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Adalgisa Nery - entre as letras e a política

Adalgisa Nery, 1956 (recorte)


© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske
Por gentileza citar conforme consta no final desse trabalho. 
Página original MAIO/2013 | ** Página revisada, ampliada e atualizada SETEMBRO/2021.



"Abençoados aqueles que não tiveram tréguas na alma, porque podem ver as cores das madrugadas, o brilho das estrelas, sentir o calor do sol, receber o pranto das chuvas, colher o perfume das flores, ouvir a canção das águas e compreender a voz dos ventos. Esses, realmente, viveram em unidade, viveram dentro das forças contrárias, e por isso mesmo podem distinguir o valor das lágrimas e das alegrias, do silêncio e das canções e a grandeza do contentamento dos sentidos, largados em plenitude" 
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 2016.


ESBOÇO BIOBIBLIOGRÁFICO DE ADALGISA NERY


Adalgisa e o Artista, por Ismael Nery, 1930 | Coleção Nemirowsky 
Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela Ferreira (Rio de Janeiro, 29 de outubro de 1905 — Rio de Janeiro, 7 de junho de 1980). Poeta, romancista, contista, jornalista e política. Desde a infância Adalgisa demonstra forte sensibilidade poética associada a episódios marcantes de sua vida, como a perda da mãe, aos 8 anos. Em 1922, casa-se com o pintor Ismael Nery (1900 - 1934) e toma contato com a vida intelectual brasileira. Entre 1927 e 1929, Adalgisa e Nery vivem na Europa e conhecem artistas de vanguarda internacionais. Torna-se viúva em 1934 e começa a trabalhar no Conselho de Comércio Exterior do Itamaraty. Incentivada por amigos como o poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), publica sua primeira obra, Poemas, em 1937.

Em 1940 casa-se com o jornalista Lourival Fontes (1899 - 1967), diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda da ditadura de Getúlio Vargas (1882 - 1954). Entre 1940 e 1945, acompanha o marido em missão diplomática pelo Canadá e Estados Unidos. Em seguida, muda-se para o México, onde Fontes se torna embaixador. Convive com artistas mexicanos como os pintores Diego Rivera (1886 - 1957) e José Orozco (1883 - 1949), pelos quais é retratada. Em 1952 torna-se a primeira mulher a receber a Ordem da Águia Asteca, por suas conferências sobre a poeta mexicana Juana Inés de la Cruz (1651? - 1695).

No ano seguinte, o editor francês Pierre Seghers (1906 - 1987) traduz e publica uma coletânea de poemas de Adalgisa em Paris. Ainda em 1953, a escritora separa-se do marido e começa a tecer comentários políticos na coluna Retrato sem Retoque do jornal Última Hora. Jornalista combativa, é eleita deputada em 1960, pela legenda do Partido Socialista Brasileiro (PSB), mas, devido ao golpe militar, sua coluna no jornal é censurada e seus direitos políticos cassados. Sem recursos próprios, Adalgisa muda-se para a casa do filho mais novo, o artista plástico Emmanuel Nery (1931 - 2003). Em 1976, interna-se por espontânea vontade em uma clínica geriátrica no Rio de Janeiro, onde falece, em 1980.

Comentário crítico
Apesar de acompanhar de perto o movimento modernista nas décadas de 1920 e 1930, sendo musa de artistas plásticos e escritores, o primeiro livro de Adalgisa Nery só é publicado em 1937, com o título Poemas. Este e o livro seguinte, a Mulher Ausente, de 1940, levam a autora a ter sua obra comparada, pelo poeta Manuel Bandeira, à obra da poeta grega Safo de Lesbos (século VII a.C.), pelo erotismo libertário, e do poeta português Antero de Quental (1842 - 1891), pelo tom trágico.

Retrato Adalgisa Nery, por Candido Portinari, 1937
Nesses poemas, Adalgisa reflete sobre a condição da mulher em um mundo machista, tema até então inédito na literatura brasileira. Influenciada por algumas correntes das artes plásticas, a autora recorre a imagens utópicas, ora de um passado distante, ora de um futuro sonhado, para se contrapor ao presente. Por isso, alguns críticos definem sua poesia como "uma palpitação mística" que enfrenta a vida cotidiana. Essa característica torna-se mais evidente nos livros seguintes, sobretudo em As Fronteiras da Quarta Dimensão, de 1952, considerado pela própria autora como sua obra mais apurada e amadurecida.

Paralelamente à sua obra poética, quase toda reunida em Mundos Oscilantes, de 1962, Adalgisa escreve dois volumes de contos e dois romances. Seu maior sucesso editorial, o romance A Imaginária, de 1959, é interpretado como uma autobiografia sobre seu conturbado casamento com o pintor Ismael Nery (1900-1934). Além disso, entre 1953 e 1966, Adalgisa mantém uma intensa produção jornalística através do Retrato sem Retoque, coluna diária sobre política no jornal Última Hora.

Nos anos 1960, a autora dedica-se à militância política e não publica nenhuma obra inédita. Em 1972, publica o romance Neblina, dedicado ao apresentador de televisão Flávio Cavalcanti (1923 - 1986). A dedicatória é malvista por artistas e críticos, uma vez que o apresentador é simpatizante da ditadura militar, o que prejudica a divulgação da obra. Desmotivada, Adalgisa lança sua última obra no ano seguinte: o volume de poemas intitulado Erosão.
Fonte: Enciclopédia Literatura Brasileira/Itaú Cultural (acessado em 26.5.2013).


"Cada um de nós tem as suas recordações, os seus pontos fixos na memória, e não é justo que recusem as minhas lembranças. A verdade de cada um não pode ser transferida, negada nem subestimada, pois dela formamos a nossa vida, nosso ambiente e sabemos o motivo das nossas reações. Negar uma recordação é um abuso e uma fraqueza."
- Adalgisa Nery, no livro “A imaginária”. Editora José Olympio, 1957.
  

OBRA DE ADALGISA NERY

Retrato Adalgisa Nery, por Candido Portinari, 1937.
Poesia
:: PoemasAdalgisa Nery. (Livro de estreia da autora).1ª ed., Rio de Janeiro: Pongetti, 1937.
:: A mulher ausenteAdalgisa Nery. [capa de Santa Rosa e seis ilustrações de Portinari], 1ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1946.
:: Ar do desertoAdalgisa Nery. [capa de Santa Rosa]. 1ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1948.
:: Cantos da angústiaAdalgisa Nery. [capa de Santa Rosa]. 1ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1948.
:: As fronteiras da quarta dimensãoAdalgisa Nery. [capa de Santa Rosa]. 1ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1952.
:: PoemasAdalgisa Nery. 1ª ed., Rio de Janeiro:  José Olympio, 1960.
:: Mundos oscilantes: poesia reunidaAdalgisa Nery. [texto orelhas do livro por Geir Campos]. 1ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1962.
:: ErosãoAdalgisa Nery. [capa de Emmanuel Nery]. 1ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1973. {livro assinado por Adalgisa Nery sob pseudônimo Ryne}.

Contos
:: OgAdalgisa Nery. 1ª ed., [capa de Santa Rosa]. Rio de Janeiro: José Olympio, 1943.
:: 22 menos 1Adalgisa Nery. [capa Santa Rosa]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Expressão e Cultura,  1972.

Crônicas
:: Retrato sem retoqueAdalgisa Nery. 1ª ed., [texto orelhas do livro por Ênio Silveira; capa Eugênio Hirsch]. Coleção Retratos do Brasil, vol. 18.  Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963.

Romance
Autoretrato com Adalgisa , de Ismael Nery
-  s/data | Coleção Particular 
:: A ImagináriaAdalgisa Nery. 1ª ed., [capa com desenho de Portinari]. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959; 4ª ed. 1973.
:: A imaginária. Adalgisa Nery. [organização Ramon Nunes Mello; prefácio Ana Arruda Callado; posfácio Affonso Romano de Sant'Anna]. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 2015. {Inclui: nota biográfica}.
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:: NeblinaAdalgisa Nery. [capa desenho de Portinari; arte Emmanuel Nery] 1ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1972. {livro assinado por Adalgisa Nery sob pseudônimo Ryne}.
:: NeblinaAdalgisa Nery[organização Ramon Nunes Mello]. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 2016.

Traduções realizadas por Adalgisa Nery
:: O jardim das caricias / 'The Garden of Caresses'. (poemas árabes em prosa). tradução para o francês por Franz Toussaint. [tradução de Adalgisa Nery; capa de Santa Rosa]. 1ª ed., Coleção Rubáyát. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1938.
:: Em busca do amor: a vida de George Sand / 'George Sand – The schearch of love', de Marie Jenney Howe. [tradução Adalgisa Nery]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1941.
:: O trono do Amazonas - a história dos Braganças no Brasil / 'Amazon thorne'. de Bertita Harding. [tradução Adalgisa Nery]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1944.
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:: O  romance do Dr. Harvey Leith* / 'Grand canary', de A. J. Cronin. [tradução Adalgisa Nery; capa de Santa Rosa]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1940.  * Encontro de amor.
:: *Encontro de amor (O  romance do Dr. Harvey Leith) / 'Grand canary', de A. J. Cronin. [tradução Adalgisa Nery; capa de G. Bloow].  2ª ed.,  Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1949.
:: Encontro de amor (O  romance do Dr. Harvey Leith) / 'Grand canary', de A. J. Cronin. [tradução Adalgisa Nery; capa de Luiz Jardim]. Coleção Fogos Cruzados, v. 89. 3ª ed.,  Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1949.

Biografia
:: Adalgisa Nery. Muito amada e muito sóAna Arruda CalladoColeção Perfis do Rio, v. 24. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura / RioArte; Relume Dumará, 1999.

Em revistas
:: Eterno tédio (poema). Adalgisa Nery. In: Revista Luso Brasileira, n. 1, 23 de maio de 1942 | Hemeroteca Digital de Lisboa/Portugal. Disponível no link. (acessado em 6.9.2021).

Entrevista
:: Entrevista com Adalgisa Nery. [por Paulo Silveira, Peregrino Jr e Carlos Drummond de Andrade]. In: Museu de Imagem do Som, Rio de Janeiro, 27 jun. 1967.
:: Entrevista com Adalgisa Nery. [por Ricardo Cravo Albin, Paulo Francis, Sérgio Cabral e Fausto Wolff]. In: O Pasquim, Rio de Janeiro, p.14-15,11 a 17 mar. 1971.

Em Antologias (participação)
:: Antologia da moderna poesia brasileira. Revista Academica, 1939. {contém os seguintes poemas de Adalgisa Nery; "Eu em ti", "Sou o particular de cada um", "Fragmento", "A amada e' como a terra", "Cântico de mulher!" "A um homem"; além de um breve resumo biográfico p. 45-50} | Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin - USP. Disponível no link. (acessado em 6.9.2021) e / BLPL - Literatura Brasileira / UFSC. Disponível no link. (acessado em 6.9.2021).
:: Obras-primas da lírica brasileira. [seleção Manuel Bandeira; notas Edgar Cavalheiro]. Coleção A marcha do espírito, vol. XII. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1943.
:: As mais belas poesias brasileiras de amor. [seleção, prefácio e notas Frederico dos Reys Coutinho]. Rio de Janeiro, RJ: Editora Vecchi, 1946;  (autores presentes: Casimiro de Abreu, Luiz Delfino, Gonçalves Dias, Teófilo Dias, Cruz e Sousa, Osório Dutra, José de Santa Rita Durão, Alberto de Oliveira, Luíz Edmundo, Gilka Machado, Alceu Wamosy, Cleômenes Campos de Oliveira, Felippe d'Oliveira, Medeiros e Albuquerque, Humberto de Campos, Hermes Fontes, Adelino Fontoura, Martins Fontes, Olegário Mariano, Junqueira Freire, Gregório de Matos, Cecília Meireles, Francisco Otaviano, Vitoriano Palhares, Guimarães Passos, Murilo Mendes, Mário Pederneiras, Lúcio de Mendonça, Alvarenga Peixoto, Castro Meneses, Emílio de Menezes, Fagundes Varela, Vargas Neto, Possidônio Machado, Guilherme de Almeida, Emiliano Perneta, J. G. de Araújo Jorge, Maciel Monteiro, Carlos Góis, Vinicius de Morais, Francisco Karam, Luiz Murat, Tomás Antônio Gonzaga, Laurindo Rabelo, Alberto Ramos, Castro Alves, Adalgisa Nery, Alphonsus de Guimaraens, Bernardo Guimarães, Luís Guimarães Júnior, Amadeu Amaral, Abgar Renault, Carlos Drummond de Andrade, Goulart de Andrade, Mário de Andrade, Murilo Araújo, Machado de Assis, B. Lopes, Álvares de Azevedo, Artur Azevedo, Manuel Bandeira, Raul de Leoni, Adelmar Tavares, Augusto Frederico Schmidt, Augusto de Lima, Alberto Silva, Francisca Júlia da Silva, Joaquim Serra, Heitor de Oliveira Lima, Renato Travassos, Olavo Bilac, Raimundo Correia, Belmiro Braga, Cláudio Manuel da Costa, Zeferino Brasil, Ribeiro Couto, Gonçalves Crespo, Azevedo Cruz, Ronald de Carvalho, Vicente de Carvalho, Carmen Cinira, Moacir de Almeida).. {Contém os seguintes poemas de Adalgisa Nery: "A um homem" e "Estigma", p. 215-216} |  BLPL - Literatura Brasileira / UFSC. Disponível no link. (acessado em 6.9.2021).   
:: Brasileiros contra o Brasil. Antologia nacionalista | o Movimento Nacionalista Brasileiro Brasileiro. Vol. 1. [prefácio Gabriel Passos]. São Paulo: Editora Fulgor, 1958. (autores presentes: Adalgisa Nery, Caio Prado Junior, Elias Chaves Neto, Gondin da Fonseca, Osny Duarte Pereira, Oswaldo Costa, Paulo F. Alves Pinto e Pompeu Accioly Borges).
:: Sopram os ventos da liberdade. Antologia nacionalista | o Movimento Nacionalista Brasileiro Brasileiro. Vol. 2.  [prefácio Oswaldo Costa]. São Paulo: Editora Fulgor, 1959. (autores presentes: Adalgisa Nery, Américo Barbosa de Oliveira, Gondin da Fonseca, Gabriel Passos, Osny Duarte Pereira, Paulo F. Alves Pinto e Sérgio Magalhães).
:: Antologia dos poetas brasileiros. [organização Manuel Bandeira; nota editorial Alexei Bueno; introdução Walmir Ayala]. vol. 1, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. (autores presentes /vol. 1: Augusto dos Anjos, Amadeu Amaral, Gilberto Amado, Adelmar Tavares, Hermes Fontes, Lopes de Almeida, Olegário Mariano, Gilka Machado, Raul de Leoni, Múcio Leão, Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida, Oswald de Andrade, Mario de Andrade, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Ronald de Carvalho, Adalgisa Nery, Paulo Gomide, Jorge de Lima, Joaquim Cardozo, Ascenso Ferreira, Ribeiro Couto, Sérgio Millier, Raul Bopp, Dante Milano, Cecilia Meireles, Tasso da Silveira, Murilo de Araújo, Augusto Meyer, Mário Quintana, Emílio Moura, Carlos Drummond de Andrade, Abgar Renault, Murilo Mendes, Henriqueta Lisboa, Godofredo Filho, Pedro Nava, Pedro Dantas, Augusto Frederico Schmidt, Vinícius de Moraes, Lúcio Cardoso, Odilo Costa Filho).
:: Contos de escritoras Brasileiras. [org. Lúcia Helena Vianna e Márcia Lígia Guidin]. Coleção Prosa. São Paulo: Martins Fontes, 2003. {contém de Adalgisa Nery: "A gargalhada"}.
:: Metrópole à beira-mar: O Rio moderno dos anos 20. de Ruy Castro [capa Hélio de Almeida]. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. (Quem fez o Rio dos anos 20: Adalgisa Nery, Adhemar Gonzaga, Agrippino Grieco, Alvaro Moreyra, Aracy Cortes, Benjamin Costallat, Bertha Lutz, Bidu Sayão,o Carlos Chagas, Carmen Miranda, Cecilia Meirelles, Di Cavalcanti, Elsie Houston, Eugenia Alvaro Moreyra, Francisco Alves, Gilka Machado, Ismael Nery, Ismael Silva, J. Carlos o Jayme Ovalle, João do Rio, Laurinda Santos Lôbo, Lima Barreto, Manuel Bandeira, Mario Reis, Murilo Mendes, Orestes Barbosa, Oswaldo Goeldi, Patrocinio Filho, Pixinguinha, Procopio Ferreira, Ronald de Carvalho, Roquette-Pinto, Sinhô,o Théo-Filho, Vera Janacopoulous, Villa-Lobos).
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ArteAutorretrato com Adalgisa, de Ismael Nery | Coleção Instituto São Fernando - RJ.

ADALGISA NERY - OBRA TRADUZIDA
França
:: Au-delà de toi. Adalgisa Nery. Antologia. [éditée par Pierre Seghers; d´après la traduction de Francette Rio-Branco]. Paris: Éditions Seghers, 1952.

Em antologias (tradução e estrangeiras)
:: Poesía brasileña contemporânea (1920-1946): Crítica y antologia. [org. Gaston Figueira]. Montevideo: Instituto de Cultura Uruguayo-Brasileño, 1947.
:: Voces femeninas de la poesía brasileña: ensayo antológico. [org. e tradução Adovaldo Fernandes Sampaio]. Goiânia: Editora Oriente, 1979.
:: One Hundred Years after Tomorrow: Brazilian Women's Fiction in the Twentieth Century. [org. and translated Darlene J. Sadlier]. Bloomington: Indiana University Press, 1992 {contém de Adalgisa Nery: "Premeditated coincidence" / 'Coincidência premeditada'}.

Italiano (revista e site)
:: Adalgisa Nery tradotta da Emilio Capaccio. [Poesie]. In: Neobar, 12 maggio, 2019. Disponível no link. (acessado em 6.9.2021).
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ArteAdalgisa Nery, por Augusto Rodrigues. In. Suplemento Literário Diretrizes (s.i). n. 8, 1940.

CONDECORAÇÃO
1952 - Ordem da Águia Asteca (Orden del Águila Azteca), concedida pelo Governo Mexicano - por suas conferências sobre a poeta Juana Inés de la Cruz -1651? - 1695. [torna-se a primeira mulher a receber a mais alta condecoração mexicana].


"A vida tem para mim formas infinitamente variadas em que a poesia sempre se manifesta com a mesma grandeza e o mesmo intenso colorido. Leva-me aos cumes mais altos do universo e atira-me às profundezas mais escuras das dolorosas regiões."
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 2016.

DISCO / LP 'POESIAS - CASSIANO RICARDO / ADALGISA NERY' 


Álbum "Poesias Cassiano Ricardo - Adalgisa Nery" | LP 10"  Vol. VIII | Selo Festa (1956)

Álbum "Poesias Cassiano Ricardo - Adalgisa Nery" | LP 10", 33 ⅓ RPM, Vol. VIII | Selo Festa (cat. LPP 008) | 1956


- poemas -
1. Ode pastoril (Cassiano Ricardo)
2. Os paraquedistas (Cassiano Ricardo)
3. A flauta que me roubaram (Cassiano Ricardo)
4. Plano inclinado (Cassiano Ricardo)
5. O cacto (Cassiano Ricardo)
6. A consentida (Adalgisa Nery)
7. Ensinamentos (Adalgisa Nery)
8. Poema da amante (Adalgisa Nery)
9. Carta de amor (Adalgisa Nery)
10. Eu te amo (Adalgisa Nery)
11. Repouso (Adalgisa Nery)
12. A mulher triste (Adalgisa Nery)
13. Força (Adalgisa Nery)
- ficha técnica - 
Recitado (declamado) pelos próprios artistas: Faixas 1 a 5 (Lado A) por Cassiano Ricardo | Faixas 6 a 13 (Lado B) por Adalgisa Nery | Direção: Irineu Garcia e Carlos Ribeiro | Texto (contracapa): Valdemar Cavalcanti | Capa: Aldary Toledo. 
* Disponível no youtube canal do Selo Festa Irineu Garcia. Link. (acessado em 4.9.2021).


"O otimismo não é senão viver unicamente o que desejamos que aconteça de agradável num futuro de dados desconhecidos." 
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 2016.


DOCUMENTÁRIO
Filme: Ismael e Adalgisa
Docudrama | curta-metragem | 35mm | 34 min. | Cor |  Brasil | 2001
Sinopse: As cores fortes do simbolismo do pintor e filósofo Ismael Nery (1900-34) se misturam à combativa poetisa, escritora e jornalista Adalgisa Nery (1905-80), sua esposa, deputada socialista cassada pelo AI-5, tendo Murilo Mendes (1901-75) como vértice deste fascinante triângulo intelectual.
- ficha técnica -
Direção: Malu De Martino
Roteiro: Pedro Rosa
Elenco: Bruno Garcia, Christiane Torloni, Emmanuel Nery, Marília Medina, Murilo Rosa, Samantha Nery
Produção: Ricardo Gringo Machado
Produção executiva: Clélia Bessa
Direção fotografia: Renato Padovani
Direção arte: Zilda Moschkovich
Trilha sonora: André Moraes
Produtora: Raccord Produções
* Disponível no youtube. link. (acessado em 29.8.2021).
** Ficha técnica: Cinemateca Brasileira (acessado em 25.5.2013).


"A vida em todas as suas manifestações de alegrias e dores é a forma, a encarnação de uma coisa que desconhecemos. Sentimos sempre que essa forma é frágil e incerta, mas há também em nós um receio quase infantil de desaparecer sem deixar um vago traço."
- Adalgisa Nery, no livro “A imaginária”. Editora José Olympio, 1957.

Adalgisa Nery - poeta, romancista, contista, jornalista e política

POEMAS ESCOLHIDOS DE ADALGISA NERY


Anseio
Quero que desça sobre mim a grande sombra que alivia,
Aquela que arranca do meu coração a revolta que me impede de ser mansa.
Quero descansar...
Quero encontrar aquele que é mais belo que o sol,
Que aumenta o meu sofrimento e que ajuda na minha redenção,
Que reparte suas angústias comigo para que lhe sirva de auxílio.
Quero ouvir a sua voz que é como a música dos mares,
Quero acolher-me na sua sombra e abraçar-me aos seus joelhos...
Quero descansar sem demora...
Quero chegar o tempo da minha última lágrima
ser recolhida dos meus olhos pisados e saudosos
Por aquele que é o molde dos poetas, o que se veste com as estrelas que meus olhos
ainda não vêem.
- Adalgisa Nery, in: Dom Casmurro, Rio de Janeiro, 19 ago. 1937, p. 2.

§§

Aspiração
Antes que vingue outra esperança
Quero as sombras do branco espesso.
Antes que mais uma insônia se cumpra
Quero o torpor no abismo indecifrável
Do espírito amortalhado.
Antes que o pensamento acorde
E descubra os espaços petrificados,
Quero narcotizar-me sem sonhos
E deitar-me no mundo sem sombras,
Sem palavras nem gestos.
Antes que alguma crença me recolha,
Antes que eu entenda o obscuro,
Antes que o sensível me assalte,
Antes que eu distinga na lonjura
A morte da estrela cintilante,
O êxtase da solidão vertical,
Quero ser coisa sem motivo
Entregue aos ventos sem destino.
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.

§§

A paisagem de amanhã
Ânsia de paz de noites desertas,
Desejo de sentir o tranquilo positivo
Nas intenções indevassáveis,
Na voz acima de todos os sons,
Acima do estrondo universal da bomba fratricida.
Ânsia de repouso final
No exaspero de mãos unidas pelo medo,
Pânicos imprevistos
Calando todos os instantes, todas as idades,
Chorando o nosso jamais.
Olhos outrora amigos
Impercebem em pastoso sangue.
Que gerações sofridas surgirão
Na espessa aflição de tão grandes mares
De ódio, ambição, vingança
Agora vêm dos ossos à procura do sexo,
Fúria de possessão inexplicável
Invade o campo de alheias propriedades
Lavradas no crime
E plantadas por tiranas mãos,
Heróis do século repetindo o que os outros foram.
Energias, vidas, mocidades
Flutuando sem rumo nas glórias e nas medalhas
Da nação em queda vertical solo abaixo
Cérebros falidos comandando existências em floração,
Numerando interminável esteira
De vassalos de línguas arrancadas.
Braços sem dono, ventres desapropriados,
Espíritos transformados em detritos pestilentos
Alimentam o tétrico destino
Da técnica contra o homem.
As estradas já não pertencem aos pés mansos,
O veio da riqueza, em mãos feudais.
No paralelo de horizonte sombrio
Levanta-se o vulcão que derrubará presídios e asilos
Para criar o grande rio de mortos putrefatos.
Não haverá tropas guerreiras contra ninguém
Apenas climas não sentidos dentro de atmosferas mortas
Desprezadas pelo vento livre.
E no âmago do âmago
O pranto medroso da futura criança
Presa ao ventre da terra,
E a revolta do jovem mudo,
São figuras oscilando nas trevas da Criação.
No profundo dos tempos
A ordem técnica recua medrosa,
Ouve o grito severo
Trazido pelo ar que balançou os corpos enforcados.
No fim, o estupro de cada homem
Violentado pela técnica
Dos inventos de guerra.
Em torno de todas as mortes
A vida, em minúsculas centelhas,
Forçará as trevas
Que cobrem o homem eternamente insepulto.
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.

§§

A poesia se esfrega nos seres e nas cousas
Nunca sentiste uma força melodiosa
Cercando tudo o que teus olhos vêem,
um misto de tristeza numa paisagem grandiosa
Ou um grito de alegria na morte de um ser que queres bem?
Nunca sentiste nostalgia na essência das cousas perdidas
Deparando com um campo devoluto
Semelhante a uma viagem esquecida?
Num circo,nunca se apoderou de ti um amargor sutil
Vendo animais amestrados 
E logo depois te mostrarem 
Seres humanos imitando um réptil?
Nunca reparaste na beleza de uma estrada
Cortando as carnes do solo
Para unir carinhosamente
Todos os homens, de um a outro pólo?
Nunca te empolgaste diante de um avião,
Olhando uma locomotiva, a quilha de um navio,
Ou de qualquer outra invenção?
Nunca sentiste esta força que te envolve desde o brilho do dia
Ao mistério da noite,
Na extensão da tua dor
E na delícia da tua alegria?
Pois então, faz de teus olhos o cume da mais alta montanha
Para que vejas com toda a amplitude
A grandeza infindável da poesia que não percebes

E que é tamanha!
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.

§§

A razão de eu me gostar
Eu gosto da minha forma no mundo
Porque representa uma fagulha,
Porque mostra um instante doce e perverso
Da ideia, do gesto e da realização
De Deus no Universo.
Eu gosto dos erros que pratico
Porque vejo a pureza colocada na minha essência
Desde o Início
Lutar contra todo o mal que em mim existe
E ser tão maior, que sobre a minha miséria
Ela ainda persiste
Eu gosto de espiar
O meu olho direito
Ver o esquerdo chorar,
De sentir a minha garganta se enrolar de dor
Porque em troca de tanta cousa dolorosa
Ele construiu em mim uma cousa gloriosa,
Que é o amor.
- Adalgisa Nery,  no livro "A Mulher Ausente", José Olympio Editora, 1946.

§§

A rota
O mundo pulveriza-nos sem revelar
Seus intuitos secretos.
A vida é contemplá-los nos seus gestos mais sutis
E sentir nas águas profundas
O que de cada destino foi escrito
Nos penhascos dos mares agitados.
No vácuo do espírito
Anda a forma sem direção
Por caminhos já pisados
E inseguros são os passos repetidos.
Nem sempre o olhar mais aberto
À procura da estrada de nós mesmos
Torna o espírito mais desperto.
Vivemos nos penhascos dos mares agitados.
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.

§§

A essência imutável
Entre a estrela e o átomo
A matéria viva estabelece o traço original.
A fotossíntese realiza a assimilação
Da energia solar do homem,
Mecanismo-alimento da força biológica
Existente no grão de luz que ronda o corpo inanimado
Vindo da semente viajante dos ventos programados.
Cubos-pedra lançam o elétron
De uma órbita a outra dos planetas tranquilos
E voltam à origem do cansaço.
Desencadeia-se o calor que mata,
O mecanismo complica-se,
O elétron muda de órbita
E a sua volta é seguida de reações em cadeia
Para aniquilar o homem caminhante
Das estradas indecisas.
As múltiplas diferenças de forças
Convocam a origem da vida em cada rumo da poeira ardida
Enquanto a procissão do grande mecanismo
Mostra em todos os níveis, em todas as gamas da existência,
A sua ativa regulagem
Que ainda é mistério para o homem aniquilado
Pela surpresa do nada saber
Além das suas carnes esfarrapadas pela infinita agonia.
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.

§§

Abandono
A exaustão faminta 
Procura elementos ainda vivos no meu ser 
Talvez guardados em escuros vácuos 
Que carrego sem saber. 
Alimenta-se do sopro das imagens 
Desenhadas pela minha imaginação 
Pelo tato dos meus sentimentos, 
Pelo pânico do desconhecido. 
Aparece como febre constante dilatando as minhas carnes 
Descoloridas e sem sabor de vida. 
A exaustão sobe pelos meus pés, 
Cobre os meus gestos incipientes, 
Prende a minha língua, 
Suga o meu cérebro, ninho de aranhas em fogo, 
Pousa no meu cabelo como morcego. 
Exaustão que funga o ar, que saqueia o meu silêncio, 
Último repouso nos meus vácuos devassados. 
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.

§§

Cantiga de ninar
Repousa. Descansa. Virá um dia um vento
Que arrancará a tua balançada alma do teu corpo
E jogará a tua balançada alma do tempo.
Que levará teus braços para as nuvens distantes
E deixará tranqüila tua orelha
À borda das águas cantantes.
Um vento suave como a caricia de uma doce mão
Que se envolverá no brilho dos teus cabelos
Que descerá desde o teu cérebro
Até o fundo do teu amargurado coração.
Cairá sobre ti, como a noite sobre a mata e sobre as flores
Desdobrará as formas dormidas
Deitar-se-á sobre teus sentidos
E estancará tuas dores.
Um vento que levará para a eterna distância
Os dolorosos solavancos de teu espírito
E os pedaços melancólicos de tua infância.
Repousa. Descansa. Aconchega no sono teus pensamentos
Que este vento chegará, não falta muito
Transformará em luz a tua treva,
Dentro de rapidíssimos momentos.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.

§§

Adalgisa Nery, por Ismael Nery (década 30)
Canção para dentro
A canção do corpo é cantada para dentro
E a leveza da alegria se transmuda em peso,
A brisa adere aos amargos pensamentos
Fluindo no sorriso compassivo.
Logo,
Surgindo de células desamadas
Os matizes áureos anoitecem,
Pálpebras levantadas vão caindo
E nesgas apenas vislumbramos,
Geografias em nós morrendo,
Oceanos crescendo, ilhas sumindo,
Rosas nascendo na canção
Que o corpo canta para dentro.
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.

§§

Cemitério Adalgisa
Moram em mim 
Fundos de mares, estrelas-d′alva, 
Ilhas, esqueletos de animais, 
Nuvens que não couberam no céu, 
Razões mortas, perdões, condenações, 
Gestos de amparo incompleto, 
O desejo do meu sexo 
E a vontade de atingir a perfeição. 
Adolescências cortadas, velhices demoradas, 
Os braços de Abel e as pernas de Caim. 
Sinto que não moro. 
Sou morada pelas coisas como a terra das sepulturas 
É habitada pelos corpos. 
Moram em mim 
Gerações, alegrias em embrião, 
Vagos pensamentos de perdão. 
Como na terra das sepulturas 
Mora em mim o fruto podre, 
Que a semente fecunda repetindo a vida 
No sereno ritmo da Origem. Vida e morte, 
Terra e céu, Podridão, germinação, 
Destruição e criação. 
- Adalgisa Nery, no livro "Poemas, José Olympio Editora, 1937. 

§§

Eterno tédio
Muitas vezes esgotando o meu destino
Com o olhar em pranto
E o coração pungente como um dobrar de sino,
Ouço ruídos seculares que unem como um canto,
Crescendo de intensidade,
Mergulhando os meus sentidos
Na maior profundidade!
Muitas vezes, considerando a vida
Com desumana indiferença,
Por toda a esperança perdida,
Pelo abrir de um riso, por todo o bem, por toda a crença,
Sinto o meu viver humilhado,
Vejo o meu nada quase demasiado,
Que nem chega a ser pecado.
E o tédio em toda a amplidão
Cai sobre mim.
- Adalgisa Nery, in: Revista Atlântico – Revista Luso-brasileira, n 1, Primavera de 1942.

§§

Escultura
Eu já te amava pelas fotografias.
Pelo teu ar triste e decadente dos vencidos,
Pelo teu olhar vago e incerto
Como o dos que não pararam no riso e na alegria.
Te amava por todos os teus complexos de derrota,
Pelo teu jeito contrastando com a glória dos atletas
E até pela indecisão dos teus gestos sem pressa.
Te falei um dia fora da fotografia
Te amei com a mesma ternura
Que há num carinho rodeado de silêncio
E não sentiste quantas vezes
Minhas mãos usaram meu pensamento,
Afagando teus cabelos num êxtase imenso.
E assim te amo, vendo em tua forma e teu olhar
Toda uma existência trabalhada pela força e pela angústia
Que a verdade da vida sempre pede
E que interminavelmente tens que dar!...
- Adalgisa Nery, no livro "Mulher Ausente", José Olympio Editora, 1940.
  
§§

Eu em ti
Desejaria estar contigo quando eras no pensamento de Deus,
Quando tua mãe te concebeu e te alimentou com sua vida,
Desejaria estar contigo na primeira vez que distinguiste as formas,
[as cores e os sons,
Na tua primeira lágrima eu quisera estar contigo e assim na tua
[primeira alegria,
Desejaria estar contigo na tua infância e na tua adolescência,
[acompanhando as transformações do teu físico.
Ao teu lado desejaria estar quando, do teu corpo, constataste as
[primeiras células reprodutoras.
No teu primeiro pudor e no teu primeiro carinho eu quisera estar
[a teu lado,
Desejaria estar contigo na noite de tuas núpcias e no momento em
[que te uniste a outra mulher com o
[pensamento no teu primeiro filho.
Desejaria estar contigo no primeiro vestígio de tua velhice
E ainda desejaria estar contigo no momento da separação de
[tua alma,
Na decomposição de tuas carnes, do teu cérebro, de tua boca,
[do teu sexo,
Para poder continuar contigo, no mundo sem espaço e sem tempo.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.

§§

Fantasmas
Lívidos fantasmas deslizam nas horas perdidas 
Chegam à minha alma 
E como sombras da noite 
Levantam os meus ímpetos mortos 
Desatando as ligaduras do tempo. 
O luar da madrugada fria cai no meu rosto 
E ilumina com branda amargura 
O meu espírito que espera a hora insolúvel. 
Os caminhos cobrem-se de homens que dormem na morte 
E cresce no meu coração um desejo incontido 
Para uma união mais forte, mais intensa e mais perfeita. 
A minha pupila é banhada pela enorme lágrima 
Que umedecerá o solo castigado. 
A lágrima que levará ternura às existências sofridas, 
A lágrima que se mudará em sangue, 
Que levantará a vida morta do universo! 
- Adalgisa Nery, no livro "Cantos da Angústia", José Olympio Editora, 1948.

§§

Instante
O espanto abriu meu pensamento
Com idioma vindo do delírio,
Dos receios indefesos, dos louvores sem raízes,
No perdão oferecido sem razão.
O espanto abriu meu pensamento
Na noite carregada de lamentos
Em linguagem universal
Fluindo do eco perdido
Com passos de presságio amanhecendo.
Corpos florindo na pele da terra
Acendendo vida nas rosas e nos vermes,
Aumentando a potência do limo,
Preparando a primavera nos campos,
Ventres irrigando secas raízes,
Cogumelos róseos crescendo
Na umidade das faces.
Coagulação de prantos na semente
Das constelações adivinhadas.
E no faminto inconsciente, o tempo
Sorvendo com fúria o seu sustento
No insondável silêncio de mim mesma.
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.
  
§§

Mistérios
Há vozes dentro da noite que clamam por mim,
Há vozes nas fontes que gritam meu nome.
Minha alma distende seus ouvidos
E minha memória desce aos abismos escuros
Procurando quem chama.
Há vozes que correm nos ventos clamando por mim.
Há vozes debaixo das pedras que gemem meu nome
E eu olho para as árvores tranquilas
E para as montanhas impassíveis
Procurando quem chama.
Há vozes na boca das rosas cantando meu nome
E as ondas batem nas praias
Deixando exaustas um grito por mim
E meus olhos caem na lembrança do paraíso
Para saber quem chama.
Há vozes nos corpos sem vida,
Há vozes no meu caminhar,
Há vozes no sono de meus filhos
E meu pensamento como um relâmpago risca
O limite da minha existência
Na ânsia de saber quem grita.
- Adalgisa Nery, no livro "Cantos da Angústia", José Olympio Editora, 1948.

§§

Retrato de Adalgisa , por Ismael Nery, 1924 | Coleção Particular 
Mulher
Na face, a geografia da angústia,
Dos pânicos e das medrosas alegrias.
Cada ruga é um presságio.
E auréola da aflição constante
O esplendor dos cabelos brancos.

Uma só raiz para frutos diversos,
Uma só vida para destinos tão complexos,
Um só pranto para dores tão diversas.

O útero que gera o herói, o sábio, o poeta,
O santo, o miserável e o assassino.
Uma só raiz para frutos tão diversos!

O dom da paz em cada gesto
Cai como noites quietas
Sobre a alma em rancor,
Amor acima do amor.
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.

§§

Nostalgia do impreciso
Ao fechar de olhos para o sono
Aromas de pânico e de dores,
Aromas de errantes chuvas
Transportando montanhas, vales,
Atravessando ventos,
Pousando em instantes tão diversos,
Chamando medos
E exílios de vontades.
Aromas vasculhando a vida,
Engendrando noites no vazio,
Escapando de raízes em tumulto,
De pedras milenares em silêncio,
E de símbolos sem forma
Nascidos de pensamentos mutilados.
Aromas de carne e flor,
De chão e fonte,
De gestos tatuados no espaço,
De galeras rumo ao centro-mar
Em busca de estrelas excedentes
Aromas de grão e de criança
Cobrindo as coisas repetidas,
Fazendo-se pólen no infinito virgem.
Aroma-plasma de invitações
Ao canto, à flor, ao pranto,
Ao entrelaçamento de mãos desprotegidas
No temor de quedas sinuosas.
Ao fechar de olhos para o sono
Aromas de mistério,
Fracas luzes se abrindo
No mundo de silêncios e de símbolos
Dando vida à vida que vai fugindo.
- Adalgisa Nery,  No livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.

§§

O país do poeta
A paisagem tem cores do avêsso
E as estrelas sobem pelas montanhas como veias
Aguando um seio de mulher.
As quatro línguas do vento
Conversam sobre o amor, o ódio, a vida e a morte.
Os arcanjos cruzam o firmamento de lado a lado,
Os pássaros soluçam como inconsoláveis viúvas.
Os peixes cantam como rouxinóis nas ramas floridas.
Um sirena lamenta-se no corte da noite
E o ruído de possantes motores trepidam o eixo universal
Como o nascimento de um vulcão.
As flores dos jardins cercados são orvalhadas como lágrimas inocentes

E da lua de São Jorge montado no seu cavalo branco
Para velar os mortos e os desesperados.
Um sentimento de pureza sobre o olhar dos arrependidos,
As mães alimentam seus filhos com flores,
Os amantes realizam a interpenetração das almas
E seus corações caem no chão como punhados de cinza.
A tragédia vive entre a boca dos velhos e o olhar do recém-nascido
E o choro do que um dia será assassino é ouvido ao ventre da noite.

O poeta escreve poemas no solo
E a terra grávida recompensa com flores, frutos e nascentes.
Na hora da penumbra abre-se uma grande boca no firmamento
Dizendo sobre o juízo final.
Sob a luz da lua o poeta colhe os lírios entreabertos
E sai guarnecendo sepulturas de noivas ignoradas.
Um resplandecente globo ocular
Desce sobre a paisagem
E procura encontra a Amada e a Morte.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.

§§

Paisagem
Restam nos meus olhos
Séculos de planícies áridas
E o vento ríspido que trouxe as lamentações
Das sombras agitadas
Sobre os pântanos desconhecidos
Distantes estão os caminhos
Onde eu encontraria a suprema fraqueza
Para vergar os meus joelhos
E deitar no pó a minha boca moribunda
Invisíveis estão as estrelas
Que me levariam a contemplar os céus abençoados.
E só espaços sem medida
Onde a música da noite
É livre sobre os pensamentos em sono.
Desconhecida para mim a praia onde eu me deitaria
De olhos cerrados e sentiria
O último movimento da onda
Balançar os meus pés
Como as algas sem direção.
Como os detritos rejeitados pela pureza do mar.
Restam dentro da minha sombra
Fragmentos de agitações de outras vidas
Plantadas no meu grito de revolta
Que eu não libertarei
Até que no deserto universal
A flor de um cardo movimente
A paisagem silenciosa.
- Adalgisa Nery, no livro "Cantos da Angústia", José Olympio Editora, 1948.

§§

Poema da amante
Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.

Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita do tempo
Até a região onde os silêncios moram.

Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.

Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
Em tudo que ainda estás ausente.

Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.

Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.

§§

Poema de amor
Ouve-me com teus olhos
Porque minha queixa é muda.
Acaricia-me com teu pensamento
Porque meu corpo está imóvel.
Beija-me com tuas mãos
Porque minha boca te espera.
Fala-me com o silêncio dos momentos de amor
Porque os ouvidos da minha vida
Se abrirão como as flores

Na úmida e infinita madrugada.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.

§§

Poema essencialista
Sinto o conteúdo da existência.
Procuro ultrapassá-lo com enorme exaltação poética,
Rompo as grades do mundo com o espetáculo das formas,
Dos sons e das cores.
Tudo me afoga em nostalgia de outras eras,
De outras vidas que cristalizaram
As tendências da minha infância.
A utilização das coisas plásticas
Altera o equilíbrio da visão.
Distribuo pelos quatro cantos do meu espírito
A essência imortal.
Fragmento seguidamente o meu interior
Fazendo doações físicas.
Dentro do meu limite há montões de estrelas apagadas,
Pensamentos que não andaram
Senão com o sopro de Deus.
Quero destruir para tentar construir.
A criação vive no ângulo do meu cérebro
Mas sei que serei vencida
Pela limitação das realizações humanas.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.

§§

Poema natural
Abro os olhos, não vi nada 
Fecho os olhos, já vi tudo. 
O meu mundo é muito grande 
E tudo que penso acontece. 
Aquela nuvem lá em cima? 
Eu estou lá, 
Ela sou eu. 
Ontem com aquele calor 
Eu subi, me condensei 
E, se o calor aumentar, choverá e cairei. 
Abro os olhos, vejo um mar, 
Fecho os olhos e já sei. 
Aquela alga boiando, à procura de uma pedra? 
Eu estou lá, 
Ela sou eu. 
Cansei do fundo do mar, subi, me desamparei. 
Quando a maré baixar, na areia secarei, 
Mais tarde em pó tomarei. 
Abro os olhos novamente 
E vejo a grande montanha, 
Fecho os olhos e comento: 
Aquela pedra dormindo, parada dentro do tempo, 
Recebendo sol e chuva, desmanchando-se ao vento? 
Eu estou lá, 
Ela sou eu. 
- Adalgisa Nery, no livro "Poemas", José Olympio Editora, 1937. 

§§

Poema simples
Deixa-me recolher as rosas que estão morrendo nos jardins da noite,
Deixa-me recolher o fruto antes que este volva as raízes da terra,
Deixa-me recolher a estrela úmida
Antes que sua luz desapareça na madrugada,
Deixa-me recolher a tristeza da alma
Antes que a lágrima banhe a pálpebra
Do órfão abandonado e faminto,
Deixa-me recolher a ternura parada
No coração da mulher que desejou ser mãe.
Deixa-me recolher a esperança dos que acreditam,
Recolher o que ainda não passou
E mais do que tudo dá-me a recolher
A palavra de amor e de doçura para que reparta
Com os ouvidos que esperam como uma gota de mel
Caindo na alma e no coração,
Como a única luz dentro de tanta escuridão.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes",  José Olympio Editora, 1962.

§§

Repouso
Dá-me tua mão 
E eu te levarei aos campos musicados pela canção das colheitas 
Cheguemos antes que os pássaros nos disputem os frutos, 
Antes que os insetos se alimentem das folhas entreabertas. 
Dá-me tua mão 
E eu te levarei a gozar a alegria do solo agradecido, 
Te darei por leito a terra amiga 
E repousarei tua cabeça envelhecida 
Na relva silenciosa dos campos. 
Nada te perguntarei, 
Apenas ouvirás o cantar das águas adolescentes 
E as palavras do meu olhar sobre tua face muito amada. 
- Adalgisa Nery, no livro "As Fronteiras da Quarta Dimensão", José Olympio Editora, 1951. 

§§

Silêncio
Nas mãos inquietas
Cansadas esperanças
Tateando formas na luz ausente,
Nos olhos embrumados
A viva cruz do alívio,
Na boca imobilizada
A palavra amortalhada.
E à tona da fugaz realidade
O mistério das surpresas superadas.
Paisagem de espaços, e fantasmas
Ordenam não falar, não morrer,
Ouvir sem conduzir o pensamento,
Viver os vazios lúcidos
Entre a palavra e o som
Do coração a bater.
Resta apenas a flutuação ociosa
Livre das coisas da memória, da discordância
Das idéias obsessivas
Que escondidas estavam
Como fantásticos tesouros
Em frágeis e indefesas mãos.
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.

§§

Adalgisa Nery, por Ismael Nery, 1928
Solidão
O espírito da tempestade que executa a minha palavra
Partiu
E minha forma assim abandonada
Caiu.
Vieram depois a aflição e a agonia
E cresceram em mim
Como a aurora e o dia.
E se eu quisesse contar, homens irmãos,
Desde quando meu coração está isento de alegria,
Acreditem,
Não poderia.
Há muitos séculos mora em mim
Uma noite muito escura, muito fria.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.

§§

Ternura
Antes que eu me transforme em água
E corra com os rios
Cantando para as florestas escuras
A canção sublime
Deixa-me contemplar tua face amada
Para que a canção se eternize.
Antes que os meus olhos se transformem
nos minúsculos vermes
Que movimentam o solo
Deixa-me receber a luz de tua boca
Para que eu me ilumine como as estrelas
No infinito da noite.
Antes que minhas mãos se mudem nas pedras das montanhas
Por onde caminharão os jovens pastores
Deixa-me afagar teus cabelos
Para que meu carinho se transforme na brisa
Que beija os grandes trigais.
Antes que minha forma sirva junto às raízes
Para amadurecer os frutos
Guarda-me na música de teu corpo
Para que o mistério do amor
Baixe sobre o universo
E banhe os espíritos perturbados.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.

§§

Vivência
Começamos a viver
Quando saímos do sono da existência,
Quando as distâncias se alongam nas partículas do corpo.
Começamos a viver
Quando confusos e sem consolo
Não sentimos os traços do irmão perdido.
Quando antes da força
Surge a sombra do insignificante.
Quando o sono é transformado em sonhos superados,
Quando o existir não é contradição.
Começamos a viver
Quando percebemos a mutação das células,
Quando fugimos de dentro de nós mesmos
E escondemos a nossa carne num caramujo oco.
Quando o espírito falsificado esquece
As tortuosas estradas
E quando deixamos de ser escaravelhos laboriosos.
Começamos a viver
Quando velamos além do sono
A vida irreal dos nossos passos.
- Adalgisa Nery, no livro 'Erosão', José Olympio Editora, 1973.

****

“A poesia dela é marcada por um tom grandiloquente, fervoroso. Seus versos tratam do cotidiano do homem comum e também da força do cosmo. Há um movimento paradoxal em sua poesia, intenso, que une o natural ao sobrenatural, a preocupação social ao erotismo. Trata-se de uma obra irregular, sem qualquer dúvida, mas com excelentes poemas. Uma obra que deve ser republicada e sofrer uma reavaliação crítica sobretudo em relação ao contexto da literatura brasileira daquele período, com Cecília Meireles, Jorge de Lima, Murilo Mendes e Vinicius de Moraes, que podem revelar alguma aproximação com a poética de Adalgisa Nery.”
- Eduardo Coelho, do Arquivo-Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa.



"As portas do meu ser, lentamente, se abrem e despejam na imobilidade da noite todas as imagens que participaram dos meus erros e dos meus acertos ocasionais. Elas se levantam impiedosas, confabulam, discutem a minha pessoa humana, apalpam as minhas carnes sofridas, fazem perguntas irrespondíveis e depois largam-me desunida de mim mesma. Num trágico sentido de matéria desprezível, no fundo do meu raciocínio há qualquer obstáculo intransponível que me impede fixar se esse desterro, em que estou jogada, é oriundo de alguma palavra, gesto recente ou remoto. Numa paralisação completa sinto o movimento das raízes da minha origem procurando alcançar o meu pensamento. O vigor da vontade sobre a integridade dos meus sentidos se esfacela na luta de analisar os vagos traços de ligação na soma de experiências, erros e ímpetos mal distribuídos durante a minha vida, que, afinal, está resumida apenas numa simples contagem de anos."
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 1957.


FORTUNA CRÍTICA DE ADALGISA NERY

[Adalgisa Nery teses e dissertações;  livros, ensaios e artigos] 

ABREU
, Alzira Alves de. (org.) A imprensa em transição: o jornalismo brasileiro nos anos 50. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1996.
ADALGISA Nery. In: Antonio Miranda, s. data. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).
ADALGISA Nery. (traços biobibliográficos).  In: Letras In.Verso e Re.Verso, 11 de março de 2008. Disponível no link. (acessado em 6.9.2021). 
ADALGISA Nery (1905-1980). In: Mulher 500. s./data. Disponível no link. (acessado em 6.9.2021).
ADALGISA Nery. Retrato sem retoque: António Botto. In: Última Hora, Rio de Janeiro, 25 ago. 1956, p.3.
AMARAL, Aracy A.. Textos do trópico de Capricórnio: Modernismo, arte moderna e o compromisso com o lugar. vol. 1. Rio de Janeiro: Editora 34, 2006.
AMARAL, Azevedo (dir.). Romance do Dr. Harvey Leith - A. J. Cronin - tradução de Adalgisa Nery - Livraria José Olympio Editora - Rio. In: Novas Diretrizes (revista mensal), nº 19, Ano III, Rio de Janeiro, maio de 1940 | Coleção Digital de Jornais e Revistas / Memória BN Digital / Biblioteca Nacional. Disponível no link. (acessado em 3.9.2021).
ANDRADE, Carlos Drummond de.. Adalgisa, a indômita. Jornal do Brasil, 14 jun., 1980.
ANDRADE, Mário de.. A mulher ausente. In: ______. O empalhador de passarinho. 3ª ed. São Paulo: Martins; Brasília, INL, 1972.
ANDRADE, Mário de.. O empalhador de passarinho. 3ª ed., São Paulo: Martins, 1972. p. 228-229.
ATHAYDE, Austregésilo de. Neblina, de Adalgisa Nery. In: Correio Braziliense, 1973.
BANDEIRA, Manuel. "A Poesia em 37". Crônicas Inéditas 2 (1930-1944).. [org. Júlio Castañon Guimarães]. São Paulo: Cosac Naify, 2009. {Publicação original: Crônicas da província do Brasil, 1937}.
BRANDÃO JUNIOR, Geraldo Gomes. Diálogos: a construção da femme fatale e seus reflexos em Ismael Nery e Murilo Mendes. (Dissertação Mestrado em Ciências Humanas). Universidade de Santo Amaro, UNISA, 2017. Disponível no link. (acessado em 4.8.2021).
BRASIL, Bruno. Adalgisa: Augúrio, alento, amor. In: BN Digital, seção Literatura, 7 de junho de 2021. Disponível no link. (acessado em 3.9.2021).
BRASIL, Bruno. Adalgisa Nery, poeta e jornalista combativa. In: Biblioteca Nacional, 7 de junho de 2020. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).
BRAZILIAN women writers: Olga Maynard, Syang, Zélia Gattai, Adalgisa Nery, Maria José Dupré, Joyce Cavalccante, Urda Alice Klueger, Vira Vovk, Lygia Fagundes Telles, Elsie Lessa, Nélida Piñon, Rachel de Queiroz, Astrid Cabral, Eliane Cantanhêde. General Books, 2010.
CALLADO, Ana Arruda. Adalgisa Nery. Muito amada e muito sóColeção Perfis do Rio, v. 24. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura / RioArte; Relume Dumará, 1999.
CAMPOI, Isabel Candeloro. Adalgisa Nery e as questões políticas de seu tempo - 1905-1980. (Tese Doutorado em Historia Social). Universidade Federal Fluminense, UFF, 2008. Disponível no link. (acessado em 25.5.2013).
CAMPOI, Isabel Candeloro. A coluna política de Adalgisa Nery no Jornal Última Hora e a crise pré - 1964 no Brasil. In: Antíteses, vol. 10, n. 19, jan.-jun., 2017, p. 211-237. Disponível no link. (acessado em 6.9.2021).
CAMPOI, Isabel Candeloro. A trajetória biográfica de Adalgisa Nery: contribuições para a formação da jornalista e deputada. Anais do VII Seminário Fazendo Gênero, 28, 29 e 30 de 2006. Disponível no link. (acessado em 25.5.2013).
CAMPOI, Isabel Candeloro. Adalgisa Nery e a última hora: do jornalismo ao parlamento da Guanabara. Disponível no link. (acessado em 25.5.2013).
CATÁLOGO. Ismael Nery - em busca da essência. [curadoria Denise Mattar; textos Denise Mattar e Tadeu Chiarelli]. AD Almeida e Dale, 28 de outubro a 12 de dezembro de 2015. Disponível no link. (acessado em 4.9.2021).
CORDEIRO, André Teixeira. Pássaros de carne e lenda: a poesia plástica de Ismael Nery e Murilo Mendes. (Tese Doutorado em Literatura Brasileira). Universidade São Paulo, USP, 2008. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).
CORDEIRO, André Teixeira. As cabeças voadoras têm vozes dissonantes: Murilo e Adalgisa contam a história de Ismael Nery. LL Journal, v. 6, p. 30-45, 2011. Disponível no link. (acessado em 25.5.2013).
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Arte: (1) Retrato Adalgisa Nery, por Diego Rivera, 1945 | Coleção Sr. Rafael Maraeyna


"Nunca fui e jamais me esforcei para ser boa. Todo o meu trabalho tem sido para ser compreensiva. O sentimento de bondade da natureza humana, a meu ver, sempre foi uma das deploráveis e sórdidas ilusões com que contamos para enfrentar julgamentos e guarnecer a vida. Em essência, essa ilusão só nos dá prejuízos. É uma manifestação de fundo egoístico. Praticamos a bondade com intenção dirigida, para que mais tarde possamos receber em troca alguma coisa. O céu ou o reconhecimentos dos nossos semelhantes." 
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 2016.


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ADALGISA NERY NOS TRAÇOS E PINTURAS DE ARTISTAS


Retrato Adalgisa Nery, por Candido Portinari, 1940

Retrato Adalgisa Nery, por Candido Portinari, 1934.

Adalgisa Nery, por Guignard. In: Carioca, n. 212, p. 8, 4.11.1939.


Retrato de Adalgisa, de Ismael Nery, s.d | Coleção particular - SP

Adalgisa Nery por Frida Khalo / no diário de Frida, déc. 40. In: KAHLO, Frida. O diário de Frida
 Kahlo. José Olympio, 2012.


POEMAS EM HOMENAGEM A ADALGISA NERY


POEMA DO FÃ
        para Adalgisa Nery

Não bebo álcool, não tomo ópio nem éter
Sou embriagado de ti por ti
Mil dedos me apontam nas ruas:
Eis o homem que é fanático por uma mulher

Tua ternura e tua crueldade são iguais diante de mim
Porque eu amo tudo o que vem de ti
Amo-te na tua miséria e na tua glória
E te amava mais ainda se sofresses muito mais

Caíste em fogo na minha vida de rebelado
Sou insensível ao tempo – porque tu existes
Eu sou fanático de ti,
Sou fanático de todos os detalhes da tua biografia,
Da tia graça, do teu espírito, do aparecimento da tua vida

De ti em todas as idades da vida
Eu quisera ser uma Unidade contigo
E no exterior violentamente contigo na febre
              [da minha, da tua, da nossa poesia
Sou fã desde o princípio e para toda eternidade
Em verdade o poeta é o maior fã de sua musa!
- Murilo Mendes, publicado na coluna "A poesia é necessária", em 31 de julho de 1954. In: MELLO, Ramon Nunes de.. Lembre-se da mulher triste - o caso Adalgisa Nery. UFRJ, 2017.  

§§

DESDOBRAMENTOS DE ADALGISA
Os homens preferem duas.
Nenhum amor isolado
Habita o rei Salomão
E seu amplo coração.
Meu rei, a vossa Adalgisa
Virou duas diferentes
Para mais a adorardes.

Sou loura, trêmula, blândula
E morena esfogueteada.
Ando na rua a meu lado,
Colho bocas, olhos, dedos
Pela esquerda e pela direita.
Alguns mal sabem escolher,
Outros misturam depressa
Perna de uma, braço de outra,
E o indiviso sexo aspiram,
Como se as duas fossem uma,
Quando é uma que são duas.

Adalgisa Nery, 1937 | Acervo Projeto Portinari 
Adalgisa e Adaljosa,
Parti-me para vosso amor
Que tem tantas direções
E em nenhuma se define
Mas em todas se resume.
Saberei multiplicar-me
E em cada praia tereis
Dois, três, quatro, sete corpos
De Adalgisa, a lisa, fria
E quente e áspera Adalgisa,
Numerosa qual Amor.

Se fugirdes para a floresta,
Serei cipó, lagarto, cobra,
Eco de grota na tarde,
Ou serei a humilde folha,
Sombra tímida, silêncio
Entre duas pedras. E o rei
Que se enfarou de Adalgisa
Ainda mais se adalgisará.

Se voardes, se descerdes
Mil pés abaixo do solo,
Se vos matardes alfim,
Serei ar de respiração,
Serei tiro de pistola,
Veneno, corda, Adalgisa,
Adalgisa eterna, os olhos
Luzindo sobre o cadáver.

Sou Adalgisa de fato,
Pensais que sou minha irmã
Ou que me espelho no espelho.
Amai-me e não repareis!
Uma Adalgisa traída
Presto se vinga da outra.
Eu mesma não me limito:
Se viro o rosto me encontro,
Quatro pernas, quatro braços,
Duas cinturas e um
Só desejo de amar.
Sou a quádrupla Adalgisa,
Sou a múltipla, sou a única
E analgésica Adalgisa.
Sorvei-me, gastai-me e ide.
Para onde quer que vades,
O mundo é só Adalgisa.
- Carlos Drummond de Andrade, no livro "Brejo das almas" (1934).

§§

O NOME DA MUSA
         Para Adalgisa Nery

Não te chamo Eva,
não te dou nenhum nome de mulher nascida,
nem de fada, nem de deusa, nem de musa, nem de sibila, nem de terras,
nem de astros, nem de flores.
Mas te chamo a que desceu do luar para causar as marés
e influir nas coisas oscilantes.
Quando vejo os enormes campos de verbena agitando as corolas,
sei que não é o vento que bole mas tu que passas com os cabelos soltos.
Amo contemplar-te nos cardumes das medusas que vão para os mares boreais,
ou no bando das gaivotas e dos pássaros dos polos revoando sobre as terras
geladas
Não te chamo Eva,
não te dou nenhum nome de mulher nascida.
O teu nome deve estar nos lábios dos meninos que nasceram mudos,
nos areais movediços e silenciosos que já foram o fundo do mar,
no ar lavado que sucede as grandes borrascas,
na palavra dos anacoretas que te viram sonhando
e morreram quando despertaram,
no traço que os raios descrevem e que ninguém jamais leu.
Em todos esses movimentos há apenas sílabas do teu nome secular
que coisas primitivas escutaram e não transmitiram às gerações .
Esperemos, amigo, que searas gratuitas nasçam de novo,
e os animais de criação se reconciliem sob o mesmo arco-íris
então ouvireis o nome da que não chamo Eva
nem lhe dou nenhum nome de mulher nascida.
- Jorge de Lima, em "A túnica inconsútil" (1938). In: MELLO, Ramon Nunes de.. Lembre-se da mulher triste - o caso Adalgisa Nery. UFRJ, 2017. 

ADALGISA NERY EM IMAGENS


Adalgisa Nery, 1937 |  foto: Acervo Projeto Portinari 


Adalgisa Nery e Murilo Mendes, 1937 |  foto: Acervo Projeto Portinari 

Candido Portinari e Adalgisa Nery, 1937 | foto: Acervo Projeto Portinari 


Rufino Tamayo, Adalgisa Nery, Frida Kahlo, Lourival Fontes e Olga Tamayo, em 1945 
foto: Arquivo Diego Rivera e Frida Kahlo/ fonte: Arte!Brasileiros

Adalgisa Nery, Manuel Bandeira e Ledo Ivo, s.d. | Acervo Família Nery.

Adalgisa Nery, Maria Portinari e Lourival Fontes, em 1946 | foto: Acervo do Projeto Portinari

José Condé, Murilo Mendes, Adalgisa Nery, Amando Fontes e Jayme Adour Câmara na Academia Brasileira 
de Letras, em janeiro de 1939 | foto: Diário da Manhã

Adalgisa Nery posando para o artista Gilberto Trompowsky (1912-1982), em 1940 | foto: O Cruzeiro

Adalgisa Nery e os filhos Ivan e Emmanuel | foto: Acervo Família Nery


Adalgisa Nery e o então primeiro-ministro Tancredo Neves em março de 1962 | foto: Acervo UH/ Folhapress

Adalgisa Nery (com dedicatória ao casal Portinari)| foto: acervo Projeto Portinari 

Adalgisa Nery com o retrato feito por Ismael Nery, s./data | foto: Acervo Família Nery

Adalgisa Nery - s./data | foto: Acervo Família Nery

Adalgisa Nery - s./data | foto: Acervo Família Nery

Adalgisa Nery com o filho Emmanuel Nery, em junho de 1980, no Rio de Janeiro | foto: Acervo Família Nery 

Adalgisa Nery - jovem | foto: Acervo Família Nery


Adalgisa Nery - a noiva | foto: Acervo Família Nery

Esquerda para direita: Ary Barroso, Fred Me Murray, Adalgisa Nery,  Claudete Colbert e 
Lourival Fontes, nos EUA

Lourival Fontes, Frank Sinatra, Adalgisa Nery e Ary Barroso




TRECHO DE "A IMAGINÁRIA"
“Um dia, como um dia para toda adolescente, eu senti que amava um homem. Conheci então uma nova paisagem da minha alma. Descobri nesse sentimento um senso de beleza capaz de afugentar todas as sombras acumuladas dentro do meu ser. Pela primeira vez, tive a sensação exata de força e liberdade. Lembro-me que, imantada por ele, eu me integrei totalmente em todas as partículas da vida e da natureza. Subindo os degraus de uma escada de pedra, reparei nas formigas que cruzavam e, com cuidado especial, procurei não esmagá-las com os meus pés. Fitei com uma ternura cuidadosa as plantas, as flores, as andorinhas, que traçavam espaço e a poeira de orvalho caída sobre as folhagens. Aprendi as cores nas luzes das manhãs e nas tonalidades do anoitecer. Eu estava no processo da metamorfose. Em tudo eu encontrava uma duplicidade de sentido. Estava sob a função de reminiscências eternas que atuavam como ligação do divino que surge no humano e com o divino que se entende no universo.  Havia um abandono alegre no meu ser acompanhando a causa misteriosa. E, de repente, me senti identificada com a vida. Tive a impressão de que uma grande chuva caíra sobre o mundo, e agora se apresentava lavado, fresco, radiante. Creio que os meus gestos se tornaram harmoniosos, a minha voz era o eco da música das águas cantantes e a minha memória só se recordava das formas perfeitas, para essa nova construção. Foi uma fase de grandeza aguda e espetacular da minha alma. De tudo emanava doçura e leveza compensadoras.
[...]
Adalgisa Nery, 1943/ Acervo Projeto Portinari
Não creio que haja nenhum período feliz na nossa vida. Às vezes há uma fase de inconsciência da infelicidade. Nesse espaço de tempo, julgamos estar vivendo uma época feliz. Em realidade, o descontentamento não veio à tona. Estava em gestação no acontecimento. Só notamos quando a ocorrência vem à superfície dos nossos cinco sentidos. Porém ele nunca deixou de existir. É a esse hiato entre a ignorância e o conhecimento do desagradável que denominamos puerilmente de “época feliz”. O próprio amor que é a mais verdadeira proximidade da felicidade, não desligado jamais de um grande subterrâneo sofrimento. Sobre as horas ardentes de uma plena satisfação amorosa, estão o desgosto e o sofrimento vigiando o primeiro cansaço e o primeiro tédio para flutuarem num tempo mais largo, com maior duração e fundas consequências do que o momento nos trouxe a sensação do eterno. A minha natureza não é de mulher pessimista. Sou um ser anaglífico vivendo uma sincera fusão de duas imagens de perspectivas semelhantes. Há uma intensidade de forças em profundidade e em extensão girando em meu redor como o ectoplasma. Daí sentir-me constantemente no limbo. Essa explicação tem como finalidade desviar qualquer julgamento precipitado para classificar-me de pessimista. Apesar de ter sido desde menina violentada pela vida, os meus olhos não perderam a noção dos coloridos e dos contornos e a minha alma não esqueceu a música e a harmonia.”
- Adalgisa Nery, no livro “A imaginária”. José Olympio Editora, 1957.

Adalgisa Nery, 1956.


"Hoje, tenho uma enorme piedade daquela menina que descobriu o eco, daquela menina que desejou ser árvore e esperou ansiosamente pelas raízes que prenderiam o seu corpo à terra morna das tardes de verão! Coitada! Como esta menina era magnífica, era bela!… Como foi depois desfolhada e jogada aos ventos perdidos e aos violentos temporais!” (…) Que saudade daquela Berenice criança, tão pura e tão nobre que, mesmo respirando uma vida de contradições, de tristezas objetivas e subjetivas, possuía forças incubadas e grandezas em potencial! Com o correr do tempo essas forças e grandezas se foram desgastando, e hoje apenas ficou uma dolorosa e amarga sensação de ridículo e pobreza! Não sei se foi a noção do eterno que mais tarde adquiri, que fez com que hoje eu olhe para tudo e todos com lassidão, desinteresse e perdão."
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 2016.

§§

"Conservo, apesar do constante combate a mim mesma, uma natureza impulsiva. Revolto-me com a burrice, a má-fé, as manobras sórdidas de traição alimentadas nos escaninhos dos caracteres e enojo-me com as inferioridades de espírito e a incrementação da ignorância. Mas, passado o meu arrebatamento, envergonho-me das minhas reações quixotescas e penitencio-me de não me ter esforçado para compreender melhor as criaturas. Obrigo-me à procura de sentir na confusão dessa miséria humana uma ação limpa e desinteressada em alguém."
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 2016.

§§

"Nunca desejei ser uma mulher forte. Aspirei sempre possuir a fragilidade. A luta com a vida, que a tantos engrandece e qualifica num plano de privilégio, nunca foi o meu sonho nem a estrutura da minha vaidade. A minha única aspiração, o meu único desejo, a minha única forma de perfeição, sempre foi e será o amor."
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 2016.

§§

"Sou uma mulher com horror às medidas medíocres. Não podendo alcançar a perfeição, forço-me às mais completas imperfeições, não podendo ter tudo de maior e de mais belo, prefiro ficar reduzida à miséria, não podendo conseguir o maior e mais absoluto amor, retiro-me para a solidão, já que não me construí porque a vida tirou-me os elementos necessários e, constantemente, lembra-me a mediocridade em que me atirou. Rebato-a, destruindo-me como acérrima inimiga."
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 2016.


ACERVO ADALGISA NERY
Fundação Casa Rui Barbosa
Informações: Site Oficial 


ADALGISA NERY NA REDE

:: Fanpage Adalgisa Nery (administração Ramon Nunes Mello)


OUTRAS REFERÊNCIAS DE PESQUISA
:: MELLO, Ramon Nunes de.. Lembre-se da mulher triste - o caso Adalgisa Nery. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, 2017. Disponível no link. (acessado em 3.9.2021).
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Imagem: Adalgisa Nery - foto: Paulo Garcez, em 1971.


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COMO CITAR:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Adalgisa Nery - entre as letras e a política. In: Templo Cultural Delfos, setembro/2021. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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* Página atualizada em 6.9.2021.
** Postagem original MAIO/2013.



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9 comentários:

  1. Obrigada pelo excelente aritgo, eu desconhecia as obras e a vida dessa maravilhosa escritora!

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    1. Obrigada Alexandra!
      Fico feliz que tenhas gostado e que tivemos a oportunidade de te apresentar a esta bela escritora.
      Volte sempre, abraços

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  2. Fabulosa resenha. Deliciosa, completa e profunda. Muito obrigada. Bem haja!

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    Respostas
    1. Obrigada!
      Fico feliz que tenhas gostado.
      volte sempre, abraços

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  3. Perfeito trabalho! Aguardo a resenha de Orides Fontela, deixo aqui como sugestão. Um grande abraço e um muito obrigada.
    Tuca Kors

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  4. Eu seu mexicana e eu desconhecia os poemas de Adalgisa Nery. Agora ele é um dos meus poetas favoritos.
    MOITO OBRIGADA

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  5. Esta mulher Adalgisa é um poema inteiro que sua alma profetisa.

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  6. Não me canso de visitar o site de vocês...( e obrigado por me inserir na citação das obras... Geraldo Brandão )

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