COMPARTILHE NAS SUAS REDES

Adalcinda Magno Camarão Luxardo – a poeta marajoara

  • Adalcinda Magno Camarão Luxardo (Muaná, Ilha de Marajó/Pará, 18 julho de 1915? – Belém/Pará, 17 de janeiro de 2005) poeta e compositora brasileira


Origem
Eu queria mesmo, ó grande mar azul
que conhecesses o meu cabelo solto ao vento,
tão parecido com o teu pensamento
livre, crescendo sempre...
Eu fazia questão que ouvisses o meu soluço aafado
como de tuas ondas,
que mal põem à tona a cabeça o vento esmaga.
Eu queria, afinal, que me visses despida
com a tua correnteza que passa
sem pudor ou malícia - transparente.
Tu reconhecerias
no contorno transluzente do meu corpo
a desordem ritmada da tua carícia que minha mãe bebeu
no dia em que se banhou nas tuas espumas,
quase ao me dar à luz,
e mergulhou, afinal, sondando-te a profundidade,
onde encontrou minhalma!
- Adalcinda Camarão. Antologia Poética. Belém: Cejup, 1995, p. 21.


"Desde os cinco anos, ainda na minha terra natal (Muaná, Marajó), vivia constantemente presa de encantamento por tudo o que me cercava: das pupunheiras torcidas pela fúria incoercível dos ventos errantes; das tendais vergando ao peso de tanta variedade de flores; do orvalho morno que eu pisava nos campos, caíndo do seio das folhas tenras dos chuaseiros, aos longínquos crepúsculos que douravam a copa dos coqueiros, onde os besouros e as borboletas num bailado sonolento de rítmos apaixonado, me impediam a atitude introspectiva... Nascera em mim a poesia numa daquelas horas de absoluto repouso do lar, que era o meu melhor momento do dia. Quando eu, mergulhada naquele estado de ternura, imagina que o céu fosse um grande jasmineiro e que eu um dia pudesse aparar nas mãos os jasmins das estrelas... Quando no entopecimento do ser na mais fala a não ser o coração semi-adormecido e feliz...
- Adalcinda Camarão, fragmento do Discurso de posse, na Academia Paraense de Letras, em 25 de janeiro/1950.



Adalcinda Camarão e Líbero Antônio Luxardo
Adalcinda Magno Camarão Luxardo (Muaná, Ilha de Marajó/Pará, 18 julho de 1914 – Belém/Pará, 17 de janeiro de 2005) poeta e compositora brasileira. Filha de João Evangelista de Carvalho e Camila de Brito Magno Camarão. Foi casada com o cineasta Líbero Luxardo, com quem teve um filho.

Estudou no Colégio D. Pedro II e também no Instituto de Educação. Despontou como poeta na revista de estudantes denominada “Terra Imatura”, no ano de 1938. 

Adalcinda Camarão se inseriu no cenário cultural literário paraense como uma das poucas mulheres que militaram no universo da arte durante este período, quando ainda normalista, passando a fazer parte dos grupos de estudantes que lutavam em frentes literárias. Importante dizer que a autora contribuiu com revistas literárias que circulavam na sociedade belemense na primeira metade do século XX – Guajarina, A Semana e Amazônia –, que ajudaram a difundir sua habilidade poética, além de escrever para os jornais O diário e a Província, o que demonstra sua inserção e importância na cena literária daquele momento, nos auspícios da constituição de um movimento literário local.

Em 1949, no dia 07 de agosto, ocorreu um fato marcante na trajetória da poeta. A despeito da pouca idade, Adalcinda foi eleita para ocupar a cadeira de número 17 da Academia Paraense de Letras. Posto cujo pioneiro ocupante fora Felipe Patroni. Um feito notável. Sobretudo, pelo fato de que – após a também paraense Guilly Furtado – Adalcinda era uma das primeiras mulheres a preencher vaga em academias literárias no Brasil. Ela chegou a anteceder Raquel de Queiroz, a primeira na Academia Brasileira. Sua posse ocorreu no dia 25 de janeiro de 1950, no Teatro da Paz. “Eu me recordo que estava muito nervosa. Achava que não ia conseguir fazer o discurso. Cheguei a pensar em não comparecer a cerimônia. Mas o Líbero, com toda sua calma, disse que eu não me preocupasse, que eu apenas fosse até lá e deixasse tudo transcorrer naturalmente”.

Em 1956, viajou para os Estados Unidos, com bolsa de estudos (Award) oferecida pelo Departamento de Estado em cooperação com o Departamento de Educação e recomendada pela embaixada Americana no Rio de Janeiro. Estudou na América University, graduando-se em linguística, revalidando o mestrado em Educação, feito ainda no Brasil, na Universidade Católica.

Adalcinda Camarão - posse na Academia
 Paraense de Letras, 1950
Durante o período que residiu nos Estados Unidos, trabalhou em conferências e entrevistas para a Voice of America em Washington, entre 1956 e 1958; trabalhou na Embaixada do Brasil, em Washington, D.C., de 1961 a 1988; Além de atuar como professora de português para estrangeiros e literatura brasileira e portuguesa, lecionando em universidades e centros de ensino americanos.

De 1957 a 60, ensinou Português para estrangeiros, na La Case Academy of Languages e Sanz School.

Em 1960, abriu o Departamento de Português da Georgetown University (Institute of Languages and Linguístics), onde ensinou literatura do Brasil e de Portugal, de 1960 a 1965.

Lecionou Português na American University em 1974 e 1975; na Graduate School of the Agriculture Department, de 1966 a 1977; na Casa Branca, para assistentes dos presidentes Nixon e Gerald Ford, em 1974 e 1975; na Arlington Adult Education, 1986, 1987 e 1988.

Durante o período que residiu no exterior, Adalcinda jamais deixou a sua poesia. Vivia produzindo seus textos e os enviava a Academia Paraense de Letras, revistas e jornais de Belém.

A escritora também recebeu, diplomas e medalhas, dentre elas estão: medalha Cultural José Veríssimo; medalha Olavo Bilac; medalha Paulino Brito; medalha Centenário do Teatro da Paz;  medalha Bicentenário da Igreja São João Batista; medalha comemorativa da cidade de Monte Alegre.

Autora de vários livros de poesia como: “Baladas de Monte Alegre”, “Entre Espelho e Estrelas”, “Folhas”, “Vidências”; além de publicações sobre educação, folclore e teatro.

