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Alphonsus de Guimaraens – O poeta das sonoridades siderais

Alphnosus de Guimaraens 
Alphonsus de Guimaraens, pseudônimo de Afonso Henrique da Costa Guimarães (Ouro Preto MG, 24 de julho de 1870 – Mariana MG, 15 de julho de 1921). Poeta, cronista e jornalista. Filho do comerciante português Albino da Costa Guimarães e de Francisca de Paula Guimarães Alvim, sobrinha do romancista e poeta Bernardo Guimarães (1825 – 1884). Em 1890, muda-se para São Paulo, ingressa na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e torna-se colaborador dos jornais Diário Mercantil, Comércio de São Paulo, Correio Paulistano, O Estado de S. Paulo e A Gazeta. Três anos depois, volta para Ouro Preto, e conclui bacharelado em 1894 na Faculdade Livre de Direito de Minas Gerais. Vai ao Rio de Janeiro, em 1895, especialmente para conhecer o poeta Cruz e Sousa (1861 – 1898). Casa-se, em 1897, com Zenaide de Oliveira, com quem tem 14 filhos, dois deles escritores: João Alphonsus (1901 – 1944) e Alphonsus de Guimaraens Filho (1918). Após passar 10 anos como promotor de justiça em Conceição do Serro, é nomeado juiz em Mariana, para onde se transfere em definitivo, em 1906. Estréia com os livros de poemas Setenário das Dores de Nossa Senhora / Câmara Ardente e Dona Mística, em 1899, e três anos depois edita, por conta própria, o volume Kiriale, em que se consolidam os traços simbolistas de sua poesia. Somente em 1920 volta a publicar e lança o livro de crônicas, Mendigos. O restante de sua obra é divulgado postumamente. Em 1919, dois anos antes de morrer, recebe a visita do escritor Mário de Andrade (1893 – 1945). Sua obra é marcada pelo misticismo, pelo culto ao amor, à morte e à religiosidade, assentada, principalmente, pela trágica morte de sua noiva, Constança, filha de Bernardo Guimarães.
:: Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural
:: Ver informações completares em BN – Biblioteca Nacional. AQUI!




Obras de Alphonsus de Guimaraens

Poesia
:: Setenário das Dores de Nossa Senhora e Câmara Ardente. 1899.
:: Dona Mystica. Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger, 1899.
:: Kiriale (1891-1895). Porto: Typ. Universal, 1902.
:: Pauvre Lyre. Ouro Preto: Editora Mineira Paulo Brandão & Comp., 1921.
:: Pastoral aos crentes do amor e da morte. São Paulo: Monteiro Lobato, 1923.
:: A escada de Jacó. 1938.
:: Pulvis. 1938.
:: Poesias. [edição dirigida e revista por Manuel Bandeira; notas biográficas de João Alphonsus]. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1938.
:: Poesias. 2 volumes. [aumentada e revista por Alphonsus de Guimaraens Filho]. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955.
:: Poesia. [apresentação Gladstone Chaves de Melo. Coleção Nossos clássicos, 19. Rio de Janeiro: Agir, 1958.
:: Obra completa. [organização Alphonsus de Guimaraens Filho; introdução Eduardo Portella; nota biográfica João Alphonsus]. Biblioteca luso-brasileira – Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.
Crônica
:: Mendigos. Ouro Preto: Typ. da Casa Mendes, 1920.
Tradução
:: Apparition*, de Stéphane Mallarmé. traduzido por Alphonsus de Guimaraens.   incluído na edição de 1938, no livro póstumo "Pastoral aos crentes do amor e da morte" (Guimarães 2010, p. 17-18)

:: Nova primavera, de Heinrich Heine (1838).. [tradução Alphonsus de Guimaraens].
:: Paul Verlaine. em: PEREIRA, Wiliam Mariano. Alphonsus de Guimaraens tradutor de Paul Verlaine. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade de São Paulo, USP, 2012. Disponível no link. (acessado em 3.5.2018).
Antologias (participação)
:: Poemas, de Alphonsus de Guimarães. em “A literatura Brasileira através dos Textos”. [autor e seleção de textos de Massaud Moisés]. 2ª ed., São Paulo: Cultrix, 1973, p. 318-324.
:: Antologia dos poetas brasileiros. Poesia da fase simbolista. [organização Manuel Bandeira]. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1996.
:: Os cem melhores poemas brasileiros do século. [seleção e organização de Ítalo Moriconi]. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001.
Correspondência
BUENO, Alexei (org. e intr.). Correspondência de Alphonsus de Guimaraens. Coleção Austregésilo de Athayde. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2002.

Fortuna Crítica de Alphonsus de Guimaraens

ALFONSUS, José. Um soneto de Alphonsus de Guimaraens. O Malho, 2 fev. 1939.
ANDRADE, Mário de. Alphonsus. A cigarra, São Paulo: ano IV, nº 117, 1 ago. 1919.
ANGLADE-AURAND, Arline. Les influences françaises sur Alphonsus de Guimaraens. (Tese Doutorado). France: Université de Toulouse, 1970. 
Alphonsus de Guimarães
ARQUIVO: Alphonsus em francês. Minas Gerais. Suplemento Literário. Belo Horizonte, n. 3, p. 12, jul. 1995.
ARQUIVO: Cruz e Sousa & Alphonsus. Minas Gerais. Suplemento Literário. Belo Horizonte, n. 40, p. 12-13, ago. 1998.
ATAÍDE, Vicente. Alphonsus de Guimaraens, poeta simbolista. Minas Gerais. Suplemento Literário. Belo Horizonte, v. 14, n. 693, p. 3, jan. 1980. 
AVELLAR, Romeu de. Minas Gerais. O Mundo Literário, Rio de Janeiro. 5 nov. 1922. v. 3, ano 1, p. 111.
ÁVILA, Afonso. Iniciação didática à poesia de vanguarda. O poeta e a consciência crítica. Petrópolis: Vozes, 1969, p. 62.
ÁVILA, Afonso. Sousândrade: o poeta e a consciência crítica. O poeta e a consciência crítica. Petrópolis: Vozes, 1969. p. 35-45.
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BANDEIRA, Manuel. Alphonsus. Minas Gerais. Suplemento Literário. Belo Horizonte, v. 6, n. 227, p. 1, jan. 1971.
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Alphonsus de Guimaraens e sua mulher Zenaide
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RAMOS, Péricles Eugênio da Silva. (introdução, seleção e notas) Poesia simbolista: antologia. São Paulo: Melhoramentos, 1965. p. 22-23, 258-260, 261-278.
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RICIERI, Francine Fernandes Weiss. Imagens do poético em Alphonsus de Guimaraens. São Paulo: EDUSP, 2014.
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RICIERI, Francine Fernandes Weiss. Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) – Bibliografia comentada. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Estadual de São Paulo, UNESP - Campus Assis, 1996.
RICIERI, Francine Fernandes Weiss. Guimaraens ainda à espera da Obra completa. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. D¨6.11 nov. 2001.
RICIERI, Francine Fernandes Weiss. Erotismo e transgressão na escrita de Alphonsus de Guimaraens. Revista do Centro de Estudos Portugueses, v.22, n. 31, 307-323, jul. dez. 2002.
RICIERI, Francine Fernandes Weiss; MARQUES, Ângela Maria Salgueiro. Achegas à bibliografia de Alphonsus de Guimaraens. O eixo e a roda: v. 9/10, 2003/2004.
RIO, João do. Momento literário. Gazeta de Notícias, 22 abr. 1905.

