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Um pandeiro contra a República: João da Baiana batucando na cozinha

João da Baiana - foto: acervo Casa do Choro
Um pandeiro contra a República: João da Baiana batucando na cozinha
- por Marcos Alvito (*)

Este trabalho tem um objetivo modesto. Pretendo analisar uma música de João da Baiana tomada como documento histórico. A minha hipótese é que o filho de Tia Perciliana e neto de escravos batia seu pandeiro contra a República. Ou seja: usou seus sambas para fazer pesadas críticas à perseguição que o regime republicano empreendeu contra a população afro-brasileira do Rio de Janeiro. Até aqui, nenhuma novidade. A minha pequena contribuição reside na metodologia com que me disponho a analisá-lo. A mensagem contida nos sambas tem que ser decifrada para além de sua aparente simplicidade, pois há uma tradição afro-brasileira de ocultamento do significado originária sobretudo do jongo. Vamos direto ao exemplo, Batuque na Cozinha, composto em 1917 (Rocha,1995:87) e gravado em 1968 pelo próprio João da Baiana, então com 81 anos: 

Não moro em casa de cômodos, 
Não é por ter medo não,
Na cozinha há muita gente,
Sempre tem apelação,

Depois da genial introdução de Pixinguinha, entra João da Baiana com sua voz malemolente, cheia de ginga ancestral e uma fala que decerto relembra os africanos atrapalhados com a língua de Camões (“cômado” ao invés de cômodos). É o Português deliciosamente adocicado, desossado e amolecido de que fala Gilberto Freyre. Nessa primeira estrofe temos o local do episódio, uma casa de cômodos, habitação popular típica, onde se amontoava a população indesejada pelos reformadores republicanos. Da mesma forma que as favelas de hoje, era associada à violência (“Não é por ter medo não”). Para o historiador Oswaldo Porto Rocha: “Não causa surpresa o fato de ocorrerem distúrbios na cozinha que, juntamente com o banheiro, são os dois cômodos mais frequentados na habitação” (Idem:85). Nós vamos tentar ir além desta interpretação “realista”, em que a narrativa parece simplesmente descrever o que acontecia de fato nas casas de cômodo. Isso porque este samba (ou seria maxixe?) é construído na forma de um diálogo, de uma conversa entre um mulato e um comissário de Polícia, em que o primeiro tenta convencer o segundo da sua inocência. Sendo assim, o mulato se apresenta como um homem de coragem mas que não gosta de confusão. 
Em seguida vem o refrão que dá título à música:

Batuque na cozinha 
Sinhá não quer, 
por causa do batuque 
eu queimei meu pé, (bis)

Estes versos precisam ser analisados com calma. Como é sabido, o samba tradicional era composto simplesmente de um refrão em torno do qual se improvisava. O refrão funcionava como uma proposta temática (como esta mesa redonda) a partir da qual cada um fazia seu verso na forma de um comentário ou de uma provocação. Sua repetição visava, da mesma forma que as fórmulas homéricas, dar tempo ao compositor para pensar na elaboração dos próximos versos. Isso permitia um comentário crítico sempre renovado acerca das dificuldades vividas pelo grupo e por seus componentes. A tradição oral fazia com que estes refrões fossem transmitidos de geração a geração atravessando séculos. Aqui temos um exemplo perfeito daquilo que Marshall Sahlins (1990) chama de “reavaliação funcional das categorias”, ou seja, de uma transformação histórica da cultura quando realizada na prática. Um breve exemplo servirá para esclarecer melhor o que estamos querendo dizer.
Um dos lundus mais famosos do século XIX chamava-se Lundu de Pai João. De autoria desconhecida, sua letra fazia uma pesada crítica à sociedade branca (Carneiro,1967:289-290). Começa com um lamento do africano que fora arrancado violentamente da sua terra, onde era uma pessoa às vezes importante e que levava uma vida digna, contrastando com a sua condição de escravo na terra de branco:

Quando iô tava na minha tera
Iô chamava capitão
Chega na terra dim baranco
Iô me chama – Pai João

Notar que aqui temos uma fala com “sotaque” africano acentuado, da mesma forma que João da Baiana tentou imitar em Batuque na Cozinha. A segunda e a terceira estrofe tratam da transformação das condições de vida implicadas na passagem de capitão a Pai João:

Quando iô tava na minha terá
Comia mia garinha,
Chega na terra dim baranco
Carne seca com farinha.

Quando iô tava na minha tera

Iô chamava generá,
Chega na terra dim baranco
Pega o cêto vai ganhá.

O pior de tudo, na verdade, era a injustiça, a desigualdade no tratamento, aquilo que o jongo feito para celebrar o fim da escravidão chamava de “mundo torto”:

Dizaforo dim baranco
Nó si póri atura
Tá comendo, tá drumindo.
Manda nego trabaiá.

Baranco dize quando more

Jesucrisso que levou,
E o pretinho quando more
Foi cachaça que matou
(...)

Baranco dize – preto fruta,

Preto fruta co rezão;
Sinhô baranco também fruta
Quando panha casião.

Nosso preto fruta garinha

Fruta saco de fuijão;
Sinhô baranco quando fruta
Fruta prata e patacão.

Nosso preto quando fruta

Vai pará na coreção,
Sinhô baranco quando fruta
Logo sai sinhô barão.”

É claro que esse lundu, ainda hoje extremamente atual, em si mereceria um artigo, mas por ora o que desejamos é chamar atenção para uma de suas estrofes, a que colocamos em negrito acima e a seguir:

Baranco dize quando more
Jesucrisso que levou,
E o pretinho quando more
Foi cachaça que matou


Estes mesmos versos, compostos talvez na primeira metade do século XIX, seriam reaproveitados em Ô, Isaura, um partido-alto de Rubens da Mangueira gravado por Beth Carvalho em 1978 e regravado vinte anos depois no CD “Pérolas do Pagode”:

Todo rico quando morre
Foi porque Jesus levou
Todo pobre quando morre
Foi cachaça que matou 

As duas únicas palavras modificadas pelo sambista mangueirense foram baranco, agora transformado em rico e pretinho, agora pobre. Em suma, a boa e velha denúncia, presente em muitos outros sambas, de que no pós-Abolição pouca coisa havia mudado. A tradição dialeticamente se mantém e se transforma quando é aplicada a um novo contexto histórico exatamente da forma que Sahlins propunha. Essa é a chave para entender o refrão da música de João da Baiana. Voltemos a ele:

Batuque na cozinha 
Sinhá não quer, 
por causa do batuque 
eu queimei meu pé, (bis)