Volta ao Brasil, no ano 2000, após 44 anos radicada nos Estados Unidos, fixando residência em Belém/PA, onde faleceu em 2005, com 91 anos de idade.


"Quando se nasce para ser eterno Morrer é uma especulação"
- Adalcinda Camarão


OBRA DE ADALCINDA MAGNO CAMARÃO LUXARDO
Poesia
Despetalei a Rosa. 1941.
Vidência. Edição do Autor, 1943.
Capas de livros de Adalcinda Camarão. [Acervo Academia
Paraense de Letras] - foto: Iris Barbosa
Baladas de Monte Alegre. Belém: Imprensa Oficial do Pará, 1943.
Entre Espelhos e Estrelas. Belém: Falangola, 1953. (Prêmio o melhor livro do ano pelo Governo do Estado).
Caminho do Vento. Belém: Leitura, 1968.
Folhas. Belém: Mitograph, 1978.
À Sombra das Cerejeiras. Belém: Falangola, 1989.
Antologia Poética. Belém: CEJUP, 1995.
Outros Poemas. 1995.


Teatro
Um Reflexo de Aço. 1955.
O Mar e a Praia. 1956.

Folclore
Lendas da Terra Verde. 1956.

Educação
Brasil Fala Português. [Livro Escolar] 1964.
Comentários no Espaço e no Ar. (At the Red Lights), EUA, 1977.



Libero Luxando e Adalcinda Camarão, com o livro "Folhas"


POEMAS ESCOLHIDOS DE ADALCINDA MAGNO CAMARÃO LUXARDO


Espaço-tempo
Quero-te mesmo, amor, na ausência ou na presença,
com rumores de sombra, alarde ou desafios.
―Dormir num chão de luar à sombra de roseiras
ou sob os pirisais na baixada dos rios...

Assim te amo e te sei amando dia-a-dia,
acordada ou dormindo o germinal segredo.
E te abraço sem ter teu corpo ao meu, beijando
a saudade sem ser de quem se tem sem medo.

Amo-te mesmo, amor, no madrigal do tempo,
derrubando androceus e gineceus se amando
nas pálpebras do estio que o sono não acorda.

No teu dorso eu descanso a caminhada enorme
que fiz pra te encontrar ― lábios ardendo em busca
da tua noite azul onde minh'alma dorme.

Amo-te mesmo, amor. Se me vens ou te vais.
Sinto-te à flor da pele e à superfície da água
que dessedenta o bem que nos lava o mal.

Amo-te e não sei quem és ― teu nome nem origem.
Só sei que és homem são e me sabes mulher.
Que beleza este amor sem pranto nem vertigem,
sem princípio nem fim, nem dimensão sequer!
- Adalcinda Camarão, em "Antologia Poética". Belém: CEJUP, 1995.


Amor
Teus olhos se espreguiçam no meu peito
e dormem o riso morno das abelhas
Adalcinda Camarão
tontas de mel rolando
amor - amado...
Teus lábios escrevem poemas sós, secretos,
nos meus lábios lacrados desta sede
que só tu sabes a paixão imensa...
Tuas mãos debulham rimas
em todo o meu dorso dourado
da tua presença
à sombra da tarde que escoa...
Tentar ficar longe de ti é fiasco, é legenda.
Fica rente a ti blasfêmia que Deus abençoa.
- Adalcinda Camarão, do livro 'Vidência' - em "Antologia Poética". Belém: CEJUP, 1995, p. 340.


Anseio
Ah, eu quisera ser aquela árvore
coberta pelas garças brancas de vôo incerto!
Árvore plantada pelo acaso
à margem do rio enorme!
Árvore de frondes anantos,
desejosa, quase humana,
que se arrepia ao contato
das penas dos papagaios que passam!
Árvore que tem o grande amor do vento
e que da sombra para o gado descansar.
Árvore estéril, árvore bela, árvore fresca,
árvore amante de todos os crepúsculos,
no solstício do inverno ou do verão,
Árvore do pensamento das outras árvores!
- Adalcinda Camarão, do livro "Poesia do Grão-Pará" (seleção e notas de Olga Savary). Rio, Graphia, 2001.


Despedida
Pediste-me qualquer coisa.
Qualquer coisa de meu muito íntimo
que me cobrisse o corpo…
Que me tocasse a pele arrepiada,
E como pra te dar eu não tivesse nada,
E como só a escuridão me envolvesse
pelos olhos, pelos ombros,
pelo ventre morno e mofino,
eu te dei de presente a minha noite enorme,
a minha grande noite sem memória e sem destino!
- Adalcinda Camarão, do livro "Poesia do Grão-Pará" (seleção e notas de Olga Savary). Rio, Graphia, 2001.


Depressão
[Aos manos Céli e Edir]
Quero ar. Ar puro dos campos marajoaras.
Água enchente de rio - temperatura do meu corpo.
Pisar caminhos estreitos sem tráfego.
Beber chuva - comer caça
na faísca arisca da brasa
que o boi vigia.
Quero vento alísio - uma só estação todo ano!
Olhos. Inteligência.
Brasilidade. Gargalhada.
Silêncio de rádio, de relógio, de telefone.
(Não fale em televisão, por favor.P
Quero plantar frutas e legumes,
criar aves
que me sustentam e se misturem comigo.
Quero os meus cabelos que cobriam os joelhos.
(Quem cortou os meus cabelos, ninguém se lembra.)
Quero falar em poesia descuidada
num degrau de ponte velha,
onde os barcos cochilam
à maresia do luar.
Uma rede de esse rangindo sonolentamente
num canto sombrio da varanda invadida
dos galhos do biribazeiro...
Quero a noite. Candeeiro espetado ao alto da parede
com uma paisagem de Sílvio Pinto.
Quero fugir para o verão do meu Pará.
Quero o meu homem!
- Adalcinda Camarão, em "Antologia Poética". Belém: CEJUP, 1995, p. 154.


Pasmo
Depois que o momento passou,
fiquei quieta na tua alma,
qual gota de orvalho
dormindo na pétala de um lírio.
Fiquei parada nos teus olhos,
Qual vitória régia
na doçura da onda
de um lago azul!
- Adalcinda Camarão, em "Antologia Poética". Belém: CEJUP, 1995, p. 29.