RIVERA, Bueno de. A poesia de Alphonsus de Guimaraens. Minas Gerais. Suplemento Literário. Belo Horizonte, v.1, n. 2, p. 3, set. 1966.
SAFADY, Naief. Alphonsus de Guimaraens e o lirismo. Estado de São Paulo. 23 dez. 1961.
SALES, Franklin de. Alphonsus de Guimaraens. Folha de Minas, Belo Horizonte, 16 jul. 1939.
SCHMIDT, Augusto Frederico. Diante da memória de Alphonsus. Minas Gerais. Suplemento Literário. Belo Horizonte, v. 5, n. 226, p. 8, dez. 1970.
VILLELA, Mauro Mendes. Pobre-lira, (tradução de Pauvre lyre). Belo Horizonte, 1982.
WEISS, Francine Fernandes. Uma leitura da negatividade em Alphonsus de Guimaraens. em: Seminário de Estudos Literários 2: 1992. Assis/São Paulo: HVF-Arte & Cultura, 1994. p. 190-195.
Alphonsus de Guimaraens

Poemas selecionados de Alphonsus de Guimaraens

Ai dos que vivem, se não fora o sono
VIII
Ai dos que vivem, se não fora o sono!
O sol, brilhando em pleno espaço, cai
Em cascatas de luz; desce do trono
E beija a terra inquieta, como um pai.

E surge a primavera. O áureo patrono
Da terra é sempre o mesmo sol. Mas ai
Da primavera, se não fora o outono,
Que vem e vai, e volta, e outra vez vai.

Ao níveo luar que vaga nos outeiros
Sucedem sombras. Sempre a lua tem
A escuridão dos sonhos agoureiros.

Tudo vem, tudo vai, do mundo é a sorte...
Só a vida, que se esvai, não mais nos vem.
Mas ai da vida, se não fora a morte!
- Alphonsus de Guimaraens, em "Obra completa". [organização Alphonsus de Guimaraens Filho]. Biblioteca luso-brasileira - Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960. (publicado originalmente no 'Jornal do Comércio', Juiz de Fora, 23 mar. 1919).


§

ÁRIAS E CANÇÕES
III
A suave castelã das horas mortas
Assoma à torre do castelo. As portas,
Que o rubro ocaso em onda ensangüentara,
Brilham do luar à Luz celeste e clara.
Como em órbitas de fatais caveiras
Olhos que fossem de defuntas freiras,
Os astros morrem pelo céu pressago...
São como círios a tombar num lago.
E o céu, diante de mim, todo escurece...
E eu nem sei de cor uma só prece!
Pobre Alma, que me queres, que me queres?
São assim todas, todas as mulheres.
Hirta e branca... Repousa a sua áurea cabeça
Numa almofada de cetim bordada em lírios.
Ei-la morta afinal como quem adormeça
Aqui para sofrer Além novos martírios.
De mãos postas, num sonho ausente, a sombra espessa
Do seu corpo escurece a luz dos quatro círios:
Ela faz-me pensar numa ancestral Condessa
Da Idade Média, morta em sagrados delírios.
Os poentes sepulcrais do extremo desengano
Vão enchendo de luto as paredes vazias,
E velam para sempre o seu olhar humano.
Expira, ao longe, o vento, e o luar, longinquamente,
Alveja, embalsamando as brancas agonias
Na sonolenta paz desta Câmara-ardente...
- Alphonsus de Guimaraens, (Dona Mística '1899'), em "Obra completa". [organização Alphonsus de Guimaraens Filho]. Biblioteca luso-brasileira - Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.


§

ÁRIAS E CANÇÕES
IV
Ouvindo um trio de violino, violeta e violoncelo
Simbolicamente vestida de roxo
(Eram flores roxas num vestido preto)
Tão tentadora estava que um diabo coxo
Fez rugir a carne no meu esqueleto.

Toda a pureza do meu amor por ela
Se foi num sopro tombar no pó.
Os seus olhos intercederam por ela...
Mais uma vez eu vi que não me achava só.

Simbolicamente vestida de roxo
(Talvez saudade de vida mais calma)
Tão macerada estava que a asa de um mocho
Adejou agoureira pela minha Alma.

Todos os sonhos do meu amor por ela
Vieram atormentar-me sem dó.
Mas ninguém na terra intercedeu por ela...
Para divinizá-la era bastante eu só.
- Alphonsus de Guimaraens, (Dona Mística '1899'), em "Obra completa". [organização Alphonsus de Guimaraens Filho]. Biblioteca luso-brasileira - Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.


§

ÁRIAS E CANÇÕES
III
Ária dos olhos
Mágoas de além
De olhos de quem
Pede esmolas:
Gemidos e ais
Das autunais
Barcarolas:

Cisnes em bando
Sonambulando
Sobre o mar:
Nuvens de incenso
No céu imenso,
Todo luar:

Olhos sutis,
Ah! que me diz
O olhar santo,
Que sobre mim
Volveis assim
Tanto e tanto?

E que esperança
Nessa romança
Cheia de ais,
Olhos nevoentos,
Noites e ventos
Autunais!
- Alphonsus de Guimaraens, (Dona Mística '1899'), em "Obra completa". [organização Alphonsus de Guimaraens Filho]. Biblioteca luso-brasileira - Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.


§

ÁRIAS E CANÇÕES
XIV
Ária do luar
O luar, sonora barcarola,
Aroma de argental caçoula,
Azul, azul em fora rola...

Cauda de virgem lacrimosa,
Sobre montanhas negras pousa,
Da luz na quietação radiosa.

Como lençóis claros de neve,
Que o sol filtrando em luz esteve,
É transparente, é branco, é leve.

Eurritmia celestial das cores,
Parece feito dos menores
E mais transcendentes odores.

Por essas noites, brancas telas,
Cheias de esperanças de estrelas,
O luar é o sonho das donzelas.

Tem cabalísticos poderes
Como os olhares das mulheres:
Melancoliza e enerva os seres.

Afunda na água o alvo cabelo,
E brilha logo, algente e belo,
Em cada lago um sete-estrelo.

Cantos de amor, salmos de prece,
Gemidos, tudo anda por esse
Olhar que Deus à terra desce.

Pela sua asa, no ar revolta,
Ao coração do amante volta
A Alma da amada aos beijos solta.

Rola, sonora barcarola,
Aroma de argental caçoula,
O luar, azul em fora, rola...
- Alphonsus de Guimaraens, (Dona Mística, '1899'), em "Obra completa". [organização Alphonsus de Guimaraens Filho]. Biblioteca luso-brasileira - Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.


§

A Catedral
Entre brumas, ao longe, surge a aurora.
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu risonho,
Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a bênção de Jesus.

E o sino clama em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a lua a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu tristonho,
Toda branca de luar.

E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
E a catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.

E o sino geme em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"
- Alphonsus de Guimaraens, em "Obra completa". [organização Alphonsus de Guimaraens Filho]. Biblioteca luso-brasileira - Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960. (publicado originalmente no periódico 'Vida de Minas', Belo Horizonte, 30 set. 1915).


§

A passiflora
XII
A Passiflora, flor da Paixão de Jesus,
Conserva em si, piedosa, os divinos Tormentos:
Tem cores roxas, tons magoados e sangrentos
Das Chagas Santas, onde o sangue é como luz.

