- Adalcinda Magno Camarão Luxardo (Muaná, Ilha de Marajó/Pará, 18 julho de 1915? – Belém/Pará, 17 de janeiro de 2005) poeta e compositora brasileira
Origem
Eu queria mesmo, ó grande mar azul
Eu queria mesmo, ó grande mar azul
que conhecesses o meu cabelo solto ao vento,
tão parecido com o teu pensamento
livre, crescendo sempre...
Eu fazia questão que ouvisses o meu soluço aafado
como de tuas ondas,
que mal põem à tona a cabeça o vento esmaga.
Eu queria, afinal, que me visses despida
com a tua correnteza que passa
sem pudor ou malícia - transparente.
Tu reconhecerias
no contorno transluzente do meu corpo
a desordem ritmada da tua carícia que minha mãe bebeu
no dia em que se banhou nas tuas espumas,
quase ao me dar à luz,
e mergulhou, afinal, sondando-te a profundidade,
onde encontrou minhalma!
Eu fazia questão que ouvisses o meu soluço aafado
como de tuas ondas,
que mal põem à tona a cabeça o vento esmaga.
Eu queria, afinal, que me visses despida
com a tua correnteza que passa
sem pudor ou malícia - transparente.
Tu reconhecerias
no contorno transluzente do meu corpo
a desordem ritmada da tua carícia que minha mãe bebeu
no dia em que se banhou nas tuas espumas,
quase ao me dar à luz,
e mergulhou, afinal, sondando-te a profundidade,
onde encontrou minhalma!
- Adalcinda Camarão. Antologia Poética. Belém: Cejup, 1995, p. 21.
"Desde os cinco anos, ainda na minha terra natal (Muaná, Marajó), vivia constantemente presa de encantamento por tudo o que me cercava: das pupunheiras torcidas pela fúria incoercível dos ventos errantes; das tendais vergando ao peso de tanta variedade de flores; do orvalho morno que eu pisava nos campos, caíndo do seio das folhas tenras dos chuaseiros, aos longínquos crepúsculos que douravam a copa dos coqueiros, onde os besouros e as borboletas num bailado sonolento de rítmos apaixonado, me impediam a atitude introspectiva... Nascera em mim a poesia numa daquelas horas de absoluto repouso do lar, que era o meu melhor momento do dia. Quando eu, mergulhada naquele estado de ternura, imagina que o céu fosse um grande jasmineiro e que eu um dia pudesse aparar nas mãos os jasmins das estrelas... Quando no entopecimento do ser na mais fala a não ser o coração semi-adormecido e feliz...
- Adalcinda Camarão, fragmento do Discurso de posse, na Academia Paraense de Letras, em 25 de janeiro/1950.
Adalcinda Magno Camarão Luxardo (Muaná, Ilha de Marajó/Pará, 18 julho de 1914 – Belém/Pará, 17 de janeiro de 2005) poeta e compositora brasileira. Filha de João Evangelista de Carvalho e Camila de Brito Magno Camarão. Foi casada com o cineasta Líbero Luxardo, com quem teve um filho.
Adalcinda Camarão e Líbero Antônio Luxardo |
Estudou no Colégio
D. Pedro II e também no Instituto de Educação. Despontou como poeta na revista
de estudantes denominada “Terra Imatura”, no ano de 1938.
Adalcinda Camarão se inseriu no cenário cultural literário paraense como uma das poucas mulheres que militaram no universo da arte durante este período, quando ainda normalista, passando a fazer parte dos grupos de estudantes que lutavam em frentes literárias. Importante dizer que a autora contribuiu com revistas literárias que circulavam na sociedade belemense na primeira metade do século XX – Guajarina, A Semana e Amazônia –, que ajudaram a difundir sua habilidade poética, além de escrever para os jornais O diário e a Província, o que demonstra sua inserção e importância na cena literária daquele momento, nos auspícios da constituição de um movimento literário local.