Sortilégio
Há um pensamento chorando dentro da noite erma.
Há um pensamento virgem, solitário,
apalpando a floresta,
roçando no rio largo,
por onde bóia, em cada estirão,
o sortilégio da mãe-d’água.
O jurutai canta para a lua cheia,
Os grilos arremedam o assobio do vento,
As nuvens sacodem chuva e tristeza
só porque eu quero luar nos meus pés.
E vem lá de dentro da mata,
lá de onde eu não sei como está,
a voz rouca do silêncio amazônico
consolando as umbaubeiras perdidas
que a trovoada vergou.
Há um pensamento chorando dentro da noite esquecida…
Descendo pela correnteza,
pedindo a mão das estrelas…
Há um pensamento com sono e sem poder dormir…
Marinheiro, vê se tu podes compreender
esse pensamento de mulher.
- Adalcinda Camarão, do livro "Poesia do Grão-Pará" (seleção e notas de Olga Savary). Rio, Graphia, 2001.


Paisagem Marajoara
Da migração úmida e mansa do crepúsculo
ficou um olor de maresia brava,
lambendo o limo lodoso das raízes.
A lua, ciumenta e oca,
encolhida e acuada,
espia desconfiada,
pelas frestas da mata,
a terra grávida de sombras e silêncios…
O vento é um passarão agourento
voando por sobre os contornos ondulantes
da grande ilha supersticiosa
de litorais iluminados
pelos olhos da boiúna.
- Adalcinda Camarão, do livro "Poesia do Grão-Pará" (seleção e notas de Olga Savary). Rio, Graphia, 2001.


Bom dia, Belém
Adalcinda e seu filho, Líbero Antônio
Há muito que aqui no meu peito
Murmuram saudades azuis do teu céu
Respingos de orvalho me acordam
Luando telhados que a chuva cantou
O que é que tens feito, que estás tão faceira
Mais jovem que os jovens irmãos que deixei
Mais sábia que toda a ciência da terra
Mais terra, mais dona do amor que te dei

Onde anda meu povo, meu rio, meu peixe
Meu sol, minha rede, meu tamba-tajá
A sesta, o sossego na tarde descalça
O sono suado do amor que se dá
E o orvalho invisível da flor se espalhando
Cantando cantigas e o vento soprando
Um novo dia vai enunciando, mandando e
Cantando cantigas de lá

Me abraça apertado que eu venho chegando
Sem sol e sem lua, sem rio e sem mar
Coberto de neve
Levado no pranto dos rios que correm
Cantigas no ar
Onde anda meu barco de vela azulada
Que foi depenada sumindo sem dó
Onde anda a saudade da infância na grama
Dos campos tranquilos do meu Marajó

Belém, minha terra, meu rio, meu chão
Meu sol de janeiro a janeiro, a suar
Me beija, me abraça que eu
Quero matar a imensa saudade
Que quer me acabar

Sem Círio da Virgem, sem cheiro cheiroso
Sem a chuva das duas que não pode faltar
Murmuro saudades de noite abanando
Teu leque de estrelas,
Belém do Pará!
- Adalcinda Camarão (musicado por Edyr Proença nos anos 1970)


Sinos de Belém
Sinos orando, sinos de Sé,
Sinos cantando em toada lassa,
Falai aqueles que não têm fé:
“Ave-Maria, cheia de graça Graça...”

Há tantos ímpios que blasfemando
todos os dias estão conosco.
Chamai-os sinos. Continuando,
dizei depois: “O Senhor é Convosco,
bendita Soís...”

E quando em noites que vestem luto
alguém fizer o sinal da cruz,
lembrai, também : “ Entre as mulheres,
bendito é o fruto
do Vosso ventre – Jesus.”
Pobres dos cegos sem ter o dia
a luz que brilha nos olhos meus.
A todos esses, sinos cantores,
ensinai sempre: “Santa Maria, mãe de Deus,
rogai por nós, pecadores...“

Sinos de Lourdes e da Trindade
que docemente minh’alma incessam,
sinos da capital de Belém,
pedi à Virgem, por nós, a bênção
“ agora e na hora da morte – Amém”!
- Adalcinda Camarão


O segredo de Soror Dolorosa
Era um claustro, além, que a monja silenciosa
Resava uma oração, num recanto isolado;
Era a segunda vez que Soror Dolorosa
Descobriu ante o ceo o rosto immaculado.

Era num claustro, alem, que a monja silenciosa
Resava uma oração, num recanto isolado;
Era a segunda vez que Soror Dolorosa
Descobriu ante o ceo o rosto immaculado.

Toda de lucto, assim, tranquila e piedosa,
trazia ao casto olha de Jesus crucificado,
apertando nas mãos a medalha, nervosa,
de uma imagem de alguém, talvez do amor velado.

Um dia Ella morreu...E, então, toda tardinha,
Cantava, a soluçar, uma pobre avezinha,
Diffundido na cruz um rosário de dor.

E numa tarde fria, a sós, por uma estrada,
foi um encontrar sobre a campa isolada
O segredo immortal, a medalha do amor
- Adalcinda Camarão, em Revista Guajarina, nº 05. 01 março/1930, p. 12. (grafia original)


Que são teus olhos
Teus olhos... Queres saber?
Teus olhos... Digo ou não digo?
Teus olhos... Vou já dizer:
São o meu único abrigo.

Adalcinda e seu filho, Líbero Antônio
Sinceramente já vistes
Uma lagoa azulada,
com sombra serena e triste
eternamente cercada?

Pois teus olhos afinal,
são embora não queiras,
U'a lagoa celestial
com sombra triste: as olheiras.

Nessa lagoa, que enleia,
dos teus olhos, meu amor,
toas as tardes passeia
o cisne da minha dor.
Agora sabes que são
esses teus olhos que um dia
roubaram meu coração,
mataram minha alegria...
- Adalcinda Camarão (Itaguary 9.33), em Revista A Semana, nº 767. 07 janeiro/1922, p. 09.


Poema
Se ele veio da luz, eu de que vim?
Se ele veio da luz que iluminou
o primeiro instante da fecunda,
onde está que não desce para consolar a terra que chora
E todos os elementos que juntam-se à minha dor?
Eu sei que sou água viva
que corre no fundo dos canais esquecidos...
Água que se mostra e se oculta, e se perde e se reencontra
Á procura de um socorro longínquo...
Eu sei que venho do fundo dos séculos.
chorando, alucinada, para a aurora que foge...

