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Viviane Mosé - viver a palavra

Viviane Mosé - foto: (...)



Viviane Mosé
 (poeta, psicóloga, psicanalista e especialista em elaboração e implementação de políticas públicas). A poeta 
capixaba nasceu em Vitória - Espirito Santo, em 16 de janeiro de 1964, radicado no Rio desde 1992. Publicou em 2005, sua tese de doutorado, Nietzsche e a grande política da linguagem, pela editora Civilização Brasileira. Em 2009 publicou, pelo Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, o livro A Resistência Tapuia na Capitania do Espírito Santo. Foi professora, em 1991 e 1992, da Universidade federal do Espírito Santo, e da Faculdade de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória.

Em 2005 e 2006, desenvolveu e escreveu com Daniel Duarte o quadro Ser ou Não Ser, onde apresentou no Fantástico da TV Globo, temas da filosofia em uma linguagem cotidiana. Em 2007 os 24 episódios foram reapresentados no canal GNT da Globosat.

Em 2008 escreveu e apresentou, no canal Futura, também da Globosat, oito episódios da série, agora com foco em Educação. De 2007 a 2009, foi consultora sênior da comissão de reformulação curricular do Estado do Espírito Santo.

Viviane Mosé - foto (...)

É palestrante e consultora, com grandes empresas como clientes: Rede Globo de televisão, Editora Abril, Petrobrás, Banco do Brasil, Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo, O Boticário, Governo do Estado do Espírito Santo, Rede Pitágoras de Ensino, entre outros.

Como poeta, publicou seu primeiro livro individual em Vitória, ES, Escritos, (Ímã e UFES, 1990). Publicou, no Rio,Toda Palavra, (1997), e Pensamento Chão (2001), ambos reeditados pela Record em 2006 e 2007. E Desato(Record, 2006).
Participou em 1999 do livro Imagem Escrita (Graal, 1999), coletânea de artistas plásticos e poetas, em parceria com o artista plástico Daniel Senise.

Seus poemas foram tema da Coleção Palavra, de estilistas de Oestudio Costura, que desfilou no Fashion Rio de 2003. É autora dos textos poéticos da personagem Camila no filme Nome Próprio de Murilo Salles, ganhador do festival de Gramado em 2008.

Participou de diversos eventos de poesia como a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, Feira do Livro de Fortaleza, Feira do Livro de Porto Alegre, Festival de Inverno de Ouro Preto, Festival de Teatro de São José do Rio Preto, Festival Carioca de Poesia, entre outros. Atualmente é sócia e diretora de conteúdo da Usina Pensamento e é comentarista na Rádio CBN (toda terça, às 9h00). Ao mesmo tempo, como palestrante e consultora, dedica-se a pensar os desafios das novas lideranças e as novas relações de trabalho na sociedade do conhecimento. 
:: Fonte: Usina do Pensamento | Revista Contemporartes (acessado em 20.4.2016).

"Quem acumula conteúdo não pensa. Pensar exige o vazio."
- Viviane Mosé (fanpage da autora).


Viviane Mosé - foto (...)


OBRA DE VIVIANE MOSÉ
Poesia
:: Escritos. Vitória ES: Editora Imã; UFES, 1990.
:: 7 + 1, Francisco Alves. 1997.
:: Toda palavraRio de Janeiro: Editora 7Letras, 1997; Rio de Janeiro: Editora Record, 2006.
:: Pensamento chão – poemas em prosa e versoRio de Janeiro: Editora 7Letras, 2000; Rio de Janeiro: Editora Record, 2007.
:: Receita para lavar palavra suja. (coletânea de poemas escolhidas pela autora). Rio de Janeiro: Arteclara, 2004.
:: Desato - poemasRio de Janeiro: Editora Record, 2006.
Viviane Mosé - foto: Felipe Gaspar

Filosofia e psicanalise
:: Stela do Patrocínio - Reino dos bichos e dos animais é o meu nome. Azougue Editorial, 2002.
:: Nietzsche e a grande política da linguagemRio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2005.
:: O homem que sabeRio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2011.

Ensaios filosofia, educação e psicanalise (organização)
:: Beleza, feiúra e psicanálise. [organização Viviane Mosé, Chaim Katz e Daniel Kupermam]. Rio de Janeiro: Contracapa, 2004.
:: A escola e os desafios contemporâneos.[organização Viviane Mosé]. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2013.

Antologias e coletâneas poéticas e ensaios (participação)
:: Imagem escrita. coletânea de artistas plásticos e poetas. [em parceria com o artista plástico Daniel Senise]. Rio de Janeiro: Graal, 1999.
:: Assim falou Nietzsche. Rio de Janeiro: 7Letras; Ouro Preto: Ufop, 1999.

Crônicas e comentários 
:: Rádio CBN (toda terça, às 9h00)


"eu parei de lutar contra o tempo ando exercendo o instante."
- Viviane Mosé, em "Pensamento Chão". Rio de Janeiro: Editora 7Letras, 2000.


"O homem precisa de algum conhecimento para sobreviver, mas para viver precisa de ARTE."
- Viviane Mosé 



