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Giorgio Agamben - entrevista: Deus não morreu. Ele tornou-se Dinheiro

Giorgio Agamben - foto: ...

"O capitalismo é uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro", afirma Giorgio Agamben, em entrevista concedida a Peppe Salvà e publicada por Ragusa News, em 16 de agosto de 2012.

Giorgio Agamben é um dos maiores filósofos vivos. Amigo de Pasolini e de Heidegger, Giorgio Agamben foi definido pelo Times e por Le Monde como uma das dez mais importantes cabeças pensantes do mundo. Pelo segundo ano consecutivo ele transcorreu um longo período de férias em Scicli, na Sicília, Itália, onde concedeu a entrevista.

A tradução é de Selvino  J. Assmann, professor de Filosofia do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, para o site do Instituto Humanitas Unisinos.

Peppe Salvà - O governo Monti invoca a crise e o estado de necessidade, e parece ser a única saída tanto da catástrofe  financeira quanto das formas indecentes que o poder havia assumido na Itáli. A convocação de Monti era a única saída, ou poderia, pelo contrário, servir de pretexto para impor uma séria limitação às liberdades democráticas?
Giorgio Agamben - “Crise” e “economia” atualmente não são usadas como conceitos, mas como palavras de ordem, que servem para impor e para fazer com que se aceitem medidas e restrições que as pessoas não têm motivo algum para aceitar. ”Crise” hoje em dia significa simplesmente “você deve obedecer!”. Creio que seja evidente para todos que a chamada “crise” já dura decênios e nada mais é senão o modo normal como funciona o capitalismo em nosso tempo. E se trata de um funcionamento que nada tem de racional.
Para entendermos o que está acontecendo, é preciso tomar ao pé da letra a idéia de Walter Benjamin, segundo o qual o capitalismo é, realmente, uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro.  Deus não morreu, ele se tornou Dinheiro.  O Banco – com os seus cinzentos funcionários e especialistas - assumiu  o lugar da Igreja e dos seus padres e, governando o crédito (até mesmo o crédito dos Estados, que docilmente abdicaram de sua soberania ), manipula e gere a fé – a escassa, incerta confiança – que o nosso tempo ainda traz consigo. Além disso, o fato de o capitalismo ser hoje uma religião, nada o mostra melhor do que o titulo de um grande jornal nacional (italiano) de alguns dias atrás: “salvar o euro a qualquer preço”. Isso mesmo, “salvar” é um termo religioso, mas o que significa “a qualquer preço”? Até ao preço de “sacrificar” vidas humanas? Só numa perspectiva religiosa (ou melhor, pseudo-religiosa) podem ser feitas afirmações tão evidentemente absurdas e desumanas.

Peppe Salvà - A crise econômica que ameaça levar consigo parte dos Estados europeus pode ser vista como condição de crise de toda a modernidade?
Giorgio Agamben - A crise atravessada pela Europa não é apenas um problema econômico, como se gostaria que fosse vista, mas é antes de mais nada uma crise da relação com o passado. O conhecimento do passado é o único caminho de acesso ao presente. É procurando compreender o presente que os seres humanos – pelo menos nós, europeus – são obrigados a interrogar o passado.  Eu disse “nós, europeus”, pois me parece que, se admitirmos que a palavra “Europa” tenha um sentido,  ele, como hoje aparece  como evidente, não pode ser nem político, nem religioso e menos ainda econômico,  mas talvez consista nisso, no fato de que  o homem europeu – à diferença, por exemplo, dos asiáticos e dos americanos, para quem a história  e o passado tem um significado completamente diferente – pode ter acesso à sua verdade unicamente através de um confronto com o passado, unicamente fazendo as contas com a sua história.
O passado não é, pois, apenas um patrimônio de bens e de tradições, de memórias e de saberes, mas também e sobretudo um componente antropológico essencial do homem europeu, que só pode ter acesso ao presente olhando, de cada vez, para o que ele foi.  Daí nasce a relação especial que os países europeus (a Itália, ou melhor, a Sicília, sob este ponto de vista é exemplar)  têm com relação às suas cidades, às suas obras de arte, à sua paisagem: não se trata de conservar bens mais ou menos preciosos, entretanto exteriores e disponíveis; trata-se, isso sim,  da própria realidade da Europa, da sua indisponível sobrevivência. Neste sentido, ao destruírem, com o cimento, com  as autopistas e a Alta Velocidade, a paisagem italiana, os especuladores não nos privam apenas de um bem, mas destroem a nossa própria identidade. A própria expressão “bens culturais” é enganadora, pois sugere que se trata de bens entre outros bens, que podem ser desfrutados economicamente e talvez vendidos, como se fosse possível liquidar e por à venda a própria identidade.
Há muitos anos, um filósofo que também era um alto funcionário da Europa nascente, Alexandre Kojève, afirmava que o homo sapiens havia chegado  ao fim de sua história e já não tinha nada diante de si a não ser duas possibilidades: o acesso a uma animalidade pós-histórica (encarnado pela american way of life) ou o esnobismo (encarnado pelos japoneses, que continuavam a celebrar as suas cerimônias do chá, esvaziadas, porém, de qualquer significado histórico). Entre uma América do Norte integralmente re-animalizada e um Japão que só se mantém humano ao preço de renunciar a todo conteúdo histórico, a Europa poderia oferecer a alternativa de uma cultura que continua sendo humana e vital, mesmo depois do fim da história, porque é capaz de confrontar-se com a sua própria história na sua totalidade e capaz de alcançar, a partir deste confronto, uma nova vida.

