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Marina Tsvietáieva - poeta russa

Marina Tsvietáieva
Marina Tsvietáieva (Марина Цветаева) poeta e tradutora russa, nasceu em Moscou, em 1892, numa família que poderia ser considerada, hoje, de classe média alta; de pai viúvo, o professor universitário Ivan, casado em segundas núpcias com sua mãe, Maria, uma pianista frustrada, descendente de alemães e poloneses, morta pela tuberculose quando a filha tinha apenas 14 anos. Dela, a menina herdou sua musicalização, seu antimaterialismo e seu interesse pela língua e pelo romantismo germânicos.
Marina sempre levou uma vida extremamente liberal, em todos os sentidos. Casou-se cedo, criou três filhos, manteve dezenas de amantes, nunca escondeu sua bissexualidade e participou ativamente da vida cultural européia, em especial da checa e francesa.
Mas as grandes guerras do século, auxiliadas pela Revolução Russa, acabaram por vencê-la. Entre outras tristezas menores, viu dissolver-se sua família, entre mortes, exílios e prisões. Em 1941, enforcou-se, deixando apenas um bilhete: "Não me enterrem viva: verifiquem bem!". Ninguém compareceu ao funeral. Para Pignatari, seu Poema do fim, presente no livro Marina Tsvietáieva, é o "mais espantoso poema de amor do século" passado.
Marina é o primeiro livro da poeta russa Marina Tsvietáieva lançado no Brasil. Com tradução do poeta e semiota Décio Pignatari a obra apresenta uma autora fundamental na antologia poética russa, que vem sendo cada vez mais reconhecida depois de liberada a divulgação de sua obra.
:: Fonte: Travessa dos editores (acessado em 8.2.2016). 


OBRAS PUBLICADAS NO BRASIL E PORTUGAL
Poesia
Marina Tsvetaeva (1913)
:: Depois da Rússia: 1922-1925. Marina Tsvetaieva. [tradução Filipe Guerra e Nina Guerra]. 1ª ed., Lisboa: Relogio D'agua, 2001. 
:: Marina - Marina Tsvietáieva (Марина Цветаева).. [prefácio, seleção e tradução Décio Pignatari]. edição bilingue. Curitiba: Travessa dos Editores, 2005.
:: Indícios flutuantes: poemas. Marina Tsvetáieva.. [Prefácio e seleção Aurora Fornoni Bernardini]. edição bilingue. 1ª ed., São Paulo: Martins Fontes, 2006. v. 1. 145p.

Prosa
:: O diabo. Marina Tsvetaieva. [tradução Manuel Dias]. 1ª ed., Lisboa: Relogio D'agua, 1994. 

Antologia (participação)
:: Poesia russa moderna. [tradução e comentários de Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman]. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.

:: Poesia da recusa. [introdução e tradução Augusto de Campos]. São Paulo: Perspectiva, 2006. 
:: Poetas russos. (Aleksandr Blok | Anna Akhmatova | Boris Pasternak | Bulat Okudjava | Ievgueni Ievtuchenko | Marina Tsvetaieva | Serguei Iessienin | Vladimir Mayakovsky).. [tradução Manuel de Seabra]. 1ª ed., Lisboa: Relogio D'agua, 1995.
:: Poemas russos. [organização Mariana Pithon e Nathalia Campos; vários tradudores]. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. Disponível no link. (acessado em 8.2.2016).




POEMAS ESCOLHIDOS DE MARINA TSVIETÁIEVA

Marina Tsvietáieva (1931)
BEIJO NA TESTA
Beijo na testa       –       deleta aflição
                                      imprime afeição
Beijo na testa

Beijo nos olhos    –       deleta pesadelo
                                      imprime desvelo
Beijo nos olhos

Beijo na boca       –       deleta sede e fome
                                      imprime seu nome
Beijo na boca

Beijo na testa       –       deleta memória
                                      e fim da historia
Beijo na testa

(5 de Junho, 1917)


               
В ЛОБ ЦЕЛОВАТЬ
В лоб целовать – заботу стереть.
В лоб целую.
        
В глаза целовать – бессонницу снять.
В глаза целую.

В губы целовать – водой напоить.
В губы целую.
        
В лоб целовать – память стереть.
В лоб целую

(5 июня, 1917)

- Marina Tsvietáieva (Марина Цветаева), em "Marina". [tradução Décio Pignatari]. Curitiba: Travessa dos Editores, 2005.

§

ENCONTRO
Vou chegar tarde ao encontro marcado,
cabelos já grisalhos. Sim, suponho
ter-me agarrado à primavera, enquanto
via você subir de sonho em sonho.

Vou carregar esse amargo – por largo
tempo e muitos lugares, de penedos
a praças (como Ofélia – sem lámurias)
por corpos e almas – e sem medos!

A mim, digo que viva; à terra, gire
com sangue no bosque e sangue corrente,
mesmo que o rosto de Ofélia me espie
por entre as relvas de cada corrente,

e, amorosa sedenta, encha a boca
de lodo – oh, haste de luz no metal!
Não chega este amor à altura do seu
amor ... Então, enterre-me no céu!

(18 de junho de 1923)



СВИДАНЬЕ

На назначенное свиданье
Опоздаю. Весну в придачу
Захвативши - приду седая.
Ты его высоко назначил!

Буду годы идти - не дрогнул
Вкус Офелии к горькой руте!
Через горы идти - и стогны,
Через души идти - и руки.

Землю долго прожить! Трущоба-
Кровь! и каждая капля - заводь.
Но всегда стороной ручьевой
Лик Офелии в горьких травах.

Той, что страсти хлебнув, лишь ила
Нахлебалась! - Снопом на щебень!
Я тебя высоко любила:
Я себя схоронила в небе!

(18 июня 1923)

- Marina Tsvietáieva (Марина Цветаева), em "Marina". [tradução Décio Pignatari]. Curitiba: Travessa dos Editores, 2005.

§

VOCÊ ME AMAVA
Você me amava: as honestas mentiras
pareciam na verdade ter raiz.
Maior que o tempo, que imenso, imensís-
simo (eu cria) um tal amor que aspiras-

se ser tão grande quanto o meu ardor!
Então, sem mais, a mão abana, o amor
se vai, respiro mal, mal digo a mim:
— Eis a verdade do início e do fim.

(1923)


ТЫ, МЕНЯ ЛЮБИВШИЙ
Ты, меня любивший фальшью
Истины — и правдой лжи,
Ты, меня любивший — дальше
Некуда! — За рубежи!

Ты, меня любивший дольше
Времени. — Десницы взмах!
Ты меня не любишь больше:
Истина в пяти словах.

(1923)

- Marina Tsvietáieva (Марина Цветаева), em "Marina". [tradução Décio Pignatari]. Curitiba: Travessa dos Editores, 2005.

§

FIOS TELEGRÁFICOS 

Aos postes cantores
em áreas de fios
– suportes do céu –
envio o pé de
que sou parte,
                        nestes baixos,

vibrante de poste a poste
– alameda de suspiros –
meu telegrama:
                           – ã ã ã ã – mo...

Ouço – peço – (Formulários
não su-portam tal palavra:
– fios são diretos!).

O próprio Atlas
apoiou nesses postes
a raia dos deuses eqüestres...
ao longo dos fios, envio
a televoz: a a a a – deus...

Esta ouvindo! Últimas notas
da minha garganta:
                                Per – dão – Por – deus...
Cordame de navio
em mar de lavouras
– pacíficos e atlânticos –
– sempre mais alto –
as mensagens se fundem
na trama de Ariadne:
                                – Vo o o ! – te...
e os lamentos: Não – vou – dei – xar...

Fios, guardas de aço
das vozes do inferno,
sempre mais distantes,
e ainda pedindo – “Tenham pena!...Piedade!”

Pena ou piedade? (Tal ruído
se distingue no coral dantesco?
O grito, quando a morte chega
– por valas e aterros –
o último): gemido da paixão imortal
de Eurídice – “Que pena,
                                  que...
                                  q...? 

(17 de março de 1923)


ПРОВОДА
1


Вереницею певчих свай,
Подпирающих Эмпиреи,
Посылаю тебе свой пай
Праха дольнего.
                                        По аллее
Вздохов — проволокой к столбу —
Телеграфное: лю — ю — блю…

Умоляю… (печатный бланк
Не вместит! Проводами проще!
Это — сваи, на них Атлант
Опустил скаковую площадь
Небожителей…
                                        Вдоль свай
Телеграфное: про — о — щай…

Слышишь? Это последний срыв
Глотки сорванной: про — о — стите…
Это — снасти над морем нив,
Атлантический путь тихий:

Выше, выше — и сли — лись
В Ариаднино: ве — ер — нись,

Обернись!.. Даровых больниц
Заунывное: не́ выйду!
Это — про́водами стальных
Проводо́в — голоса Аида

Удаляющиеся… Даль
Заклинающее: жа — аль…

Пожалейте! (В сем хоре — сей
Различаешь?) В предсмертном крике
Упирающихся страстей —
Дуновение Эвридики:

Через насыпи — и — рвы
Эвридикино: у — у — вы,

Не у —

(17 марта 1923)

- Marina Tsvietáieva (Марина Цветаева), em "Marina". [tradução Décio Pignatari]. Curitiba: Travessa dos Editores, 2005.

§

ENSAIO DE CIÚME
Como vai indo com a outra?
Tão fácil, não? — basta um impulso
no remo — com a orla, a minha
imagem se borra, se afasta,

vira ilha flutuante (no céu,
— na água, não!).
                             Alma e alma,
irmãs, sim — mas, amantes, não!
Uma é destino; outra — sem fim!

Que tal viver com tal pessoa
comum — vida sem divindades?
Jogou do trono-olimpo a deusa-
rainha, abdicou — e a coroa

de sua vida, como fica?
Ao despertar, como pagar
o preço de imortal banal-
idade — como? Menos rica?

"Chega de susto e suspeita!
Quero um lar!". Mas... e a vida
só — com uma mulher qualquer —
Você — eleito de uma eleita?

Ah... E a comida? Apetitosa?
Você se queixa quando enjoa?
Depois do topo do Sinai,
Ir conviver com uma à-toa

da parte baixa da cidade,
uma coitada? Gostou da anca?
O açoite-vergonha de Zeus
ainda não vincou-lhe a estampa?

Entre viver e ser, dá para
contar? E como encara
o caro amigo a cicatriz
da consciência-meretriz?

Viver como boneca de gesso
—de feira!? Você me acha cara?
depois de um busto de Carrara,
um susto de papier-mâché?

(O deus que escavei de um bloco
só me deixou os ocos). Enleva
viver com uma igual a mil,
quem já teve a Lilit primeva?

Não lhe matou a fome a boa
bisca, que atendeu aos pedidos?
Como viver com a simplória
que só possui cinco sentidos?

Enfim, por fim...: você é feliz,
no sem-fundo dessa mulher?
Pior, melhor, igual a mim,
nos braços de um outro qualquer?

(1924)


ПОПЫТКА РЕВНОСТИ

Как живется вам с другою,-
Проще ведь?- Удар весла!-
Линией береговою
Скоро ль память отошла

Обо мне, плавучем острове
(По небу - не по водам)!
Души, души!- быть вам сестрами,
Не любовницами - вам!

Как живется вам с простою
Женщиною? Без божеств?
Государыню с престола
Свергши (с оного сошед),

Как живется вам - хлопочется -
Ежится? Встается - как?
С пошлиной бессмертной пошлости
Как справляетесь, бедняк?

"Судорог да перебоев -
Хватит! Дом себе найму".
Как живется вам с любою -
Избранному моему!

Свойственнее и сьедобнее -
Снедь? Приестся - не пеняй...
Как живется вам с подобием -
Вам, поправшему Синай!

Как живется вам с чужою,
Здешнею? Ребром - люба?
Стыд Зевесовой вожжою
Не охлестывает лба?

Как живется вам - здоровится -
Можется? Поется - как?
С язвою бессмертной совести
Как справляетесь, бедняк?

Как живется вам с товаром
Рыночным? Оброк - крутой?
После мраморов Каррары
Как живется вам с трухой

Гипсовой? (Из глыбы высечен
Бог - и начисто разбит!)
Как живется вам с сто-тысячной -
Вам, познавшему Лилит!

Рыночною новизною
Сыты ли? К волшбам остыв,
Как живется вам с земною
Женщиною, без шестых

Чувств?..
Ну, за голову: счастливы?
Нет? В провале без глубин -
Как живется, милый? Тяжче ли,
Так же ли, как мне с другим?

(1924)

- Marina Tsvietáieva (Марина Цветаева), em "Marina". [tradução Décio Pignatari]. Curitiba: Travessa dos Editores, 2005.

§ 

Marina Tsvietáieva (1930)
A MAIAKOVSKI*
                      Jogo na palma da mão
                      sementes de fogo
                      para que Ele              
                     se mostre  numa luz infinita
                     vermelho como o fogo**
                                             – André Biély


Tal como o Chefão Soviético
no Sínodo Pleno:
– Ôi, Serginho!
– Ôi, Mirinho!

