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Roni Wasiry Guará - 'Sou como o suave canto do vento'

Roni Wasiry Guará - foto: Eduardo Fujise e Gideoni Junior/Itaú Cultural


© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske
Por gentileza citar conforme consta no final desse trabalho.


Roni Wasiry Guará  
Sou como o suave canto do vento.
Pertenço ao Povo Indígena Maraguá, um dos poucos de origem Aruak no Baixo Amazonas.
Sou natural do Paraná do Ramos, no Amazonas. Moro na pequena cidade de Boa Vista do Ramos-AM. Nosso povo habita a pequena área indígena Maraguapajy, o País dos Maraguás, no município de Nova Holinda do Norte. A área abriga pessoas de três etnias: Saterê-mawé, Parintintin e Maraguá.
Sou professor da escola CFR – Casa Familiar Rural, que trabalha com questões voltadas ao Desenvolvimento Sustentável, à Preservação do Meio Ambiente, ao Manejo Florestal e a Técnicas Agrícolas, um ensino diferenciado. Sou formando em Pedagogia Intercultural Indígena. Palestrante sobre temas indígenas, também trabalho como radiologista na cidade onde moro.

"Tão importante e mágico é saber que o mundo é um grande círculo, que a vida gira a cada segundo para que vivamos, passos longos, pequenos, que cada respirar é uma dádiva. Temos a cada dia que fazer o melhor de nós, até no pensar devemos ser positivos, pois isso fará um bem gigantesco em nosso viver, em nosso pertencer. Nem tudo que plantarmos dará flores ou frutos, pois existem terras que não se permitem florir, “espíritos frios”. Assim são os corações de muitas pessoas, a solução é plantar em outros lugares, em outros olhares, em outros sorrisos. E com o girar desse mundão temos a certeza de que em algum momento da caminhada nos encontraremos, desse lado da vida ou do outro, em matéria ou espírito, pois devemos todos sentir que existe uma sabedoria que equilibra a harmonia do universo!"
- Roni Wasiry Guará, "Olhar o rio", da estória "Caminho do Porto". In: Literatura indígena brasileira contemporânea: autoria, autonomia e ativismo. [organização Julie Dorrico, Fernando Danner, Leno Francisco Danner].  Porto Alegre/RS: Editora Fi, 2020.

Roni Wasiry Guará e sua obra - livros infantis

OBRA DE RONI WASIRY GUARÁ

Literatura infanto-juvenil
:: O caso da cobra que foi pega pelos pés. Roni Wasiry Guará. [ilustrações Ana Luiza Mello; coordenador Yaguare Yama]. Editora Imperial Novo Milênio, 2009.
:: Çaiçu indé: o primeiro grande amor do mundo. Roni Wasiry Guará. [ilustrações Humberto Rodrigues]. Coleção Nheengatu. Manaus: Editora Valer, 2011.
:: Mondagará – traição dos encantados. Roni Wasiry Guará. [ilustrações Janaina Tokitaka]. São Paulo: Formato Editorial, 2011
:: Olho d'água – O caminho dos sonhos. Roni Wasiry Guará. [ilustrações Walther Moreira Santos]. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012. {Vencedor do 8º Concurso FNLIJ Tamoios de Textos de Escritores Indígenas}.
:: A árvore da vida. Roni Wasiry Guará. [ilustrações Carla Irusta]. Editora Leya, 2014.

Organização - produção coletiva
:: Maraguápéyára. [organização Yaguarê Yamã, Elias Yaguakãg, Uziel Guaynê e Roni Wasiry Guará]. Manaus: Editora Valer, 2014. 

