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Rubem Braga - o caçador de ventos e melancolias

Rubem Braga foto: (...)


"Sou um homem quieto, o que eu gosto é ficar num banco sentado, entre moitas, calado, anoitecendo devagar, meio triste, lembrando umas coisas, umas coisas que nem valiam a pena lembrar."
- Rubem Braga 


"É um pouco aflitivo pensar nisso, e imaginar que, acima dos gestos e das palavras, o sentimento talvez valha alguma coisa; e que a ternura e o bem-querer devem ter um instinto certo e tocar naquelas zonas indefiníveis da alma em que nem os analistas conseguem explicar nada. Ora, pois; mesmo às cegas, burramente, amemos!"
- Rubem Braga, "Amemos burramente" - Um cartão de Paris.



Rubem Braga, por Baptistão
BIOGRAFIA
Rubem Braga, considerado por muitos o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, ES, a 12 de janeiro de 1913. Iniciou seus estudos naquela cidade, porém, quando fazia o ginásio, revoltou-se com um professor de matemática que o chamou de burro e pediu ao pai para sair da escola. Sua família o enviou para Niterói, onde moravam alguns parentes, para estudar no Colégio Salesiano. Iniciou a faculdade de Direito no Rio de Janeiro, mas se formou em Belo Horizonte, MG, em 1932, depois de ter participado, como repórter dos Diários Associados, da cobertura da Revolução Constitucionalista, em Minas Gerais — no front da Mantiqueira conheceu Juscelino Kubitschek de Oliveira e Adhemar de Barros.
Na capital mineira se casou, em 1936, com Zora Seljan Braga, de quem posteriormente se desquitou, mãe de seu único filho Roberto Braga.
Foi correspondente de guerra do Diário Carioca na Itália, onde escreveu o livro "Com a FEB na Itália", em 1945, sendo que lá fez amizade com Joel Silveira. De volta ao Brasil morou em Recife, Porto Alegre e São Paulo, antes de se estabelecer definitivamente no Rio de Janeiro, primeiro numa pensão do Catete, onde foi companheiro de Graciliano Ramos; depois, numa casa no Posto Seis, em Copacabana, e por fim num apartamento na Rua Barão da Torre, em Ipanema.
Sua vida no Brasil, no Estado Novo, não foi mais fácil do que a dos tempos de guerra. Foi preso algumas vezes, e em diversas ocasiões andou se escondendo da repressão.
Seu primeiro livro, "O Conde e o Passarinho", foi publicado em 1936, quando o autor tinha 22 anos, pela Editora José Olympio. Na crônica-título, escreveu: "A minha vida sempre foi orientada pelo fato de eu não pretender ser conde." De fato, quase tanto como pelos seus livros, o cronista ficou famoso pelo seu temperamento introspectivo e por gostar da solidão. Como escritor, Rubem Braga teve a característica singular de ser o único autor nacional de primeira linha a se tornar célebre exclusivamente através da crônica, um gênero que não é recomendável a quem almeja a posteridade. Certa vez, solicitado pelo amigo Fernando Sabino a fazer uma descrição de si mesmo, declarou: "Sempre escrevi para ser publicado no dia seguinte. Como o marido que tem que dormir com a esposa: pode estar achando gostoso, mas é uma obrigação. Sou uma máquina de escrever com algum uso, mas em bom estado de funcionamento."
Foi com Fernando Sabino e Otto Lara Resende que Rubem Braga fundou, em 1968, a editora Sabiá, responsável pelo lançamento no Brasil de escritores como Gabriel Garcia Márquez, Pablo Neruda e Jorge Luis Borges.
Segundo o crítico Afrânio Coutinho, a marca registrada dos textos de Rubem Braga é a "crônica poética, na qual alia um estilo próprio a um intenso lirismo, provocado pelos acontecimentos cotidianos, pelas paisagens, pelos estados de alma, pelas pessoas, pela natureza."
Rubem Braga - (foto: Acervo Roberto Seljan Braga)
A chave para entendermos a popularidade de sua obra, toda ela composta de volumes de crônicas sucessivamente esgotados, foi dada pelo próprio escritor: ele gostava de declarar que um dos versos mais bonitos de Camões ("A grande dor das coisas que passaram") fora escrito apenas com palavras corriqueiras do idioma. Da mesma forma, suas crônicas eram marcadas pela linguagem coloquial e pelas temáticas simples.
Como jornalista, Braga exerceu as funções de repórter, redator, editorialista e cronista em jornais e revistas do Rio, de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife. Foi correspondente de "O Globo" em Paris, em 1947, e do "Correio da Manhã" em 1950. Amigo de Café Filho (vice-presidente e depois presidente do Brasil) foi nomeado Chefe do Escritório Comercial do Brasil em Santiago, no Chile, em 1953. Em 1961, com os amigos Jânio Quadros na Presidência e Affonso Arinos no Itamaraty, tornou-se Embaixador do Brasil no Marrocos. Mas Braga nunca se afastou do jornalismo. Fez reportagens sobre assuntos culturais, econômicos e políticos na Argentina, nos Estados Unidos, em Cuba, e em outros países. Quando faleceu, era funcionário da TV Globo. Seu amigo Edvaldo Pacote, que o levou para lá, disse: "O Rubem era um turrão, com uma veia extraordinária de humor. Uma pessoa fechada, ao mesmo tempo poeta e poético. Era preciso ser muito seu amigo para que ele entreabrisse uma porta de sua alma. Ele só era menos contido com as mulheres. Quando não estava apaixonado por uma em particular, estava apaixonado por todas. Eu o levei para a Globo... Ele escrevia todos os textos que exigiam mais sensibilidade e qualidade, e fazia isto mantendo um grande apelo popular."
Fonte: Releituras

"Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na
porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem
para não me deixar entrar, ele ficará indeciso
quando eu lhe disser em voz baixa:
"Eu sou lá de Cachoeiro..."
- Rubem Braga


Sentados - Rubem Braga, José Carlos Oliveira, Vinícius de Moraes
Em pé - Paulo Mendes Campos, Sérgio Porto e Fernando Sabino
Foto/fonte: Blog do poeta Nei Duclós


"põem também poesia nas suas crônicas, mas é o refugo, poesia barata, vulgarmente sentimental… A boa, eles guardam para os seus poemas. Braga, poeta sem oficina montada e que faz poemas uma vez na vida e outra na morte, descarrega os seus bálsamos e os seus venenos na crônica diária."
- Manuel Bandeira, em “O pavão de Braga”, de Andorinha, andorinha.



