Clarice Lispector (déc.1960) - foto: Maureen Bisilliat -Acervo da autora IMS |
“Nasci dura, heróica, solitária e em pé. E encontrei meu contraponto na paisagem sem pitoresco e sem beleza. A feiúra é o meu estandarte de guerra. Eu amo o feio com um amor de igual para igual. E desafio a morte. Eu - eu sou a minha própria morte. E ninguém vai mais longe. O que há de bárbaro em mim procura o bárbaro e cruel fora de mim. Vejo em claros e escuros os rostos das pessoas que vacilam às chamas da fogueira. Sou uma árvore que arde com duro prazer. Só uma doçura me possui: a conivência com o mundo. Eu amo a minha cruz, a que doloridamente carrego. É o mínimo que posso fazer de minha vida: aceitar comiseravelmente o sacrifício da noite.”
— Clarice Lispector, em "Água viva". Rio de Janeiro: Artenova, 1973.
"Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma ideia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
A relação professor/aluno seria um dos temas preferidos e recorrentes em toda a sua obra - desde o primeiro romance: Perto do Coração Selvagem. Ela estuda Direito, por contingência. Em seguida, começa a trabalhar na Agência Nacional, como redatora. No jornalismo, conhece e se aproxima de escritores e jornalistas como Antônio Callado, Hélio Pelegrino, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Alberto Dines e Rubem Braga. Os passos seguintes são o jornal A Noite e o início do livro Perto do Coração Selvagem - segundo ela, um processo cercado pela angústia. O romance a persegue. As idéias surgem a qualquer hora, em qualquer lugar. Nasce aí uma das características do seu método de escrita - anotar as idéias a qualquer hora, em qualquer pedaço de papel.
Clarice permanece em Nápoles até 1946. Durante a II Guerra, presta ajuda num hospital de soldados brasileiros. Uma dúvida: um serviço prestado como cidadã brasileira ou como mulher de um diplomata brasileiro? Como escritora, ela sente a presença do sucesso. Por telegrama, sabe do prêmio recebido pelo romance deixado no Brasil. Mantém uma correspondência constante com os amigos que deixara para trás. Em Nápoles, em 44, conclui O Lustre, livro iniciado no Brasil e que seria publicado em 1946. Virgínia, a personagem principal de O Lustre, tem a história narrada desde a infância e também aparece sob o signo do mal, tal como Joana, personagem do primeiro romance. Em O Lustre, Virgínia mantém um relacionamento incestuoso com o irmão, Daniel, com quem faz reuniões secretas em que experimentam verdades, na condição de iniciados especiais. Nessa época, Clarice Lispector se corresponde com Lúcio Cardoso, que não gosta do título do livro: acha-o "mansfieldiano" e um pouco pobre para pessoa tão rica como Clarice.
"Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu...Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma." - Clarice Lispector, em carta. Berna – Suiça, 1947.
Veríssimo e família retornam ao Brasil em 56. Entre os escritores, inicia-se uma vasta correspondência. No primeiro semestre de 59, o casal Gurgel Valente decide-se pela separação. Clarice volta a morar no Rio de Janeiro, com os filhos. Sobre o "conciliar" casamento/literatura, afirmava que escrevia de qualquer maneira, mas o fato de cumprir o seu papel como mulher de diplomata sempre a enjoou muito. Cumpria a obrigação. Nada além. Na volta ao país, mais um período de dificuldades afetivas e financeiras. Ela prefere a solidão ao círculo que tinha relação com o ex-marido. O dinheiro que recebia como pensão não era suficiente, nem os recursos arrecadados com direitos autorais. Clarice retorna ao jornalismo. Escreve contos para revista Senhor, torna-se colunista do Correio da Manhã, em 59, e, no ano seguinte, começa a assinar a coluna Só para Mulheres, como "ghost writer" da atriz Ilka Soares no Diário da Noite. A atividade jornalística seria exercida até 1975. No final dos anos 60, Clarice faz entrevistas para a revista Manchete. Entre 67 e 73 mantém uma crônica semanal no Jornal do Brasil, e, entre 75 e 77, realiza entrevistas para a Fatos e Fotos.
Entre 65 e 67, Clarice dedica-se à educação dos filhos e com a saúde de Pedro, que apresenta um quadro de esquizofrenia, exigindo cuidados especiais. Apesar de traduzida para diversos idiomas e da republicação de diversos livros, a situação econômica de Clarice é muito difícil. Em setembro de 67, acontece o acidente que deixa marcas no corpo e na alma da escritora - um incêndio no quarto que ela tenta apagar com as mãos. Fica gravemente ferida, passa 3 dias entre a vida e a morte. Três dias definidos por ela como "estar no inferno."
Os últimos anos de vida são de intensa produção: A Imitação da Rosa (contos) e Água Viva (ficção), em 1973; A Via Crucis do Corpo (contos) e Onde Estivestes de Noite, também contos, em 74. Visão do Esplendor (crônicas), em 75. Nesse ano, é convidada a participar, em Bogotá, do Congresso Mundial de Bruxaria. Sua participação limita-se à leitura do conto O Ovo e a Galinha. No ano seguinte, Clarice Lispector recebe o 1° prêmio do X Concurso Literário Nacional, pelo conjunto da obra.
Em 77, concede entrevista à TV Cultura, com o compromisso de só ser transmitida após a sua morte. Ela antecipa a publicação de um novo livro, que viria a se chamar A Hora da Estrela, adaptado para o cinema nos anos 80 por Suzana Amaral.
1959 - Separa-se do marido e passa a residir definitivamente, com os filhos, no Rio de Janeiro. Assume a coluna Correio Feminino – Feira de Utilidades, no jornal carioca Correio da Manhã, sob o pseudônimo de Helen Palmer. Publica ainda uma série de contos na revista Senhor.
1976 - Participa, em abril, da II Exposição-Feira Internacional do Autor ao Leitor, em Buenos Aires, Argentina. Neste mesmo mês, recebe o prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal pelo conjunto de sua obra. Grava, no dia 20 de outubro, um depoimento sobre sua vida e obra para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, tendo como entrevistadores Affonso Romano de Sant’Anna, Maria Colasanti e João Salgueiro, diretor do MIS. Em dezembro, é contratada pela revista Fatos e fotospara fazer uma série de entrevistas nos moldes daquelas que efetuara para a revista Manchete, atividade que manteria até outubro do ano seguinte.
1977 - Em fevereiro, é contratada pelo jornal Última Hora para assinar uma crônica semanal. Nesse mesmo mês, Clarice concede entrevista a Júlio Lerner, da TV Cultura de São Paulo, que só seria veiculada no dia 28 de dezembro.
Publicação, em outubro, de seu último livro, a novela A hora da estrela.
Em 9 de dezembro, morre de câncer, às vésperas de completar 57 anos, sendo sepultada no Cemitério Comunal Israelita do Caju.
Ainda em dezembro, seu filho, Paulo doa uma série de documentos manuscritos e datilografadas — incluindo a correspondência pessoal da autora —, à Fundação Casa de Rui Barbosa.
"Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo."
— Clarice Lispector, em “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"É um silêncio que não dorme: é insone: imóvel mas insone; e sem fantasmas. É terrível – sem nenhum fantasma. Inútil querer povoá-lo com a possibilidade de uma porta que se abra rangendo, de uma cortina que se abra e diga alguma coisa. Ele é vazio e sem promessa. Se ao menos houvesse o vento. Vento é ira, ira é vida. Ou neve, que é muda, mas deixa rastro – tudo embranquece, as crianças riem, os passos rangem e marcam. Há uma continuidade que é a vida. Mas este silêncio não deixa provas. Não se pode falar do silêncio como se fala da neve."
— Clarice Lispector, em “Onde estivestes de noite”, 1998.
OBRA DE CLARICE LISPECTOR
:: Seleta de Clarice Lispector. [seleção e texto-montagem Renato Cordeiro Gomes; estudos e notas Amariles Guimarães Hill]. Brasília: INL, 1975.
"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."
— Clarice Lispector, em “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
The Foreign Legion. Stories and Chronicles. Translated by Giovanni Pontiero. Manchester: Carcanet, 1986.
Où Etais-tu pendant la Nuit?. Traduit par Genevive Leibrich et Nicole Biros. Paris: Des Femmes, 1985.
"É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo."
— Clarice Lispector, em “A paixão segundo G.H”, Rio de Janeiro: Rocco, 2009.
CLARICE LISPECTOR NO CINEMA
A hora da estrela. (Brasil, 1985, 96min).
“[...] estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não a saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior.”
- Clarice Lispector, em "A paixão segundo G.H". Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.
“O mundo havia reivindicado a sua própria realidade, e, como depois de uma catástrofe, a minha civilização acabara: eu era apenas um dado histórico. Tudo em mim fora reivindicado pelo começo dos tempos e pelo meu próprio começo. Eu passara a um primeiro plano primário, estava no silêncio dos ventos e na era de estanho e cobre — na era primeira da vida.”
- Clarice Lispector, em "A paixão segundo G.H". Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.
"O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer. A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida - e se parece com o início de uma perdição irrecuperável. Esse fundir-se total é insuportavelmente bom - como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte. Deve-se deixar inundar pela alegria aos poucos - pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida. Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer não é de se brincar com ele. Ele é nós."
"Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida."
— Clarice Lispector, em “A hora da estrela”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
"Outono era a estação de que mais gostava porque não era preciso sair para vê-lo: atrás dos vidros as folhas caíam amareladas no pátio, e isso era o outono."
— Clarice Lispector, na crônica: “Uma italiana na Suíça”, do livro: “Para não esquecer” - Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1999.
"Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome."
"Se eu tivesse que dar um título à minha vida seria: à procura da própria coisa."
— Clarice Lispector, em “Para não esquecer”, Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"Estou habituada a não considerar perigoso pensar."
— Clarice Lispector, em “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"Além do vento há uma outra coisa que sopra."
— Clarice Lispector, em “Para não esquecer”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso."
— Clarice Lispector, em “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
"Não podia me dar ao luxo de pedir, lembrei-me de todas as vezes em que, por ter tido a doçura de pedir, não me deram."
— Clarice Lispector, em “Para não esquecer”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"[…] durmo o sono dos justos por saber que minha vida fútil não atrapalha a marcha do grande tempo."
— Clarice Lispector, em ”A legião estrangeira". Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca."
— Clarice Lispector, em “Aprendendo a viver”. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.
"E quero aceitar minha liberdade sem pensar o que muitos acham: que existir é coisa de doido, caso de loucura. Porque parece. Existir não é lógico."
— Clarice Lispector, em “A hora da estrela”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
"Minha exigência é o meu tamanho, meu vazio é a minha medida."
- Clarice Lispector em "A paixão segundo G.H". Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
"Sozinha, com a miséria de sua luxúria. Que não era sequer luxúria de amor. Era mais grave. Era a luxúria de estar viva."
- Clarice Lispector, em "A maçã no escuro". Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
"[…] é sempre assim que acontece – quando a gente se revela, os outros começam a nos desconhecer."
- Clarice Lispector, em "A maçã no escuro". Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
"Que coisa estranha: até agora eu parecia estar querendo alcançar com a última ponta de meu dedo a própria última ponta de meu dedo – é verdade que nesse extremo esforço, cresci: mas a ponta de meu dedo continuou inalcançável. Fui até onde pude. Mas como é que não compreendi que aquilo que não alcanço em mim… já são os outros? Os outros, que são o nosso mais profundo mergulho!"
- Clarice Lispector, em "A maçã no escuro". Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
"Como se chama
Se recebo um presente dado com carinho por pessoa de quem não gosto - como se chama o que sinto? Uma pessoa de quem não se gosta mais e que não gosta mais da gente - como se chama essa mágoa e esse rancor? Estar ocupada, e de repente parar por ter sido tomada por uma desocupação beata, milagrosa, sorridente e idiota - como se chama o que se sentiu? O único modo de chamar é perguntar: como se chama? Até hoje só consegui nomear com a própria pergunta. Qual é o nome? e este é o nome."
- Clarice Lispector, em “Para não esquecer”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
VÍDEO CRÔNICAS - CLARICE LISPECTOR
Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector
- por Aracy Balabanian.
Persona, de Clarice Lispector por Aracy Balabanian
Perdoando Deus, de Clarice Lispector - por Aracy Balabanian
Um Sopro de Vida - Clarice Lispector
Das vantagens de ser bobo
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir, tocar no mundo.
O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado
por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando”.
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de
sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.
O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.
O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer.
Resultado: não funciona.
Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais vale comprar outro.
Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto estar tranqüilo.
Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros.
Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu.
Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida.
Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás,
não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro,
com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem
por não nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.
É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca.
É que só o bobo é capaz de excesso de amor.
E só o amor faz o bobo.
- Clarice Lispector, em "A descoberta do mundo". Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Entre aspas
Quando mexo em papeis antigos, isto significa exteriormente alguma poeira, e interiormente raiva de mim mesma: porque, nunca me convencendo que tenho má memória, copio entre aspas frases ou textos e depois, passado um tempo, como não anotei, pensando que não esqueceria, o nome dos autores, já não sei quem os disse. Por exemplo:
“Vemos que aqui na terra os opostos se misturam, que um valor positivo se compra ao preço de um valor negativo. E, talvez, a experiência metafísica a mais profunda - a que vem quando o ser toma consciência do absoluto, o que lhe dá estremecimento do sagrado e deixa-o entrever a felicidade, aquela que lhe permite o acesso ao sobrenatural - talvez essa experiência só seja possível quando a alma está tão deslocada que não lhe é mais possível reerguer-se de sua ruína.”
