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Adalgisa Nery, 1956. |
"As portas
do meu ser, lentamente, se abrem e despejam na imobilidade da noite todas as
imagens que participaram dos meus erros e dos meus acertos ocasionais. Elas se
levantam impiedosas, confabulam, discutem a minha pessoa humana, apalpam as
minhas carnes sofridas, fazem perguntas irrespondíveis e depois largam-me
desunida de mim mesma. Num trágico sentido de matéria desprezível, no fundo do
meu raciocínio há qualquer obstáculo intransponível que me impede fixar se esse
desterro, em que estou jogada, é oriundo de alguma palavra, gesto recente ou
remoto. Numa paralisação completa sinto o movimento das raízes da minha origem
procurando alcançar o meu pensamento. O vigor da vontade sobre a integridade
dos meus sentidos se esfacela na luta de analisar os vagos traços de ligação na
soma de experiências, erros e ímpetos mal distribuídos durante a minha vida,
que, afinal, está resumida apenas numa simples contagem de anos. [...]"
- Adalgisa Nery, ‘trecho’ do romance “A
imaginária”, 1957.
Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela Ferreira (Rio de Janeiro, 29 de outubro de 1905 — Rio de Janeiro, 7 de junho de 1980). Poeta, romancista, contista, jornalista e política. Desde a
infância Adalgisa demonstra forte sensibilidade poética associada a episódios
marcantes de sua vida, como a perda da mãe, aos 8 anos. Em 1922, casa-se com o
pintor Ismael Nery (1900 - 1934) e toma contato com a vida intelectual
brasileira. Entre 1927 e 1929, Adalgisa e Nery vivem na Europa e conhecem
artistas de vanguarda internacionais. Torna-se viúva em 1934 e começa a
trabalhar no Conselho de Comércio Exterior do Itamaraty. Incentivada por amigos
como o poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), publica sua primeira obra, Poemas, em
1937.
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Adalgisa e o Artista, por Ismael Nery, 1930. [Coleção Nemirowsky ] |
Em 1940 casa-se com o jornalista Lourival Fontes (1899 -
1967), diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda da ditadura de Getúlio
Vargas (1882 - 1954). Entre 1940 e 1945, acompanha o marido em missão
diplomática pelo Canadá e Estados Unidos. Em seguida, muda-se para o México,
onde Fontes se torna embaixador. Convive com artistas mexicanos como os
pintores Diego Rivera (1886 - 1957) e José Orozco (1883 - 1949), pelos quais é
retratada. Em 1952 torna-se a primeira mulher a receber a Ordem da Águia
Asteca, por suas conferências sobre a poeta mexicana Juana Inés de la Cruz
(1651? - 1695).
No ano seguinte, o editor francês Pierre Seghers (1906 -
1987) traduz e publica uma coletânea de poemas de Adalgisa em Paris. Ainda em
1953, a escritora separa-se do marido e começa a tecer comentários políticos na
coluna Retrato sem Retoque do jornal Última Hora. Jornalista combativa, é
eleita deputada em 1960, pela legenda do Partido Socialista Brasileiro (PSB),
mas, devido ao golpe militar, sua coluna no jornal é censurada e seus direitos
políticos cassados. Sem recursos próprios, Adalgisa muda-se para a casa do
filho mais novo, o artista plástico Emmanuel Nery (1931 - 2003). Em 1976,
interna-se por espontânea vontade em uma clínica geriátrica no Rio de Janeiro,
onde falece, em 1980.
Comentário crítico
Apesar de acompanhar de perto o movimento modernista nas
décadas de 1920 e 1930, sendo musa de artistas plásticos e escritores, o
primeiro livro de Adalgisa Nery só é publicado em 1937, com o título Poemas.
Este e o livro seguinte, a Mulher Ausente, de 1940, levam a autora a ter sua
obra comparada, pelo poeta Manuel Bandeira, à obra da poeta grega Safo de
Lesbos (século VII a.C.), pelo erotismo libertário, e do poeta português Antero
de Quental (1842 - 1891), pelo tom trágico.
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Retrato Adalgisa Nery, por Cândido Portinari, 1937 |
Nesses poemas, Adalgisa reflete sobre a condição da
mulher em um mundo machista, tema até então inédito na literatura brasileira.
Influenciada por algumas correntes das artes plásticas, a autora recorre a
imagens utópicas, ora de um passado distante, ora de um futuro sonhado, para se
contrapor ao presente. Por isso, alguns críticos definem sua poesia como "uma
palpitação mística" que enfrenta a vida cotidiana. Essa característica
torna-se mais evidente nos livros seguintes, sobretudo em As Fronteiras da
Quarta Dimensão, de 1952, considerado pela própria autora como sua obra mais
apurada e amadurecida.
Paralelamente à sua obra poética, quase toda reunida em
Mundos Oscilantes, de 1962, Adalgisa escreve dois volumes de contos e dois
romances. Seu maior sucesso editorial, o romance A Imaginária, de 1959, é
interpretado como uma autobiografia sobre seu conturbado casamento com o pintor
Ismael Nery (1900 - 1934). Além disso, entre 1953 e 1966, Adalgisa mantém uma
intensa produção jornalística através do Retrato sem Retoque, coluna diária
sobre política no jornal Última Hora.
Nos anos 1960, a autora dedica-se à militância política e
não publica nenhuma obra inédita. Em 1972, publica o romance Neblina, dedicado
ao apresentador de televisão Flávio Cavalcanti (1923 - 1986). A dedicatória é
malvista por artistas e críticos, uma vez que o apresentador é simpatizante da
ditadura militar, o que prejudica a divulgação da obra. Desmotivada, Adalgisa
lança sua última obra no ano seguinte: o volume de poemas intitulado Erosão.
"Cada um de nós tem as suas recordações, os seus pontos fixos na memória, e não é justo que recusem as minhas lembranças. A verdade de cada um não pode ser transferida, negada nem subestimada, pois dela formamos a nossa vida, nosso ambiente e sabemos o motivo das nossas reações. Negar uma recordação é um abuso e uma fraqueza."
