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Jaroslav Seifert - poeta, escritor e jornalista tcheco


  • Jaroslav Seifert - poeta, escritor e jornalista checoslovaco - Prêmio Nobel da Literatura (1984) / photo: CTK

Jaroslav Seifert - poeta, escritor e jornalista tchecoslovaco nascido em Zizkov, subúrbio de Praga, foi Prêmio Nobel da Literatura (1984) pela poesia plena de frescura, sensualidade e criatividade, produto de um ser humano versátil e de um indomável espírito. 

De uma família pobre, frequentou escola secundária e logo começou a atuar no jornalismo (1918). Dedicou-se a escrever poesias e publicou sua primeira colecção de poemas (1921). 

Politicamente alinhou-se à ala de extrema esquerda do Partido Democrático Social (1921), embrião do Partido comunista na Checoslováquia. Tornou-se editor de jornais comunistas e revistas como Rovnost, Srsatec, Reflektor, ao mesmo tempo em que trabalhava na editora comunista e sua livraria. 

Nos anos seguintes tornou-se o representante principal da vanguarda artística checoslovaca. Traduziu do francês autores como Apollinaire, Verlaine e outros. Junto com seis outros escritores comunistas importantes, assinou um manifesto (1929) protestando contra tendências bolcheviques na liderança nova do Partido Comunista de Checoslováquia, resultando na sua expulsão do partido, juntamente com os signatários. 

Na década seguinte serviu como editorialista para vários jornais da imprensa democrática social e durante a ocupação alemã, foi editor do diário Národní Práce, e depois de 1945, do sindicato Práce Diário. Durante os anos seguintes (1945-1948), editou o jornal literário mensal Kytice. 

Forçado a deixar o jornalismo (1949), dedicou-se exclusivamente à literatura. Recebeu prémios estatais (1936 /1955 /1968), foi designado o Artista Nacional (1967) e foi eleito Presidente da União de Escritores checoslovacos (1968) e Presidente da União dos Escritores checos (1969-1970). As suas principais obras foram Ruce Venusiny (1936) e Desnikz Piccadilly (1978).  Morreu em Praga, a 10 de Janeiro de 1986.
Fonte: DEC/UFCG


Por que escrevo?
"Escrevo por este desejo que existe em cada um de deixar atrás de si uma linha, que não será senão a marca de um dedo em um espelho embaçado."
- Jaroslav Seifert. In: GRITTI, Delmino. Dos tijolos da Suméria aos megabytes pós-humanos do terceiro milênio. Caxias do Sul/RS: Editora Liddo, 2007.


OBRA DE JAROSLAV SEIFERT EM PORTUGUÊS E ESPANHOL


Em antologias
:: Céu vazio: 63 poetas eslavos. [organização, estudo introdutório, notas biográficas e tradução Aleksandar Jovanovic]. São Paulo: Hucitec, 1996. 
:: Rosa do Mundo 2001: Poemas para o Futuro. [organização Manuela Correia; colaboração Gil de Carvalho e José Alberto Oliveira; vários tradutores]. Coleção Extra Assírio e Alvim. Porto: Assírio E Alvim, 2001


Em espanhol
:: Praga en el sueño. Jaroslav Seifert. traducción de Clara Janés. Barcelona: Icaria editorial, 1950
:: Breve Antologia. Jaroslav Seifert. [traducido del checo por Clara Janês]. ‎Madrid: Hiperión, 1984; 2002.
:: Poesía. Jaroslav Seifert. [versión poética de Víctor Rodríguez Núñez; traducción Viera Piñón]. La Habana: Editorial Arte y Literatura, 1987. 
:: Praga en el sueño. Jaroslav Seifert. [nota y traducción de Clara Janés]. Barcelona: Icaria editorial, 1996.
:: Cinco Poetas Checos: Vladimir Holan, Jiri Orten, Vítezlav Nezval, Frantisek Halas e Jaroslav Seifert. traducción de Clara Janês. Guadarrama. Ediciones del Oriente y del Mediterráneo, 1993. 
:: Poetas checos. selección  y versiones en español Teresa Amy.  Colección 20 del XX. La Otra, 2017.
-------
:: La canción del manzano. Jaroslav Seifert. [traducción Emilio Ortega; ilustraciones de Josef Palecek]. Serie Cuentos de la torre y la estrella, n. 19. Madrid: Ediciones SM., 1985.
:: Toda la belleza del mundo: (historias y recuerdos) / Všecky krásy světa. Jaroslav Seifert. [traducido del checo por Monika Zgustová y Elena Panteleeva]. Colección 'Biblioteca de bolsillo'. Seix Barral, 1985.

Em catalã
:: Ser Poeta. Jaroslav Seifert. [traducció de Jaume Creus]. Catalá. Barcelona, Edicions La Guineu, 2006.


"Creo, pero si he de ser sincero diré más bien sólo  opino, que lo que suele llamar se poesía es un gran misterio único, del cual el poeta, y con creta men teca da uno, desvela un poco o un mucho. Luego de jala pluma o cierra la máquina de escribir, se queda pensativo y, al anochecer, muere."
.............................. (De "Toda la belleza del mundo")
- Jaroslav Seifert, 'epígrafe', de "Breve Antologia". Jaroslav Seifert. [traducido del checo por Clara Janês]. ‎Madrid: Hiperión, 2002.



  • Jaroslav Seifert - poeta, escritor e jornalista tcheco

SELETA DE POEMAS DO POETA TCHECO JAROSLAV SEIFERT 

Vi apenas uma vez
Vi apenas uma vez
um sol tão ensanguentado.
........... E nunca mais
Descia funesto sobre o horizonte
e parecia
que alguém havia escancarado as portas do inferno.
Perguntei pelo observatório astronômico
e hoje sei o porquê.

O inferno, conhecemos: está em toda parte
e caminha sobre duas pernas.
...........  E o paraíso?
Talvez o paraíso nada mais seja
além de um sorriso
........... por muito tempo esperado
e lábios
........... que murmuram o nosso nome.
E aquele frágil instante fabuloso
quando depressa podemos esquecer-nos
do inferno.
- Jaroslav Seifert [tradução Aleksandar Jovanovic]. In: Céu vazio: 63 poetas eslavos. [organização, estudo introdutório, notas biográficas e tradução Aleksandar Jovanovic]. São Paulo: Hucitec, 1996. 