Quantas mãos a colhê-la, e quantos seios nus
Vêm, suaves, aninhá-la em queixas e lamentos!
Ao tristonho clarão dos poentes sonolentos,
Sangram dentro da flor os emblemas da Cruz...

Nas noites brancas, quando a lua é toda círios,
O seu cálice é como entristecido altar
Onde se adora a dor dos eternos Martírios...

Dizem que então Jesus, como em tempos de outrora,
Entre as pétalas pousa, inundado de luar...
Ah! Senhor, a minha alma é como a passiflora!
- Alphonsus de Guimaraens, em "Obra completa". [organização Alphonsus de Guimaraens Filho]. Biblioteca luso-brasileira - Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.


§

É necessário amar
É necessário amar... Quem não ama na vida?
Amar o sol e a lua errante! amar estrelas,
Ou amar alguém que possa em sua alma contê-las,
Cintilantes de luz, numa seara florida!

Amar os astros ou na terra as flores... Vê-las
Desabrochando numa ilusão renascida...
Como um branco jardim, dar-lhes na alma guarida,
E todo, todo o nosso amor para aquecê-las...

Ou amar os poentes de ouro, ou o luar que morre breve,
Ou tudo quanto é som, ou tudo quanto é aroma...
As mortalhas do céu, os sudários de neve!

Amar a aurora, amar os flóreos rosicleres,
E tudo quanto é belo e o sentido nos doma!
Mas, antes disso, amar as crianças e as mulheres...
- Alphonsus de Guimaraens, em "Obra completa". [organização Alphonsus de Guimaraens Filho]. Biblioteca luso-brasileira - Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.


§

Estância
I
Foi a tua beleza?
Foi toda a minha Dor?
Não sei, nem sabes, mas na devesa
Chorou cantando o rouxinol do amor.
Ias de preto, leve,
Como uma andorinha no ar.
Pelo céu tranquilo tombava a neve
Do meu pesar.
Como tinhas de ser crucificada,
Abri-te os braços...
O luar, mais brando do que tu, Amada,
Vinha guiar os nossos passos.
Agora que cheguei e que chegaste
Ao fim da vida,
Bem sabes que a ilusão com que sonhaste
Foi pérola de bem alto caída
E que vimos enfim no mar perdida...
No mesmo mar ebúrneo do teu seio,
Donde ela em tempos mais felizes veio!
- Alphonsus de Guimarães, em "Pastoral aos crentes do amor e da morte". 1923.


§

Estância
XII
Vinha nascendo a aurora como nasce
O sorriso na face
De quem nunca sofreu.
Um jorro de rubis e de topázios
Tombara sobre o vale angelical, onde eu
Colhia flores que eram crisoprásios
Orvalhados pelo céu...
Da minha mocidade os sonhos mortos
(Da minha morta mocidade) vinham
Ante mim como naus buscando portos,
E bem longe se detinham.
Por que, depois de tantas esperanças,
Esse caos de infortúnio?
Alma, é bem certo que jamais alcanças
A paz sagrada do teu plenilúnio!

E contemplei o céu, onde surgia
O dia...
Sol, ó sol! Astro rei dos espaços,
Rubra tulipa imperial,
Iluminai no ocaso os meus cansados braços,
Com toda a vossa luz de púrpura real,
Para que eles possa,
Cheios de clarões dos olhos teus
(São beijos que pelos meus lábios roçam),
Erguer-se a Deus!
- Alphonsus de Guimarães, em "Pastoral aos crentes do amor e da morte". 1923.


§

Estância
XVII
Quando o ocaso, triste, vinha
Baixando além,
Enchiam-se de luto as catedrais.
Minh'alma tinha
também
A mesma sombra e os mesmos ais.
O sol tombando, triste,
Contemplava-me, e eu o via,
No céu onde floriste,
As minhas ilusões, toda a minha agonia!
Sombras de mortos e de mortas
Que andais velando pelas portas,
Vinde dar-me consolo aos meus martírios.
Embalsamai minh'alma fria, fria,
Com pétalas de lírios!
- Alphonsus de Guimarães, ("Pastoral aos crentes do amor e da morte". 1923). em "Obra completa". [organização Alphonsus de Guimaraens Filho]. Biblioteca luso-brasileira - Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.


§

Filhos
L
O amor, a cada filho, se renova.
Mesmo no inverno, brilha a primavera...
E o coração dos pais, sedento, prova
O néctar suave de quem tudo espera.

Vai-se a lua, e vem outra lua nova...
Ai! os filhos... (e quem os não quisera?)
São frutos que criamos para a cova.
Melhor fora que Deus no-los não dera.

Frutos de beijos e de abraços, frutos
Dos instantes fugazes, voluptuosos,
Rosário interminável de noivados...

Filhos... São flores para velhos lutos.
Por que Jesus nos fez tão venturosos,
Para sermos depois tão desgraçados?
- Alphonsus de Guimaraens, em "Obra completa". [organização Alphonsus de Guimaraens Filho]. Biblioteca luso-brasileira - Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.


§

Ossa Mea
I
Mãos de finada, aquelas mãos de neve,
De tons marfíneos, de ossatura rica,
Pairando no ar, num gesto brando e leve,
Que parece ordenar, mas que suplica.
Erguem-se ao longe como se as eleve
Alguém que ante os altares sacrifica:
Mãos que consagram, mãos que partem breve,
Mas cuja sombra nos meus olhos fica...
Mãos de esperança para as almas loucas,
Brumosas mãos que vêm brancas, distantes,
Fechar ao mesmo tempo tantas bocas...
Sinto-as agora, ao luar, descendo juntas,
Grandes, magoadas, pálidas, tateantes,
Cerrando os olhos das visões defuntas...
- Alphonsus de Guimaraens, em "Obra completa". [organização Alphonsus de Guimaraens Filho]. Biblioteca luso-brasileira - Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.


§

Poetas exilados
XVIII
A Cruz e Sousa
No Mosteiro, da velha arquitetura, de era
Remota, vão chegando os poetas exilados.
A porta principal é engrinaldada em hera...
Os sinos dobram nos torreões, abandonados.

Uns são bem velhos, e há moços, na primavera
Da idade humana. Alguns choram mortos noivados.
Sem esperança, cada um deles tudo espera...
Outros muitos tem o ar de monges maus, transviados.

E ninguém fala. O sonho é mudo: e sonham, quando
Ei-los todos de pé, estáticos, olhando
A branca aparição de hierático painel.

Chegaste enfim, magoado Eleito! Olham. Vermelhos
Tons de poente num fundo azul... Dobram-se os joelhos:
É Cruz e Sousa aos pés do arcanjo São Gabriel.
- Alphonsus de Guimaraens, em "Obra completa". [organização Alphonsus de Guimaraens Filho]. Biblioteca luso-brasileira - Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.


§

Pulcra ut Luna
II
Celeste... É assim, divina, que te chamas.
Belo nome tu tens, Dona Celeste...
Que outro terias entre humanas damas,
Tu que embora na terra do céu vieste?
Celeste... E como tu és do céu não amas:
Forma imortal que o espírito reveste
De luz, não temes sol, não temes chamas,
Porque és sol, porque és luar, sendo celeste.
Incoercível como a melancolia,
Andas em tudo: o sol no poente vasto
Pede-te a mágoa do findar do dia.
E a lua, em meio à noite constelada,
Pede-te o luar indefinido e casto
Da tua palidez de hóstia sagrada.
- Alphonsus de Guimaraens, em "Obra completa". [organização Alphonsus de Guimaraens Filho]. Biblioteca luso-brasileira - Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.