- Adalgisa Nery, ‘trecho’ do romance “A imaginária”, 1957.
OBRA DE ADALGISA NERY
Poemas. [Livro de estreia da autora],1ª
ed., Rio de Janeiro: Pongetti, 1937, 88 p.
A Mulher Ausente. [capa de Santa Rosa e seis ilustrações de Portinari], 1ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1946, 151p.
Ar do Deserto. [Capa de Santa Rosa], 1ª
ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1948, 88p.
Cantos da Angústia. [Capa de Santa
Rosa], 1ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1948, 141p. As Fronteiras da Quarta Dimensão.
1ª ed., [Capa de Santa Rosa], Rio de Janeiro: José Olympio, 1952.
Poemas. 1ª ed., Rio de Janeiro, 1960,
28 p.
Mundos Oscilantes. [Poesias completas],
1ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1962, 324 p.
Erosão. [Ilustrações de Ryne], 1ª ed.,
Rio de Janeiro: José Olympio, 1973.
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Auto-Retrato com Adalgisa , de Ismael Nery - s/data [Coleção Particular] |
Contos
Og. 1ª ed., [Capa de Santa Rosa], Rio de Janeiro:
José Olympio, 1943.
22 menos 1. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora
Expressão e Cultura, 1972.
Crônicas
Retrato sem Retoque. 1ª ed., [Capa de
Eugênio Hirsch], Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, 167p.
Romance
A Imaginária. 1ª ed., [Capa de
Portinari], Rio de Janeiro: José Olympio, 1959, 255p.
Neblina. 1ª ed., Rio de Janeiro: José
Olympio, 1972, 135 p.
"A vida em
todas as suas manifestações de alegrias e dores é a forma, a encarnação de uma
coisa que desconhecemos. Sentimos sempre que essa forma é frágil e incerta, mas
há também em nós um receio quase infantil de desaparecer sem deixar um vago
traço."
- Adalgisa Nery, ‘trecho’ do romance “A
imaginária”, 1957.
Publicações no exterior
França
Au-delà de toi (Coletânea de poemas), de Adalgisa Nery. [traduzido e editado por Pierre Seghers], Paris: Éditions Seghers, 1952, 32 p.
Entrevista
Entrevista com Adalgisa Nery. O Pasquim, Rio de Janeiro, p.14-15,11 a 17 mar.1971.
TRADUÇÕES
O Jardim das Caricias. [The Garden of
Caresses ], de Franz Toussaint. (tradução de Adalgisa Nery), Rio de Janeiro: Livraria
José Olympio Editora, 1938, 160 p.
CONDECORAÇÃO
1952 - Ordem da Águia Asteca(Orden del Águila Azteca), concedida pelo Governo Mexicano - por suas conferências sobre a poeta Juana Inés de la Cruz -1651? - 1695. [torna-se a primeira mulher a receber a mais alta condecoração mexicana].
CONDECORAÇÃO
1952 - Ordem da Águia Asteca(Orden del Águila Azteca), concedida pelo Governo Mexicano - por suas conferências sobre a poeta Juana Inés de la Cruz -1651? - 1695. [torna-se a primeira mulher a receber a mais alta condecoração mexicana].
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Retrato Adalgisa Nery, por Cândido Portinari, 1934. |
POEMAS ESCOLHIDOS
Anseio
Quero que desça
sobre mim a grande sombra que alivia,
Aquela que arranca
do meu coração a revolta que me impede de ser mansa.
Quero descansar...
Quero encontrar
aquele que é mais belo que o sol,
Que aumenta o meu
sofrimento e que ajuda na minha redenção,
Que reparte suas
angústias comigo para que lhe sirva de auxílio.
Quero ouvir a sua
voz que é como a música dos mares,
Quero acolher-me na
sua sombra e abraçar-me aos seus joelhos...
Quero descansar sem
demora...
Quero chegar o
tempo da minha última lágrima
ser recolhida dos
meus olhos pisados e saudosos
Por aquele que é o
molde dos poetas, o que se veste com as estrelas que meus olhos
ainda não vêem.
- Adalgisa Nery, in: Dom Casmurro, Rio de Janeiro, 19
ago. 1937, p. 2.
Aspiração
Antes que vingue
outra esperança
Quero as sombras do
branco espesso.
Antes que mais uma
insônia se cumpra
Quero o torpor no
abismo indecifrável
Do espírito
amortalhado.
Antes que o
pensamento acorde
E descubra os
espaços petrificados,
Quero narcotizar-me
sem sonhos
E deitar-me no
mundo sem sombras,
Sem palavras nem gestos.
Antes que alguma
crença me recolha,
Antes que eu
entenda o obscuro,
Antes que o
sensível me assalte,
Antes que eu
distinga na lonjura
A morte da estrela
cintilante,
O êxtase da solidão
vertical,
Quero ser coisa sem
motivo
Entregue aos ventos
sem destino.
- Adalgisa Nery, in:
Erosão, 1973.
A paisagem de amanhã
Ânsia de paz de
noites desertas,
Desejo de sentir o
tranquilo positivo
Nas intenções
indevassáveis,
Na voz acima de
todos os sons,
Acima do estrondo
universal da bomba fratricida.
Ânsia de repouso
final
No exaspero de mãos
unidas pelo medo,
Pânicos imprevistos
Calando todos os
instantes, todas as idades,
Chorando o nosso
jamais.
Olhos outrora amigos
Impercebem em
pastoso sangue.
Que gerações
sofridas surgirão
Na espessa aflição
de tão grandes mares
De ódio, ambição,
vingança
Agora vêm dos ossos
à procura do sexo,
Fúria de possessão
inexplicável
Invade o campo de
alheias propriedades
Lavradas no crime
E plantadas por
tiranas mãos,
Heróis do século
repetindo o que os outros foram.
Energias, vidas,
mocidades
Flutuando sem rumo
nas glórias e nas medalhas
Da nação em queda
vertical solo abaixo
Cérebros falidos
comandando existências em floração,
Numerando
interminável esteira
De vassalos de
línguas arrancadas.
