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Vinicius de Moraes – o poetinha

Vinicius de Moraes

Ternura
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
                                                                     [extático da aurora.
- Vinicius de Moraes


Vinicius de Moraes, por Toni Agostinho.
Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes (Rio de Janeiro RJ 1913 - idem 1980). Poeta, compositor de música popular, cronista e crítico de cinema. Pertencente a uma família de intelectuais, com formação católica. Faz no colégio jesuíta Santo Inácio o curso secundário e participa do coro nas missas de domingo. Os estudos musicais lhe rendem, em 1928, o primeiro sucesso, com composição realizada em parceria dos amigos Paulo e Haroldo Tapajós. Ingressa na faculdade de direito e adere ao grupo católico formado pelo escritor Otávio de Faria, o pensador San Thiago Dantas e o jurista Américo Jacobina Lacombe, entre outros. Conclui o curso em 1933, ano em que lança o primeiro livro, Forma e Exegese. Estuda língua e literatura inglesa na Universidade de Oxford, Inglaterra, até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, quando, de volta ao Brasil, escreve regularmente crítica de cinema para jornais e revistas. A partir de 1943, ingressa na carreira diplomática e presta serviços consulares em diversos países, até 1968, quando em virtude de oposições à ditadura militar é exonerado do cargo. A década de 1950 marca o início de sua dedicação à música popular, da composição de seus primeiros sambas e de sua participação na criação da bossa nova, ao lado de Antônio Carlos Jobim (1927 - 1994), com o lançamento do disco Canção do Amor Demais, em 1958, interpretado por Elizeth Cardoso. A lírica de Vinicius torna-se mundialmente conhecida, em 1959, quando o filme Orfeu Negro, uma adaptação de sua peça Orfeu da Conceição, realizada pelo diretor francês Marcel Camus, é premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes e recebe o Oscar de melhor filme estrangeiro. Os últimos anos do poeta são dedicados principalmente à música, período que ele vive entre turnês nacionais e internacionais, acompanhado de Toquinho (1946), seu parceiro mais constante.


"Não ando só! Só ando em boa companhia! Com meu violão, minha canção e a poesia!"
- em Livro de letras.

Vinicius de Moraes

Madrigal
Nem os ruídos do mar, nem os do céu, nem as modulações frescas
Da campina; nem os ermos da noite sussurrando sossegos na sombra, nem os cantos votivos da morte, nem as palavras de amor lentas, perdidas; nem as vozes, os músicos nem o eco patético das lamentações; nenhum som, nada
É como o doce, inefável ruído que meu ouvido ouve quando se pousa em carícia, ó minha amiga, sobre a carne tenra da tua barriguinha.
- Vinicius de Moraes


