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Charles Bukowski - aforismos e citações

Charles Bukowski - Foto: Tim Petros

A MULHER MAIS LINDA DA CIDADE

"E só então percebi que estava diante de uma criatura cheia de delicadeza e carinho. Que se traia sem se dar conta. Ao mesmo tempo que se encolhia numa mistura de insensatez e incoerência. Uma verdadeira preciosidade. Uma jóia, linda e espiritual. Talvez algum homem, uma coisa qualquer, um dia a destruísse para sempre. Fiquei torcendo para que não fosse eu."
— Charles Bukowski, no livro “A mulher mais linda da cidade”. Porto Alegre: L&PM, 1997


AO SUL DE LUGAR NENHUM

"– Acho que sem amor, sexo não é nada. As coisas só podem representar alguma coisa quando existe algum sentimento entre os participantes."
— Charles Bukowski, no livro “Ao sul de lugar nenhum”. Porto Alegre: L&PM, 2008

"– Acho que sem amor, sexo não é nada. As coisas só podem representar alguma coisa quando existe algum sentimento entre os participantes."
— Charles Bukowski, no livro “Ao sul de lugar nenhum”. Porto Alegre: L&PM, 2008 

"Ele começou a escrever. Escreveu e escreveu e escreveu. Imaginei como ele sabia tanto sobre mim. Eu mesmo não sabia tanto sobre mim."
— Charles Bukowski, no livro “Ao sul de lugar nenhum”. Porto Alegre: L&PM, 2008 

"O segredo era manter quatro paredes ao redor da gente. Dentro de quatro paredes, tinha-se uma chance. Uma vez que se está na rua, já não há chance alguma, está tudo perdido, tudo realmente perdido."
— Charles Bukowski, no livro “Ao sul de lugar nenhum”. Porto Alegre: L&PM, 2008

"Não tínhamos, propriamente, amor pela vida, mas, ainda assim, queríamos viver." 
— Charles Bukowski, no livro “Ao sul de lugar nenhum”. Porto Alegre: L&PM, 2008 

"Nunca gostei de jurar lealdade à bandeira. Era aborrecido e idiota demais. Sempre me senti mais confortável jurando lealdade a mim mesmo…"
— Charles Bukowski, no livro “Ao sul de lugar nenhum”. Porto Alegre: L&PM, 2008

"Fugia para dentro de minha própria mente e me escondia. Fechava todas as cortinas e ficava olhando para o teto. Quando saía, era para ir a um bar onde eu mendigava por bebida, andava a esmo, apanhava nos becos de homens bem-alimentados e confiantes, de homens idiotas e com vidas confortáveis. Bem, ganhei algumas lutas, mas só porque era louco. Fiquei anos sem mulher, vivia de manteiga de amendoim e pão amanhecido e batatas cozidas. Eu era o idiota, o estúpido, o louco. Queria escrever, mas a máquina de escrever estava sempre penhorada. Então eu desistia e bebia…"
— Charles Bukowski, no livro “Ao sul de lugar nenhum”. Porto Alegre: L&PM, 2008 

"– Cada um de nós está, no final, sozinho."
— Charles Bukowski, no livro “Ao sul de lugar nenhum”. Porto Alegre: L&PM, 2008 


CARTAS NA RUA

"O oceano - eu disse -, veja ele lá, golpeando, arrastando-se para cima e para baixo. E embaixo disso tudo, os peixes, os pobres peixes lutando uns contra os outros, comendo uns aos outros. Nós somos como esses peixes, com a diferença de que estamos aqui em cima. Um movimento mal calculado e você já era. É bom ser um campeão. É bom conhecer os próprios movimentos."
— Charles Bukowski, no livro “Cartas na Rua”. São Paulo: Brasiliense, 1983


CRÔNICA DE UM AMOR LOUCO

"Te amo. Você foi muito boazinha comigo. Mas tenho que ir embora. E nem sei bem por quê. Acho que ando meio doido. Adeus."
— Charles Bukowski, no livro “Crônica de um amor louco”. Porto Alegre: L&PM, 1984

"Não só era a mais linda mulher da cidade como também das mais belas que vi em toda minha vida. Passei-lhe o braço pela cintura e dei-lhe um beijo."
— Charles Bukowski, no livro “Crônica de um amor louco”. Porto Alegre: L&PM, 1984

"Todo o homem come o pão que o diabo amassou – só que eu, nesse terreno, levo três corpos de vantagem."
— Charles Bukowski, no livro “Crônica de um amor louco”. Porto Alegre: L&PM, 1984

"Eu não gostava do mundo, mas em tempos precavidos e tranquilos, dava quase para compreendê-lo." 
— Charles Bukowski, no livro “Crônica de um amor louco”. Porto Alegre: L&PM, 1984

"Porque, se não me sinto feliz, não sirvo para nada, e eu quero servir para alguma coisa."
— Charles Bukowski, no livro “Crônica de um amor louco”. Porto Alegre: L&PM, 1984


FACTÓTUM

– Por isso que você é assim meio louco. Não teve amor. Todo mundo precisa ser amado. Isso arruinou com você.
— Charles Bukowski, no livro “Factótum”. Porto Alegre: L&PM, 2007

"Então chegou a festa de Natal. Era 24 de dezembro. Haveria drinques, comida, música, dança. Eu não gostava de festas. Eu não sabia dançar, e as pessoas me assustavam, especialmente as pessoas em festas. Elas tentavam ser atraentes e alegres e espirituosas e, embora esperassem exercer bem todas essas funções, fracassavam. Elas não eram boas nisso. O fato de tentarem com tamanho afinco só piorava as coisas."
— Charles Bukowski, no livro “Factótum”. Porto Alegre: L&PM, 2007 