Braços sem dono,
ventres desapropriados,
Espíritos
transformados em detritos pestilentos
Alimentam o tétrico
destino
Da técnica contra o
homem.
As estradas já não
pertencem aos pés mansos,
O veio da riqueza,
em mãos feudais.
No paralelo de
horizonte sombrio
Levanta-se o vulcão
que derrubará presídios e asilos
Para criar o grande
rio de mortos putrefatos.
Não haverá tropas
guerreiras contra ninguém
Apenas climas não
sentidos dentro de atmosferas mortas
Desprezadas pelo
vento livre.
E no âmago do âmago
O pranto medroso da
futura criança
Presa ao ventre da
terra,
E a revolta do
jovem mudo,
São figuras oscilando
nas trevas da Criação.
No profundo dos
tempos
A ordem técnica
recua medrosa,
Ouve o grito severo
Trazido pelo ar que
balançou os corpos enforcados.
No fim, o estupro
de cada homem
Violentado pela
técnica
Dos inventos de
guerra.
Em torno de todas
as mortes
A vida, em
minúsculas centelhas,
Forçará as trevas
Que cobrem o homem
eternamente insepulto.
- Adalgisa Nery, in:
Erosão, 1973.
A poesia se esfrega nos seres e nas cousas
Nunca sentiste uma força melodiosa
Cercando tudo o que teus olhos vêem,
um misto de tristeza numa paisagem grandiosa
Ou um grito de alegria na morte de um ser que queres bem?
Nunca sentiste nostalgia na essência das cousas perdidas
Deparando com um campo devoluto
Semelhante a uma viagem esquecida?
Num circo,nunca se apoderou de ti um amargor sutil
Vendo animais amestrados
E logo depois te mostrarem
Seres humanos imitando um réptil?
Nunca reparaste na beleza de uma estrada
Cortando as carnes do solo
Para unir carinhosamente
Todos os homens, de um a outro pólo?
Nunca te empolgaste diante de um avião,
Olhando uma locomotiva, a quilha de um navio,
Ou de qualquer outra invenção?
Nunca sentiste esta força que te envolve desde o brilho do dia
Ao mistério da noite,
Na extensão da tua dor
E na delícia da tua alegria?
Pois então, faz de teus olhos o cume da mais alta montanha
Para que vejas com toda a amplitude
A grandeza infindável da poesia que não percebes
E que é tamanha!
- Adalgisa Nery, in: Mundos Oscilantes, 1962.
A razão de eu me gostar
Eu gosto da minha forma no mundo
Porque representa uma fagulha,
Porque mostra um instante doce e perverso
Da ideia, do gesto e da realização
De Deus no Universo.
Eu gosto dos erros que pratico
Porque vejo a pureza colocada na minha essência
Desde o Início
Lutar contra todo o mal que em mim existe
E ser tão maior, que sobre a minha miséria
Ela ainda persiste
Eu gosto de espiar
O meu olho direito
Ver o esquerdo chorar,
De sentir a minha garganta se enrolar de dor
Porque em troca de tanta cousa dolorosa
Ele construiu em mim uma cousa gloriosa,
Que é o amor.
- Adalgisa Nery, in: A Mulher Ausente, 1946.
A rota
O mundo
pulveriza-nos sem revelar
Seus intuitos
secretos.
A vida é
contemplá-los nos seus gestos mais sutis
E sentir nas águas
profundas
O que de cada
destino foi escrito
Nos penhascos dos
mares agitados.
No vácuo do
espírito
Anda a forma sem
direção
Por caminhos já
pisados
E inseguros são os
passos repetidos.
Nem sempre o olhar
mais aberto
À procura da
estrada de nós mesmos
Torna o espírito
mais desperto.
Vivemos nos
penhascos dos mares agitados.
- Adalgisa Nery, in:
Erosão, 1973.
A essência
imutável
Entre a estrela e o
átomo
A matéria viva
estabelece o traço original.
A fotossíntese
realiza a assimilação
Da energia solar do
homem,
Mecanismo-alimento
da força biológica
Existente no grão
de luz que ronda o corpo inanimado
Vindo da semente
viajante dos ventos programados.
Cubos-pedra lançam
o elétron
De uma órbita a
outra dos planetas tranquilos
E voltam à origem
do cansaço.
Desencadeia-se o
calor que mata,
O mecanismo
complica-se,
O elétron muda de
órbita
E a sua volta é
seguida de reações em cadeia
Para aniquilar o
homem caminhante
Das estradas
indecisas.
As múltiplas
diferenças de forças
Convocam a origem
da vida em cada rumo da poeira ardida
Enquanto a
procissão do grande mecanismo
Mostra em todos os
níveis, em todas as gamas da existência,
A sua ativa
regulagem
Que ainda é
mistério para o homem aniquilado
Pela surpresa do
nada saber
Além das suas
carnes esfarrapadas pela infinita agonia.
- Adalgisa Nery, in: Erosão, 1973.
Abandono
A exaustão faminta
Procura elementos ainda vivos no meu ser
Talvez guardados em escuros vácuos
Que carrego sem saber.
Alimenta-se do sopro das imagens
Desenhadas pela minha imaginação
Pelo tato dos meus sentimentos,
Pelo pânico do desconhecido.
Aparece como febre constante dilatando as minhas carnes
Descoloridas e sem sabor de vida.
A exaustão sobe pelos meus pés,
Cobre os meus gestos incipientes,
Prende a minha língua,
Suga o meu cérebro, ninho de aranhas em fogo,
Pousa no meu cabelo como morcego.
Exaustão que funga o ar, que saqueia o meu silêncio,
Último repouso nos meus vácuos devassados.
- Adalgisa Nery, in: Erosão, 1973.
Cantiga de ninar
Repousa. Descansa.
Virá um dia um vento
Que arrancará a tua
balançada alma do teu corpo
E jogará a tua
balançada alma do tempo.
Que levará teus
braços para as nuvens distantes
E deixará tranqüila
tua orelha
À borda das águas
cantantes.
Um vento suave como
a caricia de uma doce mão
Que se envolverá no
brilho dos teus cabelos
Que descerá desde o
teu cérebro
Até o fundo do teu
amargurado coração.