Mas se êle veio da luz que brota e sobe,
Simbolizando as vegetações, e o amor, e o seio da noite sem estrelas,
simboreando as vegetações, e o mar, e o seio da noite sem estrelas,
por que me expulsa do dia, eu que não sei de onde vim,
e não me deixa viver um pouco de vida sem inversos,
até que o sol beba o meu corpo de água pura
e a aves do céu, mansa e boa, venha buscar a minh'alma?
- Adalcinda Camarão (Janeiro de 1942)


Paisagem typica
Fim de tarde. Belém fecha as pálpebras mansas
e finge que adormece, em traje de noviça...
Rezam sinos de Deus. Abençôando creanças,
Desce a lua pra ouvir da noite a branca missa.

O caboclo delira. A morena enfeitiça,
cheirosa dos jardins que prendem suas tranças.
Se a cidade convida, o luar tem preguiça...
E prefere sonhar com as suas nuanças.

De outra banda, por traz da triste ilha das Onças,
Tem-se a impressão que o sol afundou-se, lascivo,
E as nuvens, sem pudor, foram ficando sonsas.

E entre as velas azues e brancas, no despreso
dos barcos, onde as violas buscam lenitivo,
a alma de Belém chora no Ver-o-Peso"
- Adalcinda Camarão (03.6.38)


Vem de longe este ritmo
Ouves aquela música rolando alvoroçada e crespa?
Parece um olho dágua brilhando, tremendo,
escorrendo pelas pedras polidas dos barrancos...
Água morena, morna, idílica, marchando pelos caminhos,
molhando os pés dos viajores,
fecundando as terras enxutas,
tateando ao pé dos troncos idosos
pela preguiça das noites mudas que não vivem?
ouves aqueles sons?
Aquelas vozes que vêm sofrendo na meditação dos séculos,
que vêm sonhando no ascetismo do tempo e das horas,
que vêm brincando na corda de luz dos dias?
Ouves aquela música? Tu não te lembras de nada?
Tu não te lembras de mim quando fui ela
e tu foste o entusiasmo creador de quem a escreveu?
Tu não te lembras, depois desse cântico de beduíno,
que fizeram de mim, que me tornei mulher,
que fizeram de ti pra seres o meu destino?
- Adalcinda Camarão, em "Poemas da noite". [presente no discurso de posse da Academia Paraense de Letras, jan/1950].

 
Adalcinda Magno Camarão Luxardo 


FORTUNA CRÍTICA DE ADALCINDA MAGNO CAMARÃO LUXARDO
BARBOSA, Iris de Fátima Lima. Lirismo e sensibilidade no universo poético de Adalcinda Camarão. (Monografia Graduação em Licenciatura Plena em Letras). Universidade Federal do Pará, UFPA, 2008.
BARBOSA, Iris de Fátima Lima."Versos modernos"... A paisagem amazônica no imaginário poético de Adalcinda Camarão. (Dissertação Mestrado em Letras: Lingüística e Teoria Literária). Universidade Federal do Pará, UFPA, 2012. Disponível no link. (acessado em 18.4.2014).
BARBOSA, Iris de Fátima Lima; COSTA, A. B. . "Esperança que escuta e não responde": Aspectos críticos-sociais na poética de Adalcinda Camarão.. In: Maria Angelica Motta Maués; Maria Luzia Miranda Álvares; Eunice Ferreira dos Santos. (Org.). Mulheres Amazônidas: Imagens, Cenários, Histórias.. 3ª ed.,  Belém: GEPEM, 2011, v. 3, p. 417-439.
BARBOSA, Iris de Fátima Lima; COSTA, A. B.. Lirismo e Sensibilidade no Universo Poético de Adalcinda Camarão. In: Maria Luzia Álvares; Eunice Ferreira dos Santos; Cristina Donza Cancela. (Org.). Mulheres e Gênero: As Faces da Diversidade. 1ª ed., Belém: GEPEM, 2009, v. 1, p. 91-106.
COELHO, Marinilce Oliveira. Memórias literárias de Belém do Para: o grupo dos novos, 1946-1952. (Tese Doutorado em História Literária). Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem, Unicamp, 2003. Disponível no link. (acessado em 18.4.2014).
SALES, Germana Maria Araújo; SANTOS, L. V.. Adalcinda Camarão e a sua produção literária na Revista Novidade. In: XIV SEMAL, 2006, Belém. Cadernos de Resumos e Programação, 2005. v. 1. p. 39-39.

Adalcinda Magno Camarão Luxardo



REFERÊNCIAS E FONTES DE PESQUISA
Adalcinda Magno Camarão Luxardo
BARBOSA, Iris de Fátima Lima."Versos modernos"... A paisagem amazônica no imaginário poético de Adalcinda Camarão. (Dissertação Mestrado em Letras: Lingüística e Teoria Literária). Universidade Federal do Pará, UFPA, 2012. Disponível no link. (acessado em 18.4.2014).
  
Fotos
:: Revista PZZ: Arte- Educação - Cultura  


© Direitos reservados ao autor/e ou ao seus herdeiros

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske


=== === ===
Trabalhos sobre o autor:
Caso, você tenha algum trabalho não citado e queira que ele seja incluído - exemplo: livro, tese, dissertação, ensaio, artigo - envie os dados para o nosso "e-mail de contato", para que possamos incluir as referências do seu trabalho nesta pagina. 

Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Adalcinda Magno Camarão Luxardo - a poeta marajoara. Templo Cultural Delfos, abril/2014. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
Página atualizada em 20.4.2014.
** Página original ABRIL/2014



Direitos Reservados © 2023 Templo Cultural Delfos

Jamil Almansur Haddad - a poética e a anatomia

Jamil Almansur Haddad
"Por ser muito escuro,
Gravarei no muro
Uma claridade:
Sol e Liberdade!"
- Jamil Almansur Haddad, em "Romanceiro Cubano".


Jamil Almansur Haddad (São Paulo, em 13 de outubro de 1914 — São Paulo, 4 de maio de 1988) foi um médico, crítico, ensaísta, poeta, historiador, teatrólogo, antologista e tradutor brasileiro. 
Diploma-se em 1938 pela faculdade de Medicina. De origem árabe, convertido ao islamismo, lembro-me de sua singular figura nos corredores da velha Santa Casa, usando grossas lentes e óculos de aro branco. Nasceu poeta, publicando seus primeiros versos em O Bisturi. Trabalhou com o prof. Raul Briquet, na Maternidade da rua Antonio Carlos e no 6º ano frequentou o Serviço de Otorrinolaringologia.