Adalcinda Camarão se inseriu no cenário cultural literário paraense como uma das poucas mulheres que militaram no universo da arte durante este período, quando ainda normalista, passando a fazer parte dos grupos de estudantes que lutavam em frentes literárias. Importante dizer que a autora contribuiu com revistas literárias que circulavam na sociedade belemense na primeira metade do século XX – Guajarina, A Semana e Amazônia –, que ajudaram a difundir sua habilidade poética, além de escrever para os jornais O diário e a Província, o que demonstra sua inserção e importância na cena literária daquele momento, nos auspícios da constituição de um movimento literário local.
Em 1949, no dia 07 de agosto, ocorreu um fato marcante na
trajetória da poeta. A despeito da pouca idade, Adalcinda foi eleita para ocupar
a cadeira de número 17 da Academia Paraense de Letras. Posto cujo pioneiro
ocupante fora Felipe Patroni. Um feito notável. Sobretudo, pelo fato de que –
após a também paraense Guilly Furtado – Adalcinda era uma das primeiras
mulheres a preencher vaga em academias literárias no Brasil. Ela chegou a
anteceder Raquel de Queiroz, a primeira na Academia Brasileira. Sua posse
ocorreu no dia 25 de janeiro de 1950, no Teatro da Paz. “Eu
me recordo que estava muito nervosa. Achava que não ia conseguir fazer o
discurso. Cheguei a pensar em não comparecer a cerimônia. Mas o Líbero, com
toda sua calma, disse que eu não me preocupasse, que eu apenas fosse até lá e
deixasse tudo transcorrer naturalmente”.
Em 1956, viajou para os Estados Unidos, com bolsa de
estudos (Award) oferecida pelo Departamento de Estado em cooperação com o
Departamento de Educação e recomendada pela embaixada Americana no Rio de
Janeiro. Estudou na América University, graduando-se em linguística, revalidando
o mestrado em Educação, feito ainda no Brasil, na Universidade Católica.
Durante o período que residiu nos Estados Unidos,
trabalhou em conferências e entrevistas para a Voice of America em Washington, entre 1956 e 1958; trabalhou na Embaixada
do Brasil, em Washington, D.C., de 1961 a 1988; Além de atuar como professora
de português para estrangeiros e literatura brasileira e portuguesa, lecionando
em universidades e centros de ensino americanos.
De 1957 a 60, ensinou Português para estrangeiros, na La
Case Academy of Languages e Sanz School.
Em 1960, abriu o Departamento de Português da Georgetown
University (Institute of Languages and Linguístics), onde ensinou literatura do
Brasil e de Portugal, de 1960 a 1965.
Lecionou Português na American University em 1974 e 1975;
na Graduate School of the Agriculture Department, de 1966 a 1977; na Casa
Branca, para assistentes dos presidentes Nixon e Gerald Ford, em 1974 e 1975;
na Arlington Adult Education, 1986, 1987 e 1988.
Durante o período que residiu no exterior, Adalcinda
jamais deixou a sua poesia. Vivia produzindo seus textos e os enviava a
Academia Paraense de Letras, revistas e jornais de Belém.
A escritora também recebeu, diplomas e medalhas, dentre
elas estão: medalha Cultural José Veríssimo; medalha Olavo Bilac; medalha
Paulino Brito; medalha Centenário do Teatro da Paz; medalha Bicentenário da Igreja São João
Batista; medalha comemorativa da cidade de Monte Alegre.
Autora de vários livros de poesia como: “Baladas de Monte Alegre”, “Entre Espelho e Estrelas”, “Folhas”, “Vidências”; além de publicações sobre educação, folclore e teatro.
Autora de vários livros de poesia como: “Baladas de Monte Alegre”, “Entre Espelho e Estrelas”, “Folhas”, “Vidências”; além de publicações sobre educação, folclore e teatro.
Volta ao Brasil, no ano 2000, após 44 anos radicada nos Estados Unidos, fixando residência em Belém/PA, onde faleceu em 2005, com 91 anos de idade.