“O que parece incoerente à fria análise pode às vezes estar carregado de sentido para o coração , e este o entende.”
“Não se saberia adquirir o conhecimento intuitivo de um outro universo sem sacrificar uma parte do entendimento que nos é necessário no mundo presente.”
- Clarice Lispector, em “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
A AMIZADE ENTRE CLARICE LISPECTOR E ERICO VERISSIMO
Como é do conhecimento dos senhores, meu marido e eu, não tendo infelizmente religião (por enquanto), criamos nossos filhos na idéia de Deus, mas sem lhes dar rituais definitivos, e à espera de que eles próprios mais tarde se definam. Tendo terminado com algum esforço frase tão comprida, venha ao assunto principal que é o objetivo emocionado desta carta. Desejo perguntar-lhes se acreditam na possibilidade de padrinhos leigos. Eu acredito. No caso do sr. É da sra. Fal também acreditarem, esta carta os convida, em nome de uma amizade perfeita, a serem padrinho e madrinha de Pedro e Paulo. A condição única é continuarem a gostar deles.
A AMIZADE ENTRE CLARICE LISPECTOR E FERNANDO SABINO
“Fernando,
Por ora preciso que você me escreva, preciso que você mande notícias suas, que você diga que não ficou zangada comigo por causa do meu silêncio e conte bastante coisas daí. Para que eu saiba afinal se você continua vivendo, se continuamos vivendo, porque viver é de graça, de favor, ninguém pediu licença para nascer nem pagou entrada no mundo, e já que não temos a quem agradecer tanta gentileza, agradeçamos mutuamente.
Muito obrigado, Clarice”
- Clarice Lispector em "Cartas perto do coração" [uma coletânea de cartas trocadas entre Fernando e Clarice]. Editora Record, 2001.
"Clarice,
Porisso (sic) não te posso mandar nenhuma palavra animadora. Digo apenas que não concordo com você quando você diz que faz arte apenas porque “tem um temperamento infeliz e doidinho”. Tenho uma grande, uma enorme esperança em você e já te disse que você avançou na frente de nós todos, passou pela janela, na frente deles todos. Apenas desejo intensamente que você não avance demais para não cair do outro lado. Você tem de ser equilibrista até o fim da vida. E suando muito, apertando o cabo da sombrinha aberta, com medo de cair, olhando a distância do arame já percorrido e do arame a percorrer — e sempre tendo de exibir para o público um falso sorriso de calma e facilidade. Tem de fazer isso todos os dias, para os outros como se na vida não tivesse feito outra coisa, para você como se fosse sempre a primeira vez, e a mais perigosa. Do contrário seu número será um fracasso."
- Carta de Fernando Sabino, enviada de Nova York em 6 de julho de 1946.. Arquivo Clarice Lispector da Fundação Casa de Rui Barbosa.
CLARICE LISPECTOR NESTE SITE
"Até a liberdade de ser bom assusta os outros."
- Clarice Lispector, em "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres". Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
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:: Clarice Lispector - um mistério
EDITORA
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— Clarice Lispector, em "Água viva". Rio de Janeiro: Artenova, 1973.
Clarice Lispector, pelo pintor Carlos Scliar (1972) |
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. […] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei. "
— Clarice Lispector, em “Aprendendo a viver”. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.
Clarice Lispector . Nasce Haia Lispector, em 10 de dezembro de 1920, em Tchetchelnik, aldeia da Ucrânia, terceira filha do comerciante Pinkouss e de Mania Lispector. O casal já tinha duas outras meninas: Leia, de 9 anos, e Tania, de 5. O nascimento ocorre durante a viagem de emigração da família para o Brasil – os pais, judeus, deixam a Ucrânia três anos após a Revolução Bolchevique de 1917. Pinkouss e a família chegam a Maceió em março de 1922. No país, adotam novos nomes. À exceção de Tania (cujo nome tinha equivalente em português), o pai se torna Pedro; Mania, Marieta; Leia, Elisa; e Haia – que significa vida ou clara –, é chamada Clarice.
Em 1925, a família muda-se de Alagoas para Pernambuco, onde Pedro tenta construir sua independência econômica. Vivem em um casarão na praça Maciel Pinheiro, no bairro da Boa Vista, em Recife, habitado pela comunidade judaica, onde já residiam tios e primos do lado materno de Clarice.
A infância é envolta em sérias dificuldades financeiras. A mãe morre quando ela conta 9 anos de idade. A família então se transfere para o Rio de Janeiro, onde Clarice começa a trabalhar como professora particular de português.
Em 1928, aprende a ler aos sete anos, no Grupo Escolar João Barbalho. A vida modesta da família se refletirá em crônicas como “Banhos de mar” e “Restos do carnaval”, publicadas na coluna que Clarice assume a partir de 1967 no Jornal do Brasil. Muda-se com a família para o segundo andar do número 173 da rua da Imperatriz, ainda no bairro da Boa Vista.
Em 1930, após assistir a uma peça no tradicional teatro Santa Isabel, escreve 'Pobre menina rica', obra em três atos, cujos originais escondeu e acabou perdendo. A sua mãe em 21 de setembro, aos 41 anos. O corpo é sepultado no Cemitério Israelita, em Recife
Clarice Lispector, menina foto: Acervo autora/IMS |
Em 43, conhece e casa-se com Maury Gurgel Valente, futuro diplomata. O casamento dura 15 anos. Dele nascem Pedro e Paulo. No ano seguinte, ela publica Perto do Coração Selvagem. Em plena Segunda Guerra Mundial, o casal vai para a Europa. Perto do Coração Selvagem desnorteia a crítica literaria. Há os que pretendem não compreender o romance, os que procuram influências - de Virgínia Wolf e James Joyce, quando ela nem os tinha lido - e ainda os que invocam o temperamento feminino. Influências?
Perto do Coração Selvagem recebe o prêmio da Fundação Graça Aranha. Nas palavras de Lauro Escorel, as características do romance revelam uma "personalidade de romancista verdadeiramente excepcional, pelos seus recursos técnicos e pela força da sua natureza inteligente e sensível". Já no primeiro livro, identifica-se o estilo muito pessoal da escritora. Nas páginas, Clarice explora pela primeira vez a solidão e a incomunicabilidade humana, através de uma prosa inquieta, próxima da poesia em determinados momentos.
Rumo à Europa, os Gurgel Valente passam por Natal. De lá para Nápoles. Já na saída do Brasil, Clarice mostra-se dividida entre a obrigação de acompanhar o marido e ter de deixar a família e os amigos. Quando chega à Itália, depois de um mês de viagem, escreve: "Na verdade não sei escrever cartas sobre viagens, na verdade nem mesmo sei viajar."
Clarice Lispector - foto: Acervo autora/IMS |
No fim da guerra, Clarice é retratada por De Chirico. Em maio de 45, ela manda uma carta às irmãs Elisa e Tânia, contando o encontro com o artista e falando sobre o final da guerra na Europa.
Quando O Lustre é lançado, Clarice está no Brasil, onde passa um mês. De volta à Europa, transfere-se para a Suiça, "um cemitério de sensações", segundo a escritora. Durante três anos, passa por dificuldades em relação à escrita e à vida pessoal. Em 46, tenta iniciar A Cidade Sitiada, livro que sairia em 49. Vendo-se impossibilitada de escrever, coleciona frases de Kafka, referentes a preguiça, impaciência e inspiração.
Para Clarice, a vida em Berna é de miséria existencial. A Cidade Sitiada acaba sendo escrito na Suíça. Na crônica "Lembrança de uma fonte, de uma cidade", Clarice afirma que, em Berna, sua vida foi salva por causa do nascimento do filho Pedro e por ter escrito um dos livros "menos gostados". Terminado o último capítulo, dá à luz. Nasce então um complemento ao método de trabalho. Ela escreve com a máquina no colo, para cuidar do filho.
Clarice Lispector - foto: Acervo autora/IMS |
O período na Suíça caracteriza-se pela saudade do Brasil, dos amigos e das irmãs. A correspondência que recebe não lhe parece suficiente. Até 52, escreveria contos, gênero em que Clarice Lispector talvez não tenha sido alcançada na literatura brasileira. Alguns Contos foi publicado em 52, quando ela já tinha deixado Berna, passado seis meses na Inglaterra e partido para os Estados Unidos, acompanhando o marido.
Em carta às irmãs, em janeiro de 47, de Paris, Clarice expõe seu estado de espírito... Em 95, o escritor Caio Fernando Abreu, então colunista do jornal O Estado de São Paulo, publicou uma carta que teria sido escrita por Clarice Lispector a uma amiga brasileira. Ele comenta, no artigo, que não há nada que comprove sua autenticidade, a não ser o estilo-não estilo de escrita de Clarice Lispector. Ele dizia: "A beleza e o conteúdo de humanidade que a carta contém valem a pena a publicação..."
Em 1950, na Inglaterra, Clarice inicia o esboço do que viria a ser A Maçã no Escuro, livro publicado em 61. Antes de se fixar em Washington ela passa pelo Brasil. Trabalha novamente em jornais, entre maio e setembro de 52, assinando a página "Entre Mulheres", no jornal O Comício, no Rio, sob o pseudônimo de Tereza Quadros. Em setembro vai para os Estados Unidos, grávida. Durante os oito anos de permanência no país, vem ao Brasil várias vezes. Em fevereiro de 53, nasce Paulo. Ela continua a escrever A Maçã no Escuro, em meio a conflitos domésticos e interiores. Mãe, Clarice Lispector divide seu tempo entre os filhos, A Maçã no Escuro, os contos de Laços de Família e a literatura infantil. O primeiro livro para crianças seria O Mistério do Coelhinho Pensante, uma exigência do filho Paulo. A obra ganharia o prêmio Calunga, em 67, da Campanha Nacional da Criança. Ela ainda escreveria três livros infantis: A Mulher que Matou os Peixes, A Vida Íntima de Laura e Quase de Verdade. Nos Estados Unidos, Clarice Lispector conhece Erico e Mafalda Verissimo, dos quais torna-se grande amiga.
Clarice Lispector - foto: Acervo autora/IMS |
A década de 60 principia com a publicação do livro de contos Laços de Família. Seguir-se-iam as publicações de A Maçã no Escuro, em 61, livro que recebeu o Prêmio Carmen Dolores Barbosa, A Legião Estrangeira, em 62, e A Paixão Segundo G.H., em 64.
Uma escultora de classe alta, que mora num apartamento de cobertura num edifício do Rio, resolve arrumar o quarto de empregada, cômodo que supõe, seja o mais sujo da casa, o que não é verdade. O quarto é claro e límpido. Entre várias experiências desmistificatórias, a crucial: abre a porta do guarda-roupa e se vê diante de uma barata. Embora afirme que o livro não tem nada de experiência pessoal, admite que a obra fugira do seu controle...
Em 69, publica o romance Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres. Em 71, a coletânea de contos Felicidade Clandestina, volume que inclui O Ovo e a Galinha, escrito sob o impacto da morte do bandido Mineirinho, assassinado pela polícia com treze tiros, no Rio de Janeiro.
Clarice Lispector - foto: Acervo autora/IMS |
Em 77, concede entrevista à TV Cultura, com o compromisso de só ser transmitida após a sua morte. Ela antecipa a publicação de um novo livro, que viria a se chamar A Hora da Estrela, adaptado para o cinema nos anos 80 por Suzana Amaral.
Clarice morre, no Rio, no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes do seu 57° aniversário. Queria ser enterrada no Cemitério São João Batista, mas era judia. O enterro aconteceu no Cemitério Israelita do Caju. Postumamente, foram publicados Um Sopro de Vida, Para Não Esquecer e A Bela e a Fera.
:: Fonte:
Leia neste site:
:: Clarice Lispector - a última entrevista
:: Clarice Lispector - fortuna crítica
"Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade da solidão. Quem não é perdido não conhece a liberdade e não a ama.
— Clarice Lispector, em “Água viva”. Rio de Janeiro: Rocco, 2009.
:: Fonte:
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:: Clarice Lispector - a última entrevista
:: Clarice Lispector - fortuna crítica
"Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade da solidão. Quem não é perdido não conhece a liberdade e não a ama.
— Clarice Lispector, em “Água viva”. Rio de Janeiro: Rocco, 2009.
"Ao mesmo tempo que ousava desvelar as profundezas de sua alma em seus escritos, Clarice Lispector costumava evitar declarações excessivamente íntimas nas entrevistas que concedia, tendo afirmado mais de uma vez que jamais escreveria uma autobiografia. Contudo, nas crônicas que publicou no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973, deixou escapar de tempos em tempos confissões que, devidamente pinçadas, permitem compor um auto-retrato bastante acurado, ainda que parcial. Isto porque Clarice por inteiro só os verdadeiramente íntimos conheceram e, ainda assim, com detalhes ciosamente protegidos por zonas de sombra. A verdade é que a escritora, que reconhecia com espanto ser um mistério para si mesma, continuará sendo um mistério para seus admiradores, ainda que os textos confessionais aqui coligidos possibilitem reveladores vislumbres de sua densa personalidade."
