© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske
Por gentileza citar conforme consta no final desse trabalho.
* Página original MAIO/2013 | ** Página revisada, ampliada e atualizada SETEMBRO/2021.
"Abençoados aqueles que não tiveram tréguas na alma, porque podem ver as cores das madrugadas, o brilho das estrelas, sentir o calor do sol, receber o pranto das chuvas, colher o perfume das flores, ouvir a canção das águas e compreender a voz dos ventos. Esses, realmente, viveram em unidade, viveram dentro das forças contrárias, e por isso mesmo podem distinguir o valor das lágrimas e das alegrias, do silêncio e das canções e a grandeza do contentamento dos sentidos, largados em plenitude"
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 2016.
ESBOÇO BIOBIBLIOGRÁFICO DE ADALGISA NERY
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Adalgisa e o Artista, por Ismael Nery, 1930 | Coleção Nemirowsky |
Em 1940 casa-se com o jornalista Lourival Fontes (1899 -
1967), diretor do Departamento de Imprensa e Propaganda da ditadura de Getúlio
Vargas (1882 - 1954). Entre 1940 e 1945, acompanha o marido em missão
diplomática pelo Canadá e Estados Unidos. Em seguida, muda-se para o México,
onde Fontes se torna embaixador. Convive com artistas mexicanos como os
pintores Diego Rivera (1886 - 1957) e José Orozco (1883 - 1949), pelos quais é
retratada. Em 1952 torna-se a primeira mulher a receber a Ordem da Águia
Asteca, por suas conferências sobre a poeta mexicana Juana Inés de la Cruz
(1651? - 1695).
No ano seguinte, o editor francês Pierre Seghers (1906 -
1987) traduz e publica uma coletânea de poemas de Adalgisa em Paris. Ainda em
1953, a escritora separa-se do marido e começa a tecer comentários políticos na
coluna Retrato sem Retoque do jornal Última Hora. Jornalista combativa, é
eleita deputada em 1960, pela legenda do Partido Socialista Brasileiro (PSB),
mas, devido ao golpe militar, sua coluna no jornal é censurada e seus direitos
políticos cassados. Sem recursos próprios, Adalgisa muda-se para a casa do
filho mais novo, o artista plástico Emmanuel Nery (1931 - 2003). Em 1976,
interna-se por espontânea vontade em uma clínica geriátrica no Rio de Janeiro,
onde falece, em 1980.
Comentário crítico
Apesar de acompanhar de perto o movimento modernista nas
décadas de 1920 e 1930, sendo musa de artistas plásticos e escritores, o
primeiro livro de Adalgisa Nery só é publicado em 1937, com o título Poemas.
Este e o livro seguinte, a Mulher Ausente, de 1940, levam a autora a ter sua
obra comparada, pelo poeta Manuel Bandeira, à obra da poeta grega Safo de
Lesbos (século VII a.C.), pelo erotismo libertário, e do poeta português Antero
de Quental (1842 - 1891), pelo tom trágico.
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Retrato Adalgisa Nery, por Candido Portinari, 1937 |
Nesses poemas, Adalgisa reflete sobre a condição da
mulher em um mundo machista, tema até então inédito na literatura brasileira.
Influenciada por algumas correntes das artes plásticas, a autora recorre a
imagens utópicas, ora de um passado distante, ora de um futuro sonhado, para se
contrapor ao presente. Por isso, alguns críticos definem sua poesia como "uma
palpitação mística" que enfrenta a vida cotidiana. Essa característica
torna-se mais evidente nos livros seguintes, sobretudo em As Fronteiras da
Quarta Dimensão, de 1952, considerado pela própria autora como sua obra mais
apurada e amadurecida.
Paralelamente à sua obra poética, quase toda reunida em
Mundos Oscilantes, de 1962, Adalgisa escreve dois volumes de contos e dois
romances. Seu maior sucesso editorial, o romance A Imaginária, de 1959, é
interpretado como uma autobiografia sobre seu conturbado casamento com o pintor
Ismael Nery (1900-1934). Além disso, entre 1953 e 1966, Adalgisa mantém uma
intensa produção jornalística através do Retrato sem Retoque, coluna diária
sobre política no jornal Última Hora.
Nos anos 1960, a autora dedica-se à militância política e
não publica nenhuma obra inédita. Em 1972, publica o romance Neblina, dedicado
ao apresentador de televisão Flávio Cavalcanti (1923 - 1986). A dedicatória é
malvista por artistas e críticos, uma vez que o apresentador é simpatizante da
ditadura militar, o que prejudica a divulgação da obra. Desmotivada, Adalgisa
lança sua última obra no ano seguinte: o volume de poemas intitulado Erosão.
Fonte: Enciclopédia Literatura Brasileira/Itaú Cultural (acessado em 26.5.2013).
"Cada um de nós tem as suas recordações, os seus pontos fixos na memória, e não é justo que recusem as minhas lembranças. A verdade de cada um não pode ser transferida, negada nem subestimada, pois dela formamos a nossa vida, nosso ambiente e sabemos o motivo das nossas reações. Negar uma recordação é um abuso e uma fraqueza."
- Adalgisa Nery, no livro “A imaginária”. Editora José Olympio, 1957.
OBRA DE ADALGISA NERY
:: Poemas. Adalgisa Nery. (Livro de estreia da autora).1ª
ed., Rio de Janeiro: Pongetti, 1937.
:: A mulher ausente. Adalgisa Nery. [capa de Santa Rosa e seis ilustrações de Portinari], 1ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1946.
:: Ar do deserto. Adalgisa Nery. [capa de Santa Rosa]. 1ª
ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1948.
:: Cantos da angústia. Adalgisa Nery. [capa de Santa
Rosa]. 1ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1948.
:: As fronteiras da quarta dimensão. Adalgisa Nery. [capa de Santa Rosa]. 1ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1952.
:: Poemas. Adalgisa Nery. 1ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1960.
:: Mundos oscilantes: poesia reunida. Adalgisa Nery. [texto orelhas do livro por Geir Campos]. 1ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1962.
:: Erosão. Adalgisa Nery. [capa de Emmanuel Nery]. 1ª ed.,
Rio de Janeiro: José Olympio, 1973. {livro assinado por Adalgisa Nery sob pseudônimo Ryne}.
Contos
:: Og. Adalgisa Nery. 1ª ed., [capa de Santa Rosa]. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1943.
:: 22 menos 1. Adalgisa Nery. [capa Santa Rosa]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora
Expressão e Cultura, 1972.
Crônicas
:: Retrato sem retoque. Adalgisa Nery. 1ª ed., [texto orelhas do livro por Ênio Silveira; capa Eugênio Hirsch]. Coleção Retratos do Brasil, vol. 18. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963.
Romance
![]() |
Autoretrato com Adalgisa , de Ismael Nery - s/data | Coleção Particular |
:: A imaginária. Adalgisa Nery. [organização Ramon Nunes Mello; prefácio Ana Arruda Callado; posfácio Affonso Romano de Sant'Anna]. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 2015. {Inclui: nota biográfica}.
.
:: Neblina. Adalgisa Nery. [capa desenho de Portinari; arte Emmanuel Nery] 1ª ed., Rio de Janeiro: José
Olympio, 1972. {livro assinado por Adalgisa Nery sob pseudônimo Ryne}.
:: Neblina. Adalgisa Nery. [organização Ramon Nunes Mello]. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 2016.
Traduções realizadas por Adalgisa Nery
:: O jardim das caricias / 'The Garden of Caresses'. (poemas árabes em prosa). tradução para o francês por Franz Toussaint. [tradução de Adalgisa Nery; capa de Santa Rosa]. 1ª ed., Coleção Rubáyát. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1938.
:: Em busca do amor: a vida de George Sand / 'George Sand – The schearch of love', de Marie Jenney Howe. [tradução Adalgisa Nery]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1941.
:: O trono do Amazonas - a história dos Braganças no Brasil / 'Amazon thorne'. de Bertita Harding. [tradução Adalgisa Nery]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1944.
.
:: O romance do Dr. Harvey Leith* / 'Grand canary', de A. J. Cronin. [tradução Adalgisa Nery; capa de Santa Rosa]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1940. * Encontro de amor.
:: *Encontro de amor (O romance do Dr. Harvey Leith) / 'Grand canary', de A. J. Cronin. [tradução Adalgisa Nery; capa de G. Bloow]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1949.
:: Encontro de amor (O romance do Dr. Harvey Leith) / 'Grand canary', de A. J. Cronin. [tradução Adalgisa Nery; capa de Luiz Jardim]. Coleção Fogos Cruzados, v. 89. 3ª ed., Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1949.
Biografia
:: Adalgisa Nery. Muito amada e muito só. Ana Arruda Callado. Coleção Perfis do Rio, v. 24. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura / RioArte; Relume Dumará, 1999.
Em revistas
:: Eterno tédio (poema). Adalgisa Nery. In: Revista Luso Brasileira, n. 1, 23 de maio de 1942 | Hemeroteca Digital de Lisboa/Portugal. Disponível no link. (acessado em 6.9.2021).