CRONOLOGIA DA VIDA E DA OBRA DE VINICIUS DE MORAES
Vinicius de Moraes
1913 - Nasce, em meio a forte temporal, na madrugada de 19 de outubro , no antigo nº 114 (casa já demolida) da rua Lopes Quintas, no Jardim Botânico, ao lado da chácara de seu avô materno, Antônio Burlamaqui dos Santos Cruz. São seus pais d. Lydia Cruz de Moraes e Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, este, sobrinho do poeta, cronista e folclorista Mello Moraes Filho e neto do historiador Alexandre José de Mello Moraes.
1916 - A família muda-se para a rua Voluntários da Pátria, nº 192, em Botafogo, passando a residir com os avós paternos, d. Maria da Conceição de Mello Moraes e Anthero Pereira da Silva Moraes.
1917 - Nova mudança para a rua da Passagem, nº 100, ainda em Botafogo, onde nasce seu irmão Helius. Vinicius e sua irmã Lygia entram para a escola primária Afrânio Peixoto, à rua da Matriz.
1919 - Transfere-se para a rua 19 de fevereiro, nº 127.
1920 - Mudança para a rua Real Grandeza, nº130. Primeiras namoradas na escola Afrânio Peixoto. È batizado na maçonaria, por disposição de seu avô materno, cerimônia que lhe causaria grande impressão.
1922 - Última residência em Botafogo, na rua Voluntários da Pátria, nº 195. Impressão de deslumbramento com a exposição do Centenário da Independência do Brasil e de curiosidade com o levante do Forte de Copacabana, devido a uma bomba que explodiu perto de sua casa. Sua família transfere-se para a Ilha do Governador, na praia de Cocotá, nº 109-A, onde o poeta passa suas férias.
1923 - Faz sua primeira comunhão na Matriz da rua Voluntários da Pátria.
1924 - Inicia o Curso Secundário no Colégio Santo Inácio, na rua São Clemente.
Começa a cantar no coro do colégio, durante a missa de domingo. Liga-se de grande amizade a seus colegas Moacyr Veloso Cardoso de Oliveira e Renato Pompéia da Fonseca Guimarães, este, sobrinho de Raul Pompéia, com os quais escreve o "épico" escolar, em dez cantos, de inspiração camoniana: os acadêmicos.
A partir daí participa sempre das festividades escolares de encerramento do ano letivo, seja cantando, seja atuando nas peças infantis.
1927 - Conhece e torna-se amigos dos irmãos Paulo e Haroldo Tapajoz, com os quais começa a compor. Com eles, e alguns colegas do Colégio Santo Inácio, forma um pequeno conjunto musical que atua em festinhas, em casa de famílias conhecidas.
1928 - Compõe, com os irmãos Tapajoz, "Loura ou morena" e "Canção da noite", que têm grande sucesso popular.
Por essa época, namora invariavelmente todas as amigas de sua irmã Laetitia.
1929 - Bacharela-se em Letras, no Santo Inácio. Sua família muda-se da Ilha do Governador para a casa contígua àquela onde nasceu, na rua Lopes Quintas, também já demolida.
Vinicius de Moraes
1930 - Entra para a faculdade de Direito da rua do Catete, sem vocação especial. Defende tese sobre a vinda de d. João VI para o Brasil para ingressar no "Centro Acadêmico de Estudos Jurídicos e Sociais" (CAJU), onde se liga de amizade a Otávio de Faria, San Thiago Dantas, Thiers Martins Moreira, Antônio Galloti, Gilson Amado, Hélio Viana, Américo Jacobina Lacombe, Chermont de Miranda, Almir de Andrade e Plínio Doyle.
1931 - Entra para o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR).
1933 - Forma-se em Direito e termina o Curso de Oficial de Reserva.
Estimulado por Otávio de Faria, publica seu primeiro livro, O caminho para a distância, na Schimidt Editora.
1935 - Publica Forma e exegese, com o qual ganha o prêmio Felipe d'Oliveira.
1936 - Publica, em separata, o poema "Ariana, a mulher".
Substitui Prudente de Morais Neto, como representante do Ministério da Educação junto à Censura Cinematográfica.
Conhece Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, dos quais se torna amigo.
1938 - Publica novos poemas e é agraciado com a primeira bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford (Magdalen College), para onde parte em agosto do mesmo ano.
Funciona como assistente do programa brasileiro da BBC.
Conhece, em casa de Augusto Frederico Schimidt, o poeta e músico Jayme Ovalle, de quem se torna um dos maiores amigos.
1939 - Casa-se por procuração com Beatriz Azevedo de Mello.
Regressa da Inglaterra em fins do mesmo ano, devido à eclosão da II Grande Guerra. Em Lisboa encontra seu amigo Oswald de Andrade com quem viaja para o Brasil.
1940 - Nasce sua primeira filha, Susana.
Passa longa temporada em São Paulo, onde se liga de amizade com Mário de Andrade.
1941 - Começa a fazer jornalismo em A Manhã, como crítico cinematográfico e a colaborar no Suplemento Literário ao lado de Rineiro Couto, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Afonso Arinos de Melo Franco, sob a orientação de Múcio Leão e Cassiano Ricardo.
1942 - Inicia seu debate sobre cinema silencioso e cinema sonoro, a favor do primeiro, com Ribeiro Couto, e em seguida com a maioria dos escritores brasileiros mais em voga, e do qual participam Orson Welles e madame Falconetti.
Nasce seu filho Pedro.
A convite do então prefeito Juscelino Kubitschek, chefia uma caravana de escritores brasileiros a Belo Horizonte, onde se liga de amizade com Otto Lara Rezende, Fernando Sabino, Hélio Pelegrino e Paulo Mendes Campos.
Inicia, com seus amigos Rubem Braga e Moacyr Werneck de Castro, a roda literária do Café Vermelhinho, à qual se misturam a maioria dos jovens arquitetos e artistas plásticos da época, como Oscar Niemeyer, Carlos Leão, Afonso Reidy, Jorge Moreira, José Reis, Alfredo Ceschiatti, Santa Rosa, Pancetti, Augusto Rodrigues, Djanira, Bruno Giorgi.
Freqüenta, nessa época, as domingueiras em casa de Aníbal Machado.
Conhece e se torna amigo da escritora Argentina Maria Rosa Oliver, através da qual conhece Gabriela Mistral.
Faz uma extensa viagem ao Nordeste do Brasil acompanhando o escritor americano Waldo Frank, a qual muda radicalmente sua visão política, tornando-se um antifacista convicto. Na estada em Recife, conhece o poeta João Cabral de Melo Neto, de quem se tornaria, depois, grande amigo.
Vinicius de Moraes
1943 - Publica suas Cinco elegias, em edição mandada fazer por Manuel Bandeira, Aníbal Machado e Otávio de Faria.
Ingressa, por concurso, na carreira diplomática.
1944 - Dirige o Suplemento Literário de O Jornal, onde lança, entre outros, Oscar Niemeyer, Pedro Nava, Marcelo Garcia, francisco de Sá Pires, Carlos Leão e Lúcio Rangel, em colunas assinadas, e publica desenhos de artistas plásticos até então pouco conhecidos, como Carlos Scliar, Athos Bulcão, Alfredo Ceschiatti, Eros (Martim) Gonçalves, Arpad Czenes e Maria Helena Vieira da Silva.
1945 - Colabora em vários jornais e revistas, como articulista e crítico de cinema.
Faz amizade com o poeta Pablo Neruda.
Sofre um grave desastre de avião na viagem inaugural do hidro Leonel de Marnier, perto da cidade de Rocha, no Uruguai. Em sua companhia estão Aníbal Machado e Moacir Werneck de Castro.
Faz crônicas diárias para o jornal Diretrizes.
1946 - Parte para Los Angeles, como vice-cônsul, em seu primeiro posto diplomático. Ali permanece por cinco anos sem voltar ao Brasil.
Publica em edição de luxo, ilustrada por Carlos Leão, seu livro, Poemas, sonetos e baladas.
1947 - Em Los angeles, estuda cinema com Orson Welles e Gregg Toland. Lança, com Alex Viany, a revista Film.
1949 - João Cabral de Melo Neto tira, em sua prensa mensal, em Barcelona, uma edição de cinqüenta exemplares de seu poema "Pátria minha".
1950 - Viagem ao México para visitar seu amigo Pablo Neruda, gravemente enfermo. Ali conhece o pintor David Siqueiros e reencontra seu grande amigo, o pintor Di Cavalcanti.
Morre seu pai.
Retorno ao brasil.
1951 - Casa-se pela segunda vez com Lila Maria Esquerdo e Bôscoli.
Começa a colaborar no jornal Última Hora, a convite de Samuel Wainer, como cronista diário e posteriormente crítico de cinema.
1952 - Visita, fotografa e filma, com seus primos, Humberto e José Francheschi, as cidades mineiras que compõe o roteiro do Aleijadinho, com vistas à realização de um filme sobre a vida do escultor que lhe fora encomendado pelo diretor Alberto Cavalcanti.
É nomeado delegado junto ao festival de Punta Del Leste, fazendo paralelamente sua cobertura para o Última Hora. Parte logo depois para a Europa, encarregado de estudar a organização dos festivais de cinema de Cannes, Berlim, Locarno e Veneza, no sentido da realização dos Festival de Cinema de São Paulo, dentro das comemorações do IV Centenário da cidade.
Em Paris, conhece seu tradutor francês, Jean Georges Rueff, com quem trabalha, em Estrasburgo, na tradução de suas Cinco elegias.
1953 - Nasce sua filha Georgiana.
Colabora no tablóide semanário Flan, de Última Hora, sob direção de Joel Silveira.
Aparece a edição francesa das Cinq élégies, em edição de Pierre Seghers.
Liga-se de amizade com o poéta cubano Nicolás Guillén.
Compõe seu primeiro samba, música e letra, "Quando tú passas por mim".
Faz crônicas diárias para o jornal A Vanguarda, a convite de Joel Silveira.
Parte para Paris como segundo secretário de Embaixada.
Vinicius de Moraes
1954 - Sai a primeira edição de sua Antologia Poética. A revista Anhembi publica sua peça Orfeu da Conceição, premiada no concurso de teatro do IV Centenário do Estado de São Paulo.
1955 - Compõe em Paris uma série de canções de câmara com o maestro Cláudio Santoro. Começa a trabalhar para o produtor Sasha Gordine, no roteiro do filme Orfeu Negro. No fim do ano vem com ele ao Brasil, por uma curta estada, para conseguir financiamento para a produção da película, o que não consegue, regressando em fins de dezembro a Paris.
1956 - Volta ao Brasil em gozo de licença-prêmio.
Nasce sua terceira filha, Luciana.
Colabora no quinzenário Para Todos a convite de seu amigo Jorge amado, em cujo primeiro número publica o poema "O operário em construção".
Paralelamente aos trabalhos da produção do filme Orfeu Negro, tem o ensejo de encenar sua peça Orfeu da Conceição, no Teatro Municipal, que aparece também em edição comemorativa de luxo, ilustrada por Carlos Scliar.
Convida Antônio Carlos Jobim para fazer a música do espetáculo, iniciando com ele a parceria que, logo depois, com a inclusão do cantor e violonista João Gilberto, daria início ao movimento de renovação da música popular brasileira que se convencionou chamar de bossa nova.
Retorna ao poste, em Paris, no fim do ano.
1957 - É transferido da Embaixada em Paris para a Delegação do Brasil junto à UNESCO. No fim do ano é removido para Montevidéu, regressando, em trânsito, ao Brasil.
Publica a primeira edição de seu Livro de Sonetos, em edição de Livros de Portugal.
1958 - Sofre um grave acidente de automóvel. Casa-se com Maria Lúcia Proença. Parte para Montevidéu. Sai o LP Canção do Amor Demais, de músicas suas com Antônio Carlos Jobim, cantadas por Elizete Cardoso. No disco ouve-se, pela primeira vez, a batida da bossa nova, no violão de João Gilberto, que acompanha a cantora em algumas faixas, entre as quais o samba “Chega de Saudade”, considerado o marco inicial do movimento.
1959 - Sai o Lp Por Toda Minha Vida, de canções suas com Jobim, pela cantora Lenita Bruno.
O filme Orfeu negro ganha a Palme d'Or do Festival de Cannes e o Oscar, de Hollywood, como melhor filme estrangeiro do ano.
Aparece o seu livro Novos poemas II.
Sua filha Susana, casa.
1960 - Retorna à Secretria do Estado das Relações Exteriores.
Em novembro, nasce seu neto, Paulo.
Sai a segunda edição de sua Antologia Poética, pela Editora de Autor; a edição popular da peça Orfeu da Conceição, pela livraria São José e Recette de Femme et autres poèmes, tradução de Jean-Georges Rueff, em edição Seghers, na coleção Autour du Monde.
Vinicius de Moraes, no Centro Cultural da UNE, Rio - 1962.
(Foto: acervo Última Horas-Folhapress).
1961 - Começa a compor com Carlos Lira e Pixinguinha.
Aparece Orfeu Negro, em tradução italiana de P.A. Jannini, pela Nuova Academia Editrice, de Milão.
1962 - Começa a compor com Baden Powell, dando inicio à série de afro-sambas, entre os quais, "Berimbau" e "Canto de Ossanha".
Compõe, com música de Carlos Lyra, as canções de sua comédia-musicada Pobre menina rica.
Em agosto, faz seu primeiroshow, de larga repercussão, comAntônio Carlos Jobim e João Gilbert,na boate AuBom Gourmet, que daria início aos chamados pocket-shows, e onde foram lançados pela primeira vez grandes sucessos internacionais como "Garota de Ipanema" e o "Samba da bênção"
Show com Carlos Lyra,na mesma boate, para apresentar Pobre menina rica e onde é lançada a cantora Nara Leão.
Compõe com Ari Barroso as últimas canções do grande compositor popular, entre as quais "Rancho das namoradas".
Aparece a primeira edição de Para viver um grande amor, pela Editora do Autor, livro de crônicas e poemas.
Grava, como cantor, seu disco com a atriz e cantora Odete Lara.
1963 - Começa a compor com Edu Lobo.
Casa-se com Nelita Abreu Rocha e parte em posto para Paris, na delegação do Brasil junto a UNESCO.
1964 - Regressa de Paris e colabora com crônicas semanais para a revista Fatos e Fotos, assinando paralelamente crônicas sobre música popular para o Diário Carioca.
Começa a compor com Francis Hime.
Faz show de grande sucesso com o compositor e cantor Dorival Caymmi, na boate Zum-Zum, onde lança o Quarteto em Cy. Do show é feito um LP.
1965 - Sai Cordélia e o peregrino, em edição do Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Cultura.
Ganha o primeiro e o segundo lugares do I Festival de Música Popular de São Paulo, da TV Record, em canções de parceria com Edu Lobo e Baden Powell.
Parte para Paris e St.Maxime para escrever o roteiro do filme Arrastão, indispondo-se, subseqüentemente, com seu diretor, e retirando suas músicas do filme. De Paris voa para Los Angeles a fim de encontrar-se com seu parceiro Antônio Carlos Jobim.
Muda-se de Copacabana para o Jardim Botânico, à rua Diamantina, nº20.
Começa a trabalhar com o diretor Leon Hirszman, do Cinema Novo, no roteiro do filme Garota de Ipanema.
Volta ao show com Caymmi, na boate Zum-Zum.
Vinicius de Moraes
1966 - São feitos documentários sobre o poeta pelas televisões americana, alemã, italiana e francesa, sendo que os dois últimos realizados pelos diretores Gianni Amico e Pierre Kast.
Aparece seu livro de crônicas Para uma menina com uma flor pela Editora do Autor.
Seu "Samba da bênção", de parceria com Baden Powell, é incluída, em versão de compositor e ator Pierre Barouh, no filme Un homme… une femme, vencedor do Festival de Cannes do mesmo ano.
Participa do júri do mesmo festival.
1967 - Aparecem, pela Editora Sabiá, a 6ª edição de sua Antologia poética e a 2ª do seu Livro de sonetos (aumentada).
É posto à disposição do governo de Minas Gerais no sentido de estudar a realização anual de um Festival de Arte em Ouro Preto, cidade à qual faz freqüentes viagens.
Faz parte do jurí do Festival de Música Jovem, na Bahia.
Estréia do filme Garota de Ipanema.
1968 - Falece sua mãe no dia 25 de fevereiro.
Aparece a primeira edição de sua Obra poética, pela Companhia José Aguilar Editora.
Poemas traduzidos para o italiano por Ungaretti.
1969 - É exonerado do Itamaraty.
Casa-se com Cristina Gurjão.
1970 - Casa-se com a atriz baiana Gesse Gessy.
Nasce Maria, sua quarta filha.
Início da parceria com Toquinho.
1971 - Muda-se para a Bahia.
Viagem para Itália.
1972 - Retorna à Itália com Toquinho onde gravam o LP Per vivere un grande amore.
1973 - Publica "A Pablo Neruda".
1974 - Trabalha no roteiro, não concretizado, do filme Polichinelo.
1975 - Excursiona pela Europa. Grava, com Toquinho, dois discos na Itália.
1976 - Escreve as letras de "Deus lhe pague", em parceria com Edu Lobo.
Casa-se com Marta Rodrihues Santamaria.
Vinicius de Moraes
1977 - Grava um LP em Paris, com Toquinho.
Show com Tom, Toquinho e Miúcha, no Canecão.
1978 - Excursiona pela Europa com Toquinho.
Casa-se com Gilda de Queirós Mattoso, que conhecera em Paris.
1979 - Leitura de poemas no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, a convite do líder sindical Luís Inácio da Silva.
Voltando de viagem à Europa, sofre um derrame cerebral no avião. Perdem-se, na ocasião, os originais de Roteiro lírico e sentimental da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
1980 - É operado a 17 de abril, para a instalação de um dreno cerebral.
Morre, na manhã de 9 de julho, de edema pulmonar, em sua casa, na Gávea, em companhia de Toquinho e de sua última mulher.
Extraviam-se os originais de seu livro O dever e o haver.


