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Gilka Machado - as múltiplas faces: o desejo, o amor, a angústia e a dor

Gilka Machado - poeta

© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske
Por gentileza citar conforme consta no final desse trabalho. 
Página original MAIO/2013 | ** Página revisada, ampliada e atualizada JULHO/2021.


"Sonhei ser útil à humanidade. Não consegui, mas fiz versos. Estou convicta de que a poesia é tão indispensável à existência como a água, o ar, a luz, a crença, o pão e o amor."
- Gilka Machado, em 'Nota autobiográfica', no livro "Poesias completas". Cátedra; INL, 1978.


Gilka Machado (Rio de Janeiro RJ, 12 de março de 1893 - idem, 11 de dezembro de 1980). tinha sangue de artista nas veias: a mãe, Thereza Christina Moniz da Costa, era atriz de teatro e de rádio-teatro; e a filha, Heros, seria bailarina consagrada e pesquisadora das danças nativas brasileiras. Além disso, sua família incluía poetas e músicos famosos. E a moça se casa com um artista: o poeta, jornalista e crítico de arte Rodolfo Machado, em 1910, que morreria dali a 13 anos, deixando a esposa com dois filhos, Eros e Hélios.

Gilka Machado [desenho em lápis de cera],
 de Amaury Menezes (neto da escritora)
Desde criança Gilka faz versos. E com 13 anos ganha concurso pelo jornal A imprensa, quando arrebata os 3 primeiros prêmios, com poemas assinados com seu próprio nome e com pseudônimos. Mas só em 1915, aos 22 anos, publica seu primeiro livro, Cristais Partidos. Seguem-se outros, ao longo da década de 1920, como Estados d’Alma (1917), Mulher Nua (1922), Meu Glorioso Pecado (1928), Amores que mentiram, que passaram (1928).

No início dos anos de 1930 sua popularidade aumenta, ao ter poemas traduzidos para o espanhol, tanto em antologia quanto em volume com poemas só seus.

E no ano seguinte sua popularidade é testada: ganha, com grande margem de votos, um concurso promovido pela revista O malho, quando então é aclamada como a maior poetisa brasileira, selecionada entre 200 intelectuais. Em seguida viaja para a Argentina, onde é recebida com carinho pelo público leitor. Faz outras viagens ao longo da década de 1940, para os Estados Unidos e para a Europa, além das que faz pelo interior do Brasil.

Seus poemas foram também republicados em outros volumes: os dois primeiros livros, em Poesias, de 1918; e alguns, escolhidos, em Carne e Alma, de 1931, em Meu rosto, de 1947, e em Velha Poesia, de 1965, antes que as Poesias Completas ganhassem duas edições: em 1978 e em 1991.

Poderia ter sido a primeira mulher a fazer parte da Academia Brasileira de Letras quando, após mudança do estatuto que proibia o ingresso de mulheres, lhe teria sido possível candidatar-se, atendendo a convite que lhe foi dirigido por Jorge Amado e apoiado por outros acadêmicos. Mas recusou o convite. Recebeu, contudo, da Academia Brasileira de Letras, em 1979, o prêmio Machado de Assis, pela publicação do volume de suas Poesias Completas. Encerra sua carreira com o poema “Meu menino”, escrito por ocasião da morte do filho Hélios, ocorrida em 1976.

Gilka Machado
Como se pode perceber a partir dos títulos de seus livros, sua poesia se detém nas experiências de uma intimidade sensível, que manifesta, explicitamente, suas sensações, emoções e desejos eróticos. Aliás, lembre-se que em 1916 faz conferência sobre “A revelação dos perfumes”... Para expressar tais sensações, usa nos poemas um vocabulário inusitado: emprega, por exemplo, a palavra “cio”. E mostra a mulher esvaída em sensualidade, numa poesia que se constrói tanto segundo a rigidez formal de tradição parnasiana quanto dando vazão às ondas de languidez que atravessam o seu verso à moda simbolista. Daí uma reação dupla por parte do público, pois causa tanto a admiração, por parte de uns, em que se incluem as mulheres que encontram aí uma porta-voz na representação de experiências da intimidade, até então proibida, quanto a rejeição severa por parte de uma crítica moralista conservadora. Para os que a defenderam, como Henrique Pongetti, Humberto de Campos, Agrippino Grieco, foi preciso separar a Gilka dos domínios da arte (a poeta) da Gilka dos domínios da vida (mãe virtuosa), com o intuito de inocentá-la de uma sensualidade pecadora.

Mas foi justamente por essa força reivindicadora patente na mistura bem dosada de rigor formal e sensualidade ousada, que sua poesia ganhou força e até hoje permanece, enquanto marco na história de resistência à situação de alienação da mulher. Firmou-se, assim, como precursora na luta pelos direitos de acesso à representação do prazer erótico na poesia feminina brasileira.


"(...) Gilka Machado foi a maior figura feminina de nosso Simbolismo, em cuja ortodoxia se encaixa com seus dois livros capitais, Cristais Partidos e Estados de Alma. Nem sua ousadia tinha impureza, mas punha à mostra a riqueza de seus sentidos, especialmente de um pouco explorado em poesia, o tato. Sua sensibilidade é requintada, algo excêntrica, mas profundamente feminina.”
- Péricles Eugênio da Silva Ramos [1965]. Gilka Machado. In: ___. Poesia simbolista: antologia. p.209.



“Estreei nas letras, vencendo um concurso literário num jornal, A Imprensa, dirigido por José do Patrocínio Filho. Logo depois, um crítico famoso escrevia que aqueles poemas deveriam ter sido laborados por uma matrona imoral. Quase criança, comunicativa, indiscreta e falaz, saindo de mim mesma, contando meus prazeres e tristezas, expondo os meus defeitos e qualidades, eu pensava apenas em dar novas expressões à poesia. Aquela primeira crítica (por que negar) surpreendeu-me, machucou-me e manchou o meu destino. Em compensação, imunizou-me contra a malícia dos adjetivos. Havia no meu ser uma torrente que era impossível represar: os versos fluíam, as estrofes cascateavam... e continuei, ritmando minha verdade, então com mais veemência.“
- Gilka Machado, no livro "Poesias completas". Rio de Janeiro: Cátedra; Brasília: INL, 1978, p. X.




Gilka Machado - Revista O Malho, nº 1578, de março de 1933 | Acervo: Biblioteca Nacional Digital / Hemeroteca Digital


OBRAS DE GILKA MACHADO

Poesia
:: Crystais Partidos: poesiasGilka MachadoRio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1915.
Capa da 1ª edição do livro "O grande
Amor", de Gilka Machado
:: Estados de almaGilka MachadoRio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1917.
:: Poesias, 1915-1917Gilka MachadoRio de Janeiro: Jacintho Ribeiro dos Santos, 1918.
:: Mulher nuaGilka MachadoRio de Janeiro: Jacintho Ribeiro dos Santos, 1922.
:: O grande amorGilka Machado(V I: "Amores que mentiram, que passaram").  Rio de Janeiro: Livraria Azevedo, Erbas de Almeida, 1928.
:: Meu glorioso pecado: Amores que mentiram, que passaramGilka Machado. Rio de Janeiro: Almeida Torres A. C. Editores, 1928.
:: Carne e alma. (poemas escolhidos). Coleção Benjamin Constallat. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1931.
:: SublimaçãoGilka MachadoRio de Janeiro: Typ. Baptista de Souza, 1938.
:: Meu rostoGilka MachadoRio de Janeiro: Irmãos Pogentti, 1947.
:: Velha poesiaGilka Machado. (seleção de poemas). Rio de Janeiro: Editora Baptista de Souza, 1968.
:: Poesias completasGilka Machado[prefácio Fernando PY]. Rio de Janeiro: Cátedra; Brasília: INL, 1978.
:: Poesias completasGilka Machado. [apresentação Eros Volúsia Machado; capa Rubens Faria Santos]. Edição comemorativa do centenário de nascimento da poeta. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial; FUNARJ, 1992.
:: Gilka Machado: poesia completa. [organização Jamyle Rkain; prefácio Maria Lúcia dal Farra; orelha Heloísa Buarque de Holanda]. São Paulo: Demônio Negro, 2017.