Giorgio Agamben - foto: ...
Peppe Salvà - A sua obra mais conhecida, Homo Sacer, pergunta pela relação entre poder político e vida nua, e evidencia as dificuldades presentes nos dois termos. Qual é o ponto de mediação possível entre os dois pólos?
Giorgio Agamben - Minhas investigações mostraram que o poder soberano se fundamenta, desde a sua origem, na separação entre vida nua  (a vida biológica, que, na Grécia, encontrava seu lugar na casa) e vida politicamente qualificada (que tinha seu lugar na cidade). A vida nua foi excluída da política e, ao mesmo tempo,  foi incluída e capturada através da sua exclusão. Neste sentido, a vida nua é o fundamento negativo do poder.  Tal separação atinge sua forma extrema na biopolítica moderna, na qual o cuidado e a decisão sobre a vida nua se tornam aquilo que está em jogo na política.  O que aconteceu nos estados totalitários do século XX reside no fato de que é o poder (também na forma  da ciência) que decide, em última análise, sobre o que é uma vida humana e sobre o que ela não é. Contra isso, se trata de pensar numa política das formas de vida, a saber, de uma vida que nunca seja separável da sua forma, que jamais seja vida nua.

Peppe Salvà - O mal-estar, para usar um eufemismo, com que  o ser humano comum se põe frente  ao mundo da política tem a ver especificamente com a  condição italiana ou é de algum modo inevitável?  
Giorgio Agamben - Acredito que atualmente estamos frente a um fenômeno novo que vai além do desencanto e da desconfiança recíproca entre os cidadãos e o poder e tem a ver com o planeta inteiro. O que está acontecendo é uma transformação radical das categorias com que estávamos acostumados a pensar a política. A nova ordem do poder mundial funda-se sobre um modelo de governamentalidade que se define como democrática, mas que nada tem a ver com o que este termo significava em Atenas. E que este modelo seja, do ponto de vista do poder, mais  econômico e funcional é provado pelo fato de que foi adotado também por aqueles regimes que até poucos anos atrás eram ditaduras. É mais simples manipular a opinião das pessoas através da mídia e da televisão do que dever impor em cada oportunidade as próprias decisões com a violência.  As formas da política por nós conhecidas – o Estado nacional, a soberania, a participação democrática, os partidos políticos, o direito internacional – já chegaram ao fim da sua história. Elas continuam vivas como formas vazias, mas a política tem hoje a forma de uma “economia”, a saber, de um governo das coisas e dos seres humanos. A tarefa que nos espera consiste, portanto, em pensar integralmente, de cabo a cabo,  aquilo que até agora havíamos definido com a expressão, de resto pouco clara em si mesma, “vida política”.