Cairá sobre ti,
como a noite sobre a mata e sobre as flores
Desdobrará as
formas dormidas
Deitar-se-á sobre
teus sentidos
E estancará tuas
dores.
Um vento que levará
para a eterna distância
Os dolorosos
solavancos de teu espírito
E os pedaços
melancólicos de tua infância.
Repousa. Descansa.
Aconchega no sono teus pensamentos
Que este vento
chegará, não falta muito
Transformará em luz
a tua treva,
Dentro de
rapidíssimos momentos.
- Adalgisa Nery, in:
Mundos Oscilantes, 1962.
A canção do corpo é cantada para dentro
E a leveza da alegria se transmuda em peso,
A brisa adere aos amargos pensamentos
Fluindo no sorriso compassivo.
Logo,
Surgindo de células desamadas
Os matizes áureos anoitecem,
Pálpebras levantadas vão caindo
E nesgas apenas vislumbramos,
Geografias em nós morrendo,
Oceanos crescendo, ilhas sumindo,
Rosas nascendo na canção
Que o corpo canta para dentro.
- Adalgisa Nery, in: Erosão, 1973.
Cemitério Adalgisa
Moram em mim
Fundos de mares, estrelas-d′alva,
Ilhas, esqueletos de animais,
Nuvens que não couberam no céu,
Razões mortas, perdões, condenações,
Gestos de amparo incompleto,
O desejo do meu sexo
E a vontade de atingir a perfeição.
Adolescências cortadas, velhices demoradas,
Os braços de Abel e as pernas de Caim.
Sinto que não moro.
Sou morada pelas coisas como a terra das sepulturas
É habitada pelos corpos.
Moram em mim
Gerações, alegrias em embrião,
Vagos pensamentos de perdão.
Como na terra das sepulturas
Mora em mim o fruto podre,
Que a semente fecunda repetindo a vida
No sereno ritmo da Origem. Vida e morte,
Terra e céu, Podridão, germinação,
Destruição e criação.
- Adalgisa Nery, in: Poemas, 1937.
Moram em mim
Fundos de mares, estrelas-d′alva,
Ilhas, esqueletos de animais,
Nuvens que não couberam no céu,
Razões mortas, perdões, condenações,
Gestos de amparo incompleto,
O desejo do meu sexo
E a vontade de atingir a perfeição.
Adolescências cortadas, velhices demoradas,
Os braços de Abel e as pernas de Caim.
Sinto que não moro.
Sou morada pelas coisas como a terra das sepulturas
É habitada pelos corpos.
Moram em mim
Gerações, alegrias em embrião,
Vagos pensamentos de perdão.
Como na terra das sepulturas
Mora em mim o fruto podre,
Que a semente fecunda repetindo a vida
No sereno ritmo da Origem. Vida e morte,
Terra e céu, Podridão, germinação,
Destruição e criação.
- Adalgisa Nery, in: Poemas, 1937.
Eterno tédio
Muitas vezes
esgotando o meu destino
Com o olhar em
pranto
E o coração
pungente como um dobrar de sino,
Ouço ruídos
seculares que unem como um canto,
Crescendo de
intensidade,
Mergulhando os meus
sentidos
Na maior
profundidade!
Muitas vezes,
considerando a vida
Com desumana
indiferença,
Por toda a
esperança perdida,
Pelo abrir de um
riso, por todo o bem, por toda a crença,
Sinto o meu viver
humilhado,
Vejo o meu nada
quase demasiado,
Que nem chega a ser
pecado.
E o tédio em toda a
amplidão
Cai sobre mim.
- Adalgisa Nery, in: Revista
Atlântico – Revista Luso-brasileira, n 1, Primavera de 1942.
Escultura
Eu já te amava
pelas fotografias.
Pelo teu ar triste
e decadente dos vencidos,
Pelo teu olhar vago
e incerto
Como o dos que não
pararam no riso e na alegria.
Te amava por todos
os teus complexos de derrota,
Pelo teu jeito
contrastando com a glória dos atletas
E até pela
indecisão dos teus gestos sem pressa.
Te falei um dia
fora da fotografia
Te amei com a mesma
ternura
Que há num carinho
rodeado de silêncio
E não sentiste
quantas vezes
Minhas mãos usaram
meu pensamento,
Afagando teus
cabelos num êxtase imenso.
E assim te amo,
vendo em tua forma e teu olhar
Toda uma existência
trabalhada pela força e pela angústia
Que a verdade da
vida sempre pede
E que
interminavelmente tens que dar!...
- Adalgisa Nery, in:
Mulher Ausente, 1940.
Eu em ti
Desejaria estar
contigo quando eras no pensamento de Deus,
Quando tua mãe te
concebeu e te alimentou com sua vida,
Desejaria estar
contigo na primeira vez que distinguiste as formas,
[as cores e os
sons,
Na tua primeira
lágrima eu quisera estar contigo e assim na tua
[primeira alegria,
Desejaria estar
contigo na tua infância e na tua adolescência,
[acompanhando as
transformações do teu físico.
Ao teu lado
desejaria estar quando, do teu corpo, constataste as
[primeiras células
reprodutoras.
No teu primeiro
pudor e no teu primeiro carinho eu quisera estar
[a teu lado,
Desejaria estar
contigo na noite de tuas núpcias e no momento em
[que te uniste a
outra mulher com o
[pensamento no teu
primeiro filho.
Desejaria estar
contigo no primeiro vestígio de tua velhice
E ainda desejaria
estar contigo no momento da separação de
[tua alma,
Na decomposição de
tuas carnes, do teu cérebro, de tua boca,
[do teu sexo,
Para poder
continuar contigo, no mundo sem espaço e sem tempo.
- Adalgisa Nery, in:
Mundos oscilantes, 1962, p.9.
Fantasmas
Lívidos fantasmas deslizam nas horas perdidas
Chegam à minha alma
E como sombras da noite
Levantam os meus ímpetos mortos
Desatando as ligaduras do tempo.