Crônica, ensaio e conferências
:: Cascos e caríciasGilka Machado. (livreto). Rio de Janeiro: Jornal da Manhã, 1915. {onde ela descreve a vida dos jornalistas mais “emancipados”, escandalizando os moralistas do seu tempo com crônicas escatológicas da sociedade cultural carioca}.
:: A revelação dos perfumes. (Conferência Literária). Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1916.

Organização
:: Divino inferno. Rodolpho Machado. [organização e prefácio Gilka Machado]. Rio de Janeiro: Benjamim Costallat & Miccolis Edit. 1924.

Antologia (participação)
:: Seleta cristã (poesia).. [Odylo Costa Filho coligiu os versos alheios desta]. Rio de Janeiro: Livraria Católica, 1932. (Consta: Gilka Machado, "Ao som deu um sino" - poesia).  
:: Versos que eu digo. [seleção e organização Margarida Lopes Almeida]. Rio de Janeiro: Edições Rudá, 1937. (Consta: Gilka Machado, "Miséria" -  poesia).
:: Os de hoje: figuras do movimento modernista brasileiro. [autor e organizador Nestor Victor]. São Paulo: Cultura Moderna, 1938. (Consta: Gilka Machado, p. 97-104). 
:: As mais belas poesias brasileiras de amor. [seleção, prefácio e notas Frederico dos Reys Coutinho]. Rio de Janeiro, RJ: Editora Vecchi, 1946. 
:: Gol de letra: o futebol na literatura brasileira. [organização Milton Pedrosa]. Rio de Janeiro: Editora Gol, 1969. (consta: Gilka Machado, "Aos heróis do futebol brasileiro", poema, datado 1938. p. 117-119).
:: Antologia dos poetas brasileiros. [organização Manuel Bandeira; nota editorial Alexei Bueno; introdução Walmir Ayala]. vol. 1, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. {autores presentes /vol. 1: Augusto dos Anjos, Amadeu Amaral, Gilberto Amado, Adelmar Tavares, Hermes Fontes, Lopes de Almeida, Olegário Mariano, Gilka Machado, Raul de Leoni, Múcio Leão, Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida, Oswald de Andrade, Mario de Andrade, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Ronald de Carvalho, Adalgisa Nery, Paulo Gomide, Jorge de Lima, Joaquim Cardozo, Ascenso Ferreira, Ribeiro Couto, Sérgio Millier, Raul Bopp, Dante Milano, Cecilia Meireles, Tasso da Silveira, Murilo de Araújo, Augusto Meyer, Mário Quintana, Emílio Moura, Carlos Drummond de Andrade, Abgar Renault, Murilo Mendes, Henriqueta Lisboa, Godofredo Filho, Pedro Nava, Pedro Dantas, Augusto Frederico Schmidt, Vinícius de Moraes, Lúcio Cardoso, Odilo Costa Filho}.
:: Os cem melhores poemas brasileiros do século. [organização, introdução e referências bibliográficas Ítalo Moriconi]. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001. (consta: Gilka Machado, "Lépida e leve" - poema. p. 75).
:: Antologia da poesia erótica brasileira. [organização Eliane Robert Moraes; ilustrações Arthur Luiz Piza]. São Paulo: Ateliê Editorial, 2015. {autores presentes: Alexandrina da Silva Couto dos Santos, Francisca Júlia, Gilka Machado, Ana Cristina César, Hilda Hilst, Gregório de Matos, Gonçalves Dias, Carlos Drummond de Andrade, Roberto Piva e Arnaldo Antunes, Francisco Moniz Barreto, Múcio Teixeira, Moysés Seyson e outros; além de poemas anônimos | São cerca de 350 poemas escritos nos últimos quatro séculos}.
:: Metrópole à beira-mar: O Rio moderno dos anos 20. de Ruy Castro [capa Hélio de Almeida]. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. {Quem fez o Rio dos anos 20: Adalgisa Nery, Adhemar Gonzaga, Agrippino Grieco, Alvaro Moreyra, Aracy Cortes, Benjamin Costallat, Bertha Lutz, Bidu Sayão,o Carlos Chagas, Carmen Miranda, Cecilia Meirelles, Di Cavalcanti, Elsie Houston, Eugenia Alvaro Moreyra, Francisco Alves, Gilka Machado, Ismael Nery, Ismael Silva, J. Carlos o Jayme Ovalle, João do Rio, Laurinda Santos Lôbo, Lima Barreto, Manuel Bandeira, Mario Reis, Murilo Mendes, Orestes Barbosa, Oswaldo Goeldi, Patrocinio Filho, Pixinguinha, Procopio Ferreira, Ronald de Carvalho, Roquette-Pinto, Sinhô,o Théo-Filho, Vera Janacopoulous, Villa-Lobos}.

GILKA MACHADO OBRA TRADUZIDA
:: Sonetos y poemas de Gilka Machado, [prefácio Antonio Capdeville]. Cochabamba/Bolívia, 1932.
:: Crystaes partidos. Gilka Machado. Sholar Select. EUA: Wentworth Press, 2016.

Em antologias (estrangeiras)
:: Poesía brasileña contemporânea (1920-1946): Crítica y antologia. [org. Gaston Figueira]. Montevideo: Instituto de Cultura Uruguayo-Brasileño, 1947.


"A forma ousada dos seus versos, de um ritmo livre e bastante pessoal, harmoniza-se com a liberdade de inspiração, onde predomina um forte sensualismo, tão forte que Humberto de Campos notava-lhe nos poemas verdadeiras 'tempestades de carne'... Seus livros provocavam, simultaneamente, admiração e escândalo, já que a poetisa confessava sentir pelos no vento', desejava penetrar o amado 'pelo olfato, assim como as espiras/invisíveis do aroma...' e declarava, sem rebuços: 'Eu sinto que nasci para o pecado'."
- Fernando Góes [1960]. Gilka da Costa Melo Machado. In: Panorama da poesia brasileira: o pré-modernismo. p.165.


PRÊMIOS
Venceu o concurso do jornal A Imprensa. Ganhou o 1°, 2°, 3° lugares: um com seu nome e os outros sob pseudônimos, aos 13 anos.
Eleita "a maior poetisa do Brasil", por concurso da revista "O Malho", do Rio de Janeiro, 1932.
Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letra, pela publicação do volume de suas Poesias Completas, 1979.



“Desafiando os preconceitos, Gilka Machado ousa expressar, em poesia, a paixão dos sentidos, a volúpia do amor carnal e o dramático choque entre o corpo e a alma. Choque provocado pelo Cristianismo, ao lançar o anátema ao prazer sexual, a fruição da carne [...] Gilka Machado obviamente chocou a sociedade do tempo com seu ousado desvendar de paixões ou sensações proibidas à mulher.”
- Nelly Novaes Coelho, em “Dicionário crítico de escritoras brasileiras (1711-2001)”. São Paulo: Escrituras, 2002, p. 228.


Obra de Leonid Afremov

POEMAS ESCOLHIDOS DE GILKA MACHADO

O mundo necessita de poesia...
O mundo necessita de poesia,
cantemos, poetas, para a humanidade;
que nossa voz suba aos arranha-céus,
e desça aos subterrâneos,
acompanhando ricos e pobres
nos atropelos
das carreiras
de ambição
e na luta pelo pão!

Lavemo-nos das máscaras histriônicas,
tenhamos a coragem
de propalar a existência eterna
do sentimento;
ponhamos termo
a esses malabarismos
de palhaços
falsos
da modernidade,
permanecendo diferentes,
diante da multidão
insensibilizada,
enferma.