"Foi bom, foi quente; pensei no céu azul e em praias amplas e limpas, porém ao mesmo tempo foi triste – faltava, na certa, algum sentimento humano que eu desconhecia ou com o qual não sabia lidar."
— Charles Bukowski, no livro “Factótum”. Porto Alegre: L&PM, 2007 

"– Alguma vez você já se apaixonou?
– Isso é para pessoas de verdade.
– Você me parece de verdade.
– Não gosto de pessoas de verdade.
– Não gosta?
– Eu as odeio."
— Charles Bukowski, no livro “Factótum”. Porto Alegre: L&PM, 2007

"Ergui-me e tomei o rumo de minha pensão. A lua brilhava. Meus passos ecoavam pela rua vazia, parecendo os passos de um perseguidor. Olhei ao redor. Eu estava enganado. Somente a solidão me acompanhava."
— Charles Bukowski, no livro “Factótum”. Porto Alegre: L&PM, 2007

"Era cedo da noite e me atacava uma de minhas crises depressivas, o que me fez ir cedo para cama, buscando, de alguma maneira, adormecer."
— Charles Bukowski, no livro “Factótum”. Porto Alegre: L&PM, 2007 

"A solução, decidi, era não pensar. Mas como se faz para parar de pensar?"
— Charles Bukowski, no livro “Factótum”. Porto Alegre: L&PM, 2007 

"Era verdade que eu não tinha muita ambição, mas devia haver um lugar para pessoas assim, digo, um lugar melhor do que o tradicionalmente reservado. Como, diabos, pode um homem gostar de ser acordado às 6h30 da manhã por um despertador, sair da cama, vestir-se, alimentar-se à força, cagar, mijar, escovar os dentes e os cabelos, enfrentar o tráfego para chegar a um lugar onde essencialmente o que fará é encher de dinheiro os bolsos de outro sujeito e ainda por cima ser obrigado a mostrar gratidão por receber essa oportunidade?"
— Charles Bukowski, no livro “Factótum”. Porto Alegre: L&PM, 2007 


HOLLYWOOD

"Dinheiro é como sexo - eu disse - Parece muito mais importante quando a gente não tem."
— Charles Bukowski, no livro “Hollywood”. Porto Alegre: L&PM, 1990

"Olhei no espelho. Gostava de mim mesmo, mas não no espelho. Não tinha aquela aparência." 
— Charles Bukowski, no livro “Hollywood”. Porto Alegre: L&PM, 1990


MISTO QUENTE

"Cada vez mais descobriremos nossas próprias verdades e nosso próprio modo de falar, e essa nova voz estará despojada de velhas histórias, velhos costumes, de sonhos velhos e inúteis…" 
— Charles Bukowski, no livro “Misto quente”. Porto Alegre: L&PM, 2006

"E nada era interessante, nada. As pessoas eram limitadas e cuidadosas, todas iguais. E eu teria que viver com esses putos pelo resto da minha vida, pensava."
— Charles Bukowski, no livro “Misto quente”. Porto Alegre: L&PM, 2006

"Será que eu era a única pessoa que perdia tempo pensando nesse futuro sem perspectivas?"
— Charles Bukowski, no livro “Misto quente”. Porto Alegre: L&PM, 2006

"Reunidos ao meu redor estavam os fracos em vez dos fortes, os feios em vez dos belos, os perdedores em vez dos vencedores. Era como se meu destino fosse cruzar a vida em companhia deles. Isto não me incomodava tanto quanto o fato de que para esses cretinos, para esses companheiros idiotas, eu era um cara irresistível. Eu era como um monte de bosta que atraía moscas em vez de ser uma flor desejada por borboletas e abelhas. Eu queria viver sozinho, me sentia melhor assim, mais limpo; no entanto, eu não era esperto o suficiente para me livrar deles. Talvez eles fossem meus mestres: pais de outra maneira. De qualquer forma, era duro aguentá-los ao meu redor enquanto comia meus sanduíches à bolonhesa."
— Charles Bukowski, no livro “Misto quente”. Porto Alegre: L&PM, 2006


MULHERES

"– Por que você quer ter tantas mulheres?
– Por causa da minha infância, sabe? Falta de amor, de carinho. E aos vinte, aos trinta, também tive muito pouco.
Estou brincando de pega-pega…"
— Charles Bukowski, no livro “Mulheres”. Porto Alegre: L&PM, 2007 

"Não quero ficar onde não sou desejado. Não quero ficar quando sinto que não gostam de mim."
— Charles Bukowski, no livro “Mulheres”. Porto Alegre: L&PM, 2007

"As morais são restritivas, mas são fundadas na experiência humana através dos séculos. Certas morais servem pra encarcerar as pessoas nas fábricas, igrejas e submetê-las ao Estado. Outras fazem sentido. É como um pomar repleto de frutos envenenados e bons frutos. O negócio é saber qual apanhar pra comer, qual evitar."
— Charles Bukowski, no livro “Mulheres”. Porto Alegre: L&PM, 2007

"Às vezes encontra-se a bondade no meio do inferno."
— Charles Bukowski, no livro “Mulheres”. Porto Alegre: L&PM, 2007