§

Terceira dor
IV
P. Sião que dorme ao luar.
Vozes diletas Modulam salmos de visões contritas...
E a sombra sacrossanta dos Profetas
Melancoliza o canto dos levitas.
As torres brancas, terminando em setas,
Onde velam, nas noites infinitas,
Mil guerreiros sombrios como ascetas,
Erguem ao Céu as cúpulas benditas.
As virgens de Israel as negras comas
Aromatizam com os ungüentos brancos
dos nigromantes de mortais aromas...
Jerusalém, em meio às Doze Portas,
Dorme: e o luar que lhe vem beijar os flancos
Evoca ruínas de cidades mortas.
- Alphonsus de Guimaraens, em "Obra completa". [organização Alphonsus de Guimaraens Filho]. Biblioteca luso-brasileira - Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.


§

Cisnes Brancos
V
Cisnes brancos, cisnes brancos,
Porque viestes, se era tão tarde?
O sol não beija mais os flancos
Da montanha onde morre a tarde.
O cisnes brancos, dolorida
Minh’alma sente dores novas.
Cheguei à terra prometida:
É um deserto cheio de covas.
Voai para outras risonhas plagas,
Cisnes brancos! Sede felizes...
Deixai-me só com as minhas chagas,
E só com as minhas cicatrizes.
Venham as aves agoireiras,
De risada que esfria os ossos...
Minh’alma, cheia de caveiras,
Está branca de padre-nossos.
Queimando a carne como brasas,
Venham as tentações daninhas,
Que eu lhes porei, bem sob as asas,
A alma cheia de ladainhas.
O cisnes brancos, cisnes brancos,
Doce afago de alva plumagem!
Minh’alma morre aos solavancos
Nesta medonha carruagem...
- Alphonsus de Guimaraens, em "Obra completa". [organização Alphonsus de Guimaraens Filho]. Biblioteca luso-brasileira - Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.


§

Cisnes Brancos
VI
Quando chegaste, os violoncelos
Que andam no ar cantaram hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas nuvens repicaram sinos.
Foram-se as brancas horas sem rumo.
Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.

Quando te foste, estalaram cordas
Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram : – Não mais acordas,
Lírio nascido nas escarpas!
Sinos dobraram no céu e escuto
Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda hoje enluto
Com os beijos santos da despedida.
- Alphonsus de Guimaraens, em "Obra completa". [organização Alphonsus de Guimaraens Filho]. Biblioteca luso-brasileira - Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.


§

Ismália
XXXIII
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
- Alphonsus de Guimaraens, (Pastoral aos crentes do amor e da morte. '1923'.), em "Os cem melhores poemas brasileiros do século". [seleção e organização de Ítalo Moriconi]. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001.


§

Salmos da Noite
III
Ó minha amante, eu quero a volúpia vermelha
Nos teus braços febris receber sobre a boca;
Minh'alma, que ao calor dos teus lábios se engelha
E morre, há de cantar perdidamente louca.

O peito, que a uma furna escura se assemelha,
De mágicos florões o teu olhar me touca;
Ao teu lábio que morde e tem mel como a abelha,
Dei toda a vida... e eterna ela seria pouca.

Ao teu olhar, oceano ora em calma ora em fúria,
Canta a minha paixão um salmo fundo e terno,
Como o ganido ao luar de uma cadela espúria...

— Salmo de tédio e dor, hausteante, negro e eterno,
E no entanto eu te sigo, ó verme da luxúria,
E no entanto eu te adoro, ó céu do meu inferno!
- Alphonsus de Guimaraens, em "Obra completa". [organização Alphonsus de Guimaraens Filho]. Biblioteca luso-brasileira - Série brasileira, 20. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1960.


§

Soneto VIII
Vagueiam suavemente os teus olhares
Pelo amplo céu franjado em linho:
Comprazem-te as visões crepusculares...
Tu és uma ave que perdeu o ninho.
Em que nichos doirados, em que altares
Repoisas, anjo errante, de mansinho?
E penso, ao ver-te envolta em véus de luares,
Que vês no azul o teu caixão de pinho.
És a essência de tudo quanto desce
Do solar das celestes maravilhas...
Harpa dos crentes, cítola da prece...
Lua eterna que não tivesse fases,
Cintilas branca, imaculada brilhas,
E poeiras de astros nas sandálias trazes...
- Alphonsus de Guimarães (poemas), em "A literatura Brasileira através dos Textos". [autor e seleção de textos de Massaud Moisés]. 2ª ed., São Paulo: Cultrix, 1973.


§

Soneto IX
Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.
As estrelas dirão: – “Ai! nada somos,
Pois ela se morreu, silente e fria... ”
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.
A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.
Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: – “Por que não vieram juntos?”
- Alphonsus de Guimarães (poemas), em "A literatura Brasileira através dos Textos". [autor e seleção de textos de Massaud Moisés]. 2ª ed., São Paulo: Cultrix, 1973.


§

Soneto X
Como se moço e não bem velho eu fosse
Uma nova ilusão veio animar-me.
Na minh’alma floriu um novo carme,
O meu ser para o céu alcandorou-se.
Ouvi gritos em mim como um alarme.
E o meu olhar, outrora suave e doce,
Nas ânsias de escalar o azul, tornou-se
Todo em raios que vinham desolar-me.
Vi-me no cimo eterno da montanha,
Tentando unir ao peito a luz dos círios
Que brilhavam na paz da noite estranha.
Acordei do áureo sonho em sobressalto:
Do céu tombei aos caos dos meus martírios,
Sem saber para que subi tão alto...
- Alphonsus de Guimarães (poemas), em "A literatura Brasileira através dos Textos". [autor e seleção de textos de Massaud Moisés]. 2ª ed., São Paulo: Cultrix, 1973.


§

Soneto XI
Cantem outros a clara cor virente
Do bosque em flor e a luz do dia eterno...
Envoltos nos clarões fulvos do oriente,
Cantem a primavera: eu canto o inverno.
Para muitos o imoto céu clemente
É um manto de carinho suave e terno:
Cantam a vida, e nenhum deles sente
Que decantando vai o próprio inferno.
Cantam esta mansão, onde entre prantos

Cada um espera o sepulcral punhado
De úmido pó que há de abafar-lhe os cantos...
Cada um de nós é a bússola sem norte.
Sempre o presente pior do que o passado.
Cantem outros a vida: eu canto a morte.
- Alphonsus de Guimarães (poemas), em "A literatura Brasileira através dos Textos". [autor e seleção de textos de Massaud Moisés]. 2ª ed., São Paulo: Cultrix, 1973.



TRADUÇÕES DE ALPHONSUS DE GUIMARAENS

Aparition*
Bem triste estava a noite. Os serafins em bando,
O archote em punho, em longo e amplo espaço sonhando,
Bem faziam nascer dos roxos violoncelos
Estes trenos de amor fulgurantes e belos.
Nasciam sob o som dos bandolins e violas
Os suspiros da cor que vão pelas corolas.

Era o dia do teu primeiro e único beijo,
Do teu primeiro amor, teu único desejo!

O meu sonho que andara sempre a agonizar-me,
Que conhecesse, quis, todo, todo o meu carme...

Colher um sonho na alma eterna que o colheu...
Este poder, ai! Deus, ai! Deus não mais mo deu.

Foi em meio da dor de uma isolada rua
Que apareceste sob o resplendor da lua.

E as estrelas perfumaram
Estas mãos que te adoraram!


