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Narcisa Amália de Campos - poeta, republicana, abolicionista e feminista do século XIX

Narcisa Amélia de Campos - poeta, professora e jornalista

© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske
Por gentileza citar conforme consta no final desse trabalho. 
Página original JUNHO/2015 | ** Página revisada, ampliada e atualizada AGOSTO/2021. 


Narcisa Amélia de Campos
(poeta, professora e jornalista), nasceu em 3 de abril de 1852, em São João da Barra, norte do Rio de Janeiro, filha do poeta Jácome de Campos e da professora primária Narcisa Inácia de Campos. Aos 11 anos muda-se com a família para Resende e aos 14 anos casa-se com João Batista da Silveira, artista ambulante de vida irregular, de quem se separa alguns anos mais tarde.
Aos 20 anos, escreve “Nebulosas”, poemas de exaltação à natureza, à pátria e de lembranças da infância da “jovem e bela poetisa”, como definiu Machado de Assis.

Em 1880, aos 28 anos, casa-se pela segunda vez com Francisco Cleto da Rocha, também chamado de Rocha Padeiro, dona da “Padaria das Famílias”, em Resende. Nos primeiros anos ajuda o marido, mas continua a receber em seus saraus os amigos literatos em sua casa como Raimundo Correia, Luís Murat, Alfredo Sodré e inclusive o Imperador Dom Pedro II que em sua passagem à Resende, vai visitar “a sublime padeira” , por estar ansioso “por lhe provar...do pão espiritual” embora seja ela a poeta fervorosa republicana e abolicionista.

Seu casamento com Rocha Padeiro também não dura muito e com sua separação é obrigada a deixar Resende, cidade que considerava sua terra, pressionada por campanha maledicente promovida pelo ex-marido enciumado.

Muda-se para a Capital e dedica-se ao magistério, e em 13 de outubro de 1884, funda um pequeno Jornal Quinzenal, “o Gazetinha”, suplemento do Tymburitá que tinha como subtítulo, “folha dedicada ao belo sexo”.

Narcisa Amália foi à primeira mulher no Brasil a se profissionalizar como jornalista, alcançando projeção em todo o país com artigos em favor da Abolição da Escravatura, defensora da mulher e dos oprimidos em geral.

Narcisa faleceu no dia 24 de junho de 1924 aos 72 anos, pobre, cega e paralítica, sendo seu corpo sepultado no cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro. Antes de sua morte, deixou um apelo:
“Eu diria à mulher inteligente [...] molha a pena no sangue do teu coração e insufla nas tuas criações a alma enamorada que te anima. Assim deixarás como vestígio ressonância em todos os sentidos.” 
:: Fonte: Fio Cruz


CRONOLOGIA DE NARCISA AMÁLIA
Narcisa Amália de Campos
1852 - Nasce Narcisa Amália de Campos, a 3 de abril, em São João da Barra, Rio de Janeiro, filha do poeta Jácome de Campos e da professora primária Narcisa Inácia de Campos.
1863 - Transfere-se para Resende com a família.
1866 - Casa-se com João Batista da Silveira, artista ambulante, de vida irregular, de quem se separa alguns anos mais tarde.
1872 - Publica seu primeiro e único livro de poesia, Nebulosas, que alcança grande repercussão nos meios literários. São poemas expressivos do Romantismo, que exaltam a natureza e a pátria e relembram a infância.
1874 - Publica Nelúmbia, contos.
Prefacia livro de Ezequiel Freire e é elogiada por Machado de Assis: "As flores do campo, volume de versos dado em 1874, tiveram a boa fortuna de trazer um prefácio devido à pena delicada e fina de D.Narcisa Amália, essa jovem e bela poetisa (...)".
1880 - Casa-se novamente, dessa vez com Francisco Cleto da Rocha, também chamado Rocha Padeiro, dono da "Padaria das Famílias", em Resende. Ajuda o marido nos primeiros anos, mas continua a receber os amigos literatos em sua casa. Frequentam seus saraus nomes famosos como Raimundo Correia, Luís Murat, Alfredo Sodré e, inclusive, o Imperador Pedro II, que por ocasião de sua visita a Resende, vai "visitar a sublime padeira, por estar ansioso por lhe provar... do pão espiritual", embora seja a poetisa fervorosa republicana abolicionista.
O segundo casamento também não dura muito e Narcisa é forçada a deixar a cidade que considerava sua terra, pressionada por campanha maledicente movida pelo marido enciumado.
No Rio de Janeiro, Narcisa Amália dedica-se ao magistério.
1884 - Em 13 de outubro funda um pequeno jornal quinzenal, o Gazetinha, suplemento do Tymburitá que tinha, como subtítulo, "folha dedicada ao belo sexo".
Narcisa Amália foi a primeira mulher a se profissionalizar como jornalista, alcançando projeção em todo o Brasil com seus artigos em favor da Abolição da Escravatura, em defesa da mulher e dos oprimidos em geral.
:: Fonte: PAIXÃO, Sylvia Pelegrino. Narcisa Amália de Campos. in: MUZART, Zahidé Lupinacci. Escritoras Brasileiras do Século XIX. Antologia Volume II. Rio Grande de Sul: Edunisc, 2004. 


Agosto 12 
E' bella e meiga a criança. 
Sorrindo á luz da existência 
C'o a alma toda innocencia. 
- Narcisa Amália, em "Violetas poéticas - álbum de poesias para dias de annos". Rio de Janeiro: Laemmert & C., Editores, s/d. (grafia original)


OBRA DE NARCISA AMÁLIA
Poesia
Nebulosa, de Narcisa Amália
:: NebulosasNarcisa Amália[prefácio de Peçanha Póvoa]. Rio de Janeiro: Garnier, 1872.
:: Nebulosas. Narcisa Amália. [organização, apresentação e posfácio Anna Faedrich]. Rio de Janeiro: Gradiva; Biblioteca Nacional, 2017.
:: Nebulosas. Narcisa Amália. [ilustrações Julia Lhano]. Rio de Janeiro: Design UniFOA, 2019. Disponível online no link. (acessado em 26.7.2021).