A humanidade quer rir de tudo,
porém é alvar sua gargalhada;
foge das tristezas,
mas paira ausente
em meio aos prazeres,
desligada em toda parte,
perdida em si mesma.

O homem anda esquecido
do caminho da fé
que a poesia sempre lhe ensinou.
O homem está inquieto
porque lhe falta a posse das distâncias
que só a poesia proporciona.
O homem se sente miserável
porque a poesia já não lhe enche a alma
daquele ouro inesgotável
do sonho.

O mundo necessita de poesia,
(não importem assuadas)
cantemos alto, poetas, cantemos!
Que seja nossa voz
um sino de cristal,
um sino-guia de perdidos rumos,
vibrando do nevoeiro da inconsciência
do momento angustioso!

Nosso destino, poetas, é o destino
das cigarras e dos pássaros:
- cantar diante da vida,
cantar
para animar o labor do Universo,
cantar para acordar
ideias e emoções;
porque no nosso canto
há um trigo louro,
um pão estranho que impulsiona
o braço humano,
e os cérebros orienta,
uma hóstia
em que os espíritos encontram,
na comunhão da beleza,
a sublimação da existência.
O mundo necessita de poesia,
cantemos alto, poetas, cantemos!
Gilka Machado, em "Sublimação", no livro "Poesias completas". Léo Christiano Editorial; Funarj, 1992.   

§§

Ser Mulher ...
Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada
para os gozos da vida; a liberdade e o amor;
tentar da glória a etérea e altívola escalada,
na eterna aspiração de um sonho superior...

Ser mulher, desejar outra alma pura e alada
para poder, com ela, o infinito transpor;
sentir a vida triste, insípida, isolada,
buscar um companheiro e encontrar um senhor...

Ser mulher, calcular todo o infinito curto
para a larga expansão do desejado surto,
no ascenso espiritual aos perfeitos ideais...

Ser mulher, e, oh! atroz, tantálica tristeza!
ficar na vida qual uma águia inerte, presa
nos pesados grilhões dos preceitos sociais!
- Gilka Machado, no livro "Crystaes Partidos: poesias". Revista dos Tribunaes, 1915.

§§

Olhos pérfidos
Olhos da triste côr dos ambientes mortuarios,
onde paira uma luz de cirio a tremular;
eu um dia suppuz que fosseis dous alvearios,
porque havia um sabor de mel no vosso olhar.

Como no espelho arcoal de pútridos aquários
á noute se reflecte o fulgor estellar,
a vossa podridão, olhos fataes e vários,
vem, ás vezes, um lume estranho illuminar.

Vejo, si em vosso todo acaso o olhar afundo,
que, em vós, como no horror de um lodaçal immundo,
geram-se occultamente os micróbios de um mal.

£ eu, que buscava abrigo á alma desilludida,
toda me untei de lodo, infeccionando a vida,
ao contagio da vossa emanação lethal!
- Gilka Machado, no livro "Crystaes Partidos: poesias". Revista dos Tribunaes, 1915. (ortografia original)

§§

Noturno I
Apraz-me sempre ouvir, ás horas vespertinas,
os prelúdios da Noute, os iriantes rumores
que, mal rolam da sombra as primeiras cortinas,
fazem soar pelo espaço os Arrebóes, as Cores.

Ha na violacea cor violinos em surdinas,
vibram no ouro clarins ruidosos e aggressores,
gemem flautas no verde, em notas tiples, finas,
rufam dentro do rubro invisíveis tambores.

Soam na rosea côr accordes flebeis de harpas,
través o alaranjado ha guitarras chilrando,
e os sons rolando vão nas ethereas escarpas...

Ha uma breve fermata e, após, exul, tristonho,
soluça um orgam do alto, em som pauzado, brando,
dentro do azul do céo, como um sonoro sonho.
- Gilka Machado, no livro "Crystaes Partidos: poesias". Revista dos Tribunaes, 1915. (ortografia original)

§§

Odor dos Manacás
(A J. M. Goulart de Andrade)

De onde vem esta voz, este fundo lamento
com vagas vibrações de violino em surdina?
De onde vem,esta voz que, nas azas, o Vento
me traz, na hora violacea em que o dia declina?

Esta voz vegetal, que o meu olfacto attento
ouve, certo é a expansão de uma magua ferina,
é o odor que os manacás soltam, num desalento,
sempre que a brisa os plange e as frondes lhes inclina.

Creio, aspirando-o, ouvir, numa metempsychose,
a alma errante e infeliz de uma extincta creatura
chamar anciosamente outra alma que a despose...

Uma alma que viveu sosinha e incomprehendida,
mas que, mesmo gosando uma vida mais pura,
inda chora a illusão frustrada noutra vida.
- Gilka Machado, no livro "Crystaes Partidos: poesias". Revista dos Tribunaes, 1915. (ortografia original)

§§

Helios e Heros
Filhos meus — duas forças bem pequenas
que amo, e das quaes sustar quizera o adejo;
pequenas sempre fora meu desejo
tel-as, aconchegadas e serenas.

Filhos meus — delles vem, delles, apenas,
a humilhação servil em que me vejo;
mas, si o penar a um filho é bemfazejo,
para uma alma de mãe que valem penas ?

Eu, que feliz, toda enthusiasmo, d'antes,
via os seres tornarem-se possantes,
vejo-os crescerem com pezar, com zelos.

Vejo-os crescerem, ensaiarem threnos,
e, no emtanto, quizera-os tão pequenos
que pudesse nas mãos sempre trazel-os.
- Gilka Machado, no livro "Estados da alma: poesias". Revista dos Tribunaes, 1917. (ortografia original)

§§

Particularidades...
I
Muitas vezes, a sós, eu me analiso e estudo,
os meus gostos crimino e busco, em vão, torcê-los;
é incrível a paixão que me absorve por tudo
quanto é sedoso, suave ao tato: a coma... os pêlos...

Amo as noites de luar porque são de veludo,
delicio-me quando, acaso, sinto, pelos
meus frágeis membros, sobre o meu corpo desnudo
em carícias sutis, rolarem-me os cabelos.

Pela fria estação, que aos mais seres eriça,
andam-me pelo corpo espasmos repetidos,
às luvas de camurça, aos boás, à pelica...

O meu tato se estende a todos os sentidos;
sou toda languidez, sonolência, preguiça,
se me quedo a fitar tapetes estendidos.
- Gilka Machado, no livro "Estados da alma: poesias". Revista dos Tribunaes, 1917.

§§

Sempre-viva
Sempre-viva, teu nome exprime quanto vales,
e, embora te não desse aroma a Natureza,
quem, como eu, padecer o maior dentre os males,
por força ha de exalçar-te a original belleza.

Quer abroches num horto ou na campa assignales

uma grata lembrança, eternamente accesa,
vive essa chamma de ouro inserida em teu calix,
como um sol que a surgir illumine a deveza.

Exposta ao sopro rijo e inclemente do Vento,

aos queimores que o Sol impiedoso te lança,
não te rouba a tortura o fulgor opulento.

És como esta paixão (minha paixão estulta!),

que o túmulo a enfeitar de uma extincta Esperança,
aos rigores da Sorte esplende, viça, avulta!
- Gilka Machado, no livro "Crystaes Partidos: poesias". Revista dos Tribunaes, 1915. (ortografia original)

§§

Gilka Machado
Saudades
De quem é esta saudade
que meus silêncios invade,
que de tão longe me vem?

De quem é esta saudade,
de quem?

Aquelas mãos só carícias,
Aqueles olhos de apelo,
aqueles lábios-desejo...

E estes dedos engelhados,
e este olhar de vã procura,
e esta boca sem um beijo...

De quem é esta saudade
que sinto quando me vejo
- Gilka Machado, no livro "Velha poesia". Editora Baptista de Souza, 1968.

§§

No torculo da fôrma o alvo crystal do Sonho
No torculo da fôrma o alvo crystal do Sonho,
Musa, vamos polir, num labor singular:
os versos que compões, os versos que componho,
virão estrophes de ouro após emmoldurar.

