T. S. Eliot - foto: (...) |
- T. S. Eliot, no ensaio "Tradição e talento individual".
Thomas Stearns Eliot (T. S. Eliot) nasceu em St. Louis, Missouri, Estados Unidos, a 26 de setembro de 1888, e faleceu em Londres, com 76 anos de idade, a 4 de janeiro de 1965. Descendentes de emigrantes ingleses que, em meados do século XVIII, se estabeleceram em Massachusetts, Nova Inglaterra, os Eliot estiveram desde sempre fundamente vinculados às tradições da Igreja Unitária, destacando-se ainda por sua intensa atividade cultural. O mais notável dentre tais antepassados foi o Rvdo. Andrew Eliot ( 1718-78), ministro da Igreja Congregacionalista e quase reitor da Universidade de Harvard, cargo que não assumiu por deliberação voluntária. Cerca de dois séculos transcorreram até que o primeiro dos Eliot se transferisse para o Missouri. Foi ele o Rvdo. William Greenleaf Eliot (1811-87), avô do poeta e fundador da Igreja Unitária de St. Louis, bem como da Universidade de Washington, de que se tornou depois presidente. William Greenleaf distinguiu-se ainda por seu papel na Guerra de Secessão, quando pugnou pelos ideais federativos dos Estados do Norte, e pelos diversos opúsculos didático-morais que publicou.
Henry Ware Eliot e Charlotte Chauncey Stearns, pais do
poeta, casaram-se em 1868. Henry Ware diplomou-se pela Universidade de
Washington, mas acabou por dedicar quase toda a sua vida aos interesses
industriais da família, tendo chegado inclusive à presidência da Hydraulic
Press Brick Company of St. Louis. A mãe, de rica família pertencente à
aristocracia mercantil de Boston, era mulher intelectualmente dotada,
possuidora de boa cultura humanística e de algum pendor literário. De sua
autoria, aliás, são um estudo biográfico do sogro e um longo poema, também de
caráter biográfico, sobre Savonarola. Thomas Stearns Eliot é o sétimo e último
filho desse matrimônio.
Serpente de lama e fúrias ancestrais, o Rio Mississippi
corre veloz rente à face leste de St. Louis, a principal cidade do Estado de
Missouri e um dos maiores centros industriais do Middle East norte-americano.
Aí viveu Eliot sua infância e grande parte da juventude, aprendendo os segredos
e mistérios do grande rio. Ainda em St. Louis, realizou seus primeiros estudos
na Academia Smith, concluindo-os em Massachusetts, na Academia Milton. Em 1906,
aos 18 anos de idade, seguiu para Boston a fim de iniciar sua formação
universitária em Harvard. Nesse tradicional estabelecimento de ensino superior
- o mais antigo e influente dos Estados Unidos -, Eliot consagrou-se aos
estudos literários e, sobretudo, filosóficos, sob a orientação de alguns
ilustres mestres, entre os quais Irving Babbitt e George Santayana. Já por esse
tempo era grande a sua atividade no setor das letras não só como poeta, mas também
na qualidade de um dos editores da revista universitária The Harvard Advocate,
onde publicou alguns trabaIhos e em cuja redação conheceu Conrad Aiken, desde
então seu amigo e admirador, além de responsável pela apresentação do autor de
The Waste Land ao poeta e crítico Ezra Pound, quando de uma visita que ambos
fizeram a Londres em 1914. Esse encontro com Pound teria decisiva influência na
vida e na carreira literária de Eliot, para quem o poeta de The Cantos era,
além de il miglior fabbro, "um crítico maravilhoso, porque não
transformava a obra alheia numa imitação dele mesmo." O acesso, ainda que
breve e superficial, à correspondência de Pound permite-nos concluir, aliás, o
quanto foi vertical e benéfica sua intervenção em alguns dos manuscritos de
Eliot, sobretudo no de The Waste Land, que constitui uma verdadeira aula de
poética. Ainda que em pólo totalmente distinto, é também curioso observar -
como atestam depoimentos de alguns de seus contemporâneos em Harvard, entre os
quais Stuart Chase e Walter Lippmann -, que, já nessa época, Eliot se
distinguia pelo fato de comportar-se como "um inglês em tudo e por tudo, a
não ser pelo sotaque e pela nacionalidade". Era como se o poeta já
trouxesse dentro de si as matrizes espirituais e culturais de sua futura cidadania
britânica e de seu visceral anglicismo.
T. S. Eliot - foto: Lee Miller |
O ano de 1915 marca o aparecimento do primeiro poema
importante de Eliot, "The Love Song of John Alfred Prufrock",
publicado na revista Poetry, de Chicago, e posteriormente incluído por Ezra
Pound em sua Catholic Anthology. É também durante esse ano que o poeta se casa
com Vivienne Haigh-Wood, da sociedade londrina. A seguir, exerce as funções de
professor no Highgate College, pequena escola para crianças situada nos
arredores de Londres, onde, segundo seu próprio depoimento, lecionou
"latim, francês, matemáticas elementares, desenho, natação, geografia,
história e beisebol". Abandonou o magistério para empregar-se no Lloyds
Bank Ltd., de Londres, e, de 1917 a 1919, foi editor-assistente do Egoist, além
de assíduo colaborador de outras publicações literárias, entre as quais The
Athenaeum, então dirigido por J. Middleton Murry, e até mesmo de periódicos
especializados em política e economia bancárias, como a Lloyds Bank Economic
Review. Ainda em 1917 publicaria o seu primeiro volume de versos: Prufrock and
other Observations. Um ano depois, devido à falta de condições físicas, Eliot
viu-se desobrigado do serviço militar que teria de cumprir na Marinha dos
Estados Unidos. Com isso, rompia-se mais um elo da cadeia que o mantinha ligado
às exigências da vida pública norte-americana. A partir daí, estreitam-se seus
vínculos com a Inglaterra, e o poeta resolve fixar residência em Londres, onde
já estabelecera sólidas relações nos meios literários e editoriais.