§§

Poema sobre a guerra
Estrangular a guerra,
para que as mulheres possam sorrir,
para que não envelheçam tão depressa
quanto as armas envelhecem.

Mas a guerra disse: Sou!
Sou desde o princípio,
não tendo havido um momento
em que eu não existisse.

Sou antiga como a fome
e o amor.
Eu sempre me criei,
mas o mundo me pertence!

E irei destruí-lo.
Estarei presente
quando o trapo ensanguentado de fogo
cair nas trevas

feito saliva de criança
que cai no fundo do poço
quando se deseja medir-lhe
a profundidade escura.

Nós contudo – e aí reside a esperança –
poderemos pensar a esse respeito
por um instante
por um breve instante ao menos.
- Jaroslav Seifert [tradução Aleksandar Jovanovic]. In: Céu vazio: 63 poetas eslavos. [organização, estudo introdutório, notas biográficas e tradução Aleksandar Jovanovic]. São Paulo: Hucitec, 1996. 

§§

Praga
Um cacto gótico floresce em crânios aristocráticos
sobre os mantos elefantinos dos tabuleiros
e antigas melodias apodrecem
nas cavidades dos órgãos melancólicos
e nos cachos dos tubos de metal.

O vento dispersou
as balas de canhão e a semente das guerras.

A noite empina-se sobre todas as coisas
e no buxo de cúpulas sempre verdes
um imperador néscio caminha sobre a ponta dos pés
para os jardins mágicos de suas retortas
e na bonança de noites rosadas
ressoa o tilintar de uma folhagem cristalina
que dedos de alquimista tocam
feito vento.

Os telescópios cegaram de horror ao cosmos
e a morte sugou
os fantásticos olhos dos estelonautas.

A lua no entanto pôs ovos sobre as nuvens
estrelas novas brotaram apressadas como pássaros
que migram de terras enegrecidas
cantarolando a canção dos destinos humanos
mas não há ninguém
capaz de compreendê-los.

Ouvi as fanfarras do silêncio
dirigimo-nos rumo ao futuro invisível
sobre rotos tapetes do sudário dos séculos
e Sua Majestade o pó
ajeita-se leve sobre o trono abandonado.
- Jaroslav Seifert [tradução Aleksandar Jovanovic]. In: Céu vazio: 63 poetas eslavos. [organização, estudo introdutório, notas biográficas e tradução Aleksandar Jovanovic]. São Paulo: Hucitec, 1996.

§§

Retrato molhado
Aqueles dias lindos
quando a cidade parece um dado, um hino, um ventilador
ou uma concha de vieira à beira-mar
– tchau, tchau, belas garotas,
nos conhecemos hoje
e não nos veremos nunca mais.
Os domingos lindos
quando a cidade parece um futebol, um cartão e uma ocarina
ou um sino indo e vindo
– na rua ensolarada
as sombras dos passantes se beijavam
e eles seguiam, completos desconhecidos.
Aquelas noites lindas
quando a cidade parece uma rosa, um tabuleiro de xadrez, um violino
ou uma garota chorando
– no bar jogávamos dominó, dominó de bolas pretas, com as garotas magrelas,
olhando para seus joelhos

que eram esquálidos
feito dois crânios com as coroas de seda das cinta-ligas
no reino desesperado do amor.
- Jaroslav Seifert [tradução Marília Garcia]. In: Le Pays n'est Pas La Carte / Marília Garcia, 4 de abril de 2014. 

§§

Um guarda-chuva de Piccadily
Se você não sabe o que fazer em relação ao amor
tente se apaixonar outra vez –
por exemplo, pela Rainha da Inglaterra.
Por que não!?
O rosto dela aparece em todos os selos postais
daquele antigo reino.
Mas se você a convidasse
para um encontro no Hyde Park
com certeza
esperaria em vão.
Se tivesse um mínimo de senso
diria a si mesmo sabiamente:
Por quê?, é claro, entendi:
está chovendo no Hyde Park hoje.
Quando esteve na Inglaterra
meu filho me trouxe de Piccadilly em Londres
um elegante guarda-chuva.
Sempre que preciso
tenho agora sobre a minha cabeça
meu próprio céu em miniatura
que pode até ser preto
mas em seus raios de arame tensionados
a misericórdia de Deus escorre como
uma corrente elétrica.
Abro meu guarda-chuva mesmo quando não chove
como um dossel 
sobre o volume dos sonetos de Shakespeare
que levo no bolso.
Mas em alguns momentos até 
o cintilante buquê do universo me assusta.
Ultrapassando a beleza
ele nos ameaça com tamanha infinitude
que parece mais
o sono da morte.
Ele também nos ameaça com o vazio e quando congela
suas milhares de estrelas
que à noite nos iludem
com seu brilho.
Aquela a que chamamos Vênus
é a mais aterrorizante.
Ela possui pedras que ainda estão fervendo
e como gigantescas ondas
as montanhas vão surgindo
e queimando as cascatas de súlfur.
Sempre perguntamos onde será que fica o inferno.
Ele está ali!
Mas para que serve um frágil guarda-chuva
diante do universo?
Além do quê, eu nem mesmo o levo comigo.
Tenho bastante trabalho
para ficar
me arrastando pelo chão
como uma mariposa noturna durante o dia
em uma áspera casca de árvore.
Toda minha vida procurei o paraíso
que outrora existiu aqui,
cujos rastros eu havia encontrado
somente nos lábios das mulheres
e nas curvas produzidas pela sua pele 
com o calor do amor.
Toda minha vida desejei
a liberdade.
Enfim, descobri o caminho
que até ela conduz.
É a morte.
Agora que estou velho
verei o rosto de alguma charmosa mulher
uma vez ou outra flutuando entre meus cílios
e seu sorriso transformará meu sangue.
Timidamente me viro 
e lembro da Rainha da Inglaterra,
cujo rosto está em todos os selos postais
daquele antigo reino.
God save the Queen!
Sim, eu sei muito bem:
está chovendo no Hyde Park hoje.
- Jaroslav Seifert [tradução Marília Garcia a partir da versão inglesa 'The poetry of Jaroslav Seifert']. In: Le Pays n'est Pas La Carte / Marília Garcia, 19 de agosto de 2012.
 