– Cansou? – Can-sei.
– Não dava mais? – Nem menos.
– Razões gerais? – Pessoais.
– Tiro na mosca? – Um só...
– Ardeu – Sem dó...

– Feliz? Infeliz?
– Passei, como se diz.
– Não é legal, Serginho!
– Não é legal, Mirinho!
– Você me xingou de tudo,
seu! Voz de baixo
profundo: as pranchas
do palco racharam...
– Melhor deixar pra lá...

– Hom`essa! Tomar um barco
de amor por bote salva-vida!
Foi peça de rabo-de-saia?
– Melhor que a sua gandaia

de vodca. Fuça inchada,
você não mudou nada.
– Não dá certo, Serginho!
– Nem de perto, Mirinho!

– Trabalho limpo, navalha
não faz, criatura.
– Veja: tinha assinatura!
– E ainda goteja...

– Ponha folha de tanchagem.
– e iodo de bandagem?
– Cura dura, Serginho?
– Dura cura, Mirinho!
– E o que se passa na súcia
da Velha Mãe Rússia – Como?
Onde? – Na U-Erre-Esse-Esse,
o que acontece? – Const-rói-se.

Os pais vão parindo,
o sabotadores sabotando,
o editores governando,
o escritores escrevinhando.

Uma nova ponte foi-se:
Obra do martelo-degêlo.
– Sempre a mesma coisa, Serginho!
– Sempre o mesmo, Mirinho!

– E como voam os cantores de pena?
– Muito vivos os poetas-juntos!
Em lugar de ataques,
loas e coroas para os vates
defuntos (encobrindo os saques!).

A minha velha ROSTA,***
em nova plástica de louva ações.
Não há plurais Pasternaks:
ele está só em suas canções.

– Então que tal uma chuvinha
nessa estiagem toda?
Vamos nessa, Mirinho?
– Vamos nessa, Serginho!

– Alguém de lá manda abraço...
– Mas como anda o nosso santo
Alexandre Alexandrovitch Blok?****
– Olhe lá longe: virou anjo!

– E Fiódor Kusmitch – Pelo canal,
atrás das bochechas rosadas.
– E Nicolai Gumíliev?
– No leste, “depor-todo”...

ou “tudo’... Culpado! – (Saco
ensopado, pilhas na carroça).
– A mesma coisa, Serginho?
– A mesma coisa, Mirinho!
– Já que isso é assim,
querido amigo Mirinho,
porque não metendo mãos
à obra, embora sem
mãos!
             – Mas com fins, Serginho,
velho irmão: e vai ser
uma bomba
                     nesse império também!

E em tempos de Nova AurEra.
nascida de nossos ossos,
Vamos encher a caveira, Serginho!
– Vamos encher a caveira, Mirinho!

(1930)


МАЯКОВСКOMY
6

         Зерна огненного цвета
         Брошу на ладонь,
         Чтоб предстал он в бездне света

         Красный как огонь.

Советским вельможей,
При полном Синоде…
— Здорово, Сережа!
— Здорово, Володя!

Умаялся? — Малость.
— По общим? — По личным.
— Стрелялось? — Привычно.
— Горелось? — Отлично.

— Так стало быть пожил?
— Пасс в некотором роде.
…Негоже, Сережа!
…Негоже, Володя!

А помнишь, как матом
Во весь свой эстрадный
Басище — меня-то
Обкладывал? — Ладно

Уж… — Вот-те и шлюпка
Любовная лодка!
Ужель из-за юбки?
— Хужей из-за водки.

Опухшая рожа.
С тех пор и на взводе?
Негоже, Сережа.
— Негоже, Володя.

А впрочем — не бритва —
Сработано чисто.
Так стало быть бита
Картишка? — Сочится.

— Приложь подорожник.
— Хорош и коллодий.
Приложим, Сережа?
— Приложим, Володя.

А что на Рассее —
На матушке? — То есть
Где? — В Эсэсэсере
Что нового? — Строят.

Родители — родят,
Вредители — точут,
Издатели — водят,
Писатели — строчут.

Мост новый заложен,
Да смыт половодьем.
Все то же, Сережа!
— Все то же, Володя.

А певчая стая?
— Народ, знаешь, тертый!
Нам лавры сплетая,
У нас как у мертвых

Прут. Старую Росту
Да завтрашним лаком.
Да не обойдешься
С одним Пастернаком.

Хошь, руку приложим
На ихнем безводье?
Приложим, Сережа?
— Приложим, Володя!

Еще тебе кланяется…
— А что добрый
Наш Льсан Алексаныч?
— Вон — ангелом! — Федор

Кузьмич? — На канале:
По красные щеки
Пошел. — Гумилев Николай?
— На Востоке.

(В кровавой рогоже,
На полной подводе…)
— Все то же, Сережа.
— Все то же, Володя.

А коли все то же,
Володя, мил-друг мой —
Вновь руки наложим,
Володя, хоть рук — и —

Нет.
    — Хотя и нету,
Сережа, мил-брат мой,
Под царство и это
Подложим гранату!

И на раствороженном
Нами Восходе —
Заложим, Сережа!
— Заложим, Володя!

(1930)

- Marina Tsvietáieva (Марина Цветаева), em "Marina". [tradução Décio Pignatari]. Curitiba: Travessa dos Editores, 2005.

* A Maiakovski – poema escrito logo após o suicídio do poeta, onde a futura suicida estabelece um diálogo crítico-irônico entre dois suicidas célebres (o outro é Sérgio Iessiênin).  Volódia é tratamento familiar para Vladimir (não temos o correspondente; donde, Mirinho). Iessiênin cortou os pulsos e se enforcou; Maiakovski preferiu o revolver. Construir era uma das palavras-símbolo do novo regime. Aqui, o poema se reporta a um diálogo entre ambos, num encontro ocorrido no alto do monte Davi, na Geórgia. Pouco tempo antes, Maiakovski havia escrito, num poema:

Construa
    sem contemplação!
Para construir,
    não poupe demolição!

Assim teria ocorrido o diálogo:

 – Então, Vladimir, você botaria abaixo esta montanha, só para encenar o seu Mistério bufo?
– Sem dúvida que o faremos, se necessário.

** Há aqui uma alusão ao poema Sin Miedo, de Constantin Balmont (1867-1943), onde se fala do famoso aço temperado das espadas de Toledo, na Espanha. Gravava-se na lâmina, a ouro e a quente, o lema “Sin Miedo”, cujo brilho atravessava séculos.

*** ROSTA – sigla da agência telegráfica e de propaganda, para a qual Maiakóvski produziu cartazes e textos poéticos.

**** Alexandre Alexandrovitch Blok (1880-1921) – um dos grandes nomes do Simbolismo russo, morreu dividido entre suas aspirações místicas e sonhos revolucionários; Fiódor Kusmitch (ou Sologub) (1863-1927), poeta e romancista, cuja mulher se suicidou atirando-se no rio Neva; Nicolai Gumíliev (1886-1921), integrante do movimento poético Acmeísta, primeiro marido de Anna Akhmátova, fuzilado por alegadas ações contra-revolucionárias.


§

SAUDADE
Saudade! Um mal-não-mal, há muito,
em mim, desmascarado:
é indiferente, tanto faz
onde viver-me-em-mim-ao-lado,

se na viela – para casa,
com a sacola – ou na sombria
toca minha – se for minha –
vago catre de enfermaria,

ou no quartel. Pouco importa
se vou ser presa – leão na jaula –
ou posta no olho da rua
pelo dono e senhor da porta.

Sem tino ou rumo – urso perdido –
patas entre placas dançantes –
onde humilhar-me ainda,
por uns tempos – pior que antes?

De minha própria língua-láctea,
vou tresmalhar via e caminho,
pois conta pouco em que idioma
não vai compreender-me um Zinho

que passa – grão-leitor de torres
de papel, em sebos de traças...
Tempos modernos, sei – mas sou
alguém aquém e além das raças! 

Virei de pedra um tronco torto,
torso sobrado em alameda.
Tudo se iguala e arremeda,
– e, mais que tudo e mais que todos,

o que um dia me foi caro,
marcas de mim... tarefas... datas...
foi-se também, também se foram
– alma penada reencarnada!

Tão longe desterrou-me aquela
terra-mãe, que o refinado faro
de um policial, fungando-me a alma,
nem cheiro sentiria dela.

Tudo é-me igual e igual a mim
(“– No templo, é estranha; em casa, estorva”.),
– mas não, talvez, onde sentisse
doce...o amargo fruto da sorva*.

(03 de maio de 1934)


Тоска по родине! Давно
Разоблаченная морока!
Мне совершенно все равно  -
Где совершенно одинокой

Быть, по каким камням домой
Брести с кошелкою базарной
В дом, и не знающий, что - мой,
Как госпиталь или казарма.

Мне все равно, каких среди
Лиц ощетиниваться пленным
Львом, из какой людской среды
Быть вытесненной - непременно  -

В себя, в единоличье чувств.
Камчатским медведем без льдины
Где не ужиться (и не тщусь!),
Где унижаться - мне едино.

Не обольщусь и языком
Родным, его призывом млечным.
Мне безразлично - на каком
Непонимаемой быть встречным!

(Читателем, газетных тонн
Глотателем, доильцем сплетен...)
Двадцатого столетья - он,
А я - до всякого столетья!

Остолбеневши, как бревно,
Оставшееся от аллеи,
Мне всё - равны, мне всё - равно,
И, может быть, всего равнее -

Роднее бывшее - всего.
Все признаки с меня, все меты,
Все даты - как рукой сняло:
Душа, родившаяся - где-то.

Так край меня не уберег
Мой, что и самый зоркий сыщик
Вдоль всей души, всей - поперек!
Родимого пятна не сыщет!

Всяк дом мне чужд, всяк храм мне пуст,
И все - равно, и все - едино.
Но если по дороге – куст
Встает, особенно - рябина...

(3 мая 1934)
 
- Marina Tsvietáieva (Марина Цветаева), em "Marina". [tradução Décio Pignatari]. Curitiba: Travessa dos Editores, 2005.

* Sorva, sorveira (ribina, em russo) – planta nativa de médio porte, de frutos vermelhos e amargos, em cachos, que vão ficando doces no fim, às primeiras nevadas. Símbolo icônico do amor e paixão, na tradição popular.


§

ABRIR AS VEIAS
abro as veias

           brota em botões

ela
         a vida 
         sem cura 
         sem volta 
                            nada segura
o jorro 
                  acorram 
                                 com prato 
                                          cuia 
                                        tigela 
                                      gamela 
                                                     rasos demais! 
                                                                   ela transborda
verte-se na terra escura 
                                 vai 
                                 às raízes 
                                             sem volta 
                                             sem cura 
                                                             eisvai-se
                                                                           ela
                                                                          em versos

(06 de janeiro de 1934)


Вскрыла жилы: неостановимо,
Невосстановимо хлещет жизнь.
Подставляйте миски и тарелки!
Всякая тарелка будет – мелкой,
Миска – плоской.

Через край – и мимо –
B землю черную, питать тростник.
Невозвратно, неостановимо,
Невосстановимо хлещет стих.

(6 января 1934)
- Marina Tsvietáieva (Марина Цветаева), em "Marina". [tradução Décio Pignatari]. Curitiba: Travessa dos Editores, 2005.

§

A FOLHA
Em vôo, revôo, fuga,

                                  disparam,
                        rodopiam,
                                 plainam,
                                            no lajedo,
                                                               as folhas,
que alguém varre, pincela, como quadro de artista,
                                                                           acabado.
pergunto (sem resposta): como
é possível
              (ninguém mais gosta
do meu jeito ou do meu rosto
velho)
           que aquela folha amarela
                                                                  no ramo – só?
lá                                                   exposta
com manchas de zinabre
                                   tenha-se             tentado
                                                     sus-

(20 de setembro de 1936)


Когда я гляжу на летящие листья,
Слетающие на булыжный торец,
Сметаемые - как художника кистью,
Картину кончающего наконец,

Я думаю (уж никому не по нраву
Ни стан мой, ни весь мой задумчивый вид),
Что явственно желтый, решительно ржавый
Один такой лист на вершине - забыт.

(20-е числа сентября 1936)

- Marina Tsvietáieva (Марина Цветаева), em "Marina". [tradução Décio Pignatari]. Curitiba: Travessa dos Editores, 2005.

§

Marina Tsvetaeva (1923)
POEMA DO FIM

1.

Céu de lata e ferrugem.
Indicador em riste - o poste
aponta o nosso lugar:
destino triste

Menos quinze - Pontual?
(A morte não espera). Muito
lento o gesto -
de-co-la-gem do chapéu.

Cada cílio - farpa.
Boca - risco: afeta
sem afeto a larga
reverência teatral.