O luar da madrugada fria cai no meu rosto
E ilumina com branda amargura
O meu espírito que espera a hora insolúvel.
Os caminhos cobrem-se de homens que dormem na morte
E cresce no meu coração um desejo incontido
Para uma união mais forte, mais intensa e mais perfeita.
A minha pupila é banhada pela enorme lágrima
Que umedecerá o solo castigado.
A lágrima que levará ternura às existências sofridas,
A lágrima que se mudará em sangue,
Que levantará a vida morta do universo!
- Adalgisa Nery, in: Cantos da Angústia, 1948.
Lívidos fantasmas deslizam nas horas perdidas
Chegam à minha alma
E como sombras da noite
Levantam os meus ímpetos mortos
Desatando as ligaduras do tempo.
O luar da madrugada fria cai no meu rosto
E ilumina com branda amargura
O meu espírito que espera a hora insolúvel.
Os caminhos cobrem-se de homens que dormem na morte
E cresce no meu coração um desejo incontido
Para uma união mais forte, mais intensa e mais perfeita.
A minha pupila é banhada pela enorme lágrima
Que umedecerá o solo castigado.
A lágrima que levará ternura às existências sofridas,
A lágrima que se mudará em sangue,
Que levantará a vida morta do universo!
- Adalgisa Nery, in: Cantos da Angústia, 1948.
Instante
O espanto abriu meu
pensamento
Com idioma vindo do
delírio,
Dos receios
indefesos, dos louvores sem raízes,
No perdão oferecido
sem razão.
O espanto abriu meu
pensamento
Na noite carregada
de lamentos
Em linguagem
universal
Fluindo do eco
perdido
Com passos de
presságio amanhecendo.
Corpos florindo na
pele da terra
Acendendo vida nas
rosas e nos vermes,
Aumentando a potência
do limo,
Preparando a
primavera nos campos,
Ventres irrigando
secas raízes,
Cogumelos róseos
crescendo
Na umidade das
faces.
Coagulação de
prantos na semente
Das constelações
adivinhadas.
E no faminto
inconsciente, o tempo
Sorvendo com fúria
o seu sustento
No insondável
silêncio de mim mesma.
- Adalgisa Nery, in:
Erosão, 1973.
Mistérios
Há vozes dentro da
noite que clamam por mim,
Há vozes nas fontes
que gritam meu nome.
Minha alma distende
seus ouvidos
E minha memória
desce aos abismos escuros
Procurando quem
chama.
Há vozes que correm
nos ventos clamando por mim.
Há vozes debaixo
das pedras que gemem meu nome
E eu olho para as
árvores tranqüilas
E para as montanhas
impassíveis
Procurando quem
chama.
Há vozes na boca
das rosas cantando meu nome
E as ondas batem
nas praias
Deixando exaustas
um grito por mim
E meus olhos caem
na lembrança do paraíso
Para saber quem
chama.
Há vozes nos corpos
sem vida,
Há vozes no meu
caminhar,
Há vozes no sono de
meus filhos
E meu pensamento
como um relâmpago risca
O limite da minha
existência
Na ânsia de saber
quem grita.
- Adalgisa Nery, in:
Cantos da Angústia, 1948.
Mulher
![]() |
Retrato de Adalgisa , por Ismael Nery, 1924. [Coleção Particular] |
Na face, a
geografia da angústia,
Dos pânicos e das
medrosas alegrias.
Cada ruga é um
presságio.
E auréola da
aflição constante
O esplendor dos
cabelos brancos.
Uma só raiz para
frutos diversos,
Uma só vida para
destinos tão complexos,
Um só pranto para
dores tão diversas.
O útero que gera o
herói, o sábio, o poeta,
O santo, o
miserável e o assassino.
Uma só raiz para
frutos tão diversos!
O dom da paz em
cada gesto
Cai como noites
quietas
Sobre a alma em
rancor,
Amor acima do amor.
- Adalgisa Nery, in:
Erosão, 1973.
Nostalgia do
impreciso
Ao fechar de olhos
para o sono
Aromas de pânico e
de dores,
Aromas de errantes
chuvas
Transportando
montanhas, vales,
Atravessando
ventos,
Pousando em
instantes tão diversos,
Chamando medos
E exílios de
vontades.
Aromas vasculhando
a vida,
Engendrando noites
no vazio,
Escapando de raízes
em tumulto,
De pedras milenares
em silêncio,
E de símbolos sem
forma
Nascidos de
pensamentos mutilados.
Aromas de carne e
flor,
De chão e fonte,
De gestos tatuados
no espaço,
De galeras rumo ao
centro-mar
Em busca de
estrelas excedentes
Aromas de grão e de
criança
Cobrindo as coisas
repetidas,
Fazendo-se pólen no
infinito virgem.
Aroma-plasma de
invitações
Ao canto, à flor,
ao pranto,
Ao entrelaçamento
de mãos desprotegidas
No temor de quedas
sinuosas.
Ao fechar de olhos
para o sono
Aromas de mistério,
Fracas luzes se
abrindo
No mundo de
silêncios e de símbolos
Dando vida à vida
que vai fugindo.
- Adalgisa Nery, in:
Erosão, 1973.
O país do poeta
A paisagem tem cores do avêsso
E as estrelas sobem pelas montanhas como veias
Aguando um seio de mulher.
As quatro línguas do vento
Conversam sobre o amor, o ódio, a vida e a morte.
Os arcanjos cruzam o firmamento de lado a lado,
Os pássaros soluçam como inconsoláveis viúvas.
Os peixes cantam como rouxinóis nas ramas floridas.
Um sirena lamenta-se no corte da noite
E o ruído de possantes motores trepidam o eixo universal
Como o nascimento de um vulcão.
As flores dos jardins cercados são orvalhadas como lágrimas inocentes
E da lua de São Jorge montado no seu cavalo branco
Para velar os mortos e os desesperados.
Um sentimento de pureza sobre o olhar dos arrependidos,
As mães alimentam seus filhos com flores,
Os amantes realizam a interpenetração das almas
E seus corações caem no chão como punhados de cinza.