Entrevista
:: Entrevista com Adalgisa Nery. [por Paulo Silveira, Peregrino Jr e Carlos Drummond de Andrade]. In: Museu de Imagem do Som, Rio de Janeiro, 27 jun. 1967.
:: Entrevista com Adalgisa Nery. [por Paulo Silveira, Peregrino Jr e Carlos Drummond de Andrade]. In: Museu de Imagem do Som, Rio de Janeiro, 27 jun. 1967.
:: Entrevista com Adalgisa Nery. [por Ricardo Cravo Albin, Paulo Francis, Sérgio Cabral e Fausto Wolff]. In: O Pasquim, Rio de Janeiro, p.14-15,11 a 17 mar. 1971.
Em Antologias (participação)

:: Obras-primas da lírica brasileira. [seleção Manuel Bandeira; notas Edgar Cavalheiro]. Coleção A marcha do espírito, vol. XII. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1943.
:: As mais belas poesias brasileiras de amor. [seleção, prefácio e notas Frederico dos Reys Coutinho]. Rio de Janeiro, RJ: Editora Vecchi, 1946; (autores presentes: Casimiro de Abreu, Luiz Delfino, Gonçalves Dias, Teófilo Dias, Cruz e Sousa, Osório Dutra, José de Santa Rita Durão, Alberto de Oliveira, Luíz Edmundo, Gilka Machado, Alceu Wamosy, Cleômenes Campos de Oliveira, Felippe d'Oliveira, Medeiros e Albuquerque, Humberto de Campos, Hermes Fontes, Adelino Fontoura, Martins Fontes, Olegário Mariano, Junqueira Freire, Gregório de Matos, Cecília Meireles, Francisco Otaviano, Vitoriano Palhares, Guimarães Passos, Murilo Mendes, Mário Pederneiras, Lúcio de Mendonça, Alvarenga Peixoto, Castro Meneses, Emílio de Menezes, Fagundes Varela, Vargas Neto, Possidônio Machado, Guilherme de Almeida, Emiliano Perneta, J. G. de Araújo Jorge, Maciel Monteiro, Carlos Góis, Vinicius de Morais, Francisco Karam, Luiz Murat, Tomás Antônio Gonzaga, Laurindo Rabelo, Alberto Ramos, Castro Alves, Adalgisa Nery, Alphonsus de Guimaraens, Bernardo Guimarães, Luís Guimarães Júnior, Amadeu Amaral, Abgar Renault, Carlos Drummond de Andrade, Goulart de Andrade, Mário de Andrade, Murilo Araújo, Machado de Assis, B. Lopes, Álvares de Azevedo, Artur Azevedo, Manuel Bandeira, Raul de Leoni, Adelmar Tavares, Augusto Frederico Schmidt, Augusto de Lima, Alberto Silva, Francisca Júlia da Silva, Joaquim Serra, Heitor de Oliveira Lima, Renato Travassos, Olavo Bilac, Raimundo Correia, Belmiro Braga, Cláudio Manuel da Costa, Zeferino Brasil, Ribeiro Couto, Gonçalves Crespo, Azevedo Cruz, Ronald de Carvalho, Vicente de Carvalho, Carmen Cinira, Moacir de Almeida).. {Contém os seguintes poemas de Adalgisa Nery: "A um homem" e "Estigma", p. 215-216} | BLPL - Literatura Brasileira / UFSC. Disponível no link. (acessado em 6.9.2021).
:: Brasileiros contra o Brasil. Antologia nacionalista | o Movimento Nacionalista Brasileiro Brasileiro. Vol. 1. [prefácio Gabriel Passos]. São Paulo: Editora Fulgor, 1958. (autores presentes: Adalgisa Nery, Caio Prado Junior, Elias Chaves Neto, Gondin da Fonseca, Osny Duarte Pereira, Oswaldo Costa, Paulo F. Alves Pinto e Pompeu Accioly Borges).
:: Sopram os ventos da liberdade. Antologia nacionalista | o Movimento Nacionalista Brasileiro Brasileiro. Vol. 2. [prefácio Oswaldo Costa]. São Paulo: Editora Fulgor, 1959. (autores presentes: Adalgisa Nery, Américo Barbosa de Oliveira, Gondin da Fonseca, Gabriel Passos, Osny Duarte Pereira, Paulo F. Alves Pinto e Sérgio Magalhães).
:: Antologia dos poetas brasileiros. [organização Manuel Bandeira; nota editorial Alexei Bueno; introdução Walmir Ayala]. vol. 1, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996. (autores presentes /vol. 1: Augusto dos Anjos, Amadeu Amaral, Gilberto Amado, Adelmar Tavares, Hermes Fontes, Lopes de Almeida, Olegário Mariano, Gilka Machado, Raul de Leoni, Múcio Leão, Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida, Oswald de Andrade, Mario de Andrade, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Ronald de Carvalho, Adalgisa Nery, Paulo Gomide, Jorge de Lima, Joaquim Cardozo, Ascenso Ferreira, Ribeiro Couto, Sérgio Millier, Raul Bopp, Dante Milano, Cecilia Meireles, Tasso da Silveira, Murilo de Araújo, Augusto Meyer, Mário Quintana, Emílio Moura, Carlos Drummond de Andrade, Abgar Renault, Murilo Mendes, Henriqueta Lisboa, Godofredo Filho, Pedro Nava, Pedro Dantas, Augusto Frederico Schmidt, Vinícius de Moraes, Lúcio Cardoso, Odilo Costa Filho).
:: Contos de escritoras Brasileiras. [org. Lúcia Helena Vianna e Márcia Lígia Guidin]. Coleção Prosa. São Paulo: Martins Fontes, 2003. {contém de Adalgisa Nery: "A gargalhada"}.
:: Metrópole à beira-mar: O Rio moderno dos anos 20. de Ruy Castro [capa Hélio de Almeida]. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. (Quem fez o Rio dos anos 20: Adalgisa Nery, Adhemar Gonzaga, Agrippino Grieco, Alvaro Moreyra, Aracy Cortes, Benjamin Costallat, Bertha Lutz, Bidu Sayão,o Carlos Chagas, Carmen Miranda, Cecilia Meirelles, Di Cavalcanti, Elsie Houston, Eugenia Alvaro Moreyra, Francisco Alves, Gilka Machado, Ismael Nery, Ismael Silva, J. Carlos o Jayme Ovalle, João do Rio, Laurinda Santos Lôbo, Lima Barreto, Manuel Bandeira, Mario Reis, Murilo Mendes, Orestes Barbosa, Oswaldo Goeldi, Patrocinio Filho, Pixinguinha, Procopio Ferreira, Ronald de Carvalho, Roquette-Pinto, Sinhô,o Théo-Filho, Vera Janacopoulous, Villa-Lobos).
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Arte: Autorretrato com Adalgisa, de Ismael Nery | Coleção Instituto São Fernando - RJ.
França
:: Au-delà de toi. Adalgisa Nery. Antologia. [éditée par Pierre Seghers; d´après la traduction de Francette Rio-Branco]. Paris: Éditions Seghers, 1952.
:: Au-delà de toi. Adalgisa Nery. Antologia. [éditée par Pierre Seghers; d´après la traduction de Francette Rio-Branco]. Paris: Éditions Seghers, 1952.
Em antologias (tradução e estrangeiras)
:: Poesía brasileña contemporânea (1920-1946): Crítica y antologia. [org. Gaston Figueira]. Montevideo: Instituto de Cultura Uruguayo-Brasileño, 1947.
:: Voces femeninas de la poesía brasileña: ensayo antológico. [org. e tradução Adovaldo Fernandes Sampaio]. Goiânia: Editora Oriente, 1979.
:: One Hundred Years after Tomorrow: Brazilian Women's Fiction in the Twentieth Century. [org. and translated Darlene J. Sadlier]. Bloomington: Indiana University Press, 1992 {contém de Adalgisa Nery: "Premeditated coincidence" / 'Coincidência premeditada'}.
Italiano (revista e site)
:: Adalgisa Nery tradotta da Emilio Capaccio. [Poesie]. In: Neobar, 12 maggio, 2019. Disponível no link. (acessado em 6.9.2021).
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Arte: Adalgisa Nery, por Augusto Rodrigues. In. Suplemento Literário Diretrizes (s.i). n. 8, 1940.
CONDECORAÇÃO
1952 - Ordem da Águia Asteca (Orden del Águila Azteca), concedida pelo Governo Mexicano - por suas conferências sobre a poeta Juana Inés de la Cruz -1651? - 1695. [torna-se a primeira mulher a receber a mais alta condecoração mexicana].
1952 - Ordem da Águia Asteca (Orden del Águila Azteca), concedida pelo Governo Mexicano - por suas conferências sobre a poeta Juana Inés de la Cruz -1651? - 1695. [torna-se a primeira mulher a receber a mais alta condecoração mexicana].