CRONOLOGIA 
Rubem Braga - auto-retrato 
1913 - Nasce Rubem Braga, em 12 de janeiro, em Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo, onde faz seus estudos primários;
1928 - Publica seus primeiros contos na coluna Correio Maratimba, publicada no jornal Correio do Sul, fundado por seus irmãos;
1928 - Muda-se para Niterói, Rio de Janeiro, matricula-se no Colégio Salesiano, onde conclui o curso secundário;
1929 - Matricula-se na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro;
1931 - Pede transferência para a Faculdade de Direito de Juiz de Fora, Minas Gerais, e conclui o curso de direito em 1933;
1932 - Em Belo Horizonte, trabalha como cronista e repórter no jornal Diário da Tarde. Destacado como correspondente, faz a cobertura da movimentação das tropas mineiras durante a Revolução Constitucionalista, em Passa Quatro, Minas Gerais;
1933 - Muda-se para São Paulo e trabalha como cronista do jornal Diário de S. Paulo;
1935 - Transfere-se para o Rio de Janeiro, e trabalha como cronista no jornal Diário da Noite e colabora com O Jornal;
1935 - Muda-se para o Recife, e dirige a página policial do Diário de Pernambuco;
1935 - Funda a Folha do Povo, periódico favorável à Aliança Nacional Libertadora – ANL;
1935 - Muda-se novamente para o Rio de Janeiro, colabora no jornal A Manhã e envolve-se com o Partido Comunista;
1936 - Volta para Belo Horizonte e trabalha no jornal Folha de Minas;
1936 - Muda-se para São Paulo e lança a revista Problemas;
1937 - Volta para o Rio de Janeiro;
1938 - Colabora no jornal O Imparcial. Funda a revista Diretrizes;
1939 - Depois de passar rapidamente por São Paulo, muda-se para Porto Alegre, para trabalhar como colaborador nos jornais Correio do Povo e Folha da Tarde;
1940 - É preso em Porto Alegre e embarca para Santos, São Paulo. Durante a viagem, desembarca em Paranaguá, Paraná, e foge para São Paulo, onde trabalha no jornal O Estado de S. Paulo;
1941-1942 - Desempregado, dedica-se ao comércio de pedras semipreciosas e à publicidade;
1943 - Chefia o setor de publicidade do Serviço Especial de Saúde Pública e percorre grande parte da Região Norte do Brasil;
1944-1945 - Como correspondente do Diário Carioca, viaja para a Itália e acompanha a ação da Força Expedicionária Brasileira - FEB na Segunda Guerra Mundial;
1946 - Em São Paulo, trabalha nos jornais Correio da Manhã e O Estado de S. Paulo. Como correspondente, viaja para a Argentina e cobre a eleição de Juan Domingo Perón (1895 - 1974) à presidência;
1947 - Muda-se para o Rio de Janeiro, onde trabalha no jornal A Manhã;
1949 - Como cronista do jornal O Globo, muda-se para Paris;
1950 - Retorna a Paris como correspondente do jornal Correio da Manhã;
1952 - Funda o periódico Comício, jornal de oposição ao governo Getúlio Vargas;
1953 - Publica o livro Três Primitivos, ensaios sobre a obra dos pintores Cardosinho (1861 - 1947), Heitor dos Prazeres (1898 - 1966) e José Antônio da Silva (1909 - 1996) . Escreve crônicas para a revista Manchete;
Rubem Braga
1955/1961 - Muda-se para Santiago, Chile, onde chefia o Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil;
1956 - Como correspondente da revista Manchete e do jornal Diário de Notícias, viaja para os Estados Unidos para a cobrir a eleição do presidente Dwight D. Eisenhower (1891 - 1969);
1960 - Funda a Editora do Autor, no Rio de Janeiro;
1962 - Transfere-se para Rabat, Marrocos, e lá assume o posto de embaixador do Brasil;
1965 - Viaja para a Índia como convidado do governo indiano. Por ordem do governo militar é excluído do quadro de colaboradores do Jornal do Brasil;
1967 - Funda e dirige a Editora Sabiá, adquirida em 1971 pela Livraria Editora José Olympio;
1975/1990 - Integra a equipe de jornalismo da Rede Globo de Televisão;
1978/1990 - Colabora como cronista na Revista Nacional, distribuída como encarte em diversos jornais do país;
1986 - O conto Os Portugueses e o Navio (Les Portuguais et le Bateau) é traduzido por Jacqueline Penjon para a coletânea Contes et Chroniques d'Expression Portugaise, editada pela Pocket;
1990 - Morre no Rio de Janeiro, em 19 de dezembro;
2002 - A tradução italiana Nell'ora Neutra del Primo Mattino, feita por Giuseppe Butera, é publicada no número 2 da revista literária Progetto Babele;
2004 - O texto Capodanno é publicado no número 15 da revista italiana Sagarana, no especial Racconti di Guerra, com tradução de Julio Monteiro Martins.


"É costume dizer que a esperança é a última que morre. Nisto está uma das crueldades da vida; a esperança sobrevive à custa de mutilações. Vai minguando e secando devagar, se despedindo dos pedaços de si mesma, se apequenando e empobrecendo, e no fim é tão mesquinha e despojada que se reduz ao mais elementar instinto de sobrevivência. O homem se revolta jogando sua esperança para além da barreira escura da morte, no reino luminoso que uma crença lhe promete, ou enfrenta, calado e só, a ruína de si mesmo, até o minuto em que deixa de esperar mais um instante de vida e espera como o bem supremo o sossego da morte."
— Rubem Braga, no livro “200 crônicas escolhidas”. Rio de Janeiro: Record, 1986.