"Sabia que tinha alguma coisa fora do lugar em mim. Eu era uma soma de todos os erros: bebia, era preguiçoso, não tinha um deus, idéias, ideais, nem me preocupava com política. Eu estava ancorado no nada, uma espécie de não-ser. E aceitava isso."
— Charles Bukowski, no livro “Mulheres”. Porto Alegre: L&PM, 2007

"Quanto mais rios você atravessa, mais você aprende sobre eles - quer dizer, se você consegue sobreviver à água translúcida e às rochas ocultas. De vez em quando, era um osso duro de roer, a vida."
— Charles Bukowski, no livro “Mulheres”. Porto Alegre: L&PM, 2007

"Eu estava outra vez apaixonado, estava outra vez com problemas…"
— Charles Bukowski, no livro “Mulheres”. Porto Alegre: L&PM, 2007

"As relações humanas nunca funcionavam mesmo. Só as primeiras duas semanas tinham alguns tchans; a partir daí, os parceiros perdiam o interesse. Caíam as máscaras e as verdadeiras pessoas começavam a aflorar: maníacas, imbecis, dementes, vingativas, sádicas, assassinas. A sociedade moderna tinha criado seres à sua imagem e semelhança e eles se festejavam mutuamente num duelo com a morte, dentro de uma cloaca. Eu já tinha notado que a duração máxima de uma história entre duas pessoas era de dois anos e meio. O rei Mongut do Sião tinha nove mil esposas e concubinas; o rei Salomão, do Velho Testamento, tinha 700 esposas; Augusto, o Forte, da Saxônia, tinha 365 mulheres, uma pra cada dia do ano. Segurança em números."
— Charles Bukowski, no livro “Mulheres”. Porto Alegre: L&PM, 2007

"Sentia-me contente por não estar apaixonado, por não estar contente com o mundo. Gosto de estar em desacordo com tudo."
— Charles Bukowski, no livro “Mulheres”. Porto Alegre: L&PM, 2007

"Eu queria mesmo um espaço sossegado e obscuro pra viver a minha solidão. Por outro lado, de porre, eu abria o berreiro, pirava, queria tudo e não conseguia nada. Um tipo de comportamento não se casava com o outro. Pouco me importava."
— Charles Bukowski, no livro “Mulheres”. Porto Alegre: L&PM, 2007

"Se eles pelo menos fossem um pouco originais, já ajudaria. Mas eles não têm nenhuma imaginação. Deve ser por isso que vivem sozinhos."
— Charles Bukowski, no livro “Mulheres”. Porto Alegre: L&PM, 2007


NOTAS DE UM VELHO SAFADO

"Que jeito de se estrepar. Nenhum mapa. Nenhuma pessoa. Nenhum ruído, apenas vespas. Pedras. Muros. Vento, meu pau e minhas bolas balançando sem sentimento. Eu podia berrar qualquer coisa na rua e ninguém ouviria, ninguém daria a mínima. Não que eles devessem. Eu não estava pedindo por amor, mas tinha alguma coisa muito estranha. Os livros nunca falaram sobre isso. Mas as aranhas sabiam. Foda-se."
— Charles Bukowski, no livro “Notas de um velho safado”. Porto Alegre: L&PM, 1985

"Eu sabia que tinha alguma coisa de errado comigo, mas eu não me considerava insano. Era simplesmente que eu não conseguia compreender como é que outras pessoas tornavam-se tão facilmente irritadas, para em seguida com a mesma facilidade esquecer a sua ira e se tornarem alegres, e como é que eles podiam ser tão interessados por tudo, quando tudo era tão chato."
— Charles Bukowski, no livro “Notas de um velho safado”. Porto Alegre: L&PM, 1985

"…não existe coisa que eu mais odeie do que sentimentalismo barato!"
— Charles Bukowski, no livro “Notas de um velho safado”. Porto Alegre: L&PM, 1985

"Não sou esnobe; simplesmente não estou interessado no que a maioria das pessoas tem pra dizer, ou no que elas desejam fazer."
— Charles Bukowski, no livro “Notas de um velho safado”. Porto Alegre: L&PM, 1985

"Me canso fácil dos preciosos intelectos que precisam cuspir diamantes toda vez que abrem as suas bocas. Eu me canso de ficar batalhando por cada espaço de ar para o espírito. É por isso que me afasto das pessoas por tanto tempo, e agora que estou encontrando as pessoas, descubro que preciso voltar para a minha caverna."
— Charles Bukowski, no livro “Notas de um velho safado”. Porto Alegre: L&PM, 1985

"Há uma espécie de verdade aqui que é amarga e falsa para ser disputada e eu não sei o que fazer com ela."
— Charles Bukowski, no livro “Notas de um velho safado”. Porto Alegre: L&PM, 1985


NUMA FRIA

"A vida é tão boa quanto a gente permite." 
— Charles Bukowski, no livro “Numa Fria”. Porto Alegre: L&PM, 1993

"Talvez conseguisse dormir. O sono parecia a morte. Então adormeceu." 
— Charles Bukowski, no livro “Numa Fria”. Porto Alegre: L&PM, 1993

"Em nossa sociedade, os lugares interessantes, em sua maioria, ou são ilegais ou muito caros."
— Charles Bukowski, no livro “Numa Fria”. Porto Alegre: L&PM, 1993

"O gênio talento seja a capacidade de dizer coisas profundas de maneira simples."
— Charles Bukowski, no livro “Numa Fria”. Porto Alegre: L&PM, 1993

"Estou sem xoxota, garoto, o que pra mim é o mesmo que estar sem amor. Não consigo separar as duas coisas. Não sou tão vivo assim." 
— Charles Bukowski, no livro “Numa Fria”. Porto Alegre: L&PM, 1993