"A vida tem para mim formas infinitamente variadas em que a poesia sempre se manifesta com a mesma grandeza e o mesmo intenso colorido. Leva-me aos cumes mais altos do universo e atira-me às profundezas mais escuras das dolorosas regiões."
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 2016.
DISCO / LP 'POESIAS - CASSIANO RICARDO / ADALGISA NERY'
Álbum "Poesias Cassiano Ricardo - Adalgisa Nery" | LP 10" Vol. VIII | Selo Festa (1956)
Álbum "Poesias Cassiano Ricardo - Adalgisa Nery" | LP 10", 33 ⅓ RPM, Vol. VIII | Selo Festa (cat. LPP 008) | 1956
2. Os paraquedistas (Cassiano Ricardo)
3. A flauta que me roubaram (Cassiano Ricardo)
4. Plano inclinado (Cassiano Ricardo)
5. O cacto (Cassiano Ricardo)
6. A consentida (Adalgisa Nery)
7. Ensinamentos (Adalgisa Nery)
8. Poema da amante (Adalgisa Nery)
9. Carta de amor (Adalgisa Nery)
10. Eu te amo (Adalgisa Nery)
11. Repouso (Adalgisa Nery)
12. A mulher triste (Adalgisa Nery)
13. Força (Adalgisa Nery)
- ficha técnica -
Recitado (declamado) pelos próprios artistas: Faixas 1 a 5 (Lado A) por Cassiano Ricardo | Faixas 6 a 13 (Lado B) por Adalgisa Nery | Direção: Irineu Garcia e Carlos Ribeiro | Texto (contracapa): Valdemar Cavalcanti | Capa: Aldary Toledo.
"O otimismo não é senão viver unicamente o que desejamos que aconteça de agradável num futuro de dados desconhecidos."
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 2016.
DOCUMENTÁRIO
Docudrama | curta-metragem | 35mm | 34 min. | Cor | Brasil | 2001
Sinopse: As cores fortes do simbolismo do pintor e filósofo Ismael Nery (1900-34) se misturam à combativa poetisa, escritora e jornalista Adalgisa Nery (1905-80), sua esposa, deputada socialista cassada pelo AI-5, tendo Murilo Mendes (1901-75) como vértice deste fascinante triângulo intelectual.
- ficha técnica -
Direção: Malu De Martino
Roteiro: Pedro Rosa
Elenco: Bruno Garcia, Christiane Torloni, Emmanuel Nery, Marília Medina, Murilo Rosa, Samantha Nery
Produção: Ricardo Gringo Machado
Produção executiva: Clélia Bessa
Direção fotografia: Renato Padovani
Direção arte: Zilda Moschkovich
Trilha sonora: André Moraes
Produtora: Raccord Produções
* Disponível no youtube. link. (acessado em 29.8.2021).
** Ficha técnica: Cinemateca Brasileira (acessado em 25.5.2013).
"A vida em todas as suas manifestações de alegrias e dores é a forma, a encarnação de uma coisa que desconhecemos. Sentimos sempre que essa forma é frágil e incerta, mas há também em nós um receio quase infantil de desaparecer sem deixar um vago traço."
- Adalgisa Nery, no livro “A imaginária”. Editora José Olympio, 1957.
POEMAS ESCOLHIDOS DE ADALGISA NERY
Anseio
Quero que desça
sobre mim a grande sombra que alivia,
Aquela que arranca
do meu coração a revolta que me impede de ser mansa.
Quero descansar...
Quero encontrar
aquele que é mais belo que o sol,
Que aumenta o meu
sofrimento e que ajuda na minha redenção,
Que reparte suas
angústias comigo para que lhe sirva de auxílio.
Quero ouvir a sua
voz que é como a música dos mares,
Quero acolher-me na
sua sombra e abraçar-me aos seus joelhos...
Quero descansar sem
demora...
Quero chegar o
tempo da minha última lágrima
ser recolhida dos
meus olhos pisados e saudosos
Por aquele que é o
molde dos poetas, o que se veste com as estrelas que meus olhos
ainda não vêem.
- Adalgisa Nery, in: Dom Casmurro, Rio de Janeiro, 19
ago. 1937, p. 2.
§§
Aspiração
Antes que vingue
outra esperança
Quero as sombras do
branco espesso.
Antes que mais uma
insônia se cumpra
Quero o torpor no
abismo indecifrável
Do espírito
amortalhado.
Antes que o
pensamento acorde
E descubra os
espaços petrificados,
Quero narcotizar-me
sem sonhos
E deitar-me no
mundo sem sombras,
Sem palavras nem gestos.
Antes que alguma
crença me recolha,
Antes que eu
entenda o obscuro,
Antes que o
sensível me assalte,
Antes que eu
distinga na lonjura
A morte da estrela
cintilante,
O êxtase da solidão
vertical,
Quero ser coisa sem
motivo
Entregue aos ventos
sem destino.
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.
§§
A paisagem de amanhã
Ânsia de paz de
noites desertas,
Desejo de sentir o
tranquilo positivo
Nas intenções
indevassáveis,
Na voz acima de
todos os sons,
Acima do estrondo
universal da bomba fratricida.
Ânsia de repouso
final
No exaspero de mãos
unidas pelo medo,
Pânicos imprevistos
Calando todos os
instantes, todas as idades,
Chorando o nosso
jamais.
Olhos outrora amigos
Impercebem em
pastoso sangue.
Que gerações
sofridas surgirão
Na espessa aflição
de tão grandes mares
De ódio, ambição,
vingança
Agora vêm dos ossos
à procura do sexo,
Fúria de possessão
inexplicável
Invade o campo de
alheias propriedades
Lavradas no crime
E plantadas por
tiranas mãos,
Heróis do século
repetindo o que os outros foram.
Energias, vidas,
mocidades
Flutuando sem rumo
nas glórias e nas medalhas
Da nação em queda
vertical solo abaixo
Cérebros falidos
comandando existências em floração,
Numerando
interminável esteira
De vassalos de
línguas arrancadas.
Braços sem dono,
ventres desapropriados,
Espíritos
transformados em detritos pestilentos
Alimentam o tétrico
destino
Da técnica contra o
homem.
As estradas já não
pertencem aos pés mansos,
O veio da riqueza,
em mãos feudais.
No paralelo de
horizonte sombrio
Levanta-se o vulcão
que derrubará presídios e asilos
Para criar o grande
rio de mortos putrefatos.
Não haverá tropas
guerreiras contra ninguém
Apenas climas não
sentidos dentro de atmosferas mortas
Desprezadas pelo
vento livre.
E no âmago do âmago
O pranto medroso da
futura criança
Presa ao ventre da
terra,
E a revolta do
jovem mudo,
São figuras oscilando
nas trevas da Criação.
No profundo dos
tempos
A ordem técnica
recua medrosa,
Ouve o grito severo
Trazido pelo ar que
balançou os corpos enforcados.
No fim, o estupro
de cada homem
Violentado pela
técnica
Dos inventos de
guerra.
Em torno de todas
as mortes
A vida, em
minúsculas centelhas,
Forçará as trevas
Que cobrem o homem
eternamente insepulto.
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.
§§
A poesia se esfrega nos seres e nas cousas
Nunca sentiste uma força melodiosa
Cercando tudo o que teus olhos vêem,
um misto de tristeza numa paisagem grandiosa
Ou um grito de alegria na morte de um ser que queres bem?
Nunca sentiste nostalgia na essência das cousas perdidas
Deparando com um campo devoluto
Semelhante a uma viagem esquecida?
Num circo,nunca se apoderou de ti um amargor sutil
Vendo animais amestrados
E logo depois te mostrarem
Seres humanos imitando um réptil?
Nunca reparaste na beleza de uma estrada
Cortando as carnes do solo
Para unir carinhosamente
Todos os homens, de um a outro pólo?
Nunca te empolgaste diante de um avião,
Olhando uma locomotiva, a quilha de um navio,
Ou de qualquer outra invenção?
Nunca sentiste esta força que te envolve desde o brilho do dia
Ao mistério da noite,
Na extensão da tua dor
E na delícia da tua alegria?
Pois então, faz de teus olhos o cume da mais alta montanha
Para que vejas com toda a amplitude
A grandeza infindável da poesia que não percebes
E que é tamanha!
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.
§§
A razão de eu me gostar
Eu gosto da minha forma no mundo
Porque representa uma fagulha,
Porque mostra um instante doce e perverso
Da ideia, do gesto e da realização
De Deus no Universo.
Eu gosto dos erros que pratico
Porque vejo a pureza colocada na minha essência
Desde o Início
Lutar contra todo o mal que em mim existe
E ser tão maior, que sobre a minha miséria
Ela ainda persiste
Eu gosto de espiar
O meu olho direito
Ver o esquerdo chorar,
De sentir a minha garganta se enrolar de dor
Porque em troca de tanta cousa dolorosa
Ele construiu em mim uma cousa gloriosa,
Que é o amor.