Em 1920, um ano após a publicação de um pequeno estudo
sobre Ezra Pound, his Metric and Poetry, aparece The Sacred Wood, coletânea que
reúne alguns de seus melhores textos críticos da juventude, e, transcorridos
dois anos do lançamento desta última, The Waste Land, obra de decisiva
importância para a formação da mentalidade poética contemporânea e que o
consagra como um dos expoentes da literatura de língua inglesa deste século.
Outro fato de grande significação em 1922 - o mesmo ano, aliás, da publicação
do Ulysses, de James Joyce - foi o aparecimento de The Criterion, revista
trimestral de literatura e filosofia criada pelo poeta e que, por cerca de 17
anos, desempenhou relevante papel nos círculos artísticos e culturais europeus,
somente deixando de ser editada às vésperas da Segunda Guerra Mundial, por
decisão exclusiva de seu fundador. The Criterion abre a Eliot as portas dos
negócios editoriais, e já em 1923 ei-lo guindado à diretoria da Faber &
Faber, à frente da qual se manteve até a morte. Como editor, terá sido ele
menos um homem de empresa do que um patrono das vanguardas literárias de língua
inglesa, que lhe deverão para sempre o reconhecimento e o incentivo às suas
pesquisas estético-formais.
T. S. Eliot - foto: (...) |
Em 1927, Eliot adota finalmente a cidadania inglesa,
proclamando-se no ano seguinte, através de sua famosa declaração, "an
Anglo-Catholic in religion, a classicist in literature, and a royalist in
politics". Após 18 anos de ausência, retorna aos Estados Unidos, a convite
da Universidade de Harvard, para ministrar o ciclo de conferências
"Charles Eliot Norton" (1932-33). Posteriormente, voltaria por
diversas vezes a seu país de origem, ora em simples visita, ora por motivos de
caráter estritamente cultural. Em 1957, dez anos depois de haver perdido a
esposa, Eliot contrai novas núpcias com Valerie Fletcher, sua..jovem secretária
na Faber & Faber, em companhia da qual viverá os últimos anos de vida, cada
vez mais recolhido à intimidade de sua pequena residência no bairro londrino de
Kensington.
Entre os títulos honoríficos, diplomas, condecorações e
comendas outorgados ao autor dos Four Quartets, contam-se, além dos já citados:
Doutor em Filosofia pela Universidade de Cambridge, Doutor Honoris Causa pelas
universidades de Princeton e de Yale, Ordem do Mérito do Império Britânico e
Prêmio Nobel de Literatura, ambos em 1948, Medalha de Ouro de Dante, Cruz de
Comendador das Artes e Letras, Prêmio Goethe (1954) e Medalha da Amizade dos
Estados Unidos da América (1964).
A obra poética de Eliot compreende uma produção que se
estende de 1909 até pouco antes de sua morte, período em que apenas
ocasionalmente cultivou ele o verso e que se caracteriza por uma escassa e já
esporádica atividade, da qual resultaram três coletâneas que pouco acrescentam
à sua obra anterior: os Occasional Verses, incluídos nos Collected Poems
1909-1962; The Cultivation of the Christmas Trees (1954); e, fìnalmente, os
Poems Written in Early Youth, cuja publicaçâo já é póstuma. Dentre os mais importantes poemas ou coletâneas
poéticas do autor, figuram: "The Love Song of J. Alfred Prufrock",
"Portrait of a Lady", "Preludes" e "Conversation
Galante", de Prufrock and other Observations ( 1917) ;
"Gerontion", "Sweeney Erect" e "Sweeney among the
Nightingales", de Poems (1920); The Waste Land (1922); The Hollow Men
(1925); Ash-Wednesday (1930); Ariel Poems e Unfinished Poems, ambos incluídos
nos Collected Poems 1909-1935 (1936); The Rock (1934); e, finalmente, os Four
Quartets (1943). Cumpre citar ainda as fantasias humorísticas que, em
1939, publicou Eliot sob o título de Old Possum's Book oj Practical Cats, que
não integram este volume. A produção poética de T. S. Eliot foi por quatro
vezes reunida: Selected Poems 1909-1925 (1925), Collected Poems 1909-1935
(1936), Collected Poems 1909-1953 (1954) e Collected Poems 1909-1962 (1963).
::Fonte: ELIOT,
T. S.. Poesia. [tradução, introdução e notas Ivan Junqueira]. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 8ª ed., 1981. (traduzido do original Collected Poems
1909-1962).
OBRA
Works in English
:: Prufrock and Other Observations. London: Egoist, 1917.
:: Ezra Pound: His Metric and Poetry. New York: Knopf, 1918.
:: Poems. Richmond, Surrey: The Hogarth
Press, 1919.
:: Ara vos prec. London: Ovid Press, 1920. – Revised as Poems. New York: Knopf, 1920.
:: The sacred wood: essays on poetry
and criticism.
London: Methuen, 1920.
:: The waste land. New York: Boni & Liveright,
1922.
:: Homage to John Dryden: three
essays on poetry of the seventeenth century.
London: The Hogarth Press, 1924
:: Poems 1909–1925. London: Faber & Gwyer, 1925.
:: Journey of the Magi. London: Faber & Gwyer, 1927.
:: Shakespeare and the stoicism of
Seneca. London:
Oxford University Press, 1927.