*

Apparition
La lune s'attristait. Des séraphins en pleurs
Rêvant, l'archet aux doigts, dans le calme des fleurs
Vaporeuses, tiraient de mourantes violes
De blancs sanglots glissant sur l'azur des corolles.
- C'était le jour béni de ton premier baiser.
Ma songerie aimant à me martyriser
S'enivrait savamment du parfum de tristesse
Que même sans regret et sans déboire laisse
La cueillaison d'un Rêve au cœur qui l'a cueilli.
J'errais donc, l'œil rivé sur le pavé vieilli
Quand avec du soleil aux cheveux, dans la rue
Et dans le soir, tu m'es en riant apparue
Et j'ai cru voir la fée au chapeau de clarté
Qui jadis sur mes beaux sommeils d'enfant gâté
Passait, laissant toujours de ses mains mal fermées
Neiger de blancs bouquets d'étoiles parfumées.
- Stéphane Mallarmé [tradução Alphonsus de Guimaraens]. em "Pastoral aos crentes do amor e da morte", de Alphonsus de Guimaraens (edição de 1936).. Guimarães 2010, p. 17-18.
Sobre o título da postagem
(*) BARROSO, Ivo. Alphonsus de Guimaraens, O poeta das sonoridades siderais. em: Gaveta do Ivo, 18.3.2011. Disponível no link. (acessado em 13.8.2016).
© A obra de Alphonsus de Guimaraens é de domínio público

© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske

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COMO CITAR:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Alphonsus de Guimaraens – O poeta das sonoridades siderais. Templo Cultural Delfos, agosto/2021. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
** Página atualizada em: 29.8.2021.
* Página original MAIO/2018


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Friedrich Hölderlin - poemas (bilíngue)

Friedrich Holderlin (Lauffen-Am-Neckar, 1770,
Tubingen, 1843).
"A vida e a obra de Hölderlin (1770-1843) confundem-se e fundem-se numa unidade totalizadora: a Poesia. Destinado à carreira eclesiástica por uma mãe dominadora, depressa se apercebe de que o seu caminho é o da criação pela palavra poética, a que prende todo o seu pensar, sentir e agir. (...) A partir de 1802, ano em que morre a sua Diotima - Susette Gontard, esposa do banqueiro de Frankfurt, em casa de quem desempenhou funções de preceptor desde 1796 até 1798 - passa a sofrer de perturbações psíquicas que se vão agravando com o tempo. Surge então a mitificação do "poeta louco", mais alvo de curiosidade do que de respeito, e muitos dos seus manuscritos são destruídos por conhecidos e amigos que procuram reunir e editar a sua obra poética e acham que tudo o que foi escrito a partir daquela data é apenas fruto de um estado psíquico alterado. Na Torre de Tübingen, junto ao rio Nécar, onde através da sua janela o poeta vê as águas, os cisnes, os campos até às montanhas do Alb suábio, Hölderlin vive ainda de 1807 a 1843, ano em que morre, a 7 de junho. O marceneiro Zimmer, dono da casa, que aceitou tomá-lo aos seus cuidados - em boa parte porque admirava o autor de "Hipérion", que lera com entusiasmo - depois da clínica Autenrieth o dar por incurável e com poucos meses de vida, veio a proporcionar-lhe, com a sua família, o ambiente de afeto e convívio de que o poeta carecera quase toda a sua vida. Neste último período, a produção poética cai numa maior rigidez formal, mas não perde o seu alcance lírico nem os seus ideais de humanismo helénico. 
A grande revolução da poesia de Hölderlin ficou bem patente nos "Hinos Tardios" que apenas vêm a ser descobertos e editados em 1914 pelo escritor ligado ao Círculo George, Norbert von Hellingrath, que a breve trecho veio a morrer, durante a Primeira Grande Guerra. Em 1914, quando Rainer Maria Rilke lê, deslumbrado, tanto o volume dos "Hinos Tardios", como o "Hipérion", encontra em Hölderlin um novo modelo exemplar para a sua obra poética, sobretudo para as "Elegias de Duíno" e "Sonetos a Orfeu" que de algum modo ecoam a audácia sintática, rítmica e imagética dessas obras, lidas nesse ano. Depois de Rilke, toda uma plêiade de poetas tem assumido a herança de Hölderlin, nas mais variadas línguas e culturas. A unidade matricial da poesia hölderliniana, pela sua universalidade e pela sua essência fundamentalmente humana e intrinsecamente inovadora é captada nos mais diversos ângulos e temáticas, demonstrando a inesgotabilidade do autor e o carácter fundacional da sua obra." 
- Maria Teresa Dias Furtado, in "A Phala", nº 57/Editora Assírio & Alvim. (acessado em 10.01.2016). 


OBRA DE FRIEDRICH HÖLDERLIN
:: A morte de empédocles (fragmentos). 1797|1800.
:: Hyperion ou O eremita na Grécia. 1797|1799.
:: Tragédias de Sófocles. 1804.
:: Poemas de Friedrich Hölderlin. [edição Ludwig Uhland e Gustav Schwab]. 1826.


OBRAS DE FRIEDRICH HÖLDERLIN TRADUZIDAS PARA A LÍNGUA PORTUGUESA
Portugal
Friedrich Holderlin
:: Poemas - Friedrich Hölderlin. [prefácio, selecção e tradução Paulo Quintela]. 2 vol's., Coimbra: Atlântida, 1959; Lisboa: Relógio D’Água, 1991.
:: Elegias - Friedrich Hölderlin. [tradução Maria Teresa Dias Furtado]. Porto: Assírio e Alvim, 1992.
:: Hinos tardios – Friedrich Hölderlin. [tradução Maria Teresa Dias Furtado]. Porto: Editora Assírio & Alvim, 2000.
:: Hipérion ou o Eremita da Grécia. [tradução e prefácio  Maria Teresa Dias Furtado]. Porto: Editora Assírio & Alvim, 1997.
:: Fragmentos de Píndaro - Friedrich Holderlin. [tradução, notas e prefácio de Bruno C. Duarte]. Porto: Editora Assírio & Alvim, 2010.

Brasil
:: Canto do destino e outros cantos - Friedrich Hölderlin. [organização, tradução e ensaio Antônio Medina Rodrigues]. São Paulo: Iluminuras, 1994.
:: Poemas - Friedrich Hölderlin. [seleção, tradução, introdução e notas José Paulo Paes]. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
:: Reflexões - Friedrich Hölderlin. [tradução Márcia de Sá Cavalcante e Antonio Abranches]. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.
:: Hipérion ou o Eremita na Grécia. [tradução Erlon José Pascoal]. São Paulo: Nova Alexandria, 2003.
:: A morte de empédocles - Friedrich Hölderlin. [tradução e introdução Marise Moassab Curiori]. São Paulo: Iluminuras, 2008.

Antologias e outros estudos
:: BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira[poesia traduzida]. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966.
:: KEMPF, Roswitha (versão). A poesia alemã - breve antologia.  [Lavant, Kaschnitz, Enzensberger, Brecht, Benn, Trakl, Rilke, Heine, Hölderlin, Schiller, Goethe].. (edição bilíngue alemão/português). São Paulo: Massao Ohno Editor, 1981.
:: Hölderlin e outros estudos. in: QUINTELA, Paulo. Obras Completas de Paulo Quintela. Volumes II, III e IV. Lisboa: Calouste Guilbekian. 1999.
:: Observações sobre Édipo e Antígona. in: ROSENFIELD, K. Antígona – de Sófocles a Hölderlin. Porto Alegre: L&PM. 2000.