Batuque era um termo genérico registrado pelos cronistas desde o século XVIII  e que era aplicado a diferentes festas e manifestações afro-brasileiras. Ou seja, lundus, jongo, capoeira, candomblé, tudo era chamado de batuque. Já no século XVIII os batuques eram acusados por uma autoridade judiciária de serem causadores de “brigas, desordens, ferimentos e ainda talvez Mortes, procedimentos estes que são contrários à paz e sossego dos Povos” (Tinhorão, 1988:41).  O motivo estaria em uma combinação explosiva de excesso de bebida, mulheres “prostituídas” e com ciúmes dos seus “amásios” (Idem: 40-41).  
O que estamos querendo dizer é que há fortes indícios de que o refrão da música de João da Baiana é proveniente da época da escravidão. Sua mãe só não fora escrava porque se beneficiara da Lei do Ventre Livre. Ele conviveu com seus avós que haviam sido escravos e que segundo o próprio João da Baiana eram capazes de falar “em Gêge, Angola e Nagô” (Pixinguinha,1970:51).  O contato com outros africanos e descendentes devia ser muito intenso, pois seus avós tinham “uma quitanda de artigos afro-brasileiros no Largo da Sé”. Morando na Cidade Nova, pertinho da Praça Onze, coração daquilo que Heitor dos Prazeres chamou de “África em miniatura”, o menino João, chamado da Baiana pra diferenciá-lo de outros com o mesmo nome, deve ter escutado antigas canções dos escravos e quem sabe até tenha ouvido o Lundu do Pai João alguma vez. É claro que isso é apenas uma suposição. 
É importante notar que o jornalista Vagalume, autor de um dos livros mais importantes para a história do samba, acusa João da Baiana de ter ouvido até demais quando criança, a ponto de depois gravar como se fosse composição sua “aquilo que ouviu e aprendeu no tempo de garoto” (Guimarães,1978:94-95). O que ele não entende é que aqui está ocorrendo um processo contínuo de recriação da tradição (Lopes:1992:61-86) em que diversos materiais “folclóricos” estão sendo bricolados para se fundirem em uma nova tradição. Uma boa amostra disso é o samba que João da Baiana “compôs” com Donga e Pixinguinha, Patrão Prenda Seu Gado,  que mais parece uma colcha de retalhos formada de provérbios, mas que obviamente tem um sentido próprio:

Ô patrão
Ô patrão
Ô patrão, prenda seu gado
Na lavra tem um ditado
Quem mata gado é jurado
Missa de padra é latim
Rapaz solteiro é letrado
Em vim preso da Bahia
Só porque era namorado
Madame Diê, lalá

Samba ioiô, samba iaiá

Que o dia e vem, doná

Eu bem sei

Eu bem sei
Eu bem sei que fui culpado
De vir preso da Bahia
Só porque fui namorado
Vou tirar meu passaporte
Meu camarote de proa
Eu aqui não vou ficar
Vou-me embora pra Lisboa
Senhorita vai ver, doná

Samba ioiô, samba iaiá

Que o dia e vem, doná

Ô, Joana, ô Maria,

Saruê pra que trabalha
No pescoço da cutia
No pavilhão, da atalaia
Era hoje, era ontem, era donte
Era donte, era ontem, era hoje
Sinhazinha mandou me chamá
Corri quatro cantos
Balão de iaiá 

Note-se que em seu depoimento ao MIS, João da Baiana cita Patrão Prenda seu Gado como um exemplo de partido alto, ou seja, de um refrão a partir do qual foi se improvisando (Pixinguinha,1970:54-55). Ou seja, não é uma hipótese tão improvável assim que ele tivesse escutado o refrão de Batuque na Cozinha em uma das inúmeras festas que frequentou desde pequenino, vindo a utilizá-lo anos depois.
Retornemos à letra. 
Além de batuque, há também o uso de Sinhá, ou seja, do termo que designa a senhora de escravos, a que não permitia batuque na cozinha. A referência ao grupo de escravos reunido à roda de uma fogueira fica explícita quando se canta “por causa do batuque eu queimei meu pé”. Aqui também pode haver a ideia de que aquele que cantar na cozinha pode se queimar, ou seja, ser punido. A cozinha, já dentro da Casa Grande, não seria lugar próprio para o batuque, da mesma forma que na cidade que se pretendia uma Paris Tropical não ficava bem a manutenção dos “bárbaros costumes africanos”. Isso levou, como todos sabem, à perseguição empreendida pela polícia aos sambas e candomblés que ocorriam na cidade. O próprio João da Baiana, embora trabalhador regular da estiva desde 1910, pela qual se aposentou com 62 anos de idade, sofrera e muito com esse estado de coisas (Pixinguinha,1970:62):

“MIS – Você foi preso alguma vez por fazer samba?


- Então não fui? Sim, fui preso várias vezes por tocar pandeiro. Tenho algumas fotografias em casa, inclusive uma quando eu estava dentro do xadrez com um pandeiro.”


Se esta interpretação estiver correta, o refrão de Batuque na Cozinha aponta na verdade para a secular perseguição aos costumes dos negros no Brasil. Seria uma espécie de retomada do tema do Lundu do Pai João em um novo momento, mas sem jamais deixar de lembrar que a repressão sofrida no presente tinha raízes no passado escravista. Desta perspectiva, os versos da música podem colorir-se de um significado bem mais profundo do que sugerem à primeira vista: a cozinha da primeira estrofe talvez não seja somente a cozinha real existente na casa de cômodos e que vivia superlotada, mas sim a cozinha como lugar simbólico do negro na nossa sociedade, há poucos anos referenciada na famosa frase de um ex-presidente da República: “eu também tenho um pé na cozinha”.
A partir da terceira estrofe, teríamos, da mesma forma que no Lundu do Pai João, uma denúncia da injustiça do tratamento dispensado aos negros pelos brancos, que tudo querem para si:

Então não bula na cumbuca,
Não me espante o rato,
Se o branco tem ciúme, 
Que dirá o mulato

Se o branco tem ciúme o mulato tem mais ainda, pois embora ele seja desprezado pela sociedade (“Não me espante o rato”), ele também tem honra, ou seja, defende ainda mais ardor a sua reputação. De início, ele tolera os abusos do branco, que quer para ele todas as mulheres:

Eu fui na cozinha pra ver uma cebola,

O branco com ciúme duma tal crioula,
Deixei a cebola, peguei na batata,
O branco com ciúme duma tal mulata,
Peguei no balaio pra medir a farinha,
O branco com ciúme duma tal branquinha

Aqui há sem dúvida um nível possível de interpretação “realista”, pois sabemos que o Rio de Janeiro de início da República era uma cidade com um desequilíbrio demográfico em termos de gênero: havia muito mais homens do que mulheres. E havia ressentimentos e conflitos gerados pelas disputas amorosas multiplicadas por esta situação de “falta de mulheres”. Acho, porém, que o episódio ocorrido “na cozinha” apenas exemplifica uma tendência geral por parte dos brancos em monopolizarem para si tudo “do bom e do melhor”, deixando para o negro somente os “restos”. Há uma outra música de João da Baiana que gira exatamente em torno desse problema, Cabide de Molambo:

Meu Deus, eu ando
com o sapato furado
tenho a mania
de andar engravatado
e minha cama
é um pedaço de esteira
e é uma lata velha
que me serve de cadeira

Meu Deus, meu Deus...