Em Antologias
:: Antologia indígena. [organização Daniel Munduruku e Cristino Wapichana]. Cuiabá: Secretaria de Estado de Cultura: NEARIN, 2009. {autores participantes: Ailton Krenak, Aurilene Tabajara (Auritha), Cristino Wapichana, Estevão Carlos Taukane, Carlos Tiago Saterê Mawé (Tiago Hakiy), Daniel Matenho Cabixi, Daniel Munduruku, Edson Kayapó, Eliane Potiguara, Graça Graúna, Luciana Kaingang, Manoel Moura Tukano, Márcio Bororo, Roni Wasiry Guará, Rosi Whaikon, Severiá Idiorê e Verônica Manauara}.
:: Escritos indígenas: uma antologia. São Paulo: Cintra, 2013.. E-book. {autores presentes: Aldair Marauáh, Giselda Jerá, Graça Graúna, Guaynê Maraguá, Jaime Diakara, Lia Minápoty, Nilson Karaí, Olívio Jekupé, Roní Wasiry Guará, Tiago Hakiy e Yaguarê Yamã}.
:: LEETRA Indígena. [editorial Maria Sílvia Cintra Martins; apresentação Daniel Mundurukuv]. 2, n. 2.  São Carlos: UFSCAR / Revista do Laboratório de Linguagens - LEETRA, 2013. {Olhares indígenas/ autores presentes: Ademário Payayá, Ailton Krenak, Aurilene Tabajara, Caimi Waiassé Xavante, Cristino Wapichana, Daniel Munduruku, Edson Kayapó, Edson Krenak, Eliane Potiguara, Elias Yaguakag, Jaime Diákara, Jerá Giselda, Lia Minapoty, Manoel Fernandes Moura, Naine Terena, Olivio Jekupé, Roni Wasiry Guará, Rosi Waikhon Severia Idoriê, Tiago Haki'y, Uziel Guaynê, Verônica Manauara, Yaguarê Yamã; Outros olhares: Antônio Fernandes Góes Neto, Raphael Crespo}. Disponível no link. (acessado em 23.1.2023). 
::  Literatura indígena brasileira contemporânea: autoria, autonomia e ativismo. [organização Julie Dorrico, Fernando Danner, Leno Francisco Danner].  Porto Alegre/RS: Editora Fi, 2020 | GUARÁ, Roni. Wasiry. Caminho do Porto p. 119-128. Disponível no link e link(acessado em 23.1.2023).

Em Antologias estrangeiras
:: La Première Femme du Monde: Contes Indiens et Chamanes du Brésil. [tradução Florence Breton, Martha Gambini]. I Éditions, 2018 {autores presentes: Tiago Hakiy, Jaime Diakara, Aldair Marauáh, Uziel Guaynê, Roní Wasiry Guará, Yaguarê Yamã, Olívio Jekupê, Nilson Karaí, Marcos Tupã, Giselda Jerá e Fatima Kerexu}.

"- Na vida, filho, o mais importante é ter um lugar para chamar de casa, você pode ir onde quiser, não importa a distância, mas ter uma casa para voltar sempre será “encontrar” pouso certo, é um presente bom da vida. Pode ser casa abrigo, casa pessoa, casa abraço, sendo casa te fará bem."
- Roni Wasiry Guará, "Olhar o rio", da estória "Caminho do Porto". In: Literatura indígena brasileira contemporânea: autoria, autonomia e ativismo. [organização Julie Dorrico, Fernando Danner, Leno Francisco Danner].  Porto Alegre/RS: Editora Fi, 2020.

Roni Wasiry Guará - foto: acervo do autor

DOCUMENTÁRIOS E VÍDEOS/DEPOIMENTOS


Filme: Roni Wasiry Guará - Marguá
Documentário | 33min | 2011 | Amazonas
Sinopse: Rony e do povo Marauá, indígenas que vivem na região do rio Abacaxis, nos municípios amazonenses de Nova Olinda do Norte. No filme, Rony Wasiry conta a formação de um Marauá que ocorre desde criança por meio de brincadeiras e pesca, assim como por exemplo e espelhamento das atitudes vista nos adultos. O desenho, o grafismo e a contação de histórias pelos mais velhos também são elementos importantes na formação do caráter das crianças Marauá. O filme e uma ode à educação pratica, vivida no cotidiano e nas ações comuns, mas coberto de significados.
- ficha técnica -
Direção: Antônio Carlos Banavita
Produção: F3 Vídeo Produções - Carlos Banavita
Disponível online: youtube - Vimeo