"Ele era o nosso mestre da crônica, o sabiá que sabia fisgar do trivial a dimensão humana da vida, com requintada simplicidade e sem exageros. Não terá substitutos porque era especial."

- Rachel de Queiroz (Escritora)


Rubem Braga -  foto: Dulce Helfer - Agencia/RBS

"essa faculdade de dar um sentido solene e alto às palavras de todo dia"

- Rubem Braga


OBRAS 
Primeiras edições
Crônicas
O Conde e o Passarinho. Editora Record,1936.
Morro do Isolamento. Editora Brasiliense,1944.
Com a FEB na Itália. Editora Record, 1945.
Um Pé de Milho. Editora Record, 1948.
O Homem Rouco. Editora Record, 1949.
50 Crônicas Escolhidas. Editora, José Olympio, 1951.
O Verão e as Mulheres. Editora Record, 1953.
A Borboleta Amarela. Editora Record, 1955.
100 Crônicas Escolhidas. Editora José Olympio, 1958.
Ai de Ti, Copacabana. Editora Record,1960.
A Tradição das Elegantes. Editora Record, 1967. (Disponível em PDF)
200 Crônicas Escolhidas.[é uma reunião dos melhores textos produzidos por Rubem Braga entre 1935 e 1977. A escolha das crônicas foi feita pelo próprio autor, com base na seleção original do amigo Fernando Sabino].Editora Record, 1977.
Recado de Primavera. Editora Record, 1984.
Crônicas do Espírito Santo. Coleção Letras Capixabas, 1984.
As Boas Coisas da Vida. [contos e crônicas]. Editora Record, 1988.
'O Conde e o Passarinho' e 'O Morro do Isolamento'. Editora do Autor, 1961.
1939 - Um Episódio em Porto Alegre: Uma fada no front. [uma seleção de crônicas, escritas por Rubem Braga e publicadas no extinto jornal Folha da Tarde de Porto Alegre, em 1939]. Editora Artes Oficios, 1994. 
Um Cartão de Paris.. (organização Domício Proença Filho). Editora Record, 1998. 
Aventuras de Rubem Braga. (Org.) de Domício Proença Filho. Editora Record, 2000. 
O lavrador de Ipanema: crônicas de amor a natureza.(Organização Januaria Cristina Alves e Leusa Araujo; Ilustrações Andres Sandoval). São Paulo: Editora Record, 2013.
Rubem Braga: crônicas. (seleção, organização e posfácios André Seffrin, Bernardo Buarque de Hollanda e Carlos Didier; textos de orelhas de Miguel Sanches Neto, Milton Hatoum e Aldir Blanc). São Paulo: Autêntica Editora, 2016.


retrato de Rubem Braga, 
por  Dorival Caymmi (1943)
Ensaio
Os Três Primitivos. Serviço de Documentação do Ministério da Educação,1954.
A Cidade e a Roça. Editora do Autor,1957.
Cadernos de Guerra de Carlos Scliar [com os desenhos registrados por Carlos Scliar durante a guerra 1944/1945 - Itália, com texto de Rubem Braga], Editora Sabiá, 1969.


Poesia
Livro de Versos. Edições Pirata, Recife,1980.


Infantil - juvenil
O Menino e o Tuim. Quinteto Editorial,1987.
Casa dos Braga: Memória de Infância. Editora Record, 1997.


Conto

Os Melhores Contos de Rubem Braga. (seleção e introdução) de Davi Arrigucci Jr.. Editora Global, 1985.


Viagem

Uma Viagem Capixaba de Carybé e Rubem Braga. [descrição da paisagem rural e urbana do Espírito Santo na década de 50 com desenhos de Carybé]. 1ª ed., Secretaria de Estado da Educação e Cultura, Departamento Estadual de Cultura, 1981.
retrato de Rubem Braga, 
por Candido Portinari (1953)


Antologia

Pequena Antologia Didática de Rubem Braga. (Org.) de Domício Proença Filho. Editora Record, 1997.


Arte
Arte Brasileira de Geraldo Orthof. [texto de Rubem Braga]. 1ª edição, Editora Artlivre, 1982.

** Editora Record [editora oficial de Rubem Braga]



OBRAS DE RUBEM BRAGA - PUBLICADAS NO EXTERIOR
Francês
Chroniques de Copacabana, de Paris et d'Ailleurs [Ai de Ti, Copacabana!]. Tradução e apresentação Michel Simon-Brésil. Paris: Éditions Seghers, 1963. (Autour du Monde)

Português
Os Trovões de Antigamente. Lisboa: Livros do Brasil, 1973.




ADAPTAÇÕES REALIZADAS POR RUBEM BRAGA
Rubem Braga, por (...)
Correio Braziliense
Carta a el Rey Dom Manuel [recriação da carta de Pero Vaz de Caminha com 52 desenhos de Carybé], Editora Record, 1981.
Os Lusíadas, de Luis de Camões. Série Reencontro, (Adaptação de Rubem Braga e Edson Rocha Braga). Editora Scipione.
O Fantasma dee Canterville, de Oscar WildeSérie Reencontro, (Adaptação Rubem Braga). Editora Scipione.
Cyrano De Bergerac, de  Edmond RostandSérie Reencontro, (Adaptação de Rubem Braga). Editora Scipione.
As Aventuras Prodigiosas de Tartarin, de Tarascon Alphonse DaudetSérie Reencontro, (Adaptação de Rubem Braga). Editora Scipione.



ORGANIZAÇÃO E SELEÇÃO

O Livro de Ouro dos Contos Russos. (coord. e apres.) Rubem Braga; (pref.) Annibal M. Machado; (notas biográficas) Valdemar Cavalcanti; (Super.) Graciliano Ramos. Coleção Contos do Mundo I. Editora Companhia da Leitura, 1944.
Melhores Poemas de Casimiro de Abreu. Coleção Melhores Poemas. (Seleção e prefácio de Rubem Braga). Global Editora.


OUTROS

Furacão sobre Cuba, de Jean-Paul Sartre[Depoimentos de Rubem Braga e Fernando Sabino]. Editora do Autor, 1960.