Conto
:: Nelúmbia. (Conto). In: Lux!. Campos, 1. dez. 1874, p. 158-160. Disponível no link. (acessado em 26.7.2021)

Crônica
::  A mulher no século XIX (crônica). In: Democratema. Comemorativa ao 26º aniversário da Fundação do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 1882

Antologia [participação]
:: Violetas poéticas - álbum de poesias para dias de annos. Collecionadas dos melhores poetas brazileiros. Rio de Janeiro; São Paulo; Recife: Laemmert & C., Editores, Século de edição XIX. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
:: Sonetos brasileiros. [org.? e prefácio Laudelino Freire]. Collectanea século XVII-XX. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cia. Editores, 1890. Disponível no link. (acessado em 26.7.2021).
:: Antologia de poesias: poesia romântica brasileira. [organização Marisa Lajolo]. Coleção Lendo e Relendo Poesia. Rio de Janeiro: Editora Salamandra, 2005. {Autores presentes:  Alvares de Azevedo, Bernardo Guimaraes, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Fagundes Varela, Gonçalves Dias, Isabel Gondim, Joaquim Manuel de Macedo, Juvenal Galeno, Luís Gama, Luis Guimaraes Junior, Narcisa Amália e Nísia Floresta Brasileira Augusta}.
:: Clássicos Brasileiros: uma seleção de autores com obras em domínio público. [organização, Aníbal Bragança; versão inglesa, Iuri Lapa]. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; São Paulo: IMESP, 2011.
:: As mulheres poetas: na literatura brasileira. [organização, capa e projeto gráfico Rubens Jardim]. São Paulo: Arribaçã Editora, 2021. {a antologia reúne 328 poetas de todo o Brasil, de épocas, estilos e estados diferentes, confira no link as poetas presentes na coletânea}.

Traduções
:: O romance da mulher que amou. [comentado por Arsène Houssaye; tradução Narcisa Amalia]. Collecção Biblioteca Universal Rio de Janeiro: Garnier, 1877. (fonte: Memória BN/BR - O Figaro).
:: Os dois trophéos [tradução Narcisa Amélia].. In: Hugonianas. Poesias de Victor Hugo. traduzidos por poetas brasileiros. (org.? Mucio Teixeira). 2ª ed. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1885. Disponível no link. (acessado em 26.7.2021).

Catalogo 
:: As mensageiras - primeiras escritoras do Brasil. Série "Histórias não contadas". 'Catálogo exposição' [curadora da exposição Maria Amélia Elói]. Brasília: Câmara dos Deputados - Secretaria de Comunicação Social, 2018. Brasília: Centro Cultural Câmara dos Deputados, 2018. Disponível no link. (acessado em 28.7.2021). {Obs.O catalogo contém um erro, a escritora Nísia Floresta está erroneamente retratada. O retrato na verdade é da sua conterânea, a historiadora Isabel Gondim (1839-1933). Nascida em Vila Imperial de Papari, atual cidade de Nísia Floresta/RN.


Colaboração em jornais e revistas
:: O Domingo.
:: Astro Resendense (Resende-RJ) 
:: O Espírito Santense
:: A República.
:: Correio do Brasil.
:: Lábaro Acadêmico.
:: Correio Literário
:: Almanaque das Senhoras (RJ)
:: O Espírito Santo (ES)
:: Diário de Pernambuco (PE)
:: Lux! (Campos-RJ)
:: O Fluminense (Niterói-RJ) 
:: Diário Mercantil (SP)
:: O Friburguense (Friburgo-RJ)
:: Tymburitá (Resende-RJ) 
:: O Garatuja (Resende-RJ) 
:: A Família (SP)
:: A República (Aracaju-SE).
:: A Leitura: magazine litterario (colaborou entre 1894-1896). Disponível em Hemeroteca digital/CM Lisboa. (acessado em 27.6.2015). 


"A educação da mulher! Mas tem a mulher por acaso necessidade de ser educada? Para quê? Cautela! A mulher representa o gênio do mal sob uma forma mais ou menos graciosa e cultivar a sua inteligência seria fornecer-lhe novas armas para o mal. Procuremos antes torná-la inofensiva por meio da ignorância. Guerra, pois, à inteligência feminil!
Eis a palavra do século passado. O que diria a idade de ouro da selvageria, quando o homem tinha o direito de vida e de morte sobre a sua companheira? Quando a mulher carregava-lhe a bagagem na emigração, a antílope morta – na caçada e roía os ossos em comum com os cães? Desprezada, embrutecida, castigada e vendida, a mísera arrastava o longo suplício de sua existência até que a morte viesse libertá-la e a pá de terra levantasse entre ela e o seu opressor uma eterna barreira. Nada há que justifique essa tenaz perseguição da mulher; e entretanto foi perpetuada de século a século! Na Ásia, de rosto sempre velado, ignorante e submissa como um cão, trabalhava, comia e chorava à vontade do senhor, sem que uma palavra de simpatia jamais lhe dilatasse o coração; na Índia, levavam-na mais longe: atiravam-na à fogueira no dia em que lhe expirava o marido! Em Babilônia era vendida em praça pública; em Esparta, escolhida ao acaso; em Atenas, circunscrita nos gineceus. Batida, aviltada e corrompida pelo homem, a mulher romana, por sua vez, bate, avilta e corrompe o homem no filho."
- Narcisa Amália, excertos da crônica "A mulher no século XIX" (crônica). In: Democratema. Comemorativa ao 26º aniversário da Fundação do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 1882, p. 31-35. 



Narcisa Amália de Campos
POEMAS ESCOLHIDOS DE NARCISA AMÁLIA

O lago
I
Calmo, fundo, translúcido, amplo o lago
longe, trêmulo, trêmulo morria,
No seu límpido espelho a ramaria,
curva, de um bosque punha sombra e afago

Terra e céu, ondulando, eram na fria
tela fundidos! O queixume vago
que a água modula, de ambos parecia
solto, ululante, intérmino, pressago!

"Trecho vulgar de sítio abstruso e agreste"
talvez; mas todo o encanto que o reveste
sentisse; contemplasses-lhe a beleza;
comigo ouvisse-lhe a mudez, que fala,
e sorverias no frescor que o embala

todo o alento vital da Natureza!
- Narcisa Amália, em "Nebulosas". 1872.



Perfil de escrava
Quando os olhos entreabro à luz que avança,
Batendo a sombra e pérfida indolência,
Vejo além da discreta transparência
Do alvo cortinando uma criança.

Pupila de gazela - viva e mansa,
Com sereno temor colhendo a ardência
Fronte imersa em palor...Rir de inocência,
Rir que trai ora angústia, ora esperança...