"Olhei o rosto dela e pensei: merda, eu a amo. Que vou fazer? O melhor que podia fazer era bancar o indiferente, depois seguir com ela para o estacionamento. A gente nunca deve deixá-las saber que está ligando, senão elas nos matam."
—  Charles Bukowski, no livro “Numa Fria”. Porto Alegre: L&PM, 1993

"A morte era tão chata. Isso era o pior sobre a morte. Era chata. Assim que acontecia, não se podia fazer nada. Não se podia jogar tênis com ela nem transformá-la numa caixa de bombons. Estava ali, como um pneu furado. A morte era estúpida."
— Charles Bukowski, no livro “Numa Fria”. Porto Alegre: L&PM, 1993

"Os pássaros já haviam despertado, cantando, mas ainda estava escuro como breu. Logo as pessoas estariam se dirigindo para as autoestradas. A gente ouviria as autoestradas zumbirem, outros carros sendo ligados por toda parte nas ruas. Enquanto isso, os bêbados das três da manhã do mundo estariam deitados em suas camas, tentando em vão dormir, e merecendo esse repouso, se pudessem encontrá-lo."
— Charles Bukowski, no livro “Numa Fria”. Porto Alegre: L&PM, 1993

"Sempre dormia até o meio-dia. Era o segredo de minha bem-sucedida existência."
— Charles Bukowski, no livro “Numa Fria”. Porto Alegre: L&PM, 1993

"O que eu odiava era que algum dia tudo se reduziria a nada, os amores, os poemas, os gladíolos. Acabaríamos recheados de terra como um taco barato."
—  Charles Bukowski, no livro “Numa Fria”. Porto Alegre: L&PM, 1993

"– O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz a gente se sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece."
— Charles Bukowski, no livro “Numa Fria”. Porto Alegre: L&PM, 1993


O AMOR É UM CÃO DOS DIABOS

"‘EU TE AMO!’, ela disse.
‘obrigado’, eu disse.
‘é tudo o que você tem pra me dizer?’
‘sim.’
‘vá à merda!’ ela disse e desligou.
o amor se esgota, pensei..."
— Charles Bukowski, no livro “O amor é um cão dos diabos”. Porto Alegre: L&PM, 2007

"fique com a cerveja.
a cerveja é o sangue contínuo.
uma amante contínua."
— Charles Bukowski, no livro “O amor é um cão dos diabos”. Porto Alegre: L&PM, 2007

"um cão apenas
caminhando sozinho numa calçada quente em pleno verão
parece ter mais poder do que dez mil deuses.
por que isso?"
— Charles Bukowski, no livro “O amor é um cão dos diabos”. Porto Alegre: L&PM, 2007


O CAPITÃO SAIU PARA O ALMOÇO E OS MARINHEIROS TOMARAM CONTA DO NAVIO

"Esta é uma dessas noites em que não há nada. Imagine se fosse sempre assim. Vazio. Apático. Sem luz. Sem dança. Nem mesmo insatisfação."
— Charles Bukowski, no livro “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”. Porto Alegre: L&PM, 1999 

"Talvez pensemos demais. Sinta mais, pense menos." 
— Charles Bukowski, no livro “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”. Porto Alegre: L&PM, 1999 

"Todos nós vamos morrer, que circo! Só isso deveria fazer com que amássemos uns aos outros, mas não faz."
— Charles Bukowski, no livro “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”. Porto Alegre: L&PM, 1999

"Maldita noite quente, os gatos estão num estado deplorável, no meio de todo aquele pelo, olham para mim e não posso fazer nada."
— Charles Bukowski, no livro “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”. Porto Alegre: L&PM, 1999 

"Na minha próxima vida, quero ser um gato. Dormir 20 horas por dia e esperar ser alimentado. Sentar por aí lambendo meu cu. Os humanos são desgraçados demais, irados demais, obcecados demais."
— Charles Bukowski, no livro “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”. Porto Alegre: L&PM, 1999


PEDAÇOS DE UM CADERNO MANCHADO DE VINHO

"Posso ver o dia, o grande dia em que não haverá mais cadeias. Posso ver o dia em que quase todos os homens, sem usar o senso comum; rejeitarão prejudicar/machucar/matar deliberadamente seus semelhantes. Claro, haverá sempre um lobo fora da matilha. Mas este lobo se integrará cada vez mais à medida que a compreensão tomar o lugar do castigo." 
— Charles Bukowski, no livro “ Pedaços de um caderno manchado de vinho”. Porto Alegre: L&PM, 2010 


PULP

"Todo mundo estava fodido. Não havia vencedores. Só vencedores aparentes. Todos nós corríamos atrás de nada. Dia após dia. Sobreviver parecia ser a única necessidade. Não parecia bastante. Não com Dona Morte esperando."
— Charles Bukowski, no livro “Pulp”. Porto Alegre: L&PM, 1995 

"Afinal de contas, eu tinha feito tudo que me havia proposto na vida. Dera os passos certos. Não dormia na rua. Claro, havia um bocado de gente boa dormindo nas ruas. Não eram idiotas, apenas não se encaixavam na maquinaria necessária no momento. E essas necessidades viviam mudando. Era uma luta desigual, e se a gente dormia na própria cama já era uma preciosa vitória contra as forças. Eu tivera sorte, mas alguns dos passos que dera não os dera inteiramente sem pensar. Em geral, porém, era um mundo horrível, e eu muitas vezes me sentia tristes pelos outros.
Bem, ao diabo com isso. Peguei a vodca e tomei um trago."
— Charles Bukowski, no livro “Pulp”. Porto Alegre: L&PM, 1995