BREVE ANTOLOGIA POÉTICA DE VIVIANE MOSÉ

Receita pra lavar palavra suja
Mergulhar a palavra suja em água sanitária,
Depois de dois dias de molho, quarar ao sol do meio dia.
Algumas palavras quando alvejadas ao sol
adquirem consistência de certeza,
por exemplo a palavra vida.
Existem outras e a palavra amor é uma delas
que são muito encardidas e desgastadas pelo uso,
o que recomenda esfregar e bater insistentemente na pedra,
depois enxaguar em água corrente.
São poucas as que ainda permanecem sujas
depois de submetidas a esses cuidados
mas existem aquelas.
Dizem que limão e sal tiram as manchas mais difíceis e nada.
Todas as tentativas de lavar a piedade foram sempre em vão.
Mas nunca vi palavra tão suja
como a palavra perda.
Perda e morte na medida em que são alvejadas,
soltam um líquido corrosivo
—que atende pelo nome de amargura—
capaz de esvaziar o vigor da língua.
Nesse caso o aconselhado é mantê-las sempre de molho
em um amaciante de boa qualidade.
Agora se o que você quer
é somente aliviar as palavras do uso diário,
pode usar simplesmente sabão em pó e máquina de lavar.
O perigo aqui é misturar palavras que mancham
no contato umas com as outras.
A culpa, por exemplo, mancha tudo que encontra
e deve ser sempre clareada sozinha.
Uma mistura pouco aconselhada é amizade e desejo,
já que desejo sendo uma palavra intensa, quase agressiva,
pode, o que não é inevitável,
esgarçar a força delicada da palavra amizade.
Já a palavra força cai bem em qualquer mistura.
Outro cuidado importante é não lavar demais as palavras
sob o risco de perderem o sentido.
A sujeirinha cotidiana quando não é excessiva
produz uma oleosidade que conserva a cor
e a intensidade dos sons.
Muito valioso na arte de lavar palavras
é saber reconhecer uma palavra limpa.
Para isso conviva com a palavra durante alguns dias.
Deixe que se misture em seus gestos
que passeie pelas expressões dos seus sentidos.
Á noite, permita que se deite,
não a seu lado, mas sobre seu corpo.
Enquanto você dorme
a palavra plantada em sua carne
prolifera em toda sua possibilidade.
Se puder suportar a convivência
até não mais perceber a presença dela,
então você tem uma palavra limpa.
Uma palavra limpa é uma palavra possível.
- Viviane Mosé, em "Receita para lavar palavra suja". Rio de Janeiro: Arteclara, 2004.

§

Rios 
Rios, quando ainda são rios,
Conservam vegetação nas margens.
Córregos são águas geralmente claras
Que correm rasas entre as pedras.

Algumas vezes árvores chegam a cobrir um rio por inteiro:
Suas copas vão tecendo um véu verde sobre as águas
(em geral muito limpas) que correm.

 As margens de um rio são plantas e terra molhada.
Terra e água em convivência pacífica.
Que não é lama, é terra e água,
Em sua diferença.

O leito se sabe leito daquele fluxo líquido inserido no chão. 
Eu poderia chorar de coisas assim:
Corre um rio de minha boca corre um rio de minhas mãos.
Dos meus olhos corre um rio.

Na verdade sofro de excessos, que me dão certo vocabulário
Como derramar, escorrer, atravessar.
Tenho a impressão de que tudo vaza em sobras.
Tenho dificuldade em caber.  

Pra caber mais derramo por nada derramo sem motivo.
Vou acalmar meu excesso pensei
Ministrando doses diárias de barcos ancorados ao sol,
Rodeados por pequenos pássaros em busca de restos de peixe.

Águas se lançando sobre as pedras e um vento que parece vivo,
Como se tivesse a intenção de às vezes fazer agrados
Em minha pele.

Meu rosto tem muita simpatia por ventos,
Reconhece certos humores próprios a vento.
Gosto de coisas que se movem.

Por isso aprecio rios e não sou tanto assim apegada a mares.
E árvores.
Se bem que tenho enorme ternura por bois
Fincados no pasto como palavras no papel.

Palavras são estacas fincadas ao chão.
Pedras onde piso nessa imensa correnteza que atravesso.
- Viviane Mosé, em "Toda palavra".  Rio de Janeiro RJ: Editora Record, 2008.

§

Sem cabimento
Queria escrever todas as plantas e pessoas. todos os rios.
os muros , as cores, os homens, as senhoras de idade.
as caixas de correio , os espanhois.
os olhos e as ruas, os tamanhos e larguras, as alturas.
as pernas, os falos, os pelos , os pulsos.

Queria escrever o ritmo,
das pedras, das estradas calçadas, das margaridas.
escrever o que manda e o que obedece.
o que cresce e o que padece de amparo.
o que afunda, o que eclode.
escrever o que não sabe.
e o que não cabe em lugar nenhum.

E viver a escrita das coisas.
não as coisas que não me cabem.
coisas e pessoas não me cabem e sem cabimento
me atravessam.
pessoas passam depressa demais entre meus poros. e vão.
eu tenho uma imagem presa na garganta.
ser gente me arranha.
quero voltar a ser palavra.
Acho que o oficio de ser gente me excessiva
pessoas são pessoas o tempo todo demais.
ser gente me excessiva.
e me falta. 
- Viviane Mosé, em "Pensamento Chão". Rio de Janeiro: Editora 7Letras, 2000.

§

Tem gente...
Tem gente que tem o costume de vazar pelos cantos.
No começo vaza calada. Aos poucos. Aos pingos.
Mas se pega gosto principia o derrame.
Escorre quando fala. Escorre quando anda.
Não tem mais braço nem cabelo que sgeure.
Parece que vicia em ficar transbordada.

Mas tem gente que quando transborda é pra dentro.
E corre o risco de ficar represada. E represa você sabe.
Se aumenta muito arrebenta.

Mas se a pessoa ensaia um jeito de derramar pra fora.
Aí vai fazendo leito. Vai abrindo seu caminho na terra.
E a terra parece que se abre pra ela passar. Às vezes não.
- Viviane Mosé, em "Pensamento chão – poemas em prosa e verso". Rio de Janeiro: Editora Record, 2007.

§

Toda palavra 
Viviane Mosé - foto: (...)
Procuro uma palavra que me salve
Pode ser uma palavra verbo
Uma palavra vespa, uma palavra casta.
Pode ser uma palavra dura. Sem carinho.
Ou palavra muda,
molhada de suor no esforço da terra não lavrada.
Não ligo se ela vem suja, mal lavada.
Procuro uma coisa qualquer que saia soada do nada.
Eu imploro pelos verbos que tanto humilhei
e reconsidero minha posição em relação aos adjetivos.
Penso em quanta fadiga me dava
o excesso de frases desalinhadas em meu ouvido.
Hoje imploro uma fala escrita,
não pode ser cantada.
Preciso de uma palavra letra
grifada grafia no papel.
Uma palavra como um porto
um mar um prado
um campo minado um contorno
carrossel cavalo pente quebrado véu
 mariscos muralhas manivelas navalhas.
Eu preciso do escarcéu soletrado
Preciso daquilo que havia negado
E mesmo tendo medo de algumas palavras
preciso da palavra medo como preciso da palavra morte
que é uma palavra triste.
Toda palavra deve ser anunciada e ouvida.  
Nunca mais o desprezo por coisas mal ditas.
Toda palavra é bem dita e bem vinda.
- Viviane Mosé, em "Toda palavra".  Rio de Janeiro RJ: Editora Record, 2008.

