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Dora Ferreira da Silva - a demiurga mítica e lírica

  • Dora Ferreira da Silva - poeta e tradutora


Dora Ferreira da Silvapoeta e tradutora - nasceu em Conchas (SP), no dia 1º de julho de 1918. Casou-se aos 19 anos com Vicente Ferreira da Silva, com quem estabeleceu uma parceria de dedicação a estudos ao longo de uma convivência de 23 anos. Dora e Vicente Ferreira da Silva fizeram de sua casa pouso de escritores e pensadores interessados na divulgação de um pensamento crítico.

No ano seguinte à morte trágica de Vicente Ferreira da Silva, num acidente de carro, Dora fundou a Cavalo Azul, em 1963, revista que nos seus 12 números privilegiou a literatura, em especial a poesia. Seguiu-se então a época das traduções. Devem-se a Dora as primeiras traduções para o português da obra do psicólogo suíço Carl Gustav Jung.

Seu primeiro livro de poesias foi Andanças, publicado em 1970. Entre a poesia e o ensaio, gêneros a que se dedicaria até o fim da vida, e sem interromper o trabalho com a obra de Jung, ela publicou a primorosa tradução das Elegias de Duíno, de Rilke. Em 1995, lançou Poemas da estrangeira, com o qual ganhou o Prêmio Jabuti daquele ano. O crítico e também poeta Ivan Junqueira atribuiu-lhe o talento de se valer “de uma linguagem sem voz para expressar o indizível”. Em 1999 foi publicado seu Poesias reunidas, que engloba oito livros, de Andanças a Poemas em fuga, este último lançado em 1997.

Em permanente contato com jovens interessados em mitologia, psicologia e poesia, Dora fundou o Centro de Estudos Cavalo Azul, em 2003, do qual participaram os poetas Cláudio Willer e Rodrigo Petrônio.

Dora Ferreira da Silva morreu no dia 6 de abril de 2006, em São Paulo.
:: Fonte: IMS


Dora Ferreira da Silva - fonte: IMS


OBRAS DE DORA FERREIRA DA SILVA

Poesia
:: Andanças. São Paulo: Edição da autora, 1970 - Prêmio Jabuti.
:: Uma via de ver as coisas. São Paulo: Editora Duas Cidades, 1973, 124p.
:: Menina e seu mundoSão Paulo:Massao Ohno, 1976.
:: Jardins (esconderijos). São Paulo: Edição da autora, 1979, 125p.
:: Talhamar. [capa pintura mural grega no Túmulo do Mergulador]. São Paulo: Massao Ohno, 1982.
:: Retratos da origem. São Paulo: Roswitha Kempf Editores, 1988,  109p.
Poemas da estrangeira, de Dora
Ferreira da Silva
:: Poemas da estrangeira. ['orelhas' do livro por José Paulo Paes]. São Paulo: Massao Ohno, 1995, 241p. - Prêmio Jabuti.
:: Poemas em fuga. ['Orelha' do livro por Lêdo Ivo]. São Paulo: Massao Ohno, 1997, 109p.
:: Poesia reunida. [introdução Gerardo Mello Mourão]. São Paulo: Topbooks, 1999, 483p. - Prêmio Machado de Assis da ABL.
:: Cartografia do imaginário. São Paulo: T. A. Queiroz Editor, 2003, 146p.
:: HídriasSão Paulo: Odysseus Editora, 2005 - Prêmio Jabuti.
:: O leque. [apresentação Antonio Fernando de Francheschi; projeto gráfico Kiko Farkas; ilustrações Elisa Cardoso]. Rio de Janeiro: Instituto Moreira Sales – IMS, 2007.
:: Appassionata. [inclui textos de Inês Ferreira da Silva Bianchi e Ivan Junqueira; projeto gráfico Kiko Farkas]. Rio de Janeiro: Instituto Moreira Sales – IMS, 2008.
:: TranspoemasRio de Janeiro: Instituto Moreira Sales – IMS, 2009, 213p.

Ensaio
:: Tauler e Jung - o caminho para o centro. [em colaboração com Hubert Lepargneur]. São Paulo: Paulus, 1987.

Artigo, prefácio, nota
SILVA, Dora Ferreira da.. Nota sobre Quarta-feira de cinzas. São Paulo, Diálogo nº 7, julho de 1957. 
______ . O demoníaco em Grande Sertão: Veredas. São Paulo, Diálogo nº 8, novembro de 1957.
______ . A temática da poesia de Vinicius de Moraes. São Paulo, Diálogo nº 11, agosto de 1959.
______ . Os principais temas do Livro de Horas. Diálogo n° 13. dezembro de 1960.
______ . Duas experiências do Angélico (prefácio). In. HILST, Hilda. Sete Poemas do Poeta para o Anjo. São Paulo: Massao Ohno editor, 1962.
______ . Nota sobre Amers. Diálogo nº 15, abril de 1964.
______ . O duplo reino da vida e da morte. Diálogo nº 15, abril de 1964.


Traduções realizadas por Dora Ferreira da Silva
Dora Ferreira da Silva - foto: IMS
:: O barco da morte, de D. H. Lawrence[tradução Dora Ferreira da Silva]. Diálogo nº 5, outubro de 1956.
:: Quarta-feira de cinzas, de T. S. Eliot. [tradução Dora Ferreira da Silva]. Diálogo nº 7, julho de 1957.
:: Estreitos são os barcos, de Saint John Perse. [tradução Dora Ferreira da Silva]. Diálogo, nº16, abril de 1964.
:: Elegias de Dhuíno, de Rainer Maria Rilke. [tradução Dora Ferreira da Silva]. Porto Alegre: Editora Globo, 1972.
:: Memórias, sonhos e reflexões, de Carl Gustav Jung[tradução Dora Ferreira da Silva].  Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.
:: O eu e o inconsciente, de Carl Gustav Jung[tradução Dora Ferreira da Silva]. Petrópolis: Vozes, 1978.
:: A poesia mística, de San Juan de la Cruz. São Paulo: Cultrix, 1982.
:: Ângelus Silesius[tradução Dora Ferreira da Silva e Hubert Lepargneur]. T.A. Queiroz, 1988.
:: Vida de Maria, de Rainer Maria Rilke[tradução Dora Ferreira da Silva]. Petrópolis: Editora Vozes, 1994.
:: Aurora Consurgens, de C. G. Jung. (Volume complementar de Mysterium Conjunctionis).. [tradução Dora Ferreira da Silva]. Petrópolis: Vozes, 1997.
:: Estudos alquímicos, de Carl Gustav Jung[tradução Dora Ferreira da Silva e  Maria Luiza Appy]. Petrópolis: Vozes, 2002. 
:: Os arquétipos do inconsciente coletivo, de Carl Gustav Jung[tradução Dora Ferreira da Silva e  Maria Luiza Appy]. Petrópolis: Vozes, 2002.
:: Psicologia e alquimia, de Carl Gustav Jung[tradução Dora Ferreira da Silva, Maria Luiza Appy  e Margaret Makray]. Petrópolis: Vozes, 1991. 
:: O segredo da flor de ouro: um livro de vida chinês, de Carl Gustav Jung R. Wilhelm[tradução Dora Ferreira da Silva e  Maria Luiza Appy]. Petrópolis: Vozes, 1997.


Dora Ferreira da Silva - foto (...)


POEMAS ESCOLHIDOS DE DORA FERREIRA DA SILVA

Afrodite
Disse a deusa a sorrir:
esta manhã o mar deu-me adereços
e vestida de pérolas
fui a um reino distante.
Cânticos despertaram vides
e frutos nasceram, que o sol
cultiva nos pomares.
Coros adolescentes perseguiam Eros
— p coroado de pâmpanos —
pois de meus lábios haviam provado ,
o vinho farto e suave.

Liames atando e desatando,
ele a beleza ocultava nas angras mais profundas,
pois quando emergia — flâmeo! —
o murmúrio do mar as praias inundava
e a embriaguez vizinha da morte
ameaçava os amantes...
- Dora Ferreira da Silva, em "Talhamar". São Paulo: Massao Ohno, 1982.