Peppe Salvà - O estado de exceção, que o senhor vinculou ao conceito de soberania, hoje em dia parece assumir o caráter de normalidade, mas os cidadãos ficam perdidos perante a incerteza na qual vivem cotidianamente. É possível atenuar esta sensação?
Giorgio Agamben - Vivemos há decênios num estado de exceção que se tornou regra, exatamente assim como acontece na economia  em que a crise se tornou a condição normal. O estado de exceção – que deveria sempre ser limitado no tempo – é, pelo contrário, o modelo normal de governo, e isso precisamente nos estados que se dizem democráticos.  Poucos  sabem que as normas introduzidas, em matéria de segurança, depois do 11 de setembro (na Itália já se havia começado a partir dos anos de chumbo) são piores do que aquelas que vigoravam sob o fascismo. E os crimes contra a humanidade cometidos durante o nazismo foram possibilitados exatamente pelo fato de Hitler, logo depois que assumiu o poder, ter proclamado um estado de exceção que nunca foi revogado. E certamente ele não dispunha das possibilidades de controle (dados biométricos, videocâmaras, celulares, cartões de crédito) próprias dos estados contemporâneos. Poder-se-ia afirmar hoje que o Estado considera todo cidadão um terrorista virtual. Isso não pode senão piorar e tornar impossível  aquela participação na política que deveria definir a democracia. Uma cidade cujas praças e cujas estradas são controladas por videocâmaras não é mais um lugar público: é uma prisão.

Peppe Salvà - A  grande autoridade que muitos atribuem a estudiosos que, como o senhor, investigam a natureza do poder político poderá trazer-nos esperanças de que, dizendo-o de forma banal,  o futuro será melhor do que o presente?
Giorgio Agamben - Otimismo e pessimismo não são categorias úteis para pensar. Como escrevia Marx em carta a Ruge: ”a situação desesperada da época em que vivo me enche de esperança”.

Peppe Salvà - Podemos fazer-lhe uma pergunta sobre a lectio que o senhor deu em Scicli? Houve quem lesse a conclusão que se refere a Piero Guccione como se fosse uma homenagem devida a uma amizade enraizada no tempo, enquanto outros viram nela uma indicação  de como sair do xequemate no qual a arte contemporânea está envolvida.
Giorgio Agamben - Trata-se de uma homenagem a Piero Guccione e a Scicli, pequena cidade em que moram alguns dos mais importantes pintores vivos. A situação da arte hoje em dia é talvez o lugar exemplar para compreendermos a crise na relação com o passado, de que acabamos de falar. O único lugar em que o passado pode viver é o presente, e se o presente não sente mais o próprio passado como vivo, o museu e a arte, que daquele passado é a figura eminente, se tornam lugares problemáticos. Em uma sociedade  que já não sabe o que fazer do seu passado, a arte se encontra premida entre a Cila do museu e a Caribdis da mercadorização. E muitas vezes, como acontece nos templos do absurdo que são os museus de arte contemporânea,  as duas coisas coincidem.
Duchamp talvez tenha sido o primeiro a dar-se conta do beco sem saída em que a arte se meteu. O que faz Duchamp quando inventa o ready-made?  Ele toma um objeto de uso qualquer, por exemplo, um vaso sanitário, e, introduzindo-o num museu, o força a apresentar-se como obra de arte. Naturalmente - a não ser o breve instante que dura o efeito do estranhamento e da surpresa – na realidade nada alcança  aqui a presença: nem a obra, pois se trata de um  objeto de uso qualquer, produzido industrialmente, nem a operação artística, porque não há de forma alguma uma poiesis, produção – e nem sequer o artista, porque aquele que assina com um irônico nome falso o vaso sanitário não age como artista, mas, se muito, como filósofo ou crítico, ou, conforme gostava de dizer
Giorgio Agamben - foto: ...
Duchamp, como “alguém que respira”, um simples ser vivo.
Em todo caso, certamente ele não queria produzir uma obra de arte, mas desobstruir o caminhar da arte, fechada entre o museu e a mercadorização.  Vocês sabem: o que de fato aconteceu é que um conluio,  infelizmente ainda ativo, de hábeis especuladores e de “vivos” transformou o ready-made em obra de arte. E a chamada arte contemporânea nada mais faz do que repetir o gesto de Duchamp, enchendo com  não-obras e performances a museus, que são meros organismos do mercado, destinados a acelerar a circulação de mercadorias, que, assim como o dinheiro, já alcançaram o estado de liquidez e querem ainda valer como obras. Esta é a contradição da arte contemporânea: abolir a obra e ao mesmo tempo estipular seu preço.


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Pedro Bloch - entrevistado por Clarice Lispector

Pedro Bloch - foto: ...
“Gosto até de quem não gosta de mim.”

