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Olívio Jekupé e a sua literatura nativa

 
Olívio Jekupe - foto: © Juliana Kümmer

© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske
Por gentileza citar conforme consta no final desse trabalho.

ESBOÇO BIOBIBLIOGRÁFICO DE OLÍVIO JEKUPÉ

Olívio Jekupé, escritor Guarani e ativista, nasceu em 10 de outubro de 1965, em Novo Itacolomi, no Paraná. Mora atualmente na aldeia Krukutu, Parelheiros (SP). Olívio estudou Filosofia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e na Universidade de São Paulo (USP), mas por inúmeras dificuldades não conseguiu concluir o curso, mesmo assim não desanimou, continuou escrevendo e participando de palestras no Brasil e exterior divulgando a cultura indígena e sua literatura nativa.

Começou a escrever poesias no ano de 1984, foi um dos primeiros escritores indígenas a redigir sobre a cultura do seu povo. Entre as suas obras de ficção, podemos encontrar: 'As queixadas e outros contos guaranis'; 'Ekoa - Conhecendo uma Aldeia Indígena'; 'A mulher que virou Urutau'; 'Ajuda do Saci'; 'Verá - O contador de histórias'; 'Xerekó Arandu, a morte de Kretã'; 'Iarandu, o cão falante'. Além dessas, o autor escreveu também não ficção: Literatura escrita pelos povos indígenas; e A invasão.

É presidente da Associação Núcleo dos Escritores e Artistas Indígenas (Nearin) e um dos fundadores da Associação Guarani Nae’en Porã.
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Outros dados biográficos:
ROSA, Francis Mary Soares Correia da.. A menoridade literária em Olívio Jekupé. In: Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, p. 305-327, 2018. Disponível no link e link. (acessado em 3.12.2021).


"A literatura é importante, mas a literatura nativa pode chegar tanto às aldeias quanto às escolas da cidade. Quando chega à cidade, os povos indígenas são mais valorizados, porque o índio é sempre discriminado, desrespeitado, desvalorizado, visto como primitivo. Nós não somos primitivos, somos um povo que tem uma cultura própria que precisa ser respeitada, e, através da literatura, as pessoas começam a entender melhor."
- Olívio Jekupé, em 'entrevista'. In: MACHADO, Ricardo; DORRICO, Julie. Olívio Jekupé e Kunumi MC, duas gerações de uma luta de cinco séculos. In: IHU - On-line, n. 527, 27 de agosto de 2018. 


Olívio Jekupe - foto: ©  Alik Wunder

OBRAS DE OLÍVIO JEKUPÉ

Infanto-juvenil
:: Arandu Ymanguaré. Olívio Jekupé. [ilustrações Theo Siqueira]. São Paulo: Evoluir Cultural, 2002.
:: O Saci verdadeiro. Olivio Jekupe. Londrina: Eduel, 2002.
:: Iarandu, o cão falante. Olívio Jekupé. [ilustrações Olavo Ricardo]. São Paulo: Editora Peirópolis, 2002. {Indicado na Bibliografia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil, Vol. 13 - 2002}.
:: Xerekó Arandu: a morte de Kretã. Olívio Jekupé. São Paulo: Editora Peirópolis, 2003.
:: Verá - O contador de histórias. Olívio Jekupé[ilustrado pelas crianças Guarani; coleção coordenada por Daniel Munduruku]. Coleção Memorias Ancestrais. São Paulo: Peirópolis, 2005.
:: Ajuda do Saci. Olívio Jekupé. [ilustrações Rodrigo Abrahim]. São Paulo: Panda Books, 2006.
:: Tekoa - Conhecendo uma aldeia indígena. Olívio Jekupé. [ilustrações Mauricio Negro]. Coleção Muiraquitãs. São Paulo: Global Editora, 2011.
:: O Tupã mirim: pequeno guerreiro. Olívio Jekupé. [ ilustrações Carla Irusta]. São Paulo: LeYa, 2014.
:: O presente de Jaxy JaterêOlívio Jekupé. [ilustrações Fran Junqueira; texto em guarani Werá Jeguaká Mirim]. São Paulo: Panda Books, 2017.
:: A volta de Tukã. Olívio Jekupé. [editor Evandro Rhoden; ilustrações Osvaldo Piva]. Editora Kazuá, 2018.
:: O Saci verdadeiro. Olivio Jekupe. [ilustrações Stefano Lolli]. São Paulo: Panda Books, 2021.

Poesia
:: 500 Anos de angústia. Olívio Jekupé.  1ª ed., 1999; São Paulo: Scortecci Editora, 2015.

Em parceria - infanto-juvenil
:: A mulher que virou Urutau. Olívio Jekupé e Maria Paulina Kerexu. [ilustrações Taisa Borges; texto em Guarani Jera Giselda]. Edição bilíngue guarani/português. São Paulo: Panda Book, 2011.

Ensaio
:: Literatura escrita pelos povos indígenas. Olívio Jekupé. São Paulo: Scortecci Editora, 2009.
:: A invasão. Olívio Jekupé. São Paulo: Editora Urutau, 2020.

Coletivo
:: Literatura nativa em família. Olívio Jekupe e família. São Paulo:  Editora Cintra, 2020.
:: Kunumi Mc - O guerreiro da copa e suas músicas. Olivio Jekupé, Werá Jeguaká Mirim e Kunumi MC. São Paulo:  Editora Cintra, 2021.

Organização
:: As queixadas e outros contos guaranis. 'Contos' [organização Olívio Jekupé; ilustrações Fernando Vilela]. Coleção Aquarela. FTD, 2013. 
:: Im Flug der Harpyie: Indigene Poesie und Prosa aus dem brasilianischen Regenwald. [eerausgeber/editores Dorothea Nürnberg und Olivio Jekupé; übersetzung/tradução Erika Maria Heiss Lopes]. Edição bilíngue português/alemão. Loecker Erhard Verlag, 2015.