Além
Não me explicas
Vicente e Dora Ferreira da Silva
não te explico
o milagre do contato
que é de alma e é carnal
que é do espírito abissal
tudo somando o igual.
Sinto o frêmito do vento
nas plantas do beiral
desta casa provisória.
Não há linhas divisórias
que nos digam quem é qual
por tão próximos — não há espaço
para o abraço
para o ai!
Andando em duas direções
transpusemos nossa essência
um é o outro
e o círculo no entanto
determina eterno encontro.
Sem assombro dou-te um beijo
o realejo da infância
é o fundo musical.
Valha-nos Deus!
Vamos chorar? Vamos sorrir?
O agora é o por vir
que empurra e enterra o antes
para nova floração.
Só não passa nem transita esse
doido coração
não é meu
não é teu
está nu de possessivos
a imperecível carnação.
Sorrimos o mesmo sorriso
diante das megapalavras
somente cativos do Nada.
E eternamente calamos.
- Dora Ferreira da Silva, em "Poesia Reunida". Rio de Janeiro: Topbooks, 1999, p. 355.


Amores
III
Jardins (esconderijos), Dora Ferreira da Silva
Não traçarei novos caminhos.
Entrelaçados, nascemos de raízes
mais fundas que saber.
És o que virá, se vieres.
E eu espero.  Véspera da morte,
agora que o amor é mudo ou canta sem parar.
E o canto um silêncio parece
de tão fundo viver, que a vida já se despe
de si mesma, e avança sem andar:
bem longe
ou perto
aberto dom
de
amar.

IV
Não o que dizíamos
nem o que víamos,
mas o olhar desviado,
taça em demasia.  E o que insistia:
os mesmos pórticos, a hora
na torre austera.  E tudo fazíamos
para não ouvir, calado,
o passo do passado
e não olhar, à janela cega,
um vulto debruçado
o olhar isento
do amor que não se vê
e, em fuga, se extravia.
- Dora Ferreira da Silva, em "Uma via de ver as coisas". São Paulo: Editora Duas Cidades, 1973.


Ao sol
Naufragas na noite
em pompas de luz e imensidade
todo germe palpita na semente
e da nova manhã ressurges
clara divindade

nua a carnação sob o manto escarlate.
- Dora Ferreira da Silva, em "Andanças". São Paulo: Edição da autora, 1970.


Apolo hiperbóreo
Ele ama a distância além do inverno,
onde não declinam a luz radiosa e os cantos.

Quando se afasta, pássaros silenciam e a fonte
em Delfos quase se extingue. Lobos uivam.
Imensa é a noite fria em sua ausência.

Mas ouve! O jubiloso peã de novo repercute
nas pedras brilhantes. Corpos e olivais dourados
revivem na dança: o Citaredo retorna coroado de folhas.
- Dora Ferreira da Silva, em "Hídrias". São Paulo: Odysseus Editora, 2005.


Cânticos
I
Tenho-te um amor de mansidões
rebanho lento e branco passeando na alvorada
tenho-te um amor tranqüilo e trêmulo
não se música ou se constelações

tenho-te um amor de eternidades
em vagas renascentes — brando som de flauta
chamando as superfícies distraídas
para a reconcentração definitiva

II
Como um ramo de úmidas rosas
quisera estar na sala em que respiras
o aroma de tuas primaveras
Como um cesto de frutos derramados
quisera ser a oferta abandonada

na mesa simples da tua eternidade
- Dora Ferreira da Silva, em "Andanças". São Paulo: Edição da autora, 1970.


Canto IX
Dora Ferreira da Silva  - foto (...)
Teu nome 
              de nada é feito
(que matéria poderá servi-lo?)
És o que antecede
                           o ver
                                   e inaudível
precedes o ouvir
                            O tato
                           o sabor
                           o cheiro
apenas em ti se reconhecem
antes que retornes
ao moldo do vazio

Quando vens
                   ultrapassas ideias
                                            pensamentos
que pretendem prender
                                  o antes
                                               depois
e ao mesmo tempo
                            agora

Menino
usas todas as máscaras para brincar
                                 e nos surpreendes!

Poupas nossa fragilidade
                                   com ecos
                                                fragrâncias
(passo no caminho
                            és tu
                                    e quem caminha)

Coisa não és
                   mas concedes graça
à curva de um caminho
                   às folhas aromáticas
a um contato de amor
                               Se te evolas
não é como quem abandona
                               mas pelo gosto
de repetir-te
                    em nós por outras vindas
grandes e pequenas
                            enquanto houver espaço
para o Amor
                  Mas este nome — o mais próximo —
também não basta! 
- Dora Ferreira da Silva, em "Retratos da origem". São Paulo: Roswitha Kempf Editores, 1988.


Conversa Dom Pessoa
Ai, não ter a vida provas de revisão
para mudar-lhe as vírgulas, acrescentar-lhe
                                     pontos de interrogação
e sobretudo passar a limpo dores e amores
arranjar vasos de flores, ter um gato de
                                                         estimação,
ouvir a rolinha a consolar-lhe a aflição...

Ai, não ter a vida provas de revisão
para endireitar-lhe as linhas, trocar palavras
e afinal arrancar as páginas todas do livro

e suprimir-lhe a edição.
- Dora Ferreira da Silva, em "Jardins (esconderijos)". São Paulo: Edição da autora, 1979.



Criação
Se grilos
e argila
fundissem
sonhos
teríamos a terra,
essa dona senhora,
imaculada
em música
e herança
ancestral.
- Dora Ferreira da Silva, em "Uma via de ver as coisas". São Paulo: Editora Duas Cidades, 1973.


Depois
Sim, era o tempo. Depois — inútil consultares o relógio —
o tempo não era.Tudo pleno e íntegro: obedecíamos a um
                                                                            [milagre
mais simples que as coisas usuais. A labareda encontrou o
                                                                               [seu fiel
cessando de crepitar. As emoções se extinguiram
na lareira que não fora acesa em noite de verão.
O calor das coisas a si mesmo se bastara a ponto
de adormecer. E a orquestra ali estava suspensa depois do
acorde final, os músicos ausentes
algumas folhas caídas no chão de madeira morta.
O perdão da seiva antiga recendia a música de violinos
e flautas. Persistente floresta de sons, a música!
Os acordes da alma ainda ecoavam — do insípido à
                                                                       [exaltação.
Persistente floresta, a alma. E tu misericórdia
há onde caibas? Exorbitas instrumentos partituras:
música pura. Silêncio que nos acolhe
e disso faz um ramo de primavera.
- Dora Ferreira da Silva, em "Poesia Reunida". Rio de Janeiro: Topbooks, 1999, p. 354.


Delfos
Aquece o Sol as clareiras do ar,
atirador de dardos súbitos.
Apolo foi chamado e usurpou em Delfos o trono das Sibilas.
Sobre a mancha de trevas pousou a trípode de luz
e mais longe soprou os vaticínios.
Muitos morreram de luz tão clara, incendiando o coração.
O ar brincou na flauta abandonada pela deusa sábia
e a música invadiu águas turbulentas:
rápidas mensagens riscou o vento nas Fedríades,
pedras róseas que se chamaram as Luminosas.
À noite, dormem no bosque templos de ossatura branca,
vértebras pousadas entre oliveiras.

Três colunas se enlaçam, sobrevivas,
na antiga ronda do templo,
fechado o círculo dos ritos funerários.

As cigarras se atrevem e os jumentos
a louvar a montanha, os vales e deuses soterrados.
A Terra acorda às vezes e suplica que tanta luz

não lhe fira a carne, queimando arbustos e a pedra crua
- Dora Ferreira da Silva, em "Hídrias". São Paulo: Odysseus Editora, 2005.




Acendi a luz
aos pés da terra,
conclui oferendas,
entreguei palavras
e, súbito,
vi milagres
de uma lança
que, como quilha,
rompeu o oceano
entre dois mundos.
- Dora Ferreira da Silva, em "Uma via de ver as coisas". São Paulo: Editora Duas Cidades, 1973.


Maduro para o canto
Maduro para o canto
vertes, cântaro,
a água pura
e suas sete cores
unindo lago e lago.
Barco em flor
rio correndo da prece
promessa em silêncio
da messe.

Sem pressa

o agapanto floresce.
- Dora Ferreira da Silva, em "Andanças". São Paulo: Edição da autora, 1970.


Mulher e pássaro
Talhamar, Dora Ferreira da Silva
Voltamos ao jardim 
ao banco lavado pela chuva. 
Pedimos o verde ao verde 
a flor à flor 
sem quebrar-lhe a haste. Bastaria a manhã. 
(Nossa presença 
desalinha ar e folhas 
num frêmito.) 