Fui convidada pela doce Miriam Bloch para almoçar na casa agradabilíssima deles, aceitei contente. E entrevisto Pedro, uma das pessoas mais entrevistáveis que conheço.

Clarice Lispector – Pedro, você é uma das pessoas de maior coração que já vi. E acho que em todas as bondades entra uma parte de inteligência, senão a bondade não seria eficaz. Quando você julga os outros de um modo tão compreensivo e tão seu, é por bondade estritamente falando, ou por inteligência de descobrir a verdade?
Pedro Bloch – O que você chama de bondade talvez seja minha sintonia com o mundo. Sou coletivo. Tenho o mundo dentro de mim. Acho que todo ser humano tem uma dimensão universal, única, insubstituível. Por respeito a cada ser humano, em todos os cantos da Terra, e por gostar de gente, gostar de gostar, é que eu encontro em cada indivíduo o reflexo do universo. Desculpe, mas eu gosto até dos que não gostam de mim. Mas gosto dos que gostam.

Clarice Lispector – Você é um grande médico, teatrólogo famoso: falta-lhe alguma coisa para sentir o homem completo que na verdade você é?
Pedro Bloch – Não sei se sou grande médico. Sou teatrólogo famoso, porque a estatística o afirma. Mas não sendo grande em nada, ajo como se o fosse. Quando atendo a um paciente, procuro ser o melhor que posso. Quando escrevo uma peça, acredito que estou fazendo a coisa mais importante do mundo. Completo, não. Completo lembra realizado. Realizado é acabado. Acabado é o que não se renova a cada instante da vida e do mundo. Eu vivo me completando nos outros, mas falta um bocado.

Clarice Lispector – De que modo, Pedro, você reconstruiria o mundo?
Pedro Bloch – Começaria por me reconstruir. O mundo somos todos nós, responsáveis, um a um, um por um, pelo que fizemos do mundo. Só depois de me reconstruir é que eu me sentiria no direito de reconstruir o mundo.

Clarice Lispector – Por Deus, como e onde é que você capta tantas coisas maravilhosas ditas pelas crianças?
Pedro Bloch – E só ter ouvidos de ouvir criança. Confesso a você que tenho a vaidade de ser “o homem das historinhas de crianças”. Elas afinam comigo. Tanto que a diferença de idade nem dói. Por isso é que saíram aquelas coisas como “O cor-de-rosa é um vermelho... mas muito devagar”, “Coitado do trenzinho do Pão de Açúcar... está pensando que é avião.” “O gato morreu... porque o gato saiu do gato e só ficou o corpo do gato.” Aprendo com as crianças tudo que os sábios ainda não sabem.

Clarice Lispector – Você é considerado um papa na reabilitação da voz, dando, inclusive, voz a quem não tem. Como é que você se sente neste trabalho?
Pedro Bloch – No mundo em que vivemos, de conhecimentos tão vastos e informação tão constante, ninguém é papa em nada. Só mesmo o próprio. Como me sinto? Com uma permanente, grande responsabilidade. E é por isso que eu recomeço a cada dia, às cinco da manhã, estudando, duvidando e procurando aprender com quem sabe mais.

Clarice Lispector – Além de foniatra, você tem dado cursos para médicos e técnicos. O que levou você a atividades didáticas? A fraternidade humana? A capacidade de dar de si sem avareza? Pioneirismo?
Pedro Bloch – Ninguém é pioneiro de nada. Houve sempre alguém que fez antes. O problema não é de prioridade. É a gente se encontrar a si mesmo. Eu já disse que a gente só é gente quando a gente é a gente mesmo. Se eu sei... ensino. Se não sei... procuro aprender. Aliás, eu poderia repetir que “eu não ensino... mostro”.

Clarice Lispector – Quantas peças teatrais suas foram levadas ao palco?
Pedro Bloch – Todas. Quase trinta.

Clarice Lispector – E quais foram as representadas no exterior?
– Quase todas. Quase trinta. Tive a alegria de saber que uma peça minha, no mesmo dia, era representada em todos os continentes.

Clarice Lispector – Eu acho que não consegui me realizar como escritora. Você consegue se realizar como teatrólogo?
Pedro Bloch – Se você diz que não conseguiu se realizar como escritora, sendo a maior escritora do continente, então ninguém se realizou em nada.

Clarice Lispector – Que acha você do amor?
Pedro Bloch – Não acho. Amo. Não acho. Achei: Miriam.

