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Aforismos em Grande Sertão: veredas

"O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia. Toleima." (pág.1)


"Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade..." (pág.1)


"O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte." (pág.1)


"E me inventei neste gosto de especular idéia." (pág.3)


"Fosse lhe contar... Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens. Até: nas crianças - eu digo. Pois não ditado: menino - trem do diabo? E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento... Estrumes. ... O diabo na rua, no meio do redemoinho." (pág.4)


"Tudo é e não é..." (pág.5)


"O senhor não duvide – tem gente, neste aborrecido mundo, que matam só para ver alguém fazer careta... vem o pão, vem a mão, vem o cão." (pág.5)


"Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo o mundo... Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa. O senhor concedendo, eu digo: para pensar longe, sou cão mestre – o senhor solte em minha frente uma idéia ligeira, e eu rastreio essa por fundo de todos os matos, amém!." (pág.8)


"Uma coisa é pôr idéias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias... Tanta gente – dá susto de saber – nenhum se sossega: todos nascendo, crescendo, se casando, querendo colocação de emprego, comida, saúde, riqueza..." (pág.8)


"Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo o rio... uma só para mim é pouca, talvez não me chegue." (pág.8)


"...universinho nosso aqui. Sertão. O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!" (pág.11)


"Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou." (pág.15)


"Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso..." (pág.17)


"Mas, o senhor sério tenciona devassar a raso este mar de territórios, para sortimento de conferir o que existe? Tem seus motivos. Agora – digo por mim – o senhor vem, veio tarde. Tempos foram, os costumes demudaram. Quase que, de legítimo leal, pouco sobra, nem não sobra mais nada." (pág.17)


"Sempre, nos gerais, é a pobreza, à tristeza. Uma tristeza que até alegra..." (pág.17)


"Os lugares sempre estão aí em si, para confirmar." (pág.19)


"Sertão: estes seus vazios. O senhor vá. Alguma coisa, ainda encontra. Vaqueiros..." (pág.22)


"Eu atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada. ... Viver nem não é muito perigoso?" (pág.26)


"Mas ciúme é mais custoso de se sopitar do que o amor. Coração da gente – o escuro, escuros." (pág.26)


"Mire veja: o que é ruim, dentro da gente, a gente perverte sempre por arredar mais de si. Para isso é que o muito se fala?" (pág.29)


"... – o senhor vá ver. Hoje, mudou de nome, mudaram. Todos os nomes eles vão alterando. ...Nome de lugar onde alguém já nasceu, devia de estar sagrado...." (pág.32)


"... Viver é muito perigoso." (pág.38)


"Olhe: Deus come escondido, e o diabo sai por toda parte lambendo o prato..." (pág.44)


"Vereda em vereda, como os buritis ensinam, a gente varava para após."(pág.45)


"No sertão, até enterro simples é festa." (pág.46)


"A colheita é comum, mas o capinar é sozinho." (pág.46)


"... O estatuto de misérias e enfermidades...." (pág. 47)


"... Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver - ..." (pág.48)


"Por que era que eu estava procedendo à-toa assim? Senhor, sei? O senhor vá pondo seu perceber. A gente vive repetido, o repetido, e, escorregável, num mim minuto, já está empurrado noutro galho. Acertasse eu com o que depois sabendo fiquei, para de lá de tantos assombros... Um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala. Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia." (pág. 51 e 52)


"O sertão é do tamanho do mundo." (pág.60)


"Tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto." (pág.69)


"As pessoas, e as coisas, não são de verdade! E de que é que, a miúde, a gente adverte incertas saudades? Será que, nós todos, as nossas almas já vendemos?" (pág.82)


"O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam..." (pág.82)


“Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe." (pág.82)

"Sertão é o penal, criminal. Sertão é onde homem tem de ter a dura nuca e mão quadrada..." (pág.92)


"O que ele queria era botar na cabeça, duma vez o que os livros dão e não." (pág.109)


"O real roda e põe adiante. - 'Essas são as horas da gente. As outras, de todo tempo, são as horas de todo.” (pág.118)


"Sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando, mas quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois." (pág.118)


"Sozinho sou, sendo, de sozinho careço, sempre nas estreitas horas – isso procuro." (pág.131)


"...digo. Esta vida está cheia de ocultos caminhos. Se o senhor souber, sabe; não sabendo, não me entenderá." (pág.132)


"...Sertão é isto o senhor sabe: tudo incerto, tudo certo." (pág.134)


"Artes que morte e amor têm paragens demarcadas. No escuro..." (pág.135)