- Adalgisa Nery, no livro "A Mulher Ausente", José Olympio Editora, 1946.
A poesia se esfrega nos seres e nas cousas
Nunca sentiste uma força melodiosa
Cercando tudo o que teus olhos vêem,
um misto de tristeza numa paisagem grandiosa
Ou um grito de alegria na morte de um ser que queres bem?
Nunca sentiste nostalgia na essência das cousas perdidas
Deparando com um campo devoluto
Semelhante a uma viagem esquecida?
Num circo,nunca se apoderou de ti um amargor sutil
Vendo animais amestrados
E logo depois te mostrarem
Seres humanos imitando um réptil?
Nunca reparaste na beleza de uma estrada
Cortando as carnes do solo
Para unir carinhosamente
Todos os homens, de um a outro pólo?
Nunca te empolgaste diante de um avião,
Olhando uma locomotiva, a quilha de um navio,
Ou de qualquer outra invenção?
Nunca sentiste esta força que te envolve desde o brilho do dia
Ao mistério da noite,
Na extensão da tua dor
E na delícia da tua alegria?
Pois então, faz de teus olhos o cume da mais alta montanha
Para que vejas com toda a amplitude
A grandeza infindável da poesia que não percebes
E que é tamanha!
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.
§§
A razão de eu me gostar
Eu gosto da minha forma no mundo
Porque representa uma fagulha,
Porque mostra um instante doce e perverso
Da ideia, do gesto e da realização
De Deus no Universo.
Eu gosto dos erros que pratico
Porque vejo a pureza colocada na minha essência
Desde o Início
Lutar contra todo o mal que em mim existe
E ser tão maior, que sobre a minha miséria
Ela ainda persiste
Eu gosto de espiar
O meu olho direito
Ver o esquerdo chorar,
De sentir a minha garganta se enrolar de dor
Porque em troca de tanta cousa dolorosa
Ele construiu em mim uma cousa gloriosa,
Que é o amor.
- Adalgisa Nery, no livro "A Mulher Ausente", José Olympio Editora, 1946.
§§
A rota
O mundo
pulveriza-nos sem revelar
Seus intuitos
secretos.
A vida é
contemplá-los nos seus gestos mais sutis
E sentir nas águas
profundas
O que de cada
destino foi escrito
Nos penhascos dos
mares agitados.
No vácuo do
espírito
Anda a forma sem
direção
Por caminhos já
pisados
E inseguros são os
passos repetidos.
Nem sempre o olhar
mais aberto
À procura da
estrada de nós mesmos
Torna o espírito
mais desperto.
Vivemos nos
penhascos dos mares agitados.
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.
§§
A essência
imutável
Entre a estrela e o
átomo
A matéria viva
estabelece o traço original.
A fotossíntese
realiza a assimilação
Da energia solar do
homem,
Mecanismo-alimento
da força biológica
Existente no grão
de luz que ronda o corpo inanimado
Vindo da semente
viajante dos ventos programados.
Cubos-pedra lançam
o elétron
De uma órbita a
outra dos planetas tranquilos
E voltam à origem
do cansaço.
Desencadeia-se o
calor que mata,
O mecanismo
complica-se,
O elétron muda de
órbita
E a sua volta é
seguida de reações em cadeia
Para aniquilar o
homem caminhante
Das estradas
indecisas.
As múltiplas
diferenças de forças
Convocam a origem
da vida em cada rumo da poeira ardida
Enquanto a
procissão do grande mecanismo
Mostra em todos os
níveis, em todas as gamas da existência,
A sua ativa
regulagem
Que ainda é
mistério para o homem aniquilado
Pela surpresa do
nada saber
Além das suas
carnes esfarrapadas pela infinita agonia.
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.
§§
Abandono
A exaustão faminta
Procura elementos ainda vivos no meu ser
Talvez guardados em escuros vácuos
Que carrego sem saber.
Alimenta-se do sopro das imagens
Desenhadas pela minha imaginação
Pelo tato dos meus sentimentos,
Pelo pânico do desconhecido.
Aparece como febre constante dilatando as minhas carnes
Descoloridas e sem sabor de vida.
A exaustão sobe pelos meus pés,
Cobre os meus gestos incipientes,
Prende a minha língua,
Suga o meu cérebro, ninho de aranhas em fogo,
Pousa no meu cabelo como morcego.
Exaustão que funga o ar, que saqueia o meu silêncio,
Último repouso nos meus vácuos devassados.
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.
§§
Cantiga de ninar
Repousa. Descansa.
Virá um dia um vento
Que arrancará a tua
balançada alma do teu corpo
E jogará a tua
balançada alma do tempo.
Que levará teus
braços para as nuvens distantes
E deixará tranqüila
tua orelha
À borda das águas
cantantes.
Um vento suave como
a caricia de uma doce mão
Que se envolverá no
brilho dos teus cabelos
Que descerá desde o
teu cérebro
Até o fundo do teu
amargurado coração.
Cairá sobre ti,
como a noite sobre a mata e sobre as flores
Desdobrará as
formas dormidas
Deitar-se-á sobre
teus sentidos
E estancará tuas
dores.
Um vento que levará
para a eterna distância
Os dolorosos
solavancos de teu espírito
E os pedaços
melancólicos de tua infância.
Repousa. Descansa.
Aconchega no sono teus pensamentos
Que este vento
chegará, não falta muito
Transformará em luz
a tua treva,
Dentro de
rapidíssimos momentos.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.
§§
§§
A canção do corpo é cantada para dentro
E a leveza da alegria se transmuda em peso,
A brisa adere aos amargos pensamentos
Fluindo no sorriso compassivo.
Logo,
Surgindo de células desamadas
Os matizes áureos anoitecem,
Pálpebras levantadas vão caindo
E nesgas apenas vislumbramos,
Geografias em nós morrendo,
Oceanos crescendo, ilhas sumindo,
Rosas nascendo na canção
Que o corpo canta para dentro.
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.
Cemitério Adalgisa
Moram em mim
Fundos de mares, estrelas-d′alva,
Ilhas, esqueletos de animais,
Nuvens que não couberam no céu,
Razões mortas, perdões, condenações,
Gestos de amparo incompleto,
O desejo do meu sexo
E a vontade de atingir a perfeição.
Adolescências cortadas, velhices demoradas,
Os braços de Abel e as pernas de Caim.
Sinto que não moro.
Sou morada pelas coisas como a terra das sepulturas
É habitada pelos corpos.
Moram em mim
Gerações, alegrias em embrião,
Vagos pensamentos de perdão.
Como na terra das sepulturas
Mora em mim o fruto podre,
Que a semente fecunda repetindo a vida
No sereno ritmo da Origem. Vida e morte,
Terra e céu, Podridão, germinação,
Destruição e criação.
- Adalgisa Nery, no livro "Poemas, José Olympio Editora, 1937.
Moram em mim
Fundos de mares, estrelas-d′alva,
Ilhas, esqueletos de animais,
Nuvens que não couberam no céu,
Razões mortas, perdões, condenações,
Gestos de amparo incompleto,
O desejo do meu sexo
E a vontade de atingir a perfeição.
Adolescências cortadas, velhices demoradas,
Os braços de Abel e as pernas de Caim.
Sinto que não moro.
Sou morada pelas coisas como a terra das sepulturas
É habitada pelos corpos.
Moram em mim
Gerações, alegrias em embrião,
Vagos pensamentos de perdão.
Como na terra das sepulturas
Mora em mim o fruto podre,
Que a semente fecunda repetindo a vida
No sereno ritmo da Origem. Vida e morte,
Terra e céu, Podridão, germinação,
Destruição e criação.
- Adalgisa Nery, no livro "Poemas, José Olympio Editora, 1937.
§§
Eterno tédio
Muitas vezes
esgotando o meu destino
Com o olhar em
pranto
E o coração
pungente como um dobrar de sino,
Ouço ruídos
seculares que unem como um canto,
Crescendo de
intensidade,
Mergulhando os meus
sentidos
Na maior
profundidade!
Muitas vezes,
considerando a vida
Com desumana
indiferença,
Por toda a
esperança perdida,
Pelo abrir de um
riso, por todo o bem, por toda a crença,
Sinto o meu viver
humilhado,
Vejo o meu nada
quase demasiado,
Que nem chega a ser
pecado.
E o tédio em toda a
amplidão
Cai sobre mim.
- Adalgisa Nery, in: Revista
Atlântico – Revista Luso-brasileira, n 1, Primavera de 1942.
§§
Escultura
Eu já te amava
pelas fotografias.
Pelo teu ar triste
e decadente dos vencidos,
Pelo teu olhar vago
e incerto
Como o dos que não
pararam no riso e na alegria.
Te amava por todos
os teus complexos de derrota,
Pelo teu jeito
contrastando com a glória dos atletas
E até pela
indecisão dos teus gestos sem pressa.