§§

Os mortos de Lídice
A andorinha não encontrou seu teto,
Solta gritos de queixa, erra
Só há árvores negras, cá como lá
Cetros quebrados jorram da terra
E vocês, com o calcanhar na terra para o passo final,
Quando o caminho deságua na beira do precipício,
Vocês entram na sombra de braços abertos,
Como semeadores diante de sulcos vazios.
Ao menos a cotovia retorna para vê-los
Mais perto de vocês ela ouve melhor
O que somente os pássaros compreendem bem
Tu ouvirás talvez, em sua mensagem,
Cantar a terra que sacia o fundo
As bocas ainda cerradas de ira
Cantar a lápide deitada perto da trincheira
E os silêncios que sobre os seus nomes tombaram
Cantar a angústia dos tempos de raptos
Cantar o choro de lábios que brilham
Quando se desejava ser demente
Mas faltava tempo para a loucura
Cantar o terror ancorado no fundo do olhar
Quando vossas mulheres se colaram às portas
Como o náufrago se agarra a haste incerta
Já sem rumo para sua esperança morta
Cantar o instante de calmaria sublime
Quando resta um único suspiro
Cantar o esplendor de um povo glorioso
Sobre cujas tumbas vossos passos vão ecoar
Como outrora, lá ergue-se o cântico
Da cotovia, ó calma eternidade
 - Jaroslav Seifert [tradução ??]. Segunda Guerra Mundial: Uma antologia poética / Poetas contemporâneos ao conflito [organização, seleção, edição e notas de Sammis Reachers]. 2014 // originalmente publicado em CAVALCANTE, Ed. O falso intelectual e os mortos de Lídice. In: Jornália do Ed, 2 de abril de 2008. 
---------
Nota: Jaroslav Seifert (Thecoslováquia 1901–1986) O poeta, escritor e jornalista Jaroslav Seifert foi um dos mais destacados autores tchecos do Séc. XX, tendo recebido o Prêmio Nobel em 1984. Em 1938 prenunciou a guerra que estava por vir em seu livro Zhasnete Svetla (Apaguem as Luzes). Seguiu publicando durante o conflito, e em 1945 escreve Prilba Hlíny (O Capacete de Barro), obra que buscava inspirar os tchecos à sublevação contra os nazistas que se retiravam, e que lhe deu grande fama, alçando-o ao título de Poeta Nacional. O poema aqui publicado faz referência ao chamado Massacre de Lídice, quando toda uma vila tcheca foi exterminada, como vingança pelo assassinato do sanguinário Reinhard Heydrich, segundo em comando das SS, e que fora morto por membros da resistência checa. Os homens da vila foram fuzilados e mulheres e crianças enviadas para campos desconcentração, e a cidade foi dinamitada e depois aplanada com tratores, para cumprir o desígnio de Hitler de "varrê-la do mapa.

§§

Conheci uma sereia
anos atrás, quando ainda era menino.
No suave colo de uma jovem
mais bela que a princesa de um castelo,
ela depositou uma maçã certa vez.
Nenhum pintor seria capaz de pintar uma tão bela.
Sob sua casca doce
havia todas as formas de magia:
a magia do amor, a magia do prazer e da paixão,
a magia da falta de alguém
e a magia do momento em que uma pessoa se entrega a pessoa que ama.
- Jaroslav Seifert [tradução Pedro Gonzaga]. In: Pedro Gonzaga/facebook, 19 de maio de 2022.

§§

Basílica de São Jorge 
Se dentro da branca Basílica de São Jorge
irromper o fogo,
......... Deus proteja,
suas paredes depois das chamas seriam rosadas.
Talvez até suas torres gêmeas: Adão e Eva.
Eva é a mais esguia, como costumam ser as mulheres,
ainda que esta seja apenas uma ínfima glória
......... de seu sexo.
O calor feroz faria o calcário enrubescer.
.............. Assim como as garotas
.............. depois do primeiro beijo
- Jaroslav Seifert [tradução Pedro Gonzaga]. In: Pedro Gonzaga/facebook, 17 de nov. 2014

§§

A cabeça da Virgem Maria
Há um momento único no ano.
Eu abri a janela, as dobradiças rangeram
e aí estava o outono
Ainda sedoso, com gotas de sangue
e leves sinais de tristeza.
É uma época em que as feridas humanas
começam a doer mais.
Fiz uma visita a Vladimír Holan.
Estava doente.
Ele mora perto do Seminário Luzaciano,
praticamente sobre o rio.
O sol se pôs um momento antes atrás das casas,
o rio sussurrou silenciosamente
e embaralhou suas cartas molhadas
para o jogo noturno.
Assim que entrei, Holan fechou o livro
e me perguntou, aparentemente com raiva,
se eu também acreditava na vida após a morte
ou talvez em algo ainda pior.
Eu, porém, fiz de conta que não havia ouvido. 
Em um armário baixo, ao lado da porta,
Vi de relance uma escultura, a cabeça de uma mulher.
Deus, se eu a conheço!
Ela jazia lá, deitada sobre a bochecha,
como se estivesse sob a guilhotina.

Era a cabeça da Virgem Maria
da praça da Cidade Velha.
Os peregrinos a derrubaram,
precisamente sessenta anos atrás
ao retornar da Montanha Branca.
Eles quebraram a coluna com os quatro anjos armados,
sobre a qual ela se alçava
Não era tão alta quanto a da Praça Vendôme em Paris.

Que eles sejam perdoados!
Estava lá como um símbolo de derrota e humilhação
da nação tcheca,
e os peregrinos estavam alegres,
por causa dos primeiros goles de liberdade.

Eu estava lá com eles
e a cabeça da estátua quebrada
rolou pela calçada perto do local
onde eu estava.
Quando parou,
seus olhos piedosos miravam
os meus sapatos empoeirados.