Em antologia
:: Escritos Indígenas - uma antologia. Editora Cintra, 2013. {autores: Yaguarê Yamã, Graça Graúna, Olívio Jekupê, Nilson Karaí, Giselda Jerá, Roni Wasiry Guará, Lia Minápoty, Aladair Marauáh, Uziel Guaynê e Tiago Hakiy}
:: LEETRA Indígena. [editorial Maria Sílvia Cintra Martins; apresentação Daniel Mundurukuv]. 2, n. 2.  São Carlos: UFSCAR / Revista do Laboratório de Linguagens - LEETRA, 2013. {Olhares indígenas/ autores presentes: Ademário Payayá, Ailton Krenak, Aurilene Tabajara, Caimi Waiassé Xavante, Cristino Wapichana, Daniel Munduruku, Edson Kayapó, Edson Krenak, Eliane Potiguara, Elias Yaguakag, Jaime Diákara, Jerá Giselda, Lia Minapoty, Manoel Fernandes Moura, Naine Terena, Olivio Jekupé, Roni Wasiry Guará, Rosi Waikhon Severia Idoriê, Tiago Haki'y, Uziel Guaynê, Verônica Manauara, Yaguarê Yamã; Outros olhares: Antônio Fernandes Góes Neto, Raphael Crespo}. Disponível no link. (acessado em 23.1.2023). 

Em antologias estrangeiras
:: La Première Femme du Monde: Contes Indiens et Chamanes du Brésil. [tradução Florence Breton, Martha Gambini]. I Éditions, 2018. {autores presentes: Tiago Hakiy, Jaime Diakara, Aldair Marauáh, Uziel Guaynê, Roní Wasiry Guará, Yaguarê Yamã, Olívio Jekupê, Nilson Karaí, Marcos Tupã, Giselda Jerá e Fatima Kerexu}.

Ensaios, contos e poemas em revistas, jornais e sites
:: "O lamento do Urutau", conto de Olívio Jekupé e Maria Paulina Kerexu. In: Revista Índio nº 1, p. 57 - 2011. Disponível no link. (acessado em 3.12.2021).
:: Literatura nativa escrita por índiosOlívio Jekupé. In: Leetra Indígena, São Carlos, v. 1, n. 1, 2012.

"Nossos filhos sempre ouviram histórias. Só que antes, os livros eram os pajés. Graças aos antigos é que temos nossa história viva. Digo que o povo indígena sempre foi escritor, só que não sabia escrever. Hoje, a criança escuta, mas ela também lê"
- Olívio Jekupé.


Olívio Jekupe - foto: © acervo pessoal

FORTUNA CRÍTICA DE OLÍVIO JEKUPÉ

ALVES, Érica Fernandes; ALVES, Elizandra Fernandes. A Literatura Infanto-Juvenil Nativa do Brasil: Apropriação e Representação Cultural em Textos de Olívio Jekupé. In: Maria Carolina de Godoy; Susylene Dias de Araujo. (Org.). Novas Vozes na Literatura Infantil e Juvenil. 1ª ed., São Paulo: Todas as Musas, 2020, v. , p. 95-116.
BRANDES, Silvely. Diálogos interculturais na literatura indígena contemporânea: Uma pesrspectiva bakhtiniana (Dissertação Mestrado em Linguagem, Identidade e Subjetividade). Universidade Estadual de Ponta Grossa, UEPG, 2017. Disponível no link. (acessado em 3.12.2022).
BRANDILEONE, Ana Paula Franco Nobile; VALENTE, Thiago Alves. Literatura indígena para crianças: o desafio da interculturalidade. In: Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, n. 53, jan-abril 2018. Disponível no link. (acessado em 3.12.2021).
COSTA, Rodrigo. Estrangeiros em própria terra: uma reflexão sobre filosofia na América Latina a partir da questão indígena. In: Problemata: Revista Internacional de Filosofia, João Pessoa, esp., p. 151-171, 2015. Disponível no link. (acessado em 3.12.2021).
DANNER, Leno Francisco; DORRICO, Julie; CORREIA, Heloisa Helena Siqueira; DANNER, Fernando (Orgs.). Literatura indígena brasileira contemporânea: criação, crítica, recepção. [prefácio Ana Lúcia Liberato Tettamanzy]. 1ª ed., Porto Alegre: Editora Fi, 2018. Disponível no link. (acessado em 7.12.2021).
DIÁLOGO. Filhos da mãe-terra. In: Diálogo - religião e cultura, Paulinas, São Paulo, 5.9.2018. Disponível no link. (acessado em 3.12.2021).
DORRICO, Julie. A Literatura Indígena tem o Papel de Conscientizar a Sociedade – Entrevista com Olívio Jekupé. In: Revista Acrobata, 20 de março de 2020. Disponível no link. (acessado em 3.12.2021).
ENTREVISTA. Olivio Jekupe...Como as Comunidades Indígenas estão se protegendo do Coronavírus. In: Atitude Social Já, 17.4.2020. Disponível no link. (acessado em 3.12.2021).
FERNANDES, Célia Regina Delácio; TROQUEZ, S. F. S.. A literatura nativa de Olívio Jekupé: conhecendo outros mundos. In: Interletras, Dourados, v. 9, p. 1-15, 2021.
FL. Índio contesta o descobrimento. In: FL - Folha de Londrina, 7 de maio de 1999. Disponível no link. (acessado em 3.12.2021).
GIACOMO, Fred Di. Breve história da literatura indígena contemporânea: pioneiros. In: Uol - Ecoa, 23.7.2020. Disponível no link. (acessado em 3.12.2021).
GRAÚNA, Graça. Contrapontos da literatura indígena contemporânea no Brasil. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2012.
GRAÚNA, Graça. Contrapontos da Literatura indígena contemporânea no Brasil. (Tese Doutorado em Letras). Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, 2003.
GRAÚNA, Graça. Indianidade/outridade em Olívio Jekupé. In: Literatura nativa, 13 de dezembro de 2007. Disponível no link. (acessado em 3.12.2021).
MACHADO, Ricardo; DORRICO, Julie. Olívio Jekupé e Kunumi MC, duas gerações de uma luta de cinco séculos. In: IHU - On-line, n. 527, 27 de agosto de 2018. Disponível no link. (acessado em 3.12.2021).
MARTHA, Alice Áurea Penteado. Olívio Jekupé: identidade indígena na produção contemporânea de literatura infanto-juvenil paranaense. In: MARTHA, Alice Áurea Penteado; VALENTE, Thiago Alves (Org.). Produção cultural paranaense para crianças. Assis: Cultura Acadêmica, 2016. 
LISBOA, Paulo Victor Albertoni. As obras de Jekupé - um escritor Guarani. Coleção Antrologia e Sociologia. São Paulo: Appris Editora, 2019.
LISBOA, Paulo Victor Albertoni. A generosidade e suas refrações na oratura Guarani. (Tese Doutorado em Antropologia Social). Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, 2020.
LISBOA, Paulo Victor Albertoni. O escritor jekupé e a literatura nativa. (Dissertação Mestrado em Antropologia Social). Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, 2015.  
LISBOA, Paulo Victor Albertoni. Ocupar territórios imaginários: a narrativa ficcional de Olívio Jekupé. In: Tempo da Ciência (UNIOESTE), v. 24, p. 68-75, 2017. Disponível no link. (acessado em 3.12.2021).
LISBOA, Paulo Victor Albertoni. A ficção guarani emergente de Olívio Jekupé. In: Suplemento Antropológico, v. 32, p. 117-178, 2017. Disponível no link. (acessado em 3.12.2021).
PINDORAMA. Olívio Jekupé: entrevista. In: Terras Indígenas no Brasil, 24.2.2015. Disponível no link. (acessado em 3.12.2021).
ROSA, Francis Mary Soares Correia da.. Tekoá: A literatura nativa e suas linhas de fuga. (Dissertação Mestrado em Crítica Cultural). Universidade do Estado da Bahia, UNEB, 2016.
ROSA, Francis Mary Soares Correia da.. A menoridade literária em Olívio Jekupé. In: Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, p. 305-327, 2018. Disponível no link e link. (acessado em 3.12.2021).
ROSA, Francis Mary Soares Correia da.. Espelho de duas faces: a literatura indígena de Olívio Jekupé na produção de alteridades sobre o não-índio. In: Revista Crioula (USP), v. 2, p. 30-45, 2014. Disponível no link. (acessado em 3.12.2021).
ROSA, Francis Mary Soares Correia da.. Devir-Menor, Devir-Onça? a menoridade literária em Olívio Jekupé. In: Silva, Cintia Vieira da; Duarte, Pedro.. (Org.). Estética. 1ª ed., São Paulo: Coleção XVII Encontro ANPOF, 2017, v. XVII, p. 250-270.
ROSA, Francis Mary Soares Correia da.. Olívio Jekupé: Etnia e tradição na escrita de um povo. [entrevista]. In: Revista Pontos de Interrogação, Alagoinhas, p. 166 - 171, 26 out. 2015. Disponível no link. (acessado em 3.12.2021).
ROSA, Francis Mary Soares Correia da.. Tekoá: a literatura nativa e suas linhas de fuga. In: Seminário Interlinhas, v.2, n. 2., 2014. Disponível no link. (acessado em 3.12.2021).
STACCIARINI, Letícia Santana. Estudo do espaço narrativo em obras de autores indígenas brasileiros para o público infantil. (Tese Doutorado em Estudos Literários). Universidade Federal de Uberlândia, UFU, 2022. Disponível no link. (acessado em 25.1.2023).
TROQUEZ, Sonia Ferreira dos Santos. Literatura nativa: análise das obras Ajuda do saci kamba'i e O saci verdadeiro de Olívio Jekupé. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal da Grande Dourados, UFGD, 2021. Disponível no link. (acessado em 8.2.2023).