Te falei um dia
fora da fotografia
Te amei com a mesma
ternura
Que há num carinho
rodeado de silêncio
E não sentiste
quantas vezes
Minhas mãos usaram
meu pensamento,
Afagando teus
cabelos num êxtase imenso.
E assim te amo,
vendo em tua forma e teu olhar
Toda uma existência
trabalhada pela força e pela angústia
Que a verdade da
vida sempre pede
E que
interminavelmente tens que dar!...
- Adalgisa Nery, no livro "Mulher Ausente", José Olympio Editora, 1940.
§§
Eu em ti
Desejaria estar
contigo quando eras no pensamento de Deus,
Quando tua mãe te
concebeu e te alimentou com sua vida,
Desejaria estar
contigo na primeira vez que distinguiste as formas,
[as cores e os
sons,
Na tua primeira
lágrima eu quisera estar contigo e assim na tua
[primeira alegria,
Desejaria estar
contigo na tua infância e na tua adolescência,
[acompanhando as
transformações do teu físico.
Ao teu lado
desejaria estar quando, do teu corpo, constataste as
[primeiras células
reprodutoras.
No teu primeiro
pudor e no teu primeiro carinho eu quisera estar
[a teu lado,
Desejaria estar
contigo na noite de tuas núpcias e no momento em
[que te uniste a
outra mulher com o
[pensamento no teu
primeiro filho.
Desejaria estar
contigo no primeiro vestígio de tua velhice
E ainda desejaria
estar contigo no momento da separação de
[tua alma,
Na decomposição de
tuas carnes, do teu cérebro, de tua boca,
[do teu sexo,
Para poder
continuar contigo, no mundo sem espaço e sem tempo.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.
§§
Fantasmas
Lívidos fantasmas deslizam nas horas perdidas
Chegam à minha alma
E como sombras da noite
Levantam os meus ímpetos mortos
Desatando as ligaduras do tempo.
O luar da madrugada fria cai no meu rosto
E ilumina com branda amargura
O meu espírito que espera a hora insolúvel.
Os caminhos cobrem-se de homens que dormem na morte
E cresce no meu coração um desejo incontido
Para uma união mais forte, mais intensa e mais perfeita.
A minha pupila é banhada pela enorme lágrima
Que umedecerá o solo castigado.
A lágrima que levará ternura às existências sofridas,
A lágrima que se mudará em sangue,
Que levantará a vida morta do universo!
- Adalgisa Nery, no livro "Cantos da Angústia", José Olympio Editora, 1948.
Lívidos fantasmas deslizam nas horas perdidas
Chegam à minha alma
E como sombras da noite
Levantam os meus ímpetos mortos
Desatando as ligaduras do tempo.
O luar da madrugada fria cai no meu rosto
E ilumina com branda amargura
O meu espírito que espera a hora insolúvel.
Os caminhos cobrem-se de homens que dormem na morte
E cresce no meu coração um desejo incontido
Para uma união mais forte, mais intensa e mais perfeita.
A minha pupila é banhada pela enorme lágrima
Que umedecerá o solo castigado.
A lágrima que levará ternura às existências sofridas,
A lágrima que se mudará em sangue,
Que levantará a vida morta do universo!
- Adalgisa Nery, no livro "Cantos da Angústia", José Olympio Editora, 1948.
§§
Instante
O espanto abriu meu
pensamento
Com idioma vindo do
delírio,
Dos receios
indefesos, dos louvores sem raízes,
No perdão oferecido
sem razão.
O espanto abriu meu
pensamento
Na noite carregada
de lamentos
Em linguagem
universal
Fluindo do eco
perdido
Com passos de
presságio amanhecendo.
Corpos florindo na
pele da terra
Acendendo vida nas
rosas e nos vermes,
Aumentando a potência
do limo,
Preparando a
primavera nos campos,
Ventres irrigando
secas raízes,
Cogumelos róseos
crescendo
Na umidade das
faces.
Coagulação de
prantos na semente
Das constelações
adivinhadas.
E no faminto
inconsciente, o tempo
Sorvendo com fúria
o seu sustento
No insondável
silêncio de mim mesma.
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.
§§
Mistérios
Há vozes dentro da
noite que clamam por mim,
Há vozes nas fontes
que gritam meu nome.
Minha alma distende
seus ouvidos
E minha memória
desce aos abismos escuros
Procurando quem
chama.
Há vozes que correm
nos ventos clamando por mim.
Há vozes debaixo
das pedras que gemem meu nome
E eu olho para as
árvores tranquilas
E para as montanhas
impassíveis
Procurando quem
chama.
Há vozes na boca
das rosas cantando meu nome
E as ondas batem
nas praias
Deixando exaustas
um grito por mim
E meus olhos caem
na lembrança do paraíso
Para saber quem
chama.
Há vozes nos corpos
sem vida,
Há vozes no meu
caminhar,
Há vozes no sono de
meus filhos
E meu pensamento
como um relâmpago risca
O limite da minha
existência
Na ânsia de saber
quem grita.
- Adalgisa Nery, no livro "Cantos da Angústia", José Olympio Editora, 1948.
§§
Na face, a
geografia da angústia,
Dos pânicos e das
medrosas alegrias.
Cada ruga é um
presságio.
E auréola da
aflição constante
O esplendor dos
cabelos brancos.
Uma só raiz para
frutos diversos,
Uma só vida para
destinos tão complexos,
Um só pranto para
dores tão diversas.
O útero que gera o
herói, o sábio, o poeta,
O santo, o
miserável e o assassino.
Uma só raiz para
frutos tão diversos!
O dom da paz em
cada gesto
Cai como noites
quietas
Sobre a alma em
rancor,
Amor acima do amor.
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.
§§
Nostalgia do
impreciso
Ao fechar de olhos
para o sono
Aromas de pânico e
de dores,
Aromas de errantes
chuvas
Transportando
montanhas, vales,
Atravessando
ventos,
Pousando em
instantes tão diversos,
Chamando medos
E exílios de
vontades.
Aromas vasculhando
a vida,
Engendrando noites
no vazio,
Escapando de raízes
em tumulto,
De pedras milenares
em silêncio,
E de símbolos sem
forma
Nascidos de
pensamentos mutilados.
Aromas de carne e
flor,
De chão e fonte,
De gestos tatuados
no espaço,
De galeras rumo ao
centro-mar
Em busca de
estrelas excedentes
Aromas de grão e de
criança
Cobrindo as coisas
repetidas,
Fazendo-se pólen no
infinito virgem.
Aroma-plasma de
invitações
Ao canto, à flor,
ao pranto,
Ao entrelaçamento
de mãos desprotegidas
No temor de quedas
sinuosas.
Ao fechar de olhos
para o sono
Aromas de mistério,
Fracas luzes se
abrindo
No mundo de
silêncios e de símbolos
Dando vida à vida
que vai fugindo.
- Adalgisa Nery, No livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.
§§
O país do poeta
A paisagem tem cores do avêsso
E as estrelas sobem pelas montanhas como veias
Aguando um seio de mulher.
As quatro línguas do vento
Conversam sobre o amor, o ódio, a vida e a morte.
Os arcanjos cruzam o firmamento de lado a lado,
Os pássaros soluçam como inconsoláveis viúvas.
Os peixes cantam como rouxinóis nas ramas floridas.
Um sirena lamenta-se no corte da noite
E o ruído de possantes motores trepidam o eixo universal
Como o nascimento de um vulcão.
As flores dos jardins cercados são orvalhadas como lágrimas inocentes
E da lua de São Jorge montado no seu cavalo branco
Para velar os mortos e os desesperados.
Um sentimento de pureza sobre o olhar dos arrependidos,
As mães alimentam seus filhos com flores,
Os amantes realizam a interpenetração das almas
E seus corações caem no chão como punhados de cinza.
A tragédia vive entre a boca dos velhos e o olhar do recém-nascido
E o choro do que um dia será assassino é ouvido ao ventre da noite.
O poeta escreve poemas no solo
E a terra grávida recompensa com flores, frutos e nascentes.
Na hora da penumbra abre-se uma grande boca no firmamento
Dizendo sobre o juízo final.
Sob a luz da lua o poeta colhe os lírios entreabertos
E sai guarnecendo sepulturas de noivas ignoradas.
Um resplandecente globo ocular
Desce sobre a paisagem
E procura encontra a Amada e a Morte.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.
§§
Paisagem
Restam nos meus
olhos
Séculos de
planícies áridas
E o vento ríspido
que trouxe as lamentações
Das sombras
agitadas
Sobre os pântanos
desconhecidos
Distantes estão os
caminhos
Onde eu encontraria
a suprema fraqueza
Para vergar os meus
joelhos
E deitar no pó a
minha boca moribunda
Invisíveis estão as
estrelas
Que me levariam a
contemplar os céus abençoados.
E só espaços sem
medida
Onde a música da
noite
É livre sobre os
pensamentos em sono.
Desconhecida para
mim a praia onde eu me deitaria
De olhos cerrados e
sentiria
O último movimento
da onda
Balançar os meus
pés
Como as algas sem
direção.