Cyva, Cybele, Cynara e Cylene - a formação original do Quarteto,
 com Vinicius e Caymmi, Oscar Castro Neves e Aloysio de Oliveira.
na Bahia, em 1964 -  (Foto: Acervo Cynara Faria).

"São demais os perigos desta vida
Pra quem tem paixão principalmente
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher..."
- Vinicius de Moraes

 Para Viver Um Grande Amor, Vinicius de Moraes e Toquinho

Natureza humana
Cheguei. Sinto de novo a natureza
Longe do pandemônio da cidade
Aqui tudo tem mais felicidade
Tudo é cheio de santa singeleza

Vagueio pela múrmura leveza
Que deslumbra de verde e claridade
Mas nada. Resta vívida a saudade
Da cidade em bulício e febre acesa

Ante a perspectiva da partida
Sinto que me arranca algo da vida
Mas quero ir. E ponho-me a pensar

Que a vida é esta incerteza que em mim mora
A vontade tremenda de ir-me embora
E a tremenda vontade de ficar
- Vinicius de Moraes

O Haver, Vinícius de Morais, participação Edu Lobo



OBRA DE VINICIUS DE MORAES – PRIMEIRAS EDIÇÕES
Vinicius de Moraes, por Bertoni.
Poesia
O Caminho para a Distância. 1933
Forma e Exegese. 1934.
Ariana, a Mulher. 1936.
Novos Poemas. 1938.
Cinco Elegias. 1943.
Poemas, Sonetos e Baladas. 1946.
Pátria Minha. 1949.
Antologia Poética. 1954.
Livro de Sonetos. 1957.
Novos Poemas II. 1959.
Obra Poética. 1968.
A Pablo Neruda. 1973.
O Falso Mendigo. 1978.
O Operário em Construção e Outros Poemas.  1979.
Jardim Noturno. com poemas inéditos [Publicação póstuma], 1993.

Crônica
Para Viver um Grande Amor. 1962.
Para uma Menina com uma Flor. 1966.
O Cinema de Meus Olhos. 1992.

Teatro
As Feras. 1961
Procura-Se uma Rosa. [com Pedro Bloch e Gláucio Gill], 1961.
Cordélia e o Peregrino. 1965.
Orfeu da Conceição. 1967.

Infantil e juvenil
A Arca de Noé. 1970.

Final - Instrumental - Orquestra (disco 1980). 
Arca de Noé, de Vinicius de Moraes

Correspondência
MORAIS, Vinicius. Querido Poeta: Correspondências de Vinicius de Moraes. GUERRA, Ruy (Org.). [publicação póstuma], São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

Soneto de Fidelidade, Vinícius de Morais



OBRA DE VINICIUS DE MORAES, PUBLICADA NO EXTERIOR
Vinicius de Moraes, por William
Espanhol
La Vida Vivida. Bogotá: El Ancora Editores, 2000.
Libro de Sonetos. Barcelona/Buenos Aires: Random House Mondadori/Debolsillo, 2003.
Para una Niña con una Flor. [Para uma Menina com uma Flor]. Tradução José Ángel Cillervelo. Barcelona/Buenos Aires: Random House Mondadori/Debolsillo, 2004.
Historia Natural de Pablo Neruda: La Elegia que Viene de Lejos. Santiago del Chile: LOM Ediciones, 2004.
Antologia Poetica. Buenos Aires: Ediciones de la Flor, 2005.
El Arca de Noe. [A Arca de Noé]. Buenos Aires: Ediciones de la Flor, 2005.
Para Vivir un Gran Amor. [Para Viver um Grande Amor] - Buenos Aires: Ediciones de la Flor, 2005.

Francês
Cinc Elégies. Tradução Jean Georges Rueff. Paris: Seghers, 1952.
Orfeu Negro [Orfeu da Conceição]. Tradução Jean Georges Rueff. Paris: Seghers, 1959.
Recette de Femme et Autres Poèmes. Tradução Jean Georges Rueff. Paris: Seghers, 1960.

Italiano
Orfeo Negro. Tradução P. A. Jannini. Milano: Nuova Academia Editrice, 1961.
Per Vivere un Grande Amore. [Para Viver um Grande Amor]. Tradução Amina di Munno. Milano: Mondadori, 1998.


"Quem pagará o enterro e as flores se eu me morrer de amores?"
- Vinicius de Moraes "A Hora Íntima", em "Antologia poética".

Vinicius de Moraes - Encontro Marcado 
com Fernando Sabino.


"(...) e de amar assim, muito amiúde, é que um dia, em teu corpo de repente, hei de morrer de amar mais do que pude."
- Vinicius de Moraes, em "Novos poemas (II)" – [1949-1956].
Manuscrito do Soneto de Separação, de Vinicius de Moraes
A infância é uma gaveta fechada, numa antiga cômoda de velhas magias
A regra pode-se enunciar assim: espera-se que a avó entre para descansar, depois vai-se pé ante pé ver se o avô está mesmo cochilando, na cadeira de balanço...
- ou estará MORTO?
… não, não está porque a cabeça des-ca-ca-c ... aiu num cochilo e se levantou de novo sozinho, assustado, dormindo e saiu uma língua da boca que lambeu o bigode branco e a cabeça foi, foi e des-ca-ca-ca-ca-caiu...
O corredor é a corrida geométrica natural para a fuga de uma gargalhada que não se contém. O avô é o mais engraçado dos homens, o avô é tão, tão, tão, tão, tão...
O medo se abate sobre o Descobridor. É a doçura do nome de Margarida, cujo retrato à meia-luz não entreviu.
- Vinicius de Moraes (sem título).

A música das almas
(Rio de Janeiro)
"Le mal est dans le monde comme un esclave qui fait monter l'eau."
-      Claudel
Na manhã infinita as nuvens surgiram como a loucura numa alma
E o vento como o instinto desceu os braços das árvores que estrangularam a terra...
Depois veio a claridade, o grande céu, a paz dos campos...
Mas nos caminhos todos choravam com os rostos levados para o alto
Porque a vida tinha misteriosamente passado na tormenta.
- Vinicius de Moraes


A ausente
Amiga, infinitamente amiga
Em algum lugar teu coração bate por mim
Em algum lugar teus olhos se fecham à idéia dos meus.
Em algum lugar tuas mãos se crispam, teus seios
Se enchem de leite, tu desfaleces e caminhas
Como que cega ao meu encontro...
Amiga, última doçura
A tranqüilidade suavizou a minha pele
E os meus cabelos. Só meu ventre
Te espera, cheio de raízes e de sombras.
Vem, amiga
Minha nudez é absoluta
Meus olhos são espelhos para o teu desejo
E meu peito é tábua de suplícios
Vem. Meus músculos estão doces para os teus dentes
E áspera é minha barba. Vem mergulhar em mim
Como no mar, vem nadar em mim como no mar
Vem te afogar em mim, amiga minha
Em mim como no mar...
- Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes e Baden Powell
A brusca poesia da mulher amada (II)
(Rio de Janeiro)
A mulher amada carrega o cetro, o seu fastígio
É máximo. A mulher amada é aquela que aponta para a noite
E de cujo seio surge a aurora. A mulher amada
É quem traça a curva do horizonte e dá linha ao movimento dos
astros.
Não há solidão sem que sobrevenha a mulher amada
Em seu acúmen. A mulher amada é o padrão índigo da cúpula
E o elemento verde antagônico. A mulher amada
É o tempo passado no tempo presente no tempo futuro
No sem tempo. A mulher amada é o navio submerso
É o tempo submerso, é a montanha imersa em líquen.
É o mar, é o mar, é o mar a mulher amada
E sua ausência. Longe, no fundo plácido da noite
Outra coisa não é senão o seio da mulher amada
Que ilumina a cegueira dos homens. Alta, tranqüila e trágica
É essa que eu chamo pelo nome de mulher amada.
Nascitura. Nascitura da mulher amada
É a mulher amada. A mulher amada é a mulher amada é a mulher
amada
É a mulher amada. Quem é que semeia o vento? - a mulher amada!
Quem colhe a tempestade? - a mulher amada!
Quem determina os meridianos? - a mulher amada!
Quem a misteriosa portadora de si mesma? A mulher amada.
Talvegue, estrela, petardo
Nada a não ser a mulher amada necessariamente amada
Quando! E de outro não seja, pois é ela
A coluna e o gral, a fé e o símbolo, implícita
Na criação. Por isso, seja ela! A ela o canto e a oferenda
O gozo e o privilégio, a taça erguida e o sangue do poeta
Correndo pelas ruas e iluminando as perplexidades.
Eia, a mulher amada! Seja ela o princípio e o fim de todas as coisas.
Poder geral, completo, absoluto à mulher amada!
- Vinicius de Moraes

Na casa de Vinícius de Moraes, os Cariocas: Severino, Badeco, Luiz Roberto 
e Quartera. (acervo Vinicius de Moraes)
A impossível partida
(Rio de Janeiro)
Como poder-te penetrar, ó noite erma, se os meus olhos cegaram nas luzes da cidade
E se o sangue que corre no meu corpo ficou branco ao contato da carne indesejada?…
Como poder viver misteriosamente os teus recônditos sentidos
Se os meus sentidos foram murchando como vão murchando as rosas colhidas
E se a minha inquietação iria temer a tua eloqüência silenciosa?…
Eu sonhei!... Sonhei cidades desaparecidas nos desertos pálidos
Sonhei civilizações mortas na contemplação imutável
Os rios mortos... as sombras mortas... as vozes mortas...
…o homem parado, envolto em branco sobre a areia branca e a quietude na face...
Como poder rasgar, noite, o véu constelado do teu mistério
Se a minha tez é branca e se no meu coração não mais existem os nervos calmos
Que sustentavam os braços dos Incas horas inteiras no êxtase da tua visão?...
Eu sonhei!... Sonhei mundos passando como pássaros
Luzes voando ao vento como folhas
Nuvens como vagas afogando luas adolescentes...
Sons… o último suspiro dos condenados vagando em busca de vida...
O frêmito lúgubre dos corpos penados girando no espaço...
Imagens... a cor verde dos perfumes se desmanchando na essência das coisas...
As virgens das auroras dançando suspensas nas gazes da bruma
Soprando de manso na boca vermelha dos astros...
Como poder abrir no teu seio, oh noite erma, o pórtico sagrado do Grande Templo
Se eu estou preso ao passado como a criança ao colo materno
E se é preciso adormecer na lembrança boa antes que as mãos desconhecidas me arrebatem?...
- Vinicius de Moraes


Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Francis Hime, Edu Lobo, Caetano Veloso, Chico Buarque,
 Dori Caymmi,  Paulinho da Viola, Torquato Neto, Braguinha, Luiz Bonfá, Maria Helena Toledo,
Zé Ketti, Lenita Plocynska, Capinam, Sidney Miller, Eumir Deodato, Olivia Hime, Helena Gastal,
Luis Eça, João Araújo, Nelson Mota, Dircinha Batista, Tuca, Jandira Negrão de Lima e (...)
 Foto: Paulo Scheuenstuhl, para a revista "Realidade", em agosto de 1967,
 na Casa de Vinicius de Moraes, no Rio de Janeiro. (Acervo Ana Maria Toledo)
A cidade antiga
Houve tempo em que a cidade tinha pêlo na axila
E em que os parques usavam cinto de castidade
As gaivotas do Pharoux não contavam em absoluto
Com a posterior invenção dos kamikazes
De resto, a metrópole era inexpugnável
Com Joãozinho da Lapa e Ataliba de Lara.