"Amigo era o braço, e o aço! Amigo? Aí foi isso que eu entendi? Ah, não; amigo, para mim, é diferente. Não é um ajuste de um dar serviço ao outro, e receber, e saírem por este mundo, barganhando ajudas, ainda que sendo com o fazer a injustiça aos demais. Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou – amigo – é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por que é que é." (pág.155)


"Mas a natureza da gente é muito segundas-e – sábados. Tem dia e tem noite, versáveis, em amizade de amor." (pág.155)


"Só é possível o que em homem se vê, o que por homem passa." (pág.156)


"...Senhor sabe: de bel-ver, bel-fazer e bel-amar." (pág.167)


“Vou para os Gerais! Vou para os Gerais!” (pág.180)


"Vou longe. Se o senhor já viu disso, sabe: se não sabe, como vai saber? São coisas que não cabem em fazer idéia." (pág.183)


"A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero. Ao que, este mundo é muito misturado..." (pág.192)


"Conto ao senhor é o que eu sei e o senhor não sabe; mas principal quero contar é o que eu não sei se sei, e que pode ser que o senhor saiba." (pág.199)


"Que era: que a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesmo nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é." (pág.207)


"Do vento. Do vento que vinha, rodopiado, Redemoinho: senhor sabe – a briga de ventos. Quando um esbarra com outro, e se enrolam, o doido do espetáculo." (pág.213)


"A fantasia, minha agora, nesta conversa – o senhor me atalhe. Se não, o senhor me diga: preto é preto? branco é branco? Ou: quando é que a velhice começa, surgindo de dentro da mocidade." (pág.214)


– “Adianta querer saber muita coisa? O senhor sabia, lá para cima – me disseram. Mas, de repente, chegou neste sertão, viu tudo diverso diferente, o que nunca tinha visto. Sabença aprendida não adiantou para nada...” (pág.226)


– O senhor veio querendo desnortear, desencaminhar os sertanejos de seu costume velho de lei...
– Velho é, o que já está de si desencaminhado. O velho valeu enquanto foi novo...
– O senhor não é do sertão. Não é da terra...” (pág.227)


"Ah, este Norte em remanência: progresso forte, fartura para todos, a alegria nacional!...
A gente tem de sair do sertão! Mas só se sai do sertão é tomando conta dele a dentro..." (pág.243)


"Sertão sempre. Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera: digo." (pág.249)


"Tem trechos em que a vida amolece a gente, tanto, que até um referver de mau desejo, no meio da quebreira, serve como benefício." (pág.251)


"'Quanto mais ando, querendo pessoas, parece que entro mais no sozinho do vago...' - foi o que pensei na ocasião. De pensar assim me desvalendo. Eu tinha culpa de tudo, na minha vida, e não sabia como não ter. Apertou em mim aquela tristeza, da pior de todas, que é a sem razão de motivo; que, quando notei que estava com dor-de-cabeça, e achei que por certo a tristeza vinha era daquilo, isso até me serviu de bom consolo. E eu nem sabia mais o montante que queria, nem aonde eu extenso ia." (pág.251)


"Quando a gente dorme, vira de tudo: vira pedras, vira flor. O que sinto, e esforço em dizer ao senhor, repondo minhas lembranças, não consigo; por tanto é que refiro tudo nestas fantasias. Mas eu estava dormindo era para reconfirmar minha sorte." (pág.251)


"O senhor vê, nos Gerais longe: nuns lugares, encostando o ouvido no chão, se escuta barulho de fortes águas, que vão rolando debaixo da terra. O senhor dorme em sobre um rio?" (pág.255)


"... Sertão é o sozinho... Sertão: é dentro da Gente." (pág.270)


"Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende." (pág.271)


"Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor." (pág.272)


"Tudo o que já foi, é o começo do que vai vir, toda a hora a gente está num compito." (pág.273)


"O sertão tem medo de tudo. Mas eu hoje em dia acho que Deus é alegria e coragem – que Ele é bondade adiante, quero dizer. O senhor escute o buritizal. E meu coração vem comigo." (pág.273)


"Esses Gerais em serras planas, beleza por ser tudo tão grande, repondo a gente pequenino." (pág.276)


"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem." (pág.278)


"O grande-sertão é a forte arma. Deus é um gatilho?" (pág.300)


"O Sertão é sem lugar." (pág.310)


"Catrumanos do sertão. Do fundo do sertão. O sertão: o senhor sabe..." (pág.343)


"Sertão, - se diz -, o senhor querendo procurar, nunca não encontra. De repente, por si, quando a gente não espera, o sertão vem." (pág.355)