Olívio Jekupe - foto: © Luana Fortes

OLÍVIO JEKUPÉ NA REDE

:: E-mail: oliviojekupe@yahoo.com.br 



© Direitos reservados ao autor/e ou ao seus herdeiros

© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske


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Trabalhos sobre o autor:
Caso, você tenha algum trabalho não citado e queira que ele seja incluído - exemplo: livro, tese, dissertação, ensaio, artigo - envie os dados para o nosso "e-mail de contato", para que possamos incluir as referências do seu trabalho nesta pagina. 


COMO CITAR:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Olívio Jekupé e a sua literatura nativa. In: Templo Cultural Delfos, fevereiro/2023. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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Página atualizada em 8.2.2023.
** Página original DEZEMBRO/2021.





Direitos Reservados © 2023 Templo Cultural Delfos

Márcia Wayna Kambeba - ecos de ancestralidade

 
Marcia Kambeba - foto: © Nícolas Noel

© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske
Por gentileza citar conforme consta no final desse trabalho.

"Nasci na Uka sagrada
Na mata por tempos vivi
Na terra dos povos indígenas
Sou Wayna, filha de Aracy"
- Márcia Kambeba, em "Ay kakyri 
Tama". Pólen, 2018. 


ESBOÇO BIOBIBLIOGRÁFICO DE MÁRCIA WAYNA KAMBEBA

Márcia Wayna Kambeba é indígena, do povo Omágua/Kambeba no Alto Solimões (AM). Nasceu na aldeia Belém do Solimões, do povo Tikuna. Mora hoje em Belém (PA) e é mestra em Geografia pela Universidade Federal do Amazonas. Atualmente, está cursando doutorado em Linguística na UFPA. Escritora, poeta, compositora, fotógrafa e ativista.

Em sua luta na literatura e na música, aborda, sobretudo, a identidade dos povos indígenas, territorialidade e a questão da mulher nas aldeias. Em 2013, lançou o seu primeiro livro "Ay Kakyri Tama", que reúne textos poéticos e fotografias da vivência do seu povo dentro das cidades.

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Marcia Kambeba - foto: ©Carlos Araújo

OBRA DE MÁRCIA WAYNA KAMBEBA


Poesia e crônicas
:: Ay kakyri Tama - Eu moro na cidade. Márcia Wayna Kambeba. [apresentação Benedito Maciel]. Manaus: Grafisa Gráfica e Editora, 2013; Editora Pólen, 2ª ed., 2018. 
:: Kumiça Jenó: Narrativas Poéticas dos Seres da FlorestaMárcia Wayna Kambeba. Flórida: Underline Publishing LLC, 2021.

Educação - ensaio e poesia
:: Saberes da florestaMárcia Wayna Kambeba. [prefácio Julie Dorrico]. Coleção Insurgências. São Paulo: Editora Jandaíra, 2020.
:: O lugar do saber ancestralMárcia Wayna Kambeba. [prefácio Aloir Pacini]. Série Saberes Tradicionais, v. 1; São Leopoldo: Casa Leiria, 2020; São Paulo: Uk'a Editorial, 2021. Disponível no link. (acessado 1.12.2021).

Dissertação e ensaios
:: Reterritorialização e identidade do povo Omágua- Kambeba na aldeia Tururucari- Uka. Márcia Vieira da Silva/Márcia Wayna Kambeba. (Dissertação Mestrado em Geografia). Universidade Federal do Amazonas, UFAM, Manaus, 2012. Disponível no link. (acessado em 2.12.2021).
:: As culturas dos povos indígenas, política e religiãoMárcia Wayna Kambeba. In: RIBEIRO, Cláudio de Oliveira; TOSTES, Angelica (Org.). Religiões e Intervenção Política: múltiplos olhares. São Paulo: Editora Recriar, 2020.
:: Literatura indígena: da oralidade à memória escritaMárcia Wayna Kambeba. In: DORRICO, Julie; DANNER, Leno Francisco; CORREIA, Heloisa Helena; DANNER, Fernando (Org.). Literatura indígena brasileira contemporânea: criação, crítica e recepção. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2018. Disponível no link. (acessado em 2.12.2021).