- No horário, hem?! Friso
falso no tom: alarme:
(coração capta aviso): sinal
que a mente trans-mente?

Mau agouro no céu
escuro: nuvem-ferrugem:
ponto de encontro,
às seis em ponto.

Entre um beijo entre
frio e mudo - em defunto
ou mão de rainha - irrompe
(cotovelos) um transeunte.

Muito estridente o circuito
da sirene, ganido -cão-
ferido (a vida estrila,
segura a alma nos dentes).

Ontem - até a cintura.
Hoje - o corpo apaga todo,
montante: a angústia me
toma, sub-e-sobre-indo-e

uivando em silêncio:
Ah-mor... Ah-mor... mas:
- Deve passar das sete.
Um cinema? (Corte seco):
                     - Para casa!

2.

Vida – confraria de ciganos
festivos... mas – sobre
as cabeças – trovoes –
sabres – relâmpagos:

hora horrificante
que cala e apavora:
toda casa se arrasa
numa palavra: casa!
_________________

Choraminga a criança mimada,
perdida: “Minha casa!”.
Mal faz um ano – e já:
– “Meu!” – “Minha!” – “Dá!”.

Caro irmão-devassidão,
calafrio em brasa:
todos saltam pelos muros,
mas você: prisão em casa!
_________________

Morde o freio: para o alto! :
o cavalo rompe a amarra.
– Onde a casa? – Logo
ali, a poucos passos.

Houve a casa na montanha.
– Mais alto? – No topo,
com janela na mansarda:
– “É só do sol da tarde

que ele arde?” – ou da minha
vida, só viva em arte?
Que é casa? – Ora, viver fora,
na noite.
               (A quem se apela

para as perdas e penas
de dores gelo-roxas?),
– Você pensa demais.
Já é hora. – E eu: é...

3.

Amurada, beira-rio: à água
me aferro: jardins
suspensos de Semíramis
sobre a água-placa turva.

Na água – franja de aço
de lâmina de morgue –
me seguro – parapeito – como
diva à partitura, ou cego ao muro.

Sem resposta, sua frieza
sem ouvido, mesmo se me
inclino para matar
de vez à sede. Presa à

pedra-beiral, sonâmbula. Não
temo o rio (nasci náiade!):
– “Dá-me o braço, namorado
fiel...” – Os mortos são

fies, mas escolhem
gaveta... À esquerda,
a morte; você à direita,
meu lado meio torto.

Fachos de luz na margem!
Risos como guisos de pandeiros
baratos... – Precisamos... (Tremo.
Será que teremos coragem?).

4.

Névoa loira, eflúvios
de gás e babados, de fumos
e hálitos – e mais que tudo:
falação interminável.
Cheiro de quê? Pressa,
lengalengas, bolinas,
parcerias, maracutaias,
e a poeira do salão.

Pais de família solteiros
exibem anéis, rapazes
rapaces, no riso e no sarro,
faturam varejo e atacado,
mesmo com rabos presos:
negociatas comerciais,
e poeira de salão.

(Ameaço meia-volta: Isso aí,
nossa casa? – Não sou a dona!)
Este, em cima do talão
de cheques; aquele, de uns
dedinhos de pelica; um outro
pisa furtivo um pezinho
e verniz: casamentos,
conveniências – e, também,
a poeira do salão.

À janela, uma dentada
de prata: a cruz de Malta,
signo do amor: beliscos,
amassos, petiscos (de
ontem, não estranhe
o cheirinho azedo: boca
livre!), mais tramóias
comerciais – e poeira do salão

Curta demais a corrente?
Aço, nada! – É platina!
Papos tripos remoem
pescocinhos-vitelas
de açúcar, diabinhos
revoluteiam no gás
dos bicos-lampeões: desastres
comerciais – com o pó-pólvora
de Berthold Schwartz*
                               – gênio
defensor de seu povo.
– Acho que precisamos
conversar... – Teremos coragem?

5.

Os lábios tremem. (Traduzo:
não vai falar primeiro).
– Você já não me ama? – Mas, claro...
– Não ama! – Ora, não?!... Mas

sentindo um vazio. (O olhar
de águia vaga pelo ar).
– Meu Deus – isso é casa?
– Casa do meu coração. – Literatice!

Carne regada a sangue,
o amor – ou você acha
que é papo em roda
de mesa, por uma horinha

...e logo pra casa, como
esses cavalheiros e damas?
Amor quer dizer...
                           – Igreja?
– Mais pra cicatriz, ferida...
                                - Exposta

a olhares de criados
e bêbados? (Resposta
à parte: Amor – arco
tenso / acordo rompido).

Amor quer dizer – liame,
não nós desfeitos, distâncias
de bocas e vidas (“Sem mau
olhado”, pedi, na hora íntima,

quase no topo do monte
e da paixão) – fumaça,
agora, e re-cor-(da)-ções
que jogo no fogo – de graça!

A boca (risinho) – Não:
(risquinho emm concha pálida,
cálculo) – Tudo numa cama
para dois.
                 – Ou cova para um.

ao que parece. Tamboliram
os dedos: – Não é mover
montanhas! – Amor, ou seja...
– Meu. – Entendo. Conclusão?
__________________

Rufar dos dedos, em
crescendo (patíbulo e praça).
– Vamos indo. Teria mais graça:
– Para a morte!”. Tão mais simples!

Chega de trecos baratos – rimas,
trilhos, hotéis, plataformas.
– O amor quer dizer: vida.
– Os antigos davam outro
                                   nome...

                                – Então?
                                  O punho agarra
um peixe de pano: lenço.
...Vamos? – O seu caminho?
– Bala! Trilho! Veneno! (penso).

– Morte, por ora, sem planos!
– Vida! (Chefe romano, olhos
de águia pela milícia
dizimada :) – Chegou a hora.

6.

Eu não queria isso, as-
sim. (Em silencio: Ouça:
Querer é dos corpos, mas
agora somos almas – mais

nada...). E não disse
adeus. (Quando o trem parte,
a vez é da mulher:
a ela, um brinde, a taça).

Ou não passa de pesadelo?
Ouvil mal? Cortesmente,
o mentiroso cede à amante
a honra de sangue da ruptura,

como um buquê. Ou
falou, mesmo, sílaba a
sílaba: Vamos dizer adeus?
Assim, en passant,

como um lenço que cai,
num lance emocional?
Soberana insolência: na mão
do vencido, a espada vencedora,

troféu da derrota. (Mais forte,
Em meus ouvidos, o zumbido:
`Não rompe, finge “ser rompido”).
– Código de honra com todas?

Não negue! Vingança
digna de Lovelace,
gesto de alto desprendimento,
que desprende a pele

da amante. (Riso escarninho: o
da morte). Gesto em frente!
Desejo, nem sombra,
que sombra já somos.

Um prego, ainda (melhor: parafuso,
que o caixao é de chumbo):
– Um último desejo.
– Diga. – Nem uma palavra

sobre nós... sobre mim,
aos que venham depois. (Dizem,
na maca, os feridos: ó primavera!):
– Posso pedir o mesmo?

– E um anelzinho, de lembrança?
– Não. (Falso olhar de espanto,
ausente. Gravasse-me
no coração – ah!, sim,

anel-eu em seu dedo. Ah... sem
enredo: engula). Insinuante:
– Um livro, então? – Como às outras?
Nunca! E nem pense em escrever

Livros...
_______________

Agora nada de choro
           nada de choro
           choro     agora

Nas tribos de pescadores
erreantes – bebe-se
sem choro e em coro.

Folgança – sem choro,
Pagança – sem choro,
Dissover – sem choro
a pérola no copo!
Sem choro – gire o globo!

Então, quem vai sou eu? Olho
de esguelha: Arlequim joga
um osso – desdenhoso
gesto – a Colombina,

por sua fidelidade.
Última deixa. Cai o pano.
Antes, uma bala
no coração: mais caloroso

e limpo. Cravo os dentres
nos lábios: nada de choro.
O duro no tenro – sem choro!
Na confraria de errantes:
Morrer – sem choro !
Queimar – sem choro !

Na confraria de errantes;
Ocultar-se o corpo
em cinzas e coro!

– Eu, princesa? Dar a saída?
Jogo de xadrez? Para o cada-
falso, cede-me o passo.
– Rápido.

                   Não me olhe! Trate
(Em torrentes escorrem. Como
empurrá-las para dentro
dos olhos?) de não

olhar!!!
           Voz normal:
– Vamos, querido,
vou chorar.
__________________

Ia esquecendo! Entre cofres
vivos (Comerciante e Filhos),
fulge a nuca loira:
centeio, trigo, milho.

Na pele fogosa se revogam
os mandamentos do Sinai;
na crina-tosão se escondem
arcas de gozos.

Para todos, abunda em dons
a mãe-natura, nem sempre avara.
Caçadores dessas sendas loiras
dos trópicos, há trilhas de volta?

Vulgaridade suarenta
em nudez grudenta,
adultério de ouro
em auras lúbrico-ridentes.

Não é mesmo? Olhar
roçagante, cada cílio fisga.
Mais que tudo, o torso-rebenque
peludo se contorce.

O gesto de arrancar a roupa!
Como comer e beber. (Pelo rictus-riso,
você pode salvar-se!).

Assim está bem? Irmãoirmãnente,
aliados aliançantes? Ri
antes de enterrar!
(Depois, quem ri sou eu!)

7.

Amurada. A úl-ti-ma.
(Solto a mão? – Separados!
Dou a mão? Não!
Desconhecidos soldados).

Beira-rio. Pranto. Lambo,
alheia, mercúrio salgado,
sem lua de Salomão que
prateie as lag-

Poste. Socar a testa.
Até sangrar. Esmigalhar.
Cúmplices no crime, lado
a lado (vítima: o Amor).

Mas, como? Um par de amantes
separados? Dormir com outros?
– Veja, o futuro está
lá em cima. – Abano a cabeça.

Dormir! – Amantes num tapete...
– Dormir! – Passos sem ritmo
ou compasso. Peço: dê o braço!
Condenados na estrada?!

Choque! Sua alma-braço
toca no meu: descarga
em coluna e costelas: febre
elétrica: mão na alma!

Me colo. Tudo irisado pelas
lágrimas: curtina de contas.
Amurada sem fim (nem vejo).
Ah, sim, a ponte, e:
                            – Então, pronta!

– Aqui? (Coche e estribo).
Mirada calma pra cima...
– Até sua casa... Pela
última vez!

8.

Úl-ti-ma-pon-te (não solto
a mão). A última, últi-
ma pedra-ponte entre
terra, água e céus.

Apalpo moedas: cambiá-las,
ouro por sombras, pagar
o barqueiro Caronte, Le-
tes letal – som –

brias moedas na mão
de sombra, sons secos
sem ecos tocam sombras
(mãos) – caem nas covas:
papoulas aos mortos!

Boa parte dos amantes
vive de paixão – não
de esperança – ponte-
paixão, espécie de entre,

passagem eventual. Quem-
tinha o ninho em seu
flanco e costela, que distraio
 – e agarro! – triz de raio!

Sem braços, sem pernas
– que o digam meus ossos
prensados nos seus – parte
que sinto viva em mim:

parte ouvido, parte eco
– e nela eu grudo,
como a clara à gema, como
à pele o esquimó

– mais do que siameses!
Mãe ! – não dizia você àquela
que tudo esquecia e le-va-va-
Vo-cê no andor do ventre? – Nem ela, 

por tê-lo dentro, o tinha
mais junto do que o tenho!
Você não entende isso?
A-mal gamada! Aconteci

a dois, ao deitar-
me no seu peito. Soltar?
Jamais! Jogar-me. Largar
a mão? De nenhum jeito.

Ninguém pode arrancar-me
de junto do seu corpo!
Ponte não é marido – é
amante – puro passar adiante

que nos dá vida (os corpos – sacos
de ração no rio).
Meagarrocarrapato:
Arranque-me à unha, aos nacos!

Hera, ostra, carrapato:
Inumano, ser sem deus,
jogar-me fora assim, como coisa – a mim,

que sempre desprezei
as coisas desse falso
mundo de coisas. Diga:
é sonho. É noite... Amanhã,

o Expresso... Roma?
Granada? Nem, quero saber,
enquanto emerjo de Himalaias
de mantas de plumas!

No oco escuro e fundo,
que o sangue aquece, escute
esta carne-flanco
mais leal que um poema.

Quentinho, por hoje? Amanhã,
quem vai estar de serviço?
Estou delirando. Mas diga, sim?,
que a ponte não vai acabar,

que nunca terá fim...
                            ...fim.

Aqui? – Infantil e entojado,
o gesto. – Então? – Estou
grudada. Só-mais-
um-pouquinho. Última vez!

9.

Uivante sirene de usina,
ou grito de alarme, eis
o segredo que as mulheres calam
ante amigos e esposos,

aquele de Eva e da Árvore:
Não passo de animal
desventrado a lâmina
de fogo na pele e na alma!