§

Vida/tempo 
Quem tem olhos pra ver o tempo?
Soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele
Soprando sulcos?

O tempo andou riscando meu rosto
Com uma navalha fina.
Sem raiva nem rancor
                            O tempo riscou meu rosto com calma.

Eu parei de lutar contra o tempo. Ando exercendo instante.
Acho que ganhei presença.

Acho que a vida anda passando a mão em mim. Acho que a vida anda passando.
Acho que a vida anda. Em mim a vida anda. Acho que há vida em mim. A vida em mim anda passando. Acho que a vida anda passando a mão em mim

                            Por falar em sexo quem anda me comendo
É o tempo.  Na verdade faz tempo, mas eu escondia

Porque ele me pegava à força, e por trás. 
Um dia resolvi encará-lo de frente e disse:  Tempo, se você tem que me comer  Que seja com o meu consentimento.  E me olhando nos olhos.  Acho que ganhei o tempo.  De lá pra cá ele tem sido bom comigo. Dizem que ando até remoçando
- Viviane Mosé, em "Pensamento chão – poemas em prosa e verso". Rio de Janeiro: Editora Record, 2007.

Viviane Mosé - foto: (...)

FORTUNA CRÍTICA DE VIVIANE MOSÉ
BELLEI, Fernanda. entrevista com viviane mosé. in: Instituto CPFL, Café filosófico, 19 de janeiro de 2009. Disponível no link. (acessado em 20.4.2016).
CARDOSO, Vânia Marques. A escola e os desafios contemporâneos, de Viviane Mosé. Dialogia (UNINOVE. Impresso), v. 20, p. 245-247, 2014.
CARPINEJAR, Fabrício. Filósfoa Viviane Mosé lava as palavras. in: O Estado de S. Paulo, Caderno de Cultura, 7.1.2007|reproduzido em: Mal de Montano, 10 janeiro de 2007. Disponível no link. (acessado em 26.3.2016).
FELDENS, Dinamara Garcia; SANTANA, Anthony Fábio Torres; SILVA, José Laerton Santos da.. Escritos outros, poemas intermináveis: vida, pesquisa e educação. in: Educação Por Escrito, Porto Alegre, v. 6, n. 1, p. 26-38, jan.-jun. 2015. Disponível no link. (acessado em 20.4.2016).
KALID, Lorena Lima. Binarismos tradicionais no discurso de Viviane Mosé (Dissertação Mestrado em Literatura e Cultura). Universidade Federal da Bahia, UFBA, 2015.
KALID, Lorena Lima. Uma análise das imagens de devir na obra de Viviane Mosé.. Travessias Interativas, v. 8, p. 1-19, 2014.
KALID, Lorena Lima. Metáfora do rio na Iliáda e na poesia de Viviane Mosé.. Littera, v. 5, p. 1-17, 2014.
LEMOS, Nina. Viviane Mosé (entrevista). in: revista TPM, 16.4.2012. Disponível no link. (acessado em 24.3.2016).
MAESTRO, Maria Lúcia Kopernick Del. O riso amargo da autoironia nas estéticas de Frida Kahlo e Viviane Mosé. (Tese Doutorado em Letras). Universidade Federal do Espírito Santo, UFES, 2014.
MOURA, Matheus. "Minha meta é a educação" (Viviane Mosé - entrevista). in: Revista Filosofia. Disponível no link. (acessado em 20.4.2016).
OLIVEIRA, André de.. Entrevista. Viviane Mosé - as grande virtudes. in: Aliás|Estadão, 15 de agosto de 2015. Disponível no link. (acessado em 20.4.2016).
ROCHA, Jéssica. Viviane Mosé e a arte de se comunicar. in: Obvious.  Disponível no link. (acessado em 24.3.2016).
VIVIANE Mosé. Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão. in: Balacobaco | 'Garganta da Serpente'. Disponível no link. (acessado em 20.4.2016).

"Tudo que ocorre, todo movimento, todo vir-a-ser é um constatar de relações de graus de forças, um combate [...] A vida é o excesso que se configura, mas apenas provisoriamente" 
- Viviane Mosé, em "Nietzsche e a grande política da linguagem". Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2005.


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AFORISMOS, CITAÇÕES, EXCERTOS E CRÔNICAS DE VIVIANE MOSÉ

"A sociedade, em que todos estão ligados por inúmeros canais, em uma comunicação que acontece de modo espontâneo, provisório e pontual, em meio a uma multiplicidade de acessos e informações, termina por valorizar todo núcleo capaz de atingir pessoas e faz isso quem tem alguma coisa a dizer, quem tem algum tipo de conteúdo e quem compartilha. 
É em torno do saber que as pessoas se colocam, especialmente em torno das pessoas que produzem saber. E um saber é um olhar, um conceito, uma interpretação. Diante do turbilhão de informações, diante da crise de valores que vivemos, as pessoas estão em busca de um modo de ver, de uma perspectiva."
- Viviane Mosé, em "A escola e os desafios contemporâneos". Rio de Janeiro Editorial Record, 2013.


§

Ninguém está livre do caos social, do terrorismo. Não vivemos mais o mundo moderno, que se sustentou na ilusão de felicidade, de estabilidade, mas o mundo da desintegração, do desabamento da infinidade de construções que erguemos para sustentar a promessa de uma vida sem sofrimentos, sem perdas, sem morte. 
Em meio aos destroços de um sonho, vivemos acuados, mas o que se desintegra não é o mundo, e sim um ideal de mundo e de homem que nasceu do medo do tempo e da morte, do horror diante do desconhecido. 
Precisamos de uma cultura que seja produto de uma afirmação, que manifeste um desejo, uma paixão, um sonho, que seja um dardo lançado adiante.
- Viviane Mosé, em "O homem que sabe". Rio de Janeiro: Editorial Record. 2011.

§

"O pensamento é a nossa dignidade, porque nos permite vencer o sofrimento, não por meio da eliminação da dor como tem tentado a modernidade, com suas infinitas fábricas de ilusão, mas por meio de uma interpretação da vida que inclua o sofrimento."
- Viviane Mosé, em "O homem que sabe". Rio de Janeiro: Editorial Record. 2011.

