Ana Martins Marques - foto: (...) |
:: Fonte: Antonio Miranda (acessado em 18.3.2016).
PRÊMIOS
2007-2008 - Prêmio cidade de Belo Horizonte, na categoria "poesia - autor estreante" - pela obra "A vida submarina" (2009).
2012 - Prêmio Literário Alphonsus de Guimaraens, da Biblioteca Nacional, pela obra "Da arte das armadilhas" (2011).
Ana Martins Marques - foto: Rodrigo Valente |
Poesia
:: A vida submarina. Belo Horizonte: Scriptum, 2009.
:: Da arte das armadilhas. [orelha do livro texto de Armando Freitas Filho]. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
:: O livro das dessemelhanças. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
:: Duas janelas. Ana Martins Marques e Marcos Siscar. São Paulo: Editora Luna Parque, 2016.
Antologia (participação)
Ana Martins Marques - por revista piauí |
Tese e dissertação
MARQUES, Ana Martins. Paisagens com figuras: a fotografia na literatura contemporânea - (W.G. Sebald, Bernardo Carvalho, Alan Pauls, Orhan Pamuk).. (Tese Doutorado em Letras: estudos literários). Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, 2013. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
________ . A escrita fora de si: uma leitura da ficção de João Gilberto Noll. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, 2003.
Artigos e ensaios em jornais e revistas
MARQUES, Ana Martins. O livro das semelhanças - o primeiro verso é o mais difícil. in: Revista Piauí - Estadão, edição 106, julho de 2015. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
________ . Berlim revisitada ou a cidade da memória: "Infância em Berlim por volta de 1900". Artefilosofia (Ouro Preto), v. 6, p. 34-43, 2009.
________ . Mínimos, múltiplos, comuns. Revista do Centro de Estudos Portugueses (UFMG), v. 24, p. 383-388, 2004.
________ . Dois irmãos e Relato de um certo oriente. Scripta (PUCMG), v. 4, p. 425-429, 2001.
Ana Martins Marques - foto: Rodrigo Valente |
Açucareiro
De amargo
basta
o amor
Agridoce,
ela disse
Mas a mim
pareceu
amargo
- Ana Martins Marques, em "Da arte das armadilhas". São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
§
Ainda é tarde…
Ainda é tarde
para saber
Ainda há facas
cruas demais para o corte
Ainda há música
no intervalo entre as canções
Escuta:
é música ainda
Ainda há cinzas
por dizer
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
§
Barcos de papel
Os poemas em geral são feitos de palavras
no papel
seria melhor se fossem de pano
porque poderiam tomar chuva
ou de madeira
porque sustentariam uma casa
mas em geral são feitos de palavras
no papel
e por isso servem para poucas coisas
entre as quais não se encontra
tomar chuva
ou sustentar uma casa.
Dobrados sobre si mesmos,
lançam-se no mundo
com a coragem suicida
dos barcos de papel.
- Ana Martins Marques, em "A vida submarina". Belo Horizonte: Scriptum, 2009.
§
Cadeira
I
Repetes
diariamente
os gestos
do primeiro homem
que se sentou
numa tarde quente
olhando as savanas
II
Pouso
de gigantescos pássaros
cansados
- Ana Martins Marques, em "Da arte das armadilhas". São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
§
Em branco
Dizem que Cézanne
quando certa vez pintou um quadro
deixando inacabada parte de uma maçã
pintou apenas a parte da maçã
que compreendia.
É por isso
meu amor
que eu dedico a você
este poema
em branco.
- Ana Martins Marques, em "A vida submarina". Belo Horizonte: Scriptum, 2009.
§
Esconderijo
Estas são palavras que eu não
deveria dizer
palavras que ninguém
deveria ouvir
que elas permanecessem no silêncio
de onde vêm
no fundo escuro da língua
cheio de doçura e ruídos
com o ranço informulado
dos segredos
por via das dúvidas escondi-as aqui
neste poema
onde ninguém as vai encontrar
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
§
Fruteira
Quem se lembrou de pôr sobre a mesa
essas doces evidências
da morte?
- Ana Martins Marques, em "Da arte das armadilhas". São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
§
Quem se lembrou de pôr sobre a mesa
essas doces evidências
da morte?
- Ana Martins Marques, em "Da arte das armadilhas". São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
§
Leque
Contra o fundo da noite
desenha-se
a sua nudez
como um lápis
pele de
penumbra
poças de
rosas quentes
luz diagonal
nos lençóis
de há pouco
e por fim
você se abre
como um leque.
- Ana Martins Marques, em "A vida submarina". Belo Horizonte: Scriptum, 2009.
§
Nome do autor
Impresso
como parece estranho
o mesmo nome
com que te chamam
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
§
Impresso
como parece estranho
o mesmo nome
com que te chamam
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
§
O que eu sei?
Sei poucas coisas sei que ler
é uma coreografia
que concentrar-se é distrair-se
sei que primeiro se ama um nome sei
que o que se ama no amor é o nome do amor
sei poucas coisas esqueço rápido as coisas
que sei sei que esquecer é musical
sei que o que aprendi do mar não foi o mar
que só a morte ensina o que ela ensina
sei que é um mundo de medo de vizinhança
de sono de animais de medo
sei que as forças do convívio sobrevivem no tempo
apagando-se porém
sei que a desistência resiste
que esperar é violento
sei que a intimidade é o nome que se dá
a uma infinita distância
sei poucas coisas
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
§
Mira:
as coisas construídas oscilam
numa frágil arquitetura
(os papéis cultivados
em campos
guardarão sempre a memória seca
dos dias alagados).
Também as palavras revelam somente o que escondem:
eis a solução de uma questão
delicada.
- Ana Martins Marques, em "A vida submarina". Belo Horizonte: Scriptum, 2009.
§
Papel de seda
Houve um tempo em que se usava
nos livros
papel de seda para separar
as palavras e as imagens
receavam talvez que as palavras
pudessem ser tomadas pelos desenhos
que eram
receavam talvez que os desenhos
pudessem ser entendidos como as palavras
que eram
receavam a comunhão universal
dos traços
receavam que as palavras e as imagens
não fossem vistas como rivais
que são
mas como iguais
que são
receavam o atrito entre texto
e ilustração
receavam que lêssemos tudo
os sulcos no papel e as pregas de saias
das mocinhas retratadas
as linhas da paisagem e o contorno das casas
eu receava rasgar o papel de seda
erótico como roupa íntima
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
§
Poema de trás para frente
A memória lê o dia
de trás para frente
acendo um poema em outro poema
como quem acende um cigarro no outro
que vestígio deixamos
do que não fizemos?
como os buracos funcionam?
somos cada vez mais jovens
nas fotografias
de trás para frente
a memória lê o dia
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
§
Relâmpagos
Certas máquinas são feitas para o esquecimento.
Há dias em que sinto trabalharem em mim
as confusões do relâmpago.
Então coleciono letras, órbitas, radares.
A linha que me liga aos quadris dessa noite imensa
é a mesma que sai da garganta aberta do dia.
Vejo as estrelas desenharem-se em constelações,
sei muitas coisas rápidas, precisas,
por alguns instantes.
- Ana Martins Marques, em "A vida submarina". Belo Horizonte: Scriptum, 2009.
§
Reparos
Algumas coisas
quando se quebram
são fáceis de consertar:
uma xícara lascada
uma estatueta de gesso
um sapato velho
uma receita que desanda
ou uma amizade arruinada.
Ainda que guardem
as marcas do remendo,
é possível que essas marcas
tenham um certo charme
como algumas cicatrizes.
Mas experimente consertar
um poema que estragou.
- Ana Martins Marques, em "A vida submarina". Belo Horizonte: Scriptum, 2009.
§
Talheres
Colher
Se o sol nela
batesse
em cheio
por exemplo
numa mesa posta
no jardim
imediatamente se formaria
um pequeno lago
de luz
Garfo
Em três ramos
floresce
o metal
Faca
Sua fria elegância
não escamoteia
o fato:
é ela que melhor se presta
ao assassinato
- Ana Martins Marques, em "Da arte das armadilhas". São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
§
Título
Suspenso
sobre o livro
como um lustre
num teatro
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
Suspenso
sobre o livro
como um lustre
num teatro
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
§
Tradução
Este poema
em outra língua
seria outro poema
um relógio atrasado
que marca a hora certa
de algum outro lugar
uma criança que inventa
uma língua só para falar
com outra criança
uma casa de montanha
reconstruída sobre a praia
corroída pouco a pouco pela presença do mar
o importante é que
num determinado ponto
os poemas fiquem emparelhados
como em certos problemas de física
de velhos livros escolares
- Ana Martins Marques, em "O livro das dessemelhanças". São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
Ana Martins Marques - foto: Leandro Couri/EM | D. A Press |
CARPINEJAR, Fabrício. Ana Martins Marques - Nossa aposta. Bravo! - secção Primeira Fila, São Paulo, maio de 2010, p. 18.
CAVALCANTI, Jardel Dias. A poesia sem ancoradouro de Ana Martins Marques. in: Suplemento Literário de Minas Gerais, jan-fev 2010. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
DUARTE, Elemara. Ana Martins Marques apresenta “O Livro das Semelhanças” aos mineiros. in: Hoje em Dia, 29.8.2015. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
FERNANDES, Pablo Pires. Aclamada pela crítica e pelos jovens, escritora mineira saúda a diversidade da poesia brasileira. in: Divirta-se uai, 1.1.2016. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
GUILHERME., Pausa: Ana Martins Marques. in: Poesificando, 2.12.2015. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
ILUSTRÍSSIMA. Leia mais sobre a poeta Ana Martins Marques. in: Folha de São Paulo, 27.6.2010. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
MANZONI, Filipe Bitencourt.. Tecendo olhares à beira-mar; Resenha de 'A vida submarina' de Ana Martins Marques. Fórum de Literatura Brasileira Contemporânea, v. 1, p. 219-222, 2012.
MENDES, André Di Bernardi Batista. Ana Martins lança 'O livro das semelhanças' em Belo Horizonte. in: Estado de Minas, 28.8.2015. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
NAVES, Flávia; FUX, Jacques; CASTILHO, Pedro. O gozo e amo/r/te: Ana Cristina Cesar, Ana Martins Marques e Marguerite Duras. Revista e-scrita: revista do curso de etras da UNIABEU, v. 4, p. 117-132, 2013.
NUNES, Sebastião. Ana Martins Marques e a odisseia de Penélope. in: O tempo - opinião, 18.4.2010. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
Ana Martins Marques - foto: Rodrigo Valente |
PAIVA, Thalita Braga Martins de.. Da vida submarina à beira mar: a poesia de Ana Martins Marques. (Monografia Graduação em Letras). Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, 2013.
PIETRANI, Anélia Montechiari. A razão ética e poética nos poemas de Ana Martins Marques. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, v. 45, p. 301-319, 2015. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
PIETRANI, Anélia Montechiari. Tecidos de amor e de linguagem: a odisseia de Penélope na poesia de Ana Martins Marques. In: XIII Congresso Internacional da Abralic, 2013, Campina Grande - PB. Anais do XIII Congresso Internacional da Abralic, 2013. v. 1.
RIBEIRO NETO, Amador. Ana Martins Marques marca bobeira. Correio das Artes, v. 66, p. 19-21, 2015.
SEDLMAYER, Sabrina. Parentescos entre a leitura e o amor: a poesia de Ana Martins Marques. in: Ipotesi, Juiz de Fora, v. 13, n. 2, p. 173 - 174, jul./dez. 2009. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
SISCAR, Marcos Antonio. O humanismo acolhedor de Ana Martins Marques (jornal O Globo). O Globo, Rio de Janeiro, 7 nov. 2015.
SOL, Eduardo. Ana Martins Marques: “o mar é uma presença fundamental na literatura”. Folha de Pernambuco, 2 de Outubro de 2015. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
TUREZO, Victor Hugo. Ana Martins Marques explora fronteiras sentimentais no “Livro das Semelhanças”. in: Gazeta do Povo - caderno G, 22.11.2015. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
VILAÇA, Alcides. Livro sobre livro traz doçura rigorosa de Ana Martins Marques. in: Ilustrada - Folha São Paulo, 3.10.2015. Disponível no link. (acessado em 18.3.2016).
WERKEMA, Andréa Sirihal. Ana Martins Marques: O livro das dessemelhanças. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. in: Revista Matraga, Rio de Janeiro, v.22, n.37, jul/dez. 2015.
Ana Martins Marques - foto: Danilo Verpa/Folhapress |
Da arte das armadilhas
O seu corpo para o meu:
seta,
precisamente
Inaudível
o mundo mudo
aciona o fecho
da flor
Há desilusão
mas não há
fuga
O caçador está preso
- Ana Martins Marques, em "Da arte das armadilhas". São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
Ana Martins Marques - foto: Cristina Horta/EM |
:: Companhia das Letras
OUTRAS REFERÊNCIAS E FONTES DE PESQUISA
:: Antonio Miranda
:: Germina Literatura
:: Revista Piauí/Estadão - Ana Martins Marques
:: Rubens Jardim - As mulheres poetas na literatura brasileira (36ª postagem)
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Ana Martins Marques - sonoridades poéticas. Templo Cultural Delfos, março/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Ana Martins Marques - sonoridades poéticas. Templo Cultural Delfos, março/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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ela tece com vazios
ResponderExcluira fechadora da fuga
a caça está solta
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ResponderExcluirAna Martins Marques é a poeta-referência da poesia de hoje.
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