Para sempre abandona esse teu ar bisonho,
esse teu taciturno, esse teu simples ar;
pois toda a perfeição que dispões e disponho,
nesta artística empreza, é mister empregar.

Seja espelho o crystal e, em seu todo, reflicta
a trágica feição que o horror comsigo traz,
e o infinito esplendor da belleza infinita.

E, quando a rima soar, enlevada ouvirás
percutir no teu ser, que pela Arte palpita,
o sonoro rumor do choque dos crystaes.
- Gilka Machado, no livro "Crystaes Partidos: poesias". Revista dos Tribunaes, 1915. (ortografia original)

§§

Silencio
(A Antônio Corrêa d'OMveira)

Mysteriosa expressão da alma das cousas mudas,
Silencio – pallio immenso aos enigmas aberto,
espelho onde a tristeza universal se estampa.
Silencio – gestação das dôres crueis, agudas,
solenne imperador da Treva e do Deserto,
estagnação dos sons, berço, refugio e campa.

Silencio – tenebroso e insondavel oceano,
tudo quanto nos teus abysmos vive immerso,
tem a secreta voz dos rochedos, das lousas.
És a concentração do sêr pensante, humano,
a vida espiritual e occulta do universo,
a communicação invisivel das cousas.

Um intimo pezar toda tua alma invade,
ó meu velho eremita! ó monge amargurado!
Dentro da cathedral da verde natureza,
ouço-te celebrar a missa da Saudade
e invocar a remota effigie do Passado,
dando-me a communhão sublime da tristeza.

Seja engano, talvez, do meu cerebro enfermo,
mas eu comprehendo os teus sentimentos profundos,
eu te sinto cantar olentes melopéas...
Foste o inicio de tudo e de tudo és o termo.
Silencio – concepção primitiva dos mundos,
cosmopéa etheral de todas as idéas.

Silencio – solidão de symptomas medonhos,
pantano onde do mal desenvolvem-se os vermes,
fonte da inspiração, rio do esquecimento,
lagôa em cujo fundo os sapos dos meus sonhos,
postos alheiamente, inanimes, inermes,
fitam de estranho ideal o fulgor opulento.

Ó Silencio! Ó visão subjectiva da Morte!
- refúgio passional que eu sempre busco e anceio,
gôso de recordar... torturas e confortas,
pois fazes com que ao teu influxo eu me transporte
ao seio da Saudade, a esse funereo seio
- esquife onde revejo as illusões já mortas.

Da scisma na minha alma o triste cunho imprimes,
és o somno, o desmaio, o natural mysterio,
trazes-me a sensação dos gélidos tormentos;
e si nesse teu ventre hão germinado os crimes,
no teu cérebro enorme, universal, ethereo,
têm-se desenvolvido os grandes pensamentos.
- Gilka Machado, no livro "Crystaes Partidos: poesias".  Revista dos Tribunaes, 1915. (ortografia original)

§§

Rosas
I
Cabe a supremacia á rosa, entre o complexo
das flôres, pelo viço e pela pompa sua,
e o arôma que ella traz sempre á corolla annexo
o coração humano excita, enleva, estua.

Quando essa flôr se ostenta á luz tibia da Lua,
o luar busca enlaçal-a, amoroso, perplexo,
e ella sonha, estremece, oscilla, ri, fluctua
e desmaia, ao sentir esse etheral amplexo.

Si é rosea lembra carne ardente, palpitante...
nívea – lembra pureza e nada ha que a supplante,
rubra – de certa bocca os labios nella vejo.

Seja qualquer a côr, por sobre o hastil de cada
rosa, vive a Mulher, nos jardins flôr tornada:
- symbolo da Volupia a excitar o Desejo.

II
Rosas cujo perfume, em noutes enluaradas,
é um sortilegio ethereo a transpôr as rechans;
rosas que á noute sois risonhas, floreas fadas,
de cutis de velludo e tenras carnes sans.

Sejaes da côr do luar ou côr das alvoradas,
rosas, sois no perfume e na alegria irmans,
e todas pareceis, á luz desabotoadas,
a concretisação dos risos das Manhans!

Ó rosas de carmim! Ó rosas roseas e alvas!
ha nesse vosso odôr toda a maciez das malvas,
a púbere maciez do pêcego em sazão.

Dae que eu possa gosar, ao vosso collo rente,
esse perfume, a um tempo excitante e emolliente,
numa dubia, sensual e suave sensação!
- Gilka Machado, no livro "Crystaes Partidos: poesias". Revista dos Tribunaes, 1915. (ortografia original)

§§

Volúpia
The Circle of Lovers, de Auguste Rodin
Tenho-te, do meu sangue alongada nos veios;
á tua sensação me alheio a todo o ambiente;
os meus versos estão completamente cheios
do teu veneno forte, invencível e fluente.

Por te trazer em mim, adquiri-os, tomei-os,
o teu modo subtil, o teu gesto indolente.
Por te trazer em mim moldei-me aos teus colleios,
minha intima, nervosa e rubida serpente.

Teu veneno lethal torna-me os olhos baços,
e a alma pura que trago e que te repudia,
inutilmente anceia esquivar-me aos teus laços.

Teu veneno lethal torna-me o corpo langue,
numa circulação longa, lenta, macia,
a subir e a descer, no curso do meu sangue.
- Gilka Machado, no livro "Estados da alma: poesias". Revista dos Tribunaes, 1917. (ortografia original)

§§

Symbolos
Eu e tu, ante a noute e o amplo desdobramento
do mar fero, a, estourar de encontro á rocha nua.
Um symbolo descubro aqui, neste momento;
esta rocha e este mar... a minha vide e a tua...

O mar vem... o mar vae.... nelle ha o gesto violento
de quem maltrata e, após, se arrepende e recúa...
Como eu comprehendo bem da rocha o sentimento!
são bem eguaes, por certo, a minha magua, e a sua!

Symbolisa este quadro a nossa propria vida:
tu és esse mar bravio, inconstante e inclemente,
com carinhos de amante e furias de demente;

eu sou a dôr parada, a dôr empedernida,
eu sou aquella rocha encravada na areia,
alheia ao mar que a punge, ao mar que a afaga alheia...
 - Gilka Machado, no livro "Estados da alma: poesias".  Revista dos Tribunaes, 1917. (ortografia original)

§§

Possa eu, da phrase nos absonos sons
Possa eu, da phrase nos absonos sons,
em versos minuciosos ou succintos,
expressar-me, dizer dos meus instinctos,
sejam elles, embora, máos ou bons.

Quero me vêr no verso, intimamente,
em sensações de gôso ou de pezar,
pois, occultar aqui’lo que se sente,
é o proprio sentimento condemnar.

Que do meu sonho o bronco véo se esgarce
e mostre núa, totalmente núa,
na plena graça da simpleza sua,
minha Emoção, sem peias, sem disfarce.

Quero a arte livre em sua contextura,
que na arte, embora peccadora, a Idéa,
deve julgada ser como Phrinéa:
- na pureza triumphal da formosura.

Gelar minha alma de paixões accêsa
porque? si desta forma ao Mundo vim;
si adoro filialmente a Natureza
e a Natureza é que me fez assim.

Meu ser interno, tumultuoso, vario,
- máo grado o parvo olhar profanador –
no livro exponho como num mostruario:
sempre a verdade é digna de louvor.

Fiquem no verso, pois, eternamente,
as minhas sensações gravadas, vivas,
nas longas crises, nas alternativas
desta minha alma doente.

Relatando o pezar, relatando o prazer,
través a agitação, través a calma,
a estrophe deve tão somente ser
o diagnostico da alma.
- Gilka Machado, no livro "Estados da alma: poesias".  Revista dos Tribunaes, 1917. (ortografia original)

§§

Poema de Amor
(Versos Antigos)
VII
Na plena solidão de um amplo descampado
penso em ti e que tu pensas em mim suponho;
tenho toda a feição de um arbusto isolado,
abstrato o olhar, entregue à delícia de um sonho.