Vai-se por um furo
– vapor, fumo – a vã
heresia chamada alma,
lívida tísica cristã!

Apliquem cataplasma
– não na alma sem mulher,
mas na mulher sem alma,
que queria viver. Já não quer.
__________________

Eu não queria (Perdão!):
Clamor de ventre aberto
No corredor da morte,
eles aguardam (talvez

ao xadrez) pelo pelotão,
às quatro da matina, riem do
“olho” na porta, vigilante:
peões no tabuleiro, à toa.

Quem joga? Deuses do bem? Bandidos?
Olho do guarda na abertura:
ressoa o túnel vermelho. Passos.
Ergue-se a tranca.

Fumo quebra-peito (Cospe):
– Chegou a hora (Cospe).
Do corredor xadrez
direto para o fosso,

sangrento. Pela lucarna,
a pupi(lua) vigilante
..........................................
Quando olho para o lado,
como você está distante!

10.

Vozerio. Emoção. Nossa voz:
– Nosso café!
Nossa catedral! Nossa Ilha!
Casal de há pouco. Madrugada.

Saído da turba sonâmbula
para o ofício da missa!

Coisas azedas da feira
aos sonolentos, na primavera...
O café, zurrapa
de água e aveia.

(Com aveia se esfria
o sangue dos garanhões).
Da Árabia, nem cheiro,
mas da Arcádia, sim, o aroma

daquele café...

E como nos serria,
abancando-se ao lado,
no seu saber amanhecido
de amante já passada.

a solícita patroa,
a dizer: Não murche – viva
para o desvario sem grana
– os bocejos do amor!

Sorrisos – para a juventude,
Sorrisos – para os risos sem siso!
Sorrisos – para o humor
...e os rostos sem rugas.

Sobretudo – para a mocidade,
e para as paixões (não daqui!).
– de onde, então? – De outra parte.
– De onde? – De onde viajam

para este café sombrio
Túnis e albornozes ( de onde ela
sorria para esperanças e corpos
em roupas sem moda ou estação.

Meu bem, sem cenas:
só mais uma ferida, ao ver
como, à saída, acenava
a dona da espelunca, na sua

coifa holandesa, engomada...).

Não lembro bem, não sei, como
fomos levafs da festa
para a nossa rua – que não é nossa
– ou nossa de um nós que já não somos!

Vai o sol nascer no poente?
Vai Davi renegar Jeová?
E nós, aqui?... – Se-par-ado.
Não me diz coisíssima alguma

essa ultrassupersemsentidíssima palavra:
se-pa-ra-ção. E eu – uma entre cem?
Nove letras... quantos sons?
E além deles? Mudo mundo afora?

Ora! Isso se diz em sérvio?
Ou croata? É piada checa? Se-pa-ra-
são ou é? Supersupraultrahiperabsurdíssima
sandice asnática! Um som mono-

polífono, que fura o tímpano
até dos sons dos sonos dos sonhos!
Se-pa-ra-som – russo não é!
Sem-fem-nem-masculino!

E nem divino! Parelas de ovelhas
olhando-se alheias, a mascar?
Se-pa-ra-ção – em que língua se acha,
se o sentido não há?

No soar – só um rascar
de serrote de quem ferra no sono.
Se-pa-ra-ção – gemido gêmeo
de um cisne-rouxinol transmental

de Khliébnikov...**
                            Vem do nada?
Água do lago a evaporar-se no
ar? Mãos dadas – sinto, sim.
Mas separadas – choque e trovão

na cabeça – encapeda-se o mar
contra a cabana, nos confins
da Oceania...
                     Íngremes ladeiras.
Se)parar(se – calvário e gólgota

abaixo. Pés pesados de
pesares e dores – e palmas
voltadas aos cravos. Contrassenso!
Separar – dividir. Separar-se
implica UM dividido em UM.
Imossivel: somamosum.

11.

Perder tudo num lan-
ce só, seco: Rien ne va
plus. Bairros, subúrbios,
dias: fim dos dias,

findas caricias (leia: pedras).
Nós dois, dias, casas

vazias (Mães velhas,
meus respeitos) – vazias,
não vagas, onde há ação
(que não há no vazio).

(Quanto às vilas, em parte
vagas – melhor queimá-las!).

Cuidado, não se agite
(o corte da ferida!).
Subúrbios, subúrbios
– suturas rompidas.

O amor – (sem inchaço
retorico) – é sutura.

Sutura – não curativo.
Sutura – não armadura.
Sutura: costura-se o morto
-euemvocê – à seputura.

(Tempo, incisão, pontos:
firmes ou frouxos?)

Por fim, amigo – vai-se
a costura! Estilhaços!
Estrondos! Mas sem gangrena
– menos pena – a fratura!

Sem infecção: sob os pespontos,
vida vermelha nas veias!

Quem rompe primeiro
não perde poder.
Bairros, suburvios – frentes
e frontes de ruptura.

Nos bairros – saltam miolos!
(Na periferia – forcas).

Nada perde quem rompe
e parte ao raiar do dia.
Costurei-lhe uma vida
à noite, não rematei de dia.

Ficou torta, não me culpe.
Subúrbio: suturas rompidas.

Almas desalinhavsdas
– marcas por toda parte.
Bairro, subúrbio:
expansões do ódio.

Dá para ouvir o destino:
botas chapinham na lama.
Amigo, sinta a minha mão
que cose apressada.

O fio vivo, como cortá-lo?
Úl-ti-mo lampejo!
__________________

Aqui? Súplice, olhar
de seres interiores: 
– Não posso ir à montanha
pela úl-ti-ma vez?!

12.

Colinas. Crinas
de chuva nos olhos.
Para além dos bairros
o subúrbio, onde

estamos: não é nosso!
Cidade-madrasta:
Adiante? Ao nada!
fincados aqui: morrer.

Um campo. Uma cerca.
Um irmão. Uma irrmã.
A vida é um bairro:
construa no suberbio!

Meus senhores, a causa
está perdida. É inútil.
Um mundo de subúrbios!
Onde as caidades?

A chuva irrompe
com fúria. Nós, rompen-
do de pé. Só três
meses – e um confronto destes!
Estaria Jeová afim
de um jabá de Jó?
Bem. Não deu certo.
No subúrbio: você e mim.

Fora, fora! Para além
das muralhas da cidade
e da vida, onde é vetado
viver! Bairro judeu.

E não é marca de eleição
ser um judeu errante?
Basta não ser infame
para sofrer um pogrom.

A vida vice graças
aos renegados, aos seus judas!
Quer viver? Escolha a ilha
dos morféticos – ou o próprio
inferno – não a vida-carneira
para traidores e carrascos.

Pisoteio a minha “carte de séyour!
na vida. Rio. Zombo. Vingo

o escudo de Davi, os corpos
amontoados, que os alogozes
ainda aviltam: “Os judeus
não querem viuver...”.

Gueto de eleitos – além
do fosso. Não há piedade
no mais cristão dos mundos:
todos os poetas são judeus!

13.

Faca a afiar-se em pedra,
vassoura a varrer serragem:
O que é que sinto nas mãos?
Uma coisa de pelos – molhados!

Ora, onde as gêmeas
viris – Secura e Dureza?
Pela mão me escorre
uma não-chuva salgada!

E agora? Quais charmes
e encantos? Em seus domínios –
água! Olhos de diamante
escorrendo pelas palmas

das mãos, fim do fim
do naufrágio. Carícias, carinhos
pela cara, como as lágrimas
por entre os dedos:

Orgulho nosso – esse
das Marininhas polacas,
quando outros olhos polacos
– de águia! – viram água...

Você chorando, meu bem-
perdição? Perdão: ! Vái
ficando grosso esse gosto
de sal na concha da mão!

É duro o choro de amigo
– paulada na cabeça!
Chore também com outras – e lave
a honra que perdeu comigo!

Peixes do mes-mo-rar
– para cima! Pálidas
conchinhas num selinho
como lábios sem vida.
__________________

Hoje, sono
de choro,
sabor losna.
Qual o gosto
ao despertar?

14.

Trilha de carneiros –
descida. Cidade – ruídos.
Três putinhas vindo
e rindo. Das lágrimas.

Riem de tudo – como
ao meio-dia, quebrando
as ondas do mar
                        – em coro –

do choro sem decoro
do homem na chuva.
Olhos, feridas de água!
Pérolas de vergonha
no escuro de bronze.
Primeiras e últimas,
derrame-as por mim
– minha coroa do fim!

Não baixo os olhos – fixos
através do aguaceiro: Cravem
os olhos em nós, bonecas
de Venus! Olhem algo

que liga mais forte
do que o transe e a transa!
O Cântico dos Cânticos
nos cede a palavra

dos pássaros sem nome.
Salomão se inclina e saúda
nosso prântico a dois,
que escorre para além do sonho!
__________________

Na névoa vazia
das ondas da noite
de Praga, em silêncio,
sem traços, recurvo,
                           você, nau,
                                            naufraga.

1

В небе, ржавее жести,
Перст столба.
Встал на назначенном месте,
Как судьба.

- Без четверти. Исправен?
- Смерть не ждет.
Преувеличенно низок
Шляпы взлет.

В каждой реснице - вызов.
Рот сведен.
Преувеличенно низок
Был поклон.

- Без четверти. Точен?
Голос лгал.
Сердце упало: что с ним?
Мозг: сигнал!

---------------------------

Небо дурных предвестий:
Ржавь и жесть.
 Ждал на обычном месте.
Время: шесть.

Сей поцелуй без звука:
Губ столбняк.
Так государыням руку,
Мертвым - так...

Мчащийся простолюдин
Локтем - в бок.
Преувеличенно нуден
Взвыл гудок.

Взвыл, как собака взвизгнул,
Длился, злясь.
(Преувеличенность жизни
В смертный час.)

То, что вчера - по пояс,
Вдруг - до звезд.
(Преувеличенно, то есть:
Во весь - рост.)
Мысленно: милый, милый.
- Час? Седьмой.
В кинематограф, или? -
Взрыв: "домой!"

2

Братство таборное, -
Вот куда вело!
Громом на голову,
Саблей наголо!

Всеми ужасами
Слов, которых ждем,
Домом рушащимся -
Слово: дом.

----------------------------

Заблудшего баловня
Вопль: домой1
Дитя годовалое:
"Дай" и "мой"!

Мой брат по беспутству,
Мой зноб и зной,
Так из дому рвутся,
Как ты - домой!

-----------------------------

Конем, рванувшим коновязь -
Ввысь - и веревка в прах.
- Но никакого дома ведь!
- Есть, в десяти шагах:

Дом на горе. - Не выше ли?
- Дом на верху горы.
Окно под самой крышею.
- "Не от одной зари

Горящее?" - Так сызнова
Жизнь? - простота поэм!
Дом, это значит: из дому
В ночь.
             (О, кому повем

Печаль мою, беду мою,
Жуть, зеленее льда?..)
- Вы слишком много думали. -
Задумчивое: - Да.

3

И - набережная. Воды
Держусь, как толщи плотной.
Семирамидины сады
Висячие - так вот вы!

Воды - стальная полоса
Мертвецкого оттенка -
Держусь, как нотного листа
Певица, края стенки -

Слепец... Обратно не отдашь?
Нет? Наклонюсь - услышишь?
Всеутолительницы жажд
Держусь, как края крыши

Лунатик...
                    Но не от реки
Дрожь - рождена наядой!
Руки держаться, как руки,
Когда любимый рядом -

И верен...
                 Мертвые верны.
Да, но не всем в каморке...
Смерть с левой, с правой стороны -
Ты. Правый бок, как мертвый.

Разительного света сноп.
Смех, как грошовый бубен.
"Нам с вами нужно бы..."
                                          (Озноб.)
..."Мы мужественны будем?"

4

Тумана белокурого
Волна - воланом газовым.
Надышано, накурено,
А главное - насказано!
Чем пахнет? Спешкой крайнею,
Потачкой и грешком:
Коммерческими тайнами
И бальным порошком.
Холостяки семейные
В перстнях, юнцы маститые...
Нащучено, насмеяно,
А главное - начитано!
И крупными, и мелкими,
И рыльцем, и пушком.
...Коммерческими сделками
И бальным порошком.

Серебряной зазубриной
В окне - звезда мальтийская!
Наласкано, налюблено,
А главное - натискано!
Нащипано...(Вчерашняя
Снедь - не взыщи: с душком!)
...Коммерческими шашнями
И бальным порошком.

Цепь чересчур короткая?
Зато не сталь, а платина!
Тройными подбородками
Тряся, тельцы - телятину
Жуют. Над шейкой сахарной
Черт - газовым рожком.
...Коммерческими крахами
И неким порошком -
Бертольда Шварца....
                          Даровит
Был - и заступник людям.
- На с вами нужно говорить.
Мы мужественны будем?