:: A Song for Simeon. London: Faber & Gwyer, 1928.
:: For Lancelot Andrewes: essays on
style and order.
London: Faber & Gwyer, 1928.
:: Dante. London: Faber, 1929.
:: Animula. London: Faber, 1929.
:: Ash-Wednesday. New York: Fountain Press, 1930; London: Faber,
1930.
T. S. Eliot, by Powys Evans, late 1927. [From Valerie Eliot's collection] |
:: Marina. London: Faber, 1930.
:: Thoughts after Lambeth.
London: Faber, 1931.
:: Triumphal march. London: Faber, 1931.
:: Charles Whibley: a memoir. London: Oxford University Press, 1931.
:: Selected Essays 1917–1932. London: Faber, 1932; New York:
Harcourt, Brace, 1932;
:: John Dryden: the poet, the
dramatist, the critic. New York: Terence & Elsa Holliday, 1932.
:: Sweeney agonistes: fragments of
an Aristophanic melodrama. London: Faber, 1932.
:: The use of poetry and the use of
criticism: studies in the relation of criticism to poetry in england. London: Faber, 1933; Cambridge, Mass.: Harvard
University Press, 1933.
:: After strange gods: a primer of
modern heresy. London: Faber, 1934; New York: Harcourt,
Brace, 1934.
:: The rock: a pageant play. London: Faber, 1934; New York:
Harcourt, Brace, 1934.
:: Elizabethan essays. London: Faber, 1934. – Revised as
Essays on Elizabethan Drama. – New York: Harcourt, Brace, 1956; – republished
as Elizabethan Dramatists. – London: Faber, 1963.
:: Words for music. Bryn Mawr, Pa.: Privately printed,
1934.
:: Murder in the Cathedral. London: Faber, 1935; New York:
Harcourt, Brace, 1935.
:: Essays ancient & modern. London: Faber, 1936; New York:
Harcourt, Brace, 1936.
:: Collected poems 1909–1935. London: Faber, 1936; New York:
Harcourt, Brace, 1936.
:: The family reunion. London: Faber, 1939; New York:
Harcourt, Brace, 1939.
:: Old possum's book of practical
cats. London:
Faber, 1939; New York: Harcourt, Brace, 1939.
:: The idea of a christian society. London: Faber, 1939; New York: Harcourt,
Brace, 1940.
:: East Coker.
London: Faber, 1940.
:: Burnt Norton. London: Faber, 1941.
:: Points of view. [edited by John Hayward]. London:
Faber, 1941.
:: The dry salvages. London: Faber, 1941.
:: The classics and the man of
letters.
London, New York & Toronto: Oxford University Press, 1942.
:: The music of poetry. Glasgow: Jackson, Son, Publishers
to the University, 1942.
:: Little gidding. London: Faber, 1942
:: Four quartets. New York: Harcourt, Brace, 1943;
London: Faber, 1944.
:: Reunion by destruction. London: Pax House, 1943.
:: What Is a classic?. London: Faber, 1945.
:: A practical possum. Cambridge, Mass.: Harvard Printing
Office & Department of Graphic Arts, 1947.
:: On poetry. Concord, Mass.: Concord Academy,
1947.
:: Milton. London: Geoffrey Cumberlege, 1947.
:: A sermon. Cambridge: Cambridge University
Press, 1948.
:: Selected poems. – Harmondsworth, U.K.:
Penguin/Faber, 1948; New York: Harcourt, Brace & World, 1967.
:: Notes towards the definition of
culture.
London: Faber, 1948; New York: Harcourt, Brace, 1949.
:: From Poe to Valéry. New York: Harcourt, Brace, 1948.
:: The undergraduate poems of T. S.
Eliot. Cambridge, Mass., 1949.
:: The aims of poetic drama. London: Poets' Theatre Guild, 1949.
:: The cocktail party. London: Faber, 1950; New York:
Harcourt, Brace, 1950.
:: Poems written in early youth.
Stockholm: Privately printed, 1950; London: Faber, 1967; New York:
Farrar, Straus & Giroux, 1967.
:: Poetry and drama. Cambridge, Mass.: Harvard
University Press, 1951; London: Faber, 1951.
:: The Film of Murder
in the Cathedral / T.S. Eliot and George Hoellering. London:
Faber, 1952; New York: Harcourt, Brace, 1952.
:: The Value and use of cathedrals in
England Today.
Chichester: Friends of Chichester Cathedral, 1952.
:: An Address to members
of the London Library. – London: London Library, 1952;
Providence, R.I.: Providence Athenaeum, 1953.
:: The complete poems
and plays. New York:
Harcourt, Brace, 1952.
:: American
Literature and the american language. St. Louis: Department of
English, Washington University, 1953.
T S Eliot, drawn by William Rothenstein in 1928 |
:: The three voices
of poetry. Cambridge: Cambridge University Press, 1953; New
York: Cambridge University Press, 1954.
:: The confidential
clerk. London: Faber, 1954; New York: Harcourt, Brace, 1954.
:: Religious drama: mediaeval
and modern. New York:
House of Books, 1954.
:: The cultivation of
christmas trees. London: Faber, 1954; New York: Farrar, Straus
& Cudahy, 1956.
:: The literature of politics.
London: Conservative Political Centre, 1955.
:: The frontiers of criticism.
Minneapolis: University of Minnesota Press, 1956.
:: On poetry and poets. London: Faber, 1957; New York: Farrar, Straus
& Cudahy, 1957.
:: The Elder Statesman. London: Faber, 1959; New York: Farrar, Straus
& Cudahy, 1959.
:: Geoffrey Faber
1889–1961. London: Faber, 1961.