§

O PREJUÍZO É DE TODOS
A violência é o maior desafio do mundo hoje. De um lado, a intolerância, a segregação, o ódio tanto tempo acumulado; de outro, e este é o nosso caso, a cruel desigualdade social, o abismo entre as classes. Tudo isso invade a escola. A sala de aula é um espaço que reproduz o mundo dos alunos, professores, funcionários, vizinhos. Se a violência do mundo já se evidencia nas escolas, mesmo as particulares da Zona Sul do Rio, imaginem uma sala de aula em uma área de conflito armado?
Conheço professores incríveis que optaram por trabalhar em comunidades violentas, para tentar sanar o imenso prejuízo desses alunos, grande parte das vezes empurrados, por total falta de perspectiva, para o crime. Em outras palavras, para a morte.
Mas não há muito mais o que fazer por essas escolas, por essas crianças, a não ser lutar, de modo sistemático e preventivo, contra a violência, essa violência tão nossa, causada pelo descaso histórico do poder público com as classes populares, pelo total abandono de territórios hoje dominados pelo crime. Resolver esse impasse exige um pacto entre todos, afinal o prejuízo daqueles jovens é também o nosso. Isso, de um modo perverso, hoje já sabemos.
- Viviane Mosé, em "O Globo". 29.11.2015.


Viviane Mose e Elisa Lucinda - foto: Cristina Granato

Tudo em minha casa tem existência
 Todas as coisas significo
 Com os olhos ou com as mãos
 Minha casa tem silêncios
 Que as vezes ouço
 Em meu corpo, tem silêncios maiores ainda
 Que as vezes ouço
 E faço poemas

Faço poemas dos silêncios que ouço.
- Viviane Mosé, do poema "Desato", no livro 'Desato'. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006.

§

"Acho que o ofício de
ser gente me excessiva. 
Pessoas são pessoas
O tempo todo demais.
Ser gente me excessiva.
Gente me excessiva.
E me falta."
- Viviane Mosé, em "Pensamento Chão". Rio de Janeiro: Editora 7Letras, 2000.

§

"Palavra não tem lado de dentro
Palavra não mora no que diz
Palavra abre pra fora."
- Viviane Mosé, em "Pensamento chão – poemas em prosa e verso". Rio de Janeiro: Editora Record, 2007.




Viviane Mosé - foto: (...)
FANPAGE DA POETA VIVIANE MOSÉ
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OUTRAS FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA
:: Antonio Miranda
:: Blog Usina do Pensamento
:: Poetas Capixabas
:: Sandra Paschoal

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Trabalhos sobre o autor:
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Viviane Mosé - 'viver a palavra'. Templo Cultural Delfos, abril/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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Julio Ludemir - construindo pontes e sonhos

Julio Ludemir - foto: André Mourão|Agência O Dia
Julio Bernardo Ludemir (escritor, roteirista, jornalista e produtor cultural) nasceu no Rio de Janeiro em 1960, mas foi criado em Olinda - Pernambuco. Entrou na faculdade de jornalismo, mas nunca concluiu o curso. Voltou para o Rio de Janeiro em 1979 e desde então não encontrou um lugar confortável nem nas praias nem nos botequins da cidade. Embora se sinta um pária na cidade, ama sua gente. Atualmente mora no morro da Babilônia, no Rio.
Possuí nove livros publicados, a maioria dos quais sobre a periferia do Rio de Janeiro e talvez o dobro guardados no 'hd'. É um dos roteiristas de '400 x um', filme baseado na autobiografia de William da Silva Lima, um dos criadores do Comando Vermelho. 
Coordenou o Jovem Repórter, projeto de comunicação da Secretaria Municipal de Cultura de Nova Iguaú que chegou a mobilizar 400 jovens da Baixada Fluminense.
É um dos criadores do espetáculo 'Batalha do passinho', em que jovens dançarinos do passinho foram pela primeira vez para um palco da cidade formal, que chegou a se apresentar no Lincoln Center de Nova York, no Ted Global do Rio de Janeiro, no encerramento das Olimpíadas de Londres e no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. É também um dos idealizadores, junto com Ecio Salles, da FLUPP, a Festa Literária das Periferias, ganhadora dos prêmios Faz diferença, do jornal 'O Globo' e do International Excellence Awards 2016, na categoria 'Festival literário', organizado pela London Book Fair (Feira do livro de Londres).

"Isso aqui é lugar com mil maneiras de morrer e uma apenas de viver."
- Julio Ludemir, em "Sorria, você está na Rocinha". Rio de Janeiro: Record, 2004.


Julio Ludemir - foto: Laura Marques
OBRA DE JULIO LUDEMIR
Narrativas
:: No coração do comando. Rio de Janeiro: Editora Record, 2002, 192p.
:: Lembrancinha do adeushistória[s] de um bandido.  São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2004. 
:: Sorria, você está na Rocinha. Rio de Janeiro: Record, 2004, 398p.
:: O bandido da chacrete: ascensão e queda de um fundador do comando vermelho. Rio de Janeiro: Editora Record, 2007, 462p.
:: Rim por rim: uma reportagem sobre o tráfico de órgãos. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008, 308p.
:: Só por hoje. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2012, 156p.
:: Psico. [prefácio Luiz Eduardo Soares]. Rio de Janeiro: Editora Faces, 2012, 162p.

Histórico-cultural e social
:: 101 funks que você tem que ouvir antes de morrerPatrocínio: Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro. Coleção Tramas Urbanas, série 3 vol. 8. Rio de Janeiro: Aeroplano Editora, 2013, 265p. Disponível no link. (acessado em 20.4.2016).

Crônicas e estórias
:: Eu me chamo Rio. [organizadores e autores Julio Ludemir e Erico Salles]. Selo Flupp. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2015.
:: Rio 2065. [organizadores e autores Julio Ludemir e Ecio Salles]. Selo Flupp. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016, 288p.

Infanto-juvenil
:: Mais um pai. Coleção diálogo Jr. Rio de Janeiro: Editora Scipione, 2005; 2ª ed., 2008; 3ª ed., 2011, 60p.