TRADUÇÃO DE OBRAS ESTRANGEIRAS POR RUBEM BRAGA
Saint-Exupery Terra Dos Homens. [Tradução Rubem Braga]. Editora Livraria José Olympio.


"Sou um homem sozinho, numa noite quieta, junto de folhagens úmidas, bebendo gravemente em honra de muitas pessoas."
- Rubem Braga


Pablo Neruda (?) e Rubem Braga
[Foto: Acervo/arquivo Rachel Braga]

Tarde
E quando nós saímos era a Lua,
Era o vento caído, o mar sereno
Azul e cinza azul anoitecendo
A tarde triste das amendoeiras.

E respiramos livres das ardências
Do sol que nos levara à sombra cauta,
Tangidos pelo canto das cigarras
Dentro e fora de nós exasperadas.

Andamos em silêncio pela praia.
Nos corpos leves e lavados ia
O sentimento do prazer cumprido.

– Se mágoa me ficou, na despedida,
Não fez mal que ficasse, nem doesse;
Era bem doce, perto das antigas.
- Rubem Braga



os irmãos Newton Braga e Rubem Braga


O Pavão
E considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.

Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.

Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
- "O Pavão" (Rio, novembro, 1958). In BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Record, 1999, p. 120.



Murilo Miranda, Zora Seljan e Rubem Braga (s/d)



"Ele foi o criador da crônica moderna. E poucos conseguiram se mover com a graça, o virtuosismo e com a perícia de Rubem."
- Haroldo de Campos (poeta, crítico e tradutor de poesia)



Rubem Braga, Fernando Sabino e sua mulher Lygia Marina.
foto: 
Acervo/Arquivo Roberto Seljan Braga.
Cadernos de Literatura. Rubem 
Braga. nº 26, IMS, maio de 2011.




Chico Buarque, Rubem Braga, Fernando Sabino, Vinicius de Morais, Sérgio Porto,
Carlinhos de Oliveira e Paulo Mendes Campos - foto: Paulo Garcez




DOCUMENTÁRIO

Documentário: Viagem Capixaba, um olhar de Rubem Braga e Caribé, hoje. 
Sinopse: Viagem Capixaba refaz, 50 anos depois, a viagem do escritor Rubem Braga e do artista plástico Carybé pelo estado do Espírito Santo. Tendo como base os livros Uma Viagem Capixaba de Carybé e Rubem Braga e Crônicas do Espírito Santo, a equipe percorre cerca de seis mil quilômetros, passando pelos caminhos que eles trilharam no Espírito Santo, do litoral à região serrana. O documentário aponta mudanças e permanências com foco na diversidade cultural capixaba. São apresentados o congo, o caxambu, o ticumbi, o alardo, as culturas agrárias, entre outras manifestações culturais do estado, pontuadas pelas imagens que Carybé produziu na viagem original.
Diretor: João Moraes
Ano/País: 2004
Duração: 55 min.
Produtora: Patuléia Filmes



"... fazendo saber aos transeuntes: 'Atenção! lá vou eu, sou a gravata alegre anunciando que este homem acordou de coração vivo e peito limpo e que ele agradece ao Sol o brilho que vê nas folhas das árvores e na curva das ondas.'"

- Rubem Braga, in "Manhã de Sol". Manchete,Dez/1960.


"crônica poética, na qual alia um estilo próprio a um intenso lirismo, provocado pelos acontecimentos cotidianos, pelas paisagens, pelos estados de alma, pelas pessoas, pela natureza"
- Afrânio Coutinho (crítico literário), sobre o estilo e a marca registrada da obra de Rubem Braga.