Pedro Bloch - foto: ...
Clarice Lispector – Todos acham – embora sem mover uma palha para isso – que há falta de amor no mundo, amor no seu sentido amplo. A seu ver, é esse ingrediente que faria o mundo se mover em sentido enfim construtivo?
Pedro Bloch – As pessoas chamam de amor ao amor-próprio. Chamam de amor ao sexo. Chamam ao amor de uma porção de coisas que não são amor. Enquanto a humanidade não definir o amor, enquanto não perceber que o amor é algo que independe da posse, do egocentrismo, da planificação, do medo de perder, da necessidade de ser correspondido, o amor não será amor. O que faz o mundo se mover em sentido construtivo é a verdade. Ainda que provisória. Ainda que seja mais caminho que meta. As palavras afogam tudo: o amor, a verdade, o mundo. Enquanto o homem não marcar um encontro sério consigo mesmo, verá o mundo com prisma deformado e construirá um mundo em que a Lua terá prioridade, um mundo de mais Lua que luar.

Clarice Lispector – Por que motivo você não escreve uma espécie de memórias, de diário?
Pedro Bloch – É que eu já reparei que só quando a gente começa a perder a memória é que resolve escrever memórias. Eu ainda a tenho razoável. Quanto ao meu diário, ele estaria vazio de mim e cheio das pessoas que amo. Por isso prefiro escrever sobre elas, e não o meu diário.

Clarice Lispector – Pedro, você me parece expansivo, espontâneo. E, no entanto, é um homem também reservado, voltado para dentro de si, no sentido em que você dá aos outros e pouco pede para si. Como é você de verdade?
Pedro Bloch – Fiz, uma vez, uma receita de viver que acho que me revela. Viver é expandir, é iluminar. Viver é derrubar barreiras entre os homens e o mundo. Compreender. Saber que, muitas vezes, nossa jaula somos nós mesmos, que vivemos polindo as grades em vez de libertar-nos. Procuro descobrir nos outros sua dimensão universal e única. Não podemos viver permanentemente grandes momentos, mas podemos cultivar sua expectativa. A gente só é o que faz aos outros. Somos consequência dessa ação. Talvez a coisa mais importante da vida seja não vencer na vida. Não se realizar. O homem deve viver se realizando. O realizado botou ponto final. Tenho um profundo respeito humano. Um enorme respeito à vida. Acredito nos homens. Até nos vigaristas. Procuro desenvolver um sentido de identificação com o resto da humanidade. Não nado em piscina se tenho mar. Gosto de gostar. Todo mundo é perfeito até prova em contrário. Gosto de fazer. Não fazer... me deixa extenuado. Acredito mais na verdade que na bondade. Acho que a verdade é a quintessência da bondade, a bondade a longo prazo. Tenho defeitos, mas procuro esquecê-los a meu modo. “Saber olvidar lo malo también es tener memoria.”

Clarice Lispector – Você acredita em milagre?
Pedro Bloch – Eu só acredito em milagre. Nada mais miraculosa que a realidade de cada instante. Acredito mais no sobrenatural. O sobrenatural seria o natural mal explicado, se o natural tivesse explicação. Gilberto Amado anotou esta frase minha. Deve ser boa.

Clarice Lispector – Miriam é a sua companheira ideal, são pássaros do mesmo ninho. Em que mais, além do grande amor, essa criatura acompanha você?
Pedro Bloch – Não há mérito em amar a Miriam, porque nela encontro todas as mulheres do mundo. Ela me acompanha em tudo. No trabalho – é minha colaboradora melhor, na reabilitação da voz – na vida, em tudo. Ela é tão despida de egoísmo que chega às raias do desumano. Nunca vi de Miriam um gesto, uma palavra, uma atitude que não fosse para o bem dos outros. Quis casar com ela na mesma hora em que a conheci. Mas, agora que a conheço mais gostaria de tornar a casar todos os dias.

Clarice Lispector – De suas peças, qual levou mais tempo em cartaz?
Pedro Bloch – Muitas levaram “mais tempo”. A recordista, porém, é As mãos de Eurídice. Os pais abstratos vai pelo mesmo caminho... e é a penúltima. Agora termino Orfeu espacial que é a visão do mundo através dos olhos lúcidos e apavorados de uma juventude que ama os astros e os computadores.