Minha camisa

foi encontrada na praia
e a gravata foi achada
na ilha de Sapucaia
meu terno branco
parece casca de alho
foi a deixa de um cadáver
do acidente de trabalho

Meu Deus, meu Deus...


O meu chapéu

foi de um pobre surdo e mudo
as botinas foi de um velho
da revolta de Canudos.
Quando eu saio a passeio
as damas ficam falando
- trabalhei tanto na vida
pro malandro estar gozando

Meu Deus, meu Deus...


A refeição

é que é interessante
na tendinha do Tinoco
no pedir eu sou constante
e o português
meu amigo sem orgulho
me sacode o caldo grosso
carregado no entulho.


Na Revolta da Vacina, segundo a interpretação de José Murilo de Carvalho, o povo reagira violentamente ao ser atingida “a honra do chefe de família”, consubstanciada na ameaça à “virtude da mulher e da esposa” e à “inviolabilidade do lar” (Carvalho,1989:136). Da mesma forma, o mulato da música apela “pra desarmonia” quando este limite é ultrapassado (“Não bula na cumbuca”):


Eu voltei na cozinha, pra tomar um café,
O malandro tá com olho na minha mulher,
Mas comigo eu apelei pra desarmonia,
E fomos direto prá Delegacia,

Imediatamente entra em cena a polícia, que desde a sua criação ostentava uma “opção preferencial pelos pobres”, sobretudo os de pele mais escura, culpados até prova em contrário:  

Seu Comissário foi dizendo com altivez
É da casa de cômodos da tal Inês,
Revista os dois, bota no xadrez
Malandro comigo não tem vez

O cidadão que está sendo preso ao defender a sua honra ironiza a forma de agir do Comissário, cuja arrogância é traduzida por “altivez” e que não se interessa em ouvir depoimentos ou investigar o que ocorrera, pois se são da casa de cômodos são malandros e se são malandros devem ser presos. Como que para lembrar o quanto essa história é antiga, aqui João da Baiana canta novamente o refrão:

Batuque na cozinha,
Sinhá não quer, 
por causa do batuque
eu queimei meu pé, (bis)

Percebendo que “Seu Comissário” era um osso duro de roer, entra em cena a capacidade de argumentar tão característica daqueles que vivem sob vigilância e repressão constante:

Mas, Seu Comissário, eu estou com a razão,
Eu não moro na casa de habitação
Eu fui apanhar meu violão,
Que estava empenhado com o Salomão

Jogando na casa do adversário, em terra de branco, o mulato não “bate de frente” e sim apela para a lógica da própria autoridade policial ao aceitar a idéia de que a casa de cômodos fosse realmente perigosa (lembrar da primeira estrofe: “Não moro em casa de cômodos/ Não é por ter medo não”) e de que ele lá não morava para evitar confusão (novamente a primeira estrofe: “Sempre tem apelação”), se dizendo cidadão ordeiro. Aliás, a alegação de estar  “com a razão” e de não merecer ser preso também ocorre em outra música, batizada de Malandro Pasteleiro. Nesta o domínio da arte “sofística” por parte do malandro, fica hilariamente explicitado:

Prende o homem, ele não quer me pagar,
comeu bife com batatas, ovos com petit pois, Seu guarda

Prende o homem, ele não quer me pagar,

comeu bife com batatas, ovos com petit pois,

Ô, Seu Guarda, não me prende, porque eu estou com a razão,

se eu pedisse antes fiado, não me davam a refeição,
eu vivo desempregado,
sem um níquel pro café,
por isso comi primeiro,pagarei quando puder,
Se Deus quiser...

Respeitando a Lei Seca, eu comi, mas não bebi,

quando eu tenho que dar o DEVO, não tomo nem Parati
não acho grande motivo pra me botar no xadrez
por que não tenho dinheiro, pra pagar o Português, 
por essa vez...”

Na letra da música acima citada, o dono do botequim pede ao “guarda” que prenda o homem que acabou de papar uma lauta refeição para depois se dizer sem dinheiro. O malandro dá uma aula de argumentação, primeiro alegando que estava de boa-fé, mas por motivos práticos não pediu fiado (“Se eu pedisse antes fiado, não me davam a refeição”). Diz estar sem emprego e sem dinheiro ao menos para um café e aduz como prova de inocência o fato de não ter tomado “nem Parati”, o que ele, homem de princípios, cidadão respeitador da “Lei Seca”, nunca fazia quando tinha que “dar o Devo” ao português, que não devia perder as esperanças porque ele pagaria quando pudesse e “Se Deus quiser”.
Em ambas as músicas, João da Baiana dá a entender que o protagonista da história é um “malandro”. É certo que para escapara da prisão, na última estrofe o mulato faz uma oposição entre ele, cidadão a quem haviam faltado com o respeito e que pagaria a fiança com satisfação e o malandrão que havia olhado para a sua mulher: 

Eu pago a fiança com satisfação
Mas não me bota no xadrez com esse malandrão,
Que faltou com o respeito a um cidadão,
Que é paraíba do Norte, Maranhão

Mas se lembrarmos da estrofe anterior, ele “dá bandeira” no verso em que diz ter ido buscar seu violão – o que dá a entender que ele era sambista... Isso era decerto proposital, pois na verdade João da Baiana já tinha dado a sua versão para o que seria a malandragem em Quando a Polícia chegar, um samba feito em 1915, dois anos antes de Batuque na Cozinha:

Se é de mim, podem falar
Se é de mim, podem falar
Meu amor não tem dinheiro
não vai roubar pra me dar (bis)

Quando a polícia vier e souber

quem paga casa pro homem é mulher (bis)

No tempo que ele podia

Me tratava muito bem
Hoje está desempregado
Não me dá porque não tem.

Quando a polícia vier e souber

quem paga casa pro homem é mulher (bis)

Quando eu estava mal de vida

Ele foi meu camarada
Hoje dou casa, comida
Dinheiro e roupa lavada

Quando a polícia vier e souber

quem paga casa pro homem é mulher (bis)

João da Baiana - foto: acervo Casa do Choro
Nesta música, embora a palavra malandro não apareça, temos a situação clássica daquele que é sustentado por uma mulher. Desta vez, todavia, quem argumenta não é o próprio e sim a mulher. A suposta vítima enfrenta a maledicência condoreira das vizinhas (“Quando a polícia vier e souber”) – que parecem estar torcendo pela prisão do seu homem, alegando que as “mordomias” a ele dispensadas eram apenas um contra-dom para alguém que fora seu “camarada” quando ela “estava mal de vida”. Em nome de valores não-reconhecidos pela nova ordem capitalista, a figura do malandro é positivada, pois se ele não dá é “porque não tem” e não tem porque “está desempregado”, da mesma forma que não pagara ao português... O que restava fazer: roubar? (vejam que até hoje se pede dinheiro desta forma nos ônibus da cidade: “Senhores, eu poderia estar roubando...”)
Não resisto a uma última possibilidade de interpretação: se a querela ocorrida na casa de cômodos é entre um mulato e um branco, ao fim e ao cabo não estaria a música chamando o branco de malandrão (da mesma forma que no Lundu do Pai João) e dizendo que este sim é que deveria ir preso?