Depoimento
:: Márcia Kambeba – culturas indígenas. In: Itaú Cultural, 22.9.2017. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).

Em antologias, seletas e coletâneas (participação)
:: Memória da mãe terra. (organização Maria Pankararu, Fernanda Martins, Joana Brandão Tavares, Gabriela Saraiva de Mello, Potyra Tê Tupinambá e Sebastián Gerlic). São Paulo: Thydwá, 2014. {autores presentes: Arian Pataxó, Naine Terena, Manoel Moura Tukano, Yracerê Xucuru-Kariri, Nazaré Pankararu, Joarez Karapotó, Atiã Pankararu, Edson Kayapó, Ararawã Baenã Hãhãhãe, Maya Pataxó Hãhãhãe, Ítala Xokó, Elyzama Xokó, Franklin Xokó, Yatan Xokó, Karine Xokó, Reginaldo Kanindé, Nhenety Kariri-Xocó, Alexsandro Potiguara, Maike Witxô Fulni-ô, Joel Braz Pataxó, Bu’ú Tukano, Nynhã Gwarini Tupinambá, Jamopoty Tupinambá, Katu Tupinambá, Casé Angatu, Veronica Manaura, Márcia Wayna Kambeba}
:: Nós da poesia: vozes da rua. [organização Brenda Marques Pena]. São Paulo: All Print Editora, 2014.
:: 
Cult Antologia Poética: Poemas para ler antes das notícias. [curadoria Alberto Pucheu; projeto gráfico Fernando Saraiva]. Ebook. Editora Bregantini, 2019. {participam os poetas: André Luiz Pinto, Tatiana Pequeno, Danielle Magalhães, Bruna Mitrano, Luiz Guilherme Barbosa, Heitor Ferraz, Diego Vinhas, Tarso de Melo, Antônio Moura, Piero Eyben, Jarid Arraes, Heleine Fernandes, Paulo Ferraz, Carlos de Assumpção, Cuti, Lubi Prates, Conceição Evaristo, Nina Rizzi, Eliane Potiguari, Marcia Wayna Kambeba, Josoaldo Lima Rêgo, Reuben, Horácio Costa, Cláudio Oliveira, Natasha Felix, Helena Zelic, Tertuliana Lustosa, Catia Cernov, Bruno Domingues Machado, Pieta Poeta, Letícia Brito, Marcelo Diniz | artistas: PV Dias, Pedro Lemos, Marcelo D'Salete, Marilia Marz, Thiago TeGui, Bea Corradi, Guilhermina Augusti}.
:: Sensibilidade. 11ª Antologia da Academia Formiguense de Letras. [organização Paulo José de Oliveira]. Rio de Janeiro: Letras e Versos, 2019. 
:: Elas e as letras: diversidade e resistência. [organização Aldirene Máximo e Jullie Veiga; prefácio Alexandra Patrocínio; apresentação Rita Queiroz; homenagem Eliane Potiguara]. Versejar Edições Literárias, 2019. {autoras/ meu lugar de fala: Catita, Lana Nóbrega, Márcia Wayna Kambebaescritoras convidadas: Catita, Diedra Roiz, Lana Nóbrega, Luiza Lemos, Márcia Wayna Kambeba, Neide Almeida| elas e as letras: Adriana Santiago, Alexandra Jacob, Alexia Tunkis, Aline Venâncio, Ana Raquel Fernandes, Ana Sabina, Beatrice Medrado, Carol Gaertner, Claudirene Favarin, Cleonice Alves Lopes-Flóis, Clevane de Araújo Lopes, Coral Michelin, Cristina Serrano, Daniela Tertuliano, Edvânia  Rodrigues, Edy Justino, Elza Helena, Fabiane Rodrigues da Silva, Glauce Cristine Cacau, Iara Gregnani, Iriane da Costa, Itaciana Kaline, Jeovânia P., Jô Viana, Juliana dos Santos, Juliana Graminho, Julie Lua, Laryssa Frezze e Silva, Letícia Gerola, Liliana Ripardo, Lu Dallabrida, Luiza Rodrigues, Maria Teresa Moreira, Marjorie Carvalho, Mila Lopes, Nina Balbi, Palmira Heine, Priscilla Hingred, Reginalva Alves, Rute Beserra, Sandra Modesto, Sandra Sampaio, Sigridi Borges, Silvinha Rabone, Sophia Vargas, Teresinha Nascimento, Vanessa Maia, Yasmim Honorato Izidoro | participações especiais: Alexandra Patrocínio, Angelita Alves, Josielma Ramos, Lindevania Martins, Mohine Yamir, Rita Queiroz, Tânia Diniz}.
:: Poesia indígena hoje: resiliência. [organização Beatriz Azevedo e Julie Dorrico]. Dossiês 1. Revista p-o-e-s-i-a, n. 1 . 2020. {“Cardumes poéticos” - conta com participação de: Ailton Krenak, Aline Pachamama (puri), Auritha Tabajara, Ãtekáy (pataxó), Eliane Potiguara, Edson Krenak, Graça Graúna (potiguara/RN), Gustavo Caboco (wapichana), Ian Wapichana, Itayná Ranny Tuxá, Jamile Nunes (parintintim), Juliana Kerexu (guarani), Julie Dorrico (makuxi), Marcia Mura, Marcia Kambeba, Olivio Jecupé (guarani), Renata Machado (Tupinambá), Tiago Hakiy (mawé), Yaguaré Yamã (sateré-mawé) e Zélia Balbina (puri) | ensaios “Sementes” - conta com participação de: Daniel Munduruku, Fernanda Vieira (xocó/SE), Geni Ñunez (guarani), Jaider Esbell (makuxi), Kaka Werá (Tapuia) e Maria Elis Nunc-Nfôonro (xokleng)}. Disponível no link. (acessado em 2.12.2021).