Rubem Braga

FORTUNA CRÍTICA DE RUBEM BRAGA
[Bibliografia sobre Rubem Braga]
AIRES, Edanne Madza de Almeida Cunha.  Rubem Braga: Uma Poética do Cotidiano. (Dissertação Mestrado em Literatura e Crítica Literária). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP, Brasil, 2005.
ANAN, Sylvia Tamie. Memórias da Infância nas crônicas de Manuel Bandeira e Rubem Braga. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade São Paulo/USP-SP, 2004.
ANTONIO, Luciano. A cidade na crônica de Rubem Braga: O espaço urbano nas crônicas. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Estadual de Londrina, UEL, Brasil, 2010.
ARAUJO, Lucas Vieira de. Rubem Braga e o conceito de inferioridade do gênero literário crônica. In: 9º Encontro de Atividades Científicas, 2006, Londrina. 9 Encontro de Atividades Científicas. Londrina: UNOPAR, 2006. p. 84-92.
ARRIGUCCI JR., Davi (Org.). Os melhores contos de Rubem Braga. 7º ed. São Paulo: Global, 1997.
BALDO, Luiza Maria Lentz. Fotografias do cotidiano: a consagração do instante em Rubem Braga e Alice Ruiz. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Estadual de Londrina, UEL, Brasil, 2006.
BALDO, Luiza Maria Lentz. Os olhos azuis de Rubem Braga. Temas & matizes, Cascavel, v. 5, p. 62-67, 2004.
BATISTA, José Geraldo. Casa dos Braga: retratos de uma morte feliz. (Dissertação Mestrado em Teoria da Literatura). Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF, Brasil, 2006. Disponível no link. (acessado 6.1.2013)  
BATISTA, José Geraldo. O olho óptico nas lembranças do Velho Braga. Revista do VI Congresso de Letras do UNEC, v. 02, p. 192, 2007. Disponível no link. (acessado 9.1.2013)
BATISTA, José Geraldo. O papel etnográfico de um repórter cronista de guerra: Rubem Braga com a FEB na Itália. Anuário de Literatura, v. 15, p. 269-284, 2010.
BATISTA, José Geraldo. O papel etnográfico de um repórter cronista de guerra: Rubem Braga com a FEB na Itália. In: I Colóquio Internacional, 2010, Florianópolis. Anuário de Literatura. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2010. v. 15. p. 269-284.
BATISTA, José Geraldo. Rubem Braga com a FEB na Itália: crônicas-reportagens, literatura da notícia. (Doutorado em Letras: Estudos Literários). Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF, Brasil, 2012.
BETELLA, Gabriela Kvacek. O lirismo no limite: a crônica de Rubem Braga e Paulo Mendes Campos. Revista Letras (Curitiba), v. 78, p. 9-28, 2009. Disponível no link.(acessado 6.1.2013).
BETELLA, Gabriela Kvacek. Sete faces para Rubem Braga. D O Leitura, São Paulo, v. n. 05, p. 26-31, 2004.
BEZERRA, Elvia. Bom mesmo é vadiar. IMS/3.1.2013. Disponível no link. (acessado em 8.1.2013).
BRASIL, Angela Varela. O culto e o popular na crônica de Rubem Braga. (Dissertação Mestrado em Letras Vernáculas Língua Portuguesa). Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Brasil, 1998.
CADERNOS DE LITERATURA BRASILEIRA. Rubem Braga. Instituto Moreira Salles/IMS, 1º ed. 2011.
CANDIDO, Antônio et alii. A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas: Ed. UNICAMP; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992.
CAPARELLI, Roberta; SIMON, Luiz Carlos Santos. O masculino e o feminino nas crônicas de Rubem Braga. Disponível no link. (acessado em 6.1.2013).
CARVALHO, Marco Antonio de. Rubem Braga: um cigano fazendeiro do ar. Rio de Janeiro: Globo, 2008.
CASTELLO, José. Na cobertura de Rubem Braga. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1996.
CHARLON, Maria de Lourdes Patrini. Rubem Braga: um cronista de paz e guerra. (Dissertação Mestrado em Literatura Brasileira). Universidade de São Paulo, USP, Brasil, 1991.
COLOMBINI, Maikely Teixeira. Rubem Braga: um cosmopolita afeito à sua província. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal de Viçosa, UFV, 2015.
CUNHA, Edanne Madza de Almeida. Rubem Braga: Uma Poética do Cotidiano. (Dissertação Mestrado em Literatura e Crítica Literária). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP, Brasil, 2005.
DIAS, Maria do Carmo Molina. A crônica de Rubem Braga: exercício de sedução. (Dissertação mestrado em letras). Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil, 1996.
DUBIELA, Ana Karla Correia Teixeira. A traição das elegantes pelos pobres homens ricos - uma leitura da crítica social em Rubem Braga. ed., Vitória: Editora da Universidade Federal do Espírito Santo - Edufes, 2007. v. 1. 100p.
DUBIELA, Ana Karla Correia Teixeira. Como se fora um coração postiço - desleituras de Bandeira, Ruschi e Jair Silva na crônica de Rubem Braga. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal do Ceará, UFC, Brasil, 1997.
DUBIELA, Ana Karla Correia Teixeira. Modernidade, o vento que vinha trazendo a lua - flânerie nas cidades de R Braga e W. Benjamin. (Tese Doutorado em  Literatura Comparada). Universidade Federal Fluminense, UFF, Brasil, 2011.
DUBIELA, Ana Karla Correia Teixeira. O poeta da crônica - Rubem Braga: Vida e Obra. 1ª ed., Vitória: Secretaria Municipal de Cultura, 2011. v. 1. 94p.
ESTIMA, Vinícius Marque. A crônica brasileira: o caso Rubem Braga. Enlaces, Rio Grande, v. 1, n.1, p. 9-16, 2004.
FABRINO, Ana Maria Junqueira. Rubem Braga e a transfiguração do gênero: a crônica poética. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade de São Paulo, USP, Brasil, 2001.
FELIZARDO, Alexandre Bonafim.  Rubem Braga e Marcel Proust: escrituras em diálogo. Educação Revista científica do Centro Universitário Claretiano, v. 1, p. 11-23, 2011.
FELIZARDO, Alexandre Bonafim. A graça poética do instante: poesia e memória na obra de Rubem Braga. (Dissertação Mestrado em Estudos Literários). Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil, 2006.
FELIZARDO, Alexandre Bonafim. Rubem Braga: A graça poética do instante. São Paulo: Biblioteca 24 Horas, 2011. 266p.
FLORINDO, Girlane Maria Ferreira. Rubem Braga: correspondências. (Dissertação Mestrado em Letras). Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, Brasil, 2005.
FRANCHETTI, Paulo; PÉCORA, Alcir. Rubem Braga. São Paulo: Abril Educação, 1980 (Literatura Comentada).
GASPAR, Samantha dos Santos. O cronista etnógrafo: um estudo acerca das crônicas de Rubem Braga entre os anos de 1930 e 1960. In: VIII Reunión de Antropología del Mercosul, 2009, Buenos Aires. VIII Reunión de Antropologia del Mercosul, 2009. p. 1-15.
GASPAR, Samantha dos Santos. O Rio de Janeiro como imagética literária: uma análise das crônicas de Rubem Braga. In: 27 Reunião Brasileira de Antropologia, 2010, Belém. Brasil Plural, 2010. p. 1-16.
Rubem Braga (Ilustração - O Dia)
GASPAR, Samantha dos Santos. Rubem Braga e o Comício: crônicas políticas em um semanário independente. In: V Encontro de Pós-Graduandos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2010, São Paulo. V EPOG. São Paulo: FFLCH-USP, 2010. p. 1-10.
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TADDEI, Roberto Romano. Rubem Braga: o inventor da crônica. Carta na Escola, São Paulo, p. 31 - 34, 1 ago. 2011.

“É flor! É inacreditável como a mulher se parece com a flor. Fixemos uma flor. Sabemos o que é, como nasceu, e que morrerá. Mas nossa botânica não explica a frescura desse milagre; nem muito menos porque nos emociona”
- Rubem Braga (As mulheres ocupavam boa parte da obra do autor)


"A dor do amor tem de repente uma doçura, um instante de sonho que mesmo sabendo que não se tem esperança alguma a gente fica sonhando."
- Rubem Braga, em "Amor e outros males".


Da esquerda para a direita, em pé: Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Fernando Sabino
e Carlinhos de Oliveira;
sentados: Vinicius de Moraes, Sérgio Porto e Chico Buarque
 - na varanda da cobertura de Rubem Braga, final dos anos 60.
Foto: Acervo/Arquivo Regina Egito - foto: 
Paulo Garcez


Otto Lara Resende e Rubem Braga (dez./1976) - [Acervo Otto/IMS]

"Porque sempre escreveu na imprensa, de Rubem Braga se diz que é um cronista – o príncipe da crônica. Mas que é a crônica? Aqui a porca torce o rabo em discussões bizantinas. [...] Mas vá ler Rubem Braga e veja quantos livros ele escreveu com esse ar songamonga de quem está se lixando para as galas acadêmicas. Exemplares, densos, completos. Livros que falam de alegrias e tristezas. [...] Caráter viril, o seu tanto urso, amigo da solidão e do convívio, com um temperamento que traz escondido um supetão meio brusco, Rubem Braga escreve de mãozinha leve e alma de moça."

- Otto Lara Resende, “O príncipe e o sabiá”, in: O príncipe e o sabiá, de Otto Lara Resende, Ana Maria Miranda - Instituto Moreira Salles, Casa de Cultura de Poços de Caldas, 1994, p. 215.

 Márcio Moreira Alves, Rubem Braga e Jânio Quadros
 com Chê Guevara, em visita a Havana/Cuba em 1960. 
Foto: Arquivo Luiz Alberto Moniz Bandeira

Vinicius de Moraes, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos
 e Chico Buarque - Foto: Paulo Garcez

“Conheci Rubem Braga a vida inteira.

Li Rubem Braga a vida inteira.
Foi, sem dúvida, o ser humano que mais admirei a vida inteira.”
- Millôr Fernandes, in "A Bíblia do Caos". L&PM Pocket.



Rubem Braga, em Ipanema 16.7.1960. 
Foto: Gil Pinheiro/Revista Manchete


"Não apenas pela leveza de sua pena, da qual pingava sempre a gota inevitável da nostalgia, mas pela clareza de seu canto, um texto enxuto, desprovido de artifícios, porém, tocante, sobretudo, quando falava do seu assunto preferido - a falta de assunto."
- Alberto Helena Jr. (Jornalista), sobre Rubem Braga e suas crônicas - in Almanaque Abril.




CRÔNICAS SELECIONADAS

O Desaparecido
Rubem Braga - foto: © Vitor Nogueira (1984)
Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim.

Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico. Olho-me no espelho e percebo que estou envelhecendo rápida e definitivamente; com esses cabelos brancos parece que não vou morrer, apenas minha imagem vai-se apagando, vou ficando menos nítido, estou parecendo um desses clichês sempre feitos com fotografias antigas que os jornais publicam de um desaparecido que a família procura em vão.

Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto se publica num canto de uma página interior de jornal, eu sou o irreconhecível, irrecuperável desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só tu sabes que em alguma distante esquina de uma não lembrada cidade estará de pé um homem perplexo, pensando em ti, pensando teimosamente, docemente em ti, meu amor.
- Rubem Braga, do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1969, pág. 112.


Rubem Braga - foto: © Vitor Nogueira (1984)

Despedida
E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

 Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.
- Rubem Braga, do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.
Rubem Braga - ao fundo o Itabira - foto: © Vitor Nogueira (1984)

Homem no mar
De minha varanda vejo, entre árvores e telhados, o mar. Não há ninguém na praia, que resplende ao sol. O vento é nordeste, e vai tangendo, aqui e ali, no belo azul das águas, pequenas espumas que marcham alguns segundos e morrem, como bichos alegres e humildes; perto da terra a onda é verde.

Mas percebo um movimento em um ponto do mar; é um homem nadando. Ele nada a uma certa distância da praia, em braçadas pausadas e fortes; nada a favor das águas e do vento, e as pequenas espumas que nascem e somem parecem ir mais depressa do que ele. Justo: espumas são leves, não são feitas de nada, toda sua substância é água e vento e luz, e o homem tem sua carne, seus ossos, seu coração, todo seu corpo a transportar na água.

Ele usa os músculos com uma calma energia; avança. Certamente não suspeita de que um desconhecido o vê e o admira porque ele está nadando na praia deserta. Não sei de onde vem essa admiração, mas encontro nesse homem uma nobreza calma, sinto-me solidário com ele, acompanho o seu esforço solitário como se ele estivesse cumprindo uma bela missão. Já nadou em minha presença uns trezentos metros; antes, não sei; duas vezes o perdi de vista, quando ele passou atrás das árvores, mas esperei com toda confiança que reaparecesse sua cabeça, e o movimento alternado de seus braços. Mais uns cinqüenta metros, e o perderei de vista, pois um telhado a esconderá. Que ele nade bem esses cinqüenta ou sessenta metros; isto me parece importante; é preciso que conserve a mesma batida de sua braçada, e que eu o veja desaparecer assim como o vi aparecer, no mesmo rumo, no mesmo ritmo, forte, lento, sereno. Será perfeito; a imagem desse homem me faz bem. 
É apenas a imagem de um homem, e eu não poderia saber sua idade, nem sua cor, nem os traços de sua cara. Estou solidário com ele, e espero que ele esteja comigo. Que ele atinja o telhado vermelho, e então eu poderei sair da varanda tranqüilo, pensando — "vi um homem sozinho, nadando no mar; quando o vi ele já estava nadando; acompanhei-o com atenção durante todo o tempo, e testemunho que ele nadou sempre com firmeza e correção; esperei que ele atingisse um telhado vermelho, e ele o atingiu".

Agora não sou mais responsável por ele; cumpri o meu dever, e ele cumpriu o seu. Admiro-o. Não consigo saber em que reside, para mim, a grandeza de sua tarefa; ele não estava fazendo nenhum gesto a favor de alguém, nem construindo algo de útil; mas certamente fazia uma coisa bela, e a fazia de um modo puro e viril.

Não desço para ir esperá-lo na praia e lhe apertar a mão; mas dou meu silencioso apoio, minha atenção e minha estima a esse desconhecido, a esse nobre animal, a esse homem, a esse correto irmão.
- Rubem Braga, in "A Cidade e a Roça", 1953.



Rubem Braga, por Netto/Picinez


SOBRE RUBEM BRAGA

"(...) Homem de visão pioneira, Rubem Braga fundou em 1968, com os mineiros Otto Lara Resende e Fernando Sabino, a editora Sabiá. Esta revelou o talento de Oswaldo França Júnior para o romance e lançou no Brasil os latino-americanos Gabriel García Márquez, Jorge Luis Borges e Pablo Neruda.
Dono de um estilo pessoal, que só encontra concorrência nas crônicas de Machado de Assis, Rubem Braga dizia escrever para ser publicado no dia seguinte. No entanto, seus textos se perpetuaram pela objetividade, simplicidade de estilo, humor e caráter poético. Também escrevia versos, embora seu único livro de poemas tenha sido póstumo."
- Jorge Fernando dos Santos em "Duas décadas sem 'o sabiá da crônica'", Observatório da Imprensa.19/1/2010 na edição 573.


Rubem Braga foto: (...)

HOMENAGEM

Rubem Braga dá nome a novo acesso do metrô de Ipanema - Rio de Janeiro
Em homenagem a Rubem Braga (Cachoeiro do Itapemirim, 1913 - Rio de Janeiro, 1990), foi inaugurado ontem (30/06/2012) o novo acesso da estação de metrô de Ipanema na esquina das ruas Teixeira de Mello e Barão da Torre.
Batizada com o nome do escritor, a passagem está próxima à famosa cobertura mantida por Braga na rua Barão da Torre. A casa do cronista deu nome, inclusive, a um livro escrito por José Castello, publicado pela editora José Olympio.  



Rubem Braga - o Sábia da Crônica
[“Sabiá da Crônica”, apelido dado pelo seu amigo Sergio Porto - o Stanislaw Ponte-Preta]


Rubem Braga, na sua cobertura em Ipanema, em 1984.
- foto Acervo Daniel Braga


Rubem Braga - foto: © Vitor Nogueira (1984) 



Rubem Braga diante de uma ruína em Atenas, na Grécia
foto: (...)


Rubem Braga  e máquina de escrever - foto: © Vitor Nogueira (1984) 

CASA DOS BRAGA

A Casa dos Braga é uma instituição turístico-cultural da cidade de Cachoeiro de Itapemirim, estado do Espírito Santo.
A Casa esta localizada na Rua 25 de Março, 166, centro da cidade sul - capixaba e tem como atrações:
Acervo de mais de 20.000 livros em disponibilidade na biblioteca Walter dos Santos Paiva que se encontra nas dependências deste imóvel de 16 cômodos;
Míni-museu contendo peças e publicações antigas, além de pinturas, desenhos e fotos da família Braga, em especial dos irmãos Rubem Braga e Newton Braga. Ali também estão disponíveis exemplares históricos do jornal Correio do Sul, que foi fundado pelos irmãos mais velhos de Newton e Rubem;
Ao fundo da Casa existe a “Praça da Poesia” contendo bancos e um espaço jardinado destinado a leituras das crônicas de Rubem Braga e/ou poesias de Newton Braga.

História

Casa dos Braga, em Cacheiro de Itapemirim/ES
O imóvel centenário denominado de Casa dos Braga abrigou, por décadas, a família Braga, em especial, o poeta Newton Braga e o cronista Rubem Braga. De propriedade da Família Guárdia (Noêmia e Severino Velloso), este vendem o imóvel para Francisco Carvalho Braga que muda-se para o novo endereço em 1913, juntamente com sua esposa, d. Rachel Coelho Braga e os filhos, Jerônimo, Carmozina, Armando, Newton e Rubem (este ainda bebê de colo). Nascem nesta casa as duas filhas mais novas de Francisco: Yedda e Anna Graça.
Conhecido como coronel Francisco Braga, este foi o primeiro prefeito de Cachoeiro.
Jerônimo e Armando fundam, em 1928, o histórico jornal Correio do Sul que contém os primeiros textos de Rubem Braga. Newton Braga, em 1932, tornou-se editor chefe do jornal da família e é conhecido nacionalmente pelos seus poemas.Rubem Braga é conhecido como o maior cronista Brasileiro, com diversas obras editadas.
Nos anos de 1970 o imóvel é abandonado e no início dos anos de 1980 transforma-se num restaurante. Em 1985 é tombado pelo patrimônio histórico municipal e em abril de 1987, é transformado em um local turístico-cultural com a intenção de guardar para a eternidade o trabalho de décadas dos famosos integrantes da família Braga.
Referências de pesquisa: CARVALHO, Marco Antonio de. Rubem Braga – Um Cigano Fazendeiro do Ar: São Paulo, Ed. Globo, 2007. 610p. 



TEATRO MUNICIPAL RUBEM BRAGA

Teatro Municipal Rubem Braga - Cachoeiro de Itapemirim - ES
O teatro recebeu o nome do maior cronista brasileiro, o cachoeirense  Rubem Braga, que se tornou um símbolo importante das artes contemporâneas desenvolvidas na atualidade. O Teatro Municipal Rubem Braga foi inaugurado em 28 de abril de 2000. É um espaço público mantido pela Prefeitura Municipal de Cachoeiro de Itapemirim e vinculado à Secretaria Municipal de Arte e Cultura, possui 292 cadeiras numeradas, palco italiano, dois camarins, sistema de iluminação, sistema de sonorização, sistema de refrigeração, foyer e bilheteria. E destina-se a eventos amadores e profissionais nas áreas de teatro, dança, música e audiovisual, podendo o foyer ser utilizado, eventualmente, para exposições de artes plásticas.
Localizado no centro da cidade, na Avenida Beira Rio - Cachoeiro de Itapemirim/ES.
Outras informações site oficial da Prefeitura de Cacheiro.



Rubem Braga (foto:...)