Organização e preparação
:: Pequena abelha [the other hand], de Chris Cleave. [preparação Julio Ludemir; tradução Maria Luiza Newlands]. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2011.
:: Antologia de Dramaturgia Negra. [organizada Eugênio Lima e Julio Ludemir]. Rio De Janeiro: Funarte, 2019. {Com peças de: Aldri Anunciação, Cristiane Sobral, Dione Carlos, Grace Passô, Jê Oliveira, Jhonny Salaberg, Jô Bilac, José Fernando Peixoto de Azevedo, Leda Maria Martins, Licínio Januário, Luh Maza, Maria Shu, Rodrigo França, Rudinei Borges dos Santos, Sol Miranda e Viviane Juguero}.

Alguns artigos, reportagens em jornais, revistas e sites
LUDEMIR, Julio. Diário da peste. Jornal do Brasil,  caderno B, Rio de Janeiro, 29 de março de 1987.
________ . Tragédia no 350. in: Jornal do Brasil - Outras Opiniões, p. A11, 8/12/2005. Disponível no link. (acessado em 19.4.2016).
________ . Julio Ludemir: A política nas favelas. in: O Dia, 23 de maio de 2015. Disponível no link. (acessado em 19.4.2016).

Filmografia (participação)
:: 400 contra 1 - A história do Comando Vermelho
Sinopse: Um dos grandes articuladores do que se tornaria a facção criminosa Comando Vermelho, William da Silva Lima (Daniel de Oliveira), vai preso e mandado para o presídio de Ilha Grande, onde fica lado a lado com presos políticos. 
Julio Ludemir - foto:  (...)
No meio de assaltos e conflitos com a polícia, formou-se um elo de amizade que geravam dívidas, que fazia com que os companheiros foragidos retornassem a ilha para libertar seus amigos. Baseado no livro autobiográfico Quatrocentos contra um - A história do Comando Vermelho de William da Silva Lima.
Ano: 2010
Duração: 98 min.
Direção: Caco Souza
Roteiro: Victor Navas e Julio Ludemir
:: Disponível no link

Espetáculo música e dança
Espetáculo: Na batalha
Direção geral: Julio Ludemir* e Raul Fernando
Direção musical: DJ Sany Pitbull e DJ Grand Master Raphael
Coreografia: Lavínia Bizzotto e Rodrigo Vieira
Figurino e cenografia: Cássio Brasil e Nike
Músicas do espetáculo - compositores: Julio Ludemir, Vadinho Freitas e Praga (Thiago dos Santos).
Grupo: Companhia de Dança na Batalha**
Integrantes: Baratinha Mister Passista, CL Fabulloso, DG Fabulloso, FB Imperador da Dança, GN Fabulloso, Jackson Fantástico, Kinho Mister Passista, Leony Fabulloso, Marcelly Miss Passista, Michel Imperador da Dança, Nêgo, Sheick Imperador da Dança e Tay Imperatriz da Dança, todos jovens moradores de diferentes regiões do Rio, como a Cidade de Deus, Jacarezinho, Campo Grande e até Queimados, município da Baixada Fluminense.
Local: Teatro Municipal (Rio de Janeiro) - Série "Trajetórias", 29 de maio de 2015.
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* Idealizador e fundador do Na batalha do passinho
** Outras apresentações da Companhia (destaques):
:: Teatro Cacilda Becker (Rio de Janeiro) - 27 e 28 de junho de 2015.
:: Lincoln Center (Nova York - EUA), durante o festival Lincoln Center Out of Doors, 24 de julho de 2014.
:: Teatro João Caetano (Rio de Janeiro) em 14 de junho de 2014.
:: Jogos Paraolímpicos Londres 2012 (Inglaterra), na Cerimônia de encerramento, 9 de setembro de 2012.
- Fanpage Na Batalha. Acesse Aqui!

Exposições
Exposição: 'Raul Pompeia e Aluísio Azevedo — Educação e moradia na literatura'.
Sinopse: A mostra utiliza as principais obras dos dois autores, “O Cortiço” e “O Ateneu”, para falar sobre moradia e educação na cidade do Rio.
Curadoria: Julio Ludemir, Fernando Cavallieri e Ecio Salles
Idealização: Academia Brasileira de Letras (ABL), em parceria com a Feira Literária das UPPs (FLUPP) e e o Instituto Pereira Passos
Apoio: SuperVia
Local: Estação Bonsucesso do teleférico do Alemão (Complexo do Alemão - Rio de Janeiro)
Período: 22 de outubro/2013 a julho/2014
:: Fonte: Rio+Social