"Quando se
nasce para ser eterno Morrer é uma especulação"
- Adalcinda Camarão
OBRA DE ADALCINDA MAGNO CAMARÃO LUXARDO
Poesia
Despetalei a Rosa. 1941.
Vidência. Edição do Autor, 1943.
Capas de livros de Adalcinda Camarão. [Acervo Academia Paraense de Letras] - foto: Iris Barbosa |
Baladas de Monte Alegre. Belém:
Imprensa Oficial do Pará, 1943.
Entre Espelhos e Estrelas. Belém: Falangola, 1953. (Prêmio o melhor livro do ano pelo Governo do Estado).
Entre Espelhos e Estrelas. Belém: Falangola, 1953. (Prêmio o melhor livro do ano pelo Governo do Estado).
Caminho do Vento. Belém: Leitura,
1968.
Folhas. Belém: Mitograph, 1978.
À Sombra das Cerejeiras. Belém:
Falangola, 1989.
Antologia Poética. Belém: CEJUP,
1995.
Outros Poemas. 1995.
Teatro
Um Reflexo de Aço. 1955.
O Mar e a Praia. 1956.
Folclore
Lendas da Terra Verde. 1956.
Educação
Brasil Fala Português. [Livro
Escolar] 1964.
Comentários no Espaço e no Ar. (At the Red Lights), EUA, 1977.
Libero Luxando e Adalcinda Camarão, com o livro "Folhas" |
POEMAS ESCOLHIDOS DE ADALCINDA MAGNO CAMARÃO LUXARDO
Espaço-tempo
Quero-te mesmo,
amor, na ausência ou na presença,
com rumores de
sombra, alarde ou desafios.
―Dormir num
chão de luar à sombra de roseiras
ou sob os
pirisais na baixada dos rios...
Assim te amo e
te sei amando dia-a-dia,
acordada ou
dormindo o germinal segredo.
E te abraço sem
ter teu corpo ao meu, beijando
a saudade sem
ser de quem se tem sem medo.
Amo-te mesmo,
amor, no madrigal do tempo,
derrubando
androceus e gineceus se amando
nas pálpebras
do estio que o sono não acorda.
No teu dorso eu
descanso a caminhada enorme
que fiz pra te
encontrar ― lábios ardendo em busca
da tua noite
azul onde minh'alma dorme.
Amo-te mesmo,
amor. Se me vens ou te vais.
Sinto-te à flor
da pele e à superfície da água
que dessedenta
o bem que nos lava o mal.
Amo-te e não
sei quem és ― teu nome nem origem.
Só sei que és
homem são e me sabes mulher.
Que beleza este
amor sem pranto nem vertigem,
sem princípio
nem fim, nem dimensão sequer!
- Adalcinda Camarão, em "Antologia Poética". Belém: CEJUP, 1995.
Amor
Teus olhos se
espreguiçam no meu peito
e dormem o riso
morno das abelhas
Adalcinda Camarão |
tontas de mel
rolando
amor - amado...
Teus lábios escrevem poemas sós, secretos,
nos meus lábios
lacrados desta sede
que só tu sabes
a paixão imensa...
Tuas mãos
debulham rimas
em todo o meu
dorso dourado
da tua presença
à sombra da
tarde que escoa...
Tentar ficar
longe de ti é fiasco, é legenda.
Fica rente a ti
blasfêmia que Deus abençoa.
- Adalcinda Camarão, do livro 'Vidência' - em
"Antologia Poética". Belém: CEJUP, 1995, p. 340.
Anseio
Ah, eu quisera
ser aquela árvore
coberta pelas
garças brancas de vôo incerto!
Árvore plantada
pelo acaso
à margem do rio
enorme!
Árvore de
frondes anantos,
desejosa, quase
humana,
que se arrepia
ao contato
das penas dos
papagaios que passam!
Árvore que tem
o grande amor do vento
e que da sombra
para o gado descansar.