:: Collected plays.
– London: Faber, 1962.
:: George Herbert.
London: Longmans, 1962.
:: Collected poems
1909–1962. London: Faber, 1963; New York: Harcourt, Brace &
World, 1963.
:: Knowledge and experience in the philosophy
of F. H. Bradley.
London: Faber, 1964; New York: Farrar,
Straus, 1964
:: To criticize the
critic and other writings. London: Faber, 1965; New York:
Farrar, Straus & Giroux, 1965
:: The Waste Land: A
Facsimile and Transcript of the Original Drafts Including the Annotations of
Ezra Pound. [edited by Valerie Eliot]. London: Faber, 1971; New
York: Harcourt Brace Jovanovich, 1971.
:: Selected Prose of
T.S. Eliot. [edited by Frank Kermode]. London: Faber, 1975; New
York: Harcourt Brace Jovanovich, 1975
:: The Varieties of
Metaphysical Poetry: The Clark Lectures at Trinity College, Cambridge, 1926,
and the Turnbull Lectures at the Johns Hopkins University, 1933.
[edited by Ronald Schuchard]. – London: Faber, 1993; New York: Harcourt Brace,
1994.
:: Inventions of the
March Hare: poems, 1909–1917. [edited by Christopher Ricks].
London: Faber, 1996; New York: Harcourt Brace, 1996.
:: The Waste Land: authoritative
text, contexts, criticism. – Norton Critical Edition. [edited by
Michael North]. New York: Norton, 2001.
:: The Annotated
Waste Land, with T.S. Eliot's contemporary prose. [edited by
Lawrence Rainey]. New Haven: Yale University Press, 2005.
:: The letters of
T.S. Eliot. Vol. 1, 1898-1922. [edited by Valerie Eliot]. London:
Faber. 1988.
:: The letters of
T.S. Eliot. Vol. 2, 1923-1925. [edited by Valerie Eliot and Hugh
Haughton]. London: Faber, 2009.
:: The Letters of T.
S. Eliot. Vol. 3, 1926-1927. [edited by Valerie Eliot and Hugh
Haughton]. London: Faber,2012.
:: The Letters of T.
S. Eliot. Vol. 4, 1928-1929. [edited by Valerie Eliot and Hugh
Haughton]. London: Faber, 2012.
"Esse sentido histórico, que é o sentido tanto do atemporal quanto do temporal e do atemporal e do temporal reunidos, é que torna um escritor tradicional. E é isso que, ao mesmo tempo, faz com que um escritor se torne mais agudamente consciente do seu lugar no tempo, de sua própria contemporaneidade."
- T. S. Eliot, no ensaio "Tradição e talento individual". do livro: ELIOT, T.S. Ensaios. [tradução de Ivan Junqueira]. São Paulo: Art, 1989, p. 39.
OBRA DE T. S. ELIOT PUBLICADA NO BRASIL
:: A essência da poesia: estudos e ensaios.T. S. Eliot. [introdução Affonso Romano de Sant’Anna; tradução Maria Luiza Nogueira]. Rio de Janeiro: Arte Nova, 1972.
:: Crime na catedral (murder in the cathedral) e Quatro quartetos (Four quartets). T. S. Eliot. [tradução de Maria da Saudade Cortesão e Oswaldino Marques; estudo introdutivo de Francis Scarfe; ilustrações de carzou]. (coleção dos prêmios nobel de literatura). Rio de Janeiro: Delta, 1966, 204p. il.
:: Crime na catedral (murder in the cathedral) e Quatro quartetos (Four quartets). T. S. Eliot. [tradução de Maria da Saudade Cortesão e Oswaldino Marques; estudo introdutivo de Francis Scarfe; ilustrações de carzou]. (coleção dos prêmios nobel de literatura). Rio de Janeiro: Delta, 1966, 204p. il.
T. S. Eliot - foto: (...) |
:: De poesia e poetas. T. S. Eliot.
[tradução e prólogo Ivan Junqueira]. São Paulo: Brasiliense, 1991.
:: Ensaios. T. S. Eliot.
[tradução, introdução e notas Ivan Junqueira]. São Paulo: Art Editora, 1989. (Menção honrosa do
Prêmio Jabuti, 1990).
:: Notas para uma definição de cultura.
T. S. Eliot. [tradução de Geraldo Gerson de Souza; revisão de Plínio
Martins Filho]. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1988.
:: Notas para uma definição de cultura.
T. S. Eliot. [tradução Fernando de Castro Ferro]. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1965, 125p.
:: Notas para a definição de cultural. T.
S. Eliot. [tradução Eduardo Wolf]. Coleção: Abertura Cultural. São
Paulo: Editora É Realizações, 2012, 144p.
:: O livro dos gatos. T. S. Eliot.
[tradução, introdução e notas de Ivo Barroso]. Rio de Janeiro: Nórdica, 1991. (Prêmio Jabuti, da
Câmara Brasileira do Livro, 1992).
:: Os gatos. T. S. Eliot.
[tradução Ivo Barroso; ilustrações Axel Scheffler]. São Paulo: Companhia das
Letrinhas, 2010, 112p.
:: Poemas - 1910-1930. T. S. Eliot.
[tradução Idelma Ribeiro de Lima]. São Paulo: Hucitec, 1980.
:: Poesia completa. T. S. Eliot.
[tradução, introdução e notas Ivan Junqueira]. Edição bilíngüe. São Paulo: Arx,
2004. (Prêmio
Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, 2005).
:: Poesia. T. S. Eliot.
[tradução, introdução e notas Ivan Junqueira]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
8ª ed., 1981.
:: Quatro quartetos. T. S. Eliot.