- Pedro Karp Vasquez (Clarice Lispector/Editora Rocco)
Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. [...] Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez.
Temperamento impulsivo
“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Lúcida em excesso
Viver e escrever
“Não sei mais escrever, perdi o jeito. Mas já vi muita coisa no mundo. Uma delas, e não das menos dolorosas, é ter visto bocas se abrirem para dizer ou talvez apenas balbuciar, e simplesmente não conseguirem. Então eu quereria às vezes dizer o que elas não puderam falar. Não sei mais escrever, porém o fato literário tornou-se aos poucos tão desimportante para mim que não saber escrever talvez seja exatamente o que me salvará da literatura. O que é que se tornou importante para mim? No entanto, o que quer que seja, é através da literatura que poderá talvez se manifestar.”
Um vislumbre do fim
"Uma vez eu irei. Uma vez irei sozinha, sem minha alma dessa vez. O espírito, eu o terei entregue à família e aos amigos com recomendações. Não será difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão. De tigre, eu preferiria. Meu corpo, esse serei obrigada a levar. Mas dir-lhe-ei antes: vem comigo, como única valise, segue-me como um cão. E irei à frente, sozinha, finalmente cega para os erros do mundo, até que talvez encontre no ar algum bólide que me rebente. Não é a violência que eu procuro, mas uma força ainda não classificada mas que nem por isso deixará de existir no mínimo silêncio que se locomove. Nesse instante há muito que o sangue já terá desaparecido. Não sei como explicar que, sem alma, sem espírito, e um corpo morto — serei ainda eu, horrivelmente esperta. Mas dois e dois são quatro e isso é o contrário de uma solução, é beco sem saída, puro problema enrodilhado em si. Para voltar de ‘dois e dois são quatro’ é preciso voltar, fingir saudade, encontrar o espírito entregue aos amigos, e dizer: como você engordou! Satisfeita até o gargalo pelos seres que mais amo. Estou morrendo meu espírito, sinto isso, sinto...”
:: Textos extraídos do livro "Aprendendo a viver", de Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004. Fonte: Clarice Lispector/Editora Rocco.
"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."
- Pedro Karp Vasquez (Clarice Lispector/Editora Rocco)
CLARICE POR CLARICE - UMA AUTOBIOGRAFIA
(excertos extraídos do livro "Aprendendo a viver", de Clarice Lispector)
(excertos extraídos do livro "Aprendendo a viver", de Clarice Lispector)
A descoberta do amor
“[...] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.
Clarice Lispector - foto: Acervo autora/IMS |
Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. [...] Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez.
Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. [...] Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino.
Pois juro que a vida é bonita.”
Clarice Lispector no período em que morava nosEstados Unidos. foto: Acervo autora/IMS |
“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”
“Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.”
Ideal de vida
“Um nome para o que eu sou, importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser. O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis. Por que foi o destino me levando a escrever o que já escrevi, em vez de também desenvolver em mim a qualidade de lutadora que eu tinha? Em pequena, minha família por brincadeira chamava-me de ‘a protetora dos animais’. Porque bastava acusarem uma pessoa para eu imediatamente defendê-la. [...] No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura o que profundamente se sente e usa a palavra que o exprima. É pouco, é muito pouco.”
“Um nome para o que eu sou, importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser. O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis. Por que foi o destino me levando a escrever o que já escrevi, em vez de também desenvolver em mim a qualidade de lutadora que eu tinha? Em pequena, minha família por brincadeira chamava-me de ‘a protetora dos animais’. Porque bastava acusarem uma pessoa para eu imediatamente defendê-la. [...] No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura o que profundamente se sente e usa a palavra que o exprima. É pouco, é muito pouco.”
“Outra coisa que não parece ser entendida pelos outros é quando me chamam de intelectual e eu digo que não sou. De novo, não se trata de modéstia e sim de uma realidade que nem de longe me fere. Ser intelectual é usar sobretudo a inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto. Ser intelectual é também ter cultura, e eu sou tão má leitora que agora já sem pudor, digo que não tenho mesmo cultura. Nem sequer li as obras importantes da humanidade.
[...] Literata também não sou porque não tornei o fato de escrever livros ‘uma profissão’, nem uma ‘carreira’. Escrevi-os só quando espontaneamente me vieram, e só quando eu realmente quis. Sou uma amadora?
O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.”
“Sou tão misteriosa que não me entendo.”
A certeza do divino
“Através de meus graves erros — que um dia eu talvez os possa mencionar sem me vangloriar deles — é que cheguei a poder amar. Até esta glorificação: eu amo o Nada. A consciência de minha permanente queda me leva ao amor do Nada. E desta queda é que começo a fazer minha vida. Com pedras ruins levanto o horror, e com horror eu amo. Não sei o que fazer de mim, já nascida, senão isto: Tu, Deus, que eu amo como quem cai no nada.”
“Através de meus graves erros — que um dia eu talvez os possa mencionar sem me vangloriar deles — é que cheguei a poder amar. Até esta glorificação: eu amo o Nada. A consciência de minha permanente queda me leva ao amor do Nada. E desta queda é que começo a fazer minha vida. Com pedras ruins levanto o horror, e com horror eu amo. Não sei o que fazer de mim, já nascida, senão isto: Tu, Deus, que eu amo como quem cai no nada.”
Viver e escrever
“Quando comecei a escrever, que desejava eu atingir? Queria escrever alguma coisa que fosse tranqüila e sem modas, alguma coisa como a lembrança de um alto monumento que parece mais alto porque é lembrança. Mas queria, de passagem, ter realmente tocado no monumento. Sinceramente não sei o que simbolizava para mim a palavra monumento. E terminei escrevendo coisas inteiramente diferentes.”
Clarice Lispector - foto: Acervo autora/IMS |
“Até hoje eu por assim dizer não sabia que se pode não escrever. Gradualmente, gradualmente até que de repente a descoberta tímida: quem sabe, também eu já poderia não escrever. Como é infinitamente mais ambicioso. É quase inalcançável.”
A importância da maternidade
“Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O ‘amar os outros’ é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca [...].”
“Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O ‘amar os outros’ é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca [...].”
Viver plenamente
“Eu disse a uma amiga:
— A vida sempre super exigiu de mim.
Ela disse:
— Mas lembre-se de que você também superexige da vida. Sim.”
Um vislumbre do fim
Clarice Lispector - foto: (...) |
:: Textos extraídos do livro "Aprendendo a viver", de Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004. Fonte: Clarice Lispector/Editora Rocco.
"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."
— Clarice Lispector, último bilhete escrito no hospital da Lagoa, Rio de Janeiro, em 7.12.1977.
CRONOLOGIA DA VIDA E OBRA DE CLARICE LISPECTOR
Clarice Lispector, por Pedro Henb |
1920 - nasce Haia Lispector, em 10 de dezembro, em Tchetchelnik, aldeia da Ucrânia, terceira filha do comerciante Pinkouss e de Mania Lispector. O casal já tinha duas outras meninas: Leia, de 9 anos, e Tania, de 5. O nascimento ocorre durante a viagem de emigração da família para o Brasil – os pais, judeus, deixam a Ucrânia três anos após a Revolução Bolchevique de 1917.
1922 - Seu pai consegue, em Bucareste, um passaporte para toda a família no consulado da Rússia. Era fevereiro quando foram para a Alemanha e, no porto de Hamburgo, embarcam no navio "Cuyaba" com destino ao Brasil. Em março: chegada em Maceió da família Lispector, composta por: Pinkhas (37 anos), Mania (31 anos), Leia (9 anos), Tania (6 anos) e Haia (1 ano). Durante a permanência na capital alagoana, seus nomes são abrasileirados para Pedro (Pinkas), Marieta (Mania), Elisa (Leia) e Clarice (Haia) — somente Tania conserva o nome original. São recebidos por Zaina, irmã de Mania e seu marido, José Rabin, que viabilizaram a vinda deles para o Brasil e os hospedaram nos primeiros tempos.
1924 - A família se transfere para Recife, onde Clarice passa a sua infância, em um prédio da Praça Maciel Pinheiro. Estuda no Grupo Escolar João Barbalho, passando daí para o Ginásio Pernambucano.
1930 - Morre a mãe de Clarice no dia 21 de setembro. Nessa época, com nove anos, matricula-se no Collegio Hebreo-Idisch-Brasileiro, onde termina o terceiro ano primário. Estuda piano, hebraico e iídiche. Uma ida ao teatro a inspira e ela escreve "Pobre menina rica", peça em três atos, cujos originais foram perdidos. Seu pai resolve adotar a nacionalidade brasileira.
1935 - Pedro Lispector transfere-se com a família para o Rio de Janeiro, passando Clarice a estudar no Colégio Sílvio Leite. Nesse período lê bastante, não só a literatura romântica de Delly, como também as obras de escritores consagrados como Júlio Dinis, Eça de Queirós, José de Alencar e Dostoievski.
1938 - Prepara-se, no Colégio Andrews, para ingressar na Faculdade de Direito. E nessa época, freqüenta uma pequena biblioteca de aluguel na Rua Rodrigo Silva, onde escolhe os livros pelo título. Descobre, ocasionalmente, a obra de Katherine Mansfield.
1940 - Entra para a Faculdade Nacional de Direito. Publica, no dia 25 de maio, o primeiro trabalho de ficção, o conto Triunfo, no semanário Pan, de Tasso da Silveira. Em 26 de agosto, morte do pai de Clarice. Ela passa a residir no bairro do Catete com a irmã Tania Kaufmann, já casada. Começa a trabalhar como redatora e repórter na Agência Nacional, do Departamento de Imprensa e Propaganda.
1943 – Naturaliza-se brasileira em 12 de janeiro. Em 23 de janeiro, casa-se com Maury Gurgel Valente, seu colega na faculdade de Direito, que em 1940 havia realizado o concurso do Instituto Rio Branco e ingressado na carreira diplomática. Publica da seu primeiro livro, Perto do coração selvagem.
1944 - De 20 de janeiro a 13 de julho, o jovem casal passa uma temporada em Belém, Pará, onde Maury atua como elemento de ligação entre as autoridades estrangeiras ali sediadas durante a Segunda Guerra Mundial. Embarca no dia 19 de julho, para Nápoles, Itália, onde Maury assume o primeiro posto no exterior. Em virtude do conflito, Clarice só chegaria à Itália em agosto, após escalas em Portugal e no norte da África. Perto do coração selvagem recebe o prêmio Graça Aranha de melhor romance de 1943, da Academia Brasileira de Letras - ABL.
1945 - No fim da guerra, Clarice é retratada por De Chirico. Em maio de 45, ela manda uma carta às irmãs Elisa e Tânia, contando o encontro com o artista e falando sobre o final da guerra na Europa. "Eu estava em Roma quando um amigo meu disse que o De Chirico na certa gostaria de me pintar. Perguntou a ele. Aí ele disse que só me vendo. Me viu e disse: eu vou pintar o seu ... o seu retrato. Em 3 sessões ele fez. E disse assim: eu podia continuar pintando interminavelmente esse retrato, mas eu tenho medo de estragar tudo. Eu estava posando para De Chirico quando o jornaleiro gritou: 'È finita la guerra'. Eu também dei um grito, o pintor parou, comentou-se a falta estranha de alegria da gente e continuou-se. Aposto que, no Brasil, a alegria foi maior."
1946 - De 18 de janeiro a 21 de março, passa temporada no Rio de Janeiro, quando aproveita para lançar seu segundo livro, O lustre. Em 15 de abril, o casal Gurgel Valente instala-se em Berna, na Suíça.
1948 - Nasce no dia 10 de setembro, em Berna, o primeiro filho, Pedro.
1949 - O casal Gurgel Valente deixa Berna e passa uma temporada no Brasil, durante a qual Clarice aproveita para lançar seu terceiro livro, A cidade sitiada.
1950–1951 - Passa seis meses na cidade inglesa de Torquay, onde Maury participa da III Conferência Geral de Comércio e Tarifas.
1952 – Assume a página Entre Mulheres do Jornal Comício, sob o pseudônimo de Tereza Quadros. Publica o primeiro livro de contos, Alguns Contos, pelo Ministério de Educação e Saúde. Em setembro, instala-se com a família em Washington, onde Clarice torna-se grande amiga do casal Mafalda e Erico Verissimo, que viriam a ser mais tarde padrinhos de seus dois filhos.
1952-1959 - Reside em Washington.
1953 - Em 10 fevereiro, nasce o segundo filho, Paulo.
1954 - Temporada de férias no Rio de Janeiro, de 15 de junho a 15 de setembro. Sai a edição francesa de Perto do coração selvagem, pela editora Plon.
1958-1959 - Colabora para a revista Senhor.
1958-1959 - Colabora para a revista Senhor.
Retrato a óleo de Clarice Lispector, por Giorgio de Chirico, Roma, em 1945 |
1960 - Publica seu segundo livro de contos, Laços de Família. Torna-se responsável pela coluna Só mulheres, do Diário da noite, na qualidade de ghost writer da atriz Ilka Soares.
1961 – Publica o quarto romance, A mação no escuro. Recebe o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, por Laços de família.
1962 - Recebe o Prêmio Carmem Dolores pelo romance A Maçã no Escuro.