Eis o esboço fugaz da estátua viva,
Que - de braços em cruz - na sombra avulta
Silenciosa, atenta, pensativa!

Estátua? Não, que essa cadeia estulta
Há de quebrar-se, mísera, cativa,
Este afeto de mãe, que a dona oculta!
- Narcisa Amália, em "Nebulosas". 1872.


Por que sou forte
      a Ezequiel Freire

Dirás que é falso. Não. É certo. Desço
Ao fundo d’alma toda vez que hesito...
Cada vez que uma lágrima ou que um grito
Trai-me a angústia - ao sentir que desfaleço...
E toda assombro, toda amor, confesso,
O limiar desse país bendito
Cruzo: - aguardam-me as festas do infinito!
O horror da vida, deslumbrada, esqueço!
É que há dentro vales, céus, alturas,
Que o olhar do mundo não macula, a terna
Lua, flores, queridas criaturas,
E soa em cada moita, em cada gruta,
A sinfonia da paixão eterna!...
- E eis-me de novo forte para a luta.
- Narcisa Amália (Resende, 7.9.1886), em "prefácio" ao livro "Flores do Campo" de Ezequiel Freire. Rio de Janeiro, 1874.


Resignação
No silêncio das noites perfumosas,
Quando a vaga chorando beija a praia,
Aos trêmulos rutilos das estrelas,
Inclino a triste fronte que desmaia.
E vejo o perpassar das sombras castas
Dos delírios da leda mocidade;
Comprimo o coração despedaçado
Pela garra cruenta da saudade.
Como é doce a lembrança desse tempo
Em que o chão da existência era de flores,
Quando entoava o múrmur das esferas
A copla tentadora dos amores!
Eu voava feliz nos ínvios serros
Empós das borboletas matizadas...
Era tão pura a abóbada do elísio
Pendida sobre as veigas rociadas!...
Hoje escalda-me os lábios riso insano,
É febre o brilho ardente de meus olhos:
Minha voz só retumba em ai plangente,
Só juncam minha senda agros abrolhos.
Mas que importa esta dor que me acabrunha,
Que separa-me dos cânticos ruidosos,
Se nas asas gentis da poesia
Eleva-me a outros mundos mais formosos?!...
Do céu azul, da flor, da névoa errante,
De fantásticos seres, de perfumes,
Criou-me regiões cheias de encanto,
Que a luz doura de suaves lumes!
No silêncio das noites perfumosas
Quando a vaga chorando beija a praia,
Ela ensina-me a orar, tímida e crente,
Aquece-me a esperança que desmaia.
Oh! Bendita esta dor que me acabrunha,
Que separa-me dos cânticos ruidosos,
De longe vejo as turbas que deliram,
E perdem-se em desvios tortuosos!...
- Narcisa Amália, em "Nebulosas". 1872.


Sandness
"Still visit thus my nights, for you reserved,
And mount my soaring soul thougts like yours."
(James Thomson)

XX
Meu anjo inspirador não tem nas faces 
As tintas coralíneas da manhã,;
Nem tem nos lábios as canções vivaces
Da cabocla pagã!

Não lhe pesa na fronte deslumbrante 
Coroa de esplendor e maravilhas, 
Nem rouba ao nevoeiro flutuante 
As nítidas mantilhas.

Meu anjo inspirador é frio e triste 
Como o sol que enrubesce o céu polar! 
Trai-lhe o semblante pálido — do antiste 
O acerbo meditar!

Traz na cabeça estema de saudades,
Tem no lânguido olhar a morbideza;
Veste a clâmide eril das tempestades,
E chama-se — Tristeza!...
- Narcisa Amália, em "Nebulosas". 1872.


FORTUNA CRÍTICA DE NARCISA AMÁLIA
[Estudos acadêmicos - teses, dissertações, ensaios,  artigos e livros]

ARAÚJO
, Maria da Conceição Pinheiro. Tramas femininas na imprensa do século XIX: tessituras de Ignez Sabino e Délia (
Maria Benedita Bormann).. (Tese Doutorado em Letras). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUC RS, 2008. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
BARBOSA, Gisele Oliveira Ayres. Narcisa Amália: uma trajetória feminina do Sul Fluminense do Século XIX. In: I Congresso de História e Geografia do Vale do Paraíba, Vassouras, 2013. 
BARBOSA, Gisele Oliveira Ayres. Aspectos Sociais e Políticos da Poesia de Narcisa Amália. In: XXII Simpósio Nacional de História ANPUH, 2003, João Pessoa. Anais Eletrônicos XXII Simpósio Nacional de História. João Pessoa: ANPUH / UFPB, 2003.
BARROCA, Iara Christina Silva. 3 Escritoras especiais: Ignez Sabino, Narcisa Amália e Júlia Lopes de Almeida. In: Laura Areias; Luis da Cunha Pinheiro. (Org.). As mulheres e a imprensa periódica. 1ª ed., Lisboa: Lusosofia: PRESS, 2014, v. 1, p. 161-171.
BITTENCOURT, Adalzira. Dicionário bio-bibliográfico de mulheres ilustres, notáveis e intelectuais do Brasil. Rio de Janeiro: Pongetti, 1969.
BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario Bibliographico Brazileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1883, 7 v.
BRAGA, Teófilo et al. Parnaso português moderno: Precedido de um estudo da poesia moderna portuguesa. Lisboa, Portugal: Francisco Artur da Silva — Editor, 1877. Disponível no link. (acessado em 26.7.2021)
BROCA, Brito. A vida literária no Brasil – 1900. 2ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1960.
CASTANHEIRA, Cláudia Silva. Dinamizando as marcas da diferença: a mulher e o discurso ficcional no fim do século XX. (Tese Doutorado em Letras). Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, 2003.
COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico de escritoras brasileiras: (1711-2001). São Paulo: Escrituras, 2002.
COUTINHO, Afrânio; SOUSA, José Galante de.. Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Academia Brasileira de Letras, 2001: 2v.
CUNHA, Helena Parente (Org.). Desafiando o cânone (2). 1ª ed., Rio de Janeiro: Faculdade de Letras da UFRJ, 2001
DEL PRIORE, Mary (org.); BASSANEZI, Carla (coord. de textos). História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto/Editora UNESP, 1997, 678p.
ELEUTERIO, Maria de Lourdes. As mulheres e o exercício de ler e escrever no entresséculos. 1890-1930. Rio de Janeiro: Editora Top Books, 2005.
FAEDRICH, Anna. Narcisa Amália e as intempéries da produção literária feminina. in revista Palimpsesto, nº 22, Ano 15 - Dossiê (9) - 2016,  p. 138-155. Disponível no link. (acessado em 18.5.2018).
FAEDRICH, Anna. Narcisa Amália, poeta esquecida do século XIX. In: Soletras revista - dossiê nº 34, 2017.2. Disponível no link. (acessado em 26.7.2021)
FONSECA, Yara Vidal. Narcisa Amália, 150 anos de nascimento. Trabalho apresentado na Academia Niteroiense de Letras em 10 de abril e 2002. 2. ed. Rio de Janeiro: N&S Encadernadora, 2008.
FREIRE, Laudelino et al. Sonetos brasileiros: Edição completa. Rio de Janeiro, RJ: F. Briguiet & Cia. Editores, 1890. Disponível no link. (acessado em 26.7.2021)
MULHERES fluminenses do Vale do Paraíba. Histórias de luta e conquista da cidadania feminina. Rio de Janeiro: Conselho Estadual de Direitos da Mulher, s/d.
MUZART, Zahidé Lupinacci. Escritoras Brasileiras do Século XIX. Antologia Volume II. Rio Grande de Sul: Edunisc, 2004. 
NARCISA Amália, a primeira jornalista profissional do Brasil. In: Mulheres da Luta, 2 de maio de 2021. Disponível no link. (acessado em 26.7.2021).
OSCAR, João. Narcisa Amália. Vida e Poesia. Campos: Lar Cristão, 1994.