"Decidi ficar na cama até o meio-dia. Talvez então a metade do mundo estivesse morta e ele seria metade menos difícil de enfrentar. Talvez quando eu me levantasse de tarde tivesse uma aparência melhor, me sentisse melhor."
— Charles Bukowski, no livro “Pulp”. Porto Alegre: L&PM, 1995

"Mas todo mundo está certo e errado, e de pernas pro ar. E que importância tinha quem fodia com quem? No fim era tão sem graça. Foder, foder, foder. Bem, as pessoas se prendem. Uma vez que corta o cordão umbilical, a gente se prende a outras coisas. Vistas, som, sexo, miragem, mães, masturbação, assassinato e ressaca de segunda-feira."
— Charles Bukowski, no livro “Pulp”. Porto Alegre: L&PM, 1995

"As pessoas que resolviam as coisas em geral tinham muita persistência e um pouco de sorte. Se a gente persistisse o bastante, a sorte em geral chegava. Mas a maioria das pessoas não podia esperar a sorte, por isso desistia."
— Charles Bukowski, no livro “Pulp”. Porto Alegre: L&PM, 1995

"Frequentemente, os melhores momentos na vida são quando a gente não está fazendo nada, só meditando, ruminando. Quer dizer, a gente pensa que todo nundo é sem sentido, ai vê que não pode ser tão sem sentido assim se a gente percebe que é sem sentido, e essa consciência de falta de sentido já é quase um pouco de sentido, Sabe como é? Um otimista pessimista."
— Charles Bukowski, no livro “Pulp”. Porto Alegre: L&PM, 1995

"A insanidade é relativa. Quem estabelece a norma?"
— Charles Bukowski, no livro “Pulp”. Porto Alegre: L&PM, 1995

"A existência era não apenas absurda, era simplesmente trabalho pesado. Pense em quantas vezes a gente veste as roupas de baixo em toda a vida. Era surpreendente, era repugnante, era estúpido."
— Charles Bukowski, no livro “Pulp”. Porto Alegre: L&PM, 1995



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** Página atualizada em 1.5.2016



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João Guimarães Rosa - pensares e saberes



João Guimarães Rosa - fonte: acervo JGR

"(...) a linguagem e a vida são uma coisa só. Quem não fizer do idioma o espelho de sua personalidade não vive; e como a vida é uma corrente contínua, a linguagem também deve evoluir constantemente. Isto significa que, como escritor, devo me prestar contas de cada palavra e considerar cada palavra o tempo necessário até ela ser novamente vida. O idioma é a única porta para o infinito, mas infelizmente está oculto sob montanhas de cinzas. Daí resulta que tenha de limpá-lo, e como é a expressão da vida, sou eu o responsável por ele, pelo que devo constantemente umsorgen."
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa". Disponível na íntegra AQUI".



"Ando com fome de coisas sólidas e com ânsia de viver só o essencial. Leia o "Time must have a stop", de Huxley. Pessoalmente, penso que chega um momento na vida da gente, em que o único dever é lutar ferozmente por introduzir, no tempo de cada dia, o máximo de "eternidade"."
- João Guimarães Rosa, em carta a Antonio Azeredo da Silveira, Rio de Janeiro, 27-X-45. In: "SILVEIRA, Flavio Azeredo da.(org.). 24 cartas de João Guimarães Rosa a Antonio Azeredo da Silveira. Editionsfads.



ESTAS ESTÓRIAS (CONTOS)

"Vida - coisa que o tempo remenda, depois rasga."
- João Guimarães Rosa, em "Estas Estórias". Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1967.


"Contudo, às vezes sucede que morramos, de algum modo, espécie diversa de morte, imperfeita e temporária, no próprio decurso desta vida. Morremos, morre-se..."
- João Guimarães Rosa, do conto "Páramo", no livro "Estas Estórias". Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1967.



AVE PALAVRA
(crônicas, ficções, anotações sobre zoológicos, poemas, fragmentos de diários e oratórios)

"Em nosso jardim há florestas e pausas."
- João Guimarães Rosa, do conto "Evanira", no livro 'Ave, palavra'.


"Vejo-te, meu íntimo é solúvel em ti."
- João Guimarães Rosa, do conto "Evanira", no livro 'Ave, palavra'.


"Devo adquirir mais silêncio,
mais espera,
mais brancura."
- João Guimarães Rosa, do conto "Evanira"., no livro 'Ave, palavra'.


"Amar é a gente querer se abraçar com um pássaro que voa."
- João Guimarães Rosa, em "Do diário em Paris", do livro 'Ave, palavra'.


"Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens?"
- João Guimarães Rosa, do conto "Zoo" - no livro 'Ave, Palavra'. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, p. 122. 


"Refresca teu coração. Sofre, sofre, depressa, que é para as alegrias novas poderem vir…"
- João Guimarães Rosa, no livro “Ave, Palavra”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.


CORPO DE BAILE (NOVELAS)
Guimarães Rosa, por Andre Gigante 
(Manuelzão e Miguilim; No Urubuquaquá no Pinhém; e Noites do Sertão)

"Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma." 
- João Guimarães Rosa, na novela "Campo Geral", em "Manuelzão e Miguilim"/ do livro 'Corpo de Baile'. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 2001, pg. 148. 