[tradução, introdução e notas Ivan Junqueira]. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1967.
:: Teatro completo. T. S. Eliot.
[tradução, introdução e notas de Ivo Barroso]. São Paulo: Arx, 2004. (Prêmio de
tradução, da Academia Brasileira de Letras, 2005).
:: A Terra Devastada e os Homens
Ocos. T.S. Eliot. [tradução
Thiago de Mello]. Edição bilingue. Santiago do Chile: fora de comércio, 1964.
“Quando se
aplica o termo “cultura” à manipulação de organismos inferiores – à obra do
bacteriologista, ou do agriculturalista – o significado é bastante claro, pois
é possível alcançar unanimidade com respeito aos objetivos a atingir, e podemos
concordar quando os atingimos ou não. Quando é aplicado à melhoria da mente e
do espírito humanos – estamos menos aptos a concordar com o que é a cultura.”
- T. S. Eliot, em "Notas para uma definição de
Cultura". [tradução de Geraldo Gerson de Souza; revisão de Plínio Martins
Filho]. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1988.
T. S. ELIOT PUBLICADO EM PORTUGAL
T. S. Eliot - foto: (...) |
:: A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock.
T. S. Eliot. [tradução de João de Almeida Flor]. Edição bilingue.
Lisboa: Assírio & Alvim, 1985.
:: A terra devastada (The waste land).
T. S. Eliot. [prefácio e tradução Gualter Cunha]. Edição bilíngue. Lisboa:
Relógio D´Água, 1999.
:: A terra sem vida. T. S. Eliot. [tradução
Maria Amélia Neto]. Lisboa: Edições Ática, 2ªed., 1984, 72p.
:: Assassínio na Catedral. T. S. Eliot.
[tradução José Blanc Portugal]. Lisboa: Delfos, 1959, 132p.
:: Coros - de 'A Rocha'. T. S. Eliot.
[tradução ...?; comentários Piero Bigongiari e Davide Rondoni]. Coimbra:
Tenacitas, 2014, 172p.
:: Ensaios escolhidos. T. S. Eliot.
[tradução Maria Adelaide Ramos]. Lisboa: Edições Cotovia, 1992, 288p.
:: O livro dos gatos (Old Possum's Book
of Practical Cats) . T. S. Eliot. [tradução João Almeida Flor;
ilustração Axel Scheffler]. Lisboa: Edição Nova Vega, 2003, 72p.
:: O livro dos gatos (Old Possum's Book
of Practical Cats). T. S. Eliot. [tradução de João Almeida Flor;
ilustrações Nicolas Bentley]. Lisboa: Editora Caravela, 1992.
:: Quatro quartetos (Four quartets). T.
S. Eliot. [tradução de Maria Amélia Neto]. Edição bilíngue. Lisboa:
Edições Ática, 1970; 3ª ed., 1983, 83p.
"O objetivo do poeta não é descobrir novas emoções, mas utilizar as corriqueiras e, trabalhando-as no elevado nível poético, exprimir sentimentos que não se encontram em absoluto nas emoções como tais"
- T. S. Eliot, em "Tradição e talento individual". In.: ELIOT, T. S.. Ensaios. [tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira]. São Paulo: Art Editora, 1989, p. 47.
T.S. Eliot (right) receiving the Nobel Prize for Literature, December 1948. |
"(...)
Deixem-me
dizer: GATO NÃO É CÃO
Por via de
regra, o Cão de bom tom
sempre se
dispõe a ser um palhaço,
não sabe fingir
um ar afetado
e chega a
perder toda a compostura,
deixa-se
enganar com facilidade,
basta que lhe
façam festas no pescoço
(...)
Que fique bem
claro, volto a dizer:
Um Cão é um Cão
- UM GATO É UM GATO!"
- T. S. Eliot, em "O livro dos gatos".
[tradução de João Almeida Flor]. Lisboa: Editora Caravela, 1992.
POEMAS ESCOLHIDOS
[as traduções aqui publicadas são do português do Brasil
e de Portugal]
T. S. Eliot - foto: (...) |
I - Burnt
Norton
Embora a razão seja comum a todos, cada
um procede como se tivesse um pensamento próprio.
O caminho que sobe e o caminho que desce
são um único e mesmo.
Heráclito
I
O tempo
presente e o tempo passado
Estão ambos
talvez presentes no tempo futuro,
E o tempo
futuro contido no tempo passado.
Se todo o tempo
é eternamente presente
Todo o tempo é
irredimível.
O que podia ter
sido é uma abstracção
Permanecendo
possibilidade perpétua
Apenas num
mundo de especulação.
O que podia ter
sido e o que foi
Tendem para um
só fim, que é sempre presente.
Ecoam passos na
memória
Ao longo do
corredor que não seguimos
Em direcção à
porta que nuca abrimos
Para o
roseiral. As minhas palavras ecoam
Assim, no teu
espírito.
Mas para quê
Perturbar a
poeira numa taça de folhas de rosa
Não sei.
Outros ecos
Habitam o
jardim. Vamos segui-los?
Depressa, disse
a ave, procura-os, procura-os,
Na volta do
caminho. Através do primeiro portão,
No nosso
primeiro mundo, seguiremos
O chamariz do
tordo? No nosso primeiro mundo.
Ali estavam
eles, dignos, invisíveis,
Movendo-se sem
pressão, sobre as folhas mortas,
No calor do
outono, através do ar vibrante,
E a ave chamou,
em resposta à
Música não
ouvida dissimulada nos arbustos,
E o olhar
oculto cruzou o espaço, pois as rosas
Tinham o ar de
flores que são olhadas.