PAIXÃO, Sylvia Perlingeiro. Narcisa Amália. in: MUZART, Zahidé Lupinacci (org.). Escritoras brasileiras do século XIX. Antologia Volume II. 2ª ed., revista. Florianópolis: Editora Mulheres| Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2000, p. 534-552.
PINHEIRO, Luís da Cunha; AREIAS, Laura (coordenação). As mulheres e a imprensa periódica. Lisboa: Cepul, 2014. Disponível no link. (acessado em 26.06.2015).
RAMALHO, Christina Bielinski. Narcisa Amália. Vozes Baianas, Salvador, v. 1, p. 10-13, 2001.
RAMALHO, Christina. Um espelho para Narcisa - reflexos de uma voz romântica. Rio de Janeiro: Elo, 1999.
RAMALHO, Christina Bielinski. Operação resgate: Narcisa Amália poetisa. Universa (UCB), Brasília, v. 6, n.3, p. 393-399, 1998.
RAMALHO, Christina Bielinski. A consciência do aprisionamento em Narcisa Amália. In: Helena Parente Cunha. (Org.). Desafiando o cânone (2). 1ª ed., Rio de Janeiro: Faculdade de Letras da UFRJ, 2001, v. 1, p. 78-99.
RAMALHO, Christina. Retratos do cotidiano: a crônica em três vozes. Leitura maceió, nº 49, p. 135-156, Jan./Jun. 2012.
RAMALHO, Christina Bielinski. Narcisa Amália de Campos e a consciência do fazer poético.
In: IV Colóquio Nacional de Representações de Gênero e de Sexualidades, 2008, Campina Grande. Anais do IV Colóquio Nacional Representações de Gênero e de Sexualidades. Campina Grande: Realize, 2008. v. 1. p. 1-15.

RAMALHO, Christina Bielinski. Narcisa Amália: romântica, parnasiana, menor, mínima?. In: Simpósio Internacional Brasil 500 anos de descobertas literárias, 2000, Brasília. Simpósio Internacional Programação e Caderno de Resumos dos trabalhos inscritos, 2000. v. 1. p. 34-34.
REIS, Antônio Simões dos.. Narcisa Amália. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1949.
ROMERO, Silvio. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1960.
SCHUMAHER, Schuma; BRASIL, Érico Vital. Dicionário Mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade (biográfico e ilustrado). Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2000.
TACQUES, Alzira Freitas. Perfis de musas, poetas e prosadores brasileiros. V.I. Porto Alegre: Thurmann, 1956.
TEIXEIRA, Maria de Lurdes; DELUCA, Naná. Conheça Narcisa Amália, poeta e primeira jornalista brasileira. In: Folha de S. Paulo, 2.3.2020. Disponível no link. (acessado em 26.7.2021)
TELLES, Norma Abreu. Encantações: escritoras e crítica literária no Brasil, século XIX. (Tese Doutorado em Ciências Sociais). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP, 1987. Disponível no link. (acessado em 12.5.2018)
TELLES, Norma Abreu. Escritoras, escritas, escrituras. In: DEL PRIORE, Mary (Org.). História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto/UNESP, 1997, p. 401-442.
TORRES, Maximiliano Gomes. As faces de Pandora na construção simbólica do feminino e a literatura escrita por mulheres como quebra de paradigma (os casos Narcisa Amália e Paula Glenadel). In: Helena Parente Cunha. (Org.). Violência simbólica e estratégias de dominação: produção poética de autoria feminina em dois tempos. Rio de Janeiro: Editora da Palavra, 2011, v. , p. 293-335.
VASCONCELOS, Rosel Ulisses Silva e.. Cruzamento de biografias: um estudo coordenado sobre Raimundo Correia e Narcisa Amália. In: VI Semana de Atividades Científicas, 2008, Resende. VI Semana de Atividades Científicas da AEDB. Resende: AEDB Editora, 2008.


"Foi a América do Norte, essa nação tão nova e tão grande já, que dominada pela febre da inovação e do progresso, ergueu primeiro o lábaro da revolta em prol da mulher. [...]
A esta rápida e prodigiosa transfiguração da mulher americana, a França e a Bélgica franqueiam hesitantes às suas filhas as portas das academias de Direito e de Medicina; e elas provam, por sua vez, exuberantemente perfeita aptidão para todas as ciências!
A mulher no século dezenove acha-se, portanto, emancipada, isto é, entra na posse de si mesma, conquista o direito divino de sua alma, em uma palavra, transfigura-se. o que lhe falta para ser feliz.
– À que está emancipada, pouco; mas à que está por emancipar-se, tudo. E neste caso está a mulher brasileira."
- Narcisa Amália, excertos da crônica "A mulher no século XIX" (crônica). In: Democratema. Comemorativa ao 26º aniversário da Fundação do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 1882, p. 31-35. 