5

Движение губ ловлю.
И знаю - не скажет первым.
- Не любите? - Нет, люблю.
- Не любите? - но истерзан,

Но выпит, но изведен.
(Орлом озирая местность):
-Помилуйте, это - дом?
- Дом в сердце моем. - Словесность!

Любовь, это плоть и кровь.
Цвет, собственной кровью полит.
Вы думаете - любовь -
Беседовать через столик?

Часочек - и по домам?
Как те господа и дамы?
Любовь, это значит...
                              - Храм?
Дитя, замените шрамом

На шраме! - Под взглядом слуг
И бражников? (Я, без звука:
"Любовь, это значит лук
Натянутый лук: разлука".)

- Любовь, это значит - связь.
Все врозь у нас: рты и жизни.
(Просила ж тебя: не сглазь!
В тот час, сокровенный, ближний,

Тот час на верху горы
И страсти. memento - паром:
Любовь - это все дары
В костер - и всегда задаром!)

Рта раковинная щель
Бледна. Не усмешка - опись.
- И прежде всего одна
Постель.
               - Вы хотели пропасть

Сказать? - Барабанный бой
Перстов. - Не горами двигать!
Любовь, это значит...
                            - Мой.
Я вас понимаю. Вывод?

--------------------------

перстов барабанный бой
Растет. (Эшафот и площадь.)
-Уедем. - А я: умрем,
Надеялась. Это проще.

Достаточно дешевизн:
Рифм, рельс, номеров, вокзалов...
-Любовь, это значит: жизнь.
- Нет, иначе называлось

У древних...
                    - Итак? -
                                      Лоскут
Платка в кулаке, как рыба.
- Так едемте? - Ваш маршрут?
Яд, рельсы, свинец - на выбор!
Смерть - и никаких устройств!
- Жизнь! - полководец римский,
Орлом озирая войск
Остаток.
              - Тогда простимся.

6

- Я этого не хотел.
Не этого. (Молча: слушай!
Хотеть, это дело тел,
А мы друг для друга - души

Отныне...) - И не сказал.
(Да, в час, когда поезд подан,
Вы женщинам, как бокал,
Печальную честь ухода

Вручаете...) - Может, бред?
Ослышался? (Лжец учтивый,
Любовнице, как букет
Кровавую честь разрыва

Вручающий...) - Внятно: слог
За слогом, итак - простимся,
Сказали вы? (Как платок
В час сладостного бесчинства

Уроненный...) - Битвы сей
Вы цезарь. (О, выпад наглый!
Противнику - как трофей,
Им отданную же шпагу

Вручать!) - Продолжает. (Звон
В ушах...) - Преклоняюсь дважды:
Впервые опережен
В разрыве. - Вы это каждой?

Не опровергайте! Месть,
Достойная Ловеласа.
Жест, делающий вам честь,
А мне разводящий мясо

От кости. - Смешок. Сквозь смех -
Смерть. Жест (Никаких хотений
Хотеть - это дело тех,
А мы друг для друга - тени

Отныне...) Последний гвоздь
Вбит. Винт, ибо гроб свинцовый.
- Последнейшая из просьб.
- Прошу. - Никогда ни слова

О нас...никому из ...ну...
Последующих. (С носилок
Так раненые - в весну!)
- О том же и вас просила б.

Колечко на память дать?
- Нет. - Взгляд, широко разверстый
Отсутствует. (Как печать
На сердце твое, как пестень

На руку твою...Без сцен!
Съем.) Вкрадчивое и тише:
- Но книгу тебе? - Как всем?
- Нет, вовсе их не пишите.

Книг...

--------------------------

Значит, не надо.
Значит, не надо.
Плакать не надо.

В наших бродячих
Братствах рыбачьих
Пляшут - не плачут.

Пьют, а не плачут.
Кровью горячей
Платят - не плачут.

Жемчуг в стакане
Плавят - и миром
  Правят - не плачут.

- Так я ухожу? - Насквозь
Гляжу. Арлекин, за верность,
Пьеретте своей - как кость
Презреннейшее из первенств

Бросающий: честь конца,
Жест занавеса. Реченье
Последнее. Дюйм свинца
В грудь: лучше бы, горячей бы

И - чище бы...
                    Зубы
Втиснула в губы.
Плакать не буду.

Самую крепость -
В самую мякоть.
Только не плакать.

В братствах бродячих
Мрут, а не плачут.
Жгут, а не плачут.

В пепел и в песнях
Мертвого прячут
В братствах бродячих.

- Так первая? Первый ход?
Как в шахматы, значит? Впрочем,
Ведь даже н аэшафот
Нас первыми просят...
                                  - Срочно

Прошу, не глядите! - Взгляд -
(Вот-вот уже хлынут градом! -
Ну как их загнать назад
В глаза?!) - Говорю, не надо

Глядеть!!!

Внятно и громко,
Взгляд в вышину:
- Милый, уйдемте,
Плакать начну!

---------------------------

Забыла! Среди копилок
Живых (коммерсантов - тож)
Белокурый сверкнул затылок:
Маис, кукуруза, рожь!

Все заповеди Синая
Смывая - менады мех! -
Голконда волосяная,
Сокровищница утех -

(Для всех!) Не напрасно копит
Природа, не сплошь скупа!
Из сих белокурых тропик,
Охотники, - где тропа

Назад? Наготою грубой
Дразня и слепя до слез -
Сплошным золотым прелюбом
Смеющимся пролилось.

- Не правда ли? - Льнущий, мнущий
Взгляд. В каждой реснице - зуд.
- И главное - эта гуща!
Жест, скручивающий в жгут.

О рвущий уже одежды - жест!
 Проще, чем пить и есть -
Усмешка! (Тебе надежда,
Увы, на спасенье есть!)

И - сестрински или братски?
Союзнически: союз!
- Не похоронив - смеяться!
(И, похоронив, смеюсь.)

7

и - набережная. Последняя.
Все. Порознь и без руки,
Чурающимися соседями
Бредем. - Со стороны реки -

Плач. Падающую соленую
Ртуть слизываю без забот:
Луны огромной Соломоновой
Слезам не выслал небосвод.

Столб. Отчего бы лбом не стукнуться
В кровь? Вдребезги бы, а не в кровь!
Страшащимися сопреступниками
Бредем. (Убитое - Любовь.)

Брось! Разве это двое любящих?
В ночь? Порознь? С другими спать?
- Вы понимаете, что будущее -
Там? - Запрокидываюсь вспять.

- Спать! - Новобрачными по коврику...
- Спать! - Все не попадаем в шаг,
В такт. Жалобно: - Возьмите под руку!
Не каторжники, чтоб так!..

Ток. (Точно мне душою - на руку
Лег! - На руку рукою.) Ток
Бьет, проводами лихорадочными
Рвет, - на душу рукою лег!

Льнет. Радужное все! Что радужнее
Слез? Занавесом, чаще бус,
Дождь. - Я таких не знаю набережных
Кончающихся. - Мост, и:
                                         - Ну-с?

Здесь? (Дроги поданы.)
Спокойных глаз
Взлет. - Можно до дому?
В последний раз!

8

последний мост.
(Руки не отдам, не выну!)
Последний мост,
Последняя мостовина.

Вода и твердь.
Выкладываю монеты.
Деньга за смерь,
Харонова мзда за Лету.

Монеты тень.
В руки теневой. Без звука
Монеты те.
Итак, в теневую руку

Монеты тень.
Без отсвета и без звяка.
Монеты - тем
 С умерших довольно маков.

Мост.

---------------------------

Благая часть
 Любовников без надежды:
Мост, ты как страсть:
Условность: сплошное между.

Гнезжусь: тепло,
Ребро - потому и льну так.
Ни до, ни по:
Прозрения промежуток!

Ни рук, ни ног.
Всей костью и всем упором:
Жив только бок,
О смежный теснюсь которым.
Вся жизнь - в боку!
Он - ухо и он же - эхо.
Желтком к белку
Леплюсь, самоедом к меху

Теснюсь, леплюсь,
Мощусь. Близнецы Сиама,
Что - ваш союз?
Та женщина - помнишь: мамой

Звал? - все и вся
Забыв, в торжестве недвижном
Тебя нося,
Тебя не держала ближе.

Пойми! Сжились!
Сбылись! На груди баюкал!
Не - брошусь вниз!
Нырять - отпускать бы руку

Пришлось. И жмусь,
И жмусь...И неотторжима.
Мост, ты не муж:
Любовник - сплошное мимо!

Мост, ты за нас!
Мы реку телами кормим!
Плющом впилась,
Клещом: вырывайте с корнем!

Как плющ! как клещ!
Безбожно! Бесчеловечно!
Бросать, как вещь,
Меня, ни единой вещи

Не чтившей в сем
Вещественном мире дутом!
Скажи, что сон!
Что ночь, а за ночью утро,

Экспресс и Рим!
Гренада? Сама не знаю,
Смахнув перин
Монбланы и Гималаи.

Прогал глубок:
Последнею кровью грею.
Прослушай бок!
Ведь это куда вернее

Стихов...Прогрет
Ведь? Завтра к кому наймешься?
Скажи, что бред!
Что нет, и не будет мосту
Конца...
             - Конец

-------------------------------

-Здесь? - Детский, божеский
Жест. - Ну-с. - Впилась.
- Еще немножечко:
В последний раз!

 9

Корпусами фабричными, зычными
И отзывчивыми на зов...
Сокровенную, подъязычную
Тайну жен от мужей и вдов

От друзей - тееб, подноготную
Тайну Евы от древа - вот:
Я не более, чем животное,
Кем-то раненое в живот.

Жжет.. Как будто бы душу сдернули
С кожей! Паром в дыру ушла
Пресловутая ересь вздорная
Именуемая душа.

Христианская немочь бледная!
Пар! Припарками обложить!
Да ее никогда и не было!
Было тело, хотело жить,

Жить не хочет.

---------------------------

Прости меня! Не хотела!
Вопль вспоротого нутра!
Так смертники ждут расстрела
В четвертом часу утра

За шахматами... Усмешкой
Дразня коридорный глаз.
Ведь шахматные же пешки!
И кто-то играет в нас.

Кто? Боги благие? Воры?
Во весь окоем глазка -
Глаз. Красного коридора
Лязг. Вскинутая доска.

Махорочная затяжка.
Сплев, пожили, значит сплев.
...По сим тротуарам в шашку
Прямая дорога: в ров

И в кровь. Потайное око:
Луны слуховой глазок...
.........................................
И покосившись сбоку:
- Как ты уже далек!

10

Совместный и сплоченный
Вздрог. - Наша молочная!

Наш остров, наш храм,
Где мы по утрам -

Сброд! Пара минутная! -
Справляли заутреню.

Базаром и закисью
Сквозь-сном и весной...
Здесь кофе был пакостный -
Совсем овсяной!

(Овсом своенравие
Гасить в рысаках!
Отнюдь не Аравией -
Аркадией пах

Тот кофе...

Но как улыбалась нам,
Рядком усадив,
Бывалой и жалостной -
Любовниц седых

Улюбкою беержной:
Увянешь! Живи!
Безумью, безденежью,
Зевку и любви -

А главное - юности!
Смешку - без причин,
Усмешке - без умысла,
Лицу - без морщин, -

О, главное - юности!
Страстям не по климату!
Откуда-то дунувшей,
Откуда-то хлынувшей

В молочную тусклую:
- Бурнус и Тунис! -
Нажеждой и мускулам
Под ветхостью риз...

(Дружочек, не жалуюсь:
Рубец на рубце!)
О, как провожала нас
Хозяйка в чепце

Голландского глаженья....

--------------------------

Не довспомнивши, не допонявши,
Точно с праздника уведены...
- Наша улица! - Уже не наша...
- Сколько раз по ней!.. - Уже не мы...

 - Завтра с западу встанет солнце!
- С Иеговой порвет Давид!
- Что мы делаем? - Расстаемся.
- Ничего мне не говорит

Сверхбессмесленнейшее слово:
Расстаемся. - Один из ста?
Просто слово в четыре слога
За которыми пустота.

Стой! По-сербски и по-кроатски,
Верно? Чехия в нас чудит?
Расставание. Расставаться...
Сверхестественнейшая дичь!

Звук, от коего уши рвутся,
Тянутся з апредел тоски...
Расставание - не по-русски!
Не по-женски! Не по-мужски!

Не по-божески! Что мы - овцы,
Раззевавшиеся в обед?
Расставание - по-каковски?
Даже смысла такого нет.

Даже звука! Ну просто полый
Шум, - пилы, например, сквозь сон.
Расставание - просто школы
Хлебникова соловьиный стон

Лебединый...
                   Но как же вышло?
Горячо высохший водоем -
Воздух! Руку о руку слышно.
Расставаться - ведь это гром

На голову...Океан в каюту!
Океании крайний мыс!
Эти улицы слишком круты:
Расставаться - ведь это вниз,

Под гору...Двух подошв пудовых
Вздох...Ладонь, наконец, и гвоздь!
Опрокидывающий довод:
Расставаться - ведь это врозь,

Мы же - срошиеся...

11

Разом проигрывать -
Чище нет!
Загород, пригород:
Дням конец.

Негам (читай - камням),
Дням, и домам, и нам.

Дачи пустующие! Как мать
Старую - так же чту их.
Это ведь действие - пустовать:
Полое не пустует.

(Дачи, пустующие на треть,
Лучше бы вам сгореть!)

Только не вздрагивать,
Рану вскрыв.
Загород, загород,
Швам разрыв!

Ибо - без лишних слов
Пышных - любовь есть шов.

Шов, а не перевязь, шов - не щит.
- О, не проси защиты! -
Шов, коим мертвый к земле пришит,
Коим к тебе пришита.

(Время покажет еще каким:
Легким или тройным!)

Так или иначе, друг - по швам!
Дребезги и осколки!
Только и славы, что треснул сам:
Треснул, а не расползся!

Что под наметкой - живая жиль
Красная, а не гниль!

О, не проигрывает -
Кто рвет!
Загород, пригород:
Лбам развод.

По слободам казнят
Нынче, - мозгам сквозняк!

О, не проигрывает, кто прочь -
В час, как заря займется.
Целую жизнь тебе сшила в ночь
Набело, без наметки.

Так не кори же меня, что вкривь.
Пригород: швам разрыв.

Души неприбраннные -
В рубцах!...
Загород, пригород...
Яр размах

Пригорода. Сапогом судьбы,
Слышишь - по глине жидкой?
...Скорую руку мою суди,
Друг, да живую нитку

Цепкую, как ее не канай!
Последний фонарь!
---------------------------

Здесь? Словно заговор -
Взгляд. Низших рас -
Взгляд. - Можно на гору?
В последний раз!

12

Частою гривою
Дождь в глаза. - Холмы.
Миновали пригород.
За городом мы,

Есть, - да нету нам!
Мачеха - не мать!
Дальше некуда.
Здесь околевать.

 Поле. Изгородь.
Брат стоим с сестрой.
Жизнь есть пригород. -
За городом строй!

Эх, проиранное
Дело, господа!
Все-то - пригороды!
Где же города?!

Рвет и бесится
Дождь. Стоит и рвем.
За три месяца
Первое вдвоем!

И у Иова,
Бог, хотел взаймы?
Да не выгорело:
За городом мы!

-------------------------

За городом! Понимаешь? За!
Вне! Перешед вал!
Жизнь, это место, где жить нельзя:
Еврейский квартал...

Так не лостойнее ль во сто крат
Стать вечным жидом?
ибо для каждого, кто не гад,
Еврейский погром -
Жизнь. Только выкрестами жива!
Иудами вер!
На прокаженные острова!
В ад! - всюду! - но не в
Жизнь, - только выкрестов терпит, лишь
Овец - палачу!
Право -на-жительственный свой лист
Ногами топчу!

Втаптываю! За Давидов щит! -
Месть! - В месиво тел!
Не упоительно ли, что жид
Жить - не захотел?

Гетто избранничеств! Вал и ров.
ощады не жди!
В сем христианнейшем из миров
Поэты - жиды!

13

Так ножи вострят о камень,
Так опилки метлами
Смахивают. Под руками
Меховое, мокрое.

Где ж вы, двойни:
Сушь мужская, мощь?
Под ладонье -
Слезы, а не дождь!

О каких еще соблазнах -
Речь? Водой - имущество!
осле глаз твоих алмазных,
Под ладонью льющихся -

Нет пропажи
Мне. Конец концу!
Глажу - глажу-
Глажу по лицу.

Такова у на, Маринок,
Спесь, у нас, полячек-то.
После глаз твоих орлиных,
Под ладонью плачущих...

Плачешь? Друг мой!
Все мое! Прости!
О, как крупно,
Солоно в горсти!

Жестока слеза мужская:
Обухом по темени!
Плачь, с другими наверстаешь
Стыд, со мной потерянный.

Одинакового
Моря - рыбы! Взмах:
...Мертвой раковиной
Губы на губах.

------------------------

В слезах.
Лебеда -
На вкус.
- А завтра
Когда
Проснусь?

14

Тропою овечьей -
Спуск. Города там.
Три девки навстречу
Смеются. Слезам

Смеются, - всем полднем
Недр, гребнем морским!
Смеются!
                 - недолжным,
Позорным, мужским.

Слезам твоим, видным
Сквозь дождь - в два рубца!
Как жемчуг - постыдным
На бронзе бойца.

Слезам твоим первым,
Последним, - о, лей! -
Слезам твоим - перлам
В короне моей!

Глаз явно не туплю.
Сквозь ливень - перюсь.
Венерины куклы,
Вперяйтесь! Союз

Сей более тесен,
Чем влечься и лечь.
Самой Песней Песен
Уступлена речь

Нам, птицам безвестным
Челом Соломон
Бьет, ибо совместный
Плач - больше, чем сон!

---------------------------

И в полые волны
Мглы - сгорблен и равн -
Бесследно - безмолвно -
Как тонет корабль.

(1924)

- Marina Tsvietáieva (Марина Цветаева), em "Marina". [tradução Décio Pignatari]. Curitiba: Travessa dos Editores, 2005.


* Berthold Schwartz – fabricante de pólvora.

** Velemir Khliébnikov (1885-1922) – fundador do Futurismo russo, mestre de Maiokóvski, criador da linguagem metalógica ou transmental, constituída de neologismos criados a partir de raízes da língua russa.



§


Marina Tsvetaeva, by Anna
FORTUNA CRÍTICA DE MARINA TSVETÁIEVA
ALMEIDA, Paula Costa Vaz de.. A caminho do Absoluto: a poética e a vida literária de Marina Tsvetáieva através de sua prosa. (Doutorado em Literatura e Cultura Russa). Universidade de São Paulo, USP, 2014.

ALMEIDA, Paula Costa Vaz de.. O meu Púchkin de Marina Tsvetáieva: tradução e apresentação. (Dissertação Mestrado em Literatura e Cultura Russa). Unversidade de São Paulo, USP, 2008. Disponível no link. (acessado em 8.2.2016).
ALMEIDA, Paula Costa Vaz de.. O "Meu Púchkin" de Marina Tsvetáieva e a essência do ensaio. In: VI Encontro de Pós-graduandos da FFLCH/USP, 2011, São Paulo. V Encontro de Pós-graduandos da FFLCH/USP. São Paulo: Serviço de Artes Gráficas FFLCH, 2011.
BERNARDINI, Aurora Fornoni. Indícios flutuantes em Marina Tsvetáieva. (Livre-docência em Letras). Universidade de São Paulo, USP, 1978. 
BERNARDINI, Aurora Fornoni. Uma vida em chamas - (artigo sobre a obra de Marina Tsvetáieva). Cult (São Paulo), v. 10, p. 18-21, 2007. 
BERNARDINI, Aurora Fornoni. Les femmes modernes - Marina Tsvetáieva e Nathalie Clifford Barney. Revista Sibila, São Paulo - S.P., 10 abr. 2007.  
BERNARDINI, Aurora Fornoni. Marina Tsvetáieva, poetisa russa: esboço de vida e obra. in: periódicos, USP. Disponível no link. (acessado em 8.2.2016).
BERNARDINI, Aurora Fornoni. Marina Tsvetáieva: dois Poemas- duas precursoras russa. [tradução]. Rio de Janeiro: Editora Sete, 2001. 
CAREGARO, Raquel Arantes Toledo. Uma aventura: o teatro de Marina Tsvetáieva. Tradução e apresentação. (Dissertação Mestrado em Literatura e Cultura Russa). Universidade de São Paulo, USP, 2015.
COSTA, Verônica de Araújo. Marina Tsvetáeva e a musicalidade do poema. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, 2013.


Marina Tsvietáieva
OUTRAS REFERÊNCIAS E FONTES DE PESQUISA
:: Cultura Pará
:: amediavoz (espanhol)
:: Truca/pt
 
© Obra em domínio público

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske em colaboração com José Alexandre da Silva



=== === ===

Trabalhos sobre o autor:
Caso, você tenha algum trabalho não citado e queira que ele seja incluído - exemplo: livro, tese, dissertação, ensaio, artigo - envie os dados para o nosso "e-mail de contato", para que possamos incluir as referências do seu trabalho nesta pagina.

Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten; SILVA, José Alexandre da.. (pesquisa, seleção, edição e organização). Marina Tsvietáieva - poeta russa. Templo Cultural Delfos, fevereiro/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
** Página atualizada em 8.2.2016.



Direitos Reservados © 2016 Templo Cultural Delfos

Myriam Fraga - a esfinge

Myriam Fraga - foto (...)


Myriam de Castro Lima Fraga (poeta, contista e jornalista) nasceu em Salvador, Estado da Bahia, em 9 de novembro de 1937 - Salvador, 15 de fevereiro de 2016, filha de Orlando de Castro Lima e Beatriz Ponde de Castro Lima.
Tendo iniciado suas atividades literárias publicando assiduamente em revistas e suplementos literários, estréia em livro com Marinhas, poesia, no ano de 1964, pelas Edições Macunaíma – editora especializada em publicações de tiragem limitada e de alto padrão gráfico, sob a orientação artística do gravador Calasans Neto.
Com poemas traduzidos para o inglês, francês e alemão, tem participado de diversas antologias no Brasil e no exterior. É citada em várias publicações nacionais e estrangeiras, entre elas: Pequeno Dicionário de Literatura Brasileira, de José Paulo Paes e Massaud Moisés (1968); Grande Enciclopédia Delta Larousse (1972); Enciclopédia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho, (1990), História da Literatura Brasileira, de Luciana Stegagno Picchio (1997), Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras: 1711-2001, por Nelly Novaes Coelho (2002).
Tem participado como escritora convidada de inúmeras conferências e seminários no Brasil e em outros países, como: I Encontro da Poesia Brasileira – Semana Joaquim Cardoso, em Recife (1981); II Bienal Nestlé de Literatura, em São Paulo (1984); Brasilian Writters Project, nos EUA (1985); 40º Congresso da União Brasileira de Escritores – UBE, em São Paulo (1986); III Bienal Nestlé de Literatura, em São Paulo (1986); 5º Encontro Nacional de Acervos Literários Brasileiros, PUC – Rio Grande do Sul, (2001); Simpósio sobre a Cultura e a Literatura Caboverdianas, em Mindelo, Cabo Verde (1986); Encontro Poesia em Lisboa, em Lisboa (1998); III Congresso Nacional de Escritores, em Pernambuco (2002); Colloque Jorge Amado, Sorbonne, em Paris (2002); Encontro sobre poesia, Journée d’Etudes sur le sujet “A quoi bon la poésie aujourd’hui , na Universidade de Rennes, França (2005), Festival Literário de Parati – FLIP, Rio de Janeiro (2006); Festival Literário de Porto de Galinhas, Recife (2007); Semana do Brasil, em La Rochelle, França (2007); Salão do Livro de Guarulhos (2011), Dia Internacional do Museu – Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, São Paulo (2012); 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, Brasília (2012);
Eleita por unanimidade membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, tomou posse no dia 30 de julho de 1985, passando a ocupar a Cadeira de nº. 13, que tem como Patrono o poeta Francisco Moniz Barreto, na vaga de Luiz Fernando Seixas de Macedo Costa. Foi membro do Conselho Federal de Cultura (1990 a 1993), do Conselho Federal de Política Cultural (1993 a 1996), e do Conselho Estadual de Cultura (1992 a 2006), do Conselho da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia – FAPESB (2004 a 2006), atualmente é membro do Conselho Universitário da Universidade Federal da Bahia, do Conselho da Fundação Pierre Verger e do Instituto Carybé.
Diretora Executiva da Fundação Casa de Jorge Amado desde sua instituição, em julho de 1986, vem se dedicando, igualmente, à área de Administração Cultural. Entre 1980 e 1986, esteve à frente de projetos pioneiros na Fundação Cultural do Estado da Bahia, quando coordenou a Coleção dos Novos e foi responsável pelo projeto de criação do Centro de Estudos de Literatura Luiz Gama, hoje Departamento de Literatura.
Como diretora da Fundação Casa de Jorge Amado tem promovido seguidamente cursos, colóquios e conferencias sobre literatura com ênfase na obra de Jorge Amado contando com a participação e o apoio de instituições de relevância como Academia de Letras da Bahia e Universidades como UFBA – Universidade Federal da Bahia e UEFS e Universidade Estadual de Feira de Santana.
É membro do Conselho Universitário da Universidade Federal da Bahia CONSUNI e do Conselho da Associação Baiana de Imprensa – ABI, além de manter colaboração em revistas e jornais, foi responsável pela coluna Linha D’Água, sobre assuntos culturais, publicada aos domingos no jornal A Tarde, de Salvador, de 1984 a 2004.
Recebeu os seguintes títulos e prêmios: Prêmio Arthur de Salles (Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Bahia, 1969); Prêmio Casimiro de Abreu (Secretaria da Educação e Cultura do Estado do Rio de Janeiro, 1972); Medalha Castro Alves (Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel. Salvador, 1984); Medalha do Mérito Castro Alves (Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Bahia, 1984); Personalidade Cultural (União Brasileira de Escritores – UBE. Rio de Janeiro, 1987); Medalha Maria Quitéria (Câmara dos Vereadores da Cidade do Salvador, 1996); Prêmio COPENE de Cultura e Arte (COPENE. Salvador, 1996); Troféu Catarina Paraguaçu (MAM e TGM. Salvador, 1997); e Prêmio Alejandro José Cabassa (UBE. Rio de Janeiro, 1998).
:: Fonte: Academia de Letras da Bahia (acessado em 7.2.2016).
 

Myriam Fraga - foto:  Rejane Carneiro/
Agência A Tarde (13.8.2008)
OBRA DE MYRIAM FRAGA
Poesia
:: Marinhas. [capa Floriano Teixeira]. Salvador: Editora Macunaíma, 1964.
:: Sesmaria. Salvador: Editora Imprensa Oficial da Bahia, 1969; reedição [Gravuras de Calazans Neto].
Salvador: Editora Macunaíma, 2000.
:: O livro dos Adynata. Salvador: Editora Macunaíma, 1975.
:: A ilha. [gravuras de Calasans Neto]. Salvador: Editora Macunaíma, 1975.
:: O risco na pele. [texto 'orelha' de Mário da Silva Brito; capa Eugenio Hirsch sobre pintura de Amedeo Modigliani]. Coleção Poesia  Hoje, v. 27. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1979.
:: A cidade. Salvador: Editora Macunaíma, 1979.
:: As purificações ou o sinal de talião. [capa Eduardo Francisco Alves]. Coleção Poesia Hoje, v. 44. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1981.
:: A lenda do pássaro que roubou o fogo. Salvador: Editora Macunaíma, 1983.
:: Os deuses lares. [Monotipias de Calasans Neto]. Salvador: Editora Macunaíma, 1992.

:: Sete poemas. Salvador: Edições Macunaima, 1995.
:: Femina. ['os espelhos' capa Carybé/1986]. Coleção Casa de Palavras - Série Poesia, 5. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado/ COPENE, 1996.

:: Poesia reunida. Salvador: Editora Academia de Letras da Bahia; Assembléia Legislativa, 2008.
:: Rainha Vashti. [ilustrações Olga Gómez]. Salvador: A Roda Teatro de Bonecos Edições, 2015.

Obra poética traduzida
:: Six poems|seis poemas de Myriam Fraga. [ilustrações de Calasans Neto; tradução Richard O’Connell]. Salvador: Editora Macunaíma, 1985.

:: Die Stadt. [tradução Curt Meyer-Clason]. Salvador: Editora Macunaíma, 1994.

Prosa
:: Uma casa de palavras. Salvador: Fundação Casa de Palavras/Casa de Palavras, 1997.
:: Uma casa de palavras – vinte e cinco anos depois. Salvador: Fundação Casa de Palavras/Casa de Palavras, 2013.
:: Memórias de alegria. Salvador: Fundação Casa de Palavras/Casa de Palavras, 2013.

Biografias
:: Flor do sertão. Salvador: Editora Macunaíma, 1986.
:: Leonídia, a musa infeliz do poeta Castro Alves. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado/Casa de Palavras/Copene, 2002.

Infanto-juvenil
:: Castro Alves. Coleção Crianças Famosas. São Paulo: Editora Callis, 2001.
:: Jorge Amado. Coleção Crianças Famosas. São Paulo: Editora Callis, 2002.
:: Jorge Amado. Coleção Mestres da Literatura. São Paulo: Editora Moderna, 2003.
:: Castro Alves. Coleção Mestres da Literatura. São Paulo: Editora Moderna, 2004.
:: Luiz Gama. Coleção A luta de cada um. São Paulo: Editora Callis, 2005.
:: Carybé. Coleção Mestres da Pintura. Editora Moderna, 2005.
:: Graciliano Ramos. Coleção Mestres da Literatura. São Paulo: Editora Moderna, 2007.

:: O pássaro do sol. São Paulo: Escrituras, 2012.

Ensaio (organização)
:: Calasans Neto. [organização Myriam Fraga].. Salvador: Editora Oiti | Odebrecht, 2007.

:: Hora da guerra: a segunda guerra mundial vista da Bahia. [organização Myriam Fraga e Ilana Seltzer Goldstein; prefácio Bóris Fausto]. Coleção Jorge Amado. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. 

Myriam Fraga - foto (...)
Antologias (participação)
CINCO poetas. Salvador: Editora Macunaíma, 1966.
ANTOLOGIA da moderna poesia baiana. Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro, 1967.

25 POETAS - Bahia: de 1633 a 1968. Salvador: Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Bahia; Atelier Planejamento Gráfico, 1968.
VV.AA. Antologia de poesia da Bahia em alfabeto Braille. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1976.
BRASIL, Assis (org.). A poesia baiana no século XX - antologia. Coleção Poesia Brasileira. Rio de Janeiro: Imago; Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1999. 

SAVARY, Olga (org.). Carne viva. Antologia brasileira de poemas eróticos. Rio de Janeiro: Editora Ânima, 1984.
ALVES, Henrique (org.). Poetas contemporâneos. São Paulo: Editora Roswitha Kempf, 1985.
O'CONNELL, Richard (org.). Simulations. Flórida/USA: Atlantis Editions, 1993. 
LYRA, Pedro (org.). Sincretismo – a poesia da geração 60. Rio de Janeiro: Editora Topbooks, Rio de Janeiro, 1995. 
MEYER-CLASON, Curt (org.). Modernismo brasileiro. Berlim|Alemanha: Druckhaus Galrev, 1997. 
SARMENTO, Lourdes (org.). Poésie du Brasil. Paris|França: Editora Vericuetos, 1997.
POESIA em Lisboa. Lisboa|Portugal: Editora Casa Fernando Pessoa; P.E.N. Club Português, 1998.
BRASIL, Assis (org.). A poesia baiana no século XX. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1999.
ALCÂNTRA, Beatriz; SARMENTO, Lourdes (org.). Águas dos trópicos. Fortaleza: Edições Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, 2000. 

CONGÍLIO, Mariazinha (sel. e org.). Antologia de poetas brasileiros. Lisboa|Portugal: Universitária Editora Ltda, 2000.
TAVARES, Simone Lopes Pontes (org.). A paixão premeditada. Salvador: Edições Fundação Cultural do Estado da Bahia, 2000. 

TAVARES, Ildásio (org.). Poetas da Bahia século XVII ao século XX. Rio de Janeiro: Editora Imago/Biblioteca Nacional, 2001. 
GARCIA, Xosé Lois García (org.). Antologia da poesia brasileira. Santiago de Compostela|Galiza: Edicións Laiovento, 2001. 
NEVES, José Alberto Pinho (org.). Companhia de poetas. Juiz de Fora|MG: Editora Funalfa, 2003. 
FARIA, Álvaro Alves de (org.). Palavra de mulher. São Paulo: Editora Senac, 2003.
LEONARDOS, Stella (org.). Perfil Grécia – em poetas do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 2004. 
COSTA, Luiz Angélico da. (org.). Geopoemas [Geopoems]. Salvador: Edições da Universidade Federal da Bahia; Edufba, 2007. 
NEWTON JUNIOR, Carlos (prefácio e seleção). O cangaço na poesia brasileira. São Paulo: Editora Escritura, 2009. 
POESIA Viva em revista. Rio de Janeiro: Editora UAPÊ, 2011.
MIRANDA, Antonio; SOUZA, Salomão; VARGAS, José Guillhermo (orgs). Transbrasiliana – 36 mujeres poetas de Brazil. Maribelina: Casa del Poeta Peruano, Lima|Peru, 2013.
FUNCEB (org.). Autores baianos: um panorama. [Antonio Risério, Daniela Galdino, Florisvaldo Mattos, Karina Rabinovitz, Kátia Borges, Luis Antonio Cajazeira Ramos, Myriam Fraga, Roberval Pereyr e Ruy Espinheira Filho]. vol. 1. multilíngue português/alemão/inglês e espanhol. Salvador BA: Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB); P55 Edições, 2013.


CD - disco
:: A lenda do pássaro - Que roubou o fogo. [poemas Myriam Fraga e música Carlos Pata; ilustrações Calasans Neto]. Salvador: Edições Macunaíma, 1983.

Entrevistas
SBPC Cultural. Bahia, bahia, que lugar é este? (Myriam Fraga). Entrevista concedida à SBPC Cultural. Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2001. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016). 
LEIRO, Lúcia. Entrevista com Myriam Fraga. in: Mulher e Literatura, 28 de janeiro de 2010. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016).

  
Myriam Fraga - foto (...)


POEMAS ESCOLHIDOS DE MYRIAM FRAGA

A casa
Pedra sobre pedra
Construí esta casa:
Tijolo, sonho e argila.
Custaram-me os alicerces
A metade da asa
Direita,
A outra metade,
Serviu de escora
Às traves que a sustentaram.
A asa esquerda perdeu-se
Na argamassa.
Esta casa, para fazer,
Levou-me anos
De solidão e fomes
Aplacadas.
Uma casa tão clara,
Aberta aos ventos,
E a cada dia sempre
Renovada.
Aqui plantei minha vida,
Nos esquadros
E soleira das portas.
Ancoradouro e barco,
Minha casa.
Daqui se ouvia o mar
E o canto das sereias,
Se nostálgico das janelas
O olhar se alongava.
Mas o perfume do incenso
Rolava nos altares, deuses lares,
E eu ficava e fui sempre
A guardiã da casa.
Pássaro do abismo,
Mensageiro da desgraça,
Meus olhos marinheiros
Pressentiram o desastre.
Ventos do sul sopraram
Sobre a casa. Marés de março
Enormes, com suas vagas,
Submergiram e arrasaram
Da soleira aos telhados.
Olho de furacão,
Espiral de sargaços,
Conheci o sumidouro,
A fúria da voragem.
Sobrevivente do escarcéu
Hoje, náufraga, na casa,
Sei que as paredes permanecem
Intactas, com suas marcas, e novamente, aos poucos,
Com meus dedos quebrados,
Vou recompondo lentamente
A cumeeira arrasada.

- Myriam Fraga, em "Femina". Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado/Copene, 1996.


§ 

Myriam Fraga - foto (...)
A esfinge
Revesti-me de mistério
Por ser frágil,
Pois bem sei que decifrar-me
É destruir-me.

No fundo, não me importa
O enigma que proponho.

Por ser mulher e pássaro
E leoa,
Tendo forjado em aço
As minhas garras,
É que se espantam
E se apavoram.

Não me exalto.
Sei que virá o dia das respostas
E profetizo-me clara e desarmada.

E por saber que a morte
E a última chave,

Adivinho-me nas vítimas que estraçalho. 
- Myriam Fraga (Salvador, 1964), em "O risco na pele". Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1979.

§ 

A reconquista
Passou o passo
mortalha paço
a paço o cristal
           telha
       destelha
metralha

Aqui o sangue
na praça e
pedra a pedra
a rua se des
calça

Nem voam pombos
que
de chumbo é a asa
o roçar de penabrasa
risco de fogo
na cara

Nem couraça nem
metal
armadura ou
armadilha
de cristal

Nem trincheira nem
cilada
parapeito ou
amurada
colhe a morte
na colheita
tudo igual
- Myriam Fraga, em "Sesmaria". Salvador: Edições Macunaíma, 2000, p.91.

§ 

Chuva
Reminiscências
A inquietar
Como a chuva nos vidros.

Sol que avança,
Inexorável,
O tempo, com suas marcas,

Sua umidade em rios,
Dissolvendo a paisagem,

Seu mofo, sua
Insidiosa presença
Escorrendo da tarde.

Um gotejar sinistro,
O salitre
Infiltra-se nas frestas
Reacendendo feridas.

Ó coração,
Não te atormentes,
Não te levantes contra mim,
Esquece.

- Myriam Fraga, em "Femina". Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado/Copene, 1996. 

§

Fonte
A vida que passou
— Água tombada
Dos bordos
De tua taça.

O eterno fluir,
O doce encanto
Com que se miram
Ninfas
Pela tarde.

Ó suave marulho,
Ó farfalhar de asas...
— Pássaros nascendo,
Invisíveis, das águas.

Tua concha como
Um cálice
Borbulhante, intocado,

Música de sombras verdes
Teu murmúrio em cascata.

E o tempo, o tempo,
O tempo...
Gotejando sua mágoa.
 
- Myriam Fraga, em "Femina". Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado/Copene, 1996.

 §

Medusa
Há tambores na carne.
No entanto
Defronta-se em mim
A vontade e o silêncio.

Há signos de evasão
E ruínas egípcias
E no fundo da memória
Um cão chamado Cíclope.

Fontes ávidas de sangue,
Indistinta cabala,
Ifa devora os búzios.

Na espessura da treva
Meus achados
São dentes de leopardo
No pescoço.

Circulamos na arena
Olho no olho
Pés no riscado Salto.

São teus olhos espelhos
Estilhaços de
Não Ver?
Pedaços?

Dente por dente
Recuso teus arautos
Górgona de ruivos pelos,
No entanto viajo
No silvo de teus répteis

No entanto procuro
E te guardo os espelhos.
Quero-te viva e não pedra,
Inquieta e mortífera
Na moldura das portas.

Teus venenos? tua coma?
Teus capelos?

Não me perguntes jamais
Porque te espreito
Se não há entre nós
Nenhuma espada.

Só o tempo dirá
(os fados, o acaso)
Se te afronto e te mato

Ou me abismo em teus olhos
Me resgato
Em silêncio e solidão jaspe
Estátua de pedra
Inútil,
Nos teus braços.

- Myriam Fraga, em "Femina". Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado/Copene, 1996. 

§

Os marranos
      “Com razón dijo un poeta
     Que eran caballos troyanos”
       
- Lope de Veja

São cavalos de metal
Duras ilhargas de níquel
Os cascos sutis, veludos
Que deslizam, que deslizam.

São cavalos, são
Centauros
Mascando fios de sombra.

Arcabouço (quatro patas)
Aqui jogam seu destino.
Quatro patas de metal.

São cavalos, são centauros,
Troia nas bestas de astúcia
Trazem a derrota no ventre.

E em seus úmidos cabelos
Coladas cinzas do medo,
Fogueiras do Santo Ofício,
Reverbero ou precipício
Em seus úmidos cabelos.

Que venham os lucros de Holanda
Nas cirandas do dinheiro,
Pois se nem é mais se gredo
Que aqui vivem perseguidos
Pelo medo.

Serão cavalos de Tróia
Duros cascos de madeira
Pisando as fontes do tempo
E os muros do desespero.
 
- Myriam Fraga, em "Sesmaria". Salvador: Edições Macunaíma, 2000, p. 55.


 §

Semeadura
O limite da luz
é o espaço do salto.

É a casa do sonho,
o caminho de volta,
extravio ou derrota.

O pássaro é este silêncio
cortando como faca.

É a bicada no ventre:
semeadura de mel
nos meus campos molhados.

Oh! eterno seja o passo
minha pele no teu aço,
ó pássaro, pássaro.

Senhor do sol me arrebata,
ó pássaro,
tuas garras como arado
revolvendo meus pedaços.

Meu corpo de sementeira
na raiz do teu abraço.

Um arco-íris de espigas
no meu seio, meu regaço
como um odre

na esperança de teu vinho,
meu canto no teu cansaço
ó pássaro, pássaro.

- Myriam Fraga, em "A lenda do pássaro que roubou o fogo". Salvador: Editora Macunaíma, 1983.



Myriam Fraga - foto (...)


FORTUNA CRÍTICA DE MYRIAM FRAGA

COELHO, Nelly Novaes (org.). Dicionário crítico de escritoras brasileiras: 1711-2001. São Paulo: Escrituras Editora, 2002.
COUTINHO, Afrânio; SOUZA, José Galante de (direção). Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro: MEC/FAE, 1990.
COSTA, Raquel Maria Soares da.. Bestiário de Myriam Fraga: metáforas para a condição feminina. (Dissertação Mestrado em Literatura e Interculturalidade). Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Educação, 2011. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016).
FARIA, Álvaro Alves de.. Myriam. Revista Caros Amigos, Junho/99, número 27. 
FELICÍSSIMO, Gustavo. Myriam Fraga: tons e entretons da sua poesia. in: Sopa de Poesia, 6 de dezembro de 2009. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016).
GALANTE, Francielle Santos. Prisma da Cidade - O Olhar Lírico de Myriam Fraga. (Dissertação Mestrado em Literatura e Diversidade Cultural). Universidade Estadual de Feira de Santana, UEFS, 2006. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016).
GALANTE, Francielle Santos. Myriam Fraga e a (des)construção da cidade. In: V Seminário de Pesquisa dos alunos de Mestrado em Literatura e Diversidade Cultural, 2005, Feira de Santana. V Seminário de Pesquisa dos alunos de Mestrado em Literatura e Diversidade Cultural, 2005. 
GALANTE, Francielle Santos. Sesmaria: uma leitura da poesia histórica de Myriam Fraga. In: VII Congresso de Estudos Linguísticos e Literários & II Encontro de Literatura Baiana, 2004, Feira de Santana. VII Congresso de Estudos Linguísticos e Literários & II Encontro de Literatura Baiana, 2004.
GALANTE, Francielle Santos. Imagens Líricas da História na Poesia de Myriam Fraga. In: Anais V Congresso de Estudos Linguísticos e Literários, 2000. 
HOISEL, Evelina; LOPES, Cássia (org.). Poesia e memória: a poética de Myriam Fraga. Salvador: EDUFBA, 2011.
LEMOS, Regina. Quarenta, a idade da loba. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1998, 14ª edição, pp. 151-155.

MELO, José Inácio Vieira de.. Myriam Fraga. Cavaleiro de fogo, 7 de outubro, 2010. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016). 
MENDES, Cleise. Sensibilidade histriônica e imagem poética em Myriam Fraga. in: Dramatis, 2 de outubro de 2010. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016).
PAES, José Paulo; MOISÉS, Massaud (org.). Pequeno dicionário de literatura brasileira. São Paulo: Editora Cultrix, 1967. 
PAZ, Vilma Santos da.. Labirintos de uma memória citadina: leituras e caminhos em Sesmaria, de Myriam Fraga. (Dissertação Mestrado em Letras e Lingüística). Universidade Federal da Bahia, UFBA, 2011. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016).
Myriam Fraga - foto (...)
PAZ, Vilma Santos da.. Entre cidade e poesia: imagens da cidade em sesmaria, de Myriam Fraga. In: VI Enecult, 2010, Salvador. VI ENECULT - Encontro d estudos multidisciplinares em cultua. Salvador: EDUFBA, 2010. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016).
PINHEIRO, Jeanne. Decifra-me ou Devoro-te: a poesia de Myriam Fraga. Anais do II Encontro de Histórias Oral do Nordeste – 500 anos de História do Brasil do Oral ao Escrito, Salvador: Editora da Universidade do Estado da Bahia, 2000. 

RIBEIRO, Maria Goretti. A memória mítica ressignificada na poesia de Myriam Fraga. in: Terceira Margem - Rio de Janeiro, Número 20, p. 141-156. janeiro/julho 2009.
SANTOS, Andréa Silva. Travessias Urbanas Memórias do mar na poesia de Myriam Fraga. (Dissertação Mestrado em Estudos Literários). Universidade Estadual de Feira de Santana, UEFS, 2015. 
SILVA, Edimaura Santana da.. Maria Bonita: uma representação de mulher na obra de Myriam Fraga. in: Rede Mebox, 16 de Novembro de 2011. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016).
SILVA, Ricardo Nonato Almeida de Abreu. Nas tramas do existir:o mítico e o feminino na poesia de Myriam Fraga. (Dissertação Mestrado em Letras e Lingüística). Universidade Federal da Bahia, UFBA, 2009. 
SILVA, Ricardo Nonato Almeida de Abreu. O perigo é partir: imagens do mar em Jorge Amado e Myriam Fraga. in: Myriam Fraga; Aleilton Fonseca; Evelina Hoisel. (Org.). Jorge Amado: Literatura e Política. 1ª ed., Salvador: Casa de Palavras, 2015, v. , p. 239-253. 
SILVA, Ricardo Nonato Almeida de Abreu. Relações ente Myriam Fraga e Jorge Amado: um passeio pela ficção. in: CARVALHO, Diógenes Buenos Aires; MELO, Barbara Olímpia Ramos de; SOUSA, Raimundo Isídio. (Org.). Linguagens, Cultura e Ensino. 1ª ed., Jundiaí: Paco, 2014, v. , p. 201-.
SILVA, Ricardo Nonato Almeida de Abreu. Nem tudo é ilusão: aproximações entre Jorge Amado e Myriam Fraga. in: FRAGA, Myriam; FONSECA, Aleilton; HOISEL, Evelina. (Org.). Jorge Amado - Cacau: a volta ao mundo em 80 anos. 1ª ed., Salvador: Casa de Palavras, 2014, v. 1, p. 287-306. 
SILVA, Ricardo Nonato Almeida de Abreu. Entre Cartas e versos: relações entre Myriam Fraga e Jorge Amado. in: Myriam Fraga; Aleilton Fonseca; Evelina Hoisel. (Org.). Jorge Amado: 100 anos escrevendo o Brasil. 1ª ed., Salvador: Casa de Palavras, 2013, v. 1, p. 261-267.  
SILVA, Ricardo Nonato Almeida de Abreu. Nas tramas do existir: Imagens de Penélope na poesia de Myriam Fraga. in: Evelina Hoise; Cássia Lopes. (Org.). Poesia de memória: a poética de Myriam Fraga. Salvador: EDUFBA, 2011, v. , p. 237-259. 
SILVA, Ricardo Nonato Almeida de Abreu. Como uma Línha D'água (1984-2004): um estudo memória na obra de Myriam Fraga. in: Anais do IV ENAPEL - Encontro Nacional de Pesquisadores de Periódicos Literários: percursos e propostas, 2013, Feira de Santana, p. 286-296.  
SILVA, Ricardo Nonato Almeida de Abreu. Flor do sertão: a musa serrana do poeta Castro Alves, biografada e cantada por Myriam Fraga. in: Anais do IV Seminário Nacional Literatura e Cultura, São Cristóvão/SE: GELIC/UFS, 2012.  Disponível no link. (acessado em 7.2.2016).
SILVA, Ricardo Nonato Almeida de Abreu. O mito como projeto poético em Purificações ou o Sinal de Talião, de Myriam Fraga. in: III Seminário Nacional Literatura e Cultura, 2011, São Cristróvão. Anais do III Seminário Nacional Literatura e Cultura, 2011.
SILVA, Ricardo Nonato Almeida de Abreu. Fios do existir: imagens de Penélope e Ariadne na poesia de Myriam Fraga. in: XI Congresso Internacional da Associação Brasileira de Literatura Comparada, 2008, São Paulo. Congresso Internacional da Abralic, 2008.
SILVA, Ricardo Nonato Almeida de Abreu. 'Um rio-oceano circular e infinito': A cosmogonia poética de Myriam Fraga. Gusa Errante - Suplemento Cultural & Literária JP, São Luis, p. 4 - 4, 27 set. 2014. 
SILVA, Wanessa Guimarães da.. Myriam Fraga: poesia é coisa de mulher. In: XII Seminário Nacional e III Seminário Internacional Mulher e Literatura do GT Mulher e LIteratura da ANPOLL - Associação Nacional de Pós-Graduação em Letras e Lingüística, 2008, Feira de Santana. Anais do Seminário Mulher e Literatura - Gênero Identidade e Hibridismo Cultural. Ilhéus - BA: Editus-Editora da UESC, 2008. 
SOARES, Angélica.“Sem pontes para o abismo”: um trágico percurso de busca de autoconhecimento pela mulher em “O risco na pele” de Myriam Fraga. in: Revista Diadorim/UFRJ, Rio de Janeiro, - vol. 9, julho 2011. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016).
SOARES, Angélica. A interconexão ecológica na poesia de Myriam Fraga e de Olga Savary. in: revista Barbante, ano II, nª 8 - 5 de junho de 2013. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016).
TRINDADE, Veronica Almeida; PATRÍCIO, Rosana Maria Ribeiro; FONSECA, Aleilton. Imagens da paisagem urbana, natural e ecológica na poesia de Myryam Fraga. in: Cadernos do CNLF, Vol. XVII, nº 5. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2013. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016).


Minopauta
Não te mires no espelho
Côncavo das virtudes. 

Esquece o labirinto.

Não cogites,
Devora


#


Minogram
Don't look
In the concave mirror
Of virtue.

Forget the labyrinth.

Don't think,
Devour.

- Myriam Fraga, em "Seis poemas"|Six Poems.. [tradução Richard O´Connell]. Salvador: Edições Macunaima, 1985.


Myriam Fraga - foto (...)
OUTRAS FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA
:: Academia de Letras da Bahia
:: Alguma Poesia - Carlos Machado
:: Antonio Miranda 
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::  "A esfinge", poema do livro "Femina". Dá título a esta página dedicada a poeta Myriam Fraga.



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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Myriam Fraga - a esfinge. Templo Cultural Delfos, fevereiro/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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** Página atualizada em 7.2.2016.



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