"Miguilim olhou. Nem não podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessôas. Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de um distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo... O senhor tinha retirado dele os óculos, e Miguilim ainda apontava, falava, contava tudo como era, como tinha visto. Mãe estava assim assustada; mas o senhor dizia que aquilo era do modo mesmo, só que Miguilim também carecia de usar óculos (...) O doutor entendeu e achou graça. Tirou os óculos, pôs na cara de Miguilim. E Miguilim olhou para todos, com tanta força. Saiu lá fora. Olhou os matos escuros de cima do morro, aqui em casa, a cerca de feijão-bravo e são-caetano; o céu, o curral, o quintal; os olhos redondos e os vidros altos da manhã. Olhou mais longe, o gado pastando perto do brejo, florido de são-josés, como um algodão. O verde dos buritis, na primeira vereda. O Mutum era bonito! Agora ele sabia."
- João Guimarães Rosa,
da novela "Campo Geral", em "Manuelzão e Miguilim"/ no livro 'Corpo de Baile'. Rio de janeiro: Nova fronteira, 2001, p. 149-152.


"- A vida é boba. Depois é ruim. Depois, cansa. Depois, se vadia. Depois a gente quer alguma coisa que viu. Tem medo. Tem raiva do outro. Depois cansa. Depois a vida não é de verdade... Sendo que é formosa!"
- João Guimarães Rosa, da novela "Cara-de-Bronze". em "No Urubuquaquá, no Pinhém", no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


"Mar a redor, fim afora, iam-se os Gerais, os Gerais do ô e do ao: mesas quebradas e mesas planas, das chapadas, onde há areia; para o verde sujo de más árvores, o grameal e o agreste – um capim rude, que boca de burro ou de boi não quer; e água e alegre relva arrozã, só nos transvales das veredas, cada qual, que refletem, orlantes, o cheiroso sassafrás, a buritirana espinhosa, e os buritis, os ramilhetes dos buritizais, os buritizais, os buritizais, os buritis bebentes."
- João Guimarães Rosa, da novela "Cara-de-Bronze". em "No Urubuquaquá, no Pinhém", no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


“Você é o estado dum perfume. Respirar que forma uma alegria.”
- João Guimarães Rosa, da novela “Dão-lalalão”, em "Noites do Sertão", no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


“Amor é coragens. E amor é sede depois de se ter bem bebido.”
- João Guimarães Rosa, da novela “Dão-lalalão”, em "Noites do Sertão", no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


"O verdadeiro amor é um calafrio doce, um susto sem perigos."
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão", no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


"Fome de tudo – de conhecer por dentro – fome do miolo todo, do bagaço, da última gota de caldo.”
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão", no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


“Como surpreender, adivinhar, por detrás do silêncio, cada grão de som?”
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão", no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


“O que a gente deve de deixar para trás é a poeira e as tristezas...”
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão", no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


“Meu dever é a alegria sem motivo... Meu dever é ser feliz...”
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão", no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


"Acho que tudo o que tem, de melhor, é o que a gente não deve de fazer, o que é preciso se aproveitar escondido, escondido...”
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão", no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


“A vontade de não aceitar a tristeza mais fosse um bem valioso, e uma qualidade.”
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão", no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


“Toda vez que a gente quer alguma coisa, e não sabe o quê, então é porque a gente está é com sede dum bom copo d’água, ou carecendo de ouvir música tocada...”
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão", no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


“E a vida inteira parecia ser assim, apenas assim, não mais que assim: um seguido despertar, de concêntricos sonhos – de um sonho, de dentro de outro sonho, de dentro de outro sonho... Até a um fim?”
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão", no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


“Tem mulheres de lindeza assim, a gente sente a precisão de tomar um gole de bebida antes de olhar outra vez.”
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão",  no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


“Ninguém não paga à gente os tempos passados, e o regalo que se perdeu...”
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão",  no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


“Mas nuvens que o monte de um vento suspende e faz, assim como todo avo de minuto é igualzinho ao de depois e ao de dantes, e o tempo é um espelho mostrado a balançar.”
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão",  no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


“Caminhando no vau da noite, se chega até na beira do Inferno. As pessoas grandes tinham de repente o ódio uma das outras. Era preciso rezar o tempo todo, para que nada não sucedesse. A noite é triste.”
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão",  no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


“O mundo era feito para outro viver, rugoso e ingrato, em vão se descobria um recanto de delícia, caminhozinho de todo agrado, suas fontes, suas frondes – e a vida, por própria inércia, impedia-o, ameaçava-o, tudo numa ordem diferente não podia reaver harmonia, congraçar-se.”
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão",  no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


“Ali no sertão, atribuíam valor aos nomes, o nome se repassava do espírito e do destino da pessoa, por meio do nome produziam sortilégios.”
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão",  no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


“No que a cidade e o sertão não se dão entendimento: as regalias da vida, que as mesmas não são.”
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão",  no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


“A noite é o que não coube no dia, até.”
- João Guimarães Rosa, da novela “Buriti”, em "Noites do Sertão",  no livro 'Corpo de Baile'. 1965.


PRIMEIRAS ESTÓRIAS (CONTOS)
"Esperava o silêncio. Escutava muito ao redor de si. Mas nunca ouvia tudo; não sabia nem podia."
- João Guimarães Rosa, do conto "A benfazeja". no livro "Primeiras estórias". Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1962.