Em 1935 publicou Alkamar, a Minha Amante: Orações Negras mereceu o prêmio da Academia Brasileira de Letras, para poesia, em 1937. Com Oração ao Médico Jovem concorre para orador da sua turma. Trata-se de uma oração antológica, inspirada por um grande coração, demonstrando todo seu talento, e superior à própria oração de Maimônides (1135-1204), médico e filósofo cordovês que viveu sob o domínio árabe, uma das mais destacadas figuras do período de ouro espanhol. "Enche de sonho, a tua medicina", dizia Jamil. "Enche pensando que o caso médico, muito antes de um caso médico, é um caso humano, uma tragédia humana""Eu sei que nos meus caminhos verei os tormentos violentos, os desesperados sofrimentos, o martírio que grita e o martírio que é mudo. Para olhar tanta dor terrena, faze minha alma serena. faze com que, ao sofredor se estenda a minha mão: filho da mesma lama e do mesmo pecado, o homem, seja qual for, é sempre um meu irmão! Na caridade e no amor, plasma-me à tua imagem, meu Senhor!" E assim continua Jamil essa portentosa oração, tão expressiva e bela. No Museus Histórico da Faculdade de Medicina, ela lá se encontra, completa, eterna fonte de inspiração à conduta dos médicos de todos os tempos.

Do livro Orações Negras,
Jamil Almansur Haddad
Suas vitórias não mais terminaram. Carlos Burlamaqui Kople, em Os Caminhos Poéticos de Jamil Almansur Haddad (1943), analisou-lhe a obra, a sensibilidade, as características do artista, os caminhos por ele percorridos, através de um ensaio completo. Foi ele um cantor do infortúnio, da dor e das misérias humanas. Duílio Crispim Farina refere que a criança órfã e a mãe desventurada constituíram sempre o centro eletivo de onde emanou toda a sua inspiração poética. Enorme é o sofrimento que encontrou em cada retalho da vida. Aviso aos Navegantes (1980) é sua última obra, poema épico, narrativo. Acontecimentos sociais e políticos que vêm movimentando a história do mundo refletem-se nesse belo livro, dividido em suratas, com o modelo do Alcorão. Publicado originalmente em 1977, em Paris, o livro foi recebido de forma entusiástica pela crítica francesa, não só pelo seu caráter revolucionário, mas pela beleza da linguagem, insuflada por um sopro épico. Traduziu poesias de Baudelaire, Verlaine, Carducci, Petrarca e muitos outros. Sua obra poética é imensa e variada. Os diplomados pela Casa de Arnaldo, irmãos espirituais de Jamil Almansur Haddad, ficarão sempre a ouvir a grandeza de seus belos versos e a perenidade de sua voz. Nas enfermarias da velha Santa Casa e nos anfiteatros de anatomia é que este poeta maior recebeu as principais influências que marcaram definitivamente toda sua privilegiada inteligência.
Eis um dos mais belos poemas de Jamil Almansur Haddad, publicado em A Lua do Remorso (São Paulo, 1951).

Cântico
Nem viver, nem morrer. O melhor é naufragar.

Amor, pensas que é apenas o abajur e o leito.
Mas não. É o céu e é o mar. E o teu corpo,
côncavo de velas, singra pelo mar alto.
O barco tem asas para voar ao céu quando preciso.
Mas não é preciso.

Amada, na dureza das minhas docas ancoraste irremediável.
Teu pescoço é farol.
Brilham mais alto as duas luzes de oitocentas velas.

Flutuante alabastro,
és redonda como uma quilha e alta como um mastro.
E hoje há aviso aos navegantes:
no mar do poeta
haverá um naufrágio em cada hora do dia.

Amada, pensas que apenas é a cópula. Mas não.
Iremos para Taiti, Shangai, Cuba, Vladivostock, Ceilão e para o céu e para o inferno e para a vida e para a morte.
Compraremos apenas o bilhete de ida.
Quem volta de uma viagem para Vladivostock ou para a Morte?

Para Vladivostock, não! navio que eu amo.
Iremos colher as mandrágoras nos crepúsculos de Manilha
e tomar ópio em Hong-Kong, e comer pêssego em Oman e dormir com meretrizes morenas em rendez-vonz de Port Ssaid.

Mostra os teus braços de abismo
e os seios, duas naves fendidas e encalhadas e encendiadas de um fogo
vermelho na ponta,
mostra-me principalmente
o lago, o vasto lago do ventre,
onde há a ilha do umbigo e o princípio tormentoso do sexo
pois não quero viver nem morrer... que o melhor é naufragar...
- Jamil Almansur Haddad, em "Lua do Remorso". São Paulo: Livraria Martins Fontes, 1951.