"Entre nós a instrução, mesmo a mais elementar, tem até aqui constituído monopólio do homem. Ora, à medida que o homem sobe, a mulher desce, naturalmente, e essa diferença cria entre ambos uma profunda separação intelectual e moral que arrasta consigo todas as desordens do lar. Educada para agradar, de posse de algumas prendas, mais ou menos polida pela frequência dos saraus dançantes ou musicais, conhecendo os dramas do coração pelo romance ou pelo teatro, sem uma ideia séria, sem um plano determinado de vida, a menina brasileira transpõe sorrindo o limiar do casamento, com sua fronte sonhadora aureolada pelo véu da pureza e penetra sem consciência no que há de mais sério, de mais grave, de mais solene na terra; – a vida da família!
Quando, porém, passado o primeiro período do enlevo mútuo o marido compreende que não pode dar à sua esposa mais que a confidência do coração; quando reconhece que ela não pode absolutamente corresponder às expansões do seu espírito e que deve sufocar no íntimo o que sente de mais superior em si, o divórcio moral se estabelece entre os esposos, o encanto da intimidade morre inevitavelmente para ambos. Ele vai procurar no exterior o que não pode encontrar no lar; ela chora, lamenta-se, e transvia-se se é fraca, ou volta-se para a religião e resigna-se, se foi educada por uma mãe piedosa.
O casamento, neste caso, é a calúnia do casamento. O que podem ser os filhos nascidos de semelhante união, educados por esta mãe ignota, desenvolvidos neste lar em perpétua e desoladora desordem?!" 
- Narcisa Amália, excertos da crônica "A mulher no século XIX" (crônica). In: Democratema. Comemorativa ao 26º aniversário da Fundação do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 1882, p. 2-35. 


A nova geração
"As flores do campo [de Ezequiel Freire], volume de versos dado em 1874, tiveram a boa fortuna de trazer um prefácio devido à pena delicada e fina de D. Narcisa Amália, essa jovem e bela poetisa, que há anos aguçou a nossa curiosidade com um livro de versos, e recolheu-se depois à turris eburnea da vida doméstica. Resende é a pátria de ambos; além dessa afinidade, temos a da poesia, que em suas partes mais íntimas e do coração, é a mesma. [Naturalmente, a simpatia da escritora vai de preferência às composições que mais lhe quadram à própria índole, e, no nosso caso, basta conhecer a que lhe arranca maior aplauso, para adivinhar todas as delicadezas da mulher. Dona Narcisa Amália aprova sem reserva os "Escravos no Eito", página da roça, quadro em que o poeta lança a piedade de seus versos sobre o padecimento dos cativos. Não se limita a aplaudi-lo, subscreve a composição. Eu, pela minha parte, subscrevo o louvor; creio também que essa composição resume o quadro.”
- Machado de Assis, em 'Revista Brasileira', 1 dez. 1879.



Narcisa Amália c. 50 anos de idade, em bico de pena
do desenhista M. J. Garnier, datado de 1906.
REFERÊNCIAS E OUTRAS FONTES DE PESQUISA
:: João do Rio
:: Literatura Digital - Biblioteca de Literaturas de Língua Portuguesa (UFSC).


NA REDE
:: Vozes femininas na literatura


© A obra de Narcisa Amália de Campos é de domínio público

© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske

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Trabalhos sobre o autor:
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Narcisa Amália de Campos - poeta, republicana, abolicionista e feminista do século XIX. Templo Cultural Delfos, agosto/2021. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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** Página atualizada em 24.8.2021.
*** Postagem original junho/2015.




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Albertina Bertha - romancista e ensaísta carioca do século XIX

Albertina Bertha - romancista e ensaísta carioca do século XIX


© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske
Por gentileza citar conforme consta no final desse trabalho. 
Página original JUNHO/2015 | ** Página revisada e atualizada SETEMBRO/2021.


Albertina Bertha de Lafayette Stockler romancista e ensaísta (Rio de Janeiro, 7 de outubro de 1880 - 20 de junho de 1953).

Era filha do Conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira e de D. Francisca de Freitas Coutinho Lafayette, neta dos Barões de Pouso Alegre, pertencia a uma importante família da época, o que não impediu que sua biografia fosse ignorada.

Albertina Bertha foi educada por uma professora alemã, formada pela Escola Normal de Berlim, que o pai mandara buscar especialmente para a sua educação, preocupado com a qualidade e o refinamento da formação da filha. Albertina aprendeu línguas, estudou Estética e Filosofia, entretanto, sem distanciar-se de casa, como era o costume nas famílias abastadas brasileiras. Teve filhos e foi casada com o republicano histórico Alexandre Stockler Pinto de Menezes. De acordo com Beth Stockler (2004), Albertina “tinha marido e filhos. Não sabia o que era solidão, embora buscasse o silêncio das tardes para conviver com seus personagens, sozinha, longe do ritual da casa”.

Albertina Bertha de Lafayette Stockler
Albertina Bertha foi uma escritora carioca que agitou o cenário cultural brasileiro do final do século XIX e início do século XX. É notável a sua participação na imprensa periódica da época, bem como sua atuação enquanto romancista, ensaísta, palestrante e, por que não dizer, formadora de opinião. A sua escrita é, antes de tudo, ousada, na sua forma e no seu 
conteúdo. O teor erótico e libertário presente nas suas obras ficcionais vitimou-a de muitas críticas conservadoras recebidas na época. A sociedade ainda não estava preparada para ler tanta ousadia advinda de uma mulher tão requintada e educada. As mulheres religiosas não estavam preparadas para um discurso que desnudava a hipocrisia, que revelava os sentimentos mais humanos, que permitia a busca da mulher pelo seu próprio prazer. Em especial, o prazer amoroso e o sexual. Albertina Bertha falava em questões que a sociedade queria calar. Atreveu-se também, no âmbito formal, ao lançar mão de novos recursos narrativos e estilísticos. Foram tantas as técnicas utilizadas pela autora para produzir a “transparência interior” que permitiram perfeitamente ao leitor a aproximação da vida psíquica de suas personagens.

O primeiro livro de Albertina Bertha, intitulado Exaltação, foi publicado como romance em 1916; entretanto, já havia sido publicado como folhetim no Jornal do Comércio, mediante o pedido de T. A. Araripe Júnior, e, desde então, sendo alvo da crítica.