Para concluir, podemos dizer que tentamos empreender uma leitura-audição de Batuque na Cozinha e de outras músicas de João da Baiana como um contra-discurso, disfarçado em uma bem-humorada crônica do cotidiano das classes populares. Esperamos também ter mostrado que se faz necessário “levar a sério” as letras destes sambas, ao menos ensaiar aquilo Geertz chamava de “descrição densa” (Geertz,1973), interpretando-os como parte de uma tradição oral secular continuamente reapropriada para dar conta dos novos (e velhos) desafios enfrentados pela população negra e pobre. Só assim daremos conta daquilo que a organizadora desta mesa chamou de “formas simbólicas de transgressão”.
  Nas palavras do saudoso Oswaldo Porto Rocha, pioneiro na utilização da música popular como fonte histórica, “a história da música popular se confunde com a história daquilo que chamamos de ‘outra cidade’.” (Rocha, 1995:77).
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:: Fundaj - base de dados. (acessado às 13:51 de 27/7/2009).
:: CliqueMusic (acessado 27.6.2016).
:: Dicionário Cravo Albin de Música Popular - verbete João da Bahiana (acessado em 27.6.2016).
:: Agenda do Samba-Choro - João da Baiana. (acessado às 12:54 de 26/7/2009).

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SOBRE O AUTOR
(*Marcos Alvito Pereira de Souza - Doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP)
:: Área de atuação: Cultura Popular Carioca/ História das Favelas/ História e Antropologia
:: Professor na Universidade Federal Fluminense (UFF)
:: Currículo Lattes: ALVITO, Marcos. (acessado em 27.6.2016).
:: Blogue Marcos Alvito(acessado em 27.6.2016).


João da Baiana - foto (...)
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Como citar:
ALVITO, Marcos. Um pandeiro contra a República: João da Baiana batucando na cozinha. Templo Cultural Delfos, junho/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).

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** Página atualizada em 27.6.2016.




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Anna Akhmátova - linguagem e mitopoética

  • Portrait Of Anna Akhmatova, 1914 by Olga Ludwigovna Della-Vos-Kardovskaya (detalhe)

Anna Akhmátova (em russo e ucraniano: А́нна Ахма́това), Odessa (Império Russo, atual Ucrânia) 23 de junho de 1889 — Leningrado, 5 de março de 1966 (Moscou, União Soviética, atual Rússia) pseudônimo de Anna Andreevna Gorenko (russo: А́нна Андре́евна Горе́нко; ucraniano: А́нна Андрі́ївна Горе́нко)