1963 - Profere, no XI Congresso Bienal do Instituto Internacional de Literatura Ibero-Americana promovido pela Universidade do Texas, em Austin, a conferência Literatura de vanguarda no Brasil.
1964 - Publicação do terceiro livro de contos, A Legião Estrangeira, e do quinto romance, A paixão segundo G.H.
1965 - O romance Perto do coração selvagem é encenado por Fauzi Arap no Teatro Maison de France, com interpretação de Glauce Rocha e José Wilker.
1967 - Sobrevive a um incêndio em seu quarto que a deixa três dias entre a vida e a morte e quase provoca a amputação de sua mão direita, fortemente queimada. Torna-se cronista do Jornal do Brasil em agosto. E publica seu primeiro livro infantil, O mistério do coelho pensante.
1968 – Publicação do segundo livro infantil, A mulher que matou os peixes. Inicia, em março, uma série de entrevistas para a revista Manchete, sob o título Diálogos possíveis com Clarice Lispector. Recebe a Ordem do Calunga, concedida pela Campanha Nacional da Criança, pelo livro O mistério do coelho pensante. Engajamento político: em crônica publicada em 6 de abril, declara-se chocada com a morte do estudante Edson Luís. Em 2 de junho, integra o grupo de 300 intelectuais que se dirige ao Palácio Guanabara para cobrar do governador Negrão de Lima uma postura mais democrática. Em 26 de junho, participa, na linha de frente composta por intelectuais e artistas, da Passeata dos Cem Mil contra a ditadura militar.
1969 – Publicação do sexto romance, Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. Premiado com o Golfinho de Ouro do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.
1967 - Sobrevive a um incêndio em seu quarto que a deixa três dias entre a vida e a morte e quase provoca a amputação de sua mão direita, fortemente queimada. Torna-se cronista do Jornal do Brasil em agosto. E publica seu primeiro livro infantil, O mistério do coelho pensante.
1968 – Publicação do segundo livro infantil, A mulher que matou os peixes. Inicia, em março, uma série de entrevistas para a revista Manchete, sob o título Diálogos possíveis com Clarice Lispector. Recebe a Ordem do Calunga, concedida pela Campanha Nacional da Criança, pelo livro O mistério do coelho pensante. Engajamento político: em crônica publicada em 6 de abril, declara-se chocada com a morte do estudante Edson Luís. Em 2 de junho, integra o grupo de 300 intelectuais que se dirige ao Palácio Guanabara para cobrar do governador Negrão de Lima uma postura mais democrática. Em 26 de junho, participa, na linha de frente composta por intelectuais e artistas, da Passeata dos Cem Mil contra a ditadura militar.
Clarice Lispector, por (...) |
1971 - Publicação do quarto livro de contos Felicidade Clandestina.
1973 - Publicação do quinto romance, Água Viva, e do sexto livro de contos, A imitação da rosa. Deixa de colaborar com o Jornal do Brasil em dezembro.
1974 - Publicação do sétimo e do oitavo livro de contos, A via crucis do corpo e Onde estivestes de noite, assim como do terceiro livro infantil, A vida íntima de Laura. Participa, em agosto, Participa do IV Congresso da Nova Narrativa Hispanoamericana, em Cali, na Colômbia. Passa a se dedicar intensamente à tradução, vertendo para o português obras de autores de estilos tão diversos quanto Ibsen, Garcia Lorca, Jack London, Julio Verne, Bella Chagall, Henry Fielding, Agatha Christie, Pascal Lainé e Edgar Allan Poe.
1975 - Publicação da coletânea de crônicas Visão do esplendor — Impressões leves. Publicação do livro de entrevistas De corpo inteiro. E participa do 1º Congresso Mundial de Bruxaria, em Bogotá, com o texto "Literature and Magic". Passa a se dedicar também à pintura.
Clarice Lispector, por Cavalcante |
Publicação, em outubro, de seu último livro, a novela A hora da estrela.
Em 9 de dezembro, morre de câncer, às vésperas de completar 57 anos, sendo sepultada no Cemitério Comunal Israelita do Caju.
Ainda em dezembro, seu filho, Paulo doa uma série de documentos manuscritos e datilografadas — incluindo a correspondência pessoal da autora —, à Fundação Casa de Rui Barbosa.
"Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo."
— Clarice Lispector, em “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Clarice Lispector - foto: Acervo autora/IMS |
— Clarice Lispector, em “Onde estivestes de noite”, 1998.
Livros de Clarice Lispector - foto: Editora Rocco |
Romance
:: Perto do coração selvagem. [Capa de Santa Rosa]. Rio de Janeiro: A Noite, 1944.
:: O lustre. [Capa de Santa Rosa]. Rio de Janeiro: Agir, 1946.
:: A cidade sitiada. [Capa de Santa Rosa]. Rio de Janeiro: A Noite, 1949.
:: A maçã no escuro. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1961.
:: A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 1964.
:: A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 1964.
:: Uma aprendizagem ou Livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Sabiá, 1969.
:: Água viva. Rio de Janeiro: Artenova, 1973.
:: Um sopro de vida. [Publicação Póstuma], Pulsações. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.
Novela
:: A hora da estrela. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977.
:: A hora da estrela. [edição especial c/ áudio livro]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2006.
:: A hora da estrela. [edição especial c/ áudio livro]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2006.
Contos
:: Alguns contos. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1952.
Clarice Lispector, por Viotto |
:: Mistério em São Cristóvão. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1952.
:: Laços de família. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1960.
:: A legião estrangeira. Rio de Janeiro: Ed. do Autor, 1964.
:: Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Sabiá, 1971.
:: A imitação da rosa. Rio de Janeiro: Artenova, 1973.
:: A via crucis do corpo. Rio de Janeiro: Artenova, 1974.
:: Onde estivestes de noite?. Rio de Janeiro: Artenova, 1974.
:: A bela e a fera. [Publicação Póstuma], Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1979.
Infanto-juvenil
Infanto-juvenil
:: O mistério do coelho pensante. Uma Estória Policial para Crianças. [Escrito originalmente em inglês e traduzido por ela mesma]. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1967.
:: A mulher que matou os peixes. Desenhos de Carlos Scliar. Rio de Janeiro: Sabiá, 1968.
:: A vida íntima de Laura. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974; [ilustrações Odilon Moraes]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2012.
:: Quase de verdade. [Publicação Póstuma], Rio de Janeiro: Rocco, 1978.
:: Como nasceram as estrelas. [Publicação Póstuma], 1987; Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2011.
Correspondência
:: Cartas perto do coração/Fernando Sabino, Clarice Lispector. [Organização Fernando Sabino]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2001.
:: Correspondência - Clarice Lispector. [organização Teresa Cristina Montero]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2002.
Crônica
Crônica
:: Visão do esplendor. Impressões Leves. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.
:: Para não esquecer. (Inicialmente publicado em Laços de família). [Publicação Póstuma]. São Paulo: Ática, 1978.
:: A descoberta do mundo. [Publicação Póstuma]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984; Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2008.
Entrevista
:: De corpo inteiro. Rio de Janeiro: Artenova, 1975.
:: A última entrevista de Clarice Lispector. In: Shalom. São Paulo, ano 27, 1992.
:: A última entrevista de Clarice Lispector. In: Shalom. São Paulo, ano 27, 1992.
Antologias e coletâneas
:: Clarice Lispector. [seleção de textos, notas, estudos biográfico, histórico e crítico e exercícios por Samira Youssel Campedelli e Benjamim Abdala Jr.]. São Paulo: Abril Educação, 1981.
:: A Paixão segundo G.H. (Edição crítica).. [Organização Benedito Nunes]. Paris: Association Archieves de la Littérature Latino-Americaine, des Caraibes et Africaines du XXe. Siécle; Brasília: CNPQ, 1988.
:: O primeiro beijo e outros contos. de Clarice Lispector, 1991.
:: A Paixão segundo G.H. (Edição crítica).. [Organização Benedito Nunes]. Paris: Association Archieves de la Littérature Latino-Americaine, des Caraibes et Africaines du XXe. Siécle; Brasília: CNPQ, 1988.
:: O primeiro beijo e outros contos. de Clarice Lispector, 1991.
:: Os melhores contos de Clarice Lispector. [Organização Walnice N. Galvão]. 2001.
:: Aprendendo a viver - crônicas.. [Organização Pedro Karp Vasquez]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004.
:: Aprendendo a viver - crônicas.. [Organização Pedro Karp Vasquez]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004.
:: Aprendendo a viver - imagens. [edição de textos Teresa Montero; edição de imagens Luiz Ferreira]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2005.
:: Outros escritos. [Organização Lícia Manzo; Teresa Montero]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2005.
:: Correio feminino. [Organização Aparecida Maria Nunes]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2006.
:: Clarice Lispector - entrevistas. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2007.
:: Minhas queridas. [Organização Teresa Montero]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2007.
:: Só para mulheres. [Organização Aparecida Maria Nunes]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2008.
:: Clarice na cabeceira - contos. [organização Teresa Montero]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2009; 2010.
:: De amor e amizade. [Crônicas para Jovens], (Org.) VASQUEZ, Pedro Karp. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2010.
:: De escrita e vida. (Crônicas para Jovens).. [organização José Castello]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2010.
:: O Mistério do Coelho Pensante e outros Contos. [Infantil]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2010.
:: Do Rio de Janeiro e Seus Personagens. (Clarice Lispector crônicas para Jovens).. [organização Pedro Karp Vasquez]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2011.
:: Clarice de Cabeceira - romances. [organização José Castello]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2011.
:: Clarice na cabeceira - jornalismo. [organização Aparecida Maria Nunes]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2012.
Depoimento
:: Outros escritos. [Organização Lícia Manzo; Teresa Montero]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2005.
:: Correio feminino. [Organização Aparecida Maria Nunes]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2006.
:: Clarice Lispector - entrevistas. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2007.
Clarice Lispector, por Hugo Enio Braz. |
:: Só para mulheres. [Organização Aparecida Maria Nunes]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2008.
:: Clarice na cabeceira - contos. [organização Teresa Montero]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2009; 2010.
:: De amor e amizade. [Crônicas para Jovens], (Org.) VASQUEZ, Pedro Karp. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2010.
:: De escrita e vida. (Crônicas para Jovens).. [organização José Castello]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2010.
:: O Mistério do Coelho Pensante e outros Contos. [Infantil]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2010.
:: Do Rio de Janeiro e Seus Personagens. (Clarice Lispector crônicas para Jovens).. [organização Pedro Karp Vasquez]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2011.
:: Clarice de Cabeceira - romances. [organização José Castello]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2011.
:: Clarice na cabeceira - jornalismo. [organização Aparecida Maria Nunes]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2012.
:: Clarice Lispector. [Depoimentos, 7], Rio de Janeiro: Fundação Museu da Imagem e do Som, 1991.
"Quando eu me comunico com criança é fácil porque sou muito maternal. Quando me comunico com adulto, na verdade estou me comunicando com o mais secreto de mim mesma, daí é difícil... O adulto é triste e solitário. A criança tem a fantasia muito solta."
- Clarice Lispector, em entrevista concedida ao jornalista Júlio Lerner, do programa “Panorama”, da TV Cultura de São Paulo, em 1 de fevereiro de 1977.
"Não tenho medo nem das chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas. Pois eu também sou o escuro da noite."
— Clarice Lispector, em “A hora da estrela”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
CHRISTIE, Agatha. A Carga. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1974.
"É preciso parar
Estou com saudades de mim. Ando pouco recolhida, atendo demais ao telefone, escrevo depressa, vivo depressa. Onde está eu?
Preciso fazer um retiro espiritual e encontrar-me enfim – enfim, mas que medo – de mim mesma."
- Clarice Lispector, em “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"Quando eu me comunico com criança é fácil porque sou muito maternal. Quando me comunico com adulto, na verdade estou me comunicando com o mais secreto de mim mesma, daí é difícil... O adulto é triste e solitário. A criança tem a fantasia muito solta."
- Clarice Lispector, em entrevista concedida ao jornalista Júlio Lerner, do programa “Panorama”, da TV Cultura de São Paulo, em 1 de fevereiro de 1977.
"Não tenho medo nem das chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas. Pois eu também sou o escuro da noite."
— Clarice Lispector, em “A hora da estrela”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
TRADUÇÕES REALIZADAS POR CLARICE LISPECTOR
Clarice Lispector - foto: Acervo autora/IMS |
CHRISTIE, Agatha. Cai o Pano. O Último Caso de Hercule Poirot. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, s.d.
CHAGALL, Bela. Luzes Acesas. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1975.
CRENSHAW, Mary Ann. A Receita Natural para Ser Bonita. Rio de Janeiro: Artenova, 1975.
LAINÉ, Pascal. A Rendeira. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
MACLEAN, Alistair. A Segunda Aurora. s.n.t.
MENNINGER, Karl. O Pecado de Nossa Época. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.
POE, E. Allan. O Gato Preto e Outras Histórias de Allan Poe. Rio de Janeiro: Ed. de Ouro, s./d."É preciso parar
Estou com saudades de mim. Ando pouco recolhida, atendo demais ao telefone, escrevo depressa, vivo depressa. Onde está eu?
Preciso fazer um retiro espiritual e encontrar-me enfim – enfim, mas que medo – de mim mesma."
- Clarice Lispector, em “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."