A obra de Albertina Bertha é composta por cinco volumes: Exaltação (romance, 1916), Estudos 1ª série (ensaio, 1920), Voleta (romance, 1926), E ela brincou com a vida (romance, 1938) e Estudos 2ª série (ensaio, 1948). 

A autora pertenceu a inúmeros grêmios culturais de seu tempo. Foi também introduzida na Sociedade de Homens de Letras, por Olavo Bilac, que admirava seu estilo de fortes influências parnasianas. Integrou a Academia de Letras de Manaus. 

Participou também da vida jornalística, colaborando ativamente na imprensa carioca, em periódicos como O Jornal, Jornal do Comércio, O País, O Malho, A Noite, e em revistas como a Panóplia, publicação literária dedicada às mulheres.

Nos seus escritos para a imprensa, destaca-se a sua visão feminista. Defendeu o voto feminino, a criação de uma Academia Feminina de Letras e o divórcio, além de criticar a hegemonia masculina nos meios literários. Escreveu sobre religião, política, filosofia, psicologia e história.
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- referências e fonte -
FAEDRICH, Anna. A participação da Albertina Bertha no mundo da cultura. Ciências & Letras - FAPA, Porto Alegre, n. 54, v. 2, p. 25-39, 2013. Disponível no link. (acessado em 26.6.2015).
FAEDRICH, Anna. 
A produção de autoria feminina: Albertina Bertha e a imprensa periódica. Pontos de Interrogação: Revista do Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural da Universidade do Estado da Bahia, v. 2, p. 44-58, 2012. Disponível no link. (acessado em 26.6.2015).


"Por vezes, cerrando os olhos a meio, premendo as mãos, exclamava: ‘Meu Deus, é a vida que vem a mim, que depõe em mim os seus desejos inarticulados... O dia dá-me o som de seu ardor, a força de suas mutações amorosas... O crepúsculo me derrama no coração a nostalgia ardente de instintos que resistem à morte... A noite lança-me as suas trevas sobre o corpo frio, dizendo-me: Ama, ama; porque não amas?... As estrelas em coro me murmuram: Espera, espera. Pan será teu. Oh! Vida, tu foste a luxúria artística de Dionísio, o Pão Lírico de S. Francisco de Assis, a frivolidade vaidosa de Maria Antonieta, a disciplina áspera e mística de Sor Felipa do Espírito Santo, a exaltação da perfeição de Nietzsche, afasta-te, desvia-te, esconde de mim o teu encantamento lancinante... Quero a vida da planta, da rocha, do veio d’água... sem ânsia, sem aspirações, sem o tormento incisivo que fura os céus...’. "
- Albertina Bertha, em "Exaltação". 5ª ed., Rio de Janeiro: Jacintho Ribeiro dos Santos Editor, 1922, p. 87.


CRONOLOGIA DE ALBERTINA BERTHA

1880 – Nasce Albertina Bertha de Lafayette Stockler, no Rio de Janeiro, em 7 de
outubro.
1916 – Publica Exaltação, seu primeiro romance, pela editora Jacintho Ribeiro dos
Santos.
1920 – Publica Estudos, primeira série.
1920 – Lima Barreto publica artigo na Gazeta de Notícias, no dia 26 de outubro,
comentando a respeito da obra e da personalidade de Albertina Bertha.
1926 – Publica Voleta.
1931 – O romance Exaltação alcança a casa da sexta edição.
1938 – Publica E ela brincou com a vida.
1948 – Lança Estudos, segunda série.
1953 – Morre, no dia 20 de junho, aos 73 anos.
1987Voleta é reeditado e atualizado por Geysa Silva, pela Coleção Resgate/INL.
2004 – A bisneta Beth Stockler publica A volúpia de Voleta, livro dedicado à bisavó Albertina Bertha.


"Ela se inclinava para a vida, para o universo, como a gente se inclina para os espelhos, para os lagos: ela discernia, ela própria, o seu riso, o seu segredo, a sombra de seus cabelos apaixonados, cor de ouro, vibrações ignotas, impaciências, coortes de volúpias insanas, a ebriez do bem e do mal... Parecia -lhe, às vezes, que suas mãos brancas misturavam as horas, o espaço, o tempo, a marcha dos dias e das noites, a estabilidade do passado, os movimentos do futuro... E ela então parava, só, isolada, no vácuo esvaziado, como a violência que não morre, como a seiva ígnea de todas as origens, dos princípios, das formações; como a voz ingente, poderosa anunciadora de um determinismo que não deixa estrangular..."
- Albertina Bertha, em "Exaltação". 5ª ed., Rio de Janeiro: Jacintho Ribeiro dos Santos Editor, 1922, p.68.



Exaltação, Albertina Bertha

OBRA DE ALBERTINA BERTHA

Romance
:: Exaltação
. Albertina BerthaRio de Janeiro: editora Jacintho Ribeiro dos Santos, 1916. {publicado inicialmente como folhetim no Jornal do Comércio}.
:: Exaltação. Albertina BerthaRio de Janeiro: Jacintho Ribeiro dos Santos Editor, 3ª ed., 1918; 5ª ed., 1922.
:: Voleta. 1926; Voleta. Albertina Bertha[organização, atualização e notas Geysa Silva]. Rio de Janeiro; Brasília: INL – Instituto Nacional do Livro, 1987.
:: E ela brincou com a vidaAlbertina BerthaRio de Janeiro: Borsoi, 1938.
:: Exaltação. Albertina Bertha. [organização Anna Faedrich] Edição crítica. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Porto Alegre: Editora Gradiva, 2017

Ensaio
:: Estudos. 1ª série. Rio de Janeiro: Jacintho Ribeiro dos Santos Editor, 1920.
:: Estudos. 2ª série. Rio de Janeiro: A. Coelho Branco Fo Editor, 1948.


"Nietzsche não teve de nós outras, mulheres, uma opinião cabal, exata; apenas beirou a realidade da nossa estrutura moral. As suas referências são sombras ocas, ironias para provocar o sorriso, ou, talvez, vinganças de despeitado, floração de mau humor... são chicotadas de quem nunca foi amado, de quem nunca recebeu o carinho, a meiguice, a febre de uma mulher de espírito e beleza. Se ele se limitasse somente a condenar o feminismo como o maior dos flagelos europeus, se ele somente declarasse, como o fez, que quanto mais a mulher adquire direitos sociais, mais ela se aliena da mulher... estaríamos de pleno acordo, aplaudiríamos esse defensor da nossa linda fragilidade, dos nossos encantos máximos perante os homens... mas, não; quer-nos mentirosas, ignorantes, sem profundezas de engenho, apenas uma gata perigosa e bela, para a sedução do homem... entretanto, as duas únicas mulheres que amara, eram duas intelectuais, dois seres de mistério e de contradições magníficas."
- Albertina Bertha, em "Estudos". Rio de Janeiro: Jacintho Ribeiro dos Santos, 1920, p. 28-29.