Friedrich Hölderlin,  Franz Karl Hiemer (1792)
POEMAS DE FRIEDRICH HÖLDERLIN - BILÍNGUE

A árvore
Quando menino, tímido te plantei
     Bela planta! quão diferentes nos vemos
Magnífica estás                              e 
     como um menino.
*
Der baum
Da ich ein Kind, zag pflanzt ich dich
     Schöne Pflanze! wie sehn wir nun verändert uns
Herrlich stehest                           und
         wie ein Kind vor.
Friedrich Hölderlin. "A árvore"/"Der baum". in: Hölderlin: Poemas. (organização e tradução Paulo Quintela). Coimbra: Atlântida, 1959.

§

Ás parcas
Dai-me, Potestades, mais um verão apenas, 
Apenas um outono de maduro canto, 
Que de bom grado, o coração já farto 
Do suave jogo, morrerei então.

A alma que em vida nunca desfrutou os seus 
Direitos divinos nem no Orco acha repouso; 
Mas se eu lograr o que é sagrado, o que 
Trago em meu coração, a Poesia,

Serás bem-vinda então, paz do mundo das sombras! 
Contente ficarei, mesmo que a minha lira 
Não leve comigo; uma vez, ao menos, 
Vivi como os deuses, e é quanto basta. 
*
An die parzen
Nur Einen Sommer gönnt, ihr Gewaltigen!
Und einen Herbst zu reifem Gesange mir,
Daß williger mein Herz, vom süßen
Spiele gesättiget, dann mir sterbe.

Die Seele, der im Leben ihr göttlich Recht
Nicht ward, sie ruht auch drunten im Orkus nicht;
Doch ist mir einst das Heilige, das am
Herzen mir liegt, das Gedicht, gelungen,

Willkommen dann, o Stille der Schattenwelt!
Zufrieden bin ich, wenn auch mein Saitenspiel
Mich nicht hinabgeleitet; Einmal
Lebt ich, wie Götter, und mehr bedarfs nicht.
Friedrich Hölderlin. "An die Parzen"/"Ás parcas", [tradução José Paulo Paes]. in: in: HÖLDERLIN, Friedrich. Poemas. [seleção, tradução, introdução e notas José Paulo Paes]. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. p.87.
HÖLDERLIN, Friedrich. Sämtliche Werke. (Von Friedrich Beissner, hrsg., Kleine Stuttgarter Ausgabe, 6 Vol.). Stuttgart: Kohlhammer, 1954, vol. 1, p. 247.

§

Curso da vida
Coisas maiores querias tu também, mas o amor
A todos vence, a dor curva ainda mais,
E não é em vão que o nosso círculo
Volta ao ponto donde veio!

Para cima ou para baixo! Não sopra em noite sagrada,
Onde a Natureza muda medita dias futuros,
Não domina no Orco mais torto
Um direito, uma justiça também?

Foi isso que aprendi. Pois nunca, como os mestres mortais,
Vós, ó celestiais, ó deuses que tudo mantendes,
Que eu saiba, nunca com cuidado
Me guiastes por caminho plano.

Tudo experimente o homem, dizem os deuses,
Que ele, alimentado com forte mantença, aprenda a ser grato por                                                                                   [tudo,     
E compreenda a liberdade
De partir para onde queira.
*
Lebenslauf
Größers wolltest auch du, aber die Liebe zwingt
All uns nieder, das Leid beuget gewaltiger,
Doch es kehret umsonst nicht
Unser Bogen, woher er kommt.
Aufwärts oder hinab! herrschet in heilger Nacht,
Wo die stumme Natur werdende Tage sinnt,
Herrscht im schiefesten Orkus
Nicht ein Grades, ein Recht noch auch ?

Dies erfuhr ich. Denn nie, sterblichen Meistern gleich,
Habt ihr Himmlischen, ihr Alleserhaltenden,
Daß ich wüßte, mit Vorsicht
Mich des ebenen Pfades geführt.

Alles prüfe der Mensch, sagen die Himmlischen,
Daß er, kräftig genährt, danken für Alles lern,
Und verstehe die Freiheit,
Aufzubrechen, wohin er will.
Friedrich Hölderlin. "Lebenslauf"/"Curso da vida". in: Hölderlin: Poemas. (organização e tradução Paulo Quintela). Coimbra: Atlântida, 1959.

§

Diotima
Vem, dulçor da musa etérea — e para mim aplaca
   O caos do tempo, ó tu, que outrora os elementos irmanaste,
Em tons de paz do céu me suaviza a fera luta,
   Até que aos seios dos mortais se amaine a intriga,
Até que a suave, a ingente, a velha natureza dos humanos
   Brote enfim do fermentar do tempo alegre e forte.
E que à viva forma voltes, da gente aos corações sedentos!
   Voltes à mesa hospitaleira, e ao santuário voltes!
Pois que, do Espírito colmada, como em neve as flores finas,
   Vive ainda e a remirar o sol está Diotima.
Mas foi-se deste mundo o sol do Espírito, o mais belo,  
   E em caliginosa treva raivam agora tão somente os furacões.
*
Diotima
Komm und besänftige mir, die du einst Elemente versöhntest,
   Wonne der himmlischen Muse, das Chaos der Zeit,
Ordne den tobenden Kampf mit Friedenstönen des Himmels,
   Bis in der sterblichen Brust sich das Entzweite vereint,
Bis der Menschen alte Natur, die ruhige, große,
   Aus der gärenden Zeit mächtig und heiter sich hebt.
Kehr’ in die dürftigen Herzen des Volks, lebendige Schönheit!
   Kehr’ an den gastlichen Tisch, kehr’ in den Tempel zurück!
Denn Diotima lebt, wie die zarten Blüten im Winter,
   Reich an eigenem Geist, sucht sie die Sonne doch auch.
Aber die Sonne des Geists, die schönere Welt, ist hinunter
   Und in frostiger Nacht zanken Orkane sich nur.
Friedrich Hölderlin. "Diotima". [tradução Antonio Medina Rodrigues]. In:_____. Canto do destino e outros cantos. (Organização, tradução e ensaio por Antonio Medina Rodrigues). São Paulo: Ilulminuras, 1994.  

§

Empédocles
Buscas a vida, buscas, e eis te brota e brilha
Um fogo divino do fundo da terra,
E tu, em ânsia horrífica, lanças-te
Lá para baixo, pra as chamas do Etna.

Assim dissolveu pérolas no vinho a insolência
Da rainha; e que o fizesse! Não tivesses tu,
Ó Poeta, imolado a tua riqueza
No cálice refervente!

Mas pra mim és sagrado, como a força da terra
Que te arrebatou, ó vítima ousada!
E seguiria para as profundezas,
Se o amor me não detivesse, o herói.
*
Empedokles
Das Leben suchst du, suchst, und es quillt und glänzt
Ein göttlich Feuer tief aus der Erde dir,
Und du in schauderndem Verlangen
Wirfst dich hinab, in des Ätna Flammen.

So schmelzt' im Weine Perlen der Übermut
Der Königin; und mochte sie doch! hättest du
Nur deinen Reichtum nicht, o Dichter,
Hin in den gärenden Kelch geopfert!