Árvore estéril,
árvore bela, árvore fresca,
árvore amante
de todos os crepúsculos,
no solstício do
inverno ou do verão,
Árvore do
pensamento das outras árvores!
- Adalcinda Camarão, do livro "Poesia do
Grão-Pará" (seleção e notas de Olga Savary). Rio, Graphia, 2001.
Despedida
Pediste-me
qualquer coisa.
Qualquer coisa
de meu muito íntimo
que me cobrisse
o corpo…
Que me tocasse
a pele arrepiada,
E como pra te
dar eu não tivesse nada,
E como só a
escuridão me envolvesse
pelos olhos,
pelos ombros,
pelo ventre
morno e mofino,
eu te dei de
presente a minha noite enorme,
a minha grande
noite sem memória e sem destino!
- Adalcinda Camarão, do livro "Poesia do
Grão-Pará" (seleção e notas de Olga Savary). Rio, Graphia, 2001.
Depressão
[Aos manos Céli e Edir]
Quero ar. Ar
puro dos campos marajoaras.
Água enchente
de rio - temperatura do meu corpo.
Pisar caminhos
estreitos sem tráfego.
Beber chuva -
comer caça
na faísca
arisca da brasa
que o boi
vigia.
Quero vento
alísio - uma só estação todo ano!
Olhos.
Inteligência.
Brasilidade.
Gargalhada.
Silêncio de
rádio, de relógio, de telefone.
(Não fale em televisão,
por favor.P
Quero plantar
frutas e legumes,
criar aves
que me
sustentam e se misturem comigo.
Quero os meus
cabelos que cobriam os joelhos.
(Quem cortou os
meus cabelos, ninguém se lembra.)
Quero falar em
poesia descuidada
num degrau de
ponte velha,
onde os barcos
cochilam
à maresia do
luar.
Uma rede de
esse rangindo sonolentamente
num canto
sombrio da varanda invadida
dos galhos do
biribazeiro...
Quero a noite.
Candeeiro espetado ao alto da parede
com uma
paisagem de Sílvio Pinto.
Quero fugir
para o verão do meu Pará.
Quero o meu
homem!
- Adalcinda Camarão, em "Antologia
Poética". Belém: CEJUP, 1995, p. 154.
Pasmo
Depois que o momento passou,
fiquei quieta na tua alma,
qual gota de orvalho
dormindo na pétala de um lírio.
Fiquei parada nos teus olhos,
Qual vitória régia
na doçura da onda
de um lago azul!
- Adalcinda Camarão, em "Antologia
Poética". Belém: CEJUP, 1995, p. 29.
Sortilégio
Há um
pensamento chorando dentro da noite erma.
Há um
pensamento virgem, solitário,
apalpando a
floresta,
roçando no rio
largo,
por onde bóia,
em cada estirão,
o sortilégio da
mãe-d’água.
O jurutai canta
para a lua cheia,
Os grilos
arremedam o assobio do vento,
As nuvens
sacodem chuva e tristeza
só porque eu
quero luar nos meus pés.
E vem lá de
dentro da mata,
lá de onde eu
não sei como está,
a voz rouca do
silêncio amazônico
consolando as
umbaubeiras perdidas
que a trovoada
vergou.
Há um
pensamento chorando dentro da noite esquecida…
Descendo pela
correnteza,
pedindo a mão
das estrelas…
Há um
pensamento com sono e sem poder dormir…
Marinheiro, vê
se tu podes compreender
esse pensamento
de mulher.
- Adalcinda Camarão, do livro "Poesia do
Grão-Pará" (seleção e notas de Olga Savary). Rio, Graphia, 2001.
Paisagem
Marajoara
Da migração
úmida e mansa do crepúsculo
ficou um olor
de maresia brava,
lambendo o limo
lodoso das raízes.