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Anna Akhmátova (Ana Andréevna Gorenko), nasceu em 1889, na Ucrânia, (em Bolchói Fontán, um elegante subúrbio de Odessa), terceira de cinco filhos. Em 1890 a família mudou se para Pávlovsk (então Tsárkoie Seló), perto de Petersburgo, e passava os verões no Mar Negro. No Verão de 1903, Anna conheceu o jovem poeta Nicolai Gumilióv. Em 1905, após a separação dos pais de Anna, o pai (Andréi Gorenko, engenheiro naval), mudou se para Petersburgo e a mãe (Ina Gorenko) levou os filhos para Evpatoria, no Mar Negro. No Inverno do mesmo ano, Anna Gorenko começou a escrever poesia, adoptando o nome da avó materna, Akhmátova. Em 1906, Gumilióv publicou um dos seus poemas na ?Sirius?, uma pequena revista literária fundada por ele em Paris. Em 1907, Anna Akhmátova inscreveu se na Faculdade de Direito de Kiev. Transferiu se mais tarde para Petersburgo, onde foi estudar Literatura e História. Em 1910, Gumilióv mostrou a Anna Akhmátova o manuscrito “A arca de cipreste”, (com a qual Anna ficou profundamente comovida e impressionada) uma coletânea de poemas líricos de Innokenti Annenski, estudioso dos clássicos e director do liceu de Tsárkoie Seló. No mesmo ano, Akhmátova e Gumilióv casaram se, perto de Kiev. Nenhum membro da família dela esteve presente. Mais tarde, Akhmátova e Gumilióv instalaram se em Tsárkoie Seló. Poucos meses depois, Gumilióv viajou para a Abissínia (actual Etiópia) numa expedição científica, retornando em 1911. Nesse ano, o casal visitou Paris mais uma vez, onde Akhmátova conheceu Modigliani. De volta a Tsárkoie Seló, Akhmátova e Gumilióv passaram a desfrutar a vida literária. Gumilióv e outros jovens poetas fundavam uma Associação de Poetas, cujos membros, originalmente quinze, decidiram romper com o simbolismo. Em pouco tempo, seis deles – Gumilióv, Akhmátova, Mandelstam, Gorodetski, Narbut e Zenkevich – passavam a se autodenominar acmeístas, termo proposto por Gumilióv. Em 1912, Akhmátova publicou a sua primeira colectânea de poesia “Entardecer”. Viajaram para a Suíça e para a Itália, e em Outubro, nascia o filho do casal, Lev Nicolaievich. Na Primavera de 1913, Gumilióv partiu mais uma vez para África como director duma expedição financiada pela Academia de Ciências. Em 1914, Akhmátova publicou a sua segunda colectânea de poesia “Rosário”. O livro alcançou grande sucesso popular.
Em Agosto eclodia a Primeira Guerra Mundial e Gumilióv alistou se como voluntário e foi mandado para a frente de batalha. Em 1915, morreu em Petersburgo o pai de Akhmátova e esta passou algum tempo num sanatório perto de Helsinque, com tuberculose. No ano seguinte, Akhmátova conheceu o artista Boris Anrep por intermédio de Nicolai Nedobrovo, crítico de arte e amigo de ambos. Muitos dos poemas do terceiro volume de Akhmátova, “Rebanho branco”, são dedicados a Anrep. Akhmátova passou o inverno no Sul, perto de Sebastopol, devido à sua doença. Em Fevereiro de 1917, Akhmátova e Gumilióv separaram-se. Explodia a Revolução e estabelecia se o governo provisório de Kerenski. Akhmátova ficou com uns amigos em Petersburgo (Petrogrado durante a Primeira Guerra e mais tarde renomeada como Leningrado).
Em Outubro Lenin e os bolcheviques tomaram o poder e nesse Inverno Akhmátova publicou o terceiro livro de poemas “Rebanho branco”. No Outono de 1918, Akhmátova casou com Vladímir Chileiko, um assiriologista. Logo depois foram viver para Fontánni Dom (Casa da Fontanka). Foi um tempo de privações, frio e fome.
Em 1919, com o início da guerra civil, os bolcheviques perseguiam os opositores do novo regime soviético. No ano seguinte, Akhmátova empregou se como bibliotecária no Instituto de Agronomia. Em 1921 separou se de Chileiko. Nesta altura, a guerra civil tinha terminado, mas a inquietação social continuava. Em 1921 morria Aleksandr Blok, o principal poeta simbolista. E no mesmo ano, Gumilióv foi executado sob a acusação de ter tomado parte numa conspiração contra o novo regime. Akhmátova publicou nesse ano “Capim”, o seu quarto livro de poemas.
E em 1922, “Anno Domini MCMXXI”, o quinto livro de poemas. Maiakóvski, o principal poeta futurista, denunciou publicamente a poesia de Akhmátova ao passo que Chukovski, numa conferência intitulada ?Duas Rússias?, confrontou a poesia futurista de Maiakóvski com a poesia pré revolucionária de Akhmátova. Embora ele visse um lugar para ambos na literatura russa, as autoridades pensavam cada vez mais de modo diferente. Em 1924 morreu Lenin e emergiu Stalin, que veio a solidificar o seu poder no final da década. Nesse verão, Akhmátova retomou a amizade com Óssip Mandelstam e conheceu Nadejda Mandelstam. Na Primavera de 1925, Nadejda Mandelstam e Akhmátova, ambas com tuberculose, ficaram juntas numa clínica em Tsárkoie Seló. Trinta e dois dos poemas de Akhmátova apareceram numa antologia (os últimos publicados na União Soviética até 1940, embora os seus livros anteriores tenham continuado a ser reimpressos por refugiados políticos). Em 1926, Akhmátova passou a morar no apartamento de Nicolai Punin, historiador e crítico de arte, na Casa da Fontanka. Lá moravam também a esposa dele, Ana Arens, médica, e a filha do casal, Irina. Akhmátova iniciava então o seu estudo crítico de Púchkin.
Entre 1929 e 1933, uma resistência camponesa foi castigada com execuções, deportações e privações deliberadas. Morreram milhões de pessoas. Entretando, em 1930, Maiakóvski suicidou se. E em 1932, foi criada a Criação da União dos Escritores Soviéticos, sob rígido controle do Partido Comunista. Em Maio de 1934, Óssip Mandelstam foi preso e a sua família foi para o exílio em Cherdyn. Akhmátova arrecadava dinheiro para eles entre os amigos. Em Dezembro era assassinado Serguéi Kirov, oficial do Partido. Foram feitas prisões em massa, entre elas a do jovem Lev Gumilióv, que acabou sendo libertado. O terror intensificou se. Em 1935, Punin e Lev Gumilióv foram presos e soltos em seguida. Em 1936, Akhmátova publicou o ensaio “O Adolfo de Benjamin Constant e a 'Criação’ de Púchkin” e visitou os Mandelstams em Vorôniej. No auge do terror, em 1937, milhões de pessoas foram detidas e enviadas para campos de concentração. E em Março de 1938, Lev Gumilióv foi preso mais uma vez, ficando detido em Leningrado e solto dezassete meses mais tarde. Em Maio, Mandelstam foi novamente preso e morreu, em Dezembro do mesmo ano, num campo de concentração. Em 1935 apareceu o ciclo poético Réquiem, que se estendeu até ao ano de 1940. Em 1939, Marina Tzvietáieva, que emigrara para Paris em 1922, voltou para a União Soviética. E Akhmátova e Tzvietáieva encontraram se pela primeira vez em 1940. A proibição da poesia de Akhmátova, em vigor desde 1925, foi suspensa. No verão desse ano, Akhmátova publicava “De seis livros” uma selecção dos primeiros livros e alguns poemas novos. No Outono, a antologia foi recolhida das livrarias e as vendas proibidas. Em Outubro, Akhmátova sofreu o seu primeiro ataque cardíaco. Em Junho de 1941 a Alemanha invadiu a União Soviética e em Agosto, Tzvietáieva suicidou se, após o fuzilamento do marido e da prisão da filha num campo de concentração.
Em Setembro, Akhmátova fez um pronunciamento no rádio dirigido às mulheres de Leningrado, então sitiada, encorajando as. Em Outubro, por determinação do Comité Central do Partido Comunista de Leningrado, Akhmátova foi expulsa para Moscovo. Akhmátova tomou então o seu próprio rumo e foi para Tachkent, uma cidade no Usbequistão. Conseguiu uma casa para morar e recebeu a permissão para que Nadejda Mandelstam e a mãe morassem na mesma casa. De 1942 a 1944, Akhmátova fez leituras de poemas em hospitais. Contraiu tifo e, depois de curada, tentou voltar para Leningrado. Em 1943, foi publicado em Tachkent, “Poemas selectos”, uma edição rigorosamente censurada. No ano seguinte, Akhmátova voou de Tachkent para Moscovo, onde fez um recital de poesias no auditório do Museu Politécnico. A ovação do público, de pé, fê la temer possíveis represálias políticas.
Mais tarde, foi para Leninegrado. Em 1945, vitória sobre a Alemanha. Lev Gumilióv, que fora libertado do exílio para lutar na guerra, juntou se a Akhmátova na Casa da Fontanka. No Outono, Akhmátova encontrou se com Isaiah Berlin, primeiro secretário da embaixada britânica em Moscovo. A visita, uma longa e estimulante troca de ideias, teve repercussões... Depois da segunda visita de Berlin, em 5 de janeiro de 1946, Akhmátova, que estava sendo vigiada desde o seu regresso a Leningrado, percebeu no seu quarto, a presença de microfones. Em 1946 foi publicado em Moscovo, igualmente censurado, “Poemas selectos”. O Comité Central do Partido Comunista censurou a revista Zvezda (Estrela) e fechou a revista “Leningrado” por terem publicado os trabalhos de Akhmátova e de Mikhail Zoshchenko. O decreto expurgando Akhmátova e Zoshchenko por ?envenenar as mentes da juventude soviética? foi redigido por Andréi Jdanov, o ?cão de guarda? cultural de Stalin. Decretos similares, atingindo o cinema e a música, seguiram se a esse. Akhmátova publicou ainda nesse ano, ?Poemas 1909 1945?. Punin foi preso em 30 de Setembro de 1949 e a 6 de Novembro, Lev Gumilióv foi mais uma vez detido, ficando preso até 1956. Para Akhmátova, a causa da prisão estaria no seu encontro com Berlin em 1945. Em 1950, Akhmátova publicou “Em louvor da paz”, um ciclo de poemas propagandísticos, na esperança de ajudar o filho. Rogou que fossem omitidos das suas obras completas. Em 1952, forçada a deixar a Casa da Fontanka, Akhmátova mudou se para um apartamento em Krasnaia Konitsa com membros da família Punin. No ano seguinte, Punin morreu num campo de prisioneiros na Sibéria. Em Março, morreu Stalin. Em Maio de 1955, Akhmátova recebeu uma pequena “dacha” em Komarovo, um vilarejo perto de Leninegrado. 
Em Fevereiro de 1956, o “discurso secreto” de Kruchóv sobre Stalin, no XX Congresso do Partido, inaugurou um descongelamento geral e uma “reabilitação” de intelectuais em desgraça. Lev Gumilióv foi libertado.
Em Outubro, as insurreições na Hungria e na Polónia punham um fim à tendência liberalizante. Em 1958, foi publicado (severamente censurado) “Poemas” de Akhmátova, obra que também continha traduções de várias línguas orientais. Boris Pasternak foi forçado a recusar o Prémio Nobel pelo romance “Doutor Jivago”. Em 1960 morreu Pasternak. Em 1961, foi publicado mais um livro censurado de Akhmátova, ?Poemas 1909 1960?. Em 1963, foi publicado ?Réquiem? na cidade de Munique. Em 1964, Akhmátova foi agraciada com um prémio literário italiano e no mesmo ano viajou para Taormina. Em 1965, Akhmátova foi a Inglaterra receber o título "honoris causa” da Universidade de Oxford. Reviu velhos amigos que tinham emigrado para Londres, Paris e Estados Unidos. Publicou “O vôo do tempo”, uma colectânea já menos censurada.
Em 1966, Akhmátova morreu numa casa de convalescência perto de Moscovo e foi enterrada em Komarovo.
Fonte: Editora Truca