O vento, sob o céu de brumas carregado,
passa, ora langoroso, ora forte, medonho!
e tanto penso em ti, ó meu ausente amado,
que te sinto no vento e a ele, feliz, me exponho!

Com carícias brutas e com carícias mansas,
cuido que tu me vens, julgo-me apenas tua,
— sou árvore a oscilar, meus cabelos são franças.

E não podes saber do meu gozo violento
quando me fico, assim, neste ermo, toda nua,
completamente exposta à volúpia do vento!
- Gilka Machado, no livro "Estados da alma: poesias". Revista dos Tribunaes, 1917.

§§

Incenso
(A Olavo Bilac)

Quando, dentro de um templo, a corola de prata
do turíbulo oscila e todo o ambiente incensa,
fica pairando no ar, intangível e densa,
uma escada espiral que aos poucos se desata.

Enquanto bamboleia essa escada e suspensa
paira, uma ânsia de céus o meu ser arrebata,
e por ela a subir numa fuga insensata,
vai minha alma ganhando o rumo azul da crença.

O turíbulo é uma ave a esvoaçar, quando em quando
arde o incenso ... Um rumor ondula, no ar se espalma,
sinto no meu olfato asas brancas roçando.

E, sempre que de um templo o largo umbral transponho,
logo o incenso me enleva e transporta minha alma
à presença de Deus na atmosfera do sonho.
- Gilka Machado, de "Cristais partidos" (1915), no livro "Poesias completas". Léo Christiano Editorial; Funarj, 1992.

§§

Esboço
Capa do livro "Meu Glorioso Pecado", de Gilka Machado
Teus lábios inquietos
pelo meu corpo
acendiam astros...
e no corpo da mata
os pirilampos
de quando em quando,
insinuavam
fosforescentes carícias...
e o corpo do silêncio estremecia,
chocalhava,
com os guizos
do cri-cri osculante
dos grilos que imitavam
a música de tua boca...
e no corpo da noite
as estrelas cantavam
com a voz trêmula e rútila
de teus beijos...
- Gilka Machado, no livro "Sublimação". Typ. Baptista de Souza, 1938.

§§

Reflexão
Há certas almas
como as borboletas,
cuja fragilidade de asas
não resiste ao mais leve contato,
que deixam ficar pedaços
pelos dedos que as tocam.

Em seu vôo de ideal,
deslumbram olhos,
atraem as vistas:
perseguem-nas,
alcançam-nas,
detêm-nas,
mas, quase sempre,
por saciedade
ou piedade,
libertam-nas outra vez.

Elas, porém, não voam como dantes,
ficam vazias de si mesmas,
cheias de desalento...

Almas e borboletas,
não fosse a tentação das cousas rasas;
- o amor de néctar,
- o néctar do amor,
e pairaríamos nos cimos
seduzindo do alto,
admirando de longe!...
- Gilka Machado, no livro "Sublimação". Typ. Baptista de Souza, 1938.

§§

Lépida e leve
Lépida e leve
em teu labor que, de expressões à míngua,
O verso não descreve...
Lépida e leve,
guardas, ó língua, em seu labor,
gostos de afagos de sabor.

És tão mansa e macia,
que teu nome a ti mesmo acaricia,
que teu nome por ti roça, flexuosamente,
como rítmica serpente,
e se faz menos rudo,
o vocábulo, ao teu contacto de veludo.

Ilustração do livro "Estados da Alma, de Gilka Machado
Dominadora do desejo humano,
estatuária da palavra,
ódio, paixão, mentira, desengano,
por ti que incêndio no Universo lavra!...
És o réptil que voa,
o divino pecado
que as asas musicais, às vezes, solta, à toa,
e que a Terra povoa e despovoa,
quando é de seu agrado.

Sol dos ouvidos, sabiá do tato,
ó língua-idéia, ó língua-sensação,
em que olvido insensato,
em que tolo recato,
te hão deixado o louvor, a exaltação!

— Tu que irradiar pudeste os mais formosos poemas!
— Tu que orquestrar soubeste as carícias supremas!
Dás corpo ao beijo, dás antera à boca, és um tateio de
alucinação,
és o elástico da alma... Ó minha louca
língua, do meu Amor penetra a boca,
passa-lhe em todo senso tua mão,
enche-o de mim, deixa-me oca...
— Tenho certeza, minha louca,
de lhe dar a morder em ti meu coração!...

Língua do meu Amor velosa e doce,
que me convences de que sou frase,
que me contornas, que me veste quase,
como se o corpo meu de ti vindo me fosse.
Língua que me cativas, que me enleias
os surtos de ave estranha,
em linhas longas de invisíveis teias,
de que és, há tanto, habilidosa aranha...

Língua-lâmina, língua-labareda,
língua-linfa, coleando, em deslizes de seda...
Força inféria e divina
faz com que o bem e o mal resumas,
língua-cáustica, língua-cocaína,
língua de mel, língua de plumas?...

Amo-te as sugestões gloriosas e funestas,
amo-te como todas as mulheres
te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor,
pela carne de som que à idéia emprestas
e pelas frases mudas que proferes
nos silêncios de Amor!...
- Gilka Machado, no livro "Poesias completas". Léo Christiano Editorial; Funarj, 1992.

§§

Chuva de cinzas
na estática mudez da Terra triste e viúva;
e, da tarde ao cair, sinto, minha alma, agora,
embuça-se na cisma e no torpor se enluva.

Hora crepuscular, hora de névoas, hora
em que de bem ignoto o humano ser enviúva;
e, enquanto em cinza todo o espaço se colora,
o tédio, em nós, é como uma cinérea chuva.

Hora crepuscular - concepção e agonia,
hora em que tudo sente uma incerteza imensa,
sem saber se desponta ou se fenece o dia;

hora em que a alma, a pensar na inconstância da sorte,
fica dentro de nós oscilando, suspensa
entre o ser e o não ser, entre a existência e a morte.
- Gilka Machado, no livro "Velha Poesia", Rio de Janeiro: Editora Baptista de Souza, 1968.

§§

Analogia
“Sempre que o frio chega o meu pesar sorri,
pois te adoro no Inverno e adoro o Inverno em ti...”

Amo o Inverno assim triste, assim sombrio,
lembrando alguém que já não sabe amar;
e sempre, quando o sinto e quando o espio,
julgo-te eterizado, esparso no ar.

Afoita, a alma do Inverno desafio,
para inda te querer e te pensar…
para gozá-lo e gozar-te, que arrepio!…
que semelhança em ambos singular!…

Loucura pertinaz do meu anelo:
— emprestar-te, emprestar-lhe uma emoção,
— pelo mal de perder-te querer tê-lo…

Amor! Inverno! Minha aspiração!
quem me dera resfriar-me no teu gelo!
quem me dera aquecer-te em meu Verão!…
- Gilka Machado, no livro "Mulher Nua", 1922.

§§

Conjecturando
(A Osório Duque Estrada)

Luctar. . . mas para que?
para, em fim, cedo ou tarde, sêr vencida?
Luctar. . . mas para que?
si a vida
é o que se vê
e se sabe: uma lucta indefinida,
onde qualquer sêr
que lucte ha de perder.

Exhausta, na existência eu as armas deponho,
e, ao envez de luctar,
distraio-me a sonhar,
faço do próprio mal um motivo de sonho.

E' bem melhor soffrer a dôr definitiva,
dôr que ora se amortece, ora se aviva,
e é sempre a mesma dôr,
do que luctando, num constante abalo,
e alimentando da Esperança o anhelo,
caminhar para o Ideal, consegui-lo, alcançal-o,
e, logo após, perdel-o.

Convenci-me,
agora, de que o goso é um crime,
pelo qual nos cabe tetrica expiação.
Feliz de mim que ignoro do prazer, 
tristes dos que muito venturosos são, 
pois não sabem inda o que a soffrer
virão.

