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Nydia Bonetti - breves cantares poéticos

Nydia Bonetti - poeta

de que me vale o verso feito
de barro
se não houver
quem
o sopre?
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

Nydia Bonetti (poeta e engenheira civil) nasceu em 1958, em Piracaia, interior de São Paulo, onde reside. Mantém o blog Longitudes. “Escreve para não enlouquecer — mais.”

Colaboradora na Revista Mallarmargens. Tem poemas publicados em revistas e sites literários e culturais: Revista Zunái, Portal Cronópios, Musa Rara, Eutomia, Germina Literatura, e outras. Faz parte da coletânea QASAÊD ILA FALASTIN (Poemas para a Palestina), Selo ZUNAI e da Antologia Digital Vinagre - Uma antologia dos poetas neobarrocos. 
Publicada em 2012, pela Coleção Poesia Viva, do Centro Cultural São Paulo, na antologia Desvio para o vermelho (Treze poetas brasileiros contemporâneos), organizada pela poeta Marceli Andresa Becker. 

Publicada também em 2012 pelo Projeto Instante Estante, de incentivo à leitura, curadoria de Sandra Santos, Castelinho Edições. Participou da Poemantologia da Revista Arraia PajéuBR, numa iniciativa conjunta com o Portal Cronópios.

Em 2015 — Participou da Exposição Poesia Agora, no Museu da Língua Portuguesa, que abarcava diferentes aspectos da poesia de hoje.

Atualmente trabalha na revisão de 6 livros inéditos.

Acredita na poesia como tradução da “devoção interna”, muito além de qualquer manifestação intelectual e segue - ao pé da montanha, à margem do rio, em busca da flor.

:: Fonte: Editora Patuá (acessado em 20.3.2016) / editado em fev/2021.


'Duas',  ilustração de Rui Cavaleiro Azevedo fonte: blog Roberto Bozzetti

OBRA DE NYDIA BONETTI
:: Minimus cantus. (Haicais). Coleção Instante Estante. Porto Alegre: Castelinho Edições, 2011.
:: Sumi-ê. [prefácio Marília Kubota]. São Paulo: Editora Patuá, 2013, 100p.
:: De Barro e Pedra. Editora Urutau, 2017.
:: Lonjuras. Selo Dulcinéia Catadora, 2020.

Antologias (participação)
:: Antologia Digital Vinagre - Uma antologia dos poetas neobarrocos. [organização Fabiano Calixto]. 2ª edição ampliada. São Paulo: Edições de Vândalo, 2012. Disponível para leitura no link - e em pdf - link. (acessado em 20.3.2016).
:: Desvio para o vermelho: treze poetas brasileiros contemporâneos.. [organização  Marceli Andresa Becker; curadoria Sandra Santos]. Coleção Poesia Viva. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 2013. Disponível no link. (acessado em 21.3.2016).
:: Um extenso Continente - Antologia em homenagem à Antònio Salvado.  [organização Maria do Sameiro Barroso, Maria de Lurdes Gouveia Barata e Alfredo Perez Alencart]. Castelo Branco|Portugal: RVJ Editores y Cámara Municipal de Castelo Branco, 2014, 300p.
:: Antologia Poética 29 de Abril | O Verso da Violência. [organização Domenico A. Coiro,  Mar Becker, Priscila Merizzio e Silvana Guimarães; apresentação Daniel Faria]. São Paulo: Patuá Editora, 2015, 200p.