Clarice Lispector – Suas peças são arquitetadas ou você as segue mais ou menos ao sabor do que vai acontecendo?
Pedro Bloch - foto: ...
Pedro Bloch – Minhas peças são primeiro sofridas, depois escritas e depois arquitetadas. A arquitetura vem em último lugar. Eu só escrevo o que vivi, senti e sofri, na própria pele ou transbordando dentro da corrente humana, mesmo quando meus problemas estão superados. Acho que Os pais abstratos reflete o homem de hoje mais do que qualquer peça de protesto. A verdade é sempre o maior protesto.

Clarice Lispector – Você gosta de você?
Pedro Bloch – Eu poderia dizer que gosto de todo mundo... até de mim.


PEDRO BLOCH – Pioneiro da foniatria no Brasil escreveu As mãos de Eurídice, um dos maiores sucessos teatrais brasileiros. Destacam-se também Dona Xepa e Os pais abstratos.

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Fonte: 
- LISPECTOR, Clarice. Clarice Lispector entrevistas. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.


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José Saramago - carta a Jorge Amado


Lanzarote, 1993, dia do aniversário de Jorge Amado

Querido Jorge,
Esta mensagem vai na letra gorda para que não se perca nos azares da transmissão nem um só sinal da nossa amizade, deste carinho tão bonito que vem enriquecer de um sentimento fraterno uma relação nascida tarde, mas que, em lealdade e generosidade, pede meças à melhor que por aí se encontre.
Foi lendo "El País" de ontem que Pilar viu que hoje era o teu aniversário. Viveremos pois este dia como o de uma festa que também é nossa. Por vossa parte, Zélia, Jorge, imaginai que são nossos dois dos lugares à vossa mesa e que deles nos levantaremos, à hora dos brindes para saudar em Jorge Amado não só o grande escritor, mas também o homem de coração e a dignidade exemplar de uma vida.

José Saramago .



- A carta faz parte do acervo da Fundação Casa de Jorge Amado.

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Dina Salústio - poeta e prosadora cabo-verdiana

Dina Salústio - foto Expressão Ilha
Dina Salústio (pseudônimo de Bernardina Oliveira), poeta e prosadora cabo-verdiana, nascida em 1941, em Santo Antão, em Cabo Verde. Paralelamente à sua atividade de escritora, foi professora, assistente social e jornalista em Cabo Verde, assim como em Portugal e em Angola. Dirigiu também um programa de rádio dedicado a assuntos educativos e foi produtora de rádio. Trabalhou ainda para o Ministério dos Assuntos Exteriores de Cabo Verde. Dina Salústio foi uma das fundadoras da Associação dos Escritores Cabo-verdianos, assim como de diversas publicações literárias.
Autora de um conhecido estudo sobre a violência contra as mulheres, oportunamente editado em forma de livro, bem como de um livro de literatura infanto-juvenil escrito em parceria com Marilene Pereira, Dina Salústio é também autora da colectânea de contos/estórias/crônicas 'Mornas eram as Noites' (o celebrado e muito reeditado livro no qual caustica, de forma poética e impiedosa, a sociedade cabo-verdiana e a atualidade das suas maleitas sociais, com especial incidência nos problemas da marginalidade social, da miséria e da pobreza, bem como nas questões relacionadas com a mulher, que lhe valeu a obtenção do Prêmio de Literatura Infantil de Cabo Verde. Publicou ainda o romance 'A louca de Serrano' (1998). Para além desses escritos, Dina Salústio é também criadora de poemas e de outros textos dispersos pelas revistas “Mudjer”, “Ponto& Vírgula”, “Fragmentos”, "Fragata", pelo jornal “A Semana” e pela antologia Mirabilis-de-Veias ao Sol.


OBRA DE DINA SALÚSTIO
© Michel Rauscher
Conto
:: Mornas eram as noites. Praia: Instituto caboverdiano do livro e do disco, 1994; Lisboa: Instituto Camões, 1999.

Romance
:: A louca de serranoPraia: Spleen Edições, 1998.
:: Filhas do vento. Praia: Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, 1999.

Ensaio
:: Violência contra as mulheres. (estudo). Praia: ICF, 1999, 93p.

infanto-juvenil
:: A estrelinha tlim tlim. [ilustrações Júlio Resende].  Praia; Mindelo: Centro Cultural Português, 1998.
:: Que os olhos não vêem. [Dina Salústio em co-autoria Marilene Pereira]. Praia: Centro Cultural Português, 2002.