§§

Vídeo/depoimento: Roni Waisiry – culturas indígenas (2016)
Sinopse: Escritor de origem Maraguá, povo localizado no Amazonas, Roni Waisiry conta de onde veio seu nome e qual é seu significado. O nome carrega grande importância para ele, que faz parte da linha de pescadores do povo Maraguá. Roni fala sobre o mito de origem, a sociedade maraguá e as relações com outros povos. {Depoimento gravado durante o evento Mekukradjá – Círculo de Saberes de Escritores e Realizadores Indígenas, em setembro de 2016, em São Paulo/SP}.
-ficha técnica -
Entrevista: Duanne Ribeiro
Gerente do Núcleo de Audiovisual e Literatura: Claudiney Ferreira
Coordenadora de conteúdo audiovisual: Kety Fernandes Nassar
Produção audiovisual: Ana Paula Fiorotto e Caroline Rodrigues
Captação: Bela Baderna
Edição: Anna Lucchesi 
Roteiro: Rosani Madeira 
Músicas: “Krikok Tondon” e “Nak Inhauit”, do CD GRI Kandhan – Músicas do Povo Krenak
Produção: Itaú Cultural
Disponível online: Canal Itaú Cultural.


 
Roni Wasiry Guará - foto: acervo do autor


FORTUNA CRÍTICA DE RONI WASIRY GUARÁ


ANIMAÇÃO. Tatá murugawa (A origem do fogo) - Povo Maraguá. organizada nas aulas de artes visuais no ano de 2022 com as produções visuais de estudantes do 3º ano (Turmas 1301 e 1302) da escola municipal Waldemiro Potsch. Disponível no link. (acessado em 23.1.2023).
DIÁLOGO. A literatura indígena de Roni Wasiry Guará! / apresentação Julie Dorrico. In: Literatura Indígena Contemporânea, 13 de abril de 2020. Disponível no link. (acessado em 23.1.2023).
DIÁLOGO. Roni Wasiry Guará e Roni Wasiry Guará em diálogo / apresentação Lívia Biasotto. In: Goethe-Institut Porto Alegre, 12 de novembro de 2020. Disponível no link. (acessado em 23.1.2023).
ENTREVISTA. Roni Wasiry Guará - Uma nova roupagem para o 19 de abril. In: Blog da Letrinhas, 18 de abril de 2019. Disponível no link. (acessado em 23.1.2023).
ENTREVISTARoni Wasiry Guará. In: Olhar Indígena, 14 de nov. de 2013. Disponível no link. (acessado em 23.1.2023).
MOURA, Ana Karolina Miranda de.. A literatura nativa e o ensino das relações étnico-raciais nos anos iniciais do ensino fundamental. (Dissertação Mestrado Profissional em Educação Escolar). Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, 2021. Disponível no link. (acessado em 24.1.2023).
PEREIRA, Alex Viana. Reescrevendo a terra à vista: a literatura de autoria indígena amazonense em destaque. [prefácio Maria Inês de Almeida; capa Wenderson Macedo de Lima; arte grafismo/imagem de capa  Yaguarê Yamã]. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2022. Disponível no link e link. (acessado em 23.1.2023).
SANTOS, Francisco Bezerra dos. Uma poética da floresta: a narrativa indígena no Amazonas. (Dissertação Mestrado em Letras e Artes). Universidade do Estado do Amazonas, UEA, 2020. Disponível no link. (acessado em 23.1.2023).
SANTOS, Francisco Bezerra dos. A narrativa indígena ilustrada: considerações sobre o livro Caíçú´indé, de Roní Wasiry Guará. In: Alex Viana Pereira. (Org.). Reescrevendo a terra à vista: a literatura de autoria indígena amazonense em destaque. 1ª ed., Porto Alegre: Editora Fi, 2022, v. , p. 126-143. Disponível no link. (acessado em 23.1.2023).
SANTOS, Francisco Bezerra dos. A literatura indígena dos Maraguá: da produção à publicação. In: Tabuleiro de Letras, v. 16, n. 1, p. 45-58, 23 jun. 2022. Disponível no link. (acessado em 23.1.2023).
SANTOS, Marcos Antônio Fernandes dos; MONTEIRO, Abílio Neiva (Orgs.). Estudos de literatura brasileira contemporânea: múltiplos diálogos. vol.2. Tutóia/MA: Diálogos, 2022. Disponível no link. (acessado em 24.1.2023).
SICSÚ, Delma Pacheco. O imaginário em narrativas da literatura infantojuvenil amazonense. (Dissertação Mestrado em Letras e Artes). Universidade do Estado do Amazonas, UEA, 2013. Disponível no link. (acessado em 8.2.2023).
SICSÚ, Delma Pacheco. O percurso da identidade em ‘Olho d’água: o caminho dos sonhos’ de Roni Wasiry Guará. In: Literaturas de autoria indígena. organização Danglei de Castro Pereira e Luzia Aparecida Oliva. Brasília: Universidade de Brasília, Departamento de Teoria Literária e Literaturas, 2022. Disponível no link. (acessado em 23.1.2023). 
STACCIARINI, Letícia Santana. Estudo do espaço narrativo em obras de autores indígenas brasileiros para o público infantil. (Tese Doutorado em Estudos Literários). Universidade Federal de Uberlândia, UFU, 2022. Disponível no link. (acessado em 25.1.2023).