— Clarice Lispector, em “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
OBRA DE CLARICE LISPECTOR PUBLICADA NO EXTERIOR
Der Apfel im Dunkeln. [A Maçã no Escuro]. Deutsch von Curt Meyer-Clason. Hamburg: Claasen, 1964.
Der Apfel im Dunkeln. [A Maçã no Escuro]. Aus dem brasilianischen Portugiesisch von Curt Meyer-Clason. Frankfurt: Suhrkamp, 1983.
Un Apprendistato o II Libro dei Piaceri. Traduzione e introduzione di Rita Desti; con una nota di Luciana Stegagno Picchio. Torino: La Rosa, 1981.
Un Aprendizaje o El Libro de los Praceres. Traducción de Juan García Gayo. Buenos Aires: Sudamericana, 1973.
The Appel in the Dark. Translated by Gregory Rabassa. London: Virago, 1985.
Le Bâtisseur de Ruines. [A Maçã no Escuro]. Traduit du brésilien par Violante do Canto. Paris: Gallimard, 1970.
Blizko divokého srdce zivota. [Perto do Coração Selvagem]. Prelozila Pavla Lidmilová. Praha: Odeon, 1973.
La Belle et la Bête. [A Bela e a Fera]; Suivi de Passion des Corps. [A Via Crucis do Corpo]. Traduit par Claude Farny. Paris, Des Femmes, 1985.
Cerca del Corazón Salvaje. Traducción de Basilio Losada. Madrid: Alfaguara, 1977.
Discovering the World. Translated and introduced by Giovanni Pontiero. Manchester: Carcanet, 1992.
Eine Lehre oder Das Buch der Lüste. [Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres]. Aus dem brasilianischen Portugiesisch von Christiane Schrübbers. Berlim: Lilith, 1982.
Eine Lehre oder Das Buch der Lüste. [Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres]. Aus dem brasilianischen Portugiesisch von Christiane Schrübbers. Berlim: Lilith, 1982.
Family Ties. Translated by Giovanni Pontiero. Austin: University of Texas, 1984.
L'Heure de l'Étoile. Traduit par Marguerite Wuncher. Paris: Des Femmes, 1984.
The Hour of the Star. Translated by Giovanni Pontiero. Manchester: Carcanet, 1986.
Liens de Famille. Traduit par Jacques et Teresa Thiérot. Paris: Des Femmes, 1989.
Le Lustre. Traduit par Jacques et Teresa Thiérot. Paris: Des Femmes, 1990.
La Manzana en la Oscuridad. Traducción de Juan García Gayo. Buenos Aires: Sudamericana, 1974.
Die Nachahmung der Rose. [A imitaçâo da Rosa]. Übertragung aus dem Brasilianischen und Nachwort von Curt Meyer-Clason. Frankfurt: Suhrkamp, 1982.
Nahe dem wilden Herzen. [Perto do Coração Selvagem]. Aus dem brasilianischen Portugiesisch von Ray-Güde Mertin. Frankfurt: Suhrkamp, 1983.
Okmzik pro hvezdu. [A hora da estrela]. In: Pet brazilsky'ch novel. Praha: Odeon, 1981.
La Passion selon G.H. Traduit par Claude Farny. Paris: Des Femmes, 1978.
La Passione secondo G.H. Traduit par Adelina Alletti; con una nota di Angelo Morino. Torino: La Rosa, 1982.
Près du Coeur Sauvage. Traduit par Denise Teresa Moutonnier. (1ª edição francesa, com capa ilustrada por Henri Matisse) Paris: Plon, 1954.
Près du Coeur Sauvage. Traduit par Regina Helena de Oliveira Machado. Paris: Des Femmes, 1981.
Nahe dem wilden Herzen (Perto do coração selvagem), Tradução original Ray-Güde Mertin; revista nesta edição por Corinna Santa Cruz. Alemanha: Editora Schöffling & Co, 2013.
Der Lüster (O lustre), Tradução de Luis Ruby. Alemanha: Editora Schöffling & Co, 2013.
Das geheimnis des denkenden hasen und andere geschichten (O mistério do coelho pensante e outros contos).. [infanto-juvenil], Tradução de Marlen Eckl, Alemanha: Editora Hentrich&Hentrich, 2013.
"Não ter nenhum segredo - e no entanto manter o enigma"
- Clarice Lispector, em "Onde estivestes de noite". Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1999.
"De repente as coisas não precisam mais fazer sentido. Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim. O não sentido das coisas me faz ter um sorriso de complacência. De certo tudo deve estar sendo o que é."
— Clarice Lispector, em “Um sopro de vida”. Rio de Janeiro: Rocco, 2010.
"Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver."
— Clarice Lispector, em carta a uma amiga brasileira - Berna, 2 de janeiro de 1947.
"Que se há de fazer com a verdade de que todo mundo é um pouco triste e um pouco só."
— Clarice Lispector, em “A hora da estrela”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro."
- Clarice Lispector, em "Correspondências - Clarice Lispector". [Organização Teresa Montero]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2002, p. 165.
GRAVAÇÕES DE CRÔNICAS E TEXTOS DE CLARICE LISPECTOR
Nahe dem wilden Herzen (Perto do coração selvagem), Tradução original Ray-Güde Mertin; revista nesta edição por Corinna Santa Cruz. Alemanha: Editora Schöffling & Co, 2013.
Der Lüster (O lustre), Tradução de Luis Ruby. Alemanha: Editora Schöffling & Co, 2013.
Das geheimnis des denkenden hasen und andere geschichten (O mistério do coelho pensante e outros contos).. [infanto-juvenil], Tradução de Marlen Eckl, Alemanha: Editora Hentrich&Hentrich, 2013.
"Não ter nenhum segredo - e no entanto manter o enigma"
- Clarice Lispector, em "Onde estivestes de noite". Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1999.
"De repente as coisas não precisam mais fazer sentido. Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim. O não sentido das coisas me faz ter um sorriso de complacência. De certo tudo deve estar sendo o que é."
— Clarice Lispector, em “Um sopro de vida”. Rio de Janeiro: Rocco, 2010.
"Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver."
— Clarice Lispector, em carta a uma amiga brasileira - Berna, 2 de janeiro de 1947.
Clarice Lispector - foto: Acervo autora/IMS
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— Clarice Lispector, em “A hora da estrela”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro."
- Clarice Lispector, em "Correspondências - Clarice Lispector". [Organização Teresa Montero]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2002, p. 165.
GRAVAÇÕES DE CRÔNICAS E TEXTOS DE CLARICE LISPECTOR
Seleção de contos feita por Paulinho Lima. Interpretação de Aracy Balabanian; Luz da Cidade, coleção Poesia Falada.
:: Doze lendas brasileiras - Clarice Lispector. [V. 1] (2000).
Idealização e produção de Paulinho Lima; Luz da Cidade.
:: Clarice Lispector - A mulher que matou os peixes. [V. 4]. (2000).
Idealização e produção de Paulinho Lima; Luz da Cidade.
:: A descoberta do mundo. (2002).
Seleção de crônicas feita por Teresa Montero, interpretação de Aracy Balabanian; Luz da Cidade, Coleção Os cronistas.
:: La passion selon G. H. (sd).
Gravação de trechos do romance A paixão segundo G. H. pela atriz Anouk Aimée; Des Femmes, Paris.
:: Liens de famille. (sd).
Gravação de contos do livro Laços de família por Chiara Mastroianni; Des Femmes, Paris.
"Como vão vocês? Estão na carência ou na fartura?"
"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."
— Clarice Lispector,em “A paixão segundo G.H”, Rio de Janeiro: Rocco, 2009.
"Como vão vocês? Estão na carência ou na fartura?"
— Clarice Lispector, EM “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Clarice Lispector, desenho de Alfredo Ceschiatti, Paris, Jan. 1947. |
Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."
— Clarice Lispector,em “A paixão segundo G.H”, Rio de Janeiro: Rocco, 2009.
"É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo."
— Clarice Lispector, em “A paixão segundo G.H”, Rio de Janeiro: Rocco, 2009.
Direção: Suzana Amaral
Elenco: Marcélia Cartaxo, José Dumont e Tamara Taxman.
Direção: José Antônio Garcia
Elenco: Antônio Fagundes, Marieta Severo, Cláudia Jimenez, Carla Camurati, Sérgio Mamberti e outros.
Chamada final. (Brasil/Alemanha/China e EUA, 1994).
Direção: Ana Maria Magalhães
Elenco: Claudia Ohana, Guilherme Leme e outros.
Ruído de passos. (Brasil, 1995 - curta-metragem)
Direção: Denise Tavares Gonçalves
Clandestina felicidade. (Brasil, 1998 - curta metragem que trata da infância da autora).
Direção: Beto Normal e Marcelo Gomes
Elenco: Luisa Phebo.
Macabéia. (Brasil, 2000 -curta-metragem).
Direção de Erly VieiraJr., Lizandro Nunes e Virgínia Jorge
Aeroporto em o embarque. (Brasil, 2002 - curta-metragem).
Direção: Nicole Algranti
Elenco: Marcélia Cartaxo.
O ovo. (Brasil, 2003 - curta-metragem).
Direção: Nicole Algranti
Roteiro: Luiz Carlos Lacerda.
"Saiba também calar-se para não se perder em palavras."
— Clarice Lispector, em “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
ESPECIAIS NA TELEVISÃO SOBRE CLARICE LISPECTOR
"Saiba também calar-se para não se perder em palavras."
— Clarice Lispector, em “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
ESPECIAIS NA TELEVISÃO SOBRE CLARICE LISPECTOR
:: Feliz Aniversário. Rede Globo, 1978.
:: Especial Clarice Lispector. TV Cultura, 1999.
:: A hora da estrela. Rede Globo, 2003.
CLARICE LISPECTOR - ADAPTAÇÕES PARA O TEATRO
Direção: Fauzi Arap
Elenco: Glauce Rocha, José Wilker e outros.
Um sopro de vida. (1979).
Direção: José Possi Neto
Elelnco: Marilena Ansaldi
A hora da estrela. (1984)
Direção: Naum Alves de Souza
Elenco: Maria Bethânia
A paixão segundo G. H. (1989).
Direção: Cibele Forjaz.
Elenco: Marilena Ansaldi.
A pecadora queimada e os anjos harmoniosos. (1992).
Direção: José Antônio Garcia
Elenco: Sérgio Mambertti e outros
A mulher que matou os peixes. (1994).
Direção: Lúcia Coelho
Elenco: Zezé Polessa
A mulher que matou os peixes. (1998) .
Adaptação: Adriane Azenha
A hora da estrela. (1998) .
Direção: Roberto Vignatti
Elenco: Alexandra Tavares
Que mistérios tem Clarice?. (1998).
Direção: Luiz Arthur Nunes
Elenco: Rita Elmôr (monólogo)
Clarice - Coração selvagem. (1998) .
Direção: Maria Lucya de Lima
Elenco: Aracy Balabanian
Direção: Ulisses Cohn
Elenco: Cia. Delas de Teatro
A hora da estrela. (2001) .
Direção: Marcus Vinicius Faustini
Elenco: Marcélia Cartaxo e outros
A descoberta do mundo. (2001) .
Direção: Marco Antonio Rodrigues
Elenco: Cia. Delas de Teatro
A hora da estrela. (2002) .
Direção: Naum Alves de Souza
Elenco: Célia Borbes, Ester Lacava e Edgar Jordão
A paixão segundo G. H. (2002).
Adaptação: Fauzi Arap
Direção de Enrique Diaz
Elenco: Mariana Lima
Amor - Uma ode ao universo feminino de Clarice Lispector. (2002).
Adaptação: Marta Baião e Conceição Acioli
Direção de Conceição Acioli
Elenco: Marta Baião.
Água viva. (2003).
Direção: Maria Pia Scognamiglio
Elenco: Susana Vieira
Encontro com Clarice. (2003).
Direção: Ítalo Rossi
Elenco: Ester Jablonski
EXCERTOS, CITAÇÕES E AFORISMOS DE CLARICE LISPECTOR
EXCERTOS, CITAÇÕES E AFORISMOS DE CLARICE LISPECTOR
Por não estarem distraídos
Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.
- Clarice Lispector, em “Para não esquecer”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Clarice, no jardim Derby, veste luto pela morte da mãe. Recife, 1930 - foto: Acervo autora/IMS |
- Clarice Lispector, em “Para não esquecer”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
“[...] estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não a saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior.”
- Clarice Lispector, em "A paixão segundo G.H". Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.
“O mundo havia reivindicado a sua própria realidade, e, como depois de uma catástrofe, a minha civilização acabara: eu era apenas um dado histórico. Tudo em mim fora reivindicado pelo começo dos tempos e pelo meu próprio começo. Eu passara a um primeiro plano primário, estava no silêncio dos ventos e na era de estanho e cobre — na era primeira da vida.”
- Clarice Lispector, em "A paixão segundo G.H". Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.
Glauce Rocha, Clarice Lispector e Dirce Migliaccio.nos bastidores da peça 'Perto do Coração Selvagem' 1965 - foto: Carlos Moskovics |
- Clarice Lispector, em trecho da crônica "O nascimento do prazer".
"Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida."
— Clarice Lispector, em “A hora da estrela”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
"Outono era a estação de que mais gostava porque não era preciso sair para vê-lo: atrás dos vidros as folhas caíam amareladas no pátio, e isso era o outono."
