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Eliane Potiguara - cidadã do mundo

Eliane Potiguara - foto © Eduardo Fujise e Gideoni Junior/Itaú Cultural

© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske
Por gentileza citar conforme consta no final desse trabalho.


"Nós, povos indígenas,
Queremos brilhar no cenário da História 
Resgatar nossa memória 
E ver os frutos de nosso país, sendo divididos 
Radicalmente 
Entre milhares de aldeados e “desplazados” 
Como nós"
- Eliane Potiguara, do poema "Identidade indígena" (1975)

ESBOÇO BIOBIBLIOGRÁFICO DE ELIANE POTIGUARA

Eliane Lima dos Santos (Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1950), conhecida Eliane Potiguara, origem étnica Potiguara, do tronco Tupi Guarany, escritora, professora, ativista. É formada em Letras (Português-Literaturas) e Educação pela UFRJ, especializada em Educação Ambiental pela UFOP. 

É fundadora e coordenadora da 1ª organização de mulheres indígenas no país (GRUMIN/Grupo Mulher-Educação Indígena) e co-participe política da criação e evolução do movimento indígena brasileiro. Integra o conselho do INBRAPI (Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual). 

Foi eleita uma das 10 mulheres do ano de 1988 no Brasil, pelo Conselho das Mulheres do Brasil, por ter criado a primeira organização de mulheres indígenas no país

Trabalhou pela educação e integração da mulher indígena e também na elaboração da Constituição Brasileira, em 1988.

No ano seguinte, Eliana inaugura a literatura indígena com o livro "A Terra é a Mãe do Índio" (Grumin Edições), premiado pelo Pen Club da Inglaterra e Fundo Livre de Expressão (Usa).

Em 1990, foi a primeira mulher indígena a conseguir uma petição no 47º Congresso dos Índios Norte-Americanos, no Novo México, para ser apresentada às Nações Unidas. Neste Congresso reuniram-se mais de 1500 indígenas americanos. Desse modo, participou durante anos, da elaboração da "Declaração Universal dos Direitos Indígenas", na ONU, em Genebra. Por esse trabalho recebeu, em 1996, o título de "Cidadania Internacional", concedido pela organização filosófica Iraniana Baha'i, que milita pela implantação da Paz Mundial.

Em 1992 foi co-fundadora/pensadora do Comitê Inter-Tribal 500 Anos ("kari-oka"), por ocasião da Conferência Mundial da ONU sobre Meio-Ambiente, junto com Marcos Terena, Idjarruri Karajá, Megaron e Raoni e muitos outros líderes indígenas do país, além de ter participado de dezenas de assembleias indígenas em todo o Brasil. Foi Conselheira da Fundação Palmares/Minc, e "fellow" da organização internacional ASHOKA.  

Em 1994, lança o seu segundo livro "Akajutibiro: Terra do índio Potiguara", apoiado pela UNESCO.

Integrou o Comitê Consultivo do Projeto Mulher: 500 anos atrás dos panos, que culminou no "Dicionário mulheres do Brasil", publicado pela Zahar Editores, em 2000.

Seu livro “Metade Cara, Metade Máscara”, publicado em 2004, pela Global Editora, reúne textos, crônicas e poesias que contam todas essas memórias de Eliane e das mulheres de sua vida. 

Eliane Potiguara foi nomeada Embaixadora Universal da Paz em Genebra (Cercle Universel des Ambassadeurs de la Paix – Genebra – Suíça). Ela teve seu nome indicado após a reunião do Círculo Universal dos Embaixador da Paz, entidade ligada a ONU (Organização das Nações Unidas) para trabalhar a favor da paz no mundo.

Foi indicada em 2005, ao Projeto Internacional “Mil mulheres ao Prêmio Nobel da Paz”.

Em 2014, recebe o título de Ordem do Mérito Cultural, na classe "Cavaleiro", por suas relevantes contribuições prestadas à Cultura do País, concedido pelo governo brasileiro.

O seu livro mais recente "A Cura da Terra", publicado pela Editora Brasil, em 2015, conta a história da pequena índia Moína, que busca entender o sentido da vida e acaba conhecendo a história de seus ancestrais e a relação deles com o elemento da cura, a terra.

Possui outras publicações individuais e coletivas em livros, coletâneas, artigos, blogs e sites.

Eliane Potiguara é doutora honoris causa pela UFRJ, título concedido pelo Conselho Universitário (Consuni), órgão máximo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 25 de novembro de 2021.

Participa de múltiplos fóruns de discussão e palestras no plano nacional e internacional sobre Direitos Indígenas, Gênero, Biodiversidade e Conhecimentos Tradicionais.
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:: Mais informações sobre Dados Biográficos de Eliane Potiguara, acesse AQUI! (acessado em 24.11.2021).

"Durante a minha infância, adolescência e juventude, sempre fui uma leitora dos lábios de vovó que nada me escondeu sobre as lendas, as histórias e sua oralidade me tornava uma conhecedora da cultura de meu povo indígena. Ao lado disso, lia livros, incentivada pela minha família e pela escola onde estudava. Elas, avós, mães, tias e primas todas analfabetas me incentivavam ao estudo para que eu me tornasse uma professora, o sonho delas." 
- Eliane Potiguara, no livro "Metade Cara, Metade Máscara". DM Projetos Especiais, 2018, p. 118-119.


Eliane Potiguara - foto: © Agência Ophelia

 OBRA DE ELIANE POTIGUARA

Ficção - autobiográfico e poesia
:: Metade cara, metade máscaraEliane Potiguara. [prefácio Daniel Munduruku; prefácio Graça Graúna]. São Paulo: Global Editora, 2004; 2ª ed., atualizada / foto (capa): Antônio Carlos Banavita.  Lorena: DM Projetos Especiais,  2018; 3ª ed., reatualizada / apresentação Ailton Krenak.  Rio de Janeiro: Grumin Edições, 2018.
:: O vento espalha minha voz originária. Eliane Potiguara. [capa/arte: Jaider Esbell; textos contracapa Djamila Ribeiro e Roseana Murray]. Grumin Edições, 2023.