Doch heilig bist du mir, wie der Erde Macht,
Die dich hinwegnahm, kühner Getöteter!
Und folgen möcht ich in die Tiefe,
Hielte die Liebe mich nicht, dem Helden.
Friedrich Hölderlin. "Empedokles"/"Empédocles". in: Hölderlin: Poemas. (organização e tradução Paulo Quintela). Coimbra: Atlântida, 1959.

§

Metade da vida
Peras amarelas 
E rosas silvestres 
Da paisagem sobre a Lagoa. 
Ó cisnes graciosos, 
Bêbedos de beijos, 
Enfiando a cabeça 
Na água santa e sóbria!

Ai de mim, aonde, se 
É inverno agora, achar as 
Flores? E aonde 
O calor do sol 
E a sombra da terra? 
Os muros avultam 
Mudos e frios; à fria nortada 
Rangem os cata-ventos.
*
Hälfte des lebens
Mit gelben Birnen hänget
Und voll mit wilden Rosen
Das Land in den See,
Ihr holden Schwäne,
Und trunken von Küssen
Tunkt ihr das Haupt
Ins heilignüchterne Wasser.

Weh mir, wo nehm ich, wenn
Es Winter ist, die Blumen, und wo
Den Sonnenschein,
Und Schatten der Erde?
Die Mauern stehn
Sprachlos und kalt, im Winde
Klirren die Fahnen.
Friedrich Hölderlin. "Hälfte des Lebens"/"Metade da vida", [tradução Manuel Bandeira]. in: BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966.
HÖLDERLIN, Friedrich. Sämtliche Werke und Briefe. München: Carl Hanser Verlag, 1970.

§

O aplauso dos homens
Não trago o coração mais puro e belo e vivo
Desde que amo? Por que me afeiçoáveis mais
Quando era altivo e rude,
Palavroso e vazio?

Ah! só agrada à turba o tumulto das feiras;
Dobra-se humilde o servo ao áspero e violento.
Só creem no divino
Os que o trazem em si.
*
Menschenbeifall
 Ist nicht heilig mein Herz, schöneren Lebens voll,
Seit ich liebe? Warum achtet ihr mich mehr,
Da ich stolzer und wilder,
Wortereicher und leerer war?

Ach! der Menge gefällt, was auf den Marktplatz taugt,
Und es ehret der Knecht nur den Gewaltsamen;
An das Göttliche glauben
Die allein, die es selber sind.
Friedrich Hölderlin: "Menschenbeifall"/"O aplauso dos homens". [tradução Manuel Bandeira]. in: BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966.
HÖLDERLIN, Friedrich. "Gedichte". in:_____. Sämtliche Werke und Briefe. München: Carl Hanser, 1970.

§

O imperdoável
Se vós, amigos, esqueceis, se escarneceis o artista,
E entendeis de modo mesquinho e vulgar o espírito mais fundo,
Deus perdoa-vo-lo; mas não perturbeis
Nunca a paz dos que se amam. 
*
Das unverzeihliche
Wenn ihr Freunde vergeßt, wenn ihr den Künstler höhnt,
Und den tieferen Geist klein und gemein versteht,
Gott vergibt es, doch stört nur
Nie den Frieden der Liebenden.
Friedrich Hölderlin. "Das Unverzeihliche"/"O imperdoável". in: Hölderlin: Poemas. (organização e tradução Paulo Quintela). Coimbra: Atlântida, 1959.

§

Pôr de Sol
Onde estás? A alma anoitece-me bêbeda
De todas as tuas delícias; um momento
Escutei o sol, amorável adolescente,
Tirar da lira celeste as notas de ouro do seu [canto da noite. 

Ecoavam ao redor os bosques e as colinas;
Ele no entanto já ia longe, levando a luz
A gentes mais devotas
Que o honram ainda. 
*
Sonnenuntergang
Wo bist du? trunken dämmert die Seele mir
Von aller deiner Wonne; denn eben ist's,
Dass ich gelauscht, wie, goldner Tone
Voll, der entzückende Sonnenjüngling

Sein Abendlied af himmlischer Leier spielt’;
Es tönten rings die Wälder und Hügel nach.
Doch fern ist er zu frommen Völkern,
Die ihn noch ehren, hinweggegangen.
Friedrich Hölderlin. "Sonnenuntergang"/ "Pôr de sol", [tradução Manuel Bandeira]. in: BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966.
HÖLDERLIN, Friedrich. "Gedichte 1796-1799". Sämtliche Werke und Briefe. München: Carl Hanser, 1970.

§

ELEGIAS
Pão e vinho
(…)
Mas nós, amigo, chegamos demasiado tarde. Certo é que os deuses vivem,
Mas acima de nós, lá em cima, noutro mundo.
Aí o seu domínio é infinito e parecem não se importar
Se estamos vivos, tanto nos querem poupar.
Pois nem sempre pode um frágil vaso contê-los,
O homem apenas algum tempo suporta a plenitude divina.
Depois toda a nossa vida é sonhar com eles. Mas os erros,
Tal como o sono, ajudam, e a necessidade e a noite fortalecem,
Até que haja suficientes heróis, criados em berço de bronze,
De coração corajoso, como dantes, semelhantes aos Celestiais.
Depois eles chegam, trovejantes. Entretanto penso por vezes
Que é melhor dormir do que estar assim sem companheiros,
Nem sei perseverar assim, nem que fazer entretanto,
Nem que dizer, pois para que servem poetas em tempo de indigência?
Mas eles são, dizes, como sacerdotes santos do deus do vinho
Que em noite santa vagueavam de terra em terra.
(…)
*
Brod und wein
(…)
Aber Freund! wir kommen zu spät. Zwar leben die Götter
Aber über dem Haupt droben in anderer Welt.
Endlos wirken sie da und scheinens wenig zu achten,
Ob wir leben, so sehr schonen die Himmlischen uns.
Denn nicht immer vermag ein schwaches Gefäß sie zu fassen,
Nur zu Zeiten erträgt göttliche Fülle der Mensch,
Traum von ihnen ist drauf das Leben. Aber das Irrsal
Hilft, wie Schlummer und stark machet die Not und die Nacht,
Bis daß Helden genug in der ehernen Wiege gewachsen,
Herzen an Kraft, wie sonst, ähnlich den Himmlischen sind.
Donnernd kommen sie drauf. Indessen dünket mir öfters
Besser zu schlafen, wie so ohne Genossen zu sein,
So zu harren und was zu tun indes und zu sagen,
Weiß ich nicht und wozu Dichter in dürftiger Zeit?
Aber sie sind, sagst du, wie des Weingotts heilige Priester,
Welche von Lande zu Land zogen in heiliger Nacht.

(…)
Friedrich Hölderlin. "Elegias". [tradução Maria Teresa Dias Furtado]. Porto: Assírio e Alvim, 1992.