Capa Alkamar, A Minha Amante,
 Jamil Almansur Haddad
Em 1945, Jamil Almansur Haddad inscreveu-se para o concurso de professor catedrático de literatura brasileira, junto à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Juntamente com ele mais cinco candidatos: Antonio Sales Campos, Antonio Candido de Mello e Souza, Manoel Cerqueira Leite, Mário Pereira de Souza Lima e José Oswald de Souza Andrade. A comissão julgadora foi constituída por Jorge Americano, Gabriel José Rezende Filho, Leonel Vaz de Barros, Afonso Arino de Melo Franco e Guilherme de Almeida. Após os resultados finais, foi nomeado para professor catedrático o Prof. Dr. Mário Pereira de Souza Lima. Aos demais concorrentes outorgou-se o título de livre-docência em literatura brasileira. A tese de Jamil Almansur Haddad levava o título de O Romantismo Brasileiro e as Sociedade Secretas do Tempo. É valiosa a obra literária de Jamil A. Haddad: Alkamar, a Minha Amante (São Paulo, Record, 1935); Orações Negras (São Paulo, Record, 1939); Introdução às Poesias de Gonçalves Dias (São Paulo, Cultura, 1942); Cântico dos Cânticos (São Paulo, Cultura, 1944); "Interpretação do Cântico dos Cânticos" (Boletim Bibliográfico, São Paulo, 4:121-124, 1944); Introdução a Tempo, de Guilherme de Almeida (São Paulo, Flama, 1944); Omar Khayyam, Rubaiyat (São Paulo, A Bolsa do Livro, 1944); Orações Roxas. Novas Orações. Orações Vermelhas (São Paulo, Cultura, 1945); História Poética do Brasil (São Paulo, Letras Brasileiras, 1945); tradução de O Cancioneiro de Petrarca (Rio de Janeiro, José Olympio, 1945); O Romantismo Brasileiro e as Sociedades Secretas do Tempo (São Paulo, 1945); "Românticos Esquecidos" (Revista Arquivo Municipal, São Paulo, 109: 35-38, 1946); O Amor no Pensamento Humano (São Paulo, Flama, 1947); Primavera na Flandres (São Paulo, A Bolsa do Livro, 1948); Cântico dos Cânticos (São Paulo, Saraiva, 1950); "Contribuição da Ilustração no Brasil" (I Congresso Brasileiro de Filosofia, Anais, São Paulo, 1950, vol. I, pp. 127-133); A Lua do Remorso (São Paulo, Martins, 1951); Introdução a Bernardo Guimarães (Rio de Janeiro, Martins, 1952); Memórias da Rua do Ouvidor, de Joaquim Manuel de Macedo (São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1952); Odes Anacreônticas (Rio de Janeiro, José Olympio, 1952); Revisão de Castro Alves (São Paulo, Saraiva, 1953, 3 volumes); As Obras-Primas da Poesia Religiosa Brasileira (São Paulo, Martins, 1954); Àlvares de Azevedo, a Maçonaria e a Dança (São Paulo, Conselho Estadual de Cultura, 1960); Avis aux Navigateurs. Le Premier Livre das Sourates. Paris: François Maspero, 1977. Aviso aos Navegantes ou A Bala Adormecida no Bosque. (poesia). Primeiro livro das Suratas. São Paulo: Editora Ciências Humanas, 1980.
___
Fonte: LACAZ, Carlos da Silva; MAZZIERRI, Berta Ricardo de. A faculdade de Medicina e a USP. [Jamil Almansur Haddad, por Carlos da Silva Lacaz - pp. 133-136]. São Paulo: Edusp, 1995.


OBRA
Poesia
:: Alkamar, a minha amante. (poesia). Livraria Editora Record, 1935.
Jamil Almansur Haddad 
:: Orações Negras. (poesia). Livraria Editora Record, 1939. Prêmio da Academia Brasileira de Letras, em 1937.
:: Poesia: Orações roxas, novas orações negras, orações vermelhas. Edições Cultura, 1943.
:: Primavera na flandres(poesia). Editora Bolsa do Livro, 1948.
:: A lua do remorso. (poesia).. [Capa de Oswald de Andrade Filho]. Livraria Martins Fontes, 1951, 133p.
:: Romanceiro cubano(poesia).. [Capa de Luis Ventura]. São Paulo: Editora Brasiliense, 1960, 236p.
:: Aviso aos Navegantes ou A Bala Adormecida no Bosque(poesia). Primeiro livro das Suratas. São Paulo: Editora Ciências Humanas, 1980, 350p. Originalmente publicado na França: Avis aux Navigateurs. Le Premier Livre das Sourates. Paris: François Maspero, 1977.


Crítica literária e outros
:: O romantismo brasileiro e as sociedades secretas de tempo. São Paulo: Indústria Gráfica Siqueira, 1945.
:: Introdução a poesia de Gonçalves Dias. São Paulo: Cultura, 1942.
:: Axiologia e crítica literária. (Sesiones: VII. Estética.). Actas del Primer Congreso Nacional de Filosofía (Mendoza 1949), Universidad Nacional de Cuyo, Buenos Aires 1950, tomo III, págs. 1475-1479. Disponível no link. (acessado em 18.4.2014).
:: Românticos esquecidos. Revista Arquivo Municipal de São Paulo, nº 109, pp. 35-38, 1946.
:: O Amor no Pensamento Humano. Editora Flama, 1947.
:: Contribuição da Ilustração no Brasil. Anais I Congresso Brasileiro de Filosofia. São Paulo, vol. I, pp. 127-133, 1950.
:: Revolução Cubana e Revolução Brasileira. Editora Civilização Brasileira, 1961.
:: O que é islamismo? [Coleção Primeiros passos Nº 41]. Editora Brasiliense, 1981.
:: Interpretações das mil e uma noites. Conferência Proferida na Semana de Estudos Árabes, 1986. Disponível no link. (acessado em 18.4.2014).
:: Roteiro da Poesia Brasileira – Anos 30 [Direção Edia van Steen; seleção e prefácio de Ivan Junqueira]. São Paulo: Global Editora, 2008.


Organização, prefácio, notas e seleção 
:: Tempo,de Guilherme de Almeida. [prefácio de Jamil Almansur Haddad e ilustrações de Quirino], São Paulo: Editora Flama, 1944, 247p.
:: História poética do Brasil: história do Brasil narrada pelos poetas[Seleção Jamil Almansur Haddad]. Editora Letras Brasileiras, 1944, 442p. 
:: Memórias da Rua do Ouvidor, de Joaquim Manuel de Macedo. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1952.
:: Revisão de Castro Alves. (3 volumes - avulso).. [Coleção Cruzeiro do sul, 1-3]., São Paulo: Edição Saraiva, 1953.
:: As obras-primas da poesia religiosa brasileira. São Paulo: Martins, 1954, 395p.
:: Maravilha do conto Árabe. Editora Cultrix, 1954, 280p.
:: Poemas de Amor, de Castro Alves [Organização e prefácio Jamil Almansur Haddad]. Editora Civilização Brasileira, 1957, 172p.
:: Castro Alves: Poesias Completas[Organização de Jamil Almansur Haddad]. Editora Nacional, 1952, 500p.
:: Àlvares de Azevedo, a Maçonaria e a Dança. Conselho Estadual de Cultura e Imprensa Oficial, 1960, 140p.
:: Noite Santa. (Antologia de poemas de Natal).. [Organização Jamil Almansur Haddad].  Coleção Poesia - Volume 1, Editora Autores Reunidos, 1960, 294p.
:: Defesa e Ilustração da Antologia. [Jamil Almansur Haddad e Alfredo Buzaid]. Editora Companhia Nacional, 1961.
:: Novelas Brasileiras. [Seleção Jamil Almansur Haddad]. Editora Cultrix, 1963, 234p.
:: Novelas Orientais[Seleção Jamil Almansur Haddad]. Editora Cultrix, 1963, 254p.
:: Literatura e mistificação. Emp. Jornalística , 1967, 180p.
:: Poemas Escolhidos de Castro Alves. [Organização e prefácio Jamil Almansur Haddad]. Editora Cultrix, 1967, 193p.
:: Poemas de Amor de Fagundes Varela. Editora Civilização Brasileira, 1970, 212p.
:: Poema de Amor de Machado de Assis. Editora Civilização Brasileira, 1970, 267p.
:: Poemas de Amor de Àlvares de AzevedoEditora Civilização Brasileira, 1970.
:: Contos árabes. Editora Ediouro, 1976.