:: Geração 2010 – O sertão é o mundo. [organização Fred Di Giacomo; orelhas do livro Marçal Aquino; editor Marcelo Nocelli]. São Paulo: Editora Reformatório, 2020. {autores presentesAilton Krenak, Bruno Ribeiro, Débora Ferraz, Franklin Carvalho, Fred Di Giacomo, Gilvan Eleutério, Isabor Quintiere, Itamar Vieira Junior, Jarid Arraes, Julie Dorrico, Krishna Monteiro, Mailson Furtado, Marcelo Maluf, Marcia Kambeba, Maria Fernanda Elias Maglio, Maria Valéria Rezende, Mariana Basilio, Maya Falks, Micheliny Verunschk, Monique Malcher, Nara Vidal, Natalia Borges Polesso, Raimundo Neto, Santana Filho e Victor Guilherme Feitosa}.
:: Ato poético: Poemas pela democracia. São Paulo: Oficina Raquel, 2020. {autores presentes: Marcia Tiburi, Luis Maffei, MC Carol, Rita Isadora Pessoa, Clarissa Macedo, Horácio Costa, Patrícia Porto, Manoel Ricardo de Lima, Tarso de Melo, Dora Dacosta, Carla Andrade, Zé Luiz Rinaldi, Rodrigo Garcia Lopes, Wanda Monteiro, Elves França, Haroldo Ceravolo Sereza, Carlos Orfeu, Dani Balbi, Alice Ruiz, Thiago Rodrigues, Wilson Alves-Bezerra, Adriane Garcia, Bruna Kalil Othero, Evando Nascimento, Luciany Aparecida, Ismar Tirelli Neto, Leonardo Gandolfi, Paula Glenadel, Natasha Felix, Guilherme Gontijo Flores, Bruna Mitrano, Armando Freitas Filho, Ricardo Vieira Lima, Ana Chiara, Adalberto Müller, Camila Assad, Flavia Rocha, Marcelo Reis de Melo, Priscilla Campos, Márcia Wayna Kambeba, Renato Rezende, Talles Azigon, Tatiana Pequeno, Júlio Machado, Mariano Marovatto, Nina Rizzi, Rafael Zacca, Masé Lemos, .rômulo-silva, Annita Costa Malufe, Hélio de Assis, Maiara Gouveia, Claudio Daniel, Jussara Salazar, Leonardo Tonus, Paulo Franchetti, Ana Kiffer, Sérgio Nazar David, Paloma Franca Amorim, Eliza Araújo, Marcos Siscar, Heleine Fernandes, Roberta Ferraz, Janice Caiafa, Ana Cristina Joaquim, Ronaldo Cagiano, Danielle Magalhães, Rafaela Figueiredo, Leila Danziger, Éle Semog, Beatriz Azevedo, Marcelo Sandmann}.
:: Cartas para o Bem Viver. [organização Suzane Lima Costa e Rafael Xucuru-Kariri]. Salvador: Boto-Cor-de-Rosa Livros, Arte e Café, 2020. {autores presentes: Ailton Krenak, Sônia Guajajara, Gersem Baniwa, Juvenal Payayá, Graça Graúna, Marcia Kambeba, Denilson Baniwa, Rafael Xucuru-Kariri, Jerry Matalwê, José Carlos Tupinambá, Taquari Pataxó, Eloá Kastelie, Rosenilda Luciano, Angela Mendes, Rubelise da Cunha, Cristina Araripe Fernandes, John Antón Sánchez, Aparecida Vilaça, Fábio Merladet, Ricardo Piera Chacón, Milena Britto, Rosinês Duarte, Maria Vanessa, Deise Queiroz, Thaiane Pinheiro, Tim Ingold, Bernd Reiter, Stéphane Pujol, Paloma Vidal, Arami Marschner, Joseley Francisco de Souza, Antônio Marcos Pereira, Alexandre San Goes, Joseane Maytê Sousa, Suzane Lima Costa, Irene Maria, Joseli dos Reis Querino, Lucien Azevedo, Fernanda Mota Pereira, Roberto Sobral, Maria Rosário de Carvalho, Nego Bispo, Diosmar Filho, Kandya Obezo Casseres, Beth Rangel, Alvanita Almeida Santos, Ramon Fontes, Felipe Milanez, Amanda Marina Batista, Leandro Durazzo}. Disponível no link. (acessado em 2.12.2021).
:: Letras: poemas que encantam o povo paulivense. Antologia Poética. [organização Lizandro Barbosa]. Quirinópolis: Editora IGM, 2020.
:: (Entre Parentes): Narrativas Indígenas Ilustradas [curadoria Daniel Munduruku e Mauricio Negro]. Sesc Osasco/Sesc SP, 2022. {autores - textos: Rosi Waikhon, Kamuu Dan Wapichana, Kanátyo Pataxoop, Auritha Tabajara, Ariabo Kezo, Márcia Wayna Kambeba, Lucia Morais Tucuju, Jaime Diakara Dessana, Juvenal Payayá, Eliane Potiguara, Vãngri Kaingáng, Darlene Yaminalo Taukane // autores - ilustrações: Alexandra Tupi Krenak, Gustavo Caboco, Dona Liça Pataxoop, Carmézia Emiliano, Cleomar Myahu Tan Huare, Ibã Huni Kuin, Uziel Guaynê, Jonas Estevam Malakuiawá, Bu´u Kennedy, Denilson Baniwa, Moara Tupinambá, Arissana Pataxó, Naine Terena}. Disponível no link. (acessado em 28.1.2023).
:: Apytama: floresta de histórias. [organização Kaka Wera; ilustações Digo Cardoso]. Coleção Veredas. Editora Moderna, 2023. {autores presentes: Daniel Munduruku, Kaká Werá, Cristino Wapichana, Ademario Ribeiro Payayá, Tiago Hakiy, Edson Kaiapó, Auritha Tabajara, Trudruá Dorrico e Márcia Kambeba}.