Em revistas, jornais e sites literários
:: Esculturas Musicais 15 - Nydia Bonetti. in: Zunái - revista de poesia e debates, vol. 2, nº 4, dezembro de 2015. Disponível no link. (acessado em 20.3.2016).
:: Poemas de Nydia Bonetty. in: Kaya - revista de atitudes literárias, 28 de junho de 2015. Disponível no link. (acessado em 20.3.2016).
:: Seis poemas de Nydia Bonetti. in: Firma irreconhecível/Blog de Roberto Bozzetti, 28.12.2015. Disponível no link. (acessado em 20.3.2016).
:: Nydia Bonetty - poemas. in: Banquete Poético, 10.4.2015. Disponível no link. (acessado em 20.3.2016).
Nydia Bonetti - foto:  (...)
:: Poemas de Nydia Bonetty. in: Portal Vermelho, 11.4.2015. Disponível no link. (acessado em 20.3.2016).
::  Nydia Bonetti - poesia. in: Eutomia, Recife, 11 (1): 586-589, Jan./Jun. 2013. Disponível no link. (acessado em 1.3.2021).
:: Nydia Bonetti - poesia. in: Revista Caliban, 7.7.2020. Disponível no link. (acessado em 1.3.2021).
:: Nydia Bonetty. in: Llibre del Tigre, 22 de março de 2015. Disponível no link. (acessado em 20.3.2016).
:: Nydia Bonetti - poesia. in: Poemargens, 7 de fevereiro 2014. Disponível no link. (acessado em 20.3.2016).
:: Nydia Bonetti. in: Revista NERVAL|Flaubert - revista de poesia. Disponível no link. (acessado em 20.3.2016).
:: Você me tiraria pra dançar? - Nydia Bonetti. in: Alguma Poesia. Disponível no link. (acessado em 20.3.2016).
:: Nydia Bonetti (poesia). in: Germina Literatura. Disponível no link. (acessado em 20.3.2016).
:: Mensagem poética de Nydia Bonetti. in: Jornaleiro talisandrade. Disponível no link. (acessado em 20.3.2016).

no imenso jardim povoado de verdes
uma só

flor

que de tão só - vermelha

destoa
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

Aguada japonesa - (sumi-ê), de Queen Rebecca

POEMAS ESCOLHIDOS DE NYDIA BONETTI

a caixa miúda a vida pequena
o verso raro
hoje tudo é pouco e o rio é raso
já não canta
se arrasta em ruídos
num fio
que se esquiva das pedras
do fundo
quase seco
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§
Sumi-ê, Nydia Bonetti (capa)

a imensa - a árvore - me faz voltar
à infância
flores - o que meus olhos viam
     eu desejava os frutos
as mãos se aventuram na vertical
vertigem
dos galhos altos
    eu desejava o vento
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

a tarde dourada no campo de centeio
não diz das chuvas
     diz do sol
embora quase noite
diz do pão
      embora as mãos vazias
      diz de nós - na janela do dia

que já passou
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

arrancar dos olhos a poeira do tempo
que nos impede
de enxergar a vida com mais clareza
sem temer os assombros
dilacerar a carne. arregalar os olhos
riscar a pele com espinhos
e desenhar
a flor
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

assim então, dentro de mim
nasce um poema
enquanto outro morre
moto perpetuo
roda d'água
que move a lâmina
que faz serrar a pedra (bruta)

e faz brotar a flor
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

canto
      a vida miúda que me cerca
tudo mais são olhares outros
          tantos

               que não os meus
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

faço versos á beira do abismo
vento a mais me leva
vento ameno me sobre histórias
vindas do precipício
mormaço me traz de volta
ao meu silêncio

sem asas
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

há estrelas no céu e vagalumes
no campo:- em frente
à casa onde moro
não posso vê-los
(a luz da cidade me cega)
quando vier
o grande temporal
e as luzes se apagarem

noite plena:- onde tudo brilha
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

há um jardim qualquer 
em qualquer 
canto
onde uma flor qualquer 
brotou 
de qualquer 
cor 
de qualquer forma, flor 
e eu a oferto
a quem souber cuidar
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

hoje nada me move - sou pedra
perdidos
         olhos
             no vazio
que cresce em minha face feito

                      musgo
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

ipês fora do tempo quando florescem
ah… a folia das cores
a surpresa do vento quando chega
sem se dar conta
e o espanto das aves que ainda ontem
pousavam
nos galhos secos
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

mas de que serve 
a flor
no vale rude 
onde 
a chuva 
não 
chega 
e o vento 
se nega a soprar?
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

nada, havia no caminho
rodeado de nadas
- sertão

surgiu a flor
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

no solo raso dos dias iguais
invento cores

cultivo

flores ásperas:- imperfeitas
e desiguais
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

olhos antigos queimam
hipotéticas chamas
delatadas pupilas
branca-flor
perdida
hera que não ousou
ir além - e o muro
nem era assim tão alto
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

o pássaro:- com seus olhos de céu
me olha

buscando em mim:- as asas

que já não tenho
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

o vento - invisível presença
a soprar canções
de florestas e gravetos
mensageiro
de aconchegos
abismos e relentos
rizomas : céu azul : vertigens
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

os olhos da noite estão
vermelhos
cabelos embaraçados
a pele fria
a noite
é uma velha senhora
que caminha descalça
sobre folhas secas
(na ilusão do silêncio)
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§


Sumi-e birds
pássaros pousam
nos cabelos da manhã – se fizer sol
quando faz chuva
os caracóis do dia viram ninhos
onde se guardam cantos
e promessas de voo – pra quando
parar de chover
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

pequeno meu horizonte
tão limitado
uma fresta
mas nele cabe
o sol
que aquece
e tinge — de vermelho
a terra inteira
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

queria sol
e um céu pequeno sobre minha cabeça
         trilha possível
um chão sereno sob meus pés descalços
flores à margem nem precisava

           eu as recriaria
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

quero estar só – me deixem
como aquela amora temporã
no galho

mais alto
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

sangram os velhos muros:- boleros
e trincas
(feridas abertas pelo tempo)
nas descalçadas 
me vejo
menina
desenhando céus
com risca
de giz
na minha amarelinha sem infernos
que a primeira chuva forte 

apagaria
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

silêncio e raso passa o rio
não posso ouvi-lo
pressinto
a canção das águas
que se despedem das nascentes
e seguem - ávidas

de lua e mar
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

Sorver
     das águas claras
numa manhã de sol - nascente 
          sentir
que a vida ainda pode
                        ser
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§
  
tenho pousado meu coração
sob o leito
do rio
ouço bater o coração
da terra
tambores
fazem vibrar meu coração
um pote
de barro

repleto: - de palavras e ritos
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.

§

tronco
retorcido em securas
restam
folhas miúdas
num cacho
único
flores rosas
pendem
e denunciam: – a vida

resiste
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.



FORTUNA CRÍTICA DE NYDIA BONETTI
DANIEL, Cláudio. O não lugar na poesia de Nydia Bonetti. in: Cantara pele de lontra, 27 de março de 2014. Disponível no link. (acessado em 20.3.2016).
ENTREVISTA Nydia Bonetti. in: Dardo, setembro de 2012. Disponível no link. (acessado em 20.3.2016).
FARIA, Joka (João Carlos Faria). A poesia de Nydia Bonetti. in: Entrementes, março de 2014. Disponível no link. (acessado em 20.3.2016).
FARIA, Joka (João Carlos Faria). O nascer de uma estrela!. in: Entrementes, 27.3.2016. Disponível no link. (acessado em 28.3.2016).
GALVÃO, Demetrios. 7 Poemas de Nydia Bonetti. in: Revista Acrobata, 20.11.2020. Disponível no link. (acessado em 1.3.2021).
KUBOTA, Marilia. Sumi-ê de Nydia Bonetti. in: Vida Breve. Disponível no link. (acessado em 20.3.2016).
MARCELO, Wuldson. Sete poemas de Nydia Bonetti. in: Ruído Manifesto, 20.10.2020. Disponível no link. (acessado em 1.3.2021).
MORAES, Vivian de.. As vagas na poesia oriental de Nydia Bonetti. in: Amuletos patua, maio 2014. Disponível no link. (acessado em 20.3.2016).
PRUDÊNCIO, Léo. Sumi-ê, livro de estreia de NYdia Bonetti. in: Literatura BR, 31 de março de 2014. Disponível no link. (acessado em 20.3.2016).


O pássaro saciado do dia - ilustração de Rui Cavaleiro
Azevedo para poemas de Nydia Bonetti
MINUMUS CANTUS
a vida é fio
que ela mesma corta —

quem tiver asas, voe
-  Nydia Bonetti, em "Minimus cantus". Coleção Instante
Estante. Porto Alegre: Castelinho Edições, 2011.

***

cai uma estrela
nos olhos do dia – é quase
noite.
-  Nydia Bonetti, em "Minimus cantus". Coleção Instante
Estante. Porto Alegre: Castelinho Edições, 2011.

***

chuva sol calor e frio
— o tempo enlouquecido
no planeta aquecido
-  Nydia Bonetti, em "Minimus cantus". Coleção Instante
Estante. Porto Alegre: Castelinho Edições, 2011.

***

inverno quase
nos olhos da memória
queimam fogueiras
-  Nydia Bonetti, em "Minimus cantus". Coleção Instante
Estante. Porto Alegre: Castelinho Edições, 2011.

***

luar de outono
mariposa mergulha
no espelho d’água
-  Nydia Bonetti, em "Minimus cantus". Coleção Instante
Estante. Porto Alegre: Castelinho Edições, 2011.

***

outono já
todos convidados
para o chá
-  Nydia Bonetti, em "Minimus cantus". Coleção Instante
Estante. Porto Alegre: Castelinho Edições, 2011.

***

pássaros em fuga
rumo ao pôr do sol —
voam os dias
-  Nydia Bonetti, em "Minimus cantus". Coleção Instante
Estante. Porto Alegre: Castelinho Edições, 2011.

***

tecer palavras
em tempos de silêncio
arte : ofício
-  Nydia Bonetti, em "Minimus cantus". Coleção Instante
Estante. Porto Alegre: Castelinho Edições, 2011.



Nydia Bonetti - foto: Acervo da autora
BLOGUE DA AUTORA
:: Acesse AQUI!
:: Minimus - Cantus Nydia Bonetti

etérea a ponte que atravesso
um passo

entre o papel em branco
e o verso

um risco:- na ponta do lápis
- Nydia Bonetti, em "Sumi-ê". São Paulo: Editora Patuá, 2013.


OUTRAS FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA
:: Página Nydia Bonetti - no Portal LN
:: Poemargens
:: Mallarmargens - revista de poesia e arte contemporânea


© Direitos reservados ao autor

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske

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Trabalhos sobre o autor:
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Nydia Bonetti - breves cantares poéticos. Templo Cultural Delfos, fevereiro/2021. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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** Página atualizada em 1.3.2021.
Publicação original de março/2016



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Ana Martins Marques - sonoridades poéticas

Ana Martins Marques - foto:  (...)
Ana Martins Marques (poeta), nasceu em Belo Horizonte, em novembro de 1977. Formada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerias, é mestre em Literatura Brasileira e doutoranda em Literatura Comparada pela mesma universidade. Em 2007, ganhou o Prêmio Cidade de Belo Horizonte, na categoria “Poesia — autor estreante”, e, em 2008, recebeu novamente o mesmo prêio, na categoria “Poesia”.
:: Fonte: Antonio Miranda (acessado em 18.3.2016). 


PRÊMIOS
2007-2008 - Prêmio cidade de Belo Horizonte, na categoria "poesia - autor estreante" - pela obra "A vida submarina" (2009).
2012Prêmio Literário Alphonsus de Guimaraens, da Biblioteca Nacional, pela obra "Da arte das armadilhas" (2011).


Ana Martins Marques - foto: Rodrigo Valente
OBRA DE ANA MARTINS MARQUES
Poesia
:: A vida submarina. Belo Horizonte: Scriptum, 2009.
:: Da arte das armadilhas. [orelha do livro texto de Armando Freitas Filho]. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
:: O livro das dessemelhanças. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
:: Duas janelas. Ana Martins Marques e Marcos Siscar. São Paulo: Editora Luna Parque, 2016.

Antologia (participação)
Ana Martins Marques - por revista piauí
:: Once poetas brasileiros. [selección y prólogo Sergio Cohn; traducción John Galán Casanova]. Edición bilíngue.  Bogotá: Alcaldía Mayor de Bogotá, Secretaría Distrital de Cultura, Recreación y Deport, Instituto Distrital de las Artes, 2013, 125p.

Tese e dissertação
MARQUES, Ana Martins. Paisagens com figuras: a fotografia na literatura contemporânea - (W.G. Sebald, Bernardo Carvalho, Alan Pauls, Orhan Pamuk).. (Tese Doutorado em Letras: estudos literários). Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, 2013. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
________ . A escrita fora de si: uma leitura da ficção de João Gilberto Noll. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, 2003.

Artigos e ensaios em jornais e revistas
MARQUES, Ana Martins. O livro das semelhanças - o primeiro verso é o mais difícil. in: Revista Piauí - Estadão, edição 106, julho de 2015. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
________ . Berlim revisitada ou a cidade da memória: "Infância em Berlim por volta de 1900". Artefilosofia (Ouro Preto), v. 6, p. 34-43, 2009. 
________ . Mínimos, múltiplos, comuns. Revista do Centro de Estudos Portugueses (UFMG), v. 24, p. 383-388, 2004. 
________ . Dois irmãos e Relato de um certo oriente. Scripta (PUCMG), v. 4, p. 425-429, 2001. 


Ana Martins Marques - foto: Rodrigo Valente
BREVE ANTOLOGIA POÉTICA DE ANA MARTINS MARQUES

Açucareiro
De amargo
basta
o amor

Agridoce,
ela disse

Mas a mim
pareceu
amargo
- Ana Martins Marques, em "Da arte das armadilhas". São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

§

Ainda é tarde…
Ainda é tarde
para saber
Ainda há facas
cruas demais para o corte

Ainda há música
no intervalo entre as canções

Escuta: 
é música ainda

Ainda há cinzas
por dizer
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

§

Barcos de papel
Os poemas em geral são feitos de palavras
no papel
seria melhor se fossem de pano
porque poderiam tomar chuva
ou de madeira
porque sustentariam uma casa
mas em geral são feitos de palavras
no papel
e por isso servem para poucas coisas
entre as quais não se encontra
tomar chuva
ou sustentar uma casa.

Dobrados sobre si mesmos,
lançam-se no mundo
com a coragem suicida
dos barcos de papel.
- Ana Martins Marques, em "A vida submarina". Belo Horizonte: Scriptum, 2009.

§

Cadeira
I
Repetes
diariamente
os gestos
do primeiro homem
que se sentou
numa tarde quente
olhando as savanas

II
Pouso
de gigantescos pássaros
cansados
- Ana Martins Marques, em "Da arte das armadilhas". São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

§

Em branco
Dizem que Cézanne
quando certa vez pintou um quadro
deixando inacabada parte de uma maçã
pintou apenas a parte da maçã
que compreendia.

É por isso
meu amor
que eu dedico a você
este poema

em branco.
- Ana Martins Marques, em "A vida submarina". Belo Horizonte: Scriptum, 2009.

§ 


Esconderijo
Estas são palavras que eu não
deveria dizer
palavras que ninguém
deveria ouvir
que elas permanecessem no silêncio
de onde vêm
no fundo escuro da língua
cheio de doçura e ruídos
com o ranço informulado
dos segredos
por via das dúvidas escondi-as aqui
neste poema
onde ninguém as vai encontrar 
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.



§

Fruteira
Quem se lembrou de pôr sobre a mesa
essas doces evidências
da morte?
- Ana Martins Marques, em "Da arte das armadilhas". São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

§

Leque
Contra o fundo da noite
desenha-se
a sua nudez
como um lápis

pele de
penumbra
poças de 
rosas quentes

luz diagonal
nos lençóis
de há pouco

e por fim
você se abre 
como um leque.
- Ana Martins Marques, em "A vida submarina". Belo Horizonte: Scriptum, 2009.

§

Nome do autor
Impresso
como parece estranho
o mesmo nome
com que te chamam
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

§



O que eu sei?
Sei poucas coisas sei que ler
é uma coreografia
que concentrar-se é distrair-se
sei que primeiro se ama um nome sei
que o que se ama no amor é o nome do amor
sei poucas coisas esqueço rápido as coisas
que sei sei que esquecer é musical
sei que o que aprendi do mar não foi o mar
que só a morte ensina o que ela ensina
sei que é um mundo de medo de vizinhança
de sono de animais de medo
sei que as forças do convívio sobrevivem no tempo
apagando-se porém
sei que a desistência resiste
que esperar é violento
sei que a intimidade é o nome que se dá
a uma infinita distância
sei poucas coisas
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

§

Papel de arroz
Mira: 
as coisas construídas oscilam
numa frágil arquitetura
(os papéis cultivados
em campos
guardarão sempre a memória seca
dos dias alagados).
Também as palavras revelam somente o que escondem:
eis a solução de uma questão
delicada.
- Ana Martins Marques, em "A vida submarina". Belo Horizonte: Scriptum, 2009.

§



Papel de seda
Houve um tempo em que se usava
nos livros
papel de seda para separar
as palavras e as imagens
receavam talvez que as palavras
pudessem ser tomadas pelos desenhos
que eram
receavam talvez que os desenhos 
pudessem ser entendidos como as palavras
que eram
receavam a comunhão universal
dos traços
receavam que as palavras e as imagens
não fossem vistas como rivais
que são
mas como iguais
que são
receavam o atrito entre texto
e ilustração
receavam que lêssemos tudo
os sulcos no papel e as pregas de saias
das mocinhas retratadas
as linhas da paisagem e o contorno das casas
eu receava rasgar o papel de seda
erótico como roupa íntima
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.


§

Poema de trás para frente
A memória lê o dia
de trás para frente

acendo um poema em outro poema
como quem acende um cigarro no outro

que vestígio deixamos
do que não fizemos?
como os buracos funcionam?

somos cada vez mais jovens
nas fotografias

de trás para frente
a memória lê o dia
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

§

Relâmpagos
Certas máquinas são feitas para o esquecimento.
Há dias em que sinto trabalharem em mim
as confusões do relâmpago.
Então coleciono letras, órbitas, radares.
A linha que me liga aos quadris dessa noite imensa
é a mesma que sai da garganta aberta do dia.
Vejo as estrelas desenharem-se em constelações,
sei muitas coisas rápidas, precisas,
por alguns instantes.
- Ana Martins Marques, em "A vida submarina". Belo Horizonte: Scriptum, 2009.

§

Reparos
Algumas coisas
quando se quebram
são fáceis de consertar:
uma xícara lascada
uma estatueta de gesso
um sapato velho
uma receita que desanda
ou uma amizade arruinada.
Ainda que guardem
as marcas do remendo,
é possível que essas marcas
tenham um certo charme
como algumas cicatrizes.
Mas experimente consertar
um poema que estragou.
- Ana Martins Marques, em "A vida submarina". Belo Horizonte: Scriptum, 2009.

§

Talheres
Colher
Se o sol nela
batesse
em cheio
por exemplo
numa mesa posta
no jardim
imediatamente se formaria
um pequeno lago
de luz

Garfo
Em três ramos
floresce
o metal

Faca
Sua fria elegância
não escamoteia
o fato:
é ela que melhor se presta
ao assassinato
- Ana Martins Marques, em "Da arte das armadilhas". São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

§

Título
Suspenso
sobre o livro
como um lustre
num teatro
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.



§



Tradução
Este poema
em outra língua
seria outro poema
um relógio atrasado
que marca a hora certa
de algum outro lugar
uma criança que inventa
uma língua só para falar
com outra criança
uma casa de montanha
reconstruída sobre a praia
corroída pouco a pouco pela presença do mar
o importante é que
num determinado ponto
os poemas fiquem emparelhados
como em certos problemas de física
de velhos livros escolares
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.



Ana Martins Marques - foto: Leandro Couri/EM | D. A Press
FORTUNA CRÍTICA DE ANA MARTINS MARQUES
CARPINEJAR, Fabrício. Ana Martins Marques - Nossa aposta. Bravo! - secção Primeira Fila,  São Paulo, maio de 2010, p. 18.
CAVALCANTI, Jardel Dias. A poesia sem ancoradouro de Ana Martins Marques. in: Suplemento Literário de Minas Gerais, jan-fev 2010. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
DUARTE, Elemara. Ana Martins Marques apresenta “O Livro das Semelhanças” aos mineiros. in: Hoje em Dia, 29.8.2015. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
FERNANDES, Pablo Pires. Aclamada pela crítica e pelos jovens, escritora mineira saúda a diversidade da poesia brasileira. in: Divirta-se uai, 1.1.2016. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
GUILHERME., Pausa: Ana Martins Marques. in: Poesificando, 2.12.2015. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
ILUSTRÍSSIMA. Leia mais sobre a poeta Ana Martins Marques. in: Folha de São Paulo, 27.6.2010. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
MANZONI, Filipe Bitencourt.. Tecendo olhares à beira-mar; Resenha de 'A vida submarina' de Ana Martins Marques. Fórum de Literatura Brasileira Contemporânea, v. 1, p. 219-222, 2012.
MENDES, André Di Bernardi Batista. Ana Martins lança 'O livro das semelhanças' em Belo Horizonte. in: Estado de Minas, 28.8.2015. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
NAVES, Flávia; FUX, Jacques; CASTILHO, Pedro. O gozo e amo/r/te: Ana Cristina Cesar, Ana Martins Marques e Marguerite Duras. Revista e-scrita: revista do curso de etras da UNIABEU, v. 4, p. 117-132, 2013. 
NUNES, Sebastião. Ana Martins Marques e a odisseia de Penélope. in: O tempo - opinião, 18.4.2010. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
Ana Martins Marques - foto: Rodrigo Valente
OLIVEIRA, Túlio Moreira de. Diversidade cultural nas páginas de Bravo!: o eixo e as margens. (Monografia Graduação em Jornalismo). Universidade Federal de Goiás, 2010. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
PAIVA, Thalita Braga Martins de.. Da vida submarina à beira mar: a poesia de Ana Martins Marques. (Monografia Graduação em Letras). Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, 2013.
PIETRANI, Anélia Montechiari. A razão ética e poética nos poemas de Ana Martins Marques. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, v. 45, p. 301-319, 2015. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
PIETRANI, Anélia Montechiari. Tecidos de amor e de linguagem: a odisseia de Penélope na poesia de Ana Martins Marques. In: XIII Congresso Internacional da Abralic, 2013, Campina Grande - PB. Anais do XIII Congresso Internacional da Abralic, 2013. v. 1. 
RIBEIRO NETO, Amador. Ana Martins Marques marca bobeira. Correio das Artes, v. 66, p. 19-21, 2015. 
SEDLMAYER, Sabrina. Parentescos entre a leitura e o amor: a poesia de Ana Martins Marques. in: Ipotesi, Juiz de Fora, v. 13, n. 2, p. 173 - 174, jul./dez. 2009. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
SISCAR, Marcos Antonio. O humanismo acolhedor de Ana Martins Marques (jornal O Globo). O Globo, Rio de Janeiro, 7 nov. 2015. 
SOL, Eduardo. Ana Martins Marques: “o mar é uma presença fundamental na literatura”. Folha de Pernambuco, 2 de Outubro de 2015. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
TUREZO, Victor Hugo. Ana Martins Marques explora fronteiras sentimentais no “Livro das Semelhanças”. in: Gazeta do Povo - caderno G, 22.11.2015. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
VILAÇA, Alcides. Livro sobre livro traz doçura rigorosa de Ana Martins Marques. in: Ilustrada - Folha São Paulo, 3.10.2015. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
WERKEMA, Andréa Sirihal. Ana Martins Marques: O livro das dessemelhanças. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. in: Revista Matraga, Rio de Janeiro, v.22, n.37, jul/dez. 2015.


Ana Martins Marques - foto: Danilo Verpa/Folhapress

Da arte das armadilhas
O seu corpo para o meu:
seta,
precisamente

Inaudível
o mundo mudo
aciona o fecho
da flor

Há desilusão
mas não há
fuga

O caçador está preso
- Ana Martins Marques, em "Da arte das armadilhas". São Paulo: Companhia das Letras, 2011.



Ana Martins Marques - foto: Cristina Horta/EM
EDITORA
:: Companhia das Letras



OUTRAS REFERÊNCIAS E FONTES DE PESQUISA
:: Antonio Miranda
:: Germina Literatura
:: Revista Piauí/Estadão - Ana Martins Marques
:: Rubens Jardim - As mulheres poetas na literatura brasileira (36ª postagem)

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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Ana Martins Marques - sonoridades poéticas. Templo Cultural Delfos, março/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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** Página atualizada em 18.3.2016.




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