"Albertina Bertha já não pertence a este mundo. Integrou-se às rosas, às orquídeas, aos jasmins que tanto exaltou em livros magistrais, e o seu espírito talvez hoje se abebere, no infinito, em outros mananciais de beleza e de requinte. Essa grande amorosa em cujo coração palpitavam todas as convulsões e êxtases da natureza, em cujas artérias a seiva purpúrea espadanava em lavas de Vesúvio, em cujo temperamento explodiam tempestades ignívomas de sol, fechou por fim os olhos ávidos, lassos de volúpia dos múltiplos extremos, para as maravilhas do universo, para o colorido das manhãs e dos crepúsculos [...]."
- Alzira Freitas Tacques, em "Perfis de musas, poetas e prosadores brasileiros". V.I. Porto Alegre: Thurmann, 1956, p. 692.



FORTUNA CRÍTICA DE ALBERTINA BERTHA

[Estudos acadêmicos - teses, dissertações, ensaios e artigos]
ASSIS, Joaquim Maria Machado de.. Notícia da atual literatura brasileira. Instinto de Nacionalidade. Obra completa. Volume III. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.
BARBOSA, Francisco de Assis.
Albertina Bertha em seu escritório
Lafayette Rodrigues Pereira visto por D. Albertina Berta.
In: ______. Retratos de Família. Rio de Janeiro: José Olympio, 1954, p. 131-140.

BARRETO, Lima. Impressões de leitura. 2ª ed., São Paulo: Brasiliense, 1961, p. 117.
BITTENCOURT, Adalzira. Dicionário bio-bibliográfico de mulheres ilustres, notáveis e intelectuais do Brasil. Rio de Janeiro: Pongetti, 1969.
BROCA, José Brito. A vida literária no Brasil – 1900. 3ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.
BROCA, José Brito. Naturalistas, parnasianos e decadentistas: vida literária do realismo ao pré-modernismo. São Paulo: Ed. UNICAMP, 1991.
COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico de escritoras brasileiras: (1711-2001). São Paulo: Escrituras, 2002.
COUTINHO, Afrânio; SOUSA, José Galante de. Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Academia Brasileira de Letras, 2001. 2 v.
DIAS, Geraldo. "Nietzsche, intérprete do Brasil"? A recepção da filosofia nietzschiana na imprensa carioca e paulistana no final do século XIX e início do XX. Cadernos Nietzsche,  vol. 1, nº 35, São Paulo Dez/2014. Disponível no link. (acessado em 26.6.2015).
DINIZ, Almachio. Meus ódios e meus affectos. São Paulo: Monteiro Lobato & cia, 1922.
DUARTE, Constância Lima. O cânone e a autoria feminina. In: SCHMIDT, Rita Terezinha (Org.). Mulheres e literatura: (trans)formando identidades. Porto Alegre: Editora Palotti, 1997.
ELEUTÉRIO, Maria de Lourdes. Vidas de Romance: as mulheres e o exercício de ler e escrever no entres séculos (1890-1930). Rio de Janeiro: Topbooks, 2005.
ELEUTÉRIO, Maria de Lourdes. Vidas de romance. Disponível no link. (acessado em 26.6.2015).
ENTREVISTA com Anna Faedrich sobre a reedição da obra “Exaltação”, de Albertina Bertha. In: BN BR,  12 de abril de 2016. Disponível no link. (acessado em 8.9.2021).
FAEDRICH, Anna. O romance de introspecção no Brasil: o lugar de Albertina Bertha. (Dissertação em Teoria da Literatura).  Pontifica Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUC RS, 2009. Disponível no link. (acessado em 26.6.2015).
FAEDRICH, Anna. A presença de Nietzsche na produção intelectual e literária de Albertina Bertha. In: Cadernos Nietzsche v. 40 - n. 1, Jan-Abr. 2019. Disponível no link. (acessado em 8.9.2021).
FAEDRICH, Anna. Vozes dissonantes, vozes abafadas: literatura brasileira de autoria feminina na belle époque. In: DIAS, André, PASCHE, Marcos, RAUER, Rauer Rodrigues (Orgs.). Literatura e dissonâncias 1ªed. Rio de Janeiro: ABRALIC, 2018, p. 159-173.
FAEDRICH, Anna. Albertina Bertha e a Imprensa periódica. In: AREIAS, Laura; PINHEIRO, Luís da Cunha. (Org.). As mulheres e a imprensa periódica. 1ª ed., Lisboa: LusoSofia Press, 2014, v. 1, p. 105-124.
FAEDRICH, Anna. O caso Albertina Bertha. In: Petrov, Petar; Sousa, Pedro Quintino de; Samartim, Roberto López-Iglésias & Torres Feijó, Elias J.. (Org.). Avanços em Literatura e Cultura Brasileiras. Século XX. 1ª ed., Santiago de Compostela - Faro: Através Editora, 2012, v. 1, p. 11-28.
FAEDRICH, Anna. A produção de autoria feminina: Albertina Bertha e a imprensa periódica. In: Pontos de Interrogação: Revista do Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural da Universidade do Estado da Bahia, v. 2, p. 44-58, 2012. Disponível no link. (acessado em 26.6.2015).
FAEDRICH, Anna. A participação da Albertina Bertha no mundo da cultura. In: Ciências & Letras - FAPA, Porto Alegre, n. 54, v. 2, p. 25-39, 2013. Disponível no link. (acessado em 26.6.2015).
LAJOLO, Marisa. Literatura e história da literatura: senhoras muito intrigantes. In: MALLARD, Letícia et al. História da literatura – ensaios. Campinas: Ed da Unicamp, 1994, p. 19-36.
LIVROS novos, In: Jornal do Comércio, 24 de fevereiro de 1916, p. 2.
LOPES, Maria Margaret. Proeminência na mídia, reputação em ciências: a construção de uma feminista paradigmática e cientista normal no Museu Nacional do Rio de Janeiro. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol.15  suppl. 0, Rio de Janeiro, 2008. Disponível no link. (acessado em 26.6.2015).
MUZART, Zahidé Lupinacci. Escritoras Brasileiras do Século XIX. Antologia Volume II. Rio Grande de Sul: Edunisc, 2004. 
PASKO, Priscila. Obra de Albertina Bertha é reeditada após um século de sua publicação. In: Nonada, 3 de março de 2016. Disponível no link. (acessado em 8.9.2021).
PICCHIO, Luciana Stegagno. Literatura brasileira: das origens a 1945. [Tradução Antonio de Padua Danesi]. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
PINHEIRO, Luís da Cunha; AREIAS, Laura (coordenação). As mulheres e a imprensa periódica. Lisboa: Cepul, 2014. Disponível no link. (acessado em 26.6.2015).
SANTOS, André Luiz dos.. Caminhos de alguns ficcionistas brasileiros após as Impressões de Leitura de Lima Barreto. (Tese Doutorado em Letras Vernáculas - Literatura Brasileira). Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, 2007. Disponível no link. (acessado em 26.6.2015).
SANTOS, André Luiz dos.. A Exaltação, de Albertina Bertha. In: XI Seminário Nacional Mulher e Literatura, 2005, Rio de Janeiro. Entre o estético e o político: a questão da mulher na literatura, 2005.
SCHMIDT, Rita Terezinha (Org.). Mulheres e literatura: (trans)formando identidades. Porto Alegre: Editora Palotti, 1997.
SILVA, Auristela Oliveira Melo da. A mulher no limiar do século XX em "Exaltação" de Albertina Bertha. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, 1999.
STOCKLER, Beth. A volúpia de Voleta: em memórias de amor. Niterói, RJ: Muiraquitã, 2004.
TACQUES, Alzira Freitas. Perfis de musas, poetas e prosadores brasileiros. V.I. Porto Alegre: Thurmann, 1956.