Mas se nada pedimos 
como quem dorme seguindo a linha natural 
do corpo 
respiramos o puro abandono: 
um pássaro alveja o azul (sem par) 
ultrapassa o muro do possível 
e assim damos um ao outro 
a súbita presença 

do Céu. 
- Dora Ferreira da Silva, em "Talhamar". São Paulo: Massao Ohno, 1982.


Nascimento do poema
É preciso que venha de longe 
do vento mais antigo 
ou da morte 
é preciso que venha impreciso 
inesperado como a rosa 
ou como o riso 
o poema inecessário. 

É preciso que ferido de amor 
entre pombos 
ou nas mansas colinas 
que o ódio afaga 
ele venha 
sob o látego da insônia 
morto e preservado. 

E então desperta 
para o rito da forma 
lúcida 
tranqüila: 
senhor do duplo reino 
coroado 

de sóis e luas.
- Dora Ferreira da Silva, em "Andanças". São Paulo: Edição da autora, 1970.


Noite
No declive da altura
poço de lumes.

Entre folhas
perpassa um vôo.

(Noite e alma
toque levíssimo
de palmas.)

Uma estrela cavalga a escuridão. 
- Dora Ferreira da Silva, em "Jardins (esconderijos)". São Paulo: Edição da autora, 1979.


Noturno II
Nossos olhos nos pertencem —
não o dia.
Amor não nos pertence
nem a morte.
Apenas pousam na pérola mais fina.
Desce o luar
No flanco de rios precipitados
folhas se alongam
caules estremecem.

A noite já desfere

seu punhal de trevas.
- Dora Ferreira da Silva, em "Andanças". São Paulo: Edição da autora, 1970.


O fogo
O fogo acende-se no próprio nome
sete línguas ardem no coração da rosa
e se alastram pelo jardim
voltando depois ao próprio nome.
Se ao fogo perguntas: “É ele? És tu?”
crepitam centelhas. Um Serafim o abraça
e ao coração.
- Dora Ferreira da Silva, em "Jardins (esconderijos)". São Paulo: Edição da autora, 1979.



Poemas em fuga, de Dora Ferreira da Silva
O vento
Na palma do vento 
pouso a fronte. Nele confio. 
A quem confiaria senão a ele 
este rude labor? 

Abandono-me à tormenta 
(lumes mastros 
gaivotas do mar próximo). 

Enreda-me a noite. 
Mas dele são os dedos leves 

que me fecham os olhos. E é manhã. 
- Dora Ferreira da Silva, em "Jardins (esconderijos)". São Paulo: Edição da autora, 1979.


Partitura com lua
Notação de pássaros
no fio da rua:
mínimas semínimas pausas.
Sobre o piano rosas estremecem.
Cadências de alma sobressaltam um público
desalento e ao relento ressoam
algumas dissonâncias (tropel de potros
presos numa sala). Mas por acaso em pura sinfonia
pássaros refazem a partitura
no heptacorde dos fios da rua.
Ei-la tão plena do dia findo azulado —
a lua soberana e alta
do sono deste outono.
- Dora Ferreira da Silva, em "Poemas em fuga. São Paulo: Massao Ohno, 1997.



Ribeirão das Conchas, minha cidade
Desci a ladeira da rua principal
olhos semicerrados. Sol do meio-dia
despejava luz e sombra nas calçadas.
Não sei para onde eu ia, acho que te procurava
por toda a parte e não te via.

Conchas não é passado
presente futuro.
Conchas é todo mistério:
ruas claras cemitério.
Conchas é amor reencontrado
mudada a fisionomia
de outra tarde outro dia
outra noite com estrelas.

Não sei o que foi então
aquela taquicardia –
meu coração galopava
em alguma direção.
(Houve um tremor de terra
em escala bem modesta).
Era Conchas refletida
num pequeno coração?

E nós duas abraçadas
chegamos ao fim da ladeira
uma sentindo na outra
o tremor da mesma vida.
- Dora Ferreira da Silva, em "Poesia Reunida". Rio de Janeiro: Topbooks, 1999, p. 288.


Ritornello 
Sempre sangrarão as cicatrizes?
                         O sono - irmão caçula da morte
parece um corte vibrado a esmo.
Mendicância-errância se abraçam silenciosamente.

O mito que retorna
encontra-me quase insensível
                         à dor do recomeço.
Tropeço no antigo móvel
e não o reconheço. Foi o destino
que me levou a uma outra casa?
A poltrona insegura desvia a torrente do tempo
quando alguém sentado lia
farrapos da própria alma em autores prediletos.

Tudo o que foi passado
custa a morrer nos meus guardados.
-  Dora Ferreira da Silva, em "Retratos da origem". São Paulo: Roswitha Kempf Editores, 1988.

Dora Ferreira da Silva - foto (...)


FORTUNA CRÍTICA DE DORA FERREIRA DA SILVA
[Estudos acadêmicos - teses, dissertações, ensaios, artigos e livros]