§

HINOS TARDIOS

Tal como num dia de festa...
Tal como num dia de festa, pela manhã sai,
Para ver o campo, o lavrador, quando
Do calor da noite caíram refrescantes raios
Continuamente e já longe ainda ressoa o trovão,
De novo ao seu leito regressa o grande rio
E fresco viceja o solo
E da videira goteja a chuva
Que do céu trouxe alegria e resplandecentes
Ao sol silencioso se erguem as árvores do bosque:
Assim se erguem em propício tempo,
Aqueles que nenhum mestre por inteiro educa, mas aquela
Que é maravilhosa e imensa e de uma leveza envolvente,
A poderosa, a divinamente bela natureza.
Por isso quando ela parece dormir em algumas épocas do ano
No céu ou entre as plantas ou os povos,
O rosto dos poetas também se entristece,
Parecem estar sós, porém sempre estão cheios de pressentimentos.
Pois, pressentindo, ela própria também repousa.
E eis que o dia nasce! Esperei e vi-o aproximar-se,
E para o que vi, sagrada seja a minha palavra.
Pois a própria Natureza, mais antiga do que as eras
E superior aos deuses do ocidente e do oriente,
Acordou agora com o fragor das armas,
E descendo das alturas do Éter até aos abismos
Segundo a firme lei antiga e gerado do sagrado caos,
O entusiamo que tudo cria volta
A fazer-se sentir de modo novo.
E tal como uma chama se acendeu nos olhos do homem
Que projectou coisas sublimes, assim agora
Lavra de novo um fogo nas almas dos poetas
Deflagrado pelos sinais, pelos feitos do mundo.
E o que outrora aconteceu, quase oculto aos sentidos
Apenas agora é revelado,
E aquelas que sorrindo cultivaram o nosso campo,
Assumindo forma de servo, são agoras conhecidas,
As que em si contêm a plenitude da vida, as virtudes dos deuses.
E tu, perguntas por eles? Na canção sopra o teu espírito,
Quando ele brota do sol diurno e da cálida terra
E de borrascas no ar e de outras
Preparadas mais nas profundezas dos tempos
E mais repletas de sentido, e mais perceptíveis,
Se movem entre o Céu e a Terra e entre os povos.
Os pensamentos do espírito a todos comum encontram-se,
Em acalmia final, na alma do poeta,
De tal modo que ela, subitamente atingida, do Infinito
Há muito conhecida, estremece ao recordar-se,
E é-lhe dada a ventura de, inflamada pelo raio sagrado,
Dar à luz o fruto do amor, obra dos deuses e dos homens,
O canto, para que de ambos dê testemunho.
Assim caiu, como dizem os poetas, o raio sobre a casa de Semele,
Quando ela ostensivamente desejou ver o deus
E aquela que o divino feriu, deu à luz
O fruto da trovoada, o Baco sagrado.
Por isso agora bebem os filhos da Terra
Fogo celestial sem qualquer perigo.
Porém a nós compete-nos, ó poetas, permanecer
De cabeça descoberta enquanto passam as trovoadas de Deus,
Segurar nas próprias mãos o próprio raio vindo do Pai
E entregar ao povo, oculta no canto,
A dádiva divina.
Pois se formos apenas de coração puro
Como as crianças, se as nossas mãos forem inocentes,
O raio puro, vindo do Pai, não o queimará
E profundamente abalado, compartilhando a paixão
Do mais forte, o coração permanece mesmo assim firme
Durante as tempestades que do alto se abatem quando o deus se aproxima.
Mas ai de mim! quando de
Ai de mim!
E se logo disser,
Que me aproximei para contemplar os Celestiais,
Eles próprios me lançarão nas profundezas dos vivos,
Como falso sacerdote no escuro, para que eu
Aos que estiverem receptivos cante uma canção de aviso.
Nesse lugar
*
Wie wenn am Feiertage...
Wie wenn am Feiertage, das Feld zu sehn,
Ein Landmann geht, des Morgens, wenn
Aus heißer Nacht die kühlenden Blitze fielen
Die ganze Zeit und fern noch tönet der Donner,
In sein Gestade wieder tritt der Strom,
Und frisch der Boden grünt
Und von des Himmels erfreuendem Regen
Der Weinstock trauft und glänzend
In stiller Sonne stehn die Bäume des Haines:
So stehn sie unter günstiger Witterung,
Sie, die kein Meister allein, die wunderbar
Allgegenwärtig erzieht in leichtem Umfangen
Die mächtige, die göttlichschöne Natur.
Drum wenn zu schlafen sie scheint zu Zeiten des Jahrs
Am Himmel oder unter den Pflanzen oder den Völkern,
So trauert der Dichter Angesicht auch,
Sie scheinen allein zu sein, doch ahnen sie immer.
Denn ahnend ruhet sie selbst auch.
Jetzt aber tagts! Ich harrt und sah es kommen,
Und was ich sah, das Heilige sei mein Wort.
Denn sie, sie selbst, die älter denn die Zeiten
Und über die Götter des Abends und Orients ist,
Die Natur ist jetzt mit Waffenklang erwacht,
Und hoch vom Aether bis zum Abgrund nieder
Nach festem Gesetze, wie einst, aus heiligem Chaos gezeugt,
Fühlt neu die Begeisterung sich,
Die Allerschaffende, wieder.
Und wie im Aug ein Feuer dem Manne glänzt,
Wenn hohes er entwarf, so ist
Von neuem an den Zeichen, den Taten der Welt jetzt
Ein Feuer angezündet in Seelen der Dichter.
Und was zuvor geschah, doch kaum gefühlt,
Ist offenbar erst jetzt,
Und die uns lächelnd den Acker gebauet,
In Knechtsgestalt, sie sind erkannt,
Die Allebendigen, die Kräfte der Götter.
Erfrägst du sie? im Liede wehet ihr Geist,
Wenn es der Sonne des Tags und warmer Erd
Entwächst, und Wettern, die in der Luft, und andern,
Die vorbereiteter in Tiefen der Zeit,
Und deutungsvoller, und vernehmlicher uns
Hinwandeln zwischen Himmel und Erd und unter den Völkern.
Des gemeinsamen Geistes Gedanken sind,
Still endend, in der Seele des Dichters.
Daß schnellbetroffen sie, Unendlichem
Bekannt seit langer Zeit, von Erinnerung
Erbebt, und ihr, von heilgem Strahl entzündet,
Die Frucht in Liebe geboren, der Götter und Menschen Werk,
Der Gesang, damit er beiden zeuge, glückt.
So fiel, wie Dichter sagen, da sie sichtbar
Den Gott zu sehen begehrte, sein Blitz auf Semeles Haus
Und die göttlichgetroffne gebar,
Die Frucht des Gewitters, den heiligen Bacchus.
Und daher trinken himmlisches Feuer jetzt
Die Erdensöhne ohne Gefahr.
Doch uns gebührt es, unter Gottes Gewittern,
Ihr Dichter! mit entblößtem Haupte zu stehen,
Des Vaters Strahl, ihn selbst, mit eigner Hand
Zu fassen und dem Volk ins Lied
Gehüllt die himmlische Gabe zu reichen.
Denn sind nur reinen Herzens,
Wie Kinder, wir, sind schuldlos unsere Hände,
Des Vaters Strahl, der reine, versengt es nicht
Und tieferschüttert, die Leiden des Stärkeren
Mitleidend, bleibt in den hochherstürzenden Stürmen
Des Gottes, wenn er nahet, das Herz doch fest.
Doch weh mir, wenn von
Weh mir!
Und sag ich gleich,
Ich sei genaht, die Himmlischen zu schauen,
Sie selbst, sie werfen mich tief unter die Lebenden,
Den falschen Priester, ins Dunkel, daß ich
Das warnende Lied den Gelehrigen singe,
Dort
Friedrich Hölderlin. "Hinos tardios". [tradução Maria Teresa Dias Furtado]. Porto: Editora Assírio & Alvim, 2000.


Selo comemorativo 200 anos de Hölderlin


© A obra de Friedrich Hölderlin é de domínio público

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske em colaboração com José Alexandre da Silva
____
** Página atualizada em 10.1.2016.



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