Ai dos felizes!
Ai dos felizes!
Bemdito sejas, meu pezar interno,
embora sempre me martyrises !
Bemdita a dôr que no meu ser actúa,
porque, apezar de tudo, a Dôr é bôa
para quem a ella se habitua.
A dôr antiga
é uma dôr amiga,
dóe pouco a pouco, não magoa
quasi.

Ai dos que fruem da ventura a phase,
loucos, á espera de um prazer superno!
Ai dos que vivem nos enganadores
gosos desta existência!
— A dôr inesperada é a maior dentre: as dores,
vem com toda a violência
das vinganças. . .

Alma de onde somente o riso escapa,
alma que da alegria não te canças,
olha que a Dôr prepara o seu -bote, a socapa ! . ..
si attingiste do goso a plenitude
é que ella bem te illude,
e se prepara e apura
— traiçoeira — te engendrando uma horrível tortura!

Viver. . . mas para que ? Ai dos que amam a vida
por lhe haverem provado até então do prazer!
torturas soffrerão quando a virem perdida,
por amarem a vida
hão de cedo morrer!

Ai do ser que accumula
o ouro das illusões \
— um thezouro prepara
para
satisfazer a Morte avara.. .
quantas riquezas vão para os caixões!

Ai daquelle que tem o corpo forte,
pois conservar a carne pura e san
é o mesmo que engordar a ovelha para o corte!
ai daquelle que, amanhan,
saboreado será pela gula
da Morte!

Ai dos que se suppõem vencedores
desta lucta e, embriagados de ventura,
passam alheios á Desgraça ! ...

Ai dos que gosam faustos e esplendores!
que tortura sem par,
por uma cova regelada e escura
um palácio trocar!

Veloz a vida dos felizes passa ..

Ai dos ricos, que vivem sempre cheios
de vaidade e de bens roubados, bens alheios !
de que valem fazerem tanto mal,
si tudo hão de deixar pela Morte, afinal ?!

Felizes dos que vivem na miséria,
de corpo sêcco, de alma exgottada,
pois nada levam para a funeria
orgia dessa velha deletéria.

Felizes desses que não têm morada,
que não têm conforto,
não tiveram passado e não terão porvir,
que, quando a Morte, emfim, lhes fôr chegada
(ha sempre abrigo para um corpo morto!)
pouso conseguirão, em calma, hão de dormir.

Fará os felizes tem a Morte horrores,
é o inferno"com todas as torturas,
mas tem mysterios promissores
para as creaturas
que só souberam do travôr das dores.

Cada dia que passa me persuade
que bem melhor que a felicidade
é a insensibilidade;
as delicias
da vida são fictícias,
e a morte é o meio singular
de não soffrer, de não gosar.

Feliz de quem se fez soffredora submissa
e desistiu da liça,
vencedora será quando a Morte chegar
porque lhe ha de burlar
a insaciável cobiça.

Feliz de mim que, de illusões vasia,
vou me acabando, dia a dia,
Feliz de mim que não terei mais nada
para a Morte levar.. .
Feliz de mim que, a esfallecer, diviso
um goso doce, delicioso, manso,
pois si a morte não me for o paraiso,
ha de ao menos me sêr da tortura o descanço.
do declive da vida na jornada. 
- Gilka Machado, no livro "Estados da alma: poesias". Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1917. (ortografia original)


§§

Comigo Mesma
Numa nuvem de renda,
musa, tal como a Salomé da lenda,
na forma nua
que se estenta e estua,
— sacerdotisa audaz —
para o Amor de que és presa,
rasgando véus de sonho, dançarás
nesse templo pagão da Natureza!

Dançarás por amor das coisas e dos seres,
e por amor do Amor…
tua dança dirá renúncias e quereres!
faze com que desfira
tua lira
gargalhadas de gozo e lamentos de dor,
e possas em teu ritmo recompor
tudo que viste estática, surpresa,
e a imprevista beleza,
a beleza incorpórea
dos perfumes e sons indefinidos
de tudo que te andou pelos sentidos,
de tudo que conservas na memória.

Dize da Natureza em que à luz vieste,
dize dos seus painéis encantadores,
dize da pompa, do esplendor celeste
das suas noites, dos seus dias,
e animiza com teus espasmos e agonias
as expressões com que a expressando fores.

Alma de pomba, corpo de serpente,
enche de adejos
e rastejos
teu ambiente,
caiam em torno a ti pedras ou flores
de uma contemplativa multidão:
de lisonjeiros. e de malfeitores
cheias as sendas da existência estão.

Toda de risos tua boca enfeita
quando te surja um ser sincero, irmão,
e sejas sempre pura, espelhante, perfeita,
na verdade da tua imperfeição.
Musa satânica e divina
ó minha Musa sobrenatural,
em cujas emoções, igualmente, culmina
a sedução do Bem, a tentação do Mal!
em teus meneios lânguidos ou lestos
expõe ao Mundo que te espia
que assim como há na Dança a poesia dos gestos,
há nos versos a dança da Poesia.

Dança para esse gozo, o
grande gozo maternal
da Terra,
que te fez sem igual,
e, envaidecida,
em seu amor te encerra,
amando em ti a sua própria vida,
sua vida carnal
e espiritual.

Torce e destorce o ser flexuoso
ó Musa emocional!
maneja os versos de maneira tal
que eles se fiquem pelos séculos dispersos,
com os ritmos da existência universal.

E a dançar,
a dançar,
num delicioso sacrifício,
patenteia a nudez desse teu ser puníceo
ante o sereno altar
do Deus que te domina.
Que importa a injúria hostil de quem te não compreenda?
Dança, porém, não como a Salomé da lenda,
a lírica assassina:
dança de um modo vivificador;
dança de todo nua,
mas que seja a nudez da dança tua
a imortalização do teu Amor!
- Gilka Machado, no livro "Gilka Machado: poesia completa". Demônio Negro, 2017.



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Gilka Machado - poeta

 
OBRAS DE GILKA MACHADO DISPONÍVEL EM FORMATO DIGITAL EM LITERATURA UFSC
Livros de Gilka Machado - primeiras edições
:: Crystaes partidos. Gilka Machado. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1915. Disponível no link. (acessado em 29.7.2021).
::  A revelação dos perfumes. Gilka Machado. Rio de Janeiro; São Paulo: Tipografia da Revista dos Tribunais, 1916. Disponível no link. (acessado em 29.7.2021). 
::  Estados de almaGilka Machado. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1917. Disponível no link. (acessado em 29.7.2021).
::  Poesias: 1915-1917. Gilka Machado. Rio de Janeiro: Jacinto Ribeiro dos Santos, 1918. Disponível no link. (acessado em 29.7.2021).
::  Mulher nua (poesias)Gilka Machado. Rio de Janeiro: Jacinto Ribeiro dos Santos, 1922. Disponível no link. (acessado em 29.7.2021).
::  Meu glorioso pecadoGilka Machado. Rio de Janeiro: Almeida Torres e Companhia, 1928. Disponível no link. (acessado em 29.7.2021).