OBRA EM PORTUGUÊS DE ANNA AKHMÁTOVA
Anna Akhmatova, por Saryan Martiros (1946)
Livros
:: Réquiem: Ana Akhmátova. [tradução de Aurora F. Bernardini e Hadasa Cytrynowicz]. Edição bilíngue. São Paulo: Art Editora, 1991.
:: Prosas escolhidas e poema sem herói. Anna Akhmátova. [tradução Filipe Guerra e Nina Guerra]. Lisboa: Relogio D'água, 2001.
:: Poemas. Anna Akhmatova. [seleção, tradução e notas de Joaquim Manuel Magalhaes e Vadim Dmitriev]. Lisboa: Relógio D´água, 2003.
:: Anna: a voz da Rússia: vida e obra de Anna Akhmátova. [autor, tradutor Lauro Machado Coelho]. São Paulo: Algol Editora, 2008.
:: Anna Akhmátova: antologia poética. [seleção, tradução, apresentação e notas Lauro Machado Coelho]. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2009.

Antologias (participação)

:: Poesia russa moderna. [tradução de Augusto de Campos; Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman]. 6ª ed., revisada e ampliada. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001.
:: Poesia da recusa. [organização e tradução Augusto de Campos]. Coleção signos 42. São Paulo: Editora Perspectiva, 2006.
:: Poemas russos. [organização Mariana Pithon e Nathalia Campos; vários tradutores]. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2011.



Anna Akhmatova, por Olga Kardovskaya (1914)


POEMAS  SELECIONADOS DA POETA ANNA AKHMÁTOVA (EDIÇÃO BILÍNGUE)

Asa

Eu vivo como um cuco no relógio.
Não invejo os pássaros livres.
Se me dão corda, canto.

Só aos inimigos

Se deseja
Tanto.

1911

.

Я живу, как кукушка в часах,
Не завидую птицам в лесах.
Заведут - и кукую.

Знаешь, долю такую

Лишь врагу
Пожелать я могу.

1911

- Anna Akhmátova (А́нна Ахма́това), no livro "Poesia da recusa". [organização e tradução Augusto de Campos]. Coleção signos 42. São Paulo: Editora Perspectiva, 2006.

§


Torci os dedos sob a manta escura...

Torci os dedos sob a manta escura...
"Por que tão pálida?" ele indaga.
– Porque eu o fiz beber tanta amargura
Que o deixei bêbado de mágoa 

Como esquecer? Ele saiu sem reação,

A boca retorcida, em agonia...
Desci correndo, sem tocar no corrimão, 
E o encontrei no portão, quando saía.

"É tudo brincadeira, por favor,

Não parta, eu morro se você se for.
E ele, com um sorriso frio, isento,
Me disse apenas: "Não fique ao relento"

1911

.

Сжала руки под тёмной вуалью...

Сжала руки под тёмной вуалью...
"Отчего ты сегодня бледна?"
- Оттого, что я терпкой печалью
Напоила его допьяна.

Как забуду? Он вышел, шатаясь,

Искривился мучительно рот...
Я сбежала, перил не касаясь,
Я бежала за ним до ворот.

Задыхаясь, я крикнула: "Шутка

Всё, что было. Уйдешь, я умру."
Улыбнулся спокойно и жутко
И сказал мне: "Не стой на ветру".

1911

- Anna Akhmátova (А́нна Ахма́това), no livro "Poesia da recusa". [organização e tradução Augusto de Campos]. Coleção signos 42. São Paulo: Editora Perspectiva, 2006.

§


Cleópatra

                                                                            Os palácios de Alexandria
                                                                            Cobriram-se de sombras suaves.
                                                                                                            PÚSCHKIN

Ela já beijara os lábios de Antônio, sem vida,

E chorava, de joelhos, ante Augusto, vencida…
E os servos a traíram. Sob a águia de Roma
As trombetas ressoam. E o crepúsculo assoma.

E chega o último escravo de sua beleza,

Alto e solene, num sussurro, ele pondera:
“Vão te levar para ele… em triunfo… como presa…”
Mas a curva do colo do cisne não se altera.

Amanhã acorrentarão seus filhos. Pouco lhe resta:

Brincar com este rapaz até perder a mente
E, de piedade, a víbora negra – último gesto –
Depor no peito moreno com a mão indiferente.

1940

.

Клеопатра

Александрийские чертоги
Покрыла сладостная тень.
Пушкин

Уже целовала Антония мертвые губы,

Уже на коленях пред Августом слезы лила...
И предали слуги. Грохочут победные трубы
Под римским орлом, и вечерняя стелется мгла.

И входит последний плененный ее красотою,

Высокий и статный, и шепчет в смятении он:
«Тебя — как рабыню... в триумфе пошлет пред собою...»
Но шеи лебяжьей все так же спокоен наклон.

А завтра детей закуют. О, как мало осталось

Ей дела на свете — еще с мужиком пошутить
И черную змейку, как будто прощальную жалость,
На смуглую грудь равнодушной рукой положить.