Houve tempo em que se dizia: LU-GO-LI-NA
U, loura; O, morena; I, ruiva; A, mulata!
Vogais! tônico para o cabelo da poesia
Já escrevi, certa vez, vossa triste balada
Entre os minuetos sutis do comércio imediato
As portadoras de êxtase e de permanganato!

Houve um tempo em que um morro era apenas um morro
E não um camelô de colete brilhante
Piscando intermitente o grito de socorro
Da livre concorrência: um pequeno gigante
Que nunca se curvava, ou somente nos dias
Em que o Melo Maluco praticava acrobacias.

Houve tempo em que se exclamava: Asfalto!
Em que se comentava: Verso livre! com receio...
Em que, para se mostrar, alguém dizia alto:
"Então às seis, sob a marquise do Passeio..."
Em que se ia ver a bem-amada sepulcral
Decompor o espectro de um sorvete na Paschoal

Houve tempo em que o amor era melancolia
E a tuberculose se chamava consumpção
De geométrico na cidade só existia
A palamenta dos ioles, de manhã...
Mas em compensação, que abundância de tudo!
Água, sonhos, marfim, nádegas, pão, veludo!

Houve tempo em que apareceu diante do espelho
A flapper cheia de it, a esfuziante miss
A boca em coração, a saia acima do joelho
Sempre a tremelicar os ombros e os quadris
Nos shimmies: a mulher moderna... Ó Nancy! Ó Nita!
Que vos transformastes em dízima infinita...

Houve tempo... e em verdade eu vos digo: havia tempo
Tempo para a peteca e tempo para o soneto
Tempo para trabalhar e para dar tempo ao tempo
Tempo para envelhecer sem ficar obsoleto...
Eis por que, para que volte o tempo, e o sonho, e a rima
Eu fiz, de humor irônico, esta poesia acima.
- Vinicius de Moraes

Berimbau / Chega de Saudade / Canto Ossanha
(Tom, Vinícius Toquinho e Miúcha)

A perdida esperança
(Paris)
De posse deste amor que é, no entanto, impossível
Este amor esperado e antigo como as pedras
Eu encouraçarei o meu corpo impassível
E à minha volta erguerei um alto muro de pedras.

E enquanto perdurar tua ausência, que é eterna
Por isso que és mulher, mesmo sendo só minha
Eu viverei trancado em mim como no inferno
Queimando minha carne até sua própria cinza.

Mas permanecerei imutável e austero
Certo de que, de amor, sei o que ninguém soube
Como uma estátua prisioneira de um castelo
A mirar sempre além do tempo que lhe coube.

E isento ficarei das antigas amadas
Que, pela Lua cheia, em rápidas sortidas
Ainda vêm me atirar flechas envenenadas
Para depois beber-me o sangue das feridas.

E assim serei intacto, e assim serei tranqüilo
E assim não sofrerei da angústia de revê-las
Quando, tristes e fiéis como lobas no cio
Se puserem a rondar meu castelo de estrelas.

E muito crescerei em alta melancolia
Todo o canto meu, como o de Orfeu pregresso
Será tão claro, de uma tão simples poesia
Que há de pacificar as feras do deserto.

Farto de saber ler, saberei ver nos astros
A brilharem no azul da abóbada no Oriente
E beijarei a terra, a caminhar de rastros
Quando a Lua no céu contar teu rosto ausente.

Eu te protegerei contra o Íncubo
Que te espreita por trás da Aurora acorrentada
E contra a legião dos monstros do Poente
Que te querem matar, ó impossível amada!
- Vinicius de Moraes

Luciana e Vinicius de Moraes - (Acervo Vinicus de Moraes)
A que há de vir
(Rio de Janeiro)
Aquela que dormirá comigo todas as luas
É a desejada de minha alma.
Ela me dará o amor do seu coração
E me dará o amor da sua carne.

Ela abandonará pai, mãe, filho, esposo
E virá a mim com os peitos e virá a mim com os lábios
Ela é a querida da minha alma
Que me fará longos carinhos nos olhos
Que me beijará longos beijos nos ouvidos
Que rirá no meu pranto e rirá no meu riso.
Ela só verá minhas alegrias e minhas tristezas
Temerá minha cólera e se aninhará no meu sossego
Ela abandonará filho e esposo
Abandonará o mundo e o prazer do mundo
Abandonará Deus e a Igreja de Deus
E virá a mim me olhando de olhos claros
Se oferecendo à minha posse
Rasgando o véu da nudez sem falso pudor
Cheia de uma pureza luminosa.
Ela é a amada sempre nova do meu coração
Ela ficará me olhando calada
Que ela só crerá em mim
Far-me-á a razão suprema das coisas.
Ela é a amada da minha alma triste
É a que dará o peito casto
Onde os meus lábios pousados viverão a vida do seu coração
Ela é a minha poesia e a minha mocidade
É a mulher que se guardou para o amado de sua alma
Que ela sentia vir porque ia ser dela e ela dele.

Ela é o amor vivendo de si mesmo.
É a que dormirá comigo todas as luas
E a quem eu protegerei contra os males do mundo.

Ela é a anunciada da minha poesia
Que eu sinto vindo a mim com os lábios e com os peitos
E que será minha, só minha, como a força é do forte e a poesia é do poeta.
- Vinicius de Moraes

Garota de Ipanema/Sei Lá, Tom Jobim e Vinicius de Moraes
(Tom, Vinícius Toquinho e Miúcha)

A uma mulher
(Rio de Janeiro)
Quando a madrugada entrou eu estendi o meu peito nu sobre o teu peito
Estavas trêmula e teu rosto pálido e tuas mãos frias
E a angústia do regresso morava já nos teus olhos.
Tive piedade do teu destino que era morrer no meu destino
Quis afastar por um segundo de ti o fardo da carne
Quis beijar-te num vago carinho agradecido.
Mas quando meus lábios tocaram teus lábios
Eu compreendi que a morte já estava no teu corpo
E que era preciso fugir para não perder o único instante
Em que foste realmente a ausência de sofrimento
Em que realmente foste a serenidade.
- Vinicius de Moraes


Ausência
(Rio de Janeiro)
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
- Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes e Toquinho (acervo Vinicius de Moraes)
Balada de Botafogo
Ó luas de Botafogo
Luas que não voltam mais
A se masturbarem nuas
Sobre o flúmen dessas ruas
Minhas ruas transversais.
Ó transversais, ó travessas
Sombrias, sentimentais
Cheias de escuros propícios
Aos incansáveis inícios
Do adolescente Vinicius
Da Cruz de Mello Moraes.
.................................................
Ó Escola Afrânio Peixoto
Que me ensinaste a paixão:
Que é da menina sardenta
Que um dia me deu um beijo
Na hora da elevação?
Ah, que coisinha sedenta...
Ah, que brinquedos de mão!
.................................................
Ó rua Dona Mariana
Que me fazias sofrer
Ao som triste da pavana
Ao piano no entardecer...
Ó Colégio Santo Inácio
Onde me bacharelei!
Ah, se meu verso contasse
As confissões que não fiz
As preces que não rezei...
- Vinicius de Moraes

Tomara, Vinicius de Moraes (Vinicius de Moraes, 
Marilia Medalha, Toquinho e Trio Mocotó)

Copacabana
(Los Angeles, 1948)
Esta é Copacabana, ampla laguna 
Curva e horizonte, arco de amor vibrando 
Suas flechas de luz contra o infinito. 
Aqui meus olhos desnudaram estrelas 
Aqui meus braços discursaram à lua 
Desabrochavam feras dos meus passos 
Nas florestas de dor que percorriam. 
Copacabana, praia de memórias! 
Quantos êxtases, quantas madrugadas 
Em teu colo marítimo! 

         - Esta é a areia 

Que eu tanto enlameei com minhas lágrimas 
- Aquele é o bar maldito. Podes ver 
Naquele escuro ali? É um obelisco 
De treva - cone erguido pela noite 
Para marcar por toda a eternidade 
O lugar onde o poeta foi perjuro. 
Ali tombei, ali beijei-te ansiado 
Como se a vida fosse terminar 
Naquele louco embate. Ali cantei 
À lua branca, cheio de bebida 
Ali menti, ali me ciliciei 
Para gozo da aurora pervertida. 