Em "antologias"
:: Seleta cristã. (poesia).. [Odylo Costa Filho coligiu os versos alheios desta]. Rio de Janeiro: Livraria Católica, 1932. {autores presentes: Dunshee de Abranches, Casimiro de Abreu, Luiz Delfino, Gonçalves Dias, Sousa Caldas; Padre Sousa Caldas, José de Santa Rita Durão, Alberto de Oliveira, Luíz Edmundo, Gilka Machado, Humberto de Campos, Gonçalves de Magalhães, Visconde de Araguaia, Hermes Fontes, Olegário Mariano, Luís Martins, Gregório de Matos, Félix Pacheco, Emílio de Menezes, Fagundes Varela, Celso Pinheiro, Durval de Morais, Francisco Karam, Laurindo Rabelo, Castro Alves, Berilo Neves, Alphonsus de Guimaraens, Luís Guimarães Júnior, Luís Carlos, Amadeu Amaral, José de Anchieta, Joaquim Ribeiro, Murilo Araújo, Alfredo Eugênio de Assis, Machado de Assis, Rosalina Coelho Lisboa Larragoiti, Magalhães de Azeredo, Domingos Borges de Barros, C. Paula Barros, Carlos Povina Cavalcânti, Conde Afonso Celso, Adelmar Tavares, Augusto de Lima, Auta de Sousa, Pereira da Silva, Antônio Francisco da Costa e Silva, Antônio Tomás, Joaquim Serra, Jônatas Arcanjo; Jônatas Serrano, Gustavo Teixeira, Tasso da Silveira, Jorge de Lima, Olavo Bilac, Dom Aquino Correia, Raimundo Correia, Belmiro Braga, Ribeiro Couto, Vicente de Carvalho, Wilson de Carvalho, Tristão da Cunha, Raimundo Teixeira Mendes, Moacir de Almeida, Mário Ramos, Cássio de Souza Filho}. Disponível no link. (acessado em 29.7.2021).
:: Versos que eu digo. [seleção e organização Margarida Lopes Almeida]. Rio de Janeiro: Edições Rudá, 1937. {autores presentes: Alberto de Oliveira, Gilka Machado, Cleômenes Campos de Oliveira, Raul Machado, Hermes Fontes, Martins Fontes, Olegário Mariano, Anna Amélia Carneiro de Mendonça, Luís Peixoto, Afonso Lopes de Almeida, Guilherme de Almeida, Castro Alves, Maria Eugênia Celso, Bastos Tigre, Olavo Bilac, Filinto de Almeida, Vicente de Carvalho, Álvaro Moreira Sampaio, João de Deus, Antero de Quental, Augusto Gil}. Disponível no linklink. (acessado em 29.7.2021).
:: Os de hoje: figuras do movimento modernista brasileiro. [autor e organizador Nestor Victor]. São Paulo: Cultura Moderna, 1938. {Consta: Gilka Machado, p. 97-104}. Disponível no link. (acessado em 29.7.2021).
:: As mais belas poesias brasileiras de amor. [seleção, prefácio e notas Frederico dos Reys Coutinho]. Rio de Janeiro, RJ: Editora Vecchi, 1946. {autores presentes: Casimiro de Abreu, Luiz Delfino, Gonçalves Dias, Teófilo Dias, Cruz e Sousa, Osório Dutra, José de Santa Rita Durão, Alberto de Oliveira, Luíz Edmundo, Gilka Machado, Alceu Wamosy, Cleômenes Campos de Oliveira, Felippe d'Oliveira, Medeiros e Albuquerque, Humberto de Campos, Hermes Fontes, Adelino Fontoura, Martins Fontes, Olegário Mariano, Junqueira Freire, Gregório de Matos, Cecília Meireles, Francisco Otaviano, Vitoriano Palhares, Guimarães Passos, Murilo Mendes, Mário Pederneiras, Lúcio de Mendonça, Alvarenga Peixoto, Castro Meneses, Emílio de Menezes, Fagundes Varela, Vargas Neto, Possidônio Machado, Guilherme de Almeida, Emiliano Perneta, J. G. de Araújo Jorge, Maciel Monteiro, Carlos Góis, Vinicius de Morais, Francisco Karam, Luiz Murat, Tomás Antônio Gonzaga, Laurindo Rabelo, Alberto Ramos, Castro Alves, Adalgisa Nery, Alphonsus de Guimaraens, Bernardo Guimarães, Luís Guimarães Júnior, Amadeu Amaral, Abgar Renault, Carlos Drummond de Andrade, Goulart de Andrade, Mário de Andrade, Murilo Araújo, Machado de Assis, B. Lopes, Álvares de Azevedo, Artur Azevedo, Artur de Azevedo, Manuel Bandeira, Raul de Leoni, Adelmar Tavares, Augusto Frederico Schmidt, Augusto de Lima, Alberto Silva, Francisca Júlia da Silva, Joaquim Serra, Heitor de Oliveira Lima, Renato Travassos, Olavo Bilac, Raimundo Correia, Belmiro Braga, Cláudio Manuel da Costa, Zeferino Brasil, Ribeiro Couto, Gonçalves Crespo, Azevedo Cruz, Ronald de Carvalho, Vicente de Carvalho, Carmen Cinira, Moacir de Almeida}. Disponível no link. (acessado em 29.7.2021).
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:: Literatura UFSCDisponível no link. (acessado em 29.7.2021).

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Gilka Machado | fonte: O Malho, 1934, p. 24-25.


FORTUNA CRÍTICA DE GILKA MACHADO
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BANDEIRA, Manuel. Obras-primas da lírica brasileira. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1943, p.251-252.
BANDEIRA, Manuel. Antologia dos poetas brasileiros: fase moderna. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996, p.53-58.
BARROS, Fernando Monteiro de; PEREIRA, Aline; VEIGA, Suzane Morais da. Traços do decadentismo na poesia brasileira de 1880 a 1920: Raimundo Correia e Gilka Machado. Soletras, Ano X, Nº 19, jan./jun.2010. São Gonçalo: UERJ, 2010. Disponível no link. (acessado em 5.5.2013).
BELLOS, Alex. Futebol: The Brazilian Way of Life. London; New Delhi; New York; Sydney: Bloomsbury, 2002; 2014.
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BRANCO, Lúcia Castello. "Amores Pré-Modernos". In: Sobre o Pré-Modernismo. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1988, p.125-128.
BARRETO, Lima. Correspondência. Tomo I, São Paulo: Brasiliense, 1961, p.259-260. 
BARRETO, Lima. Correspondência. Tomo II, São Paulo: Brasiliense, 1961, p.56-58. 
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Selo Centenário de nascimento da poeta
Gilka Machado
BUENO-RIBEIRO, Eliana. Gilka Machado: une poetesseIn: Journees Femmes en poesie: Representations et recritures de la tradition, 2002, Pau. Femmes en poesie. Representations et recritures de la tradition. Pau: Publications de l'Universite de Pau, 2001. v. 1. p. 15-25.
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CASARIN, Rodrigo. Chamada de “matrona imoral” e alvo de racismo, Gilka Machado foi pioneira do erotismo no Brasil. In: Pagina Cinco, 3.3.2017. Disponível no link. (acessado em 27.7.2021)
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COELHO, Nelly Novaes. O erotismo na literatura feminina do início do século XX - da submissão ao desafio ao cânone. Disponível no link. (acessado 5.5.2013).
COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico de escritoras brasileiras (1711-2001). São Paulo: Escrituras, 2002.
COPCESKI, Aline Gabriela. A poesia de Gilka Machado: barreiras quebradas com versos. II Colóquio da Pós-Graduação em Letras - UNESP – Campus de Assis. Disponível no link. (acessado 5.5.2013).
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DAL FARRA, Maria Lúcia. Gilka Machado e Judith Teixeira: o maldito no feminino. Boletim do Centro de Esutudos Jorge de Sena. Araraquara: Editora da UNESP, 2007, v. 25, p. 157-184.
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---------
*Pintura: Gilka Machado, por ... Brandão

****


Gilka Machado, a maior poeta do Brasil, na década de 1930

Gilka Machado foi eleita "a maior poetisa do Brasil" em 1933 através do concurso da revista O Malho, Rio de Janeiro. Em 1938 ela homenageou a seleção brasileira masculina com um poema chamado "Aos heróis do foot-ball brasileiro" pela conquista do terceiro lugar na Copa do Mundo da França.
Fonte: Imagem/ Acervo Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin/USP.

Aos heróis do futebol brasileiro

Há quarenta milhões de pensamentos
impulsionando os vossos movimentos...
na esportiva expressão
que qualquer raça entende
longe de nossa decantada natureza

Que os Leônidas e os Domingos
fixem na retina do estrangeiro
a milagrosa realidade
que é o homem do Brasil!

