTRAS FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA
:: REBRA - Rede de Escritoras Brasileiras
:: (Graça Graúna) Blocos online/Saciedade dos Poetas Vivos Digital
:: Interpoética 
:: Overmundo
:: Recanto das Letras
:: Inter criaturas de Ñanderu: releituras

AUTORES INDÍGENAS NESSE SITE - LEIA!


© Direitos reservados a autora

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske


=== === ===

Trabalhos sobre o autor:
Caso, você tenha algum trabalho não citado e queira que ele seja incluído - exemplo: livro, tese, dissertação, ensaio, artigo - envie os dados para o nosso "e-mail de contato", para que possamos incluir as referências do seu trabalho nesta pagina. 


COMO CITAR:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Graça Graúna - a poética indígena. In: Templo Cultural Delfos, janeiro/2023. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
______
** Página atualizada em 25.1.2023.
* Página original FEVEREIRO/2016.


Direitos Reservados © 2023 Templo Cultural Delfos

COMPARTILHE NAS SUAS REDES