Artigos e ensaios
SALÚSTIO, Dina. Insularidade na literatura cabo-verdiana. in: Cabo Verde: insularidade e literatura, org. Manuel Veiga, Paris: Karthala, 1998, p 33.
_______ . Forçosamente mulher, forçosamente mãe in Mornas eram as noites. Instituto da Biblioteca Nacional – Direção do Livro – Praia, 2002, p.35-36.
_______ . Vitreas labaredas. In: Cabo Verde: insularidade e literatura. [coordenação Manuel Veiga]. Paris: Editions Karthala, 1998, p. 209-213.

Antologia
:: Mirabilis de veias ao sol: antologia dos novíssimos poetas caboverdianos. [seleção e apresentação de José Luís Hopffer Almada]. Lisboa: Editora Caminho | Instituto Caboverdiano do Livro, 1991.
:: Antologia do mar na poesia africana de língua portuguesa do século XX. [organização e coordenação Carmen Lucia Tindó Secco]. Rio de Janeiro: UFRJ 1999.


© Michel Rauscher
POEMAS DE DINA SALÚSTIO

Chegam notícias de barcos no fundo...
Chegam notícias de barcos no fundo
 copos em cacos
 cacos em corpos
 papéis vazios
 bocas seladas
 crianças vendidas
 brinquedos sem dono
 ventos sem brisa
 violão sem cordas
 meninos sem riso
 braços sem abraços
 céus sem espaço
Por que drama por uma amizade que morre?
- Dina Salústio, em "Mirabilis de veias ao sol: antologia dos novíssimos poetas caboverdianos". [seleção e apresentação de José Luís Hopffer Almada]. Lisboa: Editora Caminho | Praia: Instituto Caboverdiano do Livro, 1988.

§

Estranha-me que aragens e arrepios...
Estranha-me que aragens e arrepios
 não corram pelo bosque em propostas inquietantes
 de desassossego louco e ciclones rudes.

E que sombras nubladas não passeiem pelos olhos em jogo
 e se desfaçam em raios brasa ao chegar ao fim

Espanta-me que as areias não tomem vida
 e contem estórias agarradas ao corpo
de outras horas que por lá passaram.

E que gotas salgadas não se transformem num rio gritante
 de caudal azul e inundem o solo de fantasias brancas

Admira-me que cicatrizes recusem novas dores
 promessas de vida
 para renascerem em chagas abertas fantasiadas de arlequim
 num dia negro solene e sério.

E que as pernas não se tornem asas
 para com a brisa voarem o espaço de um sorriso

Assombra-me que a ausência não provoque alucinações
 e não traga visões de deserto solidão e frio.

Dói-me que a folha em branco
 não exija nada
 não grite palavras
 não risque a pele
 não acorde sentidos
 não rasgue a paz
- Dina Salústio, em "Mirabilis de veias ao sol: antologia dos novíssimos poetas caboverdianos". [seleção e apresentação de José Luís Hopffer Almada]. Lisboa: Editora Caminho | Praia: Instituto Caboverdiano do Livro, 1988.

§

Apanhar é ruim demais
Eram deuses contava-se
e diabos e loucos e tinham um altar

cheiravam a maresia a madeira verde
e desfiavam sonhos e liam sinas
nos cabelos sem dono ao amanhecer

Eram deuses e diabos contava-se
e perturbavam com seu canto
e ameaçavam o som aceite

 Juntaram-se cordas e leis e facas
 e afiaram-se línguas e palavras
 Armaram-se cercos e armadilhas par os apanhar
 Resolveram-se templos e bares
 Praias e castelos

Os cães não ladraram
 os anjos adormeceram
 a lua se escondeu.

Os corpos fecharam-se e a ameaça cumpriu-se
 Nem deuses loucos ou demônios
 Humanos apenas. Humanos amantes.

Uma mosca vomitou de náusea
o céu soluçou estrelas
as vagas cuspiram raiva
 o vento envergonhado desfez -se em pó.
 a noite caiu e fez meu choro em pedaços.

Éramos eu e tu
 dentro de mim
Centenas de fantasmas compunham o espetáculo
 E o medo
 Todo o medo do mundo em câmara lenta nos meus olhos.

Mãos agarradas
Pulsos acariciados
um afago nas faces.

Éramos tu e eu
 dentro de ti
Suores inundavam os olhos
Alagavam lençóis
corriam para o mar.
 As unhas revoltam-se e ferem a carne que as abriga.