"Pai, a vida é feita só de traiçoeiros altos-e-baixos? Não haverá, para a gente, algum tempo de felicidade, de verdadeira segurança?"
- João Guimarães Rosa, do conto "Nada e a nossa condição", no livro "Primeiras estórias". Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1962.


"Tudo não demorou calado, tão fundamente, não existindo, enquanto viviam as pessoas capazes, quem sabe, de esclarecer onde estava e por onde andou o Menino, naqueles remotos, já peremptos anos? Só agora que assoma, muito lento, o difícil clarão reminiscente, ao termo talvez de longuíssima viagem, vindo ferir-lhe a consciência. Só não chegam até nos, de outro modo, as estrelas."
- João Guimarães Rosa, do conto "Nenhum, nenhuma", no livro "Primeiras estórias". Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1962.


"Cada um de nós se esquecera de seu mesmo, e está-vamos transvivendo, sobrecrentes, disto: que era o verdadeiro viver? E era bom demais, bonito – o mil maravilhoso – a gente voava, num amor, nas palavras: no que se ouvia dos outros e no nosso próprio falar."
- João Guimarães Rosa, do conto "Pirlimpsiquice". no livro 'Primeiras estórias'. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1962.


“O senhor, por exemplo, que sabe e estuda, suponho que nem tenha ideia do que seja na verdade – um espelho? Demais, decerto, das noções de física, com que se familiarizou, as leis da óptica. Reporto-me ao transcen­dente. Tudo, aliás, é a ponta de um mistério.”
- João Guimarães Rosa, do conto "O espelho", no livro 'Primeiras estórias'. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1962.


"Tudo, aliás, é a ponta de um mistério. Inclusive, os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo."
- João Guimarães Rosa, do conto "O espelho", no livro 'Primeiras estórias'. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1962.


"Todos os vivos atos se passam longe demais."
- João Guimarães Rosa, do conto "A menina de lá", no livro 'Primeiras estórias'. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1962.


"...e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água, que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio acima, rio adentro-o rio."
- João Guimarães Rosa, do conto "A terceira margem do rio", no livro 'Primeiras estórias'. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1962.


"Sou homem de tristes palavras."
- João Guimarães Rosa, do conto "A terceira margem do rio", no livro 'Primeiras estórias'. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1962.


TUTAMÉIA (TERCEIRAS ESTÓRIAS)

"- A felicidade não se caça. Pares amorosos voltam às vezes a dado lugar, querendo reproduzir êxtases ou enlevos; encontram é o desrequentado, discórdia e arrufo, aquele caminho não ia dar a Roma nenhuma. Outros recebem o dom em momentos neutros, até no meio dos sofrimentos, há as doces pausas da angústia."
- João Guimarães Rosa, trecho do prefácio "sobre a escova e a dúvida"/no livro 'Tutaméia: terceiras estórias'. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.


“— O que é, o que é: que é melhor do que Deus, pior do que o diabo, que a gente morta come, e se a gente viva comer morre?” Resposta: — “É nada”."
- João Guimarães Rosa, em “Aletria e hermenêutica” — 1º prefácio no livro 'Tutaméia'.


"Ando a ver. O caracol sai ao arrebol. A cobra se concebe curva. O mar barulha de ira e de noite. Temo igualmente angústias e delícias. Nunca entendi o bocejo e o pôr-do-sol. Por absurdo que pareça, a gente nasce, vive, morre. Tudo se finge, primeiro; germina autêntico é depois. Um escrito, será que basta? Meu duvidar é uma petição de mais certeza." 
- João Guimarães Rosa, no livro 'Tutaméia: terceiras estórias'. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985, p. 166.


"Felicidade se acha é só em horinhas de descuido."
- João Guimarães Rosa, do conto "Barra da Vaca", no livro 'Tutaméia: terceiras estórias'. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.


"Dito: meio se escuta, dobro se entende."
- João Guimarães Rosa, do conto “Curtamão”, no livro 'Tutaméia: terceiras estórias'. 


"Note-se e medite-se. Para mim mesmo, sou anônimo; o mais fundo de meus pensamentos não entende minhas palavras; só sabemos de nós mesmos com muita confusão."
- João Guimarães Rosa, do conto “Se eu seria personagem”, no livro 'Tutaméia: terceiras estórias'. 


SAGARANA (CONTOS)

"Você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria... 
Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua."
- João Guimarães Rosa, do conto "A hora e vez de Augusto Matraga". no livro 'Sagarana'.


"... E é graças aos encontros inesperados dos velhos amigos que eu fico reconhecendo que o mundo é pequeno e, como, sala-de-espera, ótimo, facílimo de se aturar..."
- João Guimarães Rosa, do conto "Minha Gente", no livro 'Sagarana'.


"- Pior, pior... Começamos a olhar o medo...o medo grande e a pressa...O medo é uma pressa que vem de todos os lados, uma pressa sem caminho... É ruim ser boi de carro. É ruim viver perto dos homens... As coisas ruins são do homem: tristeza, fome, calor – tudo pensado é pior..."
- João Guimarães Rosa, do conto “Conversa de Bois”, no livro 'Sagarana'.


GRANDE SERTÃO: VEREDAS (ROMANCE)

"O que eu queria era ser menino, mas agora, naquela hora, se eu pudesse possível. Por certo que eu já estava crespo da confusão de todos. Em desde aquele tempo, eu já achava que a vida da gente vai em erros, como um relato sem pés nem cabeça, por falta de sisudez e alegria. Vida devia de ser como na sala do teatro, cada um inteiro fazendo com forte gosto seu papel, desempenho." 
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas". 