1940

- Anna Akhmátova (А́нна Ахма́това), no livro "Poesia da recusa". [organização e tradução Augusto de Campos]. Coleção signos 42. São Paulo: Editora Perspectiva, 2006.

§


Lendo Hamlet

Anna Akhmatova, por Yuri Annenkov (1921)
O cemitério. Inflete um rio anil
À direita, no vazio do terreno.
Tu me disseste:
“Vai para um convento!
Ou se queres desposa um imbecil…”
Estas coisas só um príncipe diz,
Discurso que se grava na memória 
Por séculos a fio e que se desliza
Manto de zibelina pelas costas.

1909

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Читая Гамлета

У кладбища направо пылил пустырь,
А за ним голубела река.
Ты сказал мне: "Ну что ж, иди в монастырь
Или замуж за дурака..."
Принцы только такое всегда говорят,
Но я эту запомнила речь, –
Пусть струится она сто веков подряд
Горностаевой мантией с плеч.

1909

- Anna Akhmátova (А́нна Ахма́това). 'Dístico'. {tradução de Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman}. no livro "Poesia russa moderna". [tradução de Augusto de Campos; Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman]. 6ª ed., revisada e ampliada. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001.

§


Do ciclo os mistérios do ofício

Não me importa o exército das odes, 
Nem o jogo torneado da elegia.
Nos versos, tudo é fora de propósito.
Não como entre as pessoas, - me dizia. 

Saibam vocês, o verso, é do monturo

Que eles se alenta, sem vexame disso,
Como um dente-de-leão pegado ao muro,
Anserina, bardana, erva-de-lixo. 

Grito de zanga, um travo de alcatrão,

Um bolor misterioso que esverdinha... 
E eis o verso, furor e mansidão,
Para alegria de vocês e minha.

1940

.

Цикл Тайны Ремесла

Мне ни к чему одические рати 
И прелесть элегических затей. 
По мне, в стихах всё быть должно некстати, 
Не так, как у людей.
Когда б вы знали, из какого сора 
Растут стихи, не ведая стыда, 
Как жёлтый одуванчик у забора, 
Как лопухи и лебеда.
Сердитый окрик, дёгтя запах свежий, 
Таинственная плесень на стене... 
И стих уже звучит, задорен, нежен, 
На радость вам и мне.

1940

- Anna Akhmátova (А́нна Ахма́това). 'Dístico'. {tradução de Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman}. no livro "Poesia russa moderna". [tradução de Augusto de Campos; Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman]. 6ª ed., revisada e ampliada. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001.

§


Dístico

Que outros me louvem – seu louvor é cinzas.
Que me reproves – teu rancor, alvíssaras.

1931

.

Двустишие

От других мне хвала — что зола.
От тебя и хула — похвала.

1931

- Anna Akhmátova (А́нна Ахма́това). 'Dístico'. {tradução de Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman}. no livro "Poesia russa moderna". [tradução de Augusto de Campos; Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman]. 6ª ed., revisada e ampliada. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001.

§


Eu visitei o poeta

Para Aleksandr Blok

Eu visitei o poeta 

ao meio-dia em ponto. Domingo.
Quietude no amplo quarto
e, fora das janelas, o frio
e um sol cor de amoras silvestres,
envolto em névoa hirsuta e azulada...
Com que olhar aguçado o taciturno
anfitrião olhava para mim!
Tinha olhos daquele tipo
de que a gente nunca se esquece;
melhor seria, cuidadosa,
eu não devolver seu olhar.
Mas me lembrarei sempre da conversa,
o meio dia nevoento, domingo,
naquela casa alta e cinzenta,
junto aos portões do Nevá para o mar.

janeiro de 1914

.

"Я пришла к поэту в гости..."

Александру Блоку

Я пришла к поэту в гости.

Ровно полдень. Воскресенье.
Тихо в комнате просторной,
А за окнами мороз.
И малиновое солнце
Над лохматым сизым дымом...
Как хозяин молчаливый
Ясно смотрит на меня.
У него глаза такие,
Что запомнить каждый должен,
Мне же лучше, осторожной,
В них и вовсе не глядеть.
Но запомнится беседа,
Дымный полдень, воскресенье,
В доме сером и высоком
У морских ворот Невы.

Январь 1914

- Anna Akhmátova (Анна Ахматова). "Eu visitei o poeta | Я пришла к поэту в гости".. [tradução Lauro Machado Coelho]. no livro "Poemas russos". [organização Mariana Pithon e Nathalia Campos]. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2011, p. 63.

§


Aprendi a viver com simplicidade, com juízo,

a olhar o céu, a fazer minhas orações,
a passear sozinha até a noite,
até ter esgotado esta angústia inútil.
Enquanto no penhasco murmuram as bardanas
e declina o alaranjado cacho da sorveira,
componho versos bem alegres
sobre a vida caduca, caduca e belíssima.
Volto para casa. Vem lamber a minha mão
o gato peludo, que ronrona docemente,
e um fogo resplandecente brilha
no topo da serraria, à beira do lago.
Só de vez em quando o silêncio é interrompido
pelo grito da cegonha pousando no telhado.
Se vieres bater à minha porta,
é bem possível que eu sequer te ouça.

1912

.

Я научилась просто, мудро жить

Смотреть на небо и молиться богу, 
И долго перед вечером бродить, , 
Чтоб утомить ненужную тревогу.
Когда шуршат в овраге лопухи 
И никнет гроздь рябины жёлто-красной, 
Слагаю я весёлые стихи 
О жизни тленной, тленной и прекрасной.
Я возвращаюсь. Лижет мне ладонь 
Пушистый кот, мурлыкает умильней, 
И яркий загорается огонь 
На башенке озёрной лесопильни.
Лишь изредка прорезывает тишь 
Крик аиста, слетевшего на крышу. 
в дверь И если мою ты постучишь, 
Мне кажется, я даже не услышу.

1912

- Anna Akhmátova (А́нна Ахма́това), no livro "Anna Akhmátova: antologia poética". [seleção, tradução, apresentação e notas Lauro Machado Coelho]. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2009.

§


Música

Algo de miraculoso arde nela,
fronteiras ela molda aos nossos olhos.
É a única que continua a me falar
depois que todo o resto tem medo de estar perto.
Depois que o último amigo tiver desviado o seu olhar
ela ainda estará comigo no meu túmulo,
como se fosse o canto do primeiro trovão,
ou como se todas as flores explodissem em versos.
.

Музыка

В ней что-то чудотворное горит,
И на глазах ее края гранятся.
Она одна со мною говорит,
Когда другие подойти боятся.
Когда последний друг отвел глаза,
Она была со мной в моей могиле
И пела словно первая гроза
Иль будто все цветы заговорили.
- Anna Akhmátova (Анна Ахматова), no livro "Anna: a voz da Rússia: vida e obra de Anna Akhmátova". [autor e tradutor Lauro Machado Coelho]. São Paulo: Algol Editora, 2008.