Eia,
atletas franzinos,
gigantes débeis
que com astúcia e audácia
tenacidade e energia
transfigurai-vos
traçando com astúcia e audácia
aos olhos surpresos da Europa
um debuxo maravilhoso
do nosso desconhecido País!

Avante
astros obscuros
sóis morenos...
continuai deslumbrando
as louras multidões
com vossos malabarismos e fulgores
de relâmpagos
humanos!

Em vossos pés magnéticos e alados
paira, neste momento,
o destino da Pátria!

Aos vossos pés geniais
curvam-se, reverentes,
os cérebros do Universo.

Em vossos pés heróicos
depõe um beijo
a alma do Brasil! 
- Gilka Machado (1938). In: PEDROSA, Milton. Gol de letra: o futebol na literatura brasileira. Rio de Janeiro: Editora Gol, 1969. p. 117-119.

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Gilka Machado, Thereza Costa e Eros Volúsia | fonte: Fon-Fon, 1946, p. 64


Gilka Machado - caricaturas | fonte: O Malho (1933, 1934)


Ilustração do livro "Meu Glorioso Pecado", de Gilka Machado

“Gilka Machado ficou, e ficará, como exemplo, isolado em seu tempo, de corajosa transgressão das expectativas sociais com respeito à mulher. Feminista avant la lettre, rebelde, “selvagem”, seu grito de liberdade exibe todas as características do pionerismo, tanto mais digno de nota quanto mais se ergueu, e permaneceu longamente sonoro, num período em que rígidos preconceitos dominavam o convívio social.”
- Massaud Moisés, em “História da literatura brasileira: simbolismo”. São Paulo: Cultrix,
2001. 2.v., p. 255.

Gilka Machado (fonte: Mulheres Luminosas)


DOCUMENTÁRIO
Título: Mulheres Luminosas
Documentário. Através da vida e da obra de quatro precursoras artistas brasileiras do sexo feminino, reflete sobre a posição da mulher artista na virada do século XIX para o XX e sobre as transformações ocorridas até os dias de hoje. A maestrina Chiquinha Gonzaga, a escultora Nicolina Vaz de Assis, a pintora Georgina de Albuquerque e a poetisa Gilka Machado, são exemplos de mulheres que encararam a sociedade preconceituosa da época em que viveram, em busca de um espaço profissional nas artes. Criaram, produziram, se tornaram reconhecidas e abriram os caminhos para as seguintes gerações de mulheres artistas e para a posição da mulher na sociedade em geral.Ano: 2013
Duração: 33 min.
Ficha Técnica
Direção e Roteiro - Pedro Pontes
Consultoria Artística - Helio Eichbauer
Produção - Mana Pontez
AssiStente de Direção - Pedro Farina
Fotografia - Guilherme Francisco, Pedro Farina, Zhai Sichen
Edição e Finalização - Antonio Porto
Som Direto, Edição de Som e Mixagem - Bernardo Adeodato
Figurino - Célia de Oliveira
Elenco
:: Antonio Guerra
:: Dedé Veloso
:: Helio Eichbauer
:: Mariana de Moraes
:: Maria Amélia da Fonseca
:: Stella Miranda
Depoimentos
:: Ana Paula Simioni
:: Bete Floris
:: Clara Sverner
:: Edinha Diniz
:: João Lúcio de Albuquerque
:: Luis Carlos de Albuquerque
:: Maria Beatriz de Albuquerque
:: Maria Lucia de Albuquerque
:: Maria de Lourdes Eleutério
:: Ruth Sprung
Realização: MAB - Multi Arte Brasil
Site Oficial: MAB 
** Documentário disponível no link. (acessado em 22.5.2014)



ADAPTAÇÕES
Espetáculo: "Meu Glorioso Pecado", de Gilka Machado
(Adaptação para o teatro)
Texto: No espetáculo, poesia, música, dança e linguagem teatral dialogam para dar vida à arte desbravadora e libertária da maior figura feminina representante do Simbolismo no Brasil. Neste roteiro poético, pode-se conhecer a belíssima obra de Gilka Machado, a qual abrange, com sensibilidade, questões atinentes ao indivíduo e sociedade, prazer e angústia, erotismo e repressão sexual...
Ano: 2010
Ficha Técnica
Direção, roteiro e pesquisa: Helio Zolini
Atriz: Soraya de Borba
Dançarinos: José Alves, Edmarcio Júnior, Cláudia Maria e Branca Peixoto
Músicos: Pauinho Faria e Jean Miranda
Cenotécnica: Felício Alves.
Coreógrafa e preparadora corporal: Tina Peixoto
Figurinos: Luís Otávio Brandão e Lúcio Ventania.
Preparação vocal: Mariana Nunes.
Assistência de produção: Rubi Oby.
Programação visual: Lucas dos Anjos.
Fotografia: Eliane Torino
Pintura do Painel: Eri Gomes e Homero Moraes
Local: Teatro Maçonaria, Belo Horizonte/MG 


"Se é intensiva a experiência de Gilka Machado, como poetisa e mulher reivindicadora, há outras barreiras a vencer entre a militância poética e a militância doméstica. Havia uma distância, na sua época, entre o campo da sacralidade da arte e certos aspectos da vida rotineira, que o simbolismo intensifica, o modernismo desenvolve e autoras mais contemporâneas, como Adélia Prado, consumam."
- Nádia Battella Gotlib [1982]. Com dona Gilka Machado, Eros pede a palavra: poesia erótica feminina brasileira nos inícios do século XX. Polímica: Revista de Crítica e Criação. p.46-47.




Gilka Machado
FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA
:: Artigos, ensaios, dissertações e teses
:: Brasiliana USP/ Gilka Machado
:: Obras da autora

© A obra de Gilka Machado, é de domínio público

© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske


=== === ===
Trabalhos sobre o autor:
Caso, você tenha algum trabalho não citado e queira que ele seja incluído - exemplo: livro, tese, dissertação, ensaio, artigo - envie os dados para o nosso "e-mail de contato", para que possamos incluir as referências do seu trabalho nesta pagina. 

COMO CITAR:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Gilka Machado - as múltiplas faces: o desejo, o amor, a angústia e a dor. In: Templo Cultural Delfos, setembro/2021. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
** Página atualizada em 6.9.2021
*** Postagem original de MAIO/2013.



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9 comentários:

  1. Elfie, querida, mais uma vez parabéns pelo belíssimo trabalho. Adorei o post, com o texto da Nádia + as inserções iconográficas, leves, bonitas. E por garimpar uma bibliografia muito boa, sobre uma artista que merece ser mais lembrada, sem dúvida. Além da poesia, naturalmente. Obrigado, bjos! andRé

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    Respostas
    1. Olá André,
      Obrigada pelo carinho, fico feliz em saber que gostaste.
      Volte sempre!

      Ps. Sei que é direcionado a minha mãe, contudo tomei a liberdade de responder. :)

      Abraços

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  2. Gostei muito, Gabriela. Ah sim, na verdade pensei na Elfie, mas é direcionado, na verdade, ao blogue (tu e tu mãe). Muito bonito e feito com muito carinho, um trabalho artesanal e delicado este blogue. Bjos às duas!

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  3. tudo o que eu preciso ksks

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  4. Que texto maravilhoso e completo! Fiquei muito feliz em ser citada e em ver um trabalho de pesquisa tão consistente e aprofundado. Parabéns!

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  5. conheci a poetisa Gilka Machado através da novela das seis da globo, o pouco que comecei a conhecer de sua obra, achei muito interessante, uma mulher ousada e a frente do seu tempo. LUCIANO SOARES

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  6. boa noite. vendo e coleciono livros antigos, quando conheci os livros de gilka machado fiquei impressionado pela sua poesia, ainda mais na época que foi escrito. tenho na minha coleção a 1° edição de meu glorioso pecado 1928 de almeida torres e outro livro dela de 1928 poemas contendo o meu glorioso peccado e o grande amõr. livraria azevedo.

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