Antologias [participação]
:: Antologia da poesia brasileira moderna, 1922-1947. [Organização e seleção Carlos Burlamaqui Köpke]. São Paulo: Clube de Poesia de São Paulo, 1953, 324p. 


Traduções realizadas por Jamil Almansur Haddad
:: As Líricas, de Safo. Edições Cultura, 1942.
:: As grandes hipóteses da ciência moderna, de Lazerges. Editora Cultura, 1944, 221p.
:: Cancioneiro, de Petrarca. Editora Jose Olympio, 1945.
:: Livro das canções, de Heinrich Heine. [vários tradutores, seleção e notas de Jamil Almansur Haddad]. Livraria Exposição do Livro, (década 1940).
:: Cântico dos cânticos, atribuídas a Salomão. [ilustrações de Oswald de Andrade Filho].
Saraiva, 1950.
:: Odes Anacreônticas*(poesia). Coleção Rubaiyat. Rio de Janeiro: José Olympio, 1952, 126p.
Capa do livro Cântico dos Cânticos,
atribuídas a Salamão
:: O Brasil literário: História da literatura brasileira, de Ferdinand Wolf. (Prefácio e tradução Jamil Almansur Haddad). Brasiliana, 1955. Disponível no link. (acessado em 16.4.2014).
:: Rubaiyat, de Omar Khayyam. São Paulo: A Bolsa do Livro, 1944; Civilização Brasileira, 1956.
:: As flores do mal, de Charles Baudelaire. (coleção Clássicos Garnier). Editora Difusão Européia do Livro (Difel), 1958.
:: Odes e Baladas, de Victor Hugo. Editora das Artes, 1960.
:: Obras completas, de Victor Hugo. [tradução Jamil Almansur Haddad]. São Paulo: Editora das Américas, 1960.
:: Poesias escolhidasde Giosuè Carducci[tradução Jamil Almansur Haddad; introdução Paul Renucci; e ilustrações Michel Cauvet].. (Coelção Prêmios Nobel da Literatura). Rio de Janeiro: Delta, 1962, 234p., il.
:: Verlaine - Poemas [Seleção, tradução, prefácio e notas de Jamil Almansur Haddad]. Editora Difusão Européia do Livro (Difel), 1962, 268p.
:: A arte de amar, de Ovídio. Biblioteca, 1964.
:: Decamerão, de Giovanni Boccaccio.
:: Histórias galantes, Giovanni Boccaccio. (28 contos).. [ Tradução, introdução seleção e notas de Jamil Almansur Haddad]. Editora Cultrix, 1959.
:: Brisas do Libano, de Felipe Lutfalla. Editora Do Autor, 1970, 141p.
(*) - Odes Anacreônticas. Saiba mais Aqui! (acessado em 7.5.2016).


"Enche de sonho, a tua medicina... Enche pensando que o caso médico, muito antes de um caso médico, é um caso humano, uma tragédia humana."
- Jamil Almansur Haddad, em "Oração ao Médico Jovem".



FORTUNA CRÍTICA
BANCO DE DADOS. Ouvindo os "novissimos" - A literatura contemporânea e os problemas que afligem a humanidade. [Com Jamil Almansur Haddad]. Almanaque folha, publicado na Folha da Noite, 06 de julho 1943. Disponível no link. (acessado 18.4.2014).
LAUAND, Luiz Jean. Interpretações das Mil e uma Noites - conferência de Jamil A. Haddad. Revista de Estudos Árabes da Fflch Usp, São Paulo, v. I, n.2, p. 53-63, 1993.
NAMUR, Miriam. Sincretismo cultural e imagens de mulher na literatura arabe-brasileira de Assis Féres e Jamil Almansur Haddad. Disponível no link. (acessado em 18.4.2014). 


POEMAS ESCOLHIDOS

Decimo quarto poema da vida
Parece que, no parque, ha um plátano que sua.
Parece que, no céu, ha uma Nuvem que sangra.

Ha dor no ar... ha dor na terra... ha dor nos subterrâneos!

E as delirantes convulsões violentas
da pirosfera
vão erguendo aos céus as cordilheiras
que são os arrepiados, os sofredores braços da Terra!

Oh, as subterraneas torturas da Terra!

Cada vulcão é uma ferida aberta
por onde a terra verte o sangue incandescente.

Talvez sofresse o mar que, no seu desespero,
ergue ás alturas
os seus apocalípticos braços feitos de água.
- Jamil Almansur, em "Orações Negras". São Paulo: Editora Record, 1939.





Balada
Eram duas, mãe e filha,
Rosalina e Rosmanilha.
A pequena, pobrezinha!
dia a dia mais definha.
É grande, trágica a fome
que Rosmanilha consome.

E a menina à mãe aflita,
cheia de lágrimas, grita:
"— Mãezinha, tem compaixão!
Tenho fome! Eu quero pão!"

E a mãe triste à sua filha:
"— Não te aflijas, Rosmanilha!
A tua dor é sem nome,
mas eu vou saciar-te a fome."

E lá vai a desgraçada,
taciturna pela estrada...
Onde irá buscar o pão
à filha do coração?

Mas uma idéia domina
a sombria Rosalina:

Ela iria até à cidade
e cheia de alacridade,
cercada das infelizes,
corrompidas meretrizes,
Capa da 1ª edição do livro 'Romanceiro Cubano',
 Jamil Mansur Haddad 

Rosalina cantaria,
para os homens dançaria...
E assim obteria o pão
à filha do coração...

E na hora do amanhecer
houve em casa o que comer.

Quando foi da estação fria,
Rosmanilha imploraria,
olhos doridos de pranto:
"— Tenho frio! Eu quero um manto!"

E Rosalina lhe diz:
"— Para cobrir-te, ó infeliz,
esta noite eu dançaria
até ao despontar do dia..."

Nascendo a manhã tranqüila,
Rosalina foi vesti-la
com um gesto dorido e terno.

E quando veio outro inverno,
por um desígnio do céu,
Rosmanilha adoeceu.

A mãe deixa a filha doente
e vai dançar tristemente.

Quando veio a manhã doce,
com o remédio que ela trouxe,
Rosmanilha ficou sã.

Mas numa negra manhã,
quando o outro inverno chegou,

Rosmanilha transmigrou.
Desígnio torvo do céu!
Por que a pequena morreu?
Rosalina o que faria?
Rosalina cantaria?
Dançaria Rosalina
para enterrar a menina?

- Jamil Almansur Haddad, em "Antologia da poesia brasileira moderna, 1922-1947". [Organização e seleção Carlos Burlamaqui Köpke]. Clube de Poesia de São Paulo, 1953.  



TRADUÇÕES REALIZADAS POR JAMIL ALMANSUR HADDAD

Odes atribuídas a Anacreonte (572 a.C. - 485 a.C.)


Exaltação do vinho
Sobre um colchão de tênues mirtos
ou de azulado lótus vago,
quero beber a longos tragos.
Eros, com um laço de papiro,
suspende à espádua o claro manto
e dá-me o vinho por que aspiro.
E como as velozes quadrigas
a vida corre no seu giro;
Fulgure alto o fogo da orgia
porque seremos poeira um dia.
- "Odes anacreônticas". [seleção e tradução Jamil Almansur Haddad]. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1952.



Viver enquanto é tempo
De que me valem os arcanos
do tesouro de Giges, o rei sardo?
Não invejo a fortuna dos tiranos.
Pois basta a Anacreonte
umedecer o rosto de mornos perfumes
e coroar a pensativa fronte
de rosas rubras, acendidas como lumes.

Só o dia de hoje me preocupa... O Amanhã...
Por que pensar assim nesta sombra tão vã?
Bebe e a Baco oferece cada dia
a libação antes que venha a hora sombria
em que a taça estará para sempre vazia.
"Odes anacreônticas". [seleção e tradução Jamil Almansur Haddad]. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1952.



Sobre uma efígie de vênus
Quem gravou a medalha? Quem nesse disco
esculpiu o vagalhão arisco?
Quem sobre estes mares plenos
de nereidas e algas gravou a solaríssima Venus,
fonte de glória e virtude,
princípio de beatitude?
O artífice a representa quase toda desnudada:
as ondas recobrem as doces partes proibidas.
Ela deixa atrás de si um rastro de peixes na água
                                                                  [salgada.

Ela erra por entre o alvo tumulto das crescidas
e Venus é espuma como as outras espumas.
Ela nada e invade solene o redemoinho
marinho.
As águas vêm leves como leves painas, como
                                                        tênues plumas
e beijam-lhe a implacável e gloriosa
carnação de jacinto e de rosa.
Ao bafejo mole da brisa
Kypris desliza
na paz das noites imutáveis e pretas
como se fosse um grande lírio cercadode violetas.
Nos bordos do disco de prata
o artífice retrata
os vagos Amores.
E o corpo da deusa páfia
como um peixe imortal corta a solidão marinha.
"Odes anacreônticas". [seleção e tradução Jamil Almansur Haddad]. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1952.




BIBLIOTECA PÚBLICA JAMIL ALMANSUR HADDAD
Histórico da Biblioteca
Biblioteca Jamil Almansur Haddad
Guaianazes, um dos bairros mais populosos da cidade de São Paulo e um dos mais carentes em equipamentos sociais e culturais, ganhou sua biblioteca pública graças às reivindicações da comunidade, representada pela União Feminina de Guaianazes. A inauguração da Biblioteca, em 5 de abril de 1991, foi muito importante para os moradores do bairro, pois proporcionou-lhes acesso a equipamentos e eventos culturais. A Biblioteca Jamil Almansur Haddad recebeu esta denominação em homenagem ao médico e poeta, nascido em São Paulo em 1914. 
Legislação referente à biblioteca: 
Criação: Decreto nº 26.365 de 8 de julho de 1988 
Denominação: Decreto nº 26.635 de 8 de julho de 1988 
Inauguração: 6 de abril de 1991
Patrono
Jamil Almansur Haddad
Jamil Almansur Haddad nasceu em 13 de outubro de 1914 em São Paulo. Formou-se em Medicina em 1938 e, paralelamente, foi crítico, ensaísta, historiador, teatrólogo, antologista e tradutor.  Recebeu um prêmio da Associação Paulista de Medicina e posteriormente foi convidado a ocupar o cargo de Diretor do Departamento de Cultura dessa Instituição. Foi presidente da Casa Castro Alves e participou do Congresso Brasileiro de Escritores. Jamil também colaborou em diversos diários de São Paulo. Era de origem libanesa e converteu-se ao Islamismo. Faleceu em 4 de maio de 1988, em São Paulo. É considerado um dos maiores poetas contemporâneos.
Acervo Geral
A biblioteca conta com aproximadamente 22 mil exemplares que é constituído por livros de literatura e informação, revistas, atlas, multimídia, etc. Todo o acervo de livros pode ser encontrado no catálogo online do Sistema Municipal de Bibliotecas. Informe-se sobre outros materiais existentes, pessoalmente ou por telefone. A maior parte das obras pode ser emprestada ao usuário matriculado na biblioteca
Serviço
Rua Andes, 491-A Guaianazes - 08440-180. São Paulo, SP
Tel.: 11 2557-0067 
Horário: 2ª a 6ª feira das 9h às 18h e sábado das 9h às 16h.
Site Oficial: Biblioteca Jamil Almansur Haddad 


REFERÊNCIAS E OUTRAS FONTES DE PESQUISA
Site Antonio Miranda - Jamil Almansur Haddad


© Direitos reservados ao autor/e ou ao seus herdeiros

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske


=== === ===
Trabalhos sobre o autor:
Caso, você tenha algum trabalho não citado e queira que ele seja incluído - exemplo: livro, tese, dissertação, ensaio, artigo - envie os dados para o nosso "e-mail de contato", para que possamos incluir as referências do seu trabalho nesta pagina. 

Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Jamil Almansur Haddad - a poética e a anatomia. Templo Cultural Delfos, abril 2014. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
Página atualizada em 14.8.2016.



Licença de uso: O conteúdo deste site, vedado ao seu uso comercial, poderá ser reproduzido desde que citada a fonte, excetuando os casos especificados em contrário. 
Direitos Reservados © 2016 Templo Cultural Delfos

COMPARTILHE NAS SUAS REDES