"O senhor entende, o que conto assim é resumo; pois, no estado de viver, as coisas vão enqueridas com muita astúcia: um dia é todo para a esperança, o seguinte para a desconsolação."  (pág.361)


“Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras  maiores perguntas" (pág.363)


"O rio não quer ir a nenhuma parte, ele quer é chegar a ser mais grosso, mais fundo." (pág.382)


“O sertão é bom. Tudo aqui é perdido, tudo aqui é achado...” – ele seo Ornelas dizia. – “O sertão é confusão em grande demasiado sossego...” (pág.400)


“Oxalá, o senhor via, o senhor venha... O sertão carece ... Isto consoante que quiser, a esta casa Deus o traga...” (pág.401)


"Pouco se vive, e muito se vê... – Um outro pode ser a gente; mas a gente não pode ser um outro, nem convém..." (pág.405)


"Sempre sei, realmente. Só o que eu quis, todo o tempo, o que eu pelejei para achar, era uma coisa só - a inteira - cujo significado e vislumbrado dela eu vejo que sempre tive. A que era: que existe uma receita, a norma dum caminho certo, estreito, de cada uma pessoa viver - e essa pauta cada um tem - mas a gente mesmo, no comum, não sabe encontrar; como é que, sozinho, por si, alguém ia poder encontrar e saber?" (pág.427)


"[...] minha intenção de saudade vinha voltando. Tudo, nesta vida, é muito cantável." (pág.430)


"E tive vontade de traçar uns versos também: mas que a aragem não ajudava a deduzir. Era uma sinceridade muito dificultosa. Escrevi metade.
Isto é: como é que podia saber que era metade, se eu não tinha ainda ela toda pronta, para medir? Ah, viu?! Pois isto eu digo por riso, por graça; mas também para lhe indicar importante fato: que a carta, aquela, eu somente terminei de escrever, e remeti, quase em data dum ano muito depois... Digo o porquê? Próprio porque não pude. Guarde o senhor: não pude completo. Mas, guarde, por outra: o dia vindo depois da noite-esse é o motivo dos passarinhos... " 
(pág.432)


"...O sertão aceita todos os nomes: aqui é o Gerais, lá é o Chapadão, lá acolá é a caatinga..." (pág.432)


"O sertão não tem janelas nem portas. E a regra é assim: ou o senhor bendito governa o sertão, ou o sertão maldito vos governa... Aquilo eu repeli?" (pág.437)


"Travessia – do sertão – a toda travessia... Sertão foi feito é para ser sempre assim: alegrias!" (pág.443)


"... Só que o sertão é grande ocultado demais..." (pág.446)


- Sertão não é malino nem caridoso, mano oh mano!: - ... ele tira ou dá, ou agrada ou amarga, ao senhor, conforme o senhor mesmo.” (pág.460)


"O sertão não chama ninguém às claras; mais, porém, se esconde e acena. Mas o sertão de repente se estremece, debaixo da gente..." (pág.461)


"... Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e se abaixa. Mas que as curvas dos campos estendem sempre para mais longe. Ali envelhece vento. E os brabos bichos, do fundo dele..." (pág.479)


"Eu sei: quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade..." (pág.488)


"Sei o grande sertão? Sertão: quem sabe dele é urubu, gavião, gaivota, esses pássaros: eles estão sempre no alto, apalpando ares com pendurado pé, com o olhar remedindo a alegria e as misérias todas..." (pág.508).


"Sertanejos, mire e veja: o sertão é uma espera enorme." (pág.509)



"O sertão me produz, depois me engoliu, depois me cuspiu do quente da boca..." (pág.518)


"Tempo que me mediu. Tempo? Se as pessoas esbarrassem, para pensar - tem uma coisa! -: eu vejo é puro tempo vindo de baixo, quieto mole, como a enchente duma água... Tempo é a vida da morte: imperfeição." (pág.520)


- Tu não acha que todo o mundo é doido? Que um só deixa de doido ser é em horas de sentir a completa coragem ou o amor? Ou em horas em que consegue rezar?” (pág.520)


"O senhor vê aonde é o sertão? Beira dele, meio dele?... Tudo sai mesmo de escuros buracos, tirando o que vem do céu." (pág.527)

"Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia." (pág.538)
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Todas as citações desta página se referem a edição que aqui consta:
ROSA, João Guimarães, "Grande Sertão: Veredas". 36ª impressão, Editora Nova Fronteira, 1988.

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© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske
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Página atualizada em 18.12.2015.



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