— Clarice Lispector, na crônica: “Uma italiana na Suíça”, do livro: “Para não esquecer” - Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1999.
"Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome."
— Clarice Lispector, em "Perto do coração selvagem". Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
"[…] milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a mediocridade."
"[…] milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a mediocridade."
— Clarice Lispector, em “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Da esq. para a dir.: Fauzi Arap, José Wilker, Glauce Rocha,Clarice Lispector e Dirce Migliaccio, nos bastidores da peça'Perto do Coração Selvagem' 1965 - foto: Carlos Moskovics |
— Clarice Lispector, em “Para não esquecer”, Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"Acontece que sou tão ávida da vida, tanto quero dela e aproveito-a tanto e tudo é tanto – que me torno imoral. Isso mesmo: sou imoral."
— Clarice Lispector, em “Para não esquecer”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"Estou habituada a não considerar perigoso pensar."
— Clarice Lispector, em “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"Além do vento há uma outra coisa que sopra."
— Clarice Lispector, em “Para não esquecer”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso."
— Clarice Lispector, em “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
Clarice Lispector - foto: Acervo autora/IMS |
— Clarice Lispector, em “Para não esquecer”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"[…] durmo o sono dos justos por saber que minha vida fútil não atrapalha a marcha do grande tempo."
— Clarice Lispector, em ”A legião estrangeira". Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca."
— Clarice Lispector, em “Aprendendo a viver”. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.
"E quero aceitar minha liberdade sem pensar o que muitos acham: que existir é coisa de doido, caso de loucura. Porque parece. Existir não é lógico."
— Clarice Lispector, em “A hora da estrela”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
Clarice Lispector, ilustração por Andrea Ebert Ilustrações. |
"Mas já que se há de escrever, que ao menos não esmaguem as palavras nas entrelinhas."
— Clarice Lispector, em “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"E ninguém é eu. ninguém é você. Esta é a solidão."
— Clarice Lispector, em “Água viva”. Rio de Janeiro: Rocco, 2009.
"Não sou uma coisa que agradece ter se transformado em outra. Sou uma mulher, sou uma pessoa, sou uma atenção, sou um corpo olhando pela janela. Assim como a chuva não é grata por não ser uma pedra. Ela é uma chuva. Talvez seja isso que se poderia chamar de estar vivo."
— Clarice Lispector, em “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"E ninguém é eu. ninguém é você. Esta é a solidão."
— Clarice Lispector, em “Água viva”. Rio de Janeiro: Rocco, 2009.
"Não sou uma coisa que agradece ter se transformado em outra. Sou uma mulher, sou uma pessoa, sou uma atenção, sou um corpo olhando pela janela. Assim como a chuva não é grata por não ser uma pedra. Ela é uma chuva. Talvez seja isso que se poderia chamar de estar vivo."
— Clarice Lispector, em “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
“[…] Não quero a meia-luz, não quero a cara benfeita, não quero o expressivo. Quero o inexpressivo. Quero o inumano dentro da pessoa; não, não é perigoso, pois de qualquer modo a pessoa é humana, não é preciso lutar por isso: querer ser humano me soa bonito demais.
Quero o material das coisas. A humanidade está ensopada de humanização, como se fosse preciso; e essa falsa humanização impede o homem e impede a sua humanidade. Existe uma coisa que é mais ampla, mais surda, mais funda, menos boa, menos ruim, menos bonita. Embora também essa coisa corra o perigo de, em nossas mãos grossas, vir a se transformar em “pureza”, nossas mãos que são grossas e cheias de palavras.”
- Clarice Lispector, em "A paixão segundo G.H". Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.
"Minha exigência é o meu tamanho, meu vazio é a minha medida."
- Clarice Lispector em "A paixão segundo G.H". Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
"Sozinha, com a miséria de sua luxúria. Que não era sequer luxúria de amor. Era mais grave. Era a luxúria de estar viva."
"[…] é sempre assim que acontece – quando a gente se revela, os outros começam a nos desconhecer."
- Clarice Lispector, em "A maçã no escuro". Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
"Que coisa estranha: até agora eu parecia estar querendo alcançar com a última ponta de meu dedo a própria última ponta de meu dedo – é verdade que nesse extremo esforço, cresci: mas a ponta de meu dedo continuou inalcançável. Fui até onde pude. Mas como é que não compreendi que aquilo que não alcanço em mim… já são os outros? Os outros, que são o nosso mais profundo mergulho!"
- Clarice Lispector, em "A maçã no escuro". Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
Clarice na passeata contra a ditadura militar, no Rio de Janeiro, em 22 de junho de 1968.
Da esq. para a dir: Carlos Scliar, Oscar Niemeyer, Glauce Rocha, Ziraldo e Milton Nascimento. |
"Há pessoas que têm vergonha de viver: são os tímidos, entre os quais me incluo. Desculpem, por exemplo, estar tomando lugar no espaço. Desculpem eu ser eu. Quero ficar só! grita a alma do tímido que só se liberta na solidão. Contraditoriamente quer o quente aconchego das pessoas. Vai, Carlos, vai ser gauche na vida. (Não sei se estou citando Drummond do modo certo, escrevo de cor.)"
— Clarice Lispector, na crônica “Vergonha de viver”, no livro “Aprendendo a viver”. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.
Clarice ao lado dos filhos Pedro e Paulo, déc. 50 - foto: Acervo autora/IMS |
"Como se chama
Se recebo um presente dado com carinho por pessoa de quem não gosto - como se chama o que sinto? Uma pessoa de quem não se gosta mais e que não gosta mais da gente - como se chama essa mágoa e esse rancor? Estar ocupada, e de repente parar por ter sido tomada por uma desocupação beata, milagrosa, sorridente e idiota - como se chama o que se sentiu? O único modo de chamar é perguntar: como se chama? Até hoje só consegui nomear com a própria pergunta. Qual é o nome? e este é o nome."
- Clarice Lispector, em “Para não esquecer”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Família Lispector (pais, Clarice e as irmãs) - déc. 1920 em Recife PE foto Acervo da Clarice Lispector no Museu de Literatura Brasileira (AMLB) da Fundação Casa Rui Barbosa |
VÍDEO CRÔNICAS - CLARICE LISPECTOR
Se eu fosse eu, de Clarice Lispector - por Aracy Balabanian.
Das vantagens de ser bobo, de Clarice Lispector - por Aracy Balabanian
Das vantagens de ser bobo
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir, tocar no mundo.
O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado
por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando”.
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de
sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.
O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.
O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Clarice Lispector - foto: (...) |
Resultado: não funciona.
Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais vale comprar outro.
Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto estar tranqüilo.
Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros.
Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu.
Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida.
Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás,
não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro,
com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem
por não nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.
É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca.
É que só o bobo é capaz de excesso de amor.
E só o amor faz o bobo.
- Clarice Lispector, em "A descoberta do mundo". Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Entre aspas
Quando mexo em papeis antigos, isto significa exteriormente alguma poeira, e interiormente raiva de mim mesma: porque, nunca me convencendo que tenho má memória, copio entre aspas frases ou textos e depois, passado um tempo, como não anotei, pensando que não esqueceria, o nome dos autores, já não sei quem os disse. Por exemplo:
“Vemos que aqui na terra os opostos se misturam, que um valor positivo se compra ao preço de um valor negativo. E, talvez, a experiência metafísica a mais profunda - a que vem quando o ser toma consciência do absoluto, o que lhe dá estremecimento do sagrado e deixa-o entrever a felicidade, aquela que lhe permite o acesso ao sobrenatural - talvez essa experiência só seja possível quando a alma está tão deslocada que não lhe é mais possível reerguer-se de sua ruína.”
“O que parece incoerente à fria análise pode às vezes estar carregado de sentido para o coração , e este o entende.”
“Não se saberia adquirir o conhecimento intuitivo de um outro universo sem sacrificar uma parte do entendimento que nos é necessário no mundo presente.”
- Clarice Lispector, em “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
DEPOIMENTOS DE AMIGOS E CRÍTICOS SOBRE CLARICE LISPECTOR
"É difícil definir bem a própria irmã. Sempre fomos muito unidas, Clarice, Tânia e eu. Lembro-me que na infância, Clarice demonstrou logo ser independente, imaginativa e cheia de ternura. Tivemos todas uma vida muito agradável e feliz no Recife, e temos muitas saudades daqueles tempos. Embora casadas, e muitas vezes morando muito longe, estávamos sempre em contato umas com as outras, seja por carta, ou telefone. O que mais impressiona em Clarice não é fato de ser irmã, e ótima como sempre foi, mas como tornou-se mãe maravilhosa. Sua maior qualidade é ser absolutamente realizada em casa. Sua sensibilidade extremamente apurada capta as sutis reações dos filhos, atendendo-os e amparando-os em todas as situações. Fora isso, gosta de música, não é gulosa, e é sobretudo um tanto frugal. Não é política, e antes de tudo, é uma dedicadíssima dona de casa. Provando assim que uma mulher pode se realizar em dois setores diferentes em grande escala."
“Ao mesmo tempo que ousava desvelar as profundezas de sua alma em seus escritos, Clarice Lispector costumava evitar declarações excessivamente íntimas nas entrevistas que concedia, tendo afirmado mais de uma vez que jamais escreveria uma autobiografia. Contudo, nas crônicas que publicou no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973, deixou escapar de tempos em tempos confissões que, devidamente pinçadas, permitem compor um auto-retrato bastante acurado, ainda que parcial. Isto porque Clarice por inteiro só os verdadeiramente íntimos conheceram e, ainda assim, com detalhes ciosamente protegidos por zonas de sombra. A verdade é que a escritora, que reconhecia com espanto ser um mistério para si mesma, continuará sendo um mistério para seus admiradores, ainda que os textos confessionais aqui coligidos possibilitem reveladores vislumbres de sua densa personalidade.”
Elisa-Tania-e-Clarice - foto: Acervo autora/IMS |
- Elisa Lispector, sobre Clarice em depoimento para a matéria Na Berlinda, publicada em março de 1963 em jornal carioca ainda não identificado [provavelmente Última Hora, a julgar pelo padrão gráfico]. Arquivo Clarice Lispector da Fundação Casa de Rui Barbosa.
“Clarice não delata, não conta, não narra e nem desenha – ela esburaca um túnel onde de repente repõe o objeto perseguido em sua essência inesperada.”
- Carlos Drummond de Andrade
“Ela não veio para esclarecer o mistério, veio para reafirmá-lo.”
- Ester Schwartz
“Clarice Lispector: Essa mulher, nossa contemporânea, brasileira (...) não são livros o que ela nos dá, mas o viver salvo pelos livros, narrativas, construções que nos fazem recuar. E então entramos, por sua escrita-janela, na beleza assustadora de aprender a ler: e passamos, através do corpo, para o outro lado do eu. Amar a verdade do que é vivo, aquilo que parece ingrato aos olhos narcisos, (...) amar a origem, interessar-se pessoalmente pelo impessoal, pelo animal, pela coisa.”
- Hélène Cixous, in Entre l’Écriture
“Marcada pela solidão. Marcada pelo grande amor de sua vida. Marcada pela luta constante contra a quase miséria material. Marcada pelas mãos maceradas pelo fogo, em defesa da vida de um filho, e pela sombra da insanidade rondando a vida do outro."
- Tristão de Athayde
Clarice Lispector - foto: Acervo autora/IMS |
- Pedro Karp Vasquez
"Ela se deixava conduzir por uma espécie de compulsiva intuição. Era o seu tanto adivinha. Ninguém passa por ela impune. Ela liga e religa o mistério da vida e o religioso silêncio da morte. Clarice é uma aventura espiritual."
- Otto Lara Resende
"Em toda obra dessa grande escritora alguma coisa íntima está sempre queimando: suas luzes nos chegam variadas e exatas, mas são luzes de um incêndio que está sendo continuamente elaborado por trás de sua contenção. Esse fogo é o segredo íntimo e derradeiro de Clarice. É o seu segredo de mulher e de escritora."
- Lúcio Cardoso
"Quer me mandar algumas coisas? Você é poeta, Clarice querida. Até hoje tenho remorso do que disse a respeito dos versos que você me mostrou. Você interpretou mal minhas palavras. Você tem peixinhos nos olhos, você é bissexta. Faça versos, Clarice, e se lembre de mim. Você nunca é falante, barulhenta. O que você escreve nunca dói nem fere os ouvidos. Você sabe escrever baixo. E sua assinatura, Clarice, é você inteirinha: Clara...Clarinha...Clarice."
- Manuel Bandeira.
“Ler ou reler você é sempre uma operação feliz: descobrem-se coisas, aprimora-se o conhecimento das descobertas. Senti isto percorrendo De corpo inteiro e Visão do esplendor. Obrigado, amiga!”
- Carlos Drummond de Andrade (poeta).
“Querida Clarice:
Que impressão me deixou o seu livro!
Tentei exprimi-la nestas palavras:
– Onde estivestes de noite
Que de manhã regressais
com o ultramundo nas veias,
entre flores abissais?
– Estivemos no mais longe
que a letra pode alcançar:
lendo o livro de Clarice,
mistério e chave do ar.
Obrigado, amiga! O mais carinhoso abraço da admiração do Carlos” - Carta de Carlos Drummond de Andrade, de Rio, 5 de maio de 1974. * Onde estiveste de noite.
“Querida Clarice:
Que impressão me deixou o seu livro!
Tentei exprimi-la nestas palavras:
– Onde estivestes de noite
Que de manhã regressais
com o ultramundo nas veias,
entre flores abissais?
– Estivemos no mais longe
que a letra pode alcançar:
lendo o livro de Clarice,
mistério e chave do ar.
Obrigado, amiga! O mais carinhoso abraço da admiração do Carlos” - Carta de Carlos Drummond de Andrade, de Rio, 5 de maio de 1974. * Onde estiveste de noite.
A AMIZADE ENTRE CLARICE LISPECTOR E ERICO VERISSIMO
Carta escrita por Clarice a Mafalda e Erico Verissimo
Manuscrito da Carta de Clarice ao Sr. e Sra. Verissimo |
Abaixo transcrição da carta
Washington, 7 de setembro de 1956,
Sexta-feira, 10 horas a.m.
Prezados Sr. e Sra. E. Verissimo,
Mafalda e Erico Verissimo com Clarice Lispector e os filhos
- Washington/EUA, set/1956 - foto: Acervo autora/IMS
|
No caso dos senhores não aceitarem, no hard feelings. Mas a verdade é que, por três anos, vocês têm sido os padrinhos deles, por tácito, espontâneo e comum acordo. Restaria apenas legalizar uma situação que aos poucos estava se tornando escandalosa.
Se eu disser que a idéia já me havia ocorrido mais de uma vez, os senhores hão de duvidar. Pois acreditem. Quando o senhor E. Veríssimo aventou a hipótese, meu coração se rejubilou, e, quando o digo, não estou brincando.
Aí pois fica o nosso convite. A resposta deverá ser dada antes do embarque, pois, em caso de uma afirmativa, quero anunciá-la às crianças.
Na esperança do convite ser aceito, ouso assinar.
Comadre Clarice
(sempre tive secreta inveja da comadre Luísa)
Fonte: Istoé (18/9/2002), in 'Cartas poéticas'.
Por ora preciso que você me escreva, preciso que você mande notícias suas, que você diga que não ficou zangada comigo por causa do meu silêncio e conte bastante coisas daí. Para que eu saiba afinal se você continua vivendo, se continuamos vivendo, porque viver é de graça, de favor, ninguém pediu licença para nascer nem pagou entrada no mundo, e já que não temos a quem agradecer tanta gentileza, agradeçamos mutuamente.
Muito obrigado, Clarice”
- Clarice Lispector em "Cartas perto do coração" [uma coletânea de cartas trocadas entre Fernando e Clarice]. Editora Record, 2001.
“Clarice,
Gostei de saber que você está com a alma mais sossegada. O sentimento de grandeza que você acha que está perdendo talvez agora é que você esteja adquirindo. Sua predisposição para ficar calada não é propriamente uma novidade: a novidade é estar aceitando, inclusive, o silêncio. É bom isso, dá mais paciência, mais compreensão, dá mais sentimento às coisas — e dá grandeza.
Fernando”
Fernando”
- Fernando Sabino em carta a Clarice Lispector (Rio de Janeiro, 27 de outubro de 1953). em "Cartas perto do coração". Rio de Janeiro: Editora Record, 2001.
"Clarice,
Porisso (sic) não te posso mandar nenhuma palavra animadora. Digo apenas que não concordo com você quando você diz que faz arte apenas porque “tem um temperamento infeliz e doidinho”. Tenho uma grande, uma enorme esperança em você e já te disse que você avançou na frente de nós todos, passou pela janela, na frente deles todos. Apenas desejo intensamente que você não avance demais para não cair do outro lado. Você tem de ser equilibrista até o fim da vida. E suando muito, apertando o cabo da sombrinha aberta, com medo de cair, olhando a distância do arame já percorrido e do arame a percorrer — e sempre tendo de exibir para o público um falso sorriso de calma e facilidade. Tem de fazer isso todos os dias, para os outros como se na vida não tivesse feito outra coisa, para você como se fosse sempre a primeira vez, e a mais perigosa. Do contrário seu número será um fracasso."
- Carta de Fernando Sabino, enviada de Nova York em 6 de julho de 1946.. Arquivo Clarice Lispector da Fundação Casa de Rui Barbosa.
Clarice Lispector - foto: Acervo autora/IMS |
MANUSCRITO
A página manuscrita aqui reproduzida contém uma frase belíssima que não chegou à versão publicada de A Hora da Estrela e que menciona Macabéa, talvez uma de suas personagens mais famosas. São apenas três frases: “Macabéa não sabia como se defender da vida numa grande cidade. Ela que tinha um sonho impossível: o de um dia possuir uma árvore. Que árvore, que nada: não havia nem grama sob os seus pés.”
Sua editora principal era sua grande amiga Olga Borelli, que ajudou Clarice a organizar suas últimas grandes obras-primas como Água Viva, A Hora da Estrela, assim como o póstumo Sopro de Vida. A recente biografia de Clarice por Benjamin Moser cita Olga Borelli comentando o método editorial da grande escritora: “Respirar junto, é respirar junto ... Porque existe uma lógica na vida, nos acontecimentos, como existe num livro. Eles se sucedem, é tão fatal que seja assim. Porque se eu pegasse um fragmento e quisesse colocar mais adiante, eu não encontraria onde colocar. É como um quebra-cabeça. Eu pegava os fragmentos todos e ia juntando, guardava tudo num envelope. Era um pedaço de cheque, era um papel, um guardanapo […] Eu tenho algumas coisas em casa ainda, dela, e até com cheiro de batom dela. Ela limpava o lábio e depois punha na bolsa […] de repente, ela escrevia uma anotação. Depois de coletar todos estes fragmentos, comecei a perceber, comecei a numerar. Então, não é difícil estruturar Clarice, ou é infinitamente difícil, a não ser que você comungue com ela e já tenha o hábito da leitura.”
Manuscrito inédito de Clarice Lispector. publicado na Revista Piauí. |
Clarice Lispector, seu marido Maury Gurgel Valente, Apolonio de Carvalho, Samuel Wainer e Daniel, cunhado de Apolonio. Paris, 1946. (Foto: Acervo pessoal de Pinky Wainer) |
OS MANUSCRITOS DE CLARICE LISPECTOR: ALQUIMIA DA ESCRITA
por Fábio Frohwein
A relação entre Clarice Lispector e os livros iniciou-se envolta na fantasia característica da infância. A Clarice-menina-leitora imaginava que livros nascessem já prontos, como seres: “Eu pensava, olha que coisa! Eu pensava que livro é como árvore, é como bicho: coisa que nasce! Não descobria que era um autor! Lá pelas tantas, eu descobri que era um autor. Aí eu disse: ‘Eu também quero.’”[1] O percurso literário de Clarice inaugurou-se, pois, com o desvendamento da magia do livro e com o desejo de tê-la para si, de manipulá-la – arrebatamento de aprendiz de feiticeiro, como diria Mario Quintana.
Sendo assim, a biblioteca pessoal e a ficção de Clarice convergem simbolicamente num ponto muito peculiar da história afetiva da escritora – o encantamento pelo livro. Repositório da escrita, o livro fascinou a Clarice-menina-leitora, fascínio esse que a Clarice-adulta-escritora, ao longo de sua produção ficcional, gradativamente desconstruiu, como criança curiosa que desmonta o brinquedo na ânsia pela origem da luz e da música.
Mais do que uma coleção de livros e papéis, o acervo Clarice Lispector carrega marcas da escritora e assinala leituras, gostos literários, influências e momentos de sua história. O acervo começou a ser depositado no Instituto Moreira Salles (IMS) em 2004 por Paulo Gurgel Valente, filho mais novo de Clarice. Nesse ano, o IMS recebeu um primeiro lote de itens arquivísticos: originais manuscritos dos romances A hora da estrela (1977) e Um sopro de vida (1978); original datiloscrito encadernado, com anotações e emendas autógrafas, dos contos de “A bela e a fera” (1979); correspondência ativa e passiva; e 896 livros de assuntos variados, desde truques de mágica, astronomia e matemática a filosofia, psicologia e, naturalmente, literatura.
por Fábio Frohwein
"Minha anarquia obedece subterraneamente a uma lei
onde lido oculta com astronomia, matemática e mecânica."
- Clarice Lispector, em "Água viva".
A relação entre Clarice Lispector e os livros iniciou-se envolta na fantasia característica da infância. A Clarice-menina-leitora imaginava que livros nascessem já prontos, como seres: “Eu pensava, olha que coisa! Eu pensava que livro é como árvore, é como bicho: coisa que nasce! Não descobria que era um autor! Lá pelas tantas, eu descobri que era um autor. Aí eu disse: ‘Eu também quero.’”[1] O percurso literário de Clarice inaugurou-se, pois, com o desvendamento da magia do livro e com o desejo de tê-la para si, de manipulá-la – arrebatamento de aprendiz de feiticeiro, como diria Mario Quintana.
Sendo assim, a biblioteca pessoal e a ficção de Clarice convergem simbolicamente num ponto muito peculiar da história afetiva da escritora – o encantamento pelo livro. Repositório da escrita, o livro fascinou a Clarice-menina-leitora, fascínio esse que a Clarice-adulta-escritora, ao longo de sua produção ficcional, gradativamente desconstruiu, como criança curiosa que desmonta o brinquedo na ânsia pela origem da luz e da música.
Mais do que uma coleção de livros e papéis, o acervo Clarice Lispector carrega marcas da escritora e assinala leituras, gostos literários, influências e momentos de sua história. O acervo começou a ser depositado no Instituto Moreira Salles (IMS) em 2004 por Paulo Gurgel Valente, filho mais novo de Clarice. Nesse ano, o IMS recebeu um primeiro lote de itens arquivísticos: originais manuscritos dos romances A hora da estrela (1977) e Um sopro de vida (1978); original datiloscrito encadernado, com anotações e emendas autógrafas, dos contos de “A bela e a fera” (1979); correspondência ativa e passiva; e 896 livros de assuntos variados, desde truques de mágica, astronomia e matemática a filosofia, psicologia e, naturalmente, literatura.
Os originais de A hora da estrela e Um sopro de vida depositados no IMS são os únicos manuscritos claricianos de que se tem notícia até o momento. Em termos de texto ficcional, a Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), que em 1977 recebeu o arquivo da escritora, possui apenas datiloscritos: Água viva (1973), com emendas autógrafas, “À procura de uma dignidade”, “A bela e a fera”, “Desespero e desenlace às três da tarde”, “Mendigo” e “Tentação”.
Uma segunda pergunta que esses manuscritos suscitam tem a ver diretamente com o método de escrita de Clarice. Seu processo de trabalho dividia-se basicamente em duas etapas – inspiração e concatenação:
Quando eu estou escrevendo alguma coisa, eu anoto a qualquer hora do dia ou da noite, coisas que me vêm. O que se chama inspiração, né? Agora, quando eu estou no ato de concatenar as inspirações, aí eu sou obrigada a trabalhar diariamente. [4]
Na fase inicial de elaboração do texto, Clarice anotava inspirações, isto é, ideias e frases que lhe vinham prontas. Quando chegava a um volume de material satisfatório, partia para a segunda etapa de criação – concatenava as inspirações. Se a primeira fase poderia demorar meses ou anos, pois dependia de livre inspiração, o momento seguinte era de trabalho ininterrupto, não obstante interferências, como as dos filhos Pedro e Paulo Gurgel Valente, que brincavam por perto. Nessa etapa de atividade disciplinada e constante, a escritora abandonava lápis ou caneta e optava pela máquina datilográfica, que passou a usar no colo desde os tempos de Washington, na década de 1950. Com esse novo hábito, adquiriu mobilidade e deixou de se isolar em um cômodo da casa. Assim, escrevia sentada no sofá da sala, próxima dos filhos, de modo a eles não sofrerem a ausência da mãe escritora.
Clarice deveria destruir as inspirações à medida que as absorvia em textos mais maduros e desenvolvidos, deixando a primeira fase e passando à segunda. No entanto, com relação a A hora da estrela e Um sopro de vida, vemos que a escritora, mesmo em etapa avançada de criação, utilizou-se do manuscrito. Por quê?
A resposta para nossas duas perguntas talvez esteja no depoimento de Olga Borelli, gravado em 1979 e exibido pela TV Cultura em 2006, no programa 30 Anos Incríveis da TV Cultura, com apresentação de Gastão Moreira:
(…) Clarice, depois de um certo tempo, ela dizia que sentia muita preguiça de datilografar, que não era hábito dela, porque ela nunca escreveu, nunca fez manuscritos, ela sempre datilografava seus trabalhos e ultimamente então, como eu ia dizendo, ela passou a não sentir vontade, ela dizia que estava com preguiça, mas nós sabíamos, depois ficamos sabendo que era motivada pela doença, que ela desconhecia que ela tinha, mas que já estava minando todo o seu organismo.[5]
__________
NOTAS
[1] GOTLIB, Nádia Battella. Clarice: uma vida que se conta. 4. ed. São Paulo: Editora Ática, 1995. pp. 86-87.
[2] GOTLIB, Nádia Battella. Op. cit., p. 172.
[3] A última entrevista de Clarice Lispector. In: Shalom. São Paulo, ano 27, 1992.
[4] A última entrevista de Clarice Lispector. Op. cit.
[5] Depoimento de Olga Borelli. São Paulo: TV Cultura, 1979.
ACERVO CLARICE LISPECTOR
O Acervo - A maior parte do que hoje compõe o Acervo Clarice Lispector chegou ao IMS em 2004. Dentre os documentos recebidos, estão os únicos originais manuscritos de A hora da estrela e Um sopro de vida de que se tem notícia até o momento. Além da raridade, esses dois conjuntos documentam o modo de escrita de Clarice, cuja etapa inicial consistia em anotações em pedaços de papel, folhas de cheque e envelopes. Comprovam ainda o que a autora costumava afirmar: alterava pouco, ou não alterava, os textos de rascunho. Nesse lote estão os contos originais datiloscritos incluídos em A bela e a fera, livro publicado após sua morte, em 1979; correspondência entre ela e o marido, Maury Gurgel Valente; cartas que não foram enviadas a Simeão Lopes e a destinatário não identificado.
Do Acervo, também faz parte a biblioteca pessoal, constituída por 896 livros de assuntos variados, desde truques de mágica, astronomia e matemática a filosofia, psicologia e, naturalmente, literatura, além de periódicos. Os livros de sua biblioteca não só documentam referências literárias e ideológicas presentes na obra clariciana, como refletem fases da vida da escritora. Há, por exemplo, gramáticas, obras didáticas e dicionários de inglês, língua que Clarice estudou com professor particular em Torquay (Inglaterra), onde morou de 1950 a 1951.
Em 2009, 2010 e 2011, a Coordenadoria de Literatura recebeu ainda outros conjuntos, livros e, especialmente, dois quadros pintados pela própria autora, que fizeram parte da exposição inaugurada em setembro de 2009, Clarice pintora, junto a 16 telas pertencentes ao arquivo de Clarice na Fundação Casa de Rui Barbosa. O último lote foi depositado em janeiro de 2012, composto de caderno de bordo datado de 1944, que está aqui disponível, cópia do datiloscrito de Atrás do pensamento (precursor de Água viva) e o filme “Perto de Clarice”, de João Carlos Horta.
Atualmente, o arquivo de Clarice Lispector no Instituto Moreira Salles consta de 293 documentos e biblioteca de mais de oitocentos livros. Ambos os grupos estão integralmente catalogados e disponíveis para consulta de pesquisadores.
Além da raridade, os dois conjuntos de originais manuscritos guardados no IMS destacam-se por documentar o método de escrita de Clarice. Desde os primeiros trabalhos, a escritora adotara a anotação imediata, pois se esquecia facilmente das ideias que lhe ocorriam ao longo do dia. Assim, “passa a carregar um caderninho, onde vai fazendo as suas anotações. São as notas, soltas, que, em grande quantidade, e referentes ao mesmo assunto, constituirão já o seu romance (…).”[2]
Com o tempo, as anotações seriam feitas em qualquer tipo de papel, que estivesse facilmente à mão, e até por outra pessoa, a quem Clarice solicitava ajuda, quando impossibilitada de escrever. Olga Borelli, amiga da escritora, conta que, às vezes, durante uma sessão de cinema, anotava para Clarice uma ideia ou frase. Olga diz ainda que a escritora, em meio a afazeres domésticos, subitamente pedia à empregada que lhe fizesse anotações. Por isso, vemos, entre os originais de A hora da estrela e de Um sopro de vida, anotações em pedaços de papel, folhas de cheque e envelopes. Curiosamente, há um envelope com dois pares de marcas de batom. Tentativa de registro do instante-já ou pura vaidade clariciana?
Outra questão em torno desses manuscritos é que contradizem, pelo menos à primeira vista, certa tendência que Clarice tinha para se desfazer de originais. A própria escritora, na famosa entrevista concedida a Júlio Lerner em 1o de fevereiro de 1977, para o programa Panorama Especial da TV Cultura, afirmou destruir seus papéis:
[Clarice] (…) Aí comecei a escrever um conto que não acabava mais. Terminei rasgando e jogando fora.
Página do original datiloscrito de “Mais dois bêbados”, conto publicado em A bela e a fera [1979]. As emendas são de Clarice. Acervo Clarice Lispector/IMS. |
Outra questão em torno desses manuscritos é que contradizem, pelo menos à primeira vista, certa tendência que Clarice tinha para se desfazer de originais. A própria escritora, na famosa entrevista concedida a Júlio Lerner em 1o de fevereiro de 1977, para o programa Panorama Especial da TV Cultura, afirmou destruir seus papéis:
[Clarice] (…) Aí comecei a escrever um conto que não acabava mais. Terminei rasgando e jogando fora.
[Júlio Lerner] – Isso acontece ainda agora de você produzir alguma coisa e rasgar?
Nas biografias de Clarice, narra-se que a escritora desde muito cedo destruía seus manuscritos. Além de outros casos, como o do conto interminável mencionado na entrevista acima, há o episódio em que, aos 9 anos, Clarice se empolgou com um espetáculo no teatro Santa Isabel, no Recife (PE), e escreveu Pobre menina rica, peça em três atos em duas folhas de caderno escolar. Logo após, rasgou tudo, porque temia que descobrissem o texto. Os originais de A hora da estrela e de Um sopro de vida, mais do que raros, impõem-se como legítimos sobreviventes ao ímpeto “charticida” de Clarice. Mas o que lhes garantiu sobrevida frente aos demais, que foram eliminados?
Nas biografias de Clarice, narra-se que a escritora desde muito cedo destruía seus manuscritos. Além de outros casos, como o do conto interminável mencionado na entrevista acima, há o episódio em que, aos 9 anos, Clarice se empolgou com um espetáculo no teatro Santa Isabel, no Recife (PE), e escreveu Pobre menina rica, peça em três atos em duas folhas de caderno escolar. Logo após, rasgou tudo, porque temia que descobrissem o texto. Os originais de A hora da estrela e de Um sopro de vida, mais do que raros, impõem-se como legítimos sobreviventes ao ímpeto “charticida” de Clarice. Mas o que lhes garantiu sobrevida frente aos demais, que foram eliminados?
[Clarice] Eu deixo de lado… Não, eu rasgo sim.[3]
Original manuscrito de A hora da estrela (1977). Acervo Clarice Lispector/IMS. |
Original manuscrito de Um sopro de vida (1978). Acervo Clarice Lispector/IMS. |
Quando eu estou escrevendo alguma coisa, eu anoto a qualquer hora do dia ou da noite, coisas que me vêm. O que se chama inspiração, né? Agora, quando eu estou no ato de concatenar as inspirações, aí eu sou obrigada a trabalhar diariamente. [4]
Na fase inicial de elaboração do texto, Clarice anotava inspirações, isto é, ideias e frases que lhe vinham prontas. Quando chegava a um volume de material satisfatório, partia para a segunda etapa de criação – concatenava as inspirações. Se a primeira fase poderia demorar meses ou anos, pois dependia de livre inspiração, o momento seguinte era de trabalho ininterrupto, não obstante interferências, como as dos filhos Pedro e Paulo Gurgel Valente, que brincavam por perto. Nessa etapa de atividade disciplinada e constante, a escritora abandonava lápis ou caneta e optava pela máquina datilográfica, que passou a usar no colo desde os tempos de Washington, na década de 1950. Com esse novo hábito, adquiriu mobilidade e deixou de se isolar em um cômodo da casa. Assim, escrevia sentada no sofá da sala, próxima dos filhos, de modo a eles não sofrerem a ausência da mãe escritora.
Clarice deveria destruir as inspirações à medida que as absorvia em textos mais maduros e desenvolvidos, deixando a primeira fase e passando à segunda. No entanto, com relação a A hora da estrela e Um sopro de vida, vemos que a escritora, mesmo em etapa avançada de criação, utilizou-se do manuscrito. Por quê?
A resposta para nossas duas perguntas talvez esteja no depoimento de Olga Borelli, gravado em 1979 e exibido pela TV Cultura em 2006, no programa 30 Anos Incríveis da TV Cultura, com apresentação de Gastão Moreira:
(…) Clarice, depois de um certo tempo, ela dizia que sentia muita preguiça de datilografar, que não era hábito dela, porque ela nunca escreveu, nunca fez manuscritos, ela sempre datilografava seus trabalhos e ultimamente então, como eu ia dizendo, ela passou a não sentir vontade, ela dizia que estava com preguiça, mas nós sabíamos, depois ficamos sabendo que era motivada pela doença, que ela desconhecia que ela tinha, mas que já estava minando todo o seu organismo.[5]
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NOTAS
[1] GOTLIB, Nádia Battella. Clarice: uma vida que se conta. 4. ed. São Paulo: Editora Ática, 1995. pp. 86-87.
[2] GOTLIB, Nádia Battella. Op. cit., p. 172.
[3] A última entrevista de Clarice Lispector. In: Shalom. São Paulo, ano 27, 1992.
[4] A última entrevista de Clarice Lispector. Op. cit.
[5] Depoimento de Olga Borelli. São Paulo: TV Cultura, 1979.
* Artigo originalmente publicado em 23 ago. 2011, no Blog do IMS.
Ferreira Gullar lê o poema que fez para Clarice Lispector
CURIOSIDADES
Escreve a crítica francesa Hélène Cixous: "Se Kafka fosse mulher. Se Rilke fosse uma brasileira judia nascida na Ucrânia. Se Rimbaud tivesse sido mãe, se tivesse chegado aos cinqüenta. (...). É nessa ambiência que Clarice Lispector escreve. Lá onde respiram as obras mais exigentes, ela avança. Lá, mais à frente, onde o filósofo perde fôlego, ela continua, mais longe ainda, mais longe do que todo o saber."
Em artigo publicado no jornal The New York Times, no dia 11 de mar.2005, a escritora foi descrita como o equivalente de Kafka na literatura latino-americana. A afirmação foi feita por Gregory Rabassa, tradutor para o inglês de Jorge Amado, Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa e Clarice Lispector.
"Medo do desconhecido
Então isso era a felicidade. E por assim dizer sem motivo. De início se sentiu vazia. Depois os olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta? Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a mediocridade."
- Clarice Lispector, em “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor. Há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata."
— Clarice Lispector, no livro “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
"Medo do desconhecido
Então isso era a felicidade. E por assim dizer sem motivo. De início se sentiu vazia. Depois os olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta? Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a mediocridade."
- Clarice Lispector, em “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Clarice Lispector - jornal do Brasil |
"Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor. Há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata."
— Clarice Lispector, no livro “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
O Acervo - A maior parte do que hoje compõe o Acervo Clarice Lispector chegou ao IMS em 2004. Dentre os documentos recebidos, estão os únicos originais manuscritos de A hora da estrela e Um sopro de vida de que se tem notícia até o momento. Além da raridade, esses dois conjuntos documentam o modo de escrita de Clarice, cuja etapa inicial consistia em anotações em pedaços de papel, folhas de cheque e envelopes. Comprovam ainda o que a autora costumava afirmar: alterava pouco, ou não alterava, os textos de rascunho. Nesse lote estão os contos originais datiloscritos incluídos em A bela e a fera, livro publicado após sua morte, em 1979; correspondência entre ela e o marido, Maury Gurgel Valente; cartas que não foram enviadas a Simeão Lopes e a destinatário não identificado.
Biblioteca Pessoal de Clarice Lispector - foto: Acervo IMS |
Em 2009, 2010 e 2011, a Coordenadoria de Literatura recebeu ainda outros conjuntos, livros e, especialmente, dois quadros pintados pela própria autora, que fizeram parte da exposição inaugurada em setembro de 2009, Clarice pintora, junto a 16 telas pertencentes ao arquivo de Clarice na Fundação Casa de Rui Barbosa. O último lote foi depositado em janeiro de 2012, composto de caderno de bordo datado de 1944, que está aqui disponível, cópia do datiloscrito de Atrás do pensamento (precursor de Água viva) e o filme “Perto de Clarice”, de João Carlos Horta.
Atualmente, o arquivo de Clarice Lispector no Instituto Moreira Salles consta de 293 documentos e biblioteca de mais de oitocentos livros. Ambos os grupos estão integralmente catalogados e disponíveis para consulta de pesquisadores.
IMS - Rio de Janeiro
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
CEP 22451-040 – Rio de Janeiro-RJ
Tel.: 21 3284-7400 – Fax: 21 2239-5559
Horário de visitação: De terça a sexta, das 13h às 20h
Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h
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"Futuro de uma delicadeza
- Mamãe vi um filhote de furacão, mas tão filhotinho ainda, tão pequeno ainda, que só fazia mesmo era rodar bem de leve umas três folhinhas na esquina..."
- Clarice Lispector, em "Para não esquecer". Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Clarice Lispector, por Álvaro Franca |
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- Clarice Lispector, em "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres". Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
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* Informações compiladas em livros da autora, sites da Internet, e no Caderno de Literatura Brasileira - Instituto Moreira Salles.
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GOTLIB, Nádia Battella. Clarice - Fotobiografia. São Paulo: Imprensa Oficial, 2008.
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Clarice Lispector - um mistério. Templo Cultural Delfos, abril/2011. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Clarice Lispector - um mistério. Templo Cultural Delfos, abril/2011. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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