Ali estavam
como nossos convidados, recebidos e recebendo.
Assim nos
movemos com eles, em cerimonioso cortejo,
Ao longo da
alameda deserta, no círculo de buxo,
Para espreitar
o lago vazio.
Lago seco,
cimento seco, contornos castanhos,
E o lago
encheu-se com água feita de luz do sol,
E os lótus
elevaram-se, devagar, devagar,
A superfície
cintilava no coração da luz,
E eles estavam
atrás de nós, reflectidos no lago.
Depois uma
nuvem passou, e o lago ficou vazio.
Vai, disse a
ave, pois as folhas estavam cheias de crianças,
Escondendo-se
excitadamente, contendo o riso.
Vai, vai, vai,
disse a ave: o género humano
Não pode
suportar muita realidade.
O tempo passado
e o tempo futuro
O que podia ter
sido e o que foi
Tendem para um
só fim, que é sempre presente.
- T. S. Eliot, em “Quatro quartetos”. [tradução
Maria Amélia Neto]. Lisboa: Edições Ática, 1983.
III - Burnt
Norton
Este é um lugar
de desafeição
O tempo antes e
o tempo depois
Numa luz
sombria: nem luz do dia
Investindo a
forma de lúcida quietude
Transformando a
sombra em efémera beleza
Com vagarosa
rotação sugerindo permanência
Nem escuridão
para purificar a alma
Esvaziando o
sensual pela privação
Purificando a
afeição do temporal.
Nem plenitude
nem vazio. Apenas um tremeluzir
Sobre os rostos
tensos devastados pelo tempo
Distraídos da
distracção pela distracção
Cheios de
fantasias e vazios de sentido
Túmida apatia
sem concentração
Homens e
pedaços de papel remoinhando no vento frio
Que sopra antes
e depois do tempo,
Vento que entra
e sai de pulmões viciados
Tempo antes e
tempo depois.
Eructação de
almas doentias
No ar
desbotada, os miasmas
Levados no
vento que varre os sombrios montes de Londres,
Hampstead e Clerkenwell, Campden e Putney,
Highgate,
Primrose e Ludgate. Não aqui
Não aqui a
escuridão, neste mundo de agitadas vozes.
Desce mais,
desce apenas
Ao mundo da
solidão perpétua,
Mundo não
mundo, mas aquilo que não é mundo,
Escuridão
interna, privação
E destituição
de toda a propriedade,
Dissecação do
mundo do sentido,
Evacuação do
mundo da fantasia,
Inoperância do
mundo do espírito;
Este é um dos
caminhos, e o outro
É o mesmo, não
em movimento
Mas abstenção
de movimento; enquanto o mundo se move
Em apetência,
nos seus caminhos metalizados
Do tempo
passado e do tempo futuro.
- T. S. Eliot, em “Quatro quartetos”. [tradução
Maria Amélia Neto]. Lisboa: Edições Ática, 1983.
V - Burnt
Norton
As palavras
movem-se, a música move-se
Apenas no
tempo; mas o que apenas vive
Apenas pode
morrer. As palavras, depois de ditas,
Alcançam o
silêncio. Apenas pela forma, pelo molde,
Podem as
palavras ou a música alcançar
O repouso, tal
como uma jarra chinesa ainda
Se move
perpetuamente no seu repouso.
Não o repouso
do violino, enquanto a nota dura,
Não isso
apenas, mas a coexistência,
Ou digamos que
o fim precede o princípio,
E que o fim e o
princípio estiveram sempre ali
Antes do
princípio e depois do fim.
E tudo é sempre
agora, As palavras deformam-se,
Estalam e
quebram-se por vezes, sob o fardo,
Sob a tensão,
escorregam, deslizam, perecem,
Definham com
imprecisão, não se mantêm,
Não ficam em
repouso. Vozes estridentes
Ralhando,
troçando, ou apenas tagarelando,
Assaltam-nas
sempre. O Verbo no deserto
É muito atacado
por vozes de tentação,
A sombra que
chora na dança funérea,
O clamoroso
lamento da quimera desconsolada.
O detalhe do
molde é movimento,
Como na figura
dos dez degraus.
O próprio
desejo é movimento
Não desejável
em si;
O próprio amor
é inamovível,
Apenas a causa
e o fim do movimento,
Intemporal, e
sem desejo
Excepto no
aspecto do tempo
Capturado sob a
forma de limitação
Entre o não ser
e o ser.
De repente num
raio de sol
Mesmo enquanto
se move a poeira
Eleva-se o riso
escondido
De crianças na
folhagem
Depressa, aqui,
agora, sempre -
Ridículo o
triste tempo inútil
Que se estende
antes e depois.
- T. S. Eliot, em “Quatro quartetos”. [tradução
Maria Amélia Neto]. Lisboa: Edições Ática, 1983.
Rapsódia sobre
uma noite de vento
T. S. Eliot - foto: (...) |
Meia-noite.
Uma síntese
lunar captura
Todas as fases
da rua,
Sussurrantes
sortilégios lunares
Dissolvem os
planos da memória
E todas as suas
límpidas tramas,
Divisões e
precisos mecanismos.
Cada lampião
que ultrapasso
Pulsa como um
tambor fatídico,
E através das
lacunas do escuro
A meia-noite
golpeia a memória
Como um louco
brande um gerânio morto.
Uma e meia,
O lampião
cuspia,
O lampião
resmungava,
O lampião
dizia: “Olha aquela mulher
Ao teu encontro
hesitante à luz da porta
Que a recorta
como um riso escarninho.
Repara-lhe a
barra do vestido
Rasgada e suja
de areia,
E o canto de
seu olho que se arqueia
Como um grampo
retorcido.”