Sobre o banco de pedra que ali tens 
Nasceu uma canção. Ali fui mártir 
Fui réprobo, fui bárbaro, fui santo 
Aqui encontrarás minhas pegadas 
E pedaços de mim por cada canto. 
Numa gota de sangue numa pedra 
Ali estou eu. Num grito de socorro 
Entreouvido na noite, ali estou eu. 
No eco longínquo e áspero do morro 
Ali estou eu. Vês tu essa estrutura 
De apartamento como uma colmeia 
Gigantesca? em muitos penetrei 
Tendo a guiar-me apenas o perfume 
De um sexo de mulher a palpitar 
Como uma flor carnívora na treva. 
Copacabana! ah, cidadela forte 
Desta minha paixão! a velha lua 
Ficava de seu nicho me assistindo 
Beber, e eu muita vez a vi luzindo 
No meu copo de uísque, branca e pura 
A destilar tristeza e poesia. 
Copacabana! réstia de edifícios 
Cujos nomes dão nome ao sentimento! 
Foi no Leme que vi nascer o vento 
Certa manhã, na praia. Uma mulher 
Toda de negro no horizonte extremo 
Entre muitos fantasmas me esperava: 
A moça dos antúrios, deslembrada 
A senhora dos círios, cuja alcova 
O piscar do farol iluminava 
Como a marcar o pulso da paixão 
Morrendo intermitentemente. E ainda 
Existe em algum lugar um gesto alto, 
Um brilhar de punhal, um riso acústico 
Que não morreu. Ou certa porta aberta 
Para a infelicidade: inesquecível 
Frincha de luz a separar-me apenas 
Do irremediável. Ou o abismo aberto 
Embaixo, elástico, e o meu ser disperso 
No espaço em torno, e o vento me chamando 
Me convidando a voar... (Ah, muitas mortes 
Morri entre essas máquinas erguidas 
Contra o Tempo!) Ou também o desespero 
De andar como um metrônomo para cá 
E para lá, marcando o passo do impossível 
À espera do segredo, do milagre 
Da poesia. 

        Tu, Copacabana, 
Mais que nenhuma outra foste a arena 
Onde o poeta lutou contra o invisível 
E onde encontrou enfim sua poesia 
Talvez pequena, mas suficiente 
Para justificar uma existência 
Que sem ela seria incompreensível.
- Vinicius de Moraes

Insensatez, Vinicius de Moraes e Tom Jobim

 
Beleza do corpo da amiga
Amiga, teu corpo é como uma sombra quente
Onde eu me deito para mirar a água tranqüila dos teus olhos
Amiga, teus olhos são como uma água tranqüila
Que apenas se diluem quando eu colher em tua boca a flor úmida que passa
Trazendo em sua corola rubra o pistilo de sua língua em sangue.
- Vinicius de Moraes


Dialética
(Montevidéu)
É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz

Mas acontece que eu sou triste...

Duas canções de silêncio
(Oxford)
Ouve como o silêncio
Se fez de repente
Para o nosso amor

Horizontalmente...

Crê apenas no amor
   E em mais nada
Cala; escuta o silêncio
   Que nos fala
Mais intimamente; ouve
   Sossegada
O amor que despetala
   O silêncio...

Deixa as palavras à poesia...
- Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes
Inatingível
(Rio de Janeiro)
O que sou eu, gritei um dia para o infinito
E o meu grito subiu, subiu sempre
Até se diluir na distância.
Um pássaro no alto planou vôo
E mergulhou no espaço.
Eu segui porque tinha que seguir
Com as mãos na boca, em concha
Gritando para o infinito a minha dúvida.

Mas a noite espiava a minha dúvida
E eu me deitei à beira do caminho
Vendo o vulto dos outros que passavam
Na esperança da aurora.
Eu continuo à beira do caminho
Vendo a luz do infinito
Que responde ao peregrino a imensa dúvida.

Eu estou moribundo à beira do caminho.
O dia já passou milhões de vezes
E se aproxima a noite do desfecho.
Morrerei gritando a minha ânsia
Clamando a crueldade do infinito
E os pássaros cantarão quando o dia chegar
E eu já hei de estar morto à beira do caminho.
- Vinicius de Moraes


Chega de Saudade, Vinicius de Moraes e Tom Jobim 
(João Gilberto - 1959)

Mar
Na melancolia de teus olhos
Eu sinto a noite se inclinar
E ouço as cantigas antigas
          Do mar.

Nos frios espaços de teus braços
Eu me perco em carícias de água
E durmo escutando em vão
          O silêncio.

E anseio em teu misterioso seio
Na atonia das ondas redondas.
Náufrago entregue ao fluxo forte
          Da morte.
- Vinicius de Moraes


Na esperança de teus olhos
(Rio de Janeiro)
Eu ouvi no meu silêncio o prenúncio de teus passos
Penetrando lentamente as solidões da minha espera
E tu eras, Coisa Linda, me chegando dos espaços
Como a vinda impressentida de uma nova primavera.
Vinhas cheia de alegria, coroada de guirlandas
Com sorrisos onde havia burburinhos de água clara
Cada gesto que fazias semeava uma esperança
E existiam mil estrelas nos olhares que me davas.
Ai de mim, eu pus-me a amar-te, pus-me a amar-te mais ainda
Porque a vida no meu peito se fizera num deserto
E tu apenas me sorrias, me sorrias, Coisa Linda
Como a fonte inacessível que de súbito está perto.
Pelas rútilas ameias do teu riso entreaberto
Fui subindo, fui subindo no desejo de teus olhos
E o que vi era tão lindo, tão alegre, tão desperto
Que do alburno do meu tronco despontaram folhas novas.
Eu te juro, Coisa Linda: vi nascer a madrugada
Entre os bordos delicados de tuas pálpebras meninas
E perdi-me em plena noite, luminosa e espiralada
Ao cair no negro vórtice letal de tuas retinas.
E é por isso que eu te peço: resta um pouco em minha vida
Que meus deuses estão mortos, minhas musas estão findas
E de ti eu só quisera fosses minha primavera
E só espero, Coisa Linda, dar-te muitas coisas lindas...
- Vinicius de Moraes


O apelo
Que te vale, minha alma, essa paisagem fria
Essa terra onde parecem repousar virgens distantes?
Que te importa essa calma, essa tarde caindo sem vozes
Esse ar onde as nuvens se esquecem como adeuses?
Que te diz o adormecimento dessa montanha extática
Onde há caminhos tão tristes que ninguém anda neles
E onde o pipilo de um pássaro que passa de repente
Parece suspender uma lágrima que nunca se derrama?
Para que te debruças inutilmente sobre esse ermo
E buscas um grito de agonia que nunca te chegará a tempo
Que são longos, minha alma, os espaços perdidos...
Ah, chegar! chegar depois de tanta ausência
E despontar como um santo dentro das ruas escuras
Bêbado dos seios da amada cheios de espuma!
- Vinicius de Moraes

Soneto do Amor Total, Vinícius de Moraes
O bom pastor
(Rio de Janeiro)
Amo andar pelas tardes sem som, brandas, maravilhosas
Com riscos de andorinhas pelo céu.
Amo ir solitário pelos caminhos
Olhando a tarde parada no tempo
Parada no céu como um pássaro em vôo
E que vem de asas largas se abatendo.
Amo desvendar a vaga penumbra que desce
Amo sentir o ar sem movimento, a luz sem vida
Tudo interiorizado, tudo paralisado na oração calma...

Amo andar nessas tardes...
Sinto-me penetrando o sereno vazio de tudo
Como um raio de luz.
Cresço, projeto-me ao infinito, agitando
Para consolar as árvores angustiadas
E acalmar os pinheiros moribundos.
Desço aos vales como uma sombra de montanha
Buscando poesia nos rios parados.
Sou como o bom-pastor da natureza
Que recolhe a alma do seu rebanho
No agasalho da sua alma...

E amo voltar
Quando tudo não é mais que uma saudade
Do momento suspenso que foi...
Amo voltar quando a noite palpita
Nas primeiras estrelas claras...
Amo vir com a aragem que começa a descer das montanhas
Trazendo cheiros agrestes de selva...
E pelos caminhos já percorridos, voltando com a noite
Amo sonhar...
- Vinicius de Moraes

Se todos fossem iguais a você, 
Tom Jobim e Vinicius de Moraes

O poeta em trânsito ou o filho pródigo
Acordarei as aves que, noturnas
Por medo à treva calam-se nos galhos
E aguardam insones o romper da aurora.
Despertarei os bêbados nos pórticos
Os cães sonâmbulos e os gerais mistérios
Que envolvem a noite. Pedirei gritando
Ao mar que mate e ao vento que violente
As jovens praias de pudor tão branco.
Quebrarei com ressacas e risadas
O silêncio habitual de Deus na noite
A intimidar os homens. Que a cidade
Ponha o xale da lua sobre a fronte
E saia a receber o seu poeta
Com ramos de jasmim e outras saudades.
A hora é de beleza. Em cada pedra
Em cada casa, em cada rua, em cada
Árvore, vive ainda uma carícia
Feita por mim, por mim que fui amante
Urbano, e mais que urbano, sobre-humano
Na noturna cidade desvairada.
Provavelmente não virei montado
Em cavalo nenhum, como soía
Nem de armadura, que essa, a poesia
Mais que nenhuma me defenderia
Numa cota de malhas de silêncio.
É bem possível até que chegue bêbado
E se em janeiro, de camisa esporte.
O importante é chegar, ser a unidade
Entre a cidade e eu, eu e a cidade
Ouvir de novo o mar se estilhaçando
Nas rochas, ou bramindo no oceano
Sozinho como um deus.................................
.......................................................................
.............................................Ó bem-amada
Rio! como mulher petrificada
Em nádegas e seios e joelhos
De rocha milenar, e verdejante
Púbis e axilas e os cabelos soltos
De clorofila fresca e perfumada!
Eu te amo, mulher adormecida
Junto ao mar! eu te amo em tua absoluta
Nudez ao sol e placidez ao luar.
Junto de ti me sinto, tua luz
Não fere o meu silêncio. O meu silêncio
Te pertence. Eu sei que resguardada
Dos seres que se movem entre teus braços
Teus olhos têm visões de outros espaços
Passados e futuros...
                                    Como às vezes
Sobre a lunar estrada Niemeyer
Entre o clamor das ondas fustigadas
Meditam as montanhas. Que silêncio
Se escuta ali pousar, que gravidade
Da natureza! Eu sei, é bem verdade
Que sob o sol o Rio é muito claro
Muito claro demais, e sem mistério.
Eu sei que ao revérbero de janeiro
Morrem segredos como morrem as aves
Contentes de morrer. Eu sei tudo isso.
Já vi com esses meus olhos incansáveis
Idéias explodirem como flores
Entre réstias de sol já vi castelos
Matemáticos ruírem como cartas
Sistemas filosóficos perderem
A lógica do dia para a noite
Obras de arte nascentes desviarem-se
Do rumo da criação ante uma axila
Suada, e muitos santos se danarem
Sob a ação salutar do ultravioleta.
Mas pra quem tem o hábito da noite
Quem vive em intimidade com o silêncio
Quem sabe ouvir a música da treva
Quando na treva reproduz-se a vida
Para esse, a cidade se oferece
Num clima universal de eternidade
No contraponto do mover do mar
E no mutismo milenar da pedra
Em sua infinidade de infinitos
Para esse os Dois Irmãos contam uma história
Fantástica, de forças irrompendo
Da terra e se dispondo em formas súbitas
Viúva! Pão de Açúcar! Corcovado!
E mais ao sul, sarcófago do sol
A mesa imensa onde esse pode ver
Se acaso souber ver, no fim do dia
A silhueta do homem primitivo
(A mesma que ainda hoje, transformada
Passa sobre o mosaico da Avenida)
E até quem sabe, natural torcida
Assistindo de sua arquibancada
As serpentes do mar em luta ignara
Movendo maremotos, à porfia
No estádio natural da Guanabara.
- Vinicius de Moraes