ANDRADE, Fábio Cavalcante de.. A Transparência Impossível: Lírica e Hermetismo na Poesia Brasileira Atual. (Tese Doutorado em Letras). Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, 2008.
CESAR, Constança Marcondes. Dora Ferreira da Silva: caminhos em direção ao sagrado. Revista Portuguesa de Filosofia, T. 67, Fasc. 2, Pensamento Luso-Brasileiro Contemporâneo, 2011, p. 289-303.
DORA Ferreira da Silva. [edição especial dedicado a obra poética de Dora Ferreira da Silva]. 7faces - caderno-revista de poesia, Ano III, 6 edição, jul.-dez. 2012. Disponível no link e link. (acessado em 28.6.2015).
DIRIENZO, Mário. A Garça e a graça - Matizes do branco. in: Revista Agulha. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
ENTREVISTA com Dora Ferreira da Silva. Gravada na FAAP - 11.2.1999 / Projeto Vilém Flusser no Brasil (1999-2001) de Ricardo Mendes em parceria com FACOM-FAAP e ECA-USP/TV USP. Disponível no canal no youtube. (acessado em 13.5.2023)
FELIZARDO, Alexandre Bonafim. O lirismos dos afetos e da memória na poesia de Dora Ferreira da Silva. 7 Faces: Caderno-revista de poesia, v. 1, p. 22-38, 2012.
FELIZARDO, Alexandre Bonafim. Dora Ferreira da Silva leitora de Rainer Maria Rilke: aspectos intertextuais. Fronteiraz (São Paulo), v. N.5, p. 15, 2010.
FELIZARDO, Alexandre Bonafim. Aspectos do sagrado na poesia de Dora Ferreira da Silva e Sophia de Mello Breyner Andresen. Claretiano (Batatais), v. 10, p. 7-15, 2010.
FELIZARDO, Alexandre Bonafim. O olhar de Perséfone: finitude e transcendência na poesia de Orides Fontela, Sophia de Mello Breyner Andresen e Dora Ferreira da Silva. São Paulo: Biblioteca 24x7, 2010. 166p.
Retrato de Dora Ferreira da Silva,
por  Anna Barros
FELIZARDO, Alexandre Bonafim. Os jardins de Dora Ferreira da Silva. Diário da manhã, Goiânia, p. 7 - 7, 23 nov. 2014. Disponível no link. (acessado em 28.6.2015).
FELIZARDO, Alexandre Bonafim. Dora Ferreira da Silva leitora de Rainer Maria Rilke: aspectos intertextuais. Revista Fronteiraz nº 5, vol. 5, 2010. Disponível no link e link. (acessado em 28.6.2015). 
FELIZARDO, Alexandre Bonafim. A graça poética do sagrado: a poesia hierofânica de Dora Ferreira da Silva. Revista Agulha, São Paulo - Fortaleza, 01 jul. 2007.
FELIZARDO, Alexandre Bonafim. O lirismo dos afetos e da memória na poesia de Dora Ferreira da Silva. In: II SINALEL - II Simpósio Nacional de Letras e Linguística e I Simpósio Internacional de Letras e Linguística, 2011, Catalão. Anais do II SINALEL. Catalão, 2011. p. 31-41.
FELIZARDO, Alexandre Bonafim. O espaço na poesia de Dora Ferreira da Silva. In: Anais do X Seminário de pesquisa/ IV Simpósio de Literaturado P.P.G. em estudos literário - Diálogos com a crítica de Antonio Candido & Diálogos com a França, 2009. p. 173-183.
FREITAS, Jamille Rabelo de.. Dora Ferreira da Silva e os Ecos de Narciso. Revista Anagrama (USP), v. 5, p. 1-13, 2012. Disponível no link. (acessado em 28.6.2015). 
FREITAS, Jamille Rabelo de.. O mito de Narciso na poesia de Dora Ferreira da Silva. In: II Sinalel - Simpósio Nacional e I Simpósio Internacional de Letras e Linguística: Linguagem, história e memória, Catalão - GO. 2011. p. 424-432. Disponível no link. (acessado em 28.6.2015).
FREITAS, Jamille Rabelo de.. Assim sofreram os deuses, assim sofrem os homens: o mito de Jacinto em Dora Ferreira da Silva. Revista Fronteira Digital, v. 04, p. 06-15, 2012. Disponível no link. (acessado em 28.6.2015).  
FLUSSER, Vilém. Bodenlos: uma autobiografia. São Paulo: Annablume, 2007.
GALVÃO, Donizete. Dora Ferreira da Silva [entrevista]. Revista Cult, maio de 1999. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
GALVÃO, Donizete. Dora Ferreira da Silva e a chave do sagrado. in: revista Agulha. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
GALVÃO, Donizete; MARTINS, Floriano. Dora Ferreira da Silva: diálogos sobre poesia e filosofia, recordando Vicente Ferreira da Silva. Entrevista realizada em setembro de 2003. Revista Agulha, 36. São Paulo, Fortaleza. Outubro de 2003. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
GUIMARÃES, Maria Severina Batista. O canto imantado: um estudo da obra poética de Adélia Prado, Dora Ferreira e Hilda Hilst. (Tese Doutorado em Letras e Linguística). Universidade Federal de Goiás, UFG, 2006.
GUIMARÃES, Maria Severina Batista. Um vôo com Garças: poema de Dora Ferreira da Silva. In: II Encontro Nacional do Grupo de Estudos de Linguagem do Centro Oeste, 2003, Goiânia. Um vôo com Garças: poema de Dora Ferreira da Silva, 2003.
HENNRICH, Dirk-Michael (Org.); TEIXEIRO, Alva Martínez (Org.); AGUIAR, G. (Org.). Vicente e Dora Ferreira da Silva - Uma Vocação Poético-Filosófica.. 1ª ed., Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2015. v. 1. 330p.
HENNRICH, Dirk-Michael. A natureza do homem e a ideia do trans-humano em Vicente Ferreira da Silva e Vilém Flusser.. In: Vicente e Dora Ferreira da Silva - Uma Vocação Poético-Filosófica., 2015, Lisboa. Vicente e Dora Ferreira da Silva - Uma Vocação Poético-Filosófica.. Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2013. v. 1. p. 159-181.
KRAUSE, Gustavo Bernardo. O sagrado e o profano: obra de Dora Ferreira da Silva aponta para a hierofania - resenha do livro Poesia reunida, de Dora Ferreira da Silva. Jornal do Brasil - Suplemento Idéias, Rio de Janeiro, , v. 1, p. 5 - 5, 25 dez. 1999.
KUJAWSKI, Gilberto. Dora Ferreira da Silva volta a chamar a atenção com Hídrias. in: revista Agulha. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
LOPES, Marcos Aparecido. Notas para a exegese de um poema de Dora Ferreira da Silva. In: Salma Ferraz. (Org.). Pólen do Divino. Blumenau; Florianopólis: Edifurb; FAPESC, 2011, v., p. 139-146.
MATEUS, Victor Oliveira. Devir e mesmidade na poesia de Dora Ferreira da Silva. Revista Triplov de Artes, Religiões e Ciências, Nova Série, nº 14, 2011. Disponível no link. (acessado em 28.6.2015).
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MOURÃO, Gerardo Mello. Poesia, poeta, poema. introdução ao livro "Poesia Reunida", de Dora Ferreira da Silva./in: revista Agulha. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
PETRÔNIO, Rodrigo. Mosaico de mitos: Cartografia do Imaginário de Dora Ferreira da Silva. in: revista Agulha. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
PINTO, Manuel da Costa. O rito da forma. Folha Ilustrada, FSP, 22 de abril de 2006. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
PIRES, Antônio Donizeti. O canto órfico de Dora Ferreira da Silva. In: Karin VOLOBUEF; Roxana Guadalupe HERRERA ALVAREZ; Norma WIMMER. (Org.). Dimensões do fantástico, mítico e maravilhoso. São Paulo - SP: Cultura Acadêmica, 2011, v. 1, p. 103-137.
ROCHA, Priscilla da Silva. Mitos gregos: o teor sagrado das hídrias de Dora Ferreira da Silva. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal de Uberlândia, UFU, 2009. Disponível no link. (acessado em 28.6.2015).
ROMERA, Maria Lucia Castilho. Sem título (dor sobre papel): reflexões psicanalíticas sobre poemas de Dora Ferreira da Silva. In: II Coloquio Internacional Vicente e Dora Ferreira da Silva / III Seminário de Poesia: poesia, filosofia e imaginário, 2015, Uberlândia/MG. Programa e Caderno de Resumos. Uberlândia/MG: UFU / ILEEL, 2015. v. 1. p. 143-145.
ROQUE, Maura Voltarelli. O diálogo com o invisível na poética do entrelugar de Dora Ferreira da Silva. (Dissertação Mestrado em Teoria e História Literária). Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, 2014. Disponível no link e link. (acessado em 28.6.2015). 
SOUZA, Enivalda Nunes Freitas e.. Dora Ferreira da Silva e Carlos Drummond de Andrade: a sagração da poesia e da amizade na Trilogia da mangueira. O Eixo e a Roda (UFMG), v. 23, p. 51-68, 2014.
SOUZA, Enivalda Nunes Freitas e.. Muitas imagens para um único lugar: a evocação do espaço mítico em Dora Ferreira da Silva. in: XIV Abralic, anais eletrônicos. 24-26 de setembro de 2014. Disponível no link. (acessado em 28.6.2015). 
SOUZA, Enivalda Nunes Freitas e; COSTA, Soraya Borges. Integração pela palavra: caos e cosmo na poesia de Cecília Meireles e Dora Ferreira da Silva. Cerrados (UnB. Impresso), v. 20, p. 171-191, 2011.
SOUZA, Enivalda Nunes Freitas e; COSTA, Soraya Borges. Estátuas, um mysterium tremendum, em Cecília Meireles e Dora Ferreira da Silva. Scripta (PUCMG), v. 15, p. 115-130, 2011. Disponível no link. (acessado em 28.6.2015). 
SOUZA, Enivalda Nunes Freitas e.. "Igreja de ouro Preto", de Dora Ferreira da Silva: mitocrítica de um herói assombrado. Revista da ANPOLL, v. 28, p. 75-102, 2010. Disponível no link. (acessado em 28.6.2015). 
SOUZA, Enivalda Nunes Freitas e.. Flores de Perséfone: a poesia de Dora Ferreira da Silva e o sagrado. 1ª ed., Goiânia - GO: Cânone Editorial, 2013. v. 1. 204p.
SOUZA, Enivalda Nunes Freitas e.. A memória no poema de Dora Ferreira da Silva. In: Josalba Fabiana dos Santos; Carlos Magno Gomes; Ana Leal Cardoso. (Org.). Registros Literários: memórias e crimes. 1ª ed., Curitiba: Appris, 2014, v. 1, p. 177-197.
SOUZA, Enivalda Nunes Freitas e.. Prisioneira de um mito: Perséfone em Dora Ferreira da Silva. In: Enivalda Nunes Freitas e Souza; Soraya Borges Costa. (Org.). Reflexos e sombras: arquétipos e mitos na literatura. Goiânia - GO: Cânone Editorial, 2011, v. 1, p. 123-138.
SOUZA, Enivalda Nunes Freitas e.. A poesia do illud tempus: introdução a arquétipos de Dora Ferreira da Silva. In: YOKOSAWA, Solange Fiuza Cardoso; PIRES, Antônio Donizeti.. (Org.). O legado moderno e a (dis)solução contemporânea (Estudos de poesia). 1ª ed., São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011, v. 1, p. 177-199.
SOUZA, Enivalda Nunes Freitas e.. A hierofania do inconsciente e o arquétipo da criança em Dora Ferreira da Silva. In: XII Simpósio Nacional de Letras e Linguistica, II Simpósio Internacional de Letras e Linguistica, 2009, Uberlândia-MG. Anais do SILEL. Uberlândia - MG: EDUFU, 2009. v. 1. p. 1-6.
TEIXEIRO. Alva Martínez. “Ruínas fumegantes e cisternas do nada – A invulgar intimidade com a experiência da citadina paisagem burguesa na poesia de Dora Ferreira da Silva e Sophia de Mello Breyner Andresen”. em: Alva Martínez Teixeiro, Dirk-Michael Heinnrich, Giancarlo de Aguiar (coord.): Vicente e Dora Ferreira da Silva – Uma vocação poético-filosófica. Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2015, pp. 101-126.
TEIXEIRO. Alva Martínez. “Poemas de um certo Ocidente: as mitografias líricas de Dora Ferreira da Silva”. Anais do ILEEL, 1, 1, Uberlândia, ILEEL-UFU, 2015, pp. 1-12. 
TEIXEIRO. Alva Martínez. “No tempo além do tempo – O pensamento poético do passado como autêntico futuro em Hídrias”. em: Enivalda Nunes Freitas e Souza (org.): Poesia com deuses: estudos de Hídrias, de Dora Ferreira da Silva, Rio de Janeiro, 7Letras / FAPEMIG, 2016, pp. 36-49.
WILLER, Claudio. Encarnações da poesia. in: revista Agulha, abril de 2006. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).