Éramos tu e eu
 dentro de nós.

As contrações cada vez mais rápidas
 o descontrolo
 a emoção
 a ciência atenta
 o oxigênio
 a mão amiga.

De repente a grande urgência
 a Hora
 a Violência
Éramos nós libertando-nos de nós.

 É a nossa dor.
 São nossos o sangue e as águas
 O grito é nosso
 A vida é tua o filho é meu.

Os lábios esquecem o riso
os olhos a luz
o corpo a dor

A exaustão total
o correr do pano
o fim do parto

Toco os teus campos de neve
e entrego-me aos fantasmas da minha infância

 Religiosamente bebo a gota esquecida na palma
 da minha mão.

Brisas sutis deixam em arcos tensos
as pétalas que me enfeitam

 E estupidamente me trazem ruas empedradas
 veias do meu mundo
 onde a bússola e o desejo se confundem
 confundindo o destino de nós.

 Na ternura das vozes que me envolvem
 há um convite ao poema que não consigo.

E as tuas montanhas sacodem
lembranças de outras cavernas
 gemendo à noitinha estórias
 de aves fugindo e picaretas cantando,
 murmúrios de piratinhas,
 sussurros de prazeres dolorosamente cambiados em mercado negro.

Pouco a pouco lês no meu olhar ausente
 a existência de outra ilha
E sentes a minha fé
e o braço se afrouxa
perante o adeus que adivinhas
no silêncio do meu corpo.
- Dina Salústio, em "Mirabilis de veias ao sol: antologia dos novíssimos poetas caboverdianos". [seleção e apresentação de José Luís Hopffer Almada]. Lisboa: Editora Caminho | Praia: Instituto Caboverdiano do Livro, 1988.

§

Geme-se grita-se e expulsa-se...
Geme-se grita-se e expulsa-se
 é um nascimento barato
Entra-se come-se e paga-se
 é uma casa barata
Bebe-se encharca-se e cai-se
 é um bar barato
Encosta-se mija-se e cospe-se
 é uma rua barata
Enrola-se fuma-se e tosse-se
 é um tabaco barato
Toca-se torce-se e esgota-se
 é um amor barato
Trabalha-se cumpre-se e assina-se

 é um ofício barato
Levanta-se mexe-se e dorme-se
 é um viver barato
Deita-se olha-se e morre-se
 é uma morte barata
Escreve-se lê-se e rasga-se

 é um poema barato
- Dina Salústio, em "Mirabilis de veias ao sol: antologia dos novíssimos poetas caboverdianos". [seleção e apresentação de José Luís Hopffer Almada]. Lisboa: Editora Caminho | Praia: Instituto Caboverdiano do Livro, 1988.

§

Por que havias de chegar...
Por que havias de chegar
num dia enevoado de bruma
nessa manhã de vento forte que me roubou
a (minha) máscara?
Por que havias de entrar
num dia de porta aberta
e me surpreender nua
a um canto tiritando
procurando confusa os trapos
para me tapar?
Por que nesse maldito dia
em que desprevenida
lavava uma saudade
e arrumava a um canto
um tempo que me doía?
Por que terias que me abraçar
e me chamar mulher
e abrir a janela e inventar um sol,
sussurrar uma canção?
Para quê?
Se foi o tempo de um cigarro?
- Dina Salústio, em "Mirabilis de veias ao sol: antologia dos novíssimos poetas caboverdianos". [seleção e apresentação de José Luís Hopffer Almada]. Lisboa: Editora Caminho | Praia: Instituto Caboverdiano do Livro, 1988.

§

FORTUNA CRÍTICA DE DINA SALÚSTIO
© Michel Rauscher
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“acabou-se Serrano e a sua maldição. Acabou-se tudo. A Louca de Serrano afastou-se, o seu destino cumprido e, pela primeira vez, nas suas centenas de vidas, chorava de saudade, enquanto os foguetes acompanhavam-lhe os derradeiros gestos. Filipa sentia-se realmente livre e só.”
- Dina Salústio, em 'A louca de serrano'. Praia: Spleen Edições, 1998.


Dina Salústio

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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Dina Salústio - poeta e prosadora cabo-verdiana. Templo Cultural Delfos, dezembro/2022. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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** Página atualizada em 5.12.2022.
* Página original OUTUBRO 2016.




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