Como os detritos
rejeitados pela pureza do mar.
Restam dentro da
minha sombra
Fragmentos de
agitações de outras vidas
Plantadas no meu
grito de revolta
Que eu não
libertarei
Até que no deserto
universal
A flor de um cardo
movimente
A paisagem
silenciosa.
- Adalgisa Nery, no livro "Cantos da Angústia", José Olympio Editora, 1948.
§§
Poema da amante
Eu te amo
Antes e depois de
todos os acontecimentos
Na profunda
imensidade do vazio
E a cada lágrima
dos meus pensamentos.
Eu te amo
Em todos os ventos
que cantam,
Em todas as sombras
que choram,
Na extensão
infinita do tempo
Até a região onde
os silêncios moram.
Eu te amo
Em todas as
transformações da vida,
Em todos os
caminhos do medo,
Na angústia da
vontade perdida
E na dor que se veste
em segredo.
Eu te amo
Em tudo que estás
presente,
No olhar dos astros
que te alcançam
Em tudo que ainda
estás ausente.
Eu te amo
Desde a criação das
águas,
desde a idéia do
fogo
E antes do primeiro
riso e da primeira mágoa.
Eu te amo
perdidamente
Desde a grande
nebulosa
Até depois que o
universo cair sobre mim
Suavemente.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.
§§
Poema de amor
Ouve-me com teus olhos
Porque minha queixa é muda.
Acaricia-me com teu pensamento
Porque meu corpo está imóvel.
Beija-me com tuas mãos
Porque minha boca te espera.
Fala-me com o silêncio dos momentos de amor
Porque os ouvidos da minha vida
Se abrirão como as flores
Na úmida e infinita madrugada.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.
§§
Poema de amor
Ouve-me com teus olhos
Porque minha queixa é muda.
Acaricia-me com teu pensamento
Porque meu corpo está imóvel.
Beija-me com tuas mãos
Porque minha boca te espera.
Fala-me com o silêncio dos momentos de amor
Porque os ouvidos da minha vida
Se abrirão como as flores
Na úmida e infinita madrugada.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.
§§
Poema essencialista
Sinto o conteúdo da existência.
Procuro ultrapassá-lo com enorme exaltação poética,
Rompo as grades do mundo com o espetáculo das formas,
Dos sons e das cores.
Tudo me afoga em nostalgia de outras eras,
De outras vidas que cristalizaram
As tendências da minha infância.
A utilização das coisas plásticas
Altera o equilíbrio da visão.
Distribuo pelos quatro cantos do meu espírito
A essência imortal.
Fragmento seguidamente o meu interior
Fazendo doações físicas.
Dentro do meu limite há montões de estrelas apagadas,
Pensamentos que não andaram
Senão com o sopro de Deus.
Quero destruir para tentar construir.
A criação vive no ângulo do meu cérebro
Mas sei que serei vencida
Pela limitação das realizações humanas.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.
§§
Poema natural
Abro os olhos, não vi nada
Fecho os olhos, já vi tudo.
O meu mundo é muito grande
E tudo que penso acontece.
Aquela nuvem lá em cima?
Eu estou lá,
Ela sou eu.
Ontem com aquele calor
Eu subi, me condensei
E, se o calor aumentar, choverá e cairei.
Abro os olhos, vejo um mar,
Fecho os olhos e já sei.
Aquela alga boiando, à procura de uma pedra?
Eu estou lá,
Ela sou eu.
Cansei do fundo do mar, subi, me desamparei.
Quando a maré baixar, na areia secarei,
Mais tarde em pó tomarei.
Abro os olhos novamente
E vejo a grande montanha,
Fecho os olhos e comento:
Aquela pedra dormindo, parada dentro do tempo,
Recebendo sol e chuva, desmanchando-se ao vento?
Eu estou lá,
Ela sou eu.
- Adalgisa Nery, no livro "Poemas", José Olympio Editora, 1937.
§§
Poema simples
Deixa-me recolher as rosas que estão morrendo nos jardins da noite,
Deixa-me recolher o fruto antes que este volva as raízes da terra,
Deixa-me recolher a estrela úmida
Antes que sua luz desapareça na madrugada,
Deixa-me recolher a tristeza da alma
Antes que a lágrima banhe a pálpebra
Do órfão abandonado e faminto,
Deixa-me recolher a ternura parada
No coração da mulher que desejou ser mãe.
Deixa-me recolher a esperança dos que acreditam,
Recolher o que ainda não passou
E mais do que tudo dá-me a recolher
A palavra de amor e de doçura para que reparta
Com os ouvidos que esperam como uma gota de mel
Caindo na alma e no coração,
Como a única luz dentro de tanta escuridão.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.
§§
Repouso
Dá-me tua mão
E eu te levarei aos campos musicados pela canção das colheitas
Cheguemos antes que os pássaros nos disputem os frutos,
Antes que os insetos se alimentem das folhas entreabertas.
Dá-me tua mão
E eu te levarei a gozar a alegria do solo agradecido,
Te darei por leito a terra amiga
E repousarei tua cabeça envelhecida
Na relva silenciosa dos campos.
Nada te perguntarei,
Apenas ouvirás o cantar das águas adolescentes
E as palavras do meu olhar sobre tua face muito amada.
- Adalgisa Nery, no livro "As Fronteiras da Quarta Dimensão", José Olympio Editora, 1951.
§§
Silêncio
Poema natural
Abro os olhos, não vi nada
Fecho os olhos, já vi tudo.
O meu mundo é muito grande
E tudo que penso acontece.
Aquela nuvem lá em cima?
Eu estou lá,
Ela sou eu.
Ontem com aquele calor
Eu subi, me condensei
E, se o calor aumentar, choverá e cairei.
Abro os olhos, vejo um mar,
Fecho os olhos e já sei.
Aquela alga boiando, à procura de uma pedra?
Eu estou lá,
Ela sou eu.
Cansei do fundo do mar, subi, me desamparei.
Quando a maré baixar, na areia secarei,
Mais tarde em pó tomarei.
Abro os olhos novamente
E vejo a grande montanha,
Fecho os olhos e comento:
Aquela pedra dormindo, parada dentro do tempo,
Recebendo sol e chuva, desmanchando-se ao vento?
Eu estou lá,
Ela sou eu.
- Adalgisa Nery, no livro "Poemas", José Olympio Editora, 1937.
§§
Poema simples
Deixa-me recolher as rosas que estão morrendo nos jardins da noite,
Deixa-me recolher o fruto antes que este volva as raízes da terra,
Deixa-me recolher a estrela úmida
Antes que sua luz desapareça na madrugada,
Deixa-me recolher a tristeza da alma
Antes que a lágrima banhe a pálpebra
Do órfão abandonado e faminto,
Deixa-me recolher a ternura parada
No coração da mulher que desejou ser mãe.
Deixa-me recolher a esperança dos que acreditam,
Recolher o que ainda não passou
E mais do que tudo dá-me a recolher
A palavra de amor e de doçura para que reparta
Com os ouvidos que esperam como uma gota de mel
Caindo na alma e no coração,
Como a única luz dentro de tanta escuridão.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.
§§
Repouso
Dá-me tua mão
E eu te levarei aos campos musicados pela canção das colheitas
Cheguemos antes que os pássaros nos disputem os frutos,
Antes que os insetos se alimentem das folhas entreabertas.
Dá-me tua mão
E eu te levarei a gozar a alegria do solo agradecido,
Te darei por leito a terra amiga
E repousarei tua cabeça envelhecida
Na relva silenciosa dos campos.
Nada te perguntarei,
Apenas ouvirás o cantar das águas adolescentes
E as palavras do meu olhar sobre tua face muito amada.
- Adalgisa Nery, no livro "As Fronteiras da Quarta Dimensão", José Olympio Editora, 1951.
§§
Silêncio
Nas mãos inquietas
Cansadas esperanças
Tateando formas na luz ausente,
Nos olhos embrumados
A viva cruz do alívio,
Na boca imobilizada
A palavra amortalhada.
E à tona da fugaz realidade
O mistério das surpresas superadas.
Paisagem de espaços, e fantasmas
Ordenam não falar, não morrer,
Ouvir sem conduzir o pensamento,
Viver os vazios lúcidos
Entre a palavra e o som
Do coração a bater.
Resta apenas a flutuação ociosa
Livre das coisas da memória, da discordância
Das idéias obsessivas
Que escondidas estavam
Como fantásticos tesouros
Em frágeis e indefesas mãos.
- Adalgisa Nery, no livro "Erosão", José Olympio Editora, 1973.
§§
O espírito da
tempestade que executa a minha palavra
Partiu
E minha forma assim
abandonada
Caiu.
Vieram depois a
aflição e a agonia
E cresceram em mim
Como a aurora e o
dia.
E se eu quisesse
contar, homens irmãos,
Desde quando meu
coração está isento de alegria,
Acreditem,
Não poderia.