Em mãos fechadas 
Em mãos fechadas 
quis preservar o infinito 
elas não se abriram 
continham uma vida sem além 
cerrada sobre o finito. 
Soluça o engano 
lágrimas tão desatinadas 
escorrendo na face do nada. 
Nada disse. O que diria 
à surdez de um destino? 
Lívida parada fiquei 
e lentamente me afastei 
como se apaga o som de um sino
- Dora Ferreira da Silva, em "Cartografia do imaginário". São Paulo: T.A. Queiroz, 2003, p. 136. 


Dora Ferreira da Silva - foto (...)
BLOG
:: Dora Ferreira da Silva (administrado por Lucilaine de Fátima)


NA REDE
:: Vozes femininas


REFERÊNCIAS E OUTRAS FONTES DE PESQUISA
:: Antonio Miranda
:: Jornal de poesia - revista Agulha
:: Memorial SP

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Trabalhos sobre o autor:
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Como citar:
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____
** Página atualizada em 13.5.2023.
* Página original JUNHO/2015.





Direitos Reservados © 2023 Templo Cultural Delfos

Ignez Sabino Pinho Maia - escritora baiana do século XIX

Maria Ignez Sabino Pinho Maia, em ilustração para a exposição "As mensageiras - primeiras escritoras do Brasil" (2018).


© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske. 
Por gentileza citar conforme consta no final desse trabalho.  
Página original JUNHO/2015 | ** Página revisada, ampliada e atualizada SETEMBRO/2021


ESBOÇO BIOBIBLIOGRÁFICO DA IGNEZ SABINO

Maria Ignez Sabino Pinho Maia 
Ignez Sabino Pinho Maia
( Salvador BA, 31 de julho? de 1853 - 13 de setembro de 1911). Poeta, contista, romancista, memorialista e biógrafa brasileira nascida em Salvador, na Bahia, cujo nome é lembrado por sua ação na luta pelos direitos femininos. Filha de um médico homeopata e um humanista, que lhe proporcionou educação esmerada e enviou-a para aperfeiçoar-se na Inglaterra. Desde pequena demonstrava se bem dotada para as letras, mas teve que encurtar sua estada na Europa por causa do falecimento do pai, e foi obrigada a regressar ao Brasil. Foi casada com o comerciante português Francisco de Oliveira Maia, e esteou na literatura com o poema Ave libertas, uma estréia promissora e sobre a causa abolicionista. Obteve grande consagração do público, quando a grande atriz Ismênia dos Santos o recitou no Teatro Santa Isabel, no Recife (1887). Publicou Rosas Pallidas e Impressões (1887) e mais três livros de poesia. Publicou Mulheres Ilustres do Brasil (1899), um livro com biografias de várias brasileiras, em várias profissões e histórias de vida. Um trabalho de pesquisa de grande importância histórica, especialmente literária, que resgatou informações e ilustrações sobre muitas brasileiras que poderiam estar esquecidas para sempre. Além de publicações em livros, também escreveu inúmeros artigos em periódicos, especialmente os dirigidos por mulheres, e em revistas e jornais.

:: Fonte: DEC.UFCG/edu. (edição dos autores deste site)


"Com o direito da minha fraquíssima penna, que traça, risca, emmoldura quadros, pinta a opulência, descreve a miséria, desecca, ajudado do escalpello da razão, o cadáver pestilento do vicio, retalha a maledicência, faz jus à virtude, censura ou applaude o esforço da idea, entro comvosco em uma sala de visitas preparada com todo o confortable do indispensável a uma vida à ingleza."
- Ignez Sabino, em "Contos e lapidações". Rio de Janeiro: Laemmert, 1891, p. 37. (grafia original)


OBRA DE IGNEZ SABINO

Poesia
Livro Mulheres ilustres do Brasil, de Ignez Sabino
:: Rosas pálidas: versos (1ª série). Ignez Sabino.  Pernambuco:, 1886.
:: Impressões versos. (2ª série). 
Ignez SabinoPernambuco: Typographia Apollo, 1887, 151p.

Contos
:: Contos e lapidações(contos e poesia). 
Ignez Sabino. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1891.
:: Noites brazileiras(contos). Ignez Sabino. (Divisão de Obras Raras, Fundação Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro). Rio de Janeiro: H. Garnier, 1897. 

Romance
:: Luctas do coração
Ignez Sabino[prefácio de Alberto Pimentel]. Rio de Janeiro: Jacintho Ribeiro Santos, 1898, 277p.; 
:: Luctas do coraçãoIgnez Sabino. Porto: Imprensa Moderna, 1898.
:: Lutas do coraçãoIgnez SabinoFlorianópolis: Mulheres; Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1999.

Biografia
:: Mulheres Illustres do Brazil
Ignez Sabino[prefacio de Arthur Orlando]. Rio de Janeiro; Paris: Editora Garnier, 1899, 280p. 
:: Mulheres Ilustres do BrasilIgnez Sabino. Edição fac-similar. Florianópolis: Editora Mulheres, 1996.