"[...] Abrindo, em seguida, uma gaveta, ele tirou um vidro de essência, e, derramando-o sobre Ladice, dizia: - Corre, mistura-te a esses cabelos, que têm moleza, exaltação, frenesi; entra, perde-te nesse corpo unido, divinamente pálido, deslumbrante, como se trouxesse no íntimo um sol vigoroso esplêndido... Não manches, não empanes o brilho dessa pele fresca e queimante como o álcool..."
- Albertina Bertha, em "Exaltação". 5ª ed., Rio de Janeiro: Jacintho Ribeiro dos Santos Editor, 1922.


"- Rolai sobre esses membros esguios, pérolas simbólicas: - Sois os anos, o tempo em que vivi em lamentos, em queixumes; sois as lágrimas petrificadas, os soluços, as tristezas, as inclinações funestas; sois as extravagâncias pensadas, idealizadas, a aspiração estéril, as ambições não realizadas, o estímulo desejado, a imoderação, a alternação dos prazeres, as intolerâncias, o grito incisivo de revolta contra Deus e a humanidade; sois os tumultos, as forças, os poderes, que me devastara, a juventude... rolai, pérolas, quebrai-vos à guisa de estações que se findam, que se destroem, à guisa do arvoredo que fenece, murcha e seca, para depois renascer, exuberante, dominador, imenso."
- Albertina Bertha, em "Exaltação". 5ª ed., Rio de Janeiro: Jacintho Ribeiro dos Santos Editor, 1922.


"A Sra. D. Albertina Berta é um dos mais perturbadores temperamentos literários que, de uns tempos a esta parte, têm aparecido entre nós. Muito inteligente, muito ilustrada mesmo, pelo seu nascimento e educação, desconhecendo do edifício da vida muitos dos seus vários andares de misérias, sonhos e angústias, a autora do Exaltação, com auxílio de leituras de poetas e filósofos, construiu um castelo de encantos, para o seu uso e gozo, movendo-se nele soberanamente, sem ver os criados, as aias, os pajens e os guardas. Do alto do seu castelo, ela percebe as casas dos peões e homens d’armas, lá embaixo, rasas como o solo, e só a flecha da igreja do burgo se ergue um pouco acima dele. Ela não lhe adivinha os obscuros alicerces robustos."
- Lima Barreto, em "Impressões de leitura". 2ª ed., São Paulo: Brasiliense, 1961, p. 117.


"O homem detesta ouvir de lábios femininos recriminações – palavras severas, radicais, que advertem e amesquinham. Como chefe e autoridade não se resignará facilmente a essa humilhação que o desprestigia. Involuntariamente e, a pesar seu, o olhar, a fisionomia se embruscam e as palavras lhe sairão atropeladas, nervosas. Nesse momento, aconselho a todas vós não reagir, não invectivá-lo de adjetivos desagradáveis para não parecerdes desinteressantes. A mulher tomada de cólera, desnuda atavios que a colorem de magníficas intensidades se descentraliza, torna-se grotesca e banal. [...] A meiguice, o devotamento e a inteligência conferem à mulher uma languidez ardente e apaixonada que impressiona, subjuga e faz com que o homem anseie identificar-se com essa criatura iluminada e infinitamente doce."
- Albertina Bertha, em "Estudos". 2ª série. Rio de Janeiro: A. Coelho Branco Fo Editor, 1948, p. 245-246.






Foto acima
Reunião preparatória para criação da Academia Feminina de Letras e Ciências, capitaneada pela professora Mercedes Dantas. Na imagem se vê, da esquerda para a direita: (em pé) Viúva Pantoja Leite, dra. Correia Ramalho, Bertha Lutz, Laura Fernandes e Rosalva Martins (sentadas) Heloisa Lutz, Albertina Bertha, Mercedes Dantas, Ivetta Ribeiro, Esther Ferreira Vianna e Áurea Pires da Gama | Revista da Semana", Rio de Janeiro, ano XXVII, nº 4, pág. 28, 16 de janeiro de 1926 / Hemeroteca Digital - BN


OUTRAS FONTES DE PESQUISA

:: Anníssima


NA REDE

:: Vozes femininas na literatura

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foto: Albertina Bertha, em Barbacena, 1920 | Acervo Anna Faedrich.


© A obra de Albertina Bertha de Lafayette Stockler é de domínio público

© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske

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COMO CITAR:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Albertina Bertha - romancista e ensaísta carioca do século XIX. In: Templo Cultural Delfos, setembro/2021. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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** Página atualizada em 8.9.2021.
* Página original de JUNHO/2015.




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