Agora, porém, ela rola em minha direção
pela segunda vez,
e entre esses dois momentos
se estende quase toda uma vida humana
que pertence a mim 
Não digo que tenha sido feliz,
Mas ela já está perto do fim.

- Por favor me diga novamente
o que você me perguntou quando eu entrei
E perdoe.
- Jaroslav Seifert [tradução Henrique Fendrich]. Literatura tcheca/ facebook, 20.8.2023.

§§

Lâmpada
Em torno da luz fria das lâmpadas,
a agitação incansável de asas batendo
E o senhor Edison,
levantando os olhos do livro que lia,
sorriu. 
A quantas borboletas noturnas
não salvou a vida!
- Jaroslav Seifert [tradução Henrique Fendrich]. In: Literatura tcheca/ facebook, 10.8.2023.

§§

Café-concerto
O arrastão nada em manobras
em meio das vagas acha um violino
o boné do capitão escapa-lhe
e voa em torno do navio, branca ave.

O arco, esse,
arrastado pelas correntes quentes,
foi levado até ilhas desconhecidas,
mesmo até à enseada onde a água se detém.

Só palmeiras de cartão
podem florescer sob este céu,
as conchas das ruas desertas
no fundo dos serões.

Lá, rodeado pelos perfumes
da ilha, pavoneia-se um rei negro,
com o arco na mão.

Lá, as cabeças de um povo submetido
como os pequenos pontos das notas pretas
dançam em semi-círculo à volta dele.
E, descrevendo a curva de uma clave de sol,
as serpentes elevam-se faiscantes acima da erva.

Tocai, pois, mas suavemente, violinos.
A Europa quer dormir, nada mais que dormir,
e vomita as estrelas.
- Jaroslav Seifert [tradução Carlos Camões Galhardas]. In: Poet'Anarquista, 10 de janeiro de 2014.

§§

Pequena canção da noite
..................Para Vladimír Holan

As gatas irrompem das águas-furtadas
e tornam-se verdes na noite.
Eu procurava em vão uma  palavra nova
para isso a que os outros chamam sonho.

Para esta quimera, coisa ou instante,
que ultrapassa os limites da tua realidade
e depois - para te submeter ao seu próprio império -
não chega quase a ter corpo.

Para isso que é um simples murmúrio
e se dilacera a cada choque,
assim como um pão de gaze ligeiro
que, rente à tua fronte, flutua no ar.

Isso que, com o sangue, chega ao rosto
e faz sonhar as jovens raparigas
logo que, confessando-se à almofada,
se escondem sob os cobertores.

Para isso que surge assim que as tuas mãos
cobrem os teus olhos; isso que quase
a tua orelha não ouve, quando há um suspiro -
muito baixo - num recolhimento solitário.

Para esses olhos e esse olhar, enfim,
com os quais uma senhora me deslumbrou.
E com os quais, desde então, eu sonho ainda,
balbuciando versos comovidos.

Velar sem prazo, pela dor:
nada me impedirá de dormir mal.
A cidade? Dorme. Lá em baixo, o dique
purifica o ouro pálido das estrelas. -
- Jaroslav Seifert [tradução Carlos Camões Galhardas]. In: Poet'Anarquista, 10 de janeiro de 2014.

§§

Concerto de Bach 
De manhã nunca dormi muito tempo;
os eléctricos acordavam-me
tal como os meus próprios versos.
Arrancando-me da cama pelos cabelos
eles arrastavam-me até à cadeira
e obrigavam-me a escrever
assim que tinha acabado de esfregar os olhos.

Religado por uma doce saliva
aos lábios de um instante singular
eu não pensava de maneira nenhuma
na salvação da minha alma miserável;
mais do que um eterno bem estar
eu desejava um breve momento
de prazer efémero.

Levantavam-me em vão os sinos do solo;
eu aderia-lhe com os meus dentes, as minhas unhas.
Ele estava cheio de perfumes
e de segredos provocantes.
Quando, de noite, eu olhava o céu
não era o céu que procurava.
Assustava-me muito mais com os buracos negros
escancarados algures no fundo do cosmos
e ainda mais assustadores
que o próprio inferno.

Mas eu pude escutar os sons do cravo.
Era um concerto
de Johann Sebastian Bach
para oboé, cravo e instrumentos de cordas.
De onde provinha? Ignoro-o.
Mas não era do solo.
Ainda que então não tivesse bebido vinho
eu cambaleava ligeiramente
e tive de me prender com grampos
à minha própria sombra.
- Jaroslav Seifert [tradução Carlos Camões Galhardas]. In: Poet'Anarquista, 10 de janeiro de 2014.


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  • Jaroslav Seifert (1981) - phto by Hana Hamplová

JAROSLAV SEIFERT - POEMAS EM ESPANHOL



CANCIÓN DE AMOR
Oigo lo que no oyen los demás,
pies descalzos pisando terciopelo.

Suspiros bajo el sello de una carta,
el estremecimiento de las cuerdas, cuando no vibran.

A veces, huyendo de la gente,
veo lo que no ven los demás.

El amor, vestido con la risa
que se oculta en las pestañas, cubriendo los ojos.

Cuando aún tiene copos de nieve en los bucles,
veo florecer la rosa en el rosal.

Oí al amor partir
cuando unos labios por primera vez rozaron los míos.

Quién, sin embargo, detendrá mi esperanza:
ni siquiera el miedo al desengaño,

para que a tus rodillas no se ponga.
La más hermosa suele estar loca.
- Jaroslav Seifert, em 'Praga en el sueño'. [traducción y notas de Clara Janés]. Barcelona: Icaria editorial, 1996.

§§


MIS VERSOS, SIN EMBARGO...
Mis versos, sin embargo, son de plomo, 
inútilmente deseé esta musa, 
voy tras ella, mas para mi horror 
desde la puerta del cementerio miro.

Tengo miedo, tal vez a mis ojos se esconda 
en el arco iris de siete colores, 
mis versos, sin embargo, son de plomo, 
inútilmente deseé esta musa.

Su pie rosado, grácil, se me escapa, 
y sólo miro, cómo tras el mérito, 
por el cielo se eleva sobre las palabras, 
donde los pasos no son ya el andar;

mis versos, sin embargo, son de plomo. 
- Jaroslav Seifert, em 'Praga en el sueño'. [traducción y notas de Clara Janés]. Barcelona: Icaria editorial, 1996.

§§

PRAGA DESDE PETŘÍN

III

Mientras en la columna de las viñas 
maduran con los años las uvas de piedra 
y llegan días en que enrojecen violentamente 
entre las hojas, en el peciolo del silencio, 
volveremos a cruzar el puente 
y a preguntar al agua qué hace el tiempo 
y ella responderá con el color de los cañones.

Aún con el canto de la alondra en el cabello 
pasan los niños sobre el río 
y las ensombrecidas torres de ambos lados 
se ponen serias al paso de las niñas 
al que falta muy poco 
para tornarse baile sobre aquel empedrado 
que se deshace y ya no sabe bailar.

Bastaría, con todo, entrecerrar los ojos 
al mirar las gaviotas que vuelan girando entre las nubes 
y sus alas se tornarían de inmediato 
hojas de sable destellando sobre el agua 
y como un velo de desesperación 
de las viejas troneras saldría de golpe el humo.

Sin embargo vuelve enseguida el día de primavera 
con la misma canción 
y sigue girando la rueda a la espalda 
del abad azul.

Luego llegan setiembre, octubre, noviembre 
y las risueñas caras de las niñas 
pasan de nuevo debajo de los pies de las estatuas 
y el viento, que peinaba las coronas, 
sobre las rejas lanza cuentas menudas, 
de las que al poco quedarán solo gotas 
en las telas de araña llenas de nostalgia.

Y luego entra el matiz en los colores
de ese cuadro que no deja de arder 
como una gema que ostentara el cielo en el pecho.

Hasta la muerte sin duda lo llevará consigo 
aquel que en los ojos lo llevó una vez.
- Jaroslav Seifert, em 'Praga en el sueño'. [traducción y notas de Clara Janés]. Barcelona: Icaria editorial, 1996.

§§

LA PEQUEÑA HENDELE
La pequeña Hendele los conoce bien 
y mira llorando desde detrás de la alambrada, 
tendida como las líneas de un cuaderno, 
y observa los manojos de vilanos 
que florecen como si nada.
- Jaroslav Seifert, em 'Praga en el sueño'. [traducción y notas de Clara Janés]. Barcelona: Icaria editorial, 1996.

§§

IBAN DE CASA EN CASA...
Iban de casa en casa como vendedores ambulantes 
ofreciendo la muerte.
Me avergüenza haber sobrevivido. 
..............Vladislav Vančura 
escribió su mejor poesía
en las paredes de la celda de Pankrác. 
..............Y la salva del campo de tiro 
fue tan solo un aplauso atronador 
a su vida.

Pero había muertos por todas partes. 
En los alambres de las paredes de las fábricas, 
en los meandros de las aceras,
..............en las escaleras boca abajo,
en los escabeles de los bancos de escuela, 
en las gradas de los altares y encima de los canales.

Y de aquellas ruinas 
los vivos se llevaban a hombros a sus muertos 
pues se había derrumbado hasta la bóveda celeste 
y sepultaba el mundo 
donde queríamos ocultarnos a la muerte.
- Jaroslav Seifert, em 'Praga en el sueño'. [traducción y notas de Clara Janés]. Barcelona: Icaria editorial, 1996.

§§

DÍA TRAS DÍA...
Día tras día venía a nuestra casa Miša. 
Llevaba la gorra elegantemente ladeada sobre la oreja, 
y los niños le tiraban grosella.

Si la nieve hablara,
si en su silencio no hubieran retumbado 
..............las detonaciones de los cañones, 
que durante tanto rato hacían vibrar el aire, 
quizá nos hubiera contado, 
cómo habían dormido en montones de nieve tres meses enteros 
y se tapaban hasta las orejas 
..............con la luz de la luna.
Mas si la luna no brillaba
se helaban todos.
Por aquellos puñados de grosellas 
..............quiso regalar a los niños un anillo, 
y cuando lo rechazamos 
trajo una cinta roja, 
dos docenas de botones de nácar, 
un paquete de bonis
..............con sus cabecitas de colores. 
Todo envuelto en papel de seda.
Antes de marcharnos, vimos a Miša 
sentado en el borde de una acera:
..............arreglaba un despertador estropeado 
con una bayoneta.
- Jaroslav Seifert, em 'Praga en el sueño'. [traducción y notas de Clara Janés]. Barcelona: Icaria editorial, 1996.

§§

JARDÍN BOTÁNICO
Delante del empañado cristal del invernadero
me quedé de una pieza:
el invernadero estaba cerrado, 
en los cristales se deshacían los copos de nieve, 
pero debajo de las hojas, que suavemente se abrían 
como vivos abanicos,
.............. hoja por hoja, en cerco,
vi un rostro de muchacha.
La oscuridad no tiene la piel más negra. 
Solo los dientes brillaban en su cara 
camino de la sonrisa.

Le pregunté quién era 
..............y cómo se hallaba
en el sofocante crepúsculo del invernadero 
bajo aquellas hojas, que suavemente se abrían 
..............hoja por hoja, en cerco.
Se volvió hacia mí.
El blanco de sus ojos era dorado 
y alrededor de su cuello serpenteaba 
..............un collar de plata.

Seguro de que no me oía, 
.............. llamé con los nudillos.
Se alzó despacio 
y con las manos, que eran de color rosa pálido, 
limpió el sudoroso cristal.

Nunca estuve tan despierto
.............. como en aquel momento. 
Solo los durmientes, que de noche luchan 
con mudos fantasmas,
.............. al despertar 
cuando el sueño retrocede ya a toda prisa de regreso 
al negro espacio de la noche
..............y ha concluido ya, 
intentan en vano hacerlos volver a rastras 
ante sus pestañas soñolientas.

Rápidamente me incliné hacia aquella mano, 
..............pues estaba despierto. 
Pero no había nadie detrás del cristal.
- Jaroslav Seifert, em 'Praga en el sueño'. [traducción y notas de Clara Janés]. Barcelona: Icaria editorial, 1996.

§§

EL PESO DE LA TIERRA
Del mismo modo que el árbol repite su copa
en la copa de sus propias raíces
..............allí abajo, debajo de la tierra, 
y vivirán aún mucho tiempo 
cuando el árbol talado haya caído ya,

puede que también a los hombres, después de la muerte,
les quede un poquito de vida 
..............allí abajo, debajo de la tierra,
que pisaron y gozaron.
Pero sobre esa noche no sabemos nada, 
..............excepto quizás
que los colores que de allí ascienden 
a los pétalos de las flores
.............. son negros
y el agua tiene allí abajo los ojos cerrados.

No parece creíble 
que los muertos puedan levantarse 
y pasear bajo el peso de la tierra.
.............. ¡Pero y si fuera así!

Cuando me vaya, dadme un bastón. 
Nada más.
.............. Y si es posible blanco. 
Allí hay tinieblas por doquier, 
como solo las conocen los ciegos, 
y yo intentaré 
por lo menos a través de la hierba, comunicaros
cómo es la muerte, 
..............ese instante 
que esperamos durante toda la vida.

Una vez apoyé la oreja en la tierra 
y oí llorar. 
Pero quizá lloraba solo el agua 
atrapada en el entramado del pozo, 
porque no quería ir hacia los hombres.
- Jaroslav Seifert, em 'Praga en el sueño'. [traducción y notas de Clara Janés]. Barcelona: Icaria editorial, 1996.

§§

MI POBRE LUNA...
Mi pobre luna, está indefensa, 
nos encontramos ya en ella como en casa. 
Por ella avanzan ya al ataque excavadoras
y excavan los tonos plateados de las cuerdas de David. 
Ya siembran allí una hierba suave 
en el pubis de los volcanes.
..............Pero ¿dónde ir ahora? 
¿Adónde desde aquí?

No se acumulen junto a las rampas de lanzamiento. 
La luna pertenece a las mujeres
..............y las mujeres a la luna.
Desde las alturas celestiales las gobierna. 
No, no es chocante,
..............lo que les viene a la cabeza. 
Se trata del remoto correr de la vida, 
el amor y la sangre,
de cuando las mujeres hilaban todavía los rayos 
y tejían la ropa
para sus lechos de boda 
y comunicaban a la luna sus secretos.
- Jaroslav Seifert, em 'Praga en el sueño'. [traducción y notas de Clara Janés]. Barcelona: Icaria editorial, 1996.

§§

ME QUEDÉ EN LA TIERRA...
Me quedé en la tierra 
junto a tus margaritas, María, 
aunque son más tímidas que las pezuñas de los recentales 
y temen las tormentas 
..............pero eso no importa. 
La hierba puede al menos cerrar los ojos, 
cuando quiere dormir.

Allí arriba, vosotras,
.............. adiós y hasta la vista. 
Os deseo una blanda y agradable caída 
y un despertar hermoso pasado mañana, 
..............bajo un cielo 
negro como un catafalco.
- Jaroslav Seifert, em 'Praga en el sueño'. [traducción y notas de Clara Janés]. Barcelona: Icaria editorial, 1996.

§§

SOLO QUISE DECIR...
Solo quise decir eso. 
Ahora podéis dormir ya inquietamente.

En los harapos del cielo hollado 
por los rayos cosidos a toda prisa 
................ cualquier neblina 
se ha deshecho hace tiempo ya en cientos de estrellas 
que giran con indolencia por universos desconocidos, 
mas ya no tenéis nada 
que lanzar allí.

Nada. Absolutamente nada. Solo la poesía. 
¡Es lo único!
- Jaroslav Seifert, em 'Praga en el sueño'. [traducción y notas de Clara Janés]. Barcelona: Icaria editorial, 1996.

§§

EL GRITO DE LOS FANTASMAS

I
En vano nos agarramos a las telarañas flotantes 
y al alambre de púas.
En vano apoyamos el talón en la tierra 
para no dejarnos arrastrar con tanto ímpetu 
hacia las tinieblas, que son más negras 
que la más negra noche 
y carece ya de corona de estrellas.

Y cada día encontramos a alguien 
que involuntariamente nos pregunta 
sin abrir siquiera la boca: 
¿Cuándo? ¿cómo? ¿y qué viene después?

Bailan y danzan aún un poco más 
y respiran el aire perfumado, 
¡aunque sea con el dogal al cuello!

2
En la sala de espera de un dentista, 
pasando las páginas de una revista rota, encontré 
la fotografía de una tanagra rosa. 
Había visto una parecida años antes 
en las vitrinas del Louvre.

La habían encontrado en el sepulcro de mármol 
de una joven muerta muchos años antes de Cristo. 
La tanagra conoce bien la muerte.
- Jaroslav Seifert, em 'Praga en el sueño'. [traducción y notas de Clara Janés]. Barcelona: Icaria editorial, 1996.

§§

¡QUE DIFÍCIL ME FUE!
¡Qué difícil me fue 
..... abandonar para siempre 
los muros amados! Hubo momentos 
en los que pensé que no podía vivir 
sin sus sombras, que en tanto superan 
a nuestra breve vida. 

La rosa de los vientos ya no invita 
...... a lejanías extrañas 
y sus destellos tal vez para mí se han extinguido. 

...... Y los árboles verdes 
con raíces ampliamente agarradas 
van al mismo paso que yo.
- Jaroslav Seifert, em "Breve Antologia - Jaroslav Seifert". [traducido del checo por Clara Janês]. ‎Madrid: Hiperión, 2002.

§§

BOMBILLA
Alrededor de la fría luz de las bombillas. 
el bullicio infatigable de las alas agitadas. 
Y el señor Edison 
levantando los ojos del libro que leía 
sonreía. 
¡A qué cantidad de mariposas nocturnas 
salvó la vida!
- Jaroslav Seifert, em "Breve Antologia - Jaroslav Seifert". [traducido del checo por Clara Janês]. ‎Madrid: Hiperión, 2002.


 ****

  • Jaroslav Seifert - by Jaroslav Hejzlar - CTK


La estación central / Jaroslav Seifert


El rey Herodes
Cuando a su boca se llevó un racimo de uvas,
el rey Herodes, que masacraba inocentes –
en su mano horribles trazos sangrientos.

¿Pero cuál es esta culpa que pesa en su alma?
En sus manos horribles trazos sangrientos,
cuando a la boca usted se lleva un racimo de uvas.
- Jaroslav Seifert [traducción Teresa Amy]. In: Poetas checos. selección  y versiones en español Teresa Amy.  Colección 20 del XX. La Otra, 2017.

 §§

Por qué sonríen las muchachas tras el vidrio
¿Por qué sonríen las muchachas tras el vidrio
Que llora en abril?
Plantado a lo ancho como un harpa ante el pupitre,
El árbol hace vibrar un aire sutil.

Las pálidas manos sobre el vientre de una joven
Con una flor, como dibujada en el vaho de un vidrio.
¡Que nunca, nunca sobre un piano vuelva a ver
El molde de yeso de las manos de Beethoven!

Un mundo pleno de horror, pleno de bellezas precarias;
Que todo lo olvide, y que me quede solo.
La sortija, su perla en las algas entrelazadas,
Una tarjeta de visita, las iniciales en ella.
La artillería pesada y unos zapatos de baile.
- Jaroslav Seifert [traducción Teresa Amy]. In: Poetas checos. selección  y versiones en español Teresa Amy.  Colección 20 del XX. La Otra, 2017.

 §§

La danza de las blusas de las muchachas
una docena de blusas de muchachas
secando en una cuerda
motivo de flores de encaje sobre el pecho
como las rosetas en las catedrales

señor
protégeme del mal
una docena de blusas de muchachas
y eso es todo el amor
juego de chicas inocentes sobre el césped soleado
y la número trece es una camisa de hombre
es decir, el matrimonio
que termina en adulterio o en un disparo de pistola

el viento que corre por las blusas
es el amor
nuestra tierra es besada por su dulce brisa:
una docena de cuerpos al aire
esas doce muchachas hechas de aire leve
danzan sobre el pasto verde,
suavemente el viento modela sus cuerpos
sus senos, sus caderas, una cavidad en sus vientres
todo expuesto, ah ojos míos

nada quiere perturbar su danza
me deslizo suavemente bajo sus blusas
y cuando una cae
yo la inhalo como un avaro a través de mis dientes
y muerdo su pecho.

Amor, cuando inhalamos y pacemos desencantados
el amor que nuestros sueños acordaron
amor,
esos perros, nuestra ascensión, nuestra caída:
nada en absoluto
sino la suma de todo.

en nuestra era, totalmente eléctrica
night clubs sin bautizar hacen furor
y el amor es bombeado en nuestros neumáticos
María-Magdalena, mi pecadora, dejó de llorar:
el amor romántico agotó sus fuegos.
Fe, motos, y esperanza
- Jaroslav Seifert [traducción Teresa Amy]. In: Poetas checos. selección  y versiones en español Teresa Amy.  Colección 20 del XX. La Otra, 2017.

 §§

Pequeña canción nocturna

................................ A Vladimír Holan

Las gatas surgieron del tragaluz
y en la noche se vuelven verdes.
Yo buscaba en vano una palabra nueva
para lo que otros llaman sueño.

Para esta quimera, instante o sentido,
que pasa el límite de lo real
– para devolverte a su imperio-
luego no llega a tomar cuerpo.

Por esto que es simple murmullo
y que se desgarra en cada roce,
cual un trozo de gasa ligera
que, cerca de tu frente, flota en el aire.

Eso que con la sangre sube al rostro
y que hace soñar a las muchachas,
desde que al confesarse a la almohada
se meten bajo su manta.

Para lo que surge cuando tus manos
cubren tus ojos; lo que no oye
tu oído, al suspirar – muy bajo –
en una casa solitaria.

Para esos ojos y esa mirada, en fin,
con que me ha deslumbrado una madona.
Y con los que, aún después, sueño todavía, balbuceando tiernos versos.

Velar sin respiro, por el dolor:
nada impedirá el dormir mal.
¿La ciudad? Duerme. Abajo, la esclusa
lava el oro pálido de las estrellas.

 §§

 El año 1934
Cuán dulce es recordar
la feliz juventud
sólo el río no tiene edad.
El molino ha muerto
soplan indiferentes vientos caprichosos.

En el cruce del camino sólo queda una cruz
una corona de centauras como un nido sin pájaros
sobre la espalda del Cristo
y una niebla como una blasfemia entre los juncos.

¡Ten piedad de nosotros!
es el advenimiento de un tiempo amargo
sobre las riberas de los dulces ríos,
dos años ya que las fábricas se yerguen vacías,
y los niños aprenden el lenguaje del hambre
sobre las rodillas de sus madres.

Y sin embargo sus risas resuenan todavía
en su metal
bajo el triste silencio del duelo.

Ojalá puedan tener una vejez más feliz
que la infancia que nosotros les dimos.
- Jaroslav Seifert [traducción Teresa Amy]. In: Poetas checos. selección  y versiones en español Teresa Amy.  Colección 20 del XX. La Otra, 2017.

 §§

[Nada más que una vez]
Nada más que una vez
una vez, una sola vez, vi el sol tan sangrante
y después nunca más
siniestro él se ponía
y uno hubiera creído
que alguien hundía a patadas las puertas del infierno
yo fui a informarme al observatorio
y ahora sé por qué.
El infierno, como sabemos, está por todas partes entre nosotros
y camina en dos patas.
¿Pero y el paraíso?
tal vez el paraíso no es nada más
que una sonrisa
que esperábamos desde hace tanto tiempo
y una boca que dice en voz baja
nuestro nombre
y después ese pequeño instante
en que vertiginosamente nos es dado olvidar
lo otro, el infierno.
- Jaroslav Seifert [traducción Teresa Amy]. In: Poetas checos. selección  y versiones en español Teresa Amy.  Colección 20 del XX. La Otra, 2017.

 §§

La estación central
Un soldado de las legiones rusas me contó
que los lirios crecen en Siberia
incluso entre los rieles.

Y yo me preguntaba ¡por qué nuestras primaveras
tienen siempre ese algo tan triste!
El viento nos muestra los talones,
los rieles huyen bajo nuestros ojos y el deseo alzó un pie
sobre el peldaño.

París, en primavera, está llena de lirios, solos
con su marea rebasan
la sombría Tour Eiffel
y el sonriente Sacré-Coeur. Pero éste
es, él mismo, blanco como un lirio.
- Jaroslav Seifert [traducción Teresa Amy]. In: Poetas checos. selección  y versiones en español Teresa Amy.  Colección 20 del XX. La Otra, 2017.

 §§

Canción de la cabellera desatada
En zapatos flexibles, sin talón,
van los pies de mujer.
Pero los ojos no quieren todavía dormir. Arrimada a la ventana, ella se sentó,
con zapatos flexibles.

Más pesado que algunas lágrimas, el pañuelo
de seda retoma su escondite de antes.
¿Qué pesa una lágrima? ¡Una pregunta de risa!
¡Qué peso, sin embargo, la soledad de la noche
más cargada que algunas lágrimas!

La cabellera de su perfume, en silencio,
llueve sobre el contorno columbino de su espalda
y la peina, alzado por la mano,
vuelve a bajar, calma en la onda
de la cabellera, su perfume.

Y la sien de su belleza, ella la mima
con su brazo plegado. Con toda levedad
ahora ella entreteje para la noche
sus trenzas, derramadas
sobre la sien de su belleza.
- Jaroslav Seifert [traducción Teresa Amy]. In: Poetas checos. selección  y versiones en español Teresa Amy.  Colección 20 del XX. La Otra, 2017.

§§

Concierto de Bach
De mañana, nunca había dormido tanto,
los tranvías me despertaban
y también mis propios versos.
Me tiraban de la cama por los pelos,
me arrastraban hasta la silla
y me obligaban a escribir
después que terminaba de frotarme los ojos.

Ligado por una dulce saliva
a los labios del singular instante,
yo no pensaba
en la salud de mi alma miserable;
más bien como un bienestar eterno
deseaba un breve momento
de efímero placer.

En vano las campanas me levantaban del suelo;
me adhería a él con mis dientes, con mis uñas.
Todo estaba pleno de perfumes
y de provocadores secretos.
Cuando por la noche, miraba el cielo,
no era el cielo lo que buscaba.
Me espantaba sobre todo de los agujeros negros
boquiabierto en algún lugar en el fondo del cosmos
y más aterrador todavía
que el mismo infierno.

Pero pude oír sonidos de clavecín.
Era un concierto
de Johann Sebastian Bach
para oboe, clavecín e instrumentos de cuerda
¿De dónde venía? Lo ignoro.
Pero no era del suelo.
Incluso si yo no había, entonces, bebido vino,
vacilé levemente
y debí agarrarme
a mi propia sombra.
- Jaroslav Seifert [traducción Teresa Amy]. In: Poetas checos. selección  y versiones en español Teresa Amy.  Colección 20 del XX. La Otra, 2017.


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  • Jaroslav Seifert (1986) _ by Jaroslav Krejci

FORTUNA CRÍTICA DE JAROSLAV SEIFERT


CAVALCANTE, Ed. O falso intelectual e os mortos de Lídice. In: Jornália do Ed, 2 de abril de 2008. Disponível no link. (acessado em 20.3.2024)
FDI. Toda la belleza del mundo… para cambiar la mirada [El gran poeta checo Jaroslav Seifert]. In: Monjas Dominicanas - Federación de La Inmaculada, notícias, 24 nov. 2019. Disponível no link. (acessado em 20.3.2024)
GARCÍA, Juan Jiménez. Jaroslav Seifert. El árbol de la poesía. In: Diários Détour, 8 de septiembre 2022. Disponível no link. (acessado em 24.3.2024)
JANÉS, Clara. Los poetas de Praga. In: Los Cuadernos de Poesia, p.83-90. Disponível no link. (acessado em 24.3.2024)
PEGENAUTE, Luis. La narrativa checa en España desde 1975: presencias y ausencias. In: CLINA Ediciones Universidad de Salamanca - vol. 5-2, p. 121-146, December 2019. Disponível no link. (acessado em 24.3.2024)
OS 100 Melhores Poemas Internacionais do Século XX. In: Palavras Rabiscadas,  / originalmente publicado em Folha de São Paulo, 2.1.2000. {50º Meus Versos São de Chumbo, de Jaroslav Seifert (1901-1986) – Foi o primeiro autor tcheco a ganhar, em 1984, o Prêmio Nobel}. Disponível no link. (acessado em 20.3.2024)
SEIFERT, Jaroslav (Praga, 1901–Praga, 1986). In: DHTE - Diccionario Histórico de la Traducción en España. s/data. Disponível no link. (acessado em 20.3.2024)
SEIFERTJaroslav / Entrevista realizado por Monika Zgustová, em 1985. In: Tiro de Letra, Grandes Entrevistas.  Disponível no link. (acessado em 20.3.2024).
VIDAL-FOLCH, Ignacio. Otras traducciones para la nueva Europa - Jaroslav Seifert. In: El País, 28 mayo 2004. Disponível no link. (acessado em 24.3.2024)
ZGUSTOVA, Monika. El sentimiento trágico de un poeta. In: El País, 12.10.1984. Disponível no link. (acessado em 24.3.2024)
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  • Jaroslav Seifert - poeta, escritor e jornalista checoslovaco - Prêmio Nobel da Literatura (1984)

Jaroslav Seifert, by Alena Laufrová 



© Pesquisa, seleção, edição e organizaçãoElfi Kürten Fenske
© Seleção e organização dos poemasJosé Alexandre da Silva


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COMO CITAR:
FENSKE, Elfi Kürten; SILVA
José Alexandre da. (pesquisa, seleção, edição e organização). Jaroslav Seifert. In: Templo Cultural Delfos, março/2024. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
:: Página atualizada em 23.3.2024.
:: Página original de MARÇO/2024


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