Artigos e ensaios em jornais e revistas
SABINO, Ignez. Conselhos à minha filha. Novo Almanach de Lembranças para o ano de 1894, Lisboa, p. 170-1, anno VIII, [s.d.]. 
______ . No Ipiranga: impressões de uma excursionista. Almanach das Senhoras para
1895, Lisboa, p. 197-198, 1894.
______ . Da Serra do Cubatão: impressões de uma excursionista. Novo Almanach de  Lembranças Luso- Brasileiro para o ano de 1895, Lisboa, p.267-270, anno VIII, [s.d.].
______ . A Freira mártir. Novo Almanach de Lembranças para o ano de 1898, Lisboa, p. 22-4, [s.d.].
______ . A Mulher brasileira. Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro para o ano de 1901, Lisboa, p. 10-11, [s.d.].
______ . Excerpto. Almanaque Brasileiro Garnier para o ano de 1909, p. 151-152, anno VIII, [s.d.].
______ . Do crime do amor. Almanaque Brasileiro Garnier para o ano de 1910, p. 377-379, anno VIII, [s.d.].
______ . Sobre Schopenhauer. Echo das Damas, Rio de Janeiro, 22 set. 1887, p. 1.
______ . O dia de ano bom. Echo das Damas, Rio de Janeiro, anno III, 31 jan. - 27 maio 1888, p. 01.
______ . A mulher e a religião. Corymbo, Rio Grande, 24 nov. 1889, p. 1-2.
______ . O dia de Natal. Corymbo, Rio Grande, 19 jan. 1890, p. 1.
______ . A mulher e as fases da vida. Corymbo, Rio Grande, 23 fev. 1890, p. 2; 2, 16 e 23 mar. 1890, p. 1-2.
______ . Conselhos a uma noiva. A Família, Rio de Janeiro, ano II, n. 53, 23 mar.1890, p. 7.
______ . Madame de Longueville. A Família, Rio de Janeiro, 31 maio 1890, p. 2.
______ . Uma escultora brasileira. A Família, Rio de Janeiro, 14 ago. 1890, p. 1-2.
Ignez Sabino Pinho Maia
______ . Scenas quotidianas. A Família, 11 jun. 1891, Rio de Janeiro, p. 3.
______ . A civilização e a poesia. III. A Família, São Paulo, p.6. Disponível no link. (acessado em 27.06.2015).
______ . A criança mendicante. Corymbo, Rio de Grande, 2 out. 1892, p. 1.
______ . A seduzida. Corymbo, Rio Grande, 3 e 17 dez. 1893, p. 1-2.
______ . O lenço de Gaze. Álbum, anno II, n. 53, Janeiro 1895, p. 21-23. Disponível no link. (acessado em 27.06.2015).
______ . Última jóia. Corymbo, Rio Grande, 15 mar. 1896, p.1; 5 abr. 1896, p. 2.
______ . Na arena. Corymbo, Rio Grande, 24 e 31 maio 1896, p. 1.
______ . PátriaCorymbo, Rio Grande, 10 maio 1896, p. 1. 
______ . Anno Bom. Novo Almanach de Lembranças Luso-Brazileiro para o anno de 1897, Lisboa, p. 237-239, 1896.
______ . Federalista. Corymbo, Rio Grande, 10 jan. 1897, p. 2.
______ . A mulher brasileira. Corymbo, Rio Grande, 29 ago. 1897, p. 1.
______ . Payzagem brazileira. Almanach das Senhoras para 1897, Lisboa, p. 149-150, 1898.
______ . Na Thebaida. A Mensageira, [s.l.], v. I, [s.n.], p. 58-60, 30 nov. 1897.
______ . Flores sem frutos. A Mensageira, [s.l.], n. 15, p. 231-234, anno I, 15 maio 1898.
______ . Vasco da Gama. A Mensageira, [s.l.], [s.n.], p. 248-251, anno I, 30 maio 1898.
______ . Por montes e vales. A Mensageira, [s.l.], v. I, [s.n.], p. 309-313, 31 jul. 1898.
______ . Carta a Presciliana Duarte de Almeida. In: ALMEIDA, P. D. (dir.) A Mensageira. Revista Literária dedicada às Mulheres Brazileiras. São Paulo: IMESP/DAESP, 1987, anno I, n.4, ed. fac-símile.
______ . Delphina da Cunha. Corymbo, Rio Grande, 01 mar. 1899, p. 1-2; 15 mar. 1899, p. 1-2.
______ . Alma de artista. Novo Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro para o ano de 1901, Lisboa, p.123-126, 1900.
______ . Délia. Corymbo, Rio Grande, 15 fev. 1900, p. 1.
______ . Patrícias. Corymbo, Rio Grande, 01 jun. 1901, p. 1.
______ . Anita Garibaldi. Almanach de Lembranças para o ano de 1902, Lisboa,p.259-261, 1901.
______ . D. Anna Nery. Escrínio, Santa Maria, anno IV, n. v, 15 mar. 1901, p. 04, 05 e 06.
______ . Liga promotora dos trabalhos femininos. Almanach de Lembranças para o
ano de 1904, Lisboa, p.265-267, 1903.
______ . Impressões de leitura. Corymbo, Rio Grande, 01 jan. 1903, p. 01.
______ . O veterano. Corymbo, Rio Grande, 15 ago. 1903, 01 set. 1903, p. 1-2.
______ . Nísia Floresta. Escrínio, [s.l.], anno VI, n. 36, 20 dez. 1903, p. 01.
______ . Pérolas cor-de-rosa. Corymbo, Rio Grande, 01 out. 1903, p. 2.
______ . Minhas caras amigas. Corymbo, Rio Grande, 15 dez. 1903, p. 2.
______ . A mulher bárbara. Corymbo, Rio Grande, 15 jan. 1904, p. 1.
______ . Choupana de flores. Corymbo, Rio Grande, 01 fev. 1904, p. 1.
______ . Boas vindas. Corymbo Rio Grande,. 15 nov. 1905, p. 2.
______ . Direitos femininos. Novo Almanach de Lembranças para o ano de 1906, Lisboa, p. 140-141, 1905. 
______ . D. Amélia de Alencar. Novo Almanach de lembranças para o ano de 1906, Lisboa, p.177-178, 1905.
______ . Nuvem branca. Corymbo, Rio Grande, 21 out. 1906, p. 2-3.
______ . D. Thereza Diniz. Novo Almanach de Lembranças para o ano de 1908, Lisboa, p. 257-259, 1907.
______ . Lizá Diniz. Novo Almanach de Lembranças para o ano de 1909, Lisboa, p. 129-130, 1908.
______ . Uma escritora portuguesa. Novo Almanach de Lembranças para o ano de 1910, Lisboa, p. 109-111, 1909.
______ . D. Roza da Fonseca. Escrínio, Porto Alegre, anno X, n. 9, 13 nov. 1909, p. 105-107.
:: Fonte: ARAÚJO, Maria da Conceição Pinheiro. Tramas femininas na imprensa do século XIX: tessituras de Ignez Sabino e Délia (Maria Benedita Bormann).. (Tese Doutorado em Letras). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUC RS, 2008. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).

Catálogo
:: As mensageiras - primeiras escritoras do Brasil. Série "Histórias não contadas". 'Catálogo da Exposição' [curadora Maria Amélia Elói]. Brasília: Centro Cultural Câmara dos Deputados, 2018. Disponível no link. (acessado em 3.8.2021). {Obs.O catalogo contém um erroa escritora Nísia Floresta está erroneamente retratada. O retrato na verdade é da historiadora Isabel Gondim (nascida em Vila Imperial de Papari, atual cidade de Nísia Floresta/RN - 1839-1933)


"Não escrevo para matar o tempo: não escrevo para traduzir pensamentos ligeiros e fúteis, não. Eu escrevo por necessidade moral, physica, psychologica e intellectual. Não tenho a pretensão de ser impeccável, não tenho a veleidade de julgar-me talento quando estou abaixo da mediocridade. Eu escrevo como uma obscurissima amadora, por isso sejão benévolos para comigo [...]"
- Ignez Sabino, em "Contos e lapidações". Rio de Janeiro: Laemmert, 1891, p. 309. (grafia original)


IGNEZ SABINO - OBRA DISPONÍVEL ONLINE

- primeiras edições - 
:: Contos e lapidações. Ignez Sabino. Rio de Janeiro: Laemmert & C Editores, 1891 / Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin - USP. Disponível no link. (acessado em 9.9.2021).
:: Impressões - versos - 2ª Serie. Ignez Sabino. Recife: Tipografia Apolo, 1887 / Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin - USP. Disponível no link. (acessado em 9.9.2021).


Maria Ignez Sabino Pinho Maia. autor Garnier, M.J. (1853). Iconografia BN


POEMAS DE IGNEZ SABINO


Êxtase 
        (à Edwiges de Sá Pereira)

Entro na cathedral!... fallam-me à mente 
As rendas que no marmor burilaram 
Corpóreas mãos de artistas que bordaram 
No bloco, o fogo audaz da pyra ardente.
Na Constancia de arter tão convincente 
Surgem níveos florões que se estamparam, 
Como surgem do mar e se abraçaram 
Os galhos do coral, em flor nascente.

E a santa legenda do calvário 
Transforma o ser audaz no estatuário 
Que sorrindo ante o Bello, o Bello adora...

Se das lascas da rude penedia, 
Deu largas ao talento e descobria 
Novo mundo ideal, em nova aurora. 
- Ignez Sabino, em Revista "O Lyrio", nº 11, Recife/PE, 5/9/1903.  (grafia original)

§§

Flores murchas
          (à Mariana de Almeida)

Como as flores que vivem um só dia
Ao sopro do calor da luz das salas
Frágeis desbotam as robustas galas
Perdendo bela cor que as revestia...

Assim exausta aos poucos cessa a vida
Tudo cede ao poder do permanente
Tufão, destruidor que, de repente,
Prostra a seiva do sangue amortecida.

Pois tudo que nasceu há de render-se
A essa lei fatal intransigente
Que destrói e corrompe consciente

A vida, o ar e a flor que, ao desfazer-se,
Pendendo sobre a haste agonizante,
Bem viu que a vida dura um breve instante.
- Ignez Sabino, em "Rosas pálidas: poesias". 1886.