Outras participações 
:: Calendário Vozes Antirracistas 2023. [organização Camila Oliveira, Carolline Sotero, Graziele Vidal; revisão Aline Lobo]. Edição: @awaeducadoras {autores presentes: Alaíde Costa - Aza Njeri - Waldete Tristão - Celia Xakriabá - Taís Espírito Santo - Denilson Baniwa - Carol Adesewa - Yaguarê Yamã - Lucas Veiga - Adriana Corrêa - Kiusam de Oliveira - Marcia Kambeba}. Disponível no link. (acessado em 1.3.2023) || *Conheça o projeto "Àwa - Educação antirracista". aqui!


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Marcia Kambeba - foto: © Arquivo pessoal

UMA SELETA DE POEMAS DA POETA MÁRCIA WAYNA KAMBEBA


ÁRVORE DA VIDA
Sany uny yuçuca tana may-sangara Kambeba!

Tradução:

Vem água, banha nossa alma Kambeba!

No despertar da aurora,
No mito de criação,
Na gota que traz a vida,
De um povo, de uma nação.

Batendo na samaumeira
Caindo feito algodão,
Pro colo do grande rio
Que num sopro de criação,
Dá vida ao “índio” guerreiro,
E a mulher, sua paixão.

Assim para o povo Omágua
A samaumeira tem a função,
De mãe das grandes árvores,
De cura e proteção,
E pelo indígena é cultuada,
Essa gigante, mãe amada,
Na dança nativa, dos povos irmãos.
- Márcia Kambeba, no livro "Ay kakyri Tama - Eu moro na cidade". Grafisa Gráfica e Editora, 2013.

§§

AY KAKUYRI TAMA
(Eu Moro na Cidade)

Ay kakuyri tama.
Ynua tama verano y tana rytama.
Ruaia manuta tana cultura ymimiua,
Sany may-tini, iapã iapuraxi tanu ritual.

Tradução:

Eu moro na cidade
Esta cidade também é nossa aldeia,
Não apagamos nossa cultura ancestral,
Vem homem branco, vamos dançar nosso ritual.

Nasci na Uka sagrada,
Na mata por tempos vivi,
Na terra dos povos indígenas,
Sou Wayna, filha da mãe Aracy.

Minha casa era feita de palha,
Simples, na aldeia cresci
Na lembrança que trago agora,
De um lugar que eu nunca esqueci.

Meu canto era bem diferente,
Cantava na língua Tupi,
Hoje, meu canto guerreiro,
Se une aos Kambeba, aos Tembé, aos Guarani.

Hoje, no mundo em que vivo,
Minha selva, em pedra se tornou,
Não tenho a calma de outrora,
Minha rotina também já mudou.

Em convívio com a sociedade,
Minha cara de “índia” não se transformou,
Posso ser quem tu és,
Sem perder a essência que sou,

Mantenho meu ser indígena,
Na minha Identidade,
Falando da importância do meu povo,
Mesmo vivendo na cidade.
- Márcia Kambeba, no livro "Ay kakyri Tama - Eu moro na cidade". Grafisa Gráfica e Editora, 2013.

§§

CABOCLO RIBEIRINHO
Ao som do banzeiro do rio
As canoas vem, as canoas vão.

É o caboclo ribeirinho,
Que luta pelo seu sustento, pelo seu pão
Ele rema, joga a sua malhadeira
Esperando pegar um bom pirarucu
Ou um grande pirabutão.

Ao som da melodia dos pássaros,
Que voam em sua direção,
Ele segue o seu caminho,
Observando o horizonte,
que está além do alcance de sua mão.
Ao som do banzeiro do rio

As canoas vem, as canoas vão.

É o caboclo ribeirinho,
Que vive a vida com emoção,
Em meio ao verde e à margem do rio,
Cultiva a vida, sem muita preocupação.

Seu convívio em meio a natureza,
Fez dele um grande conhecedor,
Sabe os segredos da fauna e da flora,
Dom de Deus, o nosso criador,
Que se revela no entardecer da aurora.

Ao som do banzeiro do rio
As canoas vem, as canoas vão!
- Márcia Kambeba, no livro "Ay kakyri Tama - Eu moro na cidade". Grafisa Gráfica e Editora, 2013.

§§

NATUREZA EM CHAMA
Na terra sagrada
Que TUPÃ criou,
Do seio materno
Se ouve o clamor,
Da mãe natureza
Sofrendo de dor.

O fogo ardente,
Ao longe se vê,
Queimando a mata
Sem Q, nem porquê,
As folhas se torcem
Querendo viver.

No solo desnudo,
Os restos mortais,
Do verde da vida
E dos animais,
Queimados, sofridos
Em cinzas reais.

Dos gritos agudos
Se ouve o clamor,
Do fruto ardendo
Na chama, no calor,
Ceifado, perdido,
O fogo o calou.

Dos olhos tristes,
Uma lágrima cai,
O lamento de dor
Com o vento se vai,
Varrendo o chão,
Varrendo o chão! 
- Márcia Kambeba, no livro "Ay kakyri Tama - Eu moro na cidade". Grafisa Gráfica e Editora, 2013.

§§

OS FILHOS DAS ÁGUAS DO SOLIMÕES 
A água é a mãe que sustenta,
A vida que nasce como flor
Alimenta a planta e o ser vivente,
É estrada por onde anda o pescador.

Na enchente, vem veloz e furiosa,
Derrubando ribanceiras, destruindo a plantação,
Afeta a vida do indígena e ribeirinho,
é um ciclo, que se renova a cada estação.

Na vazante o rio quase some.
A praia começa a surgir,
A água, agora bem calminha,
Não tem forças para a roça destruir.

Nas margens de um rio em formação,
Vive um povo que a água fez nascer,
Em um parto de dor e emoção,
A VÁRZEA, o Kambeba escolheu pra viver.

Mas em um contato fatal,
Com um povo mais socializado,
Fez dos herdeiros das águas,
Um povo desaldeado,

Tomando seu solo sagrado,
Sem dor, piedade ou compaixão,
Os Kambeba foram escravizados,
Apresentados a “civilização”.
Exploraram a sua força,
Forjando uma falsa proteção.
- Márcia Kambeba, no livro "Ay kakyri Tama - Eu moro na cidade". Grafisa Gráfica e Editora, 2013.

§§

SER INDÍGENA – SER OMÁGUA
Sou filha da selva, minha fala é Tupi.
Trago em meu peito,
as dores e as alegrias do povo Kambeba
e na alma, a força de reafirmar a
nossa identidade
que há tempo fico esquecida,
diluída na história
Mas hoje, revivo e resgato a chama
ancestral de nossa memória.

Sou Kambeba e existo sim:
No toque de todos os tambores,
na força de todos os arcos,
no sangue derramado que ainda colore
essa terra que é nossa.
Nossa dança guerreira tem começo,
mas não tem fim!
Foi a partir de uma gota d’água
que o sopro da vida
gerou o povo Omágua.
E na dança dos tempos
pajés e curacas
mantêm a palavra
dos espíritos da mata,
refúgio e morada
do povo cabeça-chata.

Que o nosso canto ecoe pelos ares
como um grito de clamor a Tupã,
em ritos sagrados,
em templos erguidos,
em todas as manhãs!
- Márcia Kambeba, no livro "Ay kakyri Tama - Eu moro na cidade". Grafisa Gráfica e Editora, 2013. 

§§

SILÊNCIO GUERREIRO
No território indígena,
O silêncio é sabedoria milenar,
Aprendemos com os mais velhos
A ouvir, mais que falar.

No silêncio da minha flecha,
Resisti, não fui vencido,
Fiz do silêncio a minha arma
Pra lutar contra o inimigo.