Há muitos séculos
mora em mim
Uma noite muito
escura, muito fria.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.
§§
Ternura
Antes que eu me
transforme em água
E corra com os rios
Cantando para as
florestas escuras
A canção sublime
Deixa-me contemplar
tua face amada
Para que a canção
se eternize.
Antes que os meus
olhos se transformem
nos minúsculos
vermes
Que movimentam o
solo
Deixa-me receber a
luz de tua boca
Para que eu me
ilumine como as estrelas
No infinito da
noite.
Antes que minhas
mãos se mudem nas pedras das montanhas
Por onde caminharão
os jovens pastores
Deixa-me afagar
teus cabelos
Para que meu
carinho se transforme na brisa
Que beija os
grandes trigais.
Antes que minha
forma sirva junto às raízes
Para amadurecer os
frutos
Guarda-me na música
de teu corpo
Para que o mistério
do amor
Baixe sobre o
universo
E banhe os
espíritos perturbados.
- Adalgisa Nery, no livro "Mundos Oscilantes", José Olympio Editora, 1962.
§§
Vivência
Começamos a viver
Quando saímos do sono da existência,
Quando as distâncias se alongam nas partículas do corpo.
Começamos a viver
Quando confusos e sem consolo
Não sentimos os traços do irmão perdido.
Quando antes da força
Surge a sombra do insignificante.
Quando o sono é transformado em sonhos superados,
Quando o existir não é contradição.
Começamos a viver
Quando percebemos a mutação das células,
Quando fugimos de dentro de nós mesmos
E escondemos a nossa carne num caramujo oco.
Quando o espírito falsificado esquece
As tortuosas estradas
E quando deixamos de ser escaravelhos laboriosos.
Começamos a viver
Quando velamos além do sono
A vida irreal dos nossos passos.
- Adalgisa Nery, no livro 'Erosão', José Olympio Editora, 1973.
****
“A poesia dela
é marcada por um tom grandiloquente, fervoroso. Seus versos tratam do cotidiano
do homem comum e também da força do cosmo. Há um movimento paradoxal em sua
poesia, intenso, que une o natural ao sobrenatural, a preocupação social ao erotismo.
Trata-se de uma obra irregular, sem qualquer dúvida, mas com excelentes poemas.
Uma obra que deve ser republicada e sofrer uma reavaliação crítica sobretudo em
relação ao contexto da literatura brasileira daquele período, com Cecília
Meireles, Jorge de Lima, Murilo Mendes e Vinicius de Moraes, que podem revelar
alguma aproximação com a poética de Adalgisa Nery.”
- Eduardo Coelho, do Arquivo-Museu de Literatura
Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa.
"As portas do meu ser, lentamente, se abrem e despejam na imobilidade da noite todas as imagens que participaram dos meus erros e dos meus acertos ocasionais. Elas se levantam impiedosas, confabulam, discutem a minha pessoa humana, apalpam as minhas carnes sofridas, fazem perguntas irrespondíveis e depois largam-me desunida de mim mesma. Num trágico sentido de matéria desprezível, no fundo do meu raciocínio há qualquer obstáculo intransponível que me impede fixar se esse desterro, em que estou jogada, é oriundo de alguma palavra, gesto recente ou remoto. Numa paralisação completa sinto o movimento das raízes da minha origem procurando alcançar o meu pensamento. O vigor da vontade sobre a integridade dos meus sentidos se esfacela na luta de analisar os vagos traços de ligação na soma de experiências, erros e ímpetos mal distribuídos durante a minha vida, que, afinal, está resumida apenas numa simples contagem de anos."
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 1957.
FORTUNA CRÍTICA DE ADALGISA NERY
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Arte: (1) Retrato Adalgisa Nery, por Diego Rivera, 1945 | Coleção Sr. Rafael Maraeyna.
"Nunca fui e jamais me esforcei para ser boa. Todo o meu trabalho tem sido para ser compreensiva. O sentimento de bondade da natureza humana, a meu ver, sempre foi uma das deploráveis e sórdidas ilusões com que contamos para enfrentar julgamentos e guarnecer a vida. Em essência, essa ilusão só nos dá prejuízos. É uma manifestação de fundo egoístico. Praticamos a bondade com intenção dirigida, para que mais tarde possamos receber em troca alguma coisa. O céu ou o reconhecimentos dos nossos semelhantes."
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 2016.
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ADALGISA NERY NOS TRAÇOS E PINTURAS DE ARTISTAS
Retrato de Adalgisa, de Ismael Nery, s.d | Coleção particular - SP
Kahlo. José Olympio, 2012.
POEMAS EM HOMENAGEM A ADALGISA NERY
POEMA DO FÃ
para Adalgisa Nery
Não bebo álcool, não tomo ópio nem éter
Sou embriagado de ti por ti
Mil dedos me apontam nas ruas:
Eis o homem que é fanático por uma mulher
Tua ternura e tua crueldade são iguais diante de mim
Porque eu amo tudo o que vem de ti
Amo-te na tua miséria e na tua glória
E te amava mais ainda se sofresses muito mais
Caíste em fogo na minha vida de rebelado
Sou insensível ao tempo – porque tu existes
Eu sou fanático de ti,
Sou fanático de todos os detalhes da tua biografia,
Da tia graça, do teu espírito, do aparecimento da tua vida
De ti em todas as idades da vida
Eu quisera ser uma Unidade contigo
E no exterior violentamente contigo na febre
[da minha, da tua, da nossa poesia
Sou fã desde o princípio e para toda eternidade
Em verdade o poeta é o maior fã de sua musa!
- Murilo Mendes, publicado na coluna "A poesia é necessária", em 31 de julho de 1954. In: MELLO, Ramon Nunes de.. Lembre-se da mulher triste - o caso Adalgisa Nery. UFRJ, 2017.
§§
DESDOBRAMENTOS DE ADALGISA
Os homens
preferem duas.
Nenhum amor
isolado
Habita o rei
Salomão
E seu amplo
coração.
Meu rei, a
vossa Adalgisa
Virou duas
diferentes
Para mais a
adorardes.
Sou loura,
trêmula, blândula
E morena
esfogueteada.
Ando na rua a
meu lado,
Colho bocas,
olhos, dedos
Pela esquerda e
pela direita.
Alguns mal
sabem escolher,
Outros misturam
depressa
Perna de uma,
braço de outra,
E o indiviso
sexo aspiram,
Como se as duas
fossem uma,
Quando é uma
que são duas.
![]() |
Adalgisa Nery, 1937 | Acervo Projeto Portinari |
Adalgisa e
Adaljosa,
Parti-me para
vosso amor
Que tem tantas
direções
E em nenhuma se
define
Mas em todas se
resume.
Saberei
multiplicar-me
E em cada praia
tereis
Dois, três,
quatro, sete corpos
De Adalgisa, a
lisa, fria
E quente e
áspera Adalgisa,
Numerosa qual
Amor.
Se fugirdes
para a floresta,
Serei cipó,
lagarto, cobra,
Eco de grota na
tarde,
Ou serei a
humilde folha,
Sombra tímida,
silêncio
Entre duas
pedras. E o rei
Que se enfarou
de Adalgisa
Ainda mais se
adalgisará.
Se voardes, se
descerdes
Mil pés abaixo
do solo,
Se vos matardes
alfim,
Serei ar de
respiração,
Serei tiro de
pistola,
Veneno, corda,
Adalgisa,
Adalgisa
eterna, os olhos
Luzindo sobre o
cadáver.
Sou Adalgisa de
fato,
Pensais que sou
minha irmã
Ou que me
espelho no espelho.
Amai-me e não
repareis!
Uma Adalgisa
traída
Presto se vinga
da outra.
Eu mesma não me
limito:
Se viro o rosto
me encontro,
Quatro pernas,
quatro braços,
Duas cinturas e
um
Só desejo de
amar.
Sou a quádrupla
Adalgisa,
Sou a múltipla,
sou a única
E analgésica
Adalgisa.
Sorvei-me,
gastai-me e ide.
Para onde quer
que vades,
O mundo é só
Adalgisa.
- Carlos Drummond de Andrade, no livro "Brejo das almas" (1934).
§§
O NOME DA MUSA
Para Adalgisa Nery
Não te chamo Eva,
não te dou nenhum nome de mulher nascida,
nem de fada, nem de deusa, nem de musa, nem de sibila, nem de terras,
nem de astros, nem de flores.
Mas te chamo a que desceu do luar para causar as marés
e influir nas coisas oscilantes.
Quando vejo os enormes campos de verbena agitando as corolas,
sei que não é o vento que bole mas tu que passas com os cabelos soltos.
Amo contemplar-te nos cardumes das medusas que vão para os mares boreais,
ou no bando das gaivotas e dos pássaros dos polos revoando sobre as terras
geladas
Não te chamo Eva,
não te dou nenhum nome de mulher nascida.