§§

O coração
      (à D. Deolinda Magalhães)

Qual perola gerada nos abrólhos
No mar', bem lá no fundo recolhida,
Pulsando a palpitar cheio de vida
Se abriga o coração livre de escolhos.

Si resiste aos vaes-vens sem confundir-se
No lôdo trivial, acre, infamante,
No mar... se apanha a concha palpitante
E' fácil mergulhar, n’agua sumir-se.

Mas no peito qu’envolve permanente
No sangue em, muita vida o coração
Vedado é penetrar-se independente,

Do querer: nessa urna de ressabios
Que gera um ai e o faz na commoção
Expirar docemente á flor dos lábios.
- Ignez Sabino, no livro "Contos e lapidações". Rio de Janeiro: Laemmert & C Editores, 1891. (grafia original)

§§

Labor
   (ao Dr. Valentim Magalhães)

Eu o vejo caminhar, propheta da vontade,
Luctando n’esse ardor da vida em crú baldão,
Affrontando a sorrir a negra tempestade
Sendo-lhe escudo o brio, e a penna o seu bordão!

Que nas luctas assim succumbe muitas vezes
Si o não vier suster a honra a lhe ordenar
Que n’arena fatal sorria ante os revezes,
Athleta a succumbir, mas nunca a fraguejar.

Por isso trabalhai, que é lei perenne e santa,
Luctar, agir, vencer, ter gloria n’esta vida.
Colher um louro mais p’ra fronte que já tanta,

Onda de doce luz reflecte fulgoroza,
banhando em seu fulgor a c’roa já tecida
De rosas, a que vim junctar mais esta rosa! ...
- Ignez Sabino, no livro "Contos e lapidações". Rio de Janeiro: Laemmert & C Editores, 1891. (grafia original)

§§

Ao alvorecer
   (à Alexandrina Ferreira)

Do lago na corrente crystallina
D’agua onde se espelha em luz ligeira
A paisagem ridente e vespertina
Da rubra cor d'aurora feiticeira

E no curso tranquillo da corrente
Fundo, limpido, e bello, sussurrante,
beija o vasto lençol d’areia ardente
E a folhagem do bosque soluçante.

Um beijo do astro rei vem com presteza
Polir, mais esse quadro emoldurado
No esplendido conjuncto de belleza

Que todo esse painel tão bem formado,
Torna poeta, a quem já for sagrado
Pelo dom que lhe vem da natureza.
- Ignez Sabino, no livro "Contos e lapidações". Rio de Janeiro: Laemmert & C Editores, 1891. (grafia original)

§§

A Carmita
    (a Isabel Sabino Pinho)

Pequeno cherubim lá do empyreo,
Si tu por um momento aqui pousaste.
Chorando, ateus irmãos no céo deixaste
Desceste a vir provar agro martyrio.

Achaste um conchegar, oh louro anjinho!
No materno regaço, o verdadeiro
Arrimo natural, e feiticeiro
Ninho tecido em plumas de carinho.

Depois, olhando calma, o céo fitaste.
Saudades tu sentiste, oh casta rosa,
Depois, adormecendo lá pouzaste.

Creio ouvir-te cantar em voz mimosa.
Bem junto do altar, aos pés do Eterno,
Sorrindo á tua mãe, que está saudosa.
- Ignez Sabino, no livro "Contos e lapidações". Rio de Janeiro: Laemmert & C Editores, 1891. 
(grafia original)

§§

Sons que passão
    (à Lenor Ramalho)

Minh’alma escravizou-se ao sentimento
D’essas ondas sonoras de harmonia
Qu'escuto inda a brilhar á luz do dia
E o echo ao longe espalha n’um lamento,..

Ao ouvir tua voz sonora e pura
Prendendo em cada nota uma saudade
Abrindo um vacuo immenso à soledade
Qu’impôe a tua ausência amarga e dura.

Sim! Vae! que te acompanha o meu affecto
Prenda, que tem valor, e que de certo
Póde impor seu influxo ardente e santo

N’essa chã sympathia que permuta
Em flôr, a vida inteira que disputa
Um bem ao coração que soffre tanto.
- Ignez Sabino, no livro "Contos e lapidações". Rio de Janeiro: Laemmert & C Editores, 1891. (grafia original)

§§

Descrença
    (à D. Albertina de Abreu)

Já descri da ventura, que surgira
No alvor da phantasia a matizando,
A flor da terna esperança já murchando
Saudosa e triste, para o chão cahira.

Há muita estrophe linda nos affectos
Das almas, vãos enganos passageiros,
Como o sopro do vento, irão ligeiros
Em busca de outros cerros mais dilectos,

0 germe da esperança é imorredouro,
Murcha a flor, mas o átomo ahi fica
Guardado qual recôndito thesouro.

Si alguém o rejeitar, Deus o acolhe;
Que a essência de um peito purifica
O amargo que da vida se recolhe!
- Ignez Sabino, no livro "Contos e lapidações". Rio de Janeiro: Laemmert & C Editores, 1891. (grafia original)

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Maria Ignez Sabino Pinho Maia - gravura, data ca. 1899

FORTUNA CRÍTICA DE IGNEZ SABINO

[Ignez Sabino - teses, dissertações, ensaios,  artigos e livros]

ALVES, Ivia Iracema Duarte. Liberdade e interdição. Pontos de interrogação, v. 2, p. 120-135, 2012. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
ALVES, Lizir Arcanjo. Mulheres escritoras na Bahia: As poetisas – 1822-1918. Salvador: Étera, 1999.
ALVES, Maria Angélica. A Educação Feminina no Brasil do entre-Séculos(XIX e XX): imagens da mulher intelectual. In: II Congresso Brasileiro de História da Educação - História e Memória da Educação Brasileira, 2002, Natal. Anais do II Congresso Brasileiro de História da Educação. Natal: Núcleo de Arte e Cultura da UFRN - NAC, 2002. v. 1. p. 288-289. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
ALVES, Marieta. Intelectuais e escritores baianos – breves biografias. Salvador: Fundação Museu da Cidade – FUMCISA, 1977.
ANDRADE, Maria Rita Soares de.. A mulher na Literatura. Porto Alegre: Americana, 1907; Aracaju: Oficina Gráfica Casa Avila, 1929.
ARAÚJO, Jorge de Souza. Floração de imaginários: o Romance Baiano no século XX. Itabuna/Ilhéus: Via Litterarum, 2008.
ARAÚJO, Maria da Conceição Pinheiro. Tramas femininas na imprensa do século XIX: tessituras de Ignez Sabino e Délia (Maria Benedita Bormann).. (Tese Doutorado em Letras). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUC RS, 2008. Disponível no link e link. (acessado em 27.6.2015).
ARAÚJO, Maria da Conceição Pinheiro. Itinerário literário: o universo de escritoras/feministas. (Tese Doutorado em Teoria da literatura). Universidade de Coimbra, UC, Portugal, 2007.
BARROCA, Iara Christina Silva. 3 Escritoras especiais: Ignez Sabino, Narcisa Amália e Júlia Lopes de Almeida. In: Laura Areias; Luis da Cunha Pinheiro. (Org.). As mulheres e a imprensa periódica. 1ª ed., Lisboa: Lusosofia PRESS, 2014, v. 1, p. 161-171.
Ignez Sabino Pinho Maia, por Laeti
BERNARDES, Maria Thereza Caiuby Crescenti. Mulheres de ontem? Rio de Janeiro – Século XIX. São Paulo: T. A. Queiroz, Editor, 1989.
BITTENCOURT, Adalzira. Dicionário bio-bibliográfico de mulheres ilustres, notáveis e intelectuais do Brasil. Rio de Janeiro: Pongetti, 1969.
BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario Bibliographico Brazileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1883, 7 v.
BROCA, Brito. A vida literária no Brasil – 1900. 2ª ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1960.
COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico de escritoras brasileiras: (1711-2001). São Paulo: Escrituras, 2002.
DEL PRIORE, Mary (org.); BASSANEZI, Carla (coord. de textos). História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto/Editora UNESP, 1997, 678p.
FLORES, Hilda Agnes Hübner. Ignez Sabino. In: Hilda Agnes Hübner Flores. (Org.). Presença Literária 1997.: , 1997, v. 1, p. 53-60.
HOLLANDA, Heloísa Buarque de; ARAÚJO, Lúcia Nascimento. Ensaístas brasileiras: mulheres que escreveram sobre literatura e artes de 1860 a 1991. Rio de Janeiro: editora Rocco, 1993.
LIMA, Antonia Rosane Pereira. "Mulheres Illustres do Brazil", de Ignez Sabino, e sua ressonância em dicionários de autoria feminina nos séculos XX e XXI. (Dissertação Mestrado em Estudos Literários). Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2019. Disponível no link. (acessado em 9.9.2021).
MUZART, Zahidé Lupinacci. Escritoras Brasileiras do Século XIX. Antologia Volume II. Rio Grande de Sul: Edunisc, 2004. 
PINHEIRO, Luís da Cunha; AREIAS, Laura (coordenação). As mulheres e a imprensa periódica. Lisboa: Cepul, 2014. Disponível no link. (acessado em 26.6.2015).
QUINLAN, Susan Canty. Inês Sabino e as personagens femininas na Belle Époque. Letras de Hoje. Porto Alegre, v. 33, setembro de 1998, p. 27-38. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
RANGEL, Livia de Azevedo Silveira. Os estudos sobre mulher e literatura no Brasil: uma primeira abordagem. in: Seminário “Estudos sobre Mulher no Brasil – Avaliação e Perspectivas” promovido pela Fundação Carlos Chagas de 27 a 29 de novembro de 1990. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
ROMERO, Silvio. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1960.
SANTOS, Mirian Cristina dos. Palestrando de minas gerais: a produção periodística de Elisa Lemos e Maria Emilia Lemos. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal de São João del-Rei, UFSJ, 2010. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
Livro Impressões - versos, de Ignez Sabino
SCHUMAHER, Schuma; BRASIL, Érico Vital. Dicionário Mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade (biográfico e ilustrado). Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2000.
SILVA, Laila Thaís Correa e.. Dos projetos literários dos ?homens de letras? à literatura combativa das ?mulheres de letras?: imprensa, literatura e gênero no Brasil de fins do século XIX. (Tese Doutorado em História). Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, 2021.
SILVA, Wladimir Barbosa; BARRETO, Maria Renilda N.. Mulheres e abolição: protagonismo e ação. Revista da ABPN, v. 6, n. 14 - jul. – out. 2014, p. 50-62. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
SILVEIRA, Sinéia Maia Teles. Múltiplas faces femininas da tessitura literária de Inês Sabino. (Tese Doutorado em Letras). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUCRS, 2014. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
SILVEIRA, Sinéia Maia Teles. Figurações do feminino na literatura de Ignez Sabino. In: II Seminário Nacional Literatura e Cultura, 2010, Aracaju - SE. Anais do II SENALIC. Aracaju - SE, 2010. v. 2. p. 1-11. Disponível no link. (acessado em 27.6.2015).
TACQUES, Alzira Freitas. Perfis de musas, poetas e prosadores brasileiros. V.I. Porto Alegre: Thurmann, 1956.
TELLES, Norma Abreu. Encantações: escritoras e crítica literária no Brasil, século XIX. (Tese Doutorado em Ciências Sociais). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP, 1987.

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EXCERTOS E CITAÇÕES DA OBRA DE IGNEZ SABINO
"Por que razão a mulher não poderá ser conhecida pela pena de outra mulher, estudando em si, a psychologia alheia?

[...] Eu quero ressuscitar, no presente, as mulheres do passado que jazem obscuras, devendo ellas encher-nos de desvanecimento, por ver que bem raramente na humanidade, se encontrará tata aptidão cívica presa aos fastos da historia.

Faço, outrossim, salientar as que mais sobresahiram nas lettras, a fim de que se conheça que houve alguém que amou a arte e viveu pelo talento, tirando-as, como as outras, da barbaria do esquecimento, para fazel-as surgir, como merecem, à tona da celebridade. A mulher não deve viver somente pelas virtudes, nem pelas graças: ella deve, necessita, agir pela inteligência, de acordo com os seus deveres Moraes e cívicos.

[...] Para mim, apenas a recompensa moral que se deve dar à mulher que estuda e trabalha, mas que necessita de apoio, aplaudindo-se aminha idéa."
- Ignez Sabino, em "Mulheres Illustres do Brazil".[1899]. Edição fac-similar. Florianópolis: Editora Mulheres, 1996, p. p. VIII-X. (grafia original)

"Quando a valvula do progresso conceder á brazileira illustrada, o logar que lhe compete nas artes, lettras e sciencias e no jornalismo, quando o homem se convencer que a mulher pode enfrental-o, medindo o pensamento, collocando-se na altura de uma Martineau ou d’um Jorge Eliot, quando uma simples penna de aço e algumas gotas de tinta tirarem da alvenaria da razão as paginas que deslumbram as nossas patrícias tornadas em sacerdotisas do bello, serão as melhores professoras dos seus filhos, a cadeia de oiro da liga social, a devotada mãe de família, que conhecendo o cultivo mental, attrahirá pela virtude a seu marido, tornando da sua casa o paraizo d’onde o mais recalcitrante jamais se affastará, indo procurar, longe ‘dahi, peccaminosas distracções."
- Ignez Sabino, em "Mulheres Illustres do Brazil".[1899]. Edição fac-similar. Florianópolis: Editora Mulheres, 1996, p. 204. (grafia original)


"As vezes uma nuvem triste cae sobre a minha obscura penna, convencendo-me que o nosso meio aliás já um tanto culto, não se compenetra da verdade que a mulher intellectual pode trazer à bouqueta do Bene, desafiando o sentimento e a subjetividade, muito mais afinada que o de escriptoras européas, não há negar."
- Ignez Sabino, em "Mulheres Illustres do Brazil". [1899]. Edição fac-similar. Florianópolis: Editora Mulheres, 1996, p. 269. (grafia original)


"Já que posso sem offensa, dar largas à minha pena, falemos ligeiramente da critica, não da corriqueira, malévola, odiosa, sem preparo, mas sim da critica scientifica, que analyza o livro que tem entre mãos, com juízo seu, mostrando os defeitos e salientando as virtudes do volume.
A critica imparcial, feita pelo critério de um homem douto, é precisa, honra, em razão de não descer ao despeito, nem ao lôdo da inveja corrigindo por meios brandos, o que julga máu.
A critica educa, restando ao critico ser imparcial, dizer o que sente sem se preocupar com idéas alheias, ser em fim, um juiz que por meios brandos ensine e estimule, não se levando pela amizade, nem pelos louvores immerecidos, com o fim de agradar."
- Ignez Sabino, em "Mulheres Illustres do Brazil".[1899]. Edição fac-similar. Florianópolis: Editora Mulheres, 1996, p. 271. (grafia original)


"A política brazileira tem muito ainda que metamorphorsear-se; tem muito que consolidar-se, para, de accôrdo com a phase por que está passando, definir de vez a autoridade pensante juncto dos grandes centros civilisados do velho mundo. Falta a elles, os políticos, uma certa autoridade de pensamento e mesmo de acção e, dahi, veja-se a divergência das ideas na época actual, onde cada qual quer emittir a sua opinião, procurando melhorar a situação meio falsa com que se accentúa o grande congresso da crise social, alias já encaminhada por espíritos, que embora superiores, comtudo terão de luctar para accentuar suas idéas e enraizar suas convicções, melhorando pela nova fórma de governo as finanças, a instrucção publica, e o bem estar da nação em geral"
- Ignez Sabino, em "Contos e lapidações". Rio de Janeiro: Laemmert, 1891, p. 201-202. (grafia original)


"O mundo é cruel; está sempre ao lado da fraude, do perjúrio, do irracionalismo; crê sempre a maior das vezes na mulher, a única culpada dos naufrágios conjugaes. Existem, é certo, senhoras sem critério, sem discernimento, geniosas, capazes de fazer peccar o Christo, se elle viesse de novo à terra, mas na maior parte das vezes os maridos (perdoem-me elles e até o meu) são os únicos autores das infelicidades e mesmo das divergências conjugaes da parte das esposas."
- Ignez Sabino, em "Contos e lapidações". Rio de Janeiro: Laemmert, 1891, p. 273-274. (grafia original)




Livro Mulheres ilustres do Brasil, de Ignez Sabino

NA REDE

:: Vozes femininas na literatura



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COMO CITAR:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Ignez Sabino Pinho Maia - escritora baiana do século XIX. In: Templo Cultural Delfos, setembro/2021. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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** Página atualizada em 27.6.2015.
* Página original JUNHO/2015.




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