Silenciar é preciso,
Para ouvir com o coração,
A voz da natureza,
O choro do nosso chão,

O canto da mãe d’água
Que na dança com o vento,
Pede que a respeite,
Pois é fonte de sustento.

É preciso silenciar,
Para pensar na solução,
De frear o homem branco,
Defendendo nosso lar,
Fonte de vida e beleza,
Para nós, para a nação!
- Márcia Kambeba, no livro "Ay kakyri Tama - Eu moro na cidade". Grafisa Gráfica e Editora, 2013.

§§

TANA KANATA AYETU
(Nossa Luz Radiante)

Tuyuca com sua magia,
Um canto se faz ecoar,
Com a orquestra dos passarinhos
A música paira no ar,
Mas, é preciso sensibilidade,
Para a melodia escutar.

Nas escala musical
O roxinol vem nos mostrar,
Sua voz graciosa,
Que unida ao sabiá,
Formam uma dupla harmoniosa,
E com suavidade, nossa vida vem alegrar.

E diante de tanta beleza,
Deste solo verde e marrom,
Convivem os povos indígenas
Dividindo os bens em comum,
E com a força da natureza,
Deus mostra sua realeza,
Na presença de Tana Kanata Ayetu.
- Márcia Kambeba, no livro "Ay kakyri Tama - Eu moro na cidade". Grafisa Gráfica e Editora, 2013.

§§

TERRTÓRIO ANCESTRAL
Maá munhã ira apigá upé rikué
Waá perewa, waá yuká
Waá munhã maá putari.

Tradução:

O que fazer com o homem na vida,
Que fere, que mata,
Que faz o que quer.

Do encontro entre o “índio” e o “branco”,
Uma coisa não se pode esquecer,
Das lutas e grandes batalhas,
Para terra o direito defender.

A arma de fogo superou minha flecha,
Minha nudez se tornou escandalização,
Minha língua foi mantida no anonimato,
Mudaram minha vida, destruíram o meu chão.

Antes todos viviam unidos,
Hoje, se vive separado.
Antes se fazia o Ajuri,
Hoje, é cada um para o seu lado.

Antes a terra era nossa casa,
Hoje, se vive oprimido.
Antes era só chegar e morar,
Hoje, nosso território está dividido.

Antes para celebrar uma graça,
Fazia um grande ritual.
Hoje, expulso da minha aldeia,
Não consigo entender tanto mal.

Como estratégia de sobrevivência,
Em silêncio decidimos ficar.
Hoje nos vem a força,
De nosso direito reclamar.
Assegurando aos tanu tyura,
A herança do conhecimento milenar

Mesmo vivendo na cidade,
Nos unimos por um único ideal,
Na busca pelo direito,
De ter o nosso território ancestral.

O que fazer com homem na vida
Que fere, que mata,
Que faz o que quer.
- Márcia Kambeba, no livro "Ay kakyri Tama - Eu moro na cidade". Grafisa Gráfica e Editora, 2013.

§§

UNIÃO DOS POVOS
Nós, povos indígenas,
Habitantes do solo sagrado,
Mesmo sem nossa aldeia,
Somos herdeiros de um passado.

Buscamos manter a cultura,
Vivendo com dignidade,
Exigimos nosso respeito,
Mesmo vivendo na cidade.

Somos parte de uma história,
Temos uma missão a cumprir,
De garantir aos tanu muariry,
Sua memória, seu porvir.

Vivendo na rytama do branco,
Minha uka se modificou,
Mas, a nossa luta pelo respeito,
Essa ainda não terminou.

Pela defesa do que é nosso,
Todos os povos devem se unir,
Relembrando a bravura,
Dos Kambeba, dos Macuxi,
Dos Tembé e dos Kocama,
Dos valentes Tupi Guarani

Assim, os povos da Amazônia,
Em uma grande celebração,
Dançam o orgulho de serem,
Representantes de uma nação,
Com seu canto vem dizer:
Formamos uma aldeia de irmãos.
- Márcia Kambeba, no livro "Ay kakyri Tama - Eu moro na cidade". Grafisa Gráfica e Editora, 2013

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Marcia Kambeba - foto: ©José Carlos