A memória
expele e disseca
Um turbilhão de
coisas tortas;
Um ramo
tortuoso sobre a praia
Polidamente
carcomido e cinzelado
Como se o mundo
erguesse à superfície
O segredo de
seu esqueleto,
Rígido e
alvadio.
A mola
espatifada no pátio de uma fábrica,
A ferrugem que
se aferra à forma
Que a força
deixou tensa e enrodilhada
E pronta a
abocanhar com uma dentada.
Duas e meia,
O lampião
dizia:
“Observa o gato
que na calha se adelgaça,
Espicha a sua
língua e saboreia
Um naco rançoso
de manteiga.”
Tal a mão do
menino, automática,
Surripiou e
embolsou um brinquedo
Que ao longo do
cais deslizava.
Eu nada podia
ver atrás dos olhos do menino.
Tenho visto
pela rua olhos que tentam
Emergir por
entre iluminadas persianas,
E certa tarde
um caranguejo vi na lama,
Um velho caranguejo
em sua carcaça calcária
A agarrar-se à
ponta do graveto que eu sustinha.
Três e meia,
O lampião
cuspia,
O lampião no
escuro resmungava,
O lampião
zumbia:
“Olha a lua,
La lune ne
garde aucune rancune.
Pisca um olho
tímido,
Sorri pelas
esquinas.
Alisa os
cabelos de gramínea.
A lua perdeu a
memória.
Bexigas
descoradas ulceram-lhe a face.
Suas mãos
retorcem uma rosa de papel
Que recende a
pó e água-de-colônia.
Ela está só, em
companhia
De todos os
antigos eflúvios noturnos
Que lhe cruzam
e entrecruzam o cérebro.”
Aflora a
reminiscência
De secos
gerânios pálidos
E de poeira nas
frinchas,
Aroma de
castanhas pela rua,
E odor de fêmea
nas alcovas clandestinas,
E de cigarros
pelos corredores
E de coquetéis
nos bares.
O lampião
disse:
“Quatro horas,
Eis o número
sobre a porta.
Memória!
Tens a chave,
A luminária
alastra um círculo na escada.
Sobe.
A cama é
franca; a escova de dentes na parede pende,
Põe teus
sapatos junto à porta, dorme, para a vida te talha.
O último talho
da navalha.
- T. S. Eliot, em "Poesia". [tradução
Ivan Junqueira]. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1981.
V. O que disse
o trovão
Após o rubor do
archote no suor dos rostos
Após o silêncio
gelado nos jardins
Após a agonia
em terras pedregosas
Os brados e os
gritos
Da prisão e do
palácio e da ressonância
Do trovão
primaveril em montanhas distantes
Ele que era
vivo agora está morto
Nós que éramos
vivos agora vamos morrendo
Com alguma
paciência
Não há água
aqui mas apenas pedras
Só pedras sem
água e a estrada arenosa
Serpeante no
alto por entre as montanhas
Que são
montanhas de pedras e sem água
Se houvesse
água íamos parar e beber
Não se pode
entre as pedras parar ou pensar
O suor seco e
os pés na areia
Se ao menos
houvesse água entre as pedras
Boca cariada de
montanha morta incapaz de cuspir
Ninguém se pode
aqui erguer nem sentar nem deitar
Nem sequer há
silêncio nas montanhas
Só o trovão
seco e estéril e sem chuva
Nem sequer há
solidão nas montanhas
Mas rostos
vermelhos e ruins zombam e rosnam
Às portas de casas
de lama ressequida
Se houvesse água
E nenhumas
pedras
Se houvesse
pedras
E água também
E água
Uma nascente
Uma poça entre
as pedras
Se ao menos
houvesse o som da água
Não o canto da
cigarra
E da erva seca
Mas o som da
água numa pedra
Onde o
tordo-eremita canta nos pinheiros
Drip drop drip drop drop drop drop
Mas não há água
Valerie Eliot and T.S. Eliot |
Quem é o
terceiro que sempre caminha a teu lado?
Quando conto,
só estamos tu e eu
Mas quando olho
pela estrada branca acima
Há sempre alguém
a caminhar junto de ti
Envolto em
manto castanho, e embuçado
Não sei se será
homem ou mulher
- Mas quem é
esse do outro lado de ti?
Que som é esse
a elevar-se no ar
MU!múrio de
lamento maternal
Quem são essas
hordas embuçadas a alastrar
Em plainos
infindos, a tropeçar na terra ressequida
Apenas
circundada pelo horizonte raso
Que cidade é
essa por cima das montanhas
Que estala e se
refaz c estoira no ar violeta
Torres cadentes
Jerusalém
Atenas Alexandria
Viena Londres
Irreais
Uma mulher
esticou os seus cabelos negros
E tocou música
de suspiros nessas cordas
E morcegos com
rostos de criança à luz violeta
Assobiaram c
bateram as asa
E de cabeça
para baixo rastejaram num muro enegrecido
E voltadas ao
contrário no ar havia torres
A soar
reminiscentes sinos, que davam as horas
E vozes a
cantar de dentro de cisternas vazias e poços esgotados.
Neste arruinado
buraco entre as montanhas
À ténue luz da
lua, a erva canta
Sobre os
túmulos derrubados, em volta da capela
Há a capela
vazia, onde só mora o vento.
Não tem
janelas, c a porta vai e vem,
Ossos secos são
inofensivos.
Só um galo se
elevava na viga mestra
Cô cô ricô cô
cô ricô
Num clarão de
relâmpago. Logo uma rajada húmida
A trazer chuva
O Ganga ia
baixo, e as folhas frouxas
Esperavam a
chuva, enquanto as nuvens negras
Se acumulavam
longe, sobre o Himavant.