Infanto-juvenil
:: O coco que guardava a noite. Eliane Potiguara. [ilustrações Suryara Bernardi]. Editora Mundo Mirim, 2012.
:: O pássaro encantado. Eliane Potiguara[ilustrações Aline Abreu]. Jujuba Editora, 2014.
:: A cura da terraEliane Potiguara[ilustrações Rogério Soud]. Editora do Brasil, 2015.

Educação
:: A terra é mãe do índioEliane Potiguara. [ilustração Ykenga]. apoio CMI. Rio de Janeiro: Grumin Edições, 1989. {Prêmio Pen Club da Inglaterra, 1992}.
:: Akajutibiro: Terra do índio PotiguaraEliane Potiguara.  [ilustrações foram feitas pelo índio potiguara Séver, da aldeia Tracoeiras, com a contribuição de Vanda Freitas e Ykenga; fotografias de Khistine Klissenbauer, Ruban e Sérgio Cruz] Apoio Unesco / UFRJ; Rio de Janeiro: Grumin Edições, 1994. 

Coleção Tembetá
:: Eliane Potiguara - Tembetá.[organização Kaká Werá; coordenação Sérgio Cohn e Idjahure Kadiwel]. Coleção Tembetá. Rio de Janeiro: Azougue Editorial  / Revistas de Cultura, 2015; Lisboa: Oca Editorial, 2019.

Coletivo
:: Origens. Alexandre de Castro Gomes, Andre Kondo, Eliane Potiguara, Luis Eduardo Matta e Sonia Rosa. [ilustrações Fabio Maciel]. Editora do Brasil, 2019.

Organização
:: Sol do pensamento. [organização Eliane Potiguara]. Ebook. Rio de Janeiro: Inbrapi/Grumin, 2005. {vários autores}.

Em antologias
:: TE mandei um passarinho: prosas e versos de índios no Brasil. [organização Ira Maciel, Jose Ribamar Bessa Freire, Nietta Monte e Núbia Melhem Santos]. Brasília: Ministério da Educação, 2007. {autores presentes: Nelson Xacriabá, Ailton Krenak, Joaquim Mana Kaxinawá, Adalberto Maru Kaxinawá, Gabriel dos Santos Gentil, Zeneida Lima, Daniel Munduruku, Margarida Maria de Jesus Kiriri, Norberto Sales Tene Kaxinawá, Pem Marli Arara, Aturi Kaiabi, Perankô Panará, Alexandre Acosta Guarani, Marcos Moreira Guarani, Emilio Gomes de Oliveira Xarcriabá, Jonado Sabanê Nambikwara, Kanátio Pataxó, Miguel Panemaxeron Surui, Eliane Potiguara e Andila Inácio Belfort Kaingang}Disponível no link. (acessado em 21.11.2021).
:: Antologia indígena. [organização Daniel Munduruku e Cristino Wapichana]. Cuiabá: Secretaria de Estado de Cultura: NEARIN, 2009. {autores participantes: Ailton Krenak, Aurilene Tabajara (Auritha), Cristino Wapichana, Estevão Carlos Taukane, Carlos Tiago Saterê Mawé (Tiago Hakiy), Daniel Matenho Cabixi, Daniel Munduruku, Edson Kayapó, Eliane Potiguara, Graça Graúna, Luciana Kaingang, Manoel Moura Tukano, Márcio Bororo, Rony Wasiry Guará, Rosi Whaikon, Severiá Idiorê e Verônica Manauara}.
:: LEETRA Indígena. [editorial Maria Sílvia Cintra Martins; apresentação Daniel Mundurukuv]. 2, n. 2.  São Carlos: UFSCAR / Revista do Laboratório de Linguagens - LEETRA, 2013. {Olhares indígenas/ autores presentes: Ademário Payayá, Ailton Krenak, Aurilene Tabajara, Caimi Waiassé Xavante, Cristino Wapichana, Daniel Munduruku, Edson Kayapó, Edson Krenak, Eliane Potiguara, Elias Yaguakag, Jaime Diákara, Jerá Giselda, Lia Minapoty, Manoel Fernandes Moura, Naine Terena, Olivio Jekupé, Roni Wasiry Guará, Rosi Waikhon Severia Idoriê, Tiago Haki'y, Uziel Guaynê, Verônica Manauara, Yaguarê Yamã; Outros olhares: Antônio Fernandes Góes Neto, Raphael Crespo}. Disponível no link. (acessado em 23.1.2023). 
:: A mulher na literatura Latino-americana. Teresina: EDUFPI; Avant Garde Edições, 2018.
:: Cult Antologia Poética: Poemas para ler antes das notícias. [curadoria Alberto Pucheu; projeto gráfico Fernando Saraiva]. Ebook. Editora Bregantini, 2019. {participam os poetas: André Luiz Pinto, Tatiana Pequeno,Danielle Magalhães, Bruna Mitrano, Luiz Guilherme Barbosa, Heitor Ferraz,Diego Vinhas, Tarso de Melo, Antônio Moura, Piero Eyben, Jarid Arraes, Heleine Fernandes, Paulo Ferraz, Carlos de Assumpção, Cuti, Lubi Prates, Conceição Evaristo, Nina Rizzi, Eliane Potiguari, Marcia Wayna Kambeba, Josoaldo Lima Rêgo, Reuben, Horácio Costa, Cláudio Oliveira, Natasha Felix, Helena Zelic, Tertuliana Lustosa, Catia Cernov, Bruno Domingues Machado, Pieta Poeta, Letícia Brito, Marcelo Diniz | artistas: PV Dias, Pedro Lemos, Marcelo D'Salete, Marilia Marz, Thiago TeGui, Bea Corradi, Guilhermina Augusti}.
:: Elas e as letras: diversidade e resistência. [organização Aldirene Máximo e Jullie Veiga; prefácio Alexandra Patrocínio; apresentação Rita Queiroz; homenagem Eliane Potiguara]. Versejar Edições Literárias, 2019. {autoras/ meu lugar de fala: Catita, Lana Nóbrega, Márcia Wayna Kambeba | escritoras convidadas: Catita, Diedra Roiz, Lana Nóbrega, Luiza Lemos, Márcia Wayna Kambeba, Neide Almeida| elas e as letras: Adriana Santiago, Alexandra Jacob, Alexia Tunkis, Aline Venâncio, Ana Raquel Fernandes, Ana Sabina, Beatrice Medrado, Carol Gaertner, Claudirene Favarin, Cleonice Alves Lopes-Flóis, Clevane de Araújo Lopes, Coral Michelin, Cristina Serrano, Daniela Tertuliano, Edvânia  Rodrigues, Edy Justino, Elza Helena, Fabiane Rodrigues da Silva, Glauce Cristine Cacau, Iara Gregnani, Iriane da Costa, Itaciana Kaline, Jeovânia P., Jô Viana, Juliana dos Santos, Juliana Graminho, Julie Lua, Laryssa Frezze e Silva, Letícia Gerola, Liliana Ripardo, Lu Dallabrida, Luiza Rodrigues, Maria Teresa Moreira, Marjorie Carvalho, Mila Lopes, Nina Balbi, Palmira Heine, Priscilla Hingred, Reginalva Alves, Rute Beserra, Sandra Modesto, Sandra Sampaio, Sigridi Borges, Silvinha Rabone, Sophia Vargas, Teresinha Nascimento, Vanessa Maia, Yasmim Honorato Izidoro | participações especiais: Alexandra Patrocínio, Angelita Alves, Josielma Ramos, Lindevania Martins, Mohine Yamir, Rita Queiroz, Tânia Diniz}.
:: Tembeta: conversas com pensadores indígenas. [organização e apresentação Idjahure Kadiweu e Sergio Cohn]. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2019. {autores presentes: Ailton Krenak, Álvaro Tukano, Biraci Yawanawá, Eliane Potiguara, Jaider Esbell e Sônia Guajajara}. 
:: Poesia indígena hoje: resiliência. [organização Beatriz Azevedo e Julie Dorrico]. Dossiês 1. Revista p-o-e-s-i-a, n. 1 . 2020. {“Cardumes poéticos” - conta com participação de: Ailton Krenak, Aline Pachamama (puri), Auritha Tabajara, Ãtekáy (pataxó), Eliane Potiguara, Edson Krenak, Graça Graúna (potiguara/RN), Gustavo Caboco (wapichana), Ian Wapichana, Itayná Ranny Tuxá, Jamile Nunes (parintintim), Juliana Kerexu (guarani), Julie Dorrico (makuxi), Marcia Mura, Marcia Kambeba, Olivio Jecupé (guarani), Renata Machado (Tupinambá), Tiago Hakiy (mawé), Yaguaré Yamã (sateré-mawé) e Zélia Balbina (puri) | ensaios “Sementes” - conta com participação de: Daniel Munduruku, Fernanda Vieira (xocó/SE), Geni Ñunez (guarani), Jaider Esbell (makuxi), Kaka Werá (Tapuia) e Maria Elis Nunc-Nfôonro (xokleng)}. Disponível no link. (acessado em 21.11.2021).
:: Poéticas como políticas do gesto. [organização Daniel De Oliveira Gomes]. Paco Editorial, 2021. {autores presentes: Alberto Pucheu, Alexandre Guarnieri, Ana Luiza Andrade, André Queiroz, Caio Ricardo Bona Moreira, Carlos de Assumpção, Celso Manguana, Chagas Levene, Chiu Yi Chih, Djulia Justen, Eliane Potiguara, Eduardo Reis de Mello, Eunice de Morais, Fernando de Castro Branco, Flávio Viegas Amoreira, Heleine Fernandes, Isabel Mendes Ferreira, Jaime Rocha, João Rasteiro, José Emilio Nelson, Leocádia Aparecida Chaves, Leonardo Tonus, Luan Koroll, Luís Serguilha, Maria José Quintela, Marcos Siscar, Pedro de Souza, Priscila Lopes e Susanna Busato}.
:: Cama de gato. Antología bilíngue de poesia contemporânea Argentina/Brasil // Antología bilingüe de poesía contemporánea Argentina/Brasil. [organização e tradução Araceli Otamendi e Christina Ramalho; capa: fotografia e concepção Christina Ramalho]. Natal/RN: Lucgraf, 2021. {autores presentes: (Argentina) Aldo Luis Novelli, Alicia Silva Rey, Ana Arzoumanian, Ana María Manceda, Araceli Otamendi, Blanca Salcedo, Carlos Enrique Cartolano, Diego Rodríguez Reis, Ernesto Rojas, Fernando de Leonardis, Gabriela Rivero, Germán Mastellone, Gustavo Tisocco, Jenny Wasiuk, Juan Carlos Rodríguez, Juan Ramón Ortiz Galeano, Lecko Audencio Zamora, Liliana Lukin, Manuel Lozano Gombault, Nerina Thomas, Olga Liliana Reinoso, Paulina Juszko, Sergio Giuliodibari, Susana Szwarc; (Brasil) Alberto Pucheu, Ana de Santana, Antônio Mariano, Beatriz H. Ramos Amaral, Carmen Moreno, Christina Ramalho, Cida Pedrosa, Eliane Potiguara, Frederico Barbosa, Ítalo de Melo Ramalho, Lau Siqueira, Lívio Oliveira, Márcia Batista Ramos, Marilia Kubota, Paulo Ferraz, Prisca Agustoni, Ramon Diego, Rosângela Trajano, Rubens Jardim, Susanna Busato, Tanussi Cardoso, Tarso de Melo, Telma Scherer, Tiago Hakiy | ilustrações: Anne Mariano, Carlos Fernando Nogueira, Lucy Fazolla, Mariana Siqueira, Muirakytan Kennedy de Macedo, Rosângela Trajano, Tamara Quírico, Telma Scherer, Tieko Irii, Thainá Carvalho, Ulisses Toledo (ulixo Punk) e W. J. Solha.}. Disponível no link. (acessado em 14.12.2021).
:: (Entre Parentes): Narrativas Indígenas Ilustradas [curadoria Daniel Munduruku e Mauricio Negro]. Sesc Osasco/Sesc SP, 2022. {autores - textos: Rosi Waikhon, Kamuu Dan Wapichana, Kanátyo Pataxoop, Auritha Tabajara, Ariabo Kezo, Márcia Wayna Kambeba, Lucia Morais Tucuju, Jaime Diakara Dessana, Juvenal Payayá, Eliane Potiguara, Vãngri Kaingáng, Darlene Yaminalo Taukane // autores - ilustrações: Alexandra Tupi Krenak, Gustavo Caboco, Dona Liça Pataxoop, Carmézia Emiliano, Cleomar Myahu Tan Huare, Ibã Huni Kuin, Uziel Guaynê, Jonas Estevam Malakuiawá, Bu´u Kennedy, Denilson Baniwa, Moara Tupinambá, Arissana Pataxó, Naine Terena}. Disponível no link. (acessado em 28.1.2023).
:: Jenipapos: Diálogos sobre viver. [organização Daniel Munduruku, Darlene Yaminalo Taukane, Isabella Rosado Nunes e Mauricio Negro; arte Mauricio Negro]. São Paulo: Itaú Social /Mina Comunicação e Arte, 2022. {autores presentes: Alik Wunder, Allan da Rosa, Beleni Grando, Bruno Kaingang, Conceição Evaristo, Cristine Takuá, Daniel Munduruku, Darlene Yaminalo Taukane, Dona Liça Pataxoop, Dona Vanda Pajé, Edson Kayapó, Eliane Potiguara, Isabella Rosado Nunes, Mauricio Negro, Trudruá Dorrico e Yaguarê Yamã}. Disponível no link. (acessado em 1.3.2023).
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* imagemEliane Potiguara - foto: © Juliana Lubini.

Prefácios, apresentações, prólogo
:: Tybyra: uma tragédia indígena brasileira (Teatro de retomada). Juão Nyn. [ilustrações Denilson Baniwa; prólogo Eliane Potiguara; fotografia Mylena Sousa; editor Daniel Minchoni; tradução Luã Apyka]. Ebook - Juão Nyn/ selo do Burro, 2020.

Obra traduzida
:: Mitad cara, mitad máscara. Eliane Potiguara. [tradução Jorge Antonio Garca Prez]. Palibrio, 2018.

Ensaios e artigos
POTIGUARA, Eliane. Participação dos povos indígenas na Conferência em Durban. In: Revista Estudos Feministas. Florianópolis, v. 10, n. 1, pp. 219-228, jan. 2002. Disponível no link. (acessado em 21.11.2021).
POTIGUARA, Eliane. Entre colonizações e guerras, estamos vivos: Povos Indígenas do Brasil. In: Coletivo Indra, 24.9.2020. Disponível no link. (acessado em 21.11.2021).

Diálogos, debates e entrevistas
DEBATES
Povos Indígenas - Bate-papo com Ailton Krenak e Eliane Potiguara 
 / mediação Denilson Baniwa / apresentação Douglas Ramachotte/Sesc RP / libras Andrew e Luciana | Ciclo de Debates em Direitos Humanos - Povos indígenas. In: Sesc Ribeirão Preto, 21 de setembro de 2021. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DEPOIMENTO. Eliane Potiguara – Resistência e identidade indígena na literatura. In: Itaú Cultural, outubro de 2020. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DEPOIMENTOEliane Potiguara – culturas indígenas (2016). In: Itaú Cultural, setembro de 2016. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOSCafé com Eliane Potiguara/ mediação de Claudiney Ferreira. In: Balada Literária, 18.11.2021. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOS. A Palavra Líquida | Conferência “Oração à natureza” com Eliane Potiguara / apresentação Eliana Costa. In: Sesc RJ · 8 de out. de 2021. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOSUm Tom de Resistência - Arte e Literatura Indígena com Eliane Potiguara/ com Ricardo Nêggo. In: TV 247, outubro 2021. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOS. Programa 2 - Originárias: Eliane Potiguara e Sandra Benites. In: Mulher Com A Palavra, agosto 2021. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOSLiteratura e os direitos indígenas, com Eliane Potiguara. In: Mulheres de Luta, 1 de jun. de 2021. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOS. LIBRAS - Escrita, leitura e educação: Allan da Rosa e Eliane Potiguara / Mediação: Carolina Neves. In: Festipoa Literaria, 17.5.2021. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOS. Bate-papo com o tema “Utopias Sustentáveis: preservação ambiental” com Eliane Potiguara. In: Fundação do Livro e Leitura Ribeirão Preto, 20.4.2021. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOS. Entre a Espada e a Rosa / Mulher Indígena na Sociedade Contemporânea - Eliane Potiguara, Graça Graúna e Raquel Kubeo. In: Instituto de Leitura Quindim, 8.3.2021. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOS. Bate papo com Ailton Krenak e Eliane Potiguara - Mostra Aquela Cia 15+1 / Entrevista realizada por Pedro Kosovski e Marco André Nunes. In: Aquela Cia, março de 2021. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOS. Grande Encontro Com Escritores / convidados são os autores: Edson Krenak, Eliane Potiguara, Heloisa Pires Lima, Kiusam de Oliveira e Lázaro Ramos. In: A Taba, 2020. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOS. FLIM 2020 - O que eles contam e o que nós contamos - Itamar Vieira Junior e Eliane Potiguara. In: Prefeitura de Maringá, dez.2020. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOS. Literatura dos povos originários | As páginas vibrantes da América Latina / com Ailton Krenak e Eliane Potiguara / mediação: Julie Dorrico. In: TAG - Experiências Literárias · 26 de nov. de 2020. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOS. Encontro de Eliane Potiguara com alunos dos anos iniciais e intermediários do Ensino Fundamental. In: Feira do Livro, 11.11.2020. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOSA literatura indígena de Eliane Potiguara. In: Literatura Indígena Contemporânea, 23 de maio de 2020. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOS. Encontro entre Geni Guimarães e Eliane Potiguara. In: Balada Literária, 2020. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOS. Teko Porã 2019 | UFF Debate Brasil - Mulheres originárias : resistência, poesia e identidade/ Com Eliane Potiguara, Taily Terena e Renata Machado. In: Centro de Artes UFF, 2019. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOSVivência indígena em literatura. In: UnB TV, 13 de julho de 2019. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOS. Conversa Aberta - Indígenas.BR - Escritores - Kaká Werá, Eliane Potiguara e Denízia Xocó. In: Centro Cultural Vale Maranhão, abril de 2019. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOSEntre um Café, uma Prosa com Eliane Potiguara. In: RTV Caatinga Univasf, 6 de set. de 2018. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOSCiência & Letras - Eliane Potiguara / Apresentação Renato Farias. In: Canal Saúde Oficial, 14 de março de 2017. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOS. Eliane Potiguara fala sobre a literatura dos povos indígenas no Brasil. In: UFMG Comunicação, 19 de abril 2018. Disponível no link. (acessado em 29.11.2021).
DIÁLOGOS. A necessidade da literatura indígena diante de um mundo globalizado por Eliane Potiguara. In: CEPRODOC UFAC, agosto de 2016. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
DIÁLOGOS. Por uma Cosmologia e uma Política Indígenas nas Expressões Culturais – Mekukradjá – Círculo 5 (2016). In: Itaú Cultural, 2016. Disponível no link. (acessado em 23.11.2021).
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* imagemEliane Potiguara - foto: © Liliana Peixinho.

Eliane Potiguara - arte @loloentreaspas

DOCUMENTÁRIO

Filme ‘Uma Aldeia em Mim’
Sinopse: documentário sobre a trajetória de Eliane Potiguara, escritora homenageada da Balada Literária 2021.
- ficha técnica - 
Direção: Alberto Alvares Hernandez / Balada Literária
Elenco: Eliane Potiguara
Ano: 2021
Duração: 15 min.
* Disponível no canal Balada Literária (acessado em 29.11.2021).


"O povo indígena sobrevive há séculos de opressão porque tem como maior referencial, a tocha da ancestralidade, do perceber intuitivo, da leitura e da percepção dos sonhos, o exercício da dança como expressão máxima da espiritualidade e da valorização da cultura, das tradições, da cosmovisão personificada na figura dos mais velhos e das mais velhas, os idosos planetários." 
- Eliane Potiguara, no livro "Metade Cara, Metade Máscara". Grumin Edições, 2018, p. 97.

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Eliane Potiguara - foto: © Bruna Monique

UMA SELETA DE POEMAS DA POETA ELIANE POTIGUARA


Brasil
Que faço com minha cara de índia?
E meus cabelos
E minhas rugas
E minha história
E meus segredos?

Que faço com minha cara de índia?
E meus espíritos
E minha força
E meu Tupã
E meus círculos?

Que faço com minha cara de índia?
E meu toré
E meu sagrado
E meus “cabocos”
E minha Terra?

Que faço com minha cara de índia?
E meu sangue
E minha consciência
E minha luta
E nossos filhos?

Brasil, o que faço com minha cara de índia?

Não sou violência
Ou estupro

Eu sou história
Eu sou cunha
Barriga brasileira
Ventre sagrado
Povo brasileiro.

Ventre que gerou
O povo brasileiro
Hoje está só...
A barriga da mãe fecunda
E os cânticos que outrora cantavam
Hoje são gritos de guerra
Contra o massacre imundo.
- Eliane Potiguara, no livro "Metade Cara, Metade Máscara". Grumin Edições, 2018, p. 32-33.

§§

Invasão
Quem diria que a gente tão guerreira
Fosse acabar um dia assim na vida.

Quem diria que viriam de longe 
E transformariam teu homem
Em ração para as rapinas. 

Quem diria que sobre os escombros
Te esconderias e emudecerias teu filho – fruto do amor.

Cenário macabro te é reservado.
Pra que lado tu corres,
Se as metralhadoras e catanas e enganos
Te seguem e te mutilam?

É impossível que mulher guerreira
Possa ter seu filho estrangulado
Seu crânio esfacelado!
Quem são vocês que podem violentar
A filha da terra
E retalhar suas entranhas?
- Eliane Potiguara, no livro "Metade Cara, Metade Máscara". DM Projetos Especiais, 2018, p. 33.

§§

Fim de minha aldeia
Tenho medo das coisas que falo
Que mais parecem profecias
De tudo mais que falei
Hoje estou tão só, triste e descontente
Perdi o meu amor
Perdi minha razão
Dói-me profundo
Profundamente meu coração.
Choro intranquila, sofro a desgraça
Vivo o desamor na solidão
E por onde passo
Há só lembranças, tristes lembranças
De uma aldeia acabada.
Eu tenho medo das coisas que falo
Que mais parecem profecias
Pois de tudo, tudo que falei
Hoje estou sofrida, amargurada
Perdi minha essência
Grito traída, canto a trapaça
Sou a própria tristeza
Transformei-me numa constante ameaça.
Agora não rio, não sonho
Não suporto mais nada
Uma dor aguda me sufoca, me maltrata
É a dor da saudade que me mata.
- Eliane Potiguara, no livro "Metade Cara, Metade Máscara". Grumin Edições, 2018,  p. 35.

§§

Migração indígena
No teu universo de gestos
Teus olhos são mensagens sem palavras
Tua boca ainda incandescente
Me queima o rosto na partida
E tuas mãos...
Ah! Não sei mais continuar esses cânticos
Porque a mim tudo foi roubado.
Se ainda consigo escrever alguns deles
Só é fruto mesmo da mágoa que me toma a alma
Da saudade que me mata
Da tristeza que invade todo o meu universo interno
Apesar do sorriso na face ...
- Eliane Potiguara, no livro "Metade Cara, Metade Máscara". Grumin Edições, 2018,  p. 36.

§§

Órfã
Não adianta fugir dessa realidade
Quando te trazem aos braços
Uma criança que nem dois anos completos tem.
E tua boca que gargalhadas davam
Ao sabor do álcool
Se cala
E umedece de vez
E te desarma
E uma criança faminta
Doente
Órfã de pais
Órfã de país.
- Eliane Potiguara, no livro "Metade Cara, Metade Máscara". DM Projetos Especiais, 2018, p. 37.

§§

Desilusão
A mim me choca muito esse ambiente
Essa música, essa dança
Parece que todos dizem sim.
Sim a quê?
Sim a quem?
Por que concordar tanto
Se o que se tem que dizer agora
É NÃO!
NÃO à morte da família
NÃO à perda da terra
NÃO ao fim da identidade.
- Eliane Potiguara, no livro "Metade cara, metade máscara". Global Editora, 2004, p. 64.

§§

Pankararu
Sabe, meus filhos...
Nós somos marginais das famílias
Somos marginais das cidades
Marginais das palhoças...
E da história?

Não somos daqui
Nem de acolá...
Estamos sempre ENTRE
Entre este ou aquele
Entre isto ou aquilo!

Até onde aguentaremos, meus filhos?...
- Eliane Potiguara, no livro "Metade Cara, Metade Máscara". Grumin Edições, 2018,  p. 63.

§§

Neste século de dor
Neste século já não teremos mais os sexos.
Porque ser mãe neste século de morte
É estar com febre pra subexistir
É ser fêmea na dor
Espoliada na condição de mulher.

Eu repito
Que neste século não teremos mais os sexos
Tampouco me importa que entendam
Possam só compreender em outro século besta.

Não temos mais vagina, não mais procriamos
Nossos maridos morreram
E pra parir indígenas doentes
Pra que matem nossos filhos
E os joguem nas valas
Nas estradas obscuras da vida
Neste mundo sem gente
Basta um só mandante.

Neste século não teremos mais peitos
Despeitos, olhos, bocas ou orelhas
Tanto faz sexos ou orelhas
Princípios morais, preconceitos ou defeitos
Eu não quero mais a agonia dos séculos...

Neste século não teremos mais jeito
Trejeitos, beleza, amor ou dinheiro
Neste século, oh! Deus (?!)
Não teremos mais jeito.
- Eliane Potiguara, no livro "Metade Cara, Metade Máscara". Grumin Edições, 2018,  p. 64.

§§

Uni-ão
O que tenho pra te oferecer amigo
Enquanto bebo tua fonte que me espera?
São palavras, são sentidos, são perigos
Ou são silêncios profundos de uma era.

O que tenho pra te oferecer amigo
Enquanto sugo de teus olhos uma velha história?
São prazeres, são amores, roucos gritos
Ou sussurros de vencer até a vitória.

O que tenho pra te oferecer amigo
Enquanto me aqueço no calor de tuas mãos?
São lágrimas, são motivos, são juízos
Ou são faíscas conscientes da razão.

Andaram procurando por mim
E eu estava só, triste e doente
E você amigo me estendeu a mão
Mesmo com palavras duras que não mentem.

Amigo, tu moras no fundo de minh’alma
E o que tenho pra te oferecer?
Só muita garra
Muita luta
Uma grande gratidão
Pra nunca desvanecer...
Pra nunca desmerecer...

Por te amo com grande afeição!
- Eliane Potiguara, no livro "Metade Cara, Metade Máscara". Grumin Edições, 2018,  p. 65.

§§

Cântico da distância 
O que quero dizer são loucuras assim...
São delírios da noite, pesadelos sem fim
São absurdos desejos embebedando a solidão
Pois perdi o caminho e sofri o amanhã.
Agora o que faço: só penso intranquila
A tua figura diante de mim
Parado no vento, feito imagem de santo
Que nem posso tocar...
Que nem posso falar...
Porque és feito pras deusas,
Completamente impossível
Impossível de olhar...
Impossível de amar...
E as minhas mãos trêmulas e tímidas
Procuram as tuas
E estás tão distante no tempo, no espaço
Que faço loucuras e grito e procuro.

Mas paro!
E quero apagar da minha memória
Tua imagem de homem
Cantando a história
Porque és forte, por ser macho guerreiro
Valente lanceiro
Gritando a vitória.
E só porque existes
Nem pedes licença
E me invades a mente.
que quero dizer são loucuras enfim...
Loucuras escondidas, sentidas, doídas
Tanta loucura que não quero mais pensar em ti.
[...]
- Eliane Potiguara, no livro "Metade cara, metade máscara". Global Editora, 2004, p. 70.

§§

Mulher
Vem, irmã
Bebe dessa fonte que te espera
Minhas palavras doces ternas.

Grita ao mundo
A tua história
Vá em frente e não desespera.

Vem, irmã
Bebe da fonte verdadeira
Que faço erguer tua cabeça
Pois tua dor não é a primeira
E um novo dia sempre começa.

Vem, irmã
Lava tua dor na beira-rio
Chama pelos passarinhos
E canta como eles, mesmo sozinha
E vê teu corpo forte florescer.

Vem, irmã
Despe toda a roupa suja
Fica nua pelas matas
Vomita o teu silêncio
E corre – criança – feito garça.

Vem, irmã
Liberta tua alma aflita
Liberta teu coração amante
Procura a ti mesma e grita:
Sou uma mulher guerreira!
Sou uma mulher consciente!
- Eliane Potiguara, no livro "Metade Cara, Metade Máscara". Global Editora,  2004, p.76-77.

§§

Pele de foca  
A luz se abriu e a minha pele de foca voltou a se umedecer.
Minha pele estava seca pelas vicissitudes da vida.
Eu mergulhei nas profundezas dos mares e reencontrei minha
avó-foca, minhas sagradas ancestrais e os velhos guerreiros que
também não se envergonhavam por suas lágrimas.
Elas – sabidamente – me contestaram e mostraram que eu,
inconsciente e pacificamente, aceitava os padrões éticos
impostos pela intolerância da sociedade, e voltei com minha
alma fortalecida, voltei com meus sonhos definidos, voltei com
minha intuição extremamente clara, precisa, determinada.
Minhas costelas não estão mais descarnadas, a carne voltou a
crescer depois que os homens derramaram suas lágrimas pelas
mulheres do mundo e eu não sou mais uma mulher esqueleto, 
jogada no fundo do mar, como se fora um sapato
velho, pela cultura impostora. Sou uma mulher de fibra,
porque eu me reconstruí por mim mesma, depois de dançar
desvairadamente na vida com meu iludido sapatinho
vermelho. Quase perdi os meus pés, as ervas daninhas
enrolaram neles pra que nunca mais caminhasse pelas estradas
do saber, da consciência do mais alto grau de espiritualidade
indígena, mas pude dominá-los e arrancar esses malditos
sapatinhos vermelhos das chamadas “mulheres e mães boas demais!” 
que, por serem assim, vivem sufocadas pelo peso da
história da opressão e quando vislumbram uma
“semiliberdade”, uma ilusão, a pseudoliberdade, se perdem nos
terríveis sapatinhos vermelhos da cultura falsamente
iluminada, que escamoteia o poder, o preconceito, o racismo.
Meu ego não pode ser mais forte que minha alma. Minha
alma é ancestral, meu ego não pode dominar minha
verdadeira história. Faço agora um acordo entre meu ego e
minha alma. Minha alma é primeira, é forte, é intuitiva; ela é
ética, pra não dizer pura, minha alma é terna, eterna amante,
indígena.
Mas meu ego, condicionado pela cultura dominante, me leva
Para a escuridão terrena, celestial, marítima, onírica e
filosófica.
Conduz minha autoestima para os porões. Não, mulheres do
Mundo! Não aceitemos mais. Não, não, não, não, não!
Meu ego não pode ser mais forte que minha alma, minha
anima, minha essência de mulher selvagem, indígena,
essencial à preservação digna do planeta e dos seres humanos.
Basta de violência. Nós somos lobas. Somos música que
ecoa no etéreo.
Nós somos focas. Nós somos humanidade e sabemos o que é
Digno para nós. Nossa pele de foca brilha de novo.
Ouçamos definitivamente nossas velhas e velhos.
- Eliane Potiguara, no livro "Metade Cara, Metade Máscara". Grumin Edições, 2018, p. 94-95.

§§

Eu não tenho minha aldeia...
Eu não tenho minha aldeia
Minha aldeia é minha casa espiritual
Deixada pelos meus pais e avós
A maior herança indígena.
Essa casa espiritual
É onde vivo desde tenra idade
Ela me ensinou os verdadeiros valores
Da espiritualidade
Do amor
Da solidariedade
E do verdadeiro significado
Da tolerância.

Mas eu não tenho a minha aldeia
E a sociedade intolerante me cobra
Algo físico que não tenho
Não porque queira
Mas porque de minha família foi tirada
Sem dó, nem piedade.
Eu não tenho minha aldeia

Mas tenho essa casa iluminada
Deixada como herança
Pelas mulheres guerreiras
Verdadeiras mulheres indígenas
Sem medo e que não calam sua voz.

Eu não tenho minha aldeia
Mas tenho o fogo interno
Da ancestralidade que queima
Que não deixa mentir
Que mostra o caminho
Porque a força interior
É mais forte que a fortaleza dos preconceitos.

Ah! Já tenho minha aldeia
Minha aldeia é meu Coração ardente
É a casa de meus antepassados
E do topo dela eu vejo o mundo
Com o olhar mais solidário que nunca
Onde eu possa jorrar
Milhares de luzes
Que brotarão mentes
Despossuídas de racismo e preconceito.
- Eliane Potiguara, no livro "Metade Cara, Metade Máscara". Grumin Edições, 2018,  p. 151-152.


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Eliane Potiguara - foto: © Paolo Paes

 FORTUNA CRÍTICA DE ELIANE POTIGUARA

ALMEIDA, Maria Inês de. Desocidentada: experiência literária em terra indígena. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.
ASSUNÇÃO, Sergio. Utopia e transcendência na poesia de Eliane Potiguara. In: Revista Dobra — 10, outubro/2022. Disponível no link. (acessado em 12.2.2023).
ARAO, Lina. Visão compartilhada em Metade Cara, Metade Máscara, de Eliane Potiguara. In: CUNHA, Helena Parente. (Org.). Caminhos da violência em busca da visão compartilhada: interpretação e comentários de texto de autoria feminina. 1ª ed., Rio de Janeiro: Letra Capital, 2015, v. 1, p. 144-175.
BAILEY, Cristina Ferreira Pinto. Uma nova Iracema: a voz da mulher indígena na obra de Eliane Potiguara. In: Revista Iberoamericana, v. 76, p. 201-215, 2010.
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PINTO, Milena Costa; LIMA, Elizabeth Gonzaga. Escrituras indígenas como espaço decolonial: atravessamentos e ancoragens em Metade Cara, Metade Máscara de Eliane Potiguara. In: Miguilim - Revista Eletrônica do Netlli, v. 7. n. 3, 2018. Disponível no link. (acessado em 22.11.2021). 
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PUCHEU, Alberto. Eliane Potiguara: antes que tudo em mim se transforme em morte. In: Revista Cult, São Paulo, p. 44 - 47, 3 fev. 2020. Disponível no link. (acessado em 22.11.2021).
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SCHNEIDER, Liane. Escritoras indígenas e a literatura contemporânea dos EUA. João Pessoa: Ideia, 2008.
SCHNEIDER, Liane. Lee Maracle e Potiguara: escritoras canadenses e brasileiras discutem suas construções identitárias a partir de posições descentradas. In: SANTOS, Eloína Pratidos; CUNHA, Rubelise da (eds.). Perspectivas da literatura ameríndia no Brasil, Estados Unidos e Canadá II. Rio Grande: NEC FURG, 2007.
SHUMAHER, Schuma; BRAZIL, Erico Vital (Org.). Dicionário Mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade. São Paulo: Zahar Editora, 2000. 
SILVA FILHO, Joel Vieira da.. Literatura indígena contemporânea: vozes dessilenciadas de Graça Graúna, Eliane Potiguara e Daniel Muduruku. (Monografia Gradução em Letras). Universidade Federal de Alagoas - Unidade Delmiro Gouveia-Campus do Sertão, 2019.  Disponível no link. (acessado em 20.11.2021).
SILVA, Paulo Celso da.. Eliane Potiguara e seus territórios poéticos femininos indígenas. A trajetória da embaixadora da paz. In: Dominique Gay-Sylvestre. (Org.). Entre risas y Lagrimas. Mujeres del Siglo XXI. 1ª ed., Ciudad de México: Editorial del Lirio, 2019, v. ', p. 1-15.
STACCIARINI, Letícia Santana. Estudo do espaço narrativo em obras de autores indígenas brasileiros para o público infantil. (Tese Doutorado em Estudos Literários). Universidade Federal de Uberlândia, UFU, 2022. Disponível no link. (acessado em 25.1.2023).
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VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A Inconstância da Alma Selvagem e outros ensaios
antropológicos. São Paulo: Cosacnaify, 2014.

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Eliane Potiguara - foto: © Elisabete Alves/Minc


Oração pela libertação dos povos indígenas
Parem de podar as minhas folhas e tirar a minha enxada
Basta de afogar as minhas crenças e torar minha raiz.
Cessem de arrancar os meus pulmões e sufocar minha razão
Chega de matar minhas cantigas e calar a minha voz.
Não se seca a raiz de quem tem sementes
Espalhadas pela terra pra brotar.
Não se apaga dos avós – rica memória
Veia ancestral: rituais pra se lembrar
Não se aparam largas asas
Que o céu é liberdade
E a fé é encontrá-la.
Rogai por nós, meu Pai-Xamã
Pra que o espírito ruim da mata
Não provoque a fraqueza, a miséria e a morte.
Rogai por nós – terra nossa mãe
Pra que essas roupas rotas

E esses homens maus
Se acabem ao toque dos maracás.
Afastai-nos das desgraças, da cachaça e da discórdia,
Ajudai a unidade entre as nações.
Alumiai homens, mulheres e crianças,
Apagai entre os fortes a inveja e a ingratidão.
Dai-nos luz, fé, a vida nas pajelanças,
Evitai, ó Tupã, a violência e a matança.
Num lugar sagrado junto ao igarapé.
Nas noites de lua cheia, ó MARÇAL, chamai
Os espíritos das matas para dançarmos o Toré.
Trazei-nos nas festas da mandioca e pajés
Uma resistência de vida
Após bebermos nossa chicha com fé.
Rogai por nós, ave-dos-céus
Pra que venham onças, caititus, siriemas e capivaras
Cingir rios Juruena, São Francisco ou Paraná.
Cingir até os mares do Atlântico
Porque pacíficos somos, no entanto.
Mostrai nosso caminho feito boto
Alumiai pro futuro nossa estrela.
Ajudai a tocar as flautas mágicas
Pra vos cantar uma cantiga de oferenda
Ou dançar num ritual Iamaká.

Rogai por nós, Ave-Xamã
No Nordeste, no Sul toda manhã.
No Amazonas, agreste ou no coração da cunhã.
Rogai por nós, araras, pintados ou tatus,
Vinde em nosso encontro
Meu Deus, NHENDIRU! (1)
Fazei feliz nossa mintã (2)
Que de barrigas índias vão renascer.
Dai-nos cada dia de esperança
Porque só pedimos terra e paz
Pra nossas pobres – essas ricas crianças
- Eliane Potiguara, no livro "Metade Cara, Metade Máscara". DM Projetos
Especiais, 2018, p. 33-35.
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(1) Significa Deus.
(2) Significa Criança.


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"Povos indígenas querem viver dentro do equilíbrio e dar seu testemunho de uma convivência pacífica e não serem vistos na mídia empunhando bordunas ou armas. Eu clamo aos governantes e empresários: “Reconheçam os Povos Indígenas como os primeiros povos desta terra e sem paternalismos, entreguem as terras que são de seus ancestrais, numa medida de reconhecimento, de compensação e restauração da dignidade indígena deste país”" 
- Eliane Potiguara, no livro "Metade cara, metade máscara". Global Editora, 2004, p. 96.
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* ImagemEliane Potiguara, arte @abyayalese.



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COMO CITAR:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Eliane Potiguara - cidadã do mundo. In: Templo Cultural Delfos, julho/2023. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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Página atualizada em 16.7.2023.
** Postagem original DEZEMBRO/2021.





Direitos Reservados © 2023 Templo Cultural Delfos

3 comentários:

  1. Poesia viva ardente pulsando,nas entranhas de antanho aos tempos de Covid Política brasileira.Nossa irmã clama pelas dores de um País capitalista,apodrecido,moralmente,e como a grande maioria de nosso povo de norte a sul,se sentem acorrentados pelas correntes da Ganância e arrebata. Sua poesia marcou o mais profundo de minha alma.As mãos generosas de Frau Fenske,nos mostra o retrado,da desolação da desumanidade selvagem dos poderes de nossa Pátria. ELIANA POTIGURA.MAJESTOSA POETA BRASILEIRA.SUA DOR É NOSSA DOR.QUANDO NOS MULHERES VAMOS TOMAR A FRENTE NAS RUAS DESTE PAÍS?

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  2. Parabéns,Potiguara você com a sua luta e nós com a nossa indignação,revolta e tristeza tamanha agressividade por cobiça.
    Todos vencerão.
    Fique em Paz.

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