Ventos estranhos
Época de primavera. No horizonte, o Sol caminha, dando adeus para mais um dia. No cair da tarde, um velho índio, viajando em seus pensamentos, observa lá embaixo, perto do rio. Hoje são dois os olhos d'água que, iluminados pelos últimos raios de Sol, refletem um raio de luz em direção ao norte. Seu nome: Waykana.
Quando ele ergue a cabeça e firma o olhar no horizonte, as árvores da outra margem do río já escondem aquele que até alguns segundos atrás tinham tido por companheiro durante o dia todo.
Waykana tem andado tristonho nos últimos dias, lembrando que, muitas luas atrás, havia sido cravada a flecha da dor em seu coração, quando se viu em meio a uma invasão no lugar onde mora.
Conversando com os seres invisíveis de sua floresta interior, ele se lembra dos tempos em que podia correr de um lado a outro, estufando no peito o amigo vento.
Hoje não pode mais. Em nome do progresso, vieram os Arigawa com suas ideias e máquinas, cortando as árvores, abrindo campos, represando as águas, construindo suas cercas, como que querendo ficar isolados, como se eles fossem donos da teia da vida.
Vieram os garimpos, o inferno de muitos pelo paraíso de poucos.
Os animais fugiram, os pássaros voaram pra longe, o clima mudou.
Novas culturas surgiram, mas o respeito desapareceu.
Pela manhã, as gigantes árvores centenárias estão de pé. A tarde, milhares delas estão no chão, sem vida, suas folhas são bilhetes jogados ao vento.
Máquinas e fogo lhes dão um destino sem volta. No lugar da floresta, novas plantações. O clima também mudou, o ar ficou poluído, e por todos os lados o que se vê é fumaça.
Para o nativo que sempre viveu ali, não há mais onde morar e não há terra pra plantar.
Na alma, um pensamento em forma de fala: Nossa terra está queimando e em pó e cinzas se tornando.
Para o Arigawa, plantar significa destruir para ter poder; para os indígenas, plantar nada mais é do que dar e receber.
Dando seu conhecimento à mãe terra, ela lhes dá tudo que necessitam.
Na época dos plantios, o pajé ia até a mata e pedia permissão para plantar, tratando com respeito sua parenta floresta.
Ouvindo os espíritos que a protegem, podiam fazer seus plantios.
E assim tinha-se as melhores colheitas para a alimentação de todo o povo.
- "Ventos estranhos", do livro "Olho d'água – O caminho dos sonhos". Roni Wasiry Guará. [ilustrações Walther Moreira Santos]. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.


Roni Wasiry Guará - foto: acervo do autor


:: Contato: roniwasiry@gmail.com




© Direitos reservados ao autor/e ou ao seus herdeiros

© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske


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COMO CITAR:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Roni Wasiry Guará - 'Sou como o suave canto do vento'. In: Templo Cultural Delfos, janeiro/2023. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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Página atualizada em 27.1.2023.
** Página original JANEIRO/2023.






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Um comentário:

  1. Um bálsamo para esses dias tristes. O homem da cidade carece de aprender com os povos indígenas. Textos sensíveis.

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