"De primeiro, eu fazia e mexia e pensar não pensava. Não possuía os prazos. Vivi puxando difícil de difícel, peixe vivo no moquém: quem mói no asp‟ro, não fantaseia. Mas, agora, feita a folga que me vem, e sem pequenos desassossegos, estou de range rede. E me inventei nesse gosto, de especular idéia."
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas". 


"Não por orgulho meu, mas antes por me faltar o raso da paciência, acho que sempre desgostei de criaturas que com pouco e fácil se contentam. Sou deste jeito."
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".


“Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas."
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas". 


"Ah, para o prazer e para ser feliz, é que é preciso a gente saber tudo, formar alma, na consciência; para penar, não se carece: bicho tem dor, e sofre sem saber mais porquê. Digo ao senhor: tudo é pacto. Todo caminho da gente é resvaloso."
- João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas. 


“O que houve que se deu. Que vi. Com a sede sofrida, um incha, padece nas vistas, chega fica cego. Mas vi. Foi num átimo. Como que por distraído: num dividido de minuto, a gente perde o tino por dez anos. Vi: ele – o chapéu que não quebrava bem, o punhal que sobressaia muito na cintura, o monho, o mudar das caras... Ele era o demo, de mim diante... O Demo!... Fez uma careta, que sei que brilhava. Era o Demo, por escarnir, próprio pessoa!...”
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".


"Mas o sertão era para, aos poucos e poucos, se ir obedecendo a ele; não era para à força se compor. Todos que malmontam no sertão só alcançam de reger em rédea por uns trechos; que sorrateio vai virando tigre da sela." 
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".


"— Pois é, Chefe. E eu sou nada, não sou nada, não sou nada... Não sou mesmo nada, nadinha de nada, de nada... Sou a coisinha nenhuma, o senhor sabe? Sou o nada coisinha nenhuma mesma nenhuma de nada, o menorzinho de todos. O senhor sabe? De nada. De nada... De nada..." 
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".


"A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não se misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância."
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas". 


"Eu queria decifrar as coisas que são importantes. E estou contando não é uma vida de sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder."
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas". 


"Contar é muito, muito dificultoso. Não pelos anos que se já passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas – de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. O que eu falei foi exato? Foi. Mas teria sido? Agora acho que nem não. São tantas horas de pessoas, tantas coisas em tantos tempos, tudo miúdo recruzado."
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".


"Que isso foi o que sempre me invocou, o senhor sabe: eu careço de que o bom seja bom e o ruim, ruim. Que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza! ...Como é que posso com esse mundo? (...) Ao que, esse mundo é muito misturado."
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".


"– “Ei, Lúcifer! Satanás, dos meus Infernos!”
Voz minha se estragasse, em mim tudo era cordas e cobras.
E foi aí. Foi. Ele não existe, e não apareceu nem respondeu – que é um falso imaginado. Mas eu supri que ele tinha me ouvido. Me ouviu, a conforme a ciência da noite e o envir de espaços, que medeia. Como que adquirisse minhas palavras todas; fechou o arrocho do assunto. Ao que eu recebi de volta um adejo, um gozo de agarro, daí umas tranqüilidades-de pancada. Lembrei dum rio que viesse adentro a casa de meu pai. Vi as asas. Arquei o puxo do poder meu, naquele átimo. Aí podia ser mais? A peta, eu querer saldar: que isso não é falável. As coisas assim a gente mesmo não pega nem abarca. Cabem é no brilho da noite.
Aragem do sagrado. Absolutas estrelas!"
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".


"Ah, as coisas influentes da vida chegam assim sorrateiras, ladroalmente."
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".


"Pois ainda tardei, esbarrado lá, no burro do lugar. Mas como que já estivesse rendido de avesso, de meus íntimos esvaziado. – “E a noite não descamba!...” Assim parava eu, por reles desânimo de me aluir dali, com efeito; nem firmava em nada minha tenção. As quantas horas? E aquele frio, me reduzindo. Porque a noite tinha de fazer para mim um corpo de mãe – que mais não fala, pronto de parir, ou, quando o que fala, a gente não entende? Despresenciei. Aquilo foi um buracão de tempo."
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".


"Desentendi os cantos com que piam, os passarinhos na madrugança. Eu jazi mole no chato, no folhiço, feito se um morcegãocaiaria me tivesse chupado. Só levantei de lá foi com fome. Ao alembrável, ainda avistei uma meleira de abelha aratim, no baixo do pau-de-vaca, o mel sumoso se escorria como uma mina d’água, pelo chão, no meio das folhas secas e verdes. Aquilo se arruinava, desperdiçado. Senhor, senhor – o senhor não puxa o céu antes da hora! Ao que digo, não digo? [...] Assim eu estava desdormido, cisado. Aí mesmo, no momento, fui ecogitando: que a função do jagunço não tem seu que, nem p’ra que. Assaz a gente vive, assaz alguma vez raciocina. Sonhar, só, não. O demônio é o Dos-Fins, o Austero, o Severo-Mor. Aporro!"
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas".


"No real da vida, as coisas acabam com menos formato, nem acabam. Melhor assim. Pelejar por exato, dá erro contra a gente. Não se queira. Viver é muito perigoso..."
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão Veredas". 


MAGMA (POESIA)

Música de Schubert
Sombras de amores
em bailado longínquo, num palco sem fundo
com um fundo de espelho...
- João Guimarães Rosa, em "Magma". Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1997.



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** Página atualizada em 1.7.2016.



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