§


O veredicto
E a pétrea palavra caiu
sobre o meu peito ainda vivo.
Pouco importa: estava pronta.
Dou um jeito de aguentar.

Hoje, tenho muito o que fazer:
devo matar a memória até o fim.
Minha alma vai ter de virar pedra.
Terei de reaprender a viver.

Senão... o ardente ruído do verão
é como uma festa debaixo da janela.
Há muito tempo eu esperava
por este dia brilhante, esta casa vazia.

Casa Fontán, 22/6/1939
.

Приговор
И упало каменное слово
На мою еще живую грудь.
Ничего, ведь я была готова,
Справлюсь с этим как-нибудь.

У меня сегодня много дела:
Надо память до конца убить,
Надо чтоб душа окаменела,
Надо снова научиться жить.

А не то... Горячий шелест лета,
Словно праздник за моим окном.
Я давно предчувствовала этот
Светлый день и опустелый дом.
- Anna Akhmátova (А́нна Ахма́това),  do poema “Réquiem”, no livro "Anna Akhmátova: antologia poética". [seleção, tradução, apresentação e notas Lauro Machado Coelho]. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2009.

§

Tantas vezes maldizia
Este céu e esta terra,
As mãos do moinho com musgo
Agitando-se pesadas!
No anexo está um morto,
Hirto e grisalho, num banco,
Como há três anos atrás.
Os ratos roem os livros,
Para a esquerda verga a chama
Da vela de estearina.
E canta e canta odioso
O guizo de Níjni-Novgorod
Uma singela canção
Da minha aldeia amarga.
E pintadas vivamente
Erguem-se rectas as dálias
Pelo carreiro de prata
Com corações e absinto.
Foi assim: a reclusão
Tornou-se segunda pátria,
Mas da primeira não ouso
Nem nas preces recordar.

Julho de 1915
.

Столько раз я проклинала
Это небо, эту землю,
Этой мельницы замшелой
Тяжко машущие руки!
А во флигеле покойник,
Прям и сед, лежит на лавке,
Как тому назад три года.
Так же мыши книги точат,
Так же влево пламя клонит
Стеариновая свечка.
И поет, поет постылый
Бубенец нижегородский
Незатейливую песню
О моем веселье горьком.
А раскрашенные ярко
Прямо стали георгины
Вдоль серебряной дорожки,
Где улитки и полынь.
Так случилось: заточенье
Стало родиной второю,
А о первой я не смею
И в молитве вспоминать.

Июль 1915
- Anna Akhmátova (А́нна Ахма́това), no livro "Anna Akhmatova: Poemas". [seleção, tradução e notas de Joaquim Manuel Magalhaes e Vadim Dmitriev]. Lisboa: Relógio D'Água, 2003, p. 27.

Anna Akhmátova, por Natan Altman (1914)


Anna Akhmatova, em desenho de Modigliani

FORTUNA CRÍTICA DE ANNA AKHMÁTOVA
ANDRADE, Homero Freitas de.. Anna de Todas as Rússias. Aproximações Europa de Leste. Em Língua Portuguesa, Lisboa, v. 28, p. 122-125, 1989.
CARVALHO, Maria do Socorro. A última rosa: a guerra permanente de Anna Akhmátova. Revista Garrafa (PPGL/UFRJ), v. 24 - 1, p. S/N-s/n, 2011.
Anna Akhmatova, por Kuzma Petrov-Vodkin (1922)
CRUZ, Antonio Donizeti da.. Mito e linguagem em Anna Akhmátova. In: Simpósio Nacional de Ciências Humanas - Universidade e Sociedade, 2006, Marechal Cândido Rondon. Programação e Resumos do Simpósio Nacional de Ciências Humanas - Universidade e Sociedade. Marechal Cândido Rondon - PR: Líder, 2006. v. 1. p. 68-68.
FILME. "The Anna Akhmatova File" (1989), filme de Semion Aranovich (1934 - 1995). in: Revista Modo de Usar, 23.1.2011. Disponível no link. (acessado em 23.6.2016).
GURGEL, Rodrigo. Anna Akhmátova e o jugo da utopia. in: Rodrigo Gurgel - Literatura e Escrita Criativa, 29.10.2011. Disponível no link. (acessado em 23.6.2016).
JOVANOVIC, Vojislav Aleksandar.. Uma voz emocionada (A delicada poesia de Anna Akhmátova, vítima e testemunha de meio século de História da URSS).. Veja, S. Paulo, p. 103 - 104, 4 dez. 1991.
KEMPINSKA, Olga Donata Guerizoli. A tradução do efeito humorístico. Itinerários, Araraquara, n. 38, p.47-58, jan./jun. 2014. Disponível no link. (acessado em 23.6.2016).
KEMPINSKA, Olga Donata Guerizoli. O ritmo e o gênero. in: Remate de Males, Campinas-SP, (34.1): pp. 113-126, Jan./Jun. 2014. Disponível no link. (acessado em 23.6.2016).
MORAES, Milene. "Anna Akhmátova: a poesia como resistência". In: III Colóquio Mulheres em Letras/I Encontro Nacional Mulheres em Letras, 2011. Anais do I Encontro Nacional Mulheres em Letras, 2011.
PARISOT, Christian. Modigliani. biografia. [tradução de Julia da Rosa Simões]. Série Biografias L&PM, 2006.
PILATI, Alexandre. A voz de todas as Rússias. in: Especial, Caderno C - Correio Braziliense, 13 de dezembro de 2008. Disponível no link. (acessado em 26.6.2016).
SOARES, Sonia Branco. A Bachiana Brasileira de Anna Akhmátova. [tradução e artigo Sonia Branco Soares]. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2014.


Nikolai Gumilev, Lev Gumilev and Anna Akhmatova (1913)

O último brinde
Bebo à casa arruinada,
às dores de minha vida,
à solidão lado a lado
e à ti também eu bebo –

            aos lábios que me mentiram,

            ao frio mortal nos olhos,
             ao mundo rude e brutal
             e a Deus que não nos salvou.
.

Последний тост
Я пью за разорённый дом,
За злую жизнь мою,
За одиночество вдвоём,
И за тебя я пью,—

За ложь меня предавших губ,
За мертвый холод глаз,
За то, что мир жесток и груб,
За то, что Бог не спас.
- Anna Akhmátova (А́нна Ахма́това), no livro "Anna Akhmátova: antologia poética". [seleção, tradução, apresentação e notas Lauro Machado Coelho]. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2009.



Anna Akhmatova, por Zinaida Serebriakova (1922)
OUTRAS FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA
:: Literatura Russa
:: Ponto Virgulina - Revista de Tradução Literária
:: Rodrigo Gurgel - Literatura e Escrita Criativa


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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Anna Akhmátova - linguagem e mitopoética. Templo Cultural Delfos, junho/2018. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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* Página original JUNHO/2016.
** Página atualizada em 14.6.2018.



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