A lua, ciumenta
e oca,
encolhida e
acuada,
espia
desconfiada,
pelas frestas
da mata,
a terra grávida
de sombras e silêncios…
O vento é um
passarão agourento
voando por
sobre os contornos ondulantes
da grande ilha
supersticiosa
de litorais
iluminados
pelos olhos da
boiúna.
- Adalcinda Camarão, do livro "Poesia do
Grão-Pará" (seleção e notas de Olga Savary). Rio, Graphia, 2001.
Bom dia, Belém
Adalcinda e seu filho, Líbero Antônio |
Há muito que
aqui no meu peito
Murmuram
saudades azuis do teu céu
Respingos de
orvalho me acordam
Luando telhados
que a chuva cantou
O que é que
tens feito, que estás tão faceira
Mais jovem que
os jovens irmãos que deixei
Mais sábia que
toda a ciência da terra
Mais terra,
mais dona do amor que te dei
Onde anda meu
povo, meu rio, meu peixe
Meu sol, minha
rede, meu tamba-tajá
A sesta, o
sossego na tarde descalça
O sono suado do
amor que se dá
E o orvalho
invisível da flor se espalhando
Cantando
cantigas e o vento soprando
Um novo dia vai
enunciando, mandando e
Cantando
cantigas de lá
Me abraça
apertado que eu venho chegando
Sem sol e sem
lua, sem rio e sem mar
Coberto de neve
Levado no
pranto dos rios que correm
Cantigas no ar
Onde anda meu
barco de vela azulada
Que foi
depenada sumindo sem dó
Onde anda a
saudade da infância na grama
Dos campos
tranquilos do meu Marajó
Belém, minha
terra, meu rio, meu chão
Meu sol de
janeiro a janeiro, a suar
Me beija, me
abraça que eu
Quero matar a
imensa saudade
Que quer me
acabar
Sem Círio da
Virgem, sem cheiro cheiroso
Sem a chuva das
duas que não pode faltar
Murmuro
saudades de noite abanando
Teu leque de
estrelas,
Belém do Pará!
- Adalcinda Camarão (musicado por Edyr Proença nos
anos 1970)
Sinos de Belém
Sinos orando,
sinos de Sé,
Sinos cantando
em toada lassa,
Falai aqueles
que não têm fé:
“Ave-Maria,
cheia de graça Graça...”
Há tantos
ímpios que blasfemando
todos os dias
estão conosco.
Chamai-os
sinos. Continuando,
dizei depois:
“O Senhor é Convosco,
bendita
Soís...”
E quando em noites
que vestem luto
alguém fizer o
sinal da cruz,
lembrai, também
: “ Entre as mulheres,
bendito é o
fruto
do Vosso ventre
– Jesus.”
Pobres dos
cegos sem ter o dia
a luz que
brilha nos olhos meus.
A todos esses,
sinos cantores,
ensinai sempre:
“Santa Maria, mãe de Deus,
rogai por nós,
pecadores...“
Sinos de
Lourdes e da Trindade
que docemente
minh’alma incessam,
sinos da
capital de Belém,
pedi à Virgem,
por nós, a bênção
“ agora e na
hora da morte – Amém”!
- Adalcinda Camarão
O segredo de
Soror Dolorosa
Era um
claustro, além, que a monja silenciosa
Resava uma
oração, num recanto isolado;
Era a segunda
vez que Soror Dolorosa
Descobriu ante
o ceo o rosto immaculado.
Era num
claustro, alem, que a monja silenciosa
Resava uma
oração, num recanto isolado;
Era a segunda
vez que Soror Dolorosa
Descobriu ante
o ceo o rosto immaculado.
Toda de lucto,
assim, tranquila e piedosa,
trazia ao casto
olha de Jesus crucificado,
apertando nas
mãos a medalha, nervosa,
de uma imagem
de alguém, talvez do amor velado.
Um dia Ella
morreu...E, então, toda tardinha,
Cantava, a
soluçar, uma pobre avezinha,
Diffundido na
cruz um rosário de dor.