A beleza das mulheres de graça

Logo que recebi seu livro, escrevi uma carta longa e emocionada agradecendo, mas a carta rolou por aqui nas gavetas da redação e acabou rasgada por engano. Quero lhe agradecer, não por simples obrigação de bem educado, mas porque de fato isso me comoveu, v. me mandar o livro. 
Rubem Braga - foto: Antonio Nery/Ag. O Globo
Lembrei-me de uma vez que lhe escrevi em 1933, aqui mesmo de São Paulo, de outra redação, pedindo suas Poesias. Nesses sete anos, mudei muitíssimo, mas meu fervor pela sua poesia palavra que me seguiu engrossando através de tantas reviravoltas de toda espécie, em que deixei para trás tanta admiração, tanta ternura eterna. Pretendo desde rapazinho escrever uma longa coisa que nunca tive coragem de escrever a respeito da beleza das mulheres. Atrapalhadamente minha tese é isso: uma repulsa por tudo que o cristianismo fez com as mulheres bonitas, com toda essa miséria monstruosa do cristianismo contra as mulheres bonitas. Minha tese era declarar pateticamente a benemerência pública e universal da mulher bonita pelo bem enorme, inapreciável que ela faz. Sustentaria esta tese com argumentos e evidências de toda espécie, inclusive esse de que na vida diária, na rua, a visão de uma mulher bonita desconhecida, a simples e passageira visão que ela nos oferece nos faz um bem tão grande e tão grátis que é um absurdo feroz não conceder a uma passagem assim todas as espécies de privilégios neste mundo e no outro. Se gastamos dinheiro e portanto, em geral, esforços para adquirir coisas que nos dão prazer, as quais coisas nunca nos dão um prazer sequer comparável com a visão da beleza feminina, e se essa visão é grátis, então a mulher bonita é de uma benemerência profunda. Já me aconteceu estar desesperado, atormentado com problemas às vezes (não estou dramatizando, você pode acreditar) bem cruéis, duros, urgentes, insolúveis e nesse estado a simples visão de uma mulher bonita me dá um ânimo tão grande, um perdão tão completo para a toda estupidez da vida que em certa época eu talvez tivesse me matado se não fosse isso. Agora, que estou pacato, com problemas menos horríveis e prementes, em geral apenas crônicos com crises de agudez suportáveis, tenho tempo para pensar nessa benemerência tão injustamente esquecida da beleza física da mulher, nessa benemerência que estupidamente o cristianismo desconhece. A mais boa mulher feia não pode fazer tanto bem como a mais ruim mulher bonita. Não é humano, mas sim desumano querer dar uma espécie de preferência moral à mulher feia, como faz o cristianismo, que sempre está em guarda contra a beleza. De toda a monstruosa filosofia do cristianismo, de todo o seu repugnante e falso “espiritualismo”, que é uma negação de tudo que é mais puro e alto na vida, poucas coisas me irritam tão constantemente como isso. E se eu ainda acredito na Grécia com grande ardor é por causa do julgamento de Frinéa. Aquilo foi a coisa mais alta e compreensiva que se fez na Grécia. Você deve estar chateado e rindo dessa minha longa dissertação confusa sobre mulher bonita, mas o que eu queria dizer é que experimento pelos poetas como você uma gratidão semelhante. Quanta gente vê, não ajuda, não enriquece com a sua simples poesia! Que bem faz! Digo por mim, que lhe devo mil coisas, mil serviços íntimos. Muito obrigado pelo livro (que pena o “vulto” no lugar daquela tão doce e lírica “bunda”) e pelo que ele tem dentro, é o que lhe diz este
Amigo, devedor, obrigado. 
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- Carta de Rubem Braga ao poeta Manuel Bandeira, em 12/10/1940 - Fonte: O Estado de São Paulo,2/7/2000 - e Tiro da Letra/entrevistas. 


LEIA A ENTREVISTA NESTE SITE
:: Rubem Braga - entrevistado por Clarice Lispector. Acesse AQUI!


Rubem Braga - foto: Rogério Medeiros
OUTRAS REFERÊNCIAS E FONTES DE PESQUISA
:: Releituras– Rubem Braga 

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12 comentários:

  1. Sobre a vida - e principalmente as circunstâncias da morte de Rubem Braga - vale a pena ler este excelente texto do mauro santayana, do Jornal do Brasil:

    http://www.maurosantayana.com/2013/01/rubem-e-o-poder.html

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  2. Me parece que o Pablo Neruda da fotografia se trate, na realidade, de Jacques Prévert...
    Philippe

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    1. Olá Philippe! você tem alguma referência dessa fotografia, que possa confirmar essa informação. Grata Elfi

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  3. Nossa, acabei caindo sem querer aqui.
    Obrigada por incluir meu trabalho de iniciante na pesquisa de Braga por aqui. Tenho estudado muito o cronista, é meu projeto da Especialização e agora também do mestrado.
    Muito obrigada mesmo. :)
    Excelente postagem.

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    1. Ola Rafaela!
      Quando concluir seu mestrado, nos envie as referências da sua dissertação para que possamos inclui-la no fortuna crítica. Grata, Elfi

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  4. Essa foto dele na rede é do meu acervo :)

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    1. Obrigada Daniel!
      Já incluímos a referência na foto/página. abs, Elfi

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  5. Alvaro Braga de Abreu1 de maio de 2016 às 17:17

    Boa tarde, Elfi, Escrevo para lhe parabenizar pelo que fez/faz em favor da memória do Rubem. Algo muito consistente, verdadeiro e bom de ler. Sou filho da irmã caçula dele. Um beijo

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  6. Bom dia Elfi, muito boa sua iniciativa de valorizar a memória do nosso Capixaba, Rubem Braga. Parabéns! Entretanto gostaria, se possível, que desse meu crédito (foto: Vitor Nogueira)nas fotos do Rubem que estão como "acervo Roberto Seljan Braga". São fotos que fiz em 1984, durante uma visita dele ao municipio de Cachoeiro do Itapemirim. Abraço.

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  7. Elfo, acompanho faz tempo seu trabalho. Este, sobre meu tio Rubem , é fantástico! Obrigada!

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    Respostas
    1. Leio tudo que encontro sobre o senhor seu tio. Gostei muito do trabalho feito pelo Marco Antonio de Carvalho, "RB - Um Fazendeiro do Ar".

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