FORTUNA CRÍTICA DE MÁRCIA WAYNA KAMBEBA

ALENCAR, Ivanor. A história da poeta indígena Márcia Wayna Kambeba. In: Blog Faro Fino, 24.6.2015. Disponível no link. (acessado em 2.12.2021).
BENGOZI, Bruna. 5 poemas de Márcia Wayna Kambeba. In: Livro e Café, 15.7.2020. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
BONIN, Iara Tatiana; KAMBEBA, Raimundo Cruz da Silva (org). Aua Kambeba - A palavra da Aldeia Nossa Senhora. Brasília: CIMI; Unicef, 1999. Disponível no link. (acessado em 2.12.2021).
CHAVES, Kena Azevedo. Mulheres indígenas demarcam as eleições: Entrevista com Márcia Kambeba. In: PerCursos, Florianópolis, v. 22, n. 48, p. 383 - 398, 2021.  Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
CORRÊA, Adriana de Oliveira Alves. Márcia Wayna Kambeba: um mergulho entre as margens do rio. In: Muitas Vozes, Ponta Grossa, v. 8. n. 2, p. 289-311, março, 2019. Disponível no link. (acessado em 2.12.2021).
COSTA, Heliene Rosa da.. Poéticas de Cristiane Sobral e Márcia Kambeba: a vivência do sagrado como resistência. In: Igarapé - Revista de Estudos de Literatura, Cultura e Alteridade, v. 14, p. 139-160, 2021. 
COSTA, Jacqueline. Márcia Wayna Kambeba, geógrafa: "Abre-se um novo papel para a mulher indígena". In: O Globo, 10.7.2017. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
COSTA, Vicente. Literatura Indígena: (Re)existência!. In: Sesc Rio, 19.4.2021. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
CUNHA, Lívia Verena Cunha do.. Literatura, Memória e Resistência: aproximações entre Conceição Evaristo e Márcia Kambeba. In: VASCONCELOS, Adaylson Wagner Sousa de (Org). Letras: representações, construções e textualidades. Atena Editora, 2021. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
DANNER, Leno Francisco; DORRICO, Julie; CORREIA, Heloisa Helena Siqueira; DANNER, Fernando (Orgs.). Literatura indígena brasileira contemporânea: criação, crítica, recepção. [prefácio Ana Lúcia Liberato Tettamanzy]. 1ª ed., Porto Alegre: Editora Fi, 2018. Disponível no link. (acessado em 7.12.2021).
DANNER, Leno Francisco; DORRICO, Julie; DANNER, Fernando. Literatura indígena como descatequização da mente, crítica da cultura e reorientação do olhar: sobre a voz-práxis estético-política das minorias. In: Teatro: criação e construção de conhecimento, v. 5, n. 1, p. 9-33, 2017. Disponível no link. (acessado em 7.12.2021).
D' AMORIM JÚNIOR, Miguel Antonio. May Sangara Kumissa: o encanto e o encontro com uma voz da poesia  indígena  brasileira  e  os  ecos  íntimos  do  leitor  em  sala  de  aula.   (Dissertação  Mestrado em Letras). Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, 2019. Disponível no link. (acessado em 2.12.2021).
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DORRICO, Julie. A literatura indígena contemporânea no Brasil: a autoria individual e a poética do eu-nós. (Tese Doutorado em Letras). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUCRS, 2021.
DORRICO, Julie. 3 Poemas de Márcia Kambeba. In: Revista Acrobata, 23 de abril de 2020. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
DORRICO, Julie; GALVÃO, Demetrios. A Literatura e o Ativismo Indígena – Entrevista com Márcia Kambeba. In: Revista Acrobata, 13 de abril de 2020. Disponível no link. (acessado em 2.12.2021).
DORRICO, Julie. A leitura da literatura indígena para uma cartografia contemporânea. In: Revista Igarapé, Porto Velho (RO), v.5, n.2, p. 107-137, 2018. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
ENTREVISTA. Márcia Kambeba: A Natureza é um sujeito!. In: Psol, 20.4.2021. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
FIRMINA, Guia Maria. Márcia Kambeba e a poesia de um corpo que resiste [entrevista]. In: Medium - Guia Maria Firmina, 5 de setembro de 2018. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
GIACOMO, Fred Di. Neta de boto, Márcia Kambeba é a primeira indígena na prefeitura de Belém. In: Uol, 26.1.2021. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
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GRAÚNA, Graça. Literatura Indígena: desconstruindo estereótipos, repensando preconceitos. Recife - UPE, 2011.
GUTERRES, António. Die zwölfte Spende für indigene Völker in Brasilien. In: Grün4Future, 11.12.2020. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
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KAMBEBA, Márcia Wayna. COVID 19 and the indigenous people. In: Geografares, 32 - 2021. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
LACERDA, Flávio. Mestre em geografia, indígena palestra, conta histórias e canta para conscientizar mulheres na Amazônia. In: Agência de Notícias UniCEUB, 25 de janeiro de 2021. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
LIRA, Luna. Cinco perguntas com Márcia Wayna Kambeba. In: Editora Jandaíra, 27 de setembro de 2021. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
MACHADO, Ricardo; DORRICO, Julie; DANNER, Leno Danner. Fazer caber muitos mundos no mundo / entrevista Marcia Kambeba. In: IHU On-line, Unisinos, edição 527, v. 1, 27 de agosto de 2018. Disponível no link. (acessado em 2.12.2021).
MELO, Carlos Augusto de.. Márcia Wayna Kambeba e as literaturas indígenas no Brasil. In: Revista de Estudos de Literatura, Cultura e Alteridade, Igarapé, v. 14, p. 106-122, 2021. Disponível no link. (acessado em 2.12.2021).
MORAES, Isabella. Mana a mana com Marcia Kambeba. In: Goginas, 14 de maio de 2016. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
MULHERES DE LUTA. Marcia Wayna Kambeba. [dados biográficos]. In: Mulheres de Luta, 18 de abril de 2021. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
NUNES, Valnei. A nova mulher indígena. In: Adriana Chiarimagazine, 29 de abril de 2019. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
PAYNO, Mariana. Saberes da Flores - Autora convidada da Flip 2020, Márcia Wayna Kambeba lança novo livro com ensaios e poemas sobre a educação indígena. In: Revista Gama, 27.11.2020. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
POEMA. Educação Indígena, de Márcia Wayna Kambeba. In: Educapes, s./data. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
POEMAS de Márcia Wayna Kambeba. In: Alma Acreana, 14 de junho de 2018. Disponível no link. (acessado em 2.12.2021).
PUCHEU, Alberto. Márcia Wayna Kambeba: para ouvir o choro do nosso chão. In: Revista Cult, 13 de julho de 2020. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
RODRIGUES, Walace. A potente poesia indígena de Márcia Wayna Kambeba em O lugar do saber. [resenha]. In: Escritas - Revista do Curso de História Araguaína, v. 12. n. 2, p. 319-322, 2020. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
SANT' ANNA, Fernanda Vieira de; MANGABEIRA, Clark. Territórios do saber e decolonização de identidades que atravessam fronteiras: aproximações entre Chrystos e Marcia Wayna Kambeba. In: Verbo de Minas, v. 20, p. 59-71, 2019. Disponível no link. (acessado em 2.12.2021).
SANT' ANNA, Fernanda Vieira de.. Poéticas da (R)existência: O Lugar do Saber (2018) de Marcia Wayna Kambeba. In: I Seminário de Linguagens Indígenas e Línguas Minorizadas (SELIM) - Anais. Vilhena: UNIR, 2020. v. 1. p. 48-49.
SILVA, Cícero da; RUAS, José Jarbas; BRASIL, Anderson (Org.). Educação do Campo: diversidade cultural, socioterritorial, lutas e práticas. Campinas, SP: Pontes Editores, 2020. 
STACCIARINI, Letícia Santana. Estudo do espaço narrativo em obras de autores indígenas brasileiros para o público infantil. (Tese Doutorado em Estudos Literários). Universidade Federal de Uberlândia, UFU, 2022. Disponível no link. (acessado em 25.1.2023).
THIÉL, Janice. Pele silenciosa, pele sonora: a literatura indígena em destaque. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.
VASCONCELOS, Adaylson Wagner Sousa de (Org). Letras: representações, construções e textualidades. Atena Editora, 2021. 
VIDIGAL, Enize. Autora indígena lança livros de poesias. In: O Liberal, 12.3.2019. Disponível no link. (acessado em 1.12.2021).
WESLEY, Elena. "É a sociedade que tem que se integrar aos indígenas", diz Márcia Kambeba. In: Uol, 11.8.2020. Disponível no link. (acessado em 2.12.2021).

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MÁRCIA WAYNA KAMBEBA NA REDE





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© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske


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COMO CITAR:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Márcia Wayna Kambeba - ecos de ancestralidade. In: Templo Cultural Delfos, fevereiro/2024. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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Página atualizada em 26.2.2024.
** Página original DEZEMBRO/2021.





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