E numa tarde
fria, a sós, por uma estrada,
foi um
encontrar sobre a campa isolada
O segredo
immortal, a medalha do amor
- Adalcinda Camarão, em Revista Guajarina, nº 05.
01 março/1930, p. 12. (grafia original)
Que são teus
olhos
Teus olhos...
Queres saber?
Teus olhos...
Digo ou não digo?
Teus olhos...
Vou já dizer:
São o meu único
abrigo.
Adalcinda e seu filho, Líbero Antônio |
Sinceramente já
vistes
Uma lagoa
azulada,
com sombra
serena e triste
eternamente
cercada?
Pois teus olhos
afinal,
são embora não
queiras,
U'a lagoa
celestial
com sombra triste:
as olheiras.
Nessa lagoa,
que enleia,
dos teus olhos,
meu amor,
toas as tardes
passeia
o cisne da
minha dor.
Agora sabes que
são
esses teus
olhos que um dia
roubaram meu
coração,
mataram minha
alegria...
- Adalcinda Camarão (Itaguary 9.33), em Revista A
Semana, nº 767. 07 janeiro/1922, p. 09.
Poema
Se ele veio da
luz, eu de que vim?
Se ele veio da
luz que iluminou
o primeiro
instante da fecunda,
onde está que
não desce para consolar a terra que chora
E todos os
elementos que juntam-se à minha dor?
Eu sei que sou
água viva
que corre no
fundo dos canais esquecidos...
Água que se
mostra e se oculta, e se perde e se reencontra
Á procura de um
socorro longínquo...
Eu sei que
venho do fundo dos séculos.
chorando,
alucinada, para a aurora que foge...
Mas se êle veio
da luz que brota e sobe,
Simbolizando as
vegetações, e o amor, e o seio da noite sem estrelas,
simboreando as
vegetações, e o mar, e o seio da noite sem estrelas,
por que me
expulsa do dia, eu que não sei de onde vim,
e não me deixa
viver um pouco de vida sem inversos,
até que o sol
beba o meu corpo de água pura
e a aves do
céu, mansa e boa, venha buscar a minh'alma?
- Adalcinda Camarão (Janeiro de 1942)
Paisagem typica
Fim de tarde.
Belém fecha as pálpebras mansas
e finge que
adormece, em traje de noviça...
Rezam sinos de
Deus. Abençôando creanças,
Desce a lua pra
ouvir da noite a branca missa.
O
caboclo delira. A morena enfeitiça,
cheirosa
dos jardins que prendem suas tranças.
Se
a cidade convida, o luar tem preguiça...
E
prefere sonhar com as suas nuanças.
De outra banda,
por traz da triste ilha das Onças,
Tem-se a
impressão que o sol afundou-se, lascivo,
E as nuvens,
sem pudor, foram ficando sonsas.
E
entre as velas azues e brancas, no despreso
dos
barcos, onde as violas buscam lenitivo,
a
alma de Belém chora no Ver-o-Peso"
- Adalcinda Camarão (03.6.38)
Vem de longe este ritmo
Ouves aquela música rolando alvoroçada e crespa?
Parece um olho dágua brilhando, tremendo,
escorrendo pelas pedras polidas dos barrancos...
Água morena, morna, idílica, marchando pelos caminhos,
molhando os pés dos viajores,
fecundando as terras enxutas,
tateando ao pé dos troncos idosos
pela preguiça das noites mudas que não vivem?
ouves aqueles sons?
Aquelas vozes que vêm sofrendo na meditação dos séculos,
que vêm sonhando no ascetismo do tempo e das horas,
que vêm brincando na corda de luz dos dias?
Ouves aquela música? Tu não te lembras de nada?
Tu não te lembras de mim quando fui ela
e tu foste o entusiasmo creador de quem a escreveu?
Tu não te lembras, depois desse cântico de beduíno,
que fizeram de mim, que me tornei mulher,
que fizeram de ti pra seres o meu destino?
- Adalcinda Camarão, em "Poemas da noite". [presente no discurso de posse da Academia Paraense de Letras, jan/1950].