A tragédia vive entre a boca dos velhos e o olhar do recém-nascido
E o choro do que um dia será assassino é ouvido ao ventre da noite.
O poeta escreve poemas no solo
E a terra grávida recompensa com flores, frutos e nascentes.
Na hora da penumbra abre-se uma grande boca no firmamento
Dizendo sobre o juízo final.
Sob a luz da lua o poeta colhe os lírios entreabertos
E sai guarnecendo sepulturas de noivas ignoradas.
Um resplandecente globo ocular
Desce sobre a paisagem
E procura encontra a Amada e a Morte.
- Adalgisa Nery, in: Mundos Oscilantes, 1962.
Paisagem
Restam nos meus
olhos
Séculos de
planícies áridas
E o vento ríspido
que trouxe as lamentações
Das sombras
agitadas
Sobre os pântanos
desconhecidos
Distantes estão os
caminhos
Onde eu encontraria
a suprema fraqueza
Para vergar os meus
joelhos
E deitar no pó a
minha boca moribunda
Invisíveis estão as
estrelas
Que me levariam a
contemplar os céus abençoados.
E só espaços sem
medida
Onde a música da
noite
É livre sobre os
pensamentos em sono.
Desconhecida para
mim a praia onde eu me deitaria
De olhos cerrados e
sentiria
O último movimento
da onda
Balançar os meus
pés
Como as algas sem
direção.
Como os detritos
rejeitados pela pureza do mar.
Restam dentro da
minha sombra
Fragmentos de
agitações de outras vidas
Plantadas no meu
grito de revolta
Que eu não
libertarei
Até que no deserto
universal
A flor de um cardo
movimente
A paisagem
silenciosa.
- Adalgisa Nery, in:
Cantos da Angústia, 1948.
Poema da amante
Eu te amo
Antes e depois de
todos os acontecimentos
Na profunda
imensidade do vazio
E a cada lágrima
dos meus pensamentos.
Eu te amo
Em todos os ventos
que cantam,
Em todas as sombras
que choram,
Na extensão
infinita do tempo
Até a região onde
os silêncios moram.
Eu te amo
Em todas as
transformações da vida,
Em todos os
caminhos do medo,
Na angústia da
vontade perdida
E na dor que se veste
em segredo.
Eu te amo
Em tudo que estás
presente,
No olhar dos astros
que te alcançam
Em tudo que ainda
estás ausente.
Eu te amo
Desde a criação das
águas,
desde a idéia do
fogo
E antes do primeiro
riso e da primeira mágoa.
Eu te amo
perdidamente
Desde a grande
nebulosa
Até depois que o
universo cair sobre mim
Suavemente.
- Adalgisa Nery, in:
Mundos Oscilantes, 1962.
Poema de amor
Ouve-me com teus olhos
Porque minha queixa é muda.
Acaricia-me com teu pensamento
Porque meu corpo está imóvel.
Beija-me com tuas mãos
Porque minha boca te espera.
Fala-me com o silêncio dos momentos de amor
Porque os ouvidos da minha vida
Se abrirão como as flores
Na úmida e infinita madrugada.
- Adalgisa Nery, in: Mundos Oscilantes, 1962.
Poema essencialista
Sinto o conteúdo da existência.
Procuro ultrapassá-lo com enorme exaltação poética,
Rompo as grades do mundo com o espetáculo das formas,
Dos sons e das cores.
Tudo me afoga em nostalgia de outras eras,
De outras vidas que cristalizaram
As tendências da minha infância.
A utilização das coisas plásticas
Altera o equilíbrio da visão.
Distribuo pelos quatro cantos do meu espírito
A essência imortal.
Fragmento seguidamente o meu interior
Fazendo doações físicas.
Dentro do meu limite há montões de estrelas apagadas,
Pensamentos que não andaram
Senão com o sopro de Deus.
Quero destruir para tentar construir.
A criação vive no ângulo do meu cérebro
Mas sei que serei vencida
Pela limitação das realizações humanas.
- Adalgisa Nery, in: Mundos Oscilantes, 1962.Poema natural
Abro os olhos, não vi nada
Fecho os olhos, já vi tudo.
O meu mundo é muito grande
E tudo que penso acontece.
Aquela nuvem lá em cima?
Eu estou lá,
Ela sou eu.
Ontem com aquele calor
Eu subi, me condensei
E, se o calor aumentar, choverá e cairei.
Abro os olhos, vejo um mar,
Fecho os olhos e já sei.
Aquela alga boiando, à procura de uma pedra?
Eu estou lá,
Ela sou eu.
Cansei do fundo do mar, subi, me desamparei.
Quando a maré baixar, na areia secarei,
Mais tarde em pó tomarei.
Abro os olhos novamente
E vejo a grande montanha,
Fecho os olhos e comento:
Aquela pedra dormindo, parada dentro do tempo,
Recebendo sol e chuva, desmanchando-se ao vento?
Eu estou lá,
Ela sou eu.
- Adalgisa Nery, in: Poemas, 1937.
Poema simples
Deixa-me recolher as rosas que estão morrendo nos jardins da noite,
Deixa-me recolher o fruto antes que este volva as raízes da terra,
Deixa-me recolher a estrela úmida
Antes que sua luz desapareça na madrugada,
Deixa-me recolher a tristeza da alma
Antes que a lágrima banhe a pálpebra
Do órfão abandonado e faminto,
Deixa-me recolher a ternura parada
No coração da mulher que desejou ser mãe.
Deixa-me recolher a esperança dos que acreditam,
Recolher o que ainda não passou
E mais do que tudo dá-me a recolher
A palavra de amor e de doçura para que reparta
Com os ouvidos que esperam como uma gota de mel
Caindo na alma e no coração,
Como a única luz dentro de tanta escuridão.
- Adalgisa Nery, in: Mundos Oscilantes, 1962.
Repouso
Dá-me tua mão
E eu te levarei aos campos musicados pela canção das colheitas
Cheguemos antes que os pássaros nos disputem os frutos,
Antes que os insetos se alimentem das folhas entreabertas.
Dá-me tua mão
E eu te levarei a gozar a alegria do solo agradecido,
Te darei por leito a terra amiga
E repousarei tua cabeça envelhecida
Na relva silenciosa dos campos.
Nada te perguntarei,
Apenas ouvirás o cantar das águas adolescentes
E as palavras do meu olhar sobre tua face muito amada.
- Adalgisa Nery, in: As Fronteiras da Quarta Dimensão, 1951.
Silêncio
Nas mãos inquietas
Cansadas esperanças
Tateando formas na luz ausente,
Nos olhos embrumados
A viva cruz do alívio,
Na boca imobilizada
A palavra amortalhada.
E à tona da fugaz realidade
O mistério das surpresas superadas.
Paisagem de espaços, e fantasmas
Ordenam não falar, não morrer,
Ouvir sem conduzir o pensamento,
Viver os vazios lúcidos
Entre a palavra e o som
Do coração a bater.
Resta apenas a flutuação ociosa
Livre das coisas da memória, da discordância
Das idéias obsessivas
Que escondidas estavam
Como fantásticos tesouros
Em frágeis e indefesas mãos.
- Adalgisa Nery, in:
Erosão, 1973.
O espírito da
tempestade que executa a minha palavra
Partiu
E minha forma assim
abandonada
Caiu.
Vieram depois a
aflição e a agonia
E cresceram em mim
Como a aurora e o
dia.
E se eu quisesse
contar, homens irmãos,
Desde quando meu
coração está isento de alegria,
Acreditem,
Não poderia.
Há muitos séculos
mora em mim
Uma noite muito
escura, muito fria.
- Adalgisa Nery, in:
Mundos Oscilantes, 1962.
Ternura
Antes que eu me
transforme em água
E corra com os rios
Cantando para as
florestas escuras
A canção sublime
Deixa-me contemplar
tua face amada
Para que a canção
se eternize.
Antes que os meus
olhos se transformem
nos minúsculos
vermes
Que movimentam o
solo
Deixa-me receber a
luz de tua boca
Para que eu me
ilumine como as estrelas
No infinito da
noite.
Antes que minhas
mãos se mudem nas pedras das montanhas
Por onde caminharão
os jovens pastores
Deixa-me afagar
teus cabelos
Para que meu
carinho se transforme na brisa
Que beija os
grandes trigais.
Antes que minha
forma sirva junto às raízes
Para amadurecer os
frutos
Guarda-me na música
de teu corpo
Para que o mistério
do amor
Baixe sobre o
universo
E banhe os
espíritos perturbados.
- Adalgisa Nery, in:
Mundos Oscilantes, 1962.
Vivência
Começamos a viver
Quando saímos do sono da existência,
Quando as distâncias se alongam nas partículas do corpo.
Começamos a viver
Quando confusos e sem consolo
Não sentimos os traços do irmão perdido.
Quando antes da força
Surge a sombra do insignificante.
Quando o sono é transformado em sonhos superados,
Quando o existir não é contradição.
Começamos a viver
Quando percebemos a mutação das células,
Quando fugimos de dentro de nós mesmos
E escondemos a nossa carne num caramujo oco.
Quando o espírito falsificado esquece
As tortuosas estradas
E quando deixamos de ser escaravelhos laboriosos.
Começamos a viver
Quando velamos além do sono
A vida irreal dos nossos passos.
- Adalgisa Nery, in:
Erosão, 1973.
- Eduardo Coelho, do Arquivo-Museu de Literatura
Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa.
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Retrato Adalgisa Nery, por Diego Rivera, 1945. [Coleção Sr. Rafael Maraeyna] |
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![]() |
Adalgisa Nery, 1937 [Foto: Acervo Projeto Portinari] |
DOCUMENTÁRIO
Filme: Ismael e Adalgisa
Sinopse: "As cores fortes do simbolismo do pintor e
filósofo Ismael Nery (1900-34) se misturam à combativa poetisa, escritora e
jornalista Adalgisa Nery (1905-80), sua esposa, deputada socialista cassada
pelo AI-5, tendo Murilo Mendes (1901-75) como vértice deste fascinante
triângulo intelectual."
Direção: Malu De Martino
Gênero: Documentário
Formato: Curta-metragem, 35mm
Ano: 2001
Duração: 33 min.
Roteiro: Pedro Rosa
Elenco: Bruno Garcia, Christiane Torloni, Emmanuel Nery,
Marília Medina, Murilo Rosa, Samantha Nery
Produção: Ricardo Gringo Machado
Produção executiva: Clélia Bessa
Direção de Fotografia: Renato Padovani
Trilha Sonora: André Moraes
Produtora: Grupo Novo de Cinema e TV
Desdobramento
de Adalgisa
Os homens
preferem duas.
Nenhum amor
isolado
Habita o rei
Salomão
E seu amplo
coração.
Meu rei, a
vossa Adalgisa
Virou duas
diferentes
Para mais a
adorardes.
Sou loura,
trêmula, blândula
E morena
esfogueteada.
Ando na rua a
meu lado,
Colho bocas,
olhos, dedos
Pela esquerda e
pela direita.
Alguns mal
sabem escolher,
Outros misturam
depressa
Perna de uma,
braço de outra,
E o indiviso
sexo aspiram,
Como se as duas
fossem uma,
Quando é uma
que são duas.
![]() |
Adalgisa Nery, 1937. [Foto: Acervo Projeto Portinari] |
Adalgisa e
Adaljosa,
Parti-me para
vosso amor
Que tem tantas
direções
E em nenhuma se
define
Mas em todas se
resume.
Saberei
multiplicar-me
E em cada praia
tereis
Dois, três,
quatro, sete corpos
De Adalgisa, a
lisa, fria
E quente e
áspera Adalgisa,
Numerosa qual
Amor.
Se fugirdes
para a floresta,
Serei cipó,
lagarto, cobra,
Eco de grota na
tarde,
Ou serei a
humilde folha,
Sombra tímida,
silêncio
Entre duas
pedras. E o rei
Que se enfarou
de Adalgisa
Ainda mais se
adalgisará.
Se voardes, se
descerdes
Mil pés abaixo
do solo,
Se vos matardes
alfim,
Serei ar de
respiração,
Serei tiro de
pistola,
Veneno, corda,
Adalgisa,
Adalgisa
eterna, os olhos
Luzindo sobre o
cadáver.
Sou Adalgisa de
fato,
Pensais que sou
minha irmã
Ou que me
espelho no espelho.
Amai-me e não
repareis!
Uma Adalgisa
traída
Presto se vinga
da outra.
Eu mesma não me
limito:
Se viro o rosto
me encontro,
Quatro pernas,
quatro braços,
Duas cinturas e
um
Só desejo de
amar.
Sou a quádrupla
Adalgisa,
Sou a múltipla,
sou a única
E analgésica
Adalgisa.
Sorvei-me,
gastai-me e ide.
Para onde quer
que vades,
O mundo é só
Adalgisa.
- Carlos Drummond de Andrade, in Brejo das almas
(1934).
![]() |
Adalgisa Nery e Murilo Mendes, 1937. [Foto: Acervo Projeto Portinari] |
![]() |
Cândido Portinari e Adalgisa Nery, 1937 [Foto: Acervo Projeto Portinari] |
![]() |
Lourival Fontes, Frank Sinatra, Adalgisa Nery e Ary Barroso |
![]() |
Esquerda para direita: Ary Barroso, Fred Me Murray, Adalgisa Nery, Claudete Colbert, Lourival Fontes nos EUA. |
“Um dia, como
um dia para toda adolescente, eu senti que amava um homem. Conheci então uma
nova paisagem da minha alma. Descobri nesse sentimento um senso de beleza capaz
de afugentar todas as sombras acumuladas dentro do meu ser. Pela primeira vez,
tive a sensação exata de força e liberdade. Lembro-me que, imantada por ele, eu
me integrei totalmente em todas as partículas da vida e da natureza. Subindo os
degraus de uma escada de pedra, reparei nas formigas que cruzavam e, com
cuidado especial, procurei não esmagá-las com os meus pés. Fitei com uma
ternura cuidadosa as plantas, as flores, as andorinhas, que traçavam espaço e a
poeira de orvalho caída sobre as folhagens. Aprendi as cores nas luzes das manhãs
e nas tonalidades do anoitecer. Eu estava no processo da metamorfose. Em tudo
eu encontrava uma duplicidade de sentido. Estava sob a função de reminiscências
eternas que atuavam como ligação do divino que surge no humano e com o divino
que se entende no universo. Havia um
abandono alegre no meu ser acompanhando a causa misteriosa. E, de repente, me
senti identificada com a vida. Tive a impressão de que uma grande chuva caíra
sobre o mundo, e agora se apresentava lavado, fresco, radiante. Creio que os meus
gestos se tornaram harmoniosos, a minha voz era o eco da música das águas
cantantes e a minha memória só se recordava das formas perfeitas, para essa
nova construção. Foi uma fase de grandeza aguda e espetacular da minha alma. De
tudo emanava doçura e leveza compensadoras.
[...]
![]() |
Adalgisa Nery, 1943. [Foto: Acervo Projeto Portinari] |
Não creio que
haja nenhum período feliz na nossa vida. Às vezes há uma fase de inconsciência
da infelicidade. Nesse espaço de tempo, julgamos estar vivendo uma época feliz.
Em realidade, o descontentamento não veio à tona. Estava em gestação no
acontecimento. Só notamos quando a ocorrência vem à superfície dos nossos cinco
sentidos. Porém ele nunca deixou de existir. É a esse hiato entre a ignorância
e o conhecimento do desagradável que denominamos puerilmente de “época feliz”.
O próprio amor que é a mais verdadeira proximidade da felicidade, não desligado
jamais de um grande subterrâneo sofrimento. Sobre as horas ardentes de uma
plena satisfação amorosa, estão o desgosto e o sofrimento vigiando o primeiro
cansaço e o primeiro tédio para flutuarem num tempo mais largo, com maior
duração e fundas conseqüências do que o momento nos trouxe a sensação do
eterno. A minha natureza não é de mulher pessimista. Sou um ser anaglífico
vivendo uma sincera fusão de duas imagens de perspectivas semelhantes. Há uma
intensidade de forças em profundidade e em extensão girando em meu redor como o
ectoplasma. Daí sentir-me constantemente no limbo. Essa explicação tem como
finalidade desviar qualquer julgamento precipitado para classificar-me de pessimista.
Apesar de ter sido desde menina violentada pela vida, os meus olhos não
perderam a noção dos coloridos e dos contornos e a minha alma não esqueceu a
música e a harmonia.”
- Adalgisa Nery, ‘trecho’ do romance “A
imaginária”, 1957.
![]() |
Retrato Adalgisa Nery, por Cândido Portinari, 1940 |
ACERVO ADALGISA
NERY
Fundação Casa Rui Barbosa
FONTES E
REFERÊNCIAS DE PESQUISA
Obra da autora
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Adalgisa Nery - entre as letras e a política. Templo Cultural Delfos, maio/2013. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Adalgisa Nery - entre as letras e a política. Templo Cultural Delfos, maio/2013. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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Obrigada pelo excelente aritgo, eu desconhecia as obras e a vida dessa maravilhosa escritora!
ResponderExcluirObrigada Alexandra!
ExcluirFico feliz que tenhas gostado e que tivemos a oportunidade de te apresentar a esta bela escritora.
Volte sempre, abraços
Fabulosa resenha. Deliciosa, completa e profunda. Muito obrigada. Bem haja!
ResponderExcluirObrigada!
ExcluirFico feliz que tenhas gostado.
volte sempre, abraços
Perfeito trabalho! Aguardo a resenha de Orides Fontela, deixo aqui como sugestão. Um grande abraço e um muito obrigada.
ResponderExcluirTuca Kors
Eu seu mexicana e eu desconhecia os poemas de Adalgisa Nery. Agora ele é um dos meus poetas favoritos.
ResponderExcluirMOITO OBRIGADA
Esta mulher Adalgisa é um poema inteiro que sua alma profetisa.
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