A felicidade, Vinicius de Moraes e Tom Jobim
(Tom, Vinicius, Miúcha e Toquinho). 
O prisioneiro
(Rio de Janeiro)
Eu cerrei brandamente a janela sobre a noite quieta
E fiquei sozinho e parado, longe de tudo.
Nenhuma percepção - talvez uma leve sensação de frio no vento
E uma vaga visão de objetos boiando no vácuo dos olhos.
Nenhum movimento - distâncias infinitas em todas as coisas

No lençol branco que era outrora o grande esquecimento
No poeta que ontem era o refúgio e a lágrima
E no misericordioso olhar de luz que sempre fora o supremo apelo.
Nenhum caminho - nem a possibilidade de um gesto desalentado
Na angústia de não ferir o desespero do espaço móvel.

Passariam as horas e nas horas o auge de cada instante de sofrimento
Passariam as horas até a hora de voltar para o amor das almas
E seguir com elas até a próxima noite.
Nenhum movimento - é preciso não despertar o sono dos que velam em espírito
É preciso esquecer que há poesia a ser colhida nas longas estradas.
Nenhum pensamento - a mobilidade será o horror de todas as noites
É preciso ser feliz na imobilidade.
- Vinicius de Moraes


O rio
Uma gota de chuva
A mais, e o ventre grávido
Estremeceu, da terra.
Através de antigos
Sedimentos, rochas
Ignoradas, ouro
Carvão, ferro e mármore
Um fio cristalino
Distante milênios
Partiu fragilmente
Sequioso de espaço
Em busca de luz.

Um rio nasceu.
- Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes
O riso
Aquele riso foi o canto célebre
Da primeira estrela, em vão.
Milagre de primavera intacta
No sepulcro de neve
Rosa aberta ao vento, breve
Muito breve...

Não, aquele riso foi o canto célebre
Alta melodia imóvel
Gorjeio de fonte núbil
Apenas brotada, na treva...
Fonte de lábios (hora
Extremamente mágica do silêncio das aves).

Oh, música entre pétalas
Não afugentes meu amor!
Mistério maior é o sono
Se de súbito não se ouve o riso na noite.
- Vinicius de Moraes

Samba em Prelúdio, Vinicius de Moraes e Baden Powell

O sacrifício do vinho
(Paris)
Contra o crepúsculo
O vinho assoma, exulta, sobreleva
Muda o cristal da tarde em rubra pompa
Ganha som, ganha sangue, ganha seios
Contra o crepúsculo o vinho
Menstrua a tarde.

Ah, eu quero beber do vinho em grandes haustos
Eu quero os longos dedos líquidos
Sobre meus olhos, eu quero
A úmida língua...

O céu da minha boca
É uma cúpula imensa para a acústica
Do vinho, e seu eco de púrpura...
O cantochão do vinho
Cresce, vermelho, entre muralhas súbitas
Carregado de incenso e paciência.
As sinetas litúrgicas
Erguern a taça ardente contra a tarde
E o vinho, transubstanciado, bate asas
Voa para o poente
O vinho...

Uma coisa é o vinho branco
O primeiro vinho, linfa da aurora impúbere
Sobre a morte dos peixes.
Mas contra a noite ei-lo que se levanta
Varado pelas setas do poente
Transverberado, o vinho...
E o seu sangue se espalha pelas ruas
Inunda as casas, pinta os muros, fere
As serpentes do tédio; dentro
Da noite o vinho
Luta como um Laocoonte
O vinho...

Ah, eu quero beijar a boca moribunda
Fechar os olhos pânicos
Beber a áspera morte
Do vinho...
- Vinicius de Moraes
Vinicius de Moraes, por Fernandes.
O tempo nos parques
O tempo nos parques é íntimo, inadiável, imparticipante, imarcescível.
Medita nas altas frondes, na última palma da palmeira
Na grande pedra intacta, o tempo nos parques.
O tempo nos parques cisma no olhar cego dos lagos
Dorme nas furnas, isola-se nos quiosques
Oculta-se no torso muscular dos fícus, o tempo nos parques.
O tempo nos parques gera o silêncio do piar dos pássaros
Do passar dos passos, da cor que se move ao longe.
É alto, antigo, presciente o tempo nos parques
É incorruptível; o prenúncio de uma aragem
A agonia de uma folha, o abrir-se de uma flor
Deixam um frêmito no espaço do tempo nos parques.
O tempo nos parques envolve de redomas invisíveis
Os que se amam; eterniza os anseios, petrifica
Os gestos, anestesia os sonhos, o tempo nos parques.
Nos homens dormentes, nas pontes que fogem, na franja
Dos chorões, na cúpula azul o tempo perdura
Nos parques; e a pequenina cutia surpreende
A imobilidade anterior desse tempo no mundo
Porque imóvel, elementar, autêntico, profundo
É o tempo nos parques.
- Vinicius de Moraes

O verbo no infinito
(Rio de Janeiro)
Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...
- Vinicius de Moraes

 Samba de Bênção, Vinicius de Moraes e Baden Powell
(Vinicius de Moraes e Toquinho)

Patético
Está ausente. Ausente como as vozes da minha infância
E muda - eu lhe dou adeus de todos os espaços
Grito o seu nome em todas as ruas - e os trens passam deixando a distância nas casas que dormem
Mas está muda e ausente - e os trens passam e eu grito o seu nome…

Ah, meu amor! por que a saudade está me chamando para a noite?
Sou eu, sou eu! aquele cuja alma se estende sobre a vida
Aquele cujo espírito é imenso e cujo coração é trágico
Eu, eu... E logo nada mais serei que memória e dolorosa lembrança

Teus gestos e teus olhares de profunda inocência, onde estão?
Nada se move... - há uma luz, um leito e uma lua lá longe...
Talvez eu esteja prisioneiro de um destino atroz - socorre-me!
Talvez eu esteja sofrendo um instante atroz - liberta-me!

Quero a calma, a pureza, a serenidade do teu mundo
Vinicius de Moraes
Quero as manhãs nascendo e as tardes se pondo docemente
Não quero o horror! as convulsões, os desânimos, as lágrimas, a cólera
Quero as tuas mãos - e não as encontro no ar, no mar, no luar, no caminhar

Adormece e vem - eu sei que sou forte e belo para a vida
Sei que há um gênio inquieto na minha palavra que um dia será ouvida
Mas nesse momento quero apenas que seja tu a que sabe e a que recebe
Onde estás? - no país distante que fica ao poente ou no país presente que fica ao levante?…

Ausente - muda e ausente! crianças que sonham trazei-me o seu sono
Estrelas que dormem trazei-me o seu sonho. - Mas quem bateu na minha janela?
- Foi o grito dos trens partindo da tristeza de uns para a alegria de outros
- Foi o grito do além pedindo o orvalho das madrugadas para a carne dos infelizes…
- Vinicius de Moraes

Poema nº três em busca da essência
Do amor como do fruto. (Sonhos dolorosos das ermas madrugadas acordando…)
Nas savanas a visão dos cactos parados à sombra dos escravos - as negras mãos no ventre luminoso das jazidas
Do amor como do fruto. (A alma dos sons nos algodoais das velhas lendas…)
Êxtases da terra às manadas de búfalos passando - ecos vertiginosos das quebradas azuis
O Mighty Lord!
Os rios, os pinheiros e a luz no olhar dos cães - as raposas brancas no olhar dos caçadores
Lobos uivando, Yukon! Yukon! Yukon! (Casebres nascendo das montanhas paralisadas…)
Do amor como da serenidade. Saudade dos vulcões nas lavas de neve descendo os abismos
Cantos frios de pássaros desconhecidos. (Arco-íris como pórticos de eternidade…)
Do amor como da serenidade nas planícies infinitas o espírito das asas no vento.
O Lord of Peace!

Do amor como da morte. (Ilhas de gelo ao sabor das correntes…)
Ursas surgindo da aurora boreal como almas gigantescas do grande-silêncio-branco
Do amor como da morte. (Gotas de sangue sobre a neve…)
A vida das focas continuamente se arrastando para o não-sei-onde
- Cadáveres eternos de heróis longínquos
O Lord of Death!
- Vinicius de Moraes
Vinicius de Moraes


Poética
(Nova York, 1950)
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.
- Vinicius de Moraes
Pressentimento
Deixa dormir na tua porta o sono, poeta apascentado pela Lua
Seus seios bebem teu sangue para alimentar os anjos
Ouve as flores, sente como as suas minúsculas tetas de perfume
Palpitam cheias de vinho para as pequeninas ovelhas do céu
Fica em calma, enche teus olhos do verde negror da noite
E quando muito recita um pouco de poesia à toa para as estrelas
Porque nada tens a fazer, nada! e os passarinhos continuam soltos por aí...
- Vinicius de Moraes


Quando me ergui ela dormia, nua...
(Oxford)
Quando me ergui ela dormia, nua
E sorria, em seu sono desmaiada
Tinha a face longínqua e iluminada
E alto, seu sexo sugava a Lua.