O teu nome deve estar nos lábios dos meninos que nasceram mudos,
nos areais movediços e silenciosos que já foram o fundo do mar,
no ar lavado que sucede as grandes borrascas,
na palavra dos anacoretas que te viram sonhando
e morreram quando despertaram,
no traço que os raios descrevem e que ninguém jamais leu.
Em todos esses movimentos há apenas sílabas do teu nome secular
que coisas primitivas escutaram e não transmitiram às gerações .
Esperemos, amigo, que searas gratuitas nasçam de novo,
e os animais de criação se reconciliem sob o mesmo arco-íris
então ouvireis o nome da que não chamo Eva
nem lhe dou nenhum nome de mulher nascida.
- Jorge de Lima, em "A túnica inconsútil" (1938). In: MELLO, Ramon Nunes de.. Lembre-se da mulher triste - o caso Adalgisa Nery. UFRJ, 2017.
ADALGISA NERY EM IMAGENS
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Adalgisa Nery e Murilo Mendes, 1937 | foto: Acervo Projeto Portinari |
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Candido Portinari e Adalgisa Nery, 1937 | foto: Acervo Projeto Portinari |
Rufino Tamayo, Adalgisa Nery, Frida Kahlo, Lourival Fontes e Olga Tamayo, em 1945
foto: Arquivo Diego Rivera e Frida Kahlo/ fonte: Arte!Brasileiros
Adalgisa Nery com o filho Emmanuel Nery, em junho de 1980, no Rio de Janeiro | foto: Acervo Família Nery
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Esquerda para direita: Ary Barroso, Fred Me Murray, Adalgisa Nery, Claudete Colbert e Lourival Fontes, nos EUA |
“Um dia, como
um dia para toda adolescente, eu senti que amava um homem. Conheci então uma
nova paisagem da minha alma. Descobri nesse sentimento um senso de beleza capaz
de afugentar todas as sombras acumuladas dentro do meu ser. Pela primeira vez,
tive a sensação exata de força e liberdade. Lembro-me que, imantada por ele, eu
me integrei totalmente em todas as partículas da vida e da natureza. Subindo os
degraus de uma escada de pedra, reparei nas formigas que cruzavam e, com
cuidado especial, procurei não esmagá-las com os meus pés. Fitei com uma
ternura cuidadosa as plantas, as flores, as andorinhas, que traçavam espaço e a
poeira de orvalho caída sobre as folhagens. Aprendi as cores nas luzes das manhãs
e nas tonalidades do anoitecer. Eu estava no processo da metamorfose. Em tudo
eu encontrava uma duplicidade de sentido. Estava sob a função de reminiscências
eternas que atuavam como ligação do divino que surge no humano e com o divino
que se entende no universo. Havia um
abandono alegre no meu ser acompanhando a causa misteriosa. E, de repente, me
senti identificada com a vida. Tive a impressão de que uma grande chuva caíra
sobre o mundo, e agora se apresentava lavado, fresco, radiante. Creio que os meus
gestos se tornaram harmoniosos, a minha voz era o eco da música das águas
cantantes e a minha memória só se recordava das formas perfeitas, para essa
nova construção. Foi uma fase de grandeza aguda e espetacular da minha alma. De
tudo emanava doçura e leveza compensadoras.
[...]
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Adalgisa Nery, 1943/ Acervo Projeto Portinari |
Não creio que
haja nenhum período feliz na nossa vida. Às vezes há uma fase de inconsciência
da infelicidade. Nesse espaço de tempo, julgamos estar vivendo uma época feliz.
Em realidade, o descontentamento não veio à tona. Estava em gestação no
acontecimento. Só notamos quando a ocorrência vem à superfície dos nossos cinco
sentidos. Porém ele nunca deixou de existir. É a esse hiato entre a ignorância
e o conhecimento do desagradável que denominamos puerilmente de “época feliz”.
O próprio amor que é a mais verdadeira proximidade da felicidade, não desligado
jamais de um grande subterrâneo sofrimento. Sobre as horas ardentes de uma
plena satisfação amorosa, estão o desgosto e o sofrimento vigiando o primeiro
cansaço e o primeiro tédio para flutuarem num tempo mais largo, com maior
duração e fundas consequências do que o momento nos trouxe a sensação do
eterno. A minha natureza não é de mulher pessimista. Sou um ser anaglífico
vivendo uma sincera fusão de duas imagens de perspectivas semelhantes. Há uma
intensidade de forças em profundidade e em extensão girando em meu redor como o
ectoplasma. Daí sentir-me constantemente no limbo. Essa explicação tem como
finalidade desviar qualquer julgamento precipitado para classificar-me de pessimista.
Apesar de ter sido desde menina violentada pela vida, os meus olhos não
perderam a noção dos coloridos e dos contornos e a minha alma não esqueceu a
música e a harmonia.”
- Adalgisa Nery, no livro “A
imaginária”. José Olympio Editora, 1957.
"Hoje, tenho uma enorme piedade daquela menina que descobriu o eco, daquela menina que desejou ser árvore e esperou ansiosamente pelas raízes que prenderiam o seu corpo à terra morna das tardes de verão! Coitada! Como esta menina era magnífica, era bela!… Como foi depois desfolhada e jogada aos ventos perdidos e aos violentos temporais!” (…) Que saudade daquela Berenice criança, tão pura e tão nobre que, mesmo respirando uma vida de contradições, de tristezas objetivas e subjetivas, possuía forças incubadas e grandezas em potencial! Com o correr do tempo essas forças e grandezas se foram desgastando, e hoje apenas ficou uma dolorosa e amarga sensação de ridículo e pobreza! Não sei se foi a noção do eterno que mais tarde adquiri, que fez com que hoje eu olhe para tudo e todos com lassidão, desinteresse e perdão."
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 2016.
§§
"Conservo, apesar do constante combate a mim mesma, uma natureza impulsiva. Revolto-me com a burrice, a má-fé, as manobras sórdidas de traição alimentadas nos escaninhos dos caracteres e enojo-me com as inferioridades de espírito e a incrementação da ignorância. Mas, passado o meu arrebatamento, envergonho-me das minhas reações quixotescas e penitencio-me de não me ter esforçado para compreender melhor as criaturas. Obrigo-me à procura de sentir na confusão dessa miséria humana uma ação limpa e desinteressada em alguém."
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 2016.
§§
"Nunca desejei ser uma mulher forte. Aspirei sempre possuir a fragilidade. A luta com a vida, que a tantos engrandece e qualifica num plano de privilégio, nunca foi o meu sonho nem a estrutura da minha vaidade. A minha única aspiração, o meu único desejo, a minha única forma de perfeição, sempre foi e será o amor."
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 2016.
§§
"Sou uma mulher com horror às medidas medíocres. Não podendo alcançar a perfeição, forço-me às mais completas imperfeições, não podendo ter tudo de maior e de mais belo, prefiro ficar reduzida à miséria, não podendo conseguir o maior e mais absoluto amor, retiro-me para a solidão, já que não me construí porque a vida tirou-me os elementos necessários e, constantemente, lembra-me a mediocridade em que me atirou. Rebato-a, destruindo-me como acérrima inimiga."
- Adalgisa Nery, no livro "A imaginária". José Olympio Editora, 2016.
Fundação Casa Rui Barbosa
ADALGISA NERY NA REDE
OUTRAS REFERÊNCIAS DE PESQUISA
:: MELLO, Ramon Nunes de.. Lembre-se da mulher triste - o caso Adalgisa Nery. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, 2017. Disponível no link. (acessado em 3.9.2021).
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Imagem: Adalgisa Nery - foto: Paulo Garcez, em 1971.
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© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske
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COMO CITAR:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Adalgisa Nery - entre as letras e a política. In: Templo Cultural Delfos, setembro/2021. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Adalgisa Nery - entre as letras e a política. In: Templo Cultural Delfos, setembro/2021. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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* Página atualizada em 6.9.2021.
Obrigada pelo excelente aritgo, eu desconhecia as obras e a vida dessa maravilhosa escritora!
ResponderExcluirObrigada Alexandra!
ExcluirFico feliz que tenhas gostado e que tivemos a oportunidade de te apresentar a esta bela escritora.
Volte sempre, abraços
Fabulosa resenha. Deliciosa, completa e profunda. Muito obrigada. Bem haja!
ResponderExcluirObrigada!
ExcluirFico feliz que tenhas gostado.
volte sempre, abraços
Perfeito trabalho! Aguardo a resenha de Orides Fontela, deixo aqui como sugestão. Um grande abraço e um muito obrigada.
ResponderExcluirTuca Kors
Eu seu mexicana e eu desconhecia os poemas de Adalgisa Nery. Agora ele é um dos meus poetas favoritos.
ResponderExcluirMOITO OBRIGADA
Esta mulher Adalgisa é um poema inteiro que sua alma profetisa.
ResponderExcluirBravo!
ResponderExcluirNão me canso de visitar o site de vocês...( e obrigado por me inserir na citação das obras... Geraldo Brandão )
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