A selva
encolhia-se, curvada em silêncio.
Então falou o
trovão
DA
Datta: que foi
que nós demos?
Meu amigo,
sangue a agitar-me o coração
A tremenda
ousadia de um instante de entrega
Que tempos de
prudência jamais revogarão
Foi por isto, c
só por isto, que existimos
O que não
aparecerá nos nossos necrológios
Ou cm memórias
vestidas pela caridosa aranha
Ou sob lacres
quebrados pelo seco procurador
Nos nossos quartos
vazios
DA
Dayadhvam: Eu
ouvi a chave
Por uma vez na
porta c por uma só vez
Nós pensamos na
chave, cada um na sua prisão
A pensar na
chave, cada um confirma uma prisão
Só ao cair da
noite, rumores etéreos
Revivem por um
instante um destroçado Coriolano
DA
Damyata: O
barco respondeu
Ágil, à mão
experiente na vela e no remo
O mar estava
calmo, o teu coração teria respondido
Ágil, se
convidado, batendo obediente
A mãos
conhecedoras
Sentei-me na margem
A pescar, com o
plaino árido atrás de mim
Hei-de eu ao
menos pôr ordem nas minhas terras?
London Bridge
está a cair está a cair está a cair
Poi s 'ascose
nel foco che gli affina
Quando fiam uti
chelidon - Ó andorinha andorinha
Le Prince
d'Aquitaine à la tour abolie
Com estes
fragmentos escorei as minhas ruínas
Pois então
estais arranjados comigo. O Hieronymo ensandeceu
de novo.
Datta. Dayadhvam. Damyata.
Shantih shantih
shantih
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Reader's Guide to T.S. Eliot: a Poem-By-Poem Analysis. New York: Noonday Press, 1953.
“É improvável,
em toda a massa de texto impresso, que as obras mais originais e mais profundas
alcancem os olhos ou chamem a atenção de um grande público, ou mesmo de um bom
número de leitores que são capazes de apreciá-las. As idéias que exaltam uma
tendência atual ou uma atitude emocional chegam mais longe; e outras serão
destorcidas a fim de se adaptarem ao que já é aceito”
- T. S. Eliot, em "Notas para uma definição de
Cultura". [tradução de Geraldo Gerson de Souza; revisão de Plínio Martins Filho].
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“Qualquer religião, enquanto dura e em seu próprio nível, dá um significado aparente à vida, fornece a estrutura para uma cultura, e protege a massa da humanidade do tédio e do desespero.”
- T. S. Eliot, em "Notas para uma definição de Cultura". [tradução de Geraldo Gerson de Souza; revisão de Plínio Martins Filho]. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1988.
Igor Stravinsky e T.S. Eliot - foto: (...) |
T.S. Eliot and Virginia Woolf, by Victoria Brookland |
The Faber Poets ((Frederick) Louis MacNeice; Ted Hughes; T.S. Eliot; W.H. Auden; Sir Stephen Harold Spender). by Mark Gerson |
T.S. Eliot and Valerie Eliot - foto: (...) |
V - East Coker
E assim aqui
estou, no meio caminho, tendo passado vinte anos —
Vinte anos
muito mal gastos, os anos de l'entre deux guerres —
A tentar
aprender a usar as palavras, e cada tentativa
É um inteiro
recomeço e um diferente tipo de fracasso
Pois apenas se
aprendeu a tirar o melhor das palavras
Para aquilo que
já não tem de se dizer, ou para a maneira pela qual
Já não se está
na disposição de o dizer. E assim cada investida
É um novo
começo, uma incursão no inarticulado
Com equipamento
gasto sempre pronto a deteriorar-se
Na desordem
geral de sentimentos imprecisos,
De
indisciplinados pelotões de emoção. E o que há para conquistar,
Por força e
obediência, já antes foi descoberto
Uma vez ou
duas, ou várias vezes, por homens que não podemos ter esperança
De emular — mas
não se trata de competição —
Trata-se apenas
da luta para recuperar o que se perdeu
E achou e
perdeu outra e outra vez: e agora, sob condições
Que parecem
desfavoráveis. Mas talvez nem ganho nem perda.
Para nós, há
apenas a tentativa. O resto não é connosco.
A casa é de
onde se começa. À medida que envelhecemos
O mundo fica
mais estranho, o padrão mais complicado
De mortos e de
vivos. Não o momento intenso
Isolado, sem
antes nem depois,
Mas uma vida
inteira a arder em cada momento
E não a vida
inteira de apenas um homem
Mas de velhas
pedras que não podem ser decifradas.
Há um tempo
para o anoitecer sob a luz das estrelas,
Um tempo para o
anoitecer sob a luz do candeeiro
(A noite com o
álbum das fotografias).
O amor é mais
aproximadamente ele próprio
Quando o aqui e
o agora deixam de importar.
Os homens
quando velhos deviam ser exploradores
Aqui ou acolá
não importa
Temos de estar
quietos e quietos mover-nos
Para uma outra
intensidade
Para uma
ulterior união, um comungar mais fundo
Através do frio
escuro e da desolação vazia,
O grito da
onda, o grito do vento, as vastas águas
Da procelária e
do golfinho. No meu fim está o meu começo.
- T. S. Eliot, em "Quatro quartetos".
[tradução Gualter Cunha]. Lisboa: Editora Relógio D`Água, 2004.
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REFERÊNCIAS E OUTRAS FONTES DE PESQUISA
Em inglês
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). T. S. Eliot - o mago metafísico. Templo Cultural Delfos, julho/2014. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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