Toquei-a, ela fremiu, gemeu, na sua
Doce fala, e bateu a mão alçada
No ar, e foi deixá-la de guardada
Sob a nádega fria, forte e crua

Tão louca a minha amiga, linda e louca
Minha amiga, em seu branco devaneio
De mim, eu de amor pouco e vida pouca

Mas que tinha deixado sem receio
Um segredo de carne em sua boca
E uma gota de leite no seu seio.
- Vinicius de Moraes

Quietação
(Rio de Janeiro)
No espaço claro e longo
O silêncio é como uma penetração de olhares calmos...
Eu sinto tudo pousado dentro da noite
E chega até mim um lamento contínuo de árvores curvas.
Como desesperados de melancolia
Uivam na estrada cães cheios de lua.
O silêncio pesado que desce
Curva todas as coisas religiosamente
E o murmúrio que sobe é como uma oração da noite...

Eu penso em ti.
Minha boca cicia longamente o teu nome
E eu busco sentir no ar o aroma morno da tua carne.
Vejo-te ainda na visão que te precisou no espaço
Ouvindo de olhos dolentes as palavras de amor que eu te dizia
Fora do tempo, fora da vida, na cessação suprema do instante
Ouvindo, junta de mim, a angústia apaixonada da minha voz
Num desfalecimento.
Pelo espaço claro e longo
Vibra a luz branca das estrelas.
Nem uma aragem, tudo parado, tudo silêncio
Tudo imensamente repousado.
E eu cheio de tristeza, sozinho, parado
Pensando em ti.
- Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes
Senhor, eu não sou digno
(Rio de Janeiro)
Para que cantarei nas montanhas sem eco
As minhas louvações?
A tristeza de não poder atingir o infinito
Embargará de lágrimas a minha voz.
Para que entoarei o salmo harmonioso
Se tenho na alma um de-profundis?
Minha voz jamais será clara como a voz das crianças
Minha voz tem as inflexões dos brados de martírio
Minha voz enrouqueceu no desespero...
Para que cantarei
Se em vez de belos cânticos serenos
A solidão escutará gemidos?
Antes ir. Ir pelas montanhas sem eco
Pelas montanhas sem caminho
Onde a voz fraca não irá.
Antes ir - e abafar as louvações no peito
Ir vazio de cantos pela vida
Ir pelas montanhas sem eco e sem caminho, pelo silêncio
Como o silêncio que caminha...
- Vinicius de Moraes

Soneto de Separação, de Vinicius de Moraes

Solidão
(Rio de Janeiro)
Desesperança das desesperanças...
Última e triste luz de uma alma em treva...
- A vida é um sonho vão que a vida leva
Cheio de dores tristemente mansas.

- É mais belo o fulgor do céu que neva
Que os esplendores fortes das bonanças
Mais humano é o desejo que nos ceva
Que as gargalhadas claras das crianças.

Eu sigo o meu caminho incompreendido
Sem crença e sem amor, como um perdido
Na certeza cruel que nada importa.

Às vezes vem cantando um passarinho
Mas passa. E eu vou seguindo o meu caminho
Na tristeza sem fim de uma alma morta.
- Vinicius de Moraes

Tarde
(Rio de Janeiro)
Na hora dolorosa e roxa das emoções silenciosas
Meu espírito te sentiu.
Ele te sentiu imensamente triste
Imensamente sem Deus
Na tragédia da carne desfeita.

Ele te quis, hora sem tempo
Porque tu eras a sua imagem, sem Deus e sem tempo.
Ele te amou
E te plasmou na visão da manhã e do dia
Na visão de todas as horas
Ó hora dolorosa e roxa das emoções silenciosas.
- Vinicius de Moraes
Vinicius de Moraes
Uiaras, na montanha, ao sol...
Uiaras, na montanha, ao sol, sob a cascata
Rutilante, movendo as nádegas de prata
Na farta esmeralda do limo, em gelatina
Nuas, verdes, nas grandes pedras, na água fina
- Povo claro de mãos, de torsos e de seios
Que rubra solidão em mim vossos enleios
Mornos, graves, fizeram, lânguidos, sonhar
Que, em mim, se enrijeceu na ânsia de vos dar
Minha maior humanidade?...
Desejei
Vos fecundar
Não, não o doloroso e apenas
Gozo de conseguir, das vossas ancas, plenas
Frenético, a rápida sombra do distante
Ah, bem antes o sonho, o voto apaziguante
A sensação do vento da manhã, em ouro
Dançarino ideal, trazendo o pólen louro
Às flores ainda adormecidas nas estrelas...

(Qualquer coisa que vem da calma de sabê-las
Infecundas... - e só sentir fecundidade
No infecundo, e só viver dessa verdade...)

Como eu sou desigual! talvez que o meu desejo
Seja terrível... - pequena visão que eu vejo
Cresce acima de mim meu corpo animal.

Ó dor! só sinto o Bem como o supremo mal
Ó seres de paixão!...
- que mais cruel martírio
Essa espera sem fim, morrendo como um lírio
Pelo amor sem perdão das rosas impossíveis?...
No entanto, que música acordas, que invisíveis
Preces despertas, que cores descobres, claridade!
Sou bem alguém, alguma coisa, ou, uma ansiedade
De seres e de coisas?

Ah, meu corpo teme as
Trevas da noite, mas ela deseja dessas fêmeas
A treva da consumação... Mas serei eu
Depois? Será minha a minha alma e meu
O meu corpo?
Jamais.
Minha vaidade é eterna.
- Vinicius de Moraes

Pierre Seghers e Vinicius Moraes, em Paris -1972.
Um dia, como estivesse parado... (s/ título)
Um dia, como estivesse parado à borda de uma montanha ao Sol poente Apascentando a sua poesia diante dos trigais e contemplando as cidades douradas Viu o Príncipe-Poeta a minha sombra precipitada nos abismos ir escurecendo uma extensão de léguas e léguas de terra.
Havia em torno a mim uma grande humildade, de rebanhos e de sopros de flautas E uma grande paz futura como se tudo não fosse senão a eterna espera de uma
[eterna vinda se desdobrando
Subitamente o Príncipe viu a sua sombra que obedecia ao seu corpo que obedecia
[ao seu pensamento ali estava desde o começo dos tempos o espetáculo das eras.

As águas não se repetem, ele pensava, mas elas voltam para os mesmos leitos desfeitos em chuva
E refazem o mesmo caminho da terra para as fontes das fontes para os rios dos rios para o mar do mar para o sol
Ora cantantes, límpidas, serenas, ora estagnadas, tempestuosas, negras, trágicas, segundo a sabedoria dos instantes do curso
Até novamente subirem ao astro sedento onde viveram o seu paraíso efêmero para caírem novamente em gotas de chuva.
- Vinicius de Moraes

Vazio
(Rio de Janeiro)
A noite é como um olhar longo e claro de mulher.
Sinto-me só.
Em todas as coisas que me rodeiam
Há um desconhecimento completo da minha infelicidade.
A noite alta me espia pela janela
E eu, desamparado de tudo, desamparado de mim próprio
Olho as coisas em torno
Com um desconhecimento completo das coisas que me rodeiam.
Vago em mim mesmo, sozinho, perdido
Tudo é deserto, minha alma é vazia
E tem o silêncio grave dos templos abandonados.
Eu espio a noite pela janela
Ela tem a quietação maravilhosa do êxtase.
Mas os gatos embaixo me acordam gritando luxúrias
E eu penso que amanhã...
Mas a gata vê na rua um gato preto e grande
E foge do gato cinzento.
Eu espio a noite maravilhosa
Estranha como um olhar de carne.
Vejo na grade o gato cinzento olhando os amores da gata e do gato preto
Perco-me por momentos em antigas aventuras
E volto à alma vazia e silenciosa que não acorda mais
Nem à noite clara e longa como um olhar de mulher
Nem aos gritos luxuriosos dos gatos se amando na rua.
- Vinicius de Moraes

Velha história
(Rio de Janeiro)
Depois de atravessar muitos caminhos
Um homem chegou a uma estrada clara e extensa
Cheia de calma e luz.
O homem caminhou pela estrada afora
Ouvindo a voz dos pássaros e recebendo a luz forte do sol
Com o peito cheio de cantos e a boca farta de risos.
O homem caminhou dias e dias pela estrada longa
Que se perdia na planície uniforme.
Caminhou dias e dias…
Os únicos pássaros voaram
Só o sol ficava
O sol forte que lhe queimava a fronte pálida.
Depois de muito tempo ele se lembrou de procurar uma fonte
Mas o sol tinha secado todas as fontes.
Ele perscrutou o horizonte
E viu que a estrada ia além, muito além de todas as coisas.
Ele perscrutou o céu
E não viu nenhuma nuvem.

E o homem se lembrou dos outros caminhos.
Eram difíceis, mas a água cantava em todas as fontes
Eram íngremes, mas as flores embalsamavam o ar puro
Os pés sangravam na pedra, mas a árvore amiga velava o sono.
Lá havia tempestade e havia bonança
Havia sombra e havia luz.

O homem olhou por um momento a estrada clara e deserta
Olhou longamente para dentro de si
E voltou.
- Vinicius de Moraes

Pátria Minha, de Vinicius de Moraes

Vida e poesia
(Rio de Janeiro)
A lua projetava o seu perfil azul
Sobre os velhos arabescos das flores calmas
A pequena varanda era como o ninho futuro
E as ramadas escorriam gotas que não havia.