Ouves aquela música rolando alvoroçada e crespa?
Parece um olho dágua brilhando, tremendo,
escorrendo pelas pedras polidas dos barrancos...
Água morena, morna, idílica, marchando pelos caminhos,
molhando os pés dos viajores,
fecundando as terras enxutas,
tateando ao pé dos troncos idosos
pela preguiça das noites mudas que não vivem?
ouves aqueles sons?
Aquelas vozes que vêm sofrendo na meditação dos séculos,
que vêm sonhando no ascetismo do tempo e das horas,
que vêm brincando na corda de luz dos dias?
Ouves aquela música? Tu não te lembras de nada?
Tu não te lembras de mim quando fui ela
e tu foste o entusiasmo creador de quem a escreveu?
Tu não te lembras, depois desse cântico de beduíno,
que fizeram de mim, que me tornei mulher,
que fizeram de ti pra seres o meu destino?
- Adalcinda Camarão, em "Poemas da noite". [presente no discurso de posse da Academia Paraense de Letras, jan/1950].
FORTUNA CRÍTICA DE ADALCINDA MAGNO CAMARÃO LUXARDO
BARBOSA, Iris
de Fátima Lima. Lirismo e sensibilidade
no universo poético de Adalcinda Camarão. (Monografia Graduação em
Licenciatura Plena em Letras). Universidade Federal do Pará, UFPA, 2008.
BARBOSA, Iris
de Fátima Lima."Versos modernos"...
A paisagem amazônica no imaginário poético de Adalcinda Camarão. (Dissertação
Mestrado em Letras: Lingüística e Teoria Literária). Universidade Federal do
Pará, UFPA, 2012. Disponível no link. (acessado em 18.4.2014).
BARBOSA, Iris
de Fátima Lima; COSTA, A. B. .
"Esperança que escuta e não
responde": Aspectos críticos-sociais na poética de Adalcinda Camarão..
In: Maria Angelica Motta Maués; Maria Luzia Miranda Álvares; Eunice Ferreira
dos Santos. (Org.). Mulheres Amazônidas: Imagens, Cenários, Histórias.. 3ª
ed., Belém: GEPEM, 2011, v. 3, p.
417-439.
BARBOSA, Iris
de Fátima Lima; COSTA, A. B.. Lirismo e Sensibilidade no Universo Poético
de Adalcinda Camarão. In: Maria Luzia Álvares; Eunice Ferreira dos Santos;
Cristina Donza Cancela. (Org.). Mulheres e Gênero: As Faces da Diversidade. 1ª
ed., Belém: GEPEM, 2009, v. 1, p. 91-106.
COELHO,
Marinilce Oliveira. Memórias literárias
de Belém do Para: o grupo dos novos, 1946-1952. (Tese Doutorado em História
Literária). Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da
Linguagem, Unicamp, 2003. Disponível no link. (acessado em 18.4.2014).
SALES, Germana
Maria Araújo; SANTOS, L. V.. Adalcinda Camarão e a sua produção literária
na Revista Novidade. In: XIV SEMAL, 2006, Belém. Cadernos de Resumos e
Programação, 2005. v. 1. p. 39-39.
REFERÊNCIAS E FONTES DE PESQUISA
Adalcinda Magno Camarão Luxardo |
BARBOSA, Iris
de Fátima Lima."Versos modernos"...
A paisagem amazônica no imaginário poético de Adalcinda Camarão. (Dissertação
Mestrado em Letras: Lingüística e Teoria Literária). Universidade Federal do
Pará, UFPA, 2012. Disponível no link. (acessado em 18.4.2014).
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Adalcinda Magno Camarão Luxardo - a poeta marajoara. Templo Cultural Delfos, abril/2014. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Adalcinda Magno Camarão Luxardo - a poeta marajoara. Templo Cultural Delfos, abril/2014. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
Página atualizada em 20.4.2014.
Muaná, terra de ilustres.
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