Julio Ludemir - foto: André Balocco/Agência O Dia
FORTUNA CRÍTICA DE JULIO LUDEMIR
AGUDO, Dudu Morro. Lançamento do livro do escritor Julio Ludemir. in: Enraizados, 21.7.2010. Disponível no link. (acessado em 19.4.2016).
BIGIO, Susana Moreira de Lima. Velhice e marginalidade: a narrativa da experiência sucateada em Lembrancinha do Adeus, de Julio Ludemir. in: Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, v. 1, p. 33-46, 2006.
BIGIO, Susana Moreira de Lima. Velhice e marginalidade: a narrativa da experiência sucateada em Lembrancinha do Adeus, de Julio Ludemir.. In: X Congresso Internacional ABRALIC 2006 Lugares dos Discursos, Rio de Janeiro, 2006. 
BLOCH, Arnaldo. Júlio Ludemir: novas pontes para o futuro. in: O Globo, 9.6.2012. Disponível no link. (acessado em 19.4.2016).
CAVALCANTI, Alcyr. É sexta de Carnaval: O ensaio é geral. Rio de Janeiro: Editora Frutos, 2012.
COHEN, Marina. 'É um novo momento para o funk', diz escritor Julio Ludemir. in: O Globo, 4.12.2013. Disponível no link. (acessado em 19.4.2016).
CULTURA. Passinho sacode Theatro Municipal - Grupo criado há um ano com treze dançarinos leva suas vigorosas coreografias ao palco do teatro na série 'Trajetórias'. in: Cultura.rj.gov., 29.5.2015. Disponível no link. (acessado em 19.4.2016).
FONSECA, Rodrigo. '400 contra 1' estreia cercado de cuidados para escapar da pirataria. in: O Globo - Cultura, 3.8.2010. Disponível no link. (acessado em 19.4.2016).
FUSER, Bruno (org). Comunicação para a Cidadania: Caminhos e impasses. Rio de Janeiro: E-papers, 2008.  
GOMES, Kathleen. O que é que a favela tem? tem literatura, tem. in: Público.pt, 1.11.2015. Disponível no link. (acessado em 19.4.2016).
IHU. A UPP não convence a juventude da periferia. Entrevista especial com Julio Ludemir. in: IHU - Instituto Humanitas Unisinos, 16 de dezembro de 2011. Disponível no link. (acessado em 20.4.2016).
MATTA, Anderson Luís Nunes. É tempo de pipa: a representação da infância em Cidade de Deus, de Paulo Lins, e Lembrancinha do Adeus, de Julio Ludemir. in: Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, v. 35, p. 155-170, 2009. Disponível no link. (acessado em 19.4.2016).
MORISAWA, Mariane. Ping Pong / Julio Ludemir - Romeu e Julieta no presídio. in: Istoé Gente, 18.8.2002. Disponível no link. (acessado em 19.4.2016).
NITAHARA, Akemi. Festival de dança traz o passinho das periferias para o Theatro Municipal. [edição Denise Griesinger]. in: EBC - Agência Brasil, 31.5.2015. Disponível no link. (acessado em 20.4.2016).
OLIVEIRA, Flávia; MIRANDA, André. Teatro Municipal recebe pela primeira vez espetáculo de passinho. in: O Globo, Cultura, 30.6.2015. Disponível no link. (acessado em 19.4.2016). 
PECLY, Julio. Cidade de Deus Z.. Selo Flupp. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2015.
PLATAFORMA. Júlio Ludemir e Rogério Pereira: O que os jovens estão lendo?. (entrevista). in: Plataforma do Letramento. Disponível no link. (acessado em 19.4.2016).
PORTAL Brasil. Festa Literária das Periferias recebe prêmio no Reino Unido. in: Brasil.gov, 15.4.2016. Disponível no link. (acessado em 19.4.2016).
ROSA, Pedro Paulo. Julio Ludemir, a estética da coragem. [revisão Paulo Cappelli]. in: Blog O Hélio, 22.2.2012. Disponível no link. (acessado em 19.4.2016).
SOARES, Luiz Eduardo. 'prefácio' ao romance Psico, de Julio Ludemir. in: site Luizeduardosoares. Disponível no link. (acessado em 19.4.2016).
SOARES, Luiz Eduardo. Justiça: Pensando alto sobre violência, crime e castigo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.
TORRES, Sérgio. Livro embaralha ficção e realidade para mostrar vida na Rocinha. in: Folha São Paulo, Ilustrada, 10.4.2004. Disponível no link. (acessado em 19.4.2016).


Julio Ludemir- foto: Gabi Nehring
FLUPP - A FESTA LITERÁRIA DAS PERIFERIAS
A FLUPP, desde sua primeira edição, em 2012, promove intercâmbios entre autores e leitores de diferentes partes do Brasil e do mundo. Em 2016, chega a sua 5ª edição. Idealizada por Julio Ludemir e Ecio Salles, a FLUPP foi criada para ser um espaço de formação de novos leitores e autores na periferia das grandes cidades brasileiras.
:: Site oficial da FLUPP. Acesse AQUI!
:: Fanpage da FLUPP. Acesse AQUI!

Casa da Palavra lançou o selo FLUPP
Em uma parceria inédita com a Festa Literária Internacional das Periferias (Flupp), a editora Casa da Palavra lançou o selo FLUPP. A proposta é apresentar aos leitores novos talentos de regiões periféricas das grandes cidades. 


“Todas as pessoas que estão aqui sabem quem sou eu. Aqui eu sou um vizinho. Não tenho sobrenome, não sou artista. Aqui eu sou o Julio.”
- Julio Ludemir, in: GOMES, Kathleen. O que é que a favela tem? tem literatura, tem. in: Público.pt, 1.11.2015. 



Julio Ludemir - foto: Fernando Carvalho
OUTRAS FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA
:: oasys cultural
:: flyingundertheradar
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FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Julio Ludemir - construindo pontes e sonhos. Templo Cultural Delfos, dezembro/2022. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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** Página atualizada em 6.12.2022.
* Página Original ABRIL 2016.



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Henfil - carta a Elis Regina


Elis Regina

Elis,
Tudo bem. Nenhuma pista sobre tua morte. Tipo crime perfeito. Precisa ver. Os perplexos seguem as pegadas duma tal fama assassina que devora seus filhos. Os nascidos nos anos 40 já acham que tá é passando um flautista, convocando a geração "da gente" (Ri! Ri! Ri!). Os legistas shibatam tuas vísceras à cata de comprimidos e tóxicos.
                      Tu despistou todo mundo.
                      Mas eu, eu encontrei a caixa-preta. E vou dormir:
                      Nós homens te matamos, mulher.
                      Você dobrou tua voz e venceu. Dobrou teus negócios e venceu. Dobrou tua consciência política e venceu.
                      Quis ser mulher livre e perdeu...
                      Nós homens te exigimos alta, linda e gostosa. Nós homens te espancamos a murros e pontapés uma, duas, de dez vezes. Nós homens te obrigamos a lavar roupa e cozinhar pra nos sustentar. Nós homens te forçamos a se humilhar diante do teu povo, cantando de joelhos o hino nacional. Aí, nós homens, sem perguntar, te enterramos no cemitério dos mortos-vivos do Caboco. Mamadô. Nós homens te exibimos em churrascarias. Nós homens te vestimos de azul, vermelho, branco, roxo, amarelo, preto e cortamos teu cabelo curtim feito Joana d"Arc.
                      E você só queria namorar nós homens.
                      Mas nós homens não conseguimos namorar uma mulher livre.
                      Perplexos, quarentões e médicos-legistas!
                      Podem suspender as diligências.
                      Tá na caixa-preta: fomos nós, homens.

Henfil Sreet

27.1.1982


Carta escrita por Henfil, publicada na revista Istoé, 27.1.1982



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Manoel de Barros - carta de Antônio Houaiss



É certo que a invenção poética de Manoel de Barros tem personalidade própria rara entre os nossos poetas, rara mesmo entre os nossos grandes poetas. É por isso que ele é um poeta maior.

Mas não é só por isso. Num momento em que somos catequizados como seres insuflados de divino mas ao mesmo tempo praticamos as maiores torpezas com os nossos semelhantes, é um esplendor ver luzir de forma tão convincente e harmoniosa a certeza de que entre o caramujo e o homem há um nexo necessário que nos deveria fazer mais solidários com a vida. Mas Manoel de Barros vai além: prova, com a doçura e adequação de suas palavras, que, se quisermos, a nossa vida pode ser uma passagem de beleza em meio à beleza natural, uma prece de harmonia na vida universal, uma nuga de graça, um momento de bondade, em que há algo de irônico, de lírico, de doce, de solidário, de esperançoso.

A poesia de Manoel de Barros, nesta nossa conjuntura, nacional e humana em geral, é um maravilhoso filtro contra a arrogância, a exploração, a estupidez, a cobiça, a burrice — não se propondo, ao mesmo tempo, ensinar nada a ninguém, senão que à vida.

Antônio Houaiss

Rio, 5 de outubro de 1992

Manuscrito - Antonio Houaiss à Manoel de Barros

Carta publicada no livro "Meu quintal é maior do que o mundo", de Manoel de Barros. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.

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Erico Verissimo - entrevistado por Clarice Lispector

“Não sou profundo. Espero que me desculpem.”

Erico Verissimo - foto: ...
Erico é escritor que não preciso apresentar ao público: trata-se, com Jorge Amado, do único escritor
no Brasil que pode viver da vendagem de seus livros. Vendem como pão quente. Recebido de braços abertos pelos leitores, no entanto a crítica muitas vezes o condena.

Clarice Lispector – Erico, por que você acha que não agrada aos críticos e aos intelectuais?
Erico Verissimo – Para começo de conversa, devo confessar que não me considero um escritor importante. Não sou um inovador. Nem mesmo um homem inteligente. Acho que tenho alguns talentos que uso bem... mas que acontece serem os talentos menos apreciados pela chamada “crítica séria”, como, por exemplo, o de contador de histórias. Os livros que me deram popularidade, como Olhai os lírios do campo, são romances medíocres. Nessa altura me pespegaram no lombo literário vários rótulos: escritor para mocinhas, superficial etc... O que vem depois dessa primeira fase é bastante melhor mas, que diabo! pouca gente (refiro-me aos críticos apressados) se dá ao trabalho de revisar opiniões antigas e alheias. Por outro lado, existem os “grupos”. Os esquerdistas sempre me acharam “acomodado”. Os direitistas me consideram comunista. Os moralistas e reacionários me acusam de imoral e subversivo. Havia ainda essa história cretina de “norte contra sul”. E ainda essa natural má vontade que cerca todo o escritor que vende livro, a ideia de que best-seller tem de ser necessariamente um livro inferior. Some tudo isto, Clarice, e você não terá ainda uma resposta satisfatória à sua pergunta. Mas devo acrescentar que há no Brasil vários críticos que agora me levam a sério, principalmente depois que publiquei O tempo e o vento. (Bons sujeitos!)

Clarice Lispector – Você se sente realizado como escritor, Erico? Eu, por exemplo, ainda não me sinto, e tenho a impressão de que será assim até eu morrer.
Erico Verissimo – Realizado, não. Mas confesso que não me sinto frustrado. Agora, acho que você tem todo o direito de considerar-se realizada. (É pena que isso não seja, no escritor, uma questão de direito.) Você, na minha opinião, trouxe algo de novo e importante para a nossa literatura.

Clarice Lispector – E como homem, você se sente realizado? Você, Erico, é uma das pessoas mais gostáveis que conheci. Você é uma pessoa humana de uma largueza extraordinária. Que é que você me diz disso?
Erico Verissimo – A resposta é quase idêntica à pergunta anterior. Reduzi ao mínimo as minhas frustrações. Sempre fui um sujeito tímido e moderado, até no sonho, nos projetos. Tenho tudo ou quase tudo quanto desejei, e muito mais do que ousei esperar. A ideia de ser querido, digamos a palavra exata – amado, me agrada, me alegra mais do que a ideia de ser admirado. Se você me perguntasse se sou um homem natural, para ser bem sincero, eu lhe confessaria que de certo modo moldei a minha própria imagem, a face do homem que eu desejo que os outros vejam.

Clarice Lispector – Você trocaria seu público, que adora você, por uma crítica que lhe fosse mais favorável?
Erico Verissimo – Não.

Clarice Lispector – Erico, sem interromper o assunto, estou me lembrando com saudade de Washington, eu como mulher de diplomata, e você trabalhando na OEA. Você se lembra de como eu fazia ninho na vida e na casa de vocês? Que é que você estava escrevendo naquela ocasião? Eu, por exemplo, estava escrevendo A maçã no escuro. Foi um período muito produtivo, no sentido de trabalho e no sentido de uma amizade que se formou para sempre entre você, Mafalda e eu.
Erico Verissimo – Quero que você saiba (e aqui falo também em nome de minha mulher) que as melhores recordações que guardo de nossa estada em Washington D.C. são as das horas que passamos em sua casa, com você e sua gente. Detestava o meu posto da União Pan-Americana. Não consegui escrever uma linha durante esses três anos burocráticos. O que sobrou de melhor desse tempo foi a nossa amizade. Você saiu daquela chatice federal com um romance denso de substância humana e poética.


Erico Verissimo - foto: ...
Clarice Lispector – Qual é o seu personagem mais importante? O meu é sempre do livro que eu esteja escrevendo no momento.
Erico Verissimo – O primeiro vulto que me vem à mente é o do Capitão Rodrigo. Depois penso em Floriano, meu sósia espiritual. Mas não me decido a escolher. Prefiro dizer que os meus personagens mais importantes são as mulheres de O tempo e o vento, como Bibiana e Maria Valéria.

Clarice Lispector – Os críticos, ao que ouvi dizer, acham você pouco profundo. Que me diz disso?
Erico Verissimo – Lembro-me de um escritor francês que costumava dizer que un pot de chambre est aussi profond. Mas, falando sério, concordo com os críticos: não sou profundo. Espero que me desculpem.

Clarice Lispector – Quando foi, Erico, que você começou a escrever? E motivado pelo quê?
Erico Verissimo – Em menino, na escola, eu fazia “primorosas” redações. Grau dez. Foi ainda em Cruz Alta, atrás dum balcão de farmácia, que escrevi o primeiro conto. Por quê? Não sei. Aí me lembro que naquele tempo eu ainda pensava que podia ser pintor (acabo de comprar uma caixa de tintas. Pintores do Brasil, alerta!). Meu primeiro livro de histórias – Fantoches – ainda leva a marca de minhas leituras da época: Oscar Wilde, Bernard Shaw e o infalível Anatole France.

Clarice Lispector – Surpreendo-me de nenhum cineasta ter feito um filme baseado em algum de seus livros. Você gostaria de se ver no cinema?
Erico Verissimo – Uma companhia argentina filmou Olhai os lírios do campo em 1946. O retrato foi também transformado num filme, com gente de São Paulo. Nos Estados Unidos, Noite foi “deformado” num teleplay, com Jason Robbards, Franchot Tone e E. G. Marshall. Medonho! Todos os anos recebo propostas de cineastas que querem filmar O Continente. Fica tudo em vagas conversas. Sou péssimo homem de negócios. Detesto discutir contratos e quando discuto saio perdendo.

Clarice Lispector – Sua fama é enorme, Erico. Se eu fosse famosa assim, teria minha vida particular invadida, e não poderia mais escrever. Como é que você se dá com a fama? Eu soube que o ônibus de turistas em Porto Alegre tem como parte do programa mostrar sua casa.
Erico Verissimo – É claro que a “fama” tem um lado positivo – a sensação de que a gente se comunica com os outros passa a existir para milhares de leitores. Não só como autor, através dos personagens, como também como uma espécie de figura mitológica. É engraçado. Essa história do ônibus me encabula muito. Mas eu cultivo a virtude da paciência. E detesto decepcionar os que me procuram, os que me querem conhecer em carne e osso. Minha casa vive de portas abertas. Há noites em que temos de dez a vinte visitantes inesperados. Todas as semanas recebo dezenas de estudantes que querem entrevistar-me, e a gama vai do curso primário ao universitário. Pessoas com casos sentimentais me procuram para desabafar. Empresto-lhes o ouvido, o olho, e não raro uma afetuosa atenção. Frequentemente consigo ajudar realmente um ou outro “paciente”. E isso me alegra. Mas pelo amor de Deus, Clarice, não pense nem deixe que seus leitores imaginem que eu me levo a sério.

Clarice Lispector – Erico, qual foi a sua maior alegria como escritor?
Erico Verissimo – O primeiro livro publicado? O primeiro traduzido? Não sei. Tive e continuo tendo muitas alegrias. Como escritor.

Clarice Lispector – E como homem, qual foi a sua maior alegria?
Erico Verissimo – Os filhos. Os netos.

Clarice Lispector – De onde lhe vem a inspiração para o seu trabalho?
Erico Verissimo – Tenho pensado muito nisso. Não sei de onde vem isso a que chamamos inspiração por falta de melhor palavra.

Clarice Lispector – Você entraria na Academia Brasileira de Letras? Muita gente boa termina lá.
Erico Verissimo – Não. Respeito a Academia, onde vejo muito boa gente. Mas não tenho, nunca tive, a menor vontade de fazer parte da ilustre companhia. Questão de temperamento.

Erico Verissimo - foto: Sérgio Arnaud
Clarice Lispector – Você planeja de início a história ou ela vai se fazendo aos poucos? Eu, por exemplo, acho que tenho um vago plano inconsciente que vai desabrochando à medida que trabalho.
Erico Verissimo – Planejo, mas nunca obedeço rigorosamente ao plano traçado. Os romances (você sabe disso melhor que eu) são artes do inconsciente. Por outro lado, estou quase a dizer que me considero mais um artesão do que um artista. E com isto você compreenderá melhor por que a crítica não me considera profundo.

Clarice Lispector – Você agora percorreu meio mundo com Mafalda. O que foi que mais impressionou você?
Erico Verissimo – A Mafalda. A capacidade que ela tem de me compreender, ajudar, acompanhar e – de vez em quando – dirigir, sem que este teimoso gaúcho serrano dê pela coisa... Herdei de meu avô tropeiro o gosto pelas andanças.
Quero sempre ver o que está pela frente. Mafalda tem alma calma no melhor sentido da palavra. Quer logo estabelecer-se, radicar-se. Mas eu a arrasto para dentro de trens, ônibus e aviões, e lá nos vamos. Gosto principalmente dos países latinos da Europa: França, Itália, Espanha, Portugal... Tenho uma fascinação enorme pela área mediterrânea. A Grécia e Israel me encantaram. Vi recentemente a Tchecoslováquia num dos momentos mais belos de sua história. No momento estou preparando um livro de viagens – pessoas e lugares que encontrei, certos momentos inesquecíveis que vivi – pretexto para falar de pintura, música, paisagens, literatura, problemas humanos, política etc.

Clarice Lispector – Agora que publiquei um livro de história para crianças e outro meu vai sair por esses dias, interesso-me em saber o que você pensa da literatura infantil no nosso país.
Erico Verissimo – Devo dizer que só a semana passada é que li a história do seu coelhinho. Acho que você usou a linguagem adequada. Foi mesmo uma história contada ao Paulinho (que hoje deve ser um Paulão). Eu gostaria de voltar a escrever para crianças. As nossas crianças precisam livrar-se do Superman, do Batman. Mas... que histórias poderíamos contar-lhes nesta hora desvairada? Isto é um assunto para discutir. Nossa literatura infantil ainda é muito pobre.
Mafalda Verissimo, Paulo Gurgel Valente,
Erico Verissimo, Clarice Lispector
e Pedro Gurgel Valente, 1955
- foto: arquivo Clarice Lispector/acervo IMS

Clarice Lispector – Que é que você mais quer no mundo, Erico?
Erico Verissimo – Primeiro, gente. A minha gente. A minha tribo. Os amigos. E depois vêm – música, livros, quadros, viagens... Não negarei que gosto também de mim mesmo, embora não me admire.

ERICO VERISSIMO – O autor de O tempo e o vento e Olhai os lírios do campo foi convidado para substituir Alceu Amoroso Lima na direção do Departamento de Assuntos Culturais da União Pan Americana, em Washington, entre 1953 e 1956. Em companhia da esposa Mafalda e dos filhos Clarissa e Luiz Fernando conviveu com Clarice Lispector e Maury Gurgel Valente. Erico e Mafalda são padrinhos dos filhos de Clarice: Pedro e Paulo Gurgel Valente.



Fonte: 
- LISPECTOR, Clarice. Clarice Lispector entrevistas. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.

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