Na rua ignorada anjos brincavam de roda...
- Ninguém sabia, mas nós estávamos ali.
Só os perfumes teciam a renda da tristeza
Porque as corolas eram alegres como frutos
E uma inocente pintura brotava do desenho das cores

Eu me pus a sonhar o poema da hora.
E, talvez ao olhar meu rosto exasperado
Pela ânsia de te ter tão vagamente amiga
Talvez ao pressentir na carne misteriosa
A germinacão estranha do meu indizível apelo
Ouvi bruscamente a claridade do teu riso
Num gorjeio de gorgulhos de água enluarada.
E ele era tão belo, tão mais belo do que a noite
Tão mais doce que o mel dourado dos teus olhos
Que ao vê-lo trilar sobre os teus dentes como um címbalo
E se escorrer sobre os teus lábios como um suco
E marulhar entre os teus seios como uma onda
Eu chorei docemente na concha de minhas mãos vazias
De que me tivesses possuído antes do amor.
- Vinicius de Moraes


Vinicius de Moraes

FORTUNA CRÍTICA SOBRE VINICIUS DE MORAES
(Bibliografia sobre Vinicius de Moraes)
Vinicius de Moraes, por Elifas Andreato
ANDRADE, Mário de. Belo, forte, jovem. In: _____. O empalhador de passarinho. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 2002.
AQUINO, Adriana Assis de. Vinícius de Moraes e Shelley: um exercício de desleitura. (Dissertação Mestrado em Estudos da Linguagem). Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN, 2008.
AQUINO, Adriana Assis de; ERICKSON,S.S.F. Shelley e Vinícius: "desleitura", ideologia e liberdade. In: V Semana de Estudos Lingüísticos e literários de Pau dos Ferros (V SELLP), 2006, Pau dos Ferros. Anais do V SELLP. Mossoró: Queima Bucha, 2006. v. único. p. 1-8.
AQUINO, Adriana Assis de; ERICKSON,S.S.F. Vinícius de Moraes e Shelley: um exercício de desleitura. In: Sandra Sasseti Fernandes Erickson. (Org.). Idéia e mimesis:exercícios críticos. 1 ed. Natal: EDUFRN- Editora da UFRN, 2009, v. 1, p. 21-52.
AQUINO, Adriana Assis de; ERICKSON,S.S.F. Vinícius de Moraes, Shelley e a beleza platônica. In: I Colóquio Nacional de Estudos da Linguagem (I CONEL), 2007, Natal. Anais do I CONEL. Natal : Artpress Gravadora e Duplicadora, 2007. v. único. p. 1-10.
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Vinicius de Moraes, por Baptistão
MENEZES, Roniere Silva. Rotas da utopia: tecnologia e afeto em Cabral, Rosa e Vinicius. In: Eneida Maria de Souza; Wander Melo Miranda. (Org.). Crítica e coleção. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011, v. p. 357-374.
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MORAES, Elenice Groetaers de. A Poética da Noite em Vinicius de Moraes. 1. ed. São Paulo: Scortecci, 2007. v. 1000. 168 p.
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REIS, Cassia Segregio dos. A representatividade feminina e o sentimento amoroso em poemas de Vinícius de Moraes e Pablo Neruda. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF, 1995.
Vinicius de Moraes, por Cavalcanti
SANTOS, Juliana. Vinicius de Moraes e a poesia metafísica. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, 2007.
SILVA, Rosana Rodrigues da. A poesia religiosa de Vinícius de Moraes: a gênese de uma poética. Terra Roxa e Outras Terras, Londrina- PR, v. 5, p. 87-103, 2005.
SIMÕES, José Ferreira. Exclusão Canônica: o discurso acadêmico sobre a poesia de Vinícius de Moraes. (Tese Doutorado em Educação). Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, 2007.
TORRES, Cleber Diniz. A dimensão religiosa da cultura na poesia de Vinícius de Moraes. (Dissertação Mestrado em Ciências da Religião). Universidade Metodista de São Paulo, UMESP, 2006.
TORRES, Cleber Diniz. Vestígios literários para ler Vinícius de Moraes. Incertezas (Faculdade Teológica Evangélica do Rio de Janeiro), v. 4, p. 78-98, 2008.
VENANCIO, Karina Chianca. Guillaume Apollinaire et Vinicius de Moraes: "la vie est l'art de la rencontre". (Tese Doutorado em Lettres, Humanités, Civilisations). Université de Franche-Comté, 2004.
VENANCIO, Karina Chianca. Guillaume Apollinaire et Vinicius de Moraes: tradition et modernité. CD interativo, dossier 6, 3 paginas, v. 1, p. sn-sn, 2003.

 Onde anda você, Toquinho e Vinicius de Moraes


Meu pai, dá-me os teus velhos sapatos manchados de terra
Dá-me o teu antigo paletó sujo de ventos e de chuvas
Dá-me o imemorial chapéu com que cobrias a tua paciência
E os misteriosos papéis em que teus versos inscreveste.

Meu pai, dá-me a tua pequena chave das grandes portas
Dá-me a tua lamparina de rolha, estranha bailarina das insônias
Meu pai, dá-me os teus velhos sapatos.
- Vinicius de Moraes (sem título).

Tom Jobim e Vinicius de Moraes - piano no Catetinho, 
(Foto: Acervo Manchete).

Poema de Natal
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
- Vinicius de Moraes



Vinicius de Moraes e Pixinguinha

Poema de Ano-Novo
É preciso que nos encontremos diante do amor como as árvores fêmeas cuja raiz é a mesma e se perde na terra profana
É preciso... a tristeza está no fundo de todos os sentimentos como a lágrima no fundo de todos os olhos
Sejamos graves e prodigiosos, ó minha amada, e sejamos também irmãos e amigos.
É preciso que levemos diante de nós o retrato das nossas almas como se fôssemos a um tempo a Verônica e o Crucificado
Eu sou o eterno homem e hoje que a dor fecunda o tempo eu sinto mais que nunca a vontade de fechar os braços sobre a minha miséria.
Fiquemos como duas crianças pensativas sentadas numa escada - todos serão os peregrinos e apenas nós os contemplados.
- Vinicius de Moraes

Eu Sei Que Vou Te Amar, Tom Jobim e Vinicius de Moraes

Solilóquio
(Rio de Janeiro)
Talvez os imensos limites da pátria me lembrem os puros
E amargue em meu coração a descrença.
Sinto-me tão cansado de sofrer, tão cansado! - algum dia, em alguma parte
Hei de lançar também as âncoras das promessas
Mas no meu coração intranqüilo não há senão fome e sede
De lembranças inexistentes.

O que resta da grande paisagem de pensamentos vividos
Dize, minha alma, senão o vazio?
São verdades as lágrimas, os estremecimentos, os tédios longos
As caminhadas infinitas no oco da eterna voz que te obriga?
E no entanto o que crê em ti não tem o teu amor aprisionado
Escravo de fruições efêmeras...

Ah, será para sempre assim... o beijo pouco do tempo
Na face presa da eternidade
E em todos os momentos a sensação pobre de estar vivendo
E ter em si somente o que não pode ser vivido
E em todos os momentos a beleza, e apenas
Num só momento a prece...

Nunca me sorrirão vozes infantis no corpo, e quem sabe por tê-las
Muito ardentemente desejado...
Talvez os limites da pátria me lembrem os puros e enlouqueça
Em mim o que não foi da carne conquistado.
Muitas vezes hei de me dizer que não sou senão juventude
No seio do pântano triste.

Quero-te, porém, vida, súplica! o medo de mim mesmo
Não há na minha saudade.
É que dói não viver em amor e em renúncia
Quando o amor e a renúncia são terras dentro de mim
E uma vez mais me deitarei no frio, guia de luz perdido
Sem mistérios e sem sombra.

Bem viram os que temeram a minha angústia e as que se disseram:
- Ele perdeu-se no mar!
No mar estou perdido, sem céu e sem terra e sem sede de água
E nada senão minha carne resiste aos apelos do ermo...
O que restará de ti, homem triste, que não seja a tua tristeza
Fruto sobre a terra morta...

Não pensar, talvez... Caminhar ciliciando a carne
Sobre o corpo macerado da vida
Ser um milhão na mesma cidade desabitada
E sendo apenas um, ir acordando o amor e a angústia
E da inquietação vinda e multiplicada, arrancar um riso sem força
Sobre as paisagens inúteis.

Mas, oh, saber... - saber até o fundo do conhecimento
Sobre as aves e os lírios!
Saber a pureza bailando o pensamento como um gênio perfeito
E na alma os cantos límpidos e os vôos de uma poesia!
E nada poder, nada, senão ir e vir como a sombra do condenado
Pelo silêncio em escuta...

E não sou um covarde... - sofro pelas manhãs e pelas tardes
E pelas noites desvaneço...
No entanto, é covarde que me sinto no olhar dos que me amam
E no prazer que arranco cem vezes da carne ou do espírito que quero
Ai de mim, tão grande, tão pequeno... - e quando o digo intimamente!
E em ambos, sem pânico...

E me pergunto: Serei vazio de amor como os ciprestes
No seio da ventania?
Serei vazio de serenidade como as águas no seio do abismo
Ou como as parasitas no seio da mata serei vazio de humildade?
Ou serei o amor eu mesmo e a calma e a humildade eu mesmo
No seio do infinito vazio?

E me pergunto: O que é o perigo, onde a sua fascinação profunda
E o gosto ardente de morrer?
Não é a morte o meu voto murmurante
Que caminha comigo pelas estradas e adormece no meu leito?
O que é morrer senão viver placidamente
Na imutável espera?

Nada respondo - nada responde o desespero
Solidão sem desvario.
Mas resta, resta a ânsia das palavras murmuradas ao vento
E a emoção das visões vividas no seu melhor momento
Resta a posse longínqua e em eterna lembrança
Da imagem única.

Resta?... Já me disse blasfêmias no âmago do prazer sentido
Sobre o corpo nu da mulher
Já arranquei de mim mesmo o sumo da sabedoria
Para fazê-lo vibrar dolorosamente à minha vontade
E no entanto... posso me glorificar de ter sido forte
Contra o que sempre foi?

Hão de ir todos, todos, para as celebrações e para os ritos
Ficarei em casa, sem lar
Hei de ouvir as vozes dos amantes que não se entediam
E dos amigos que não se amam e não lutam
As portas abertas, à espera dos passos do retardatário
Não receberei ninguém.

Talvez nos imensos limites da pátria estejam os puros
E apenas em mim o ilimitado...
Mas oh, cerrar os olhos, dormir, dormir longe de tudo
Longe mesmo do amor longe de mim!
E enquanto se vão todos, heróicos, santos, sem mentira ou sem verdade
Ficar, sem perseverança... 
- Vinicius de Moraes


Oscar Niemeyer, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e sua mulher
Lila Bôscoli,nos bastidores da estréia de Orfeu da Conceição - 1956.

(Foto: acervo Tom Jobim)


Como dizia o poeta, Vinicius de Moraes, 
Maria Medalha e Toquinho

Uma música que seja
... como os mais belos harmônicos da natureza. Uma música que seja como o som do vento na cordoalha dos navios, aumentando gradativamente de tom até atingir aquele em que se cria uma reta ascendente para o infinito. Uma música que comece sem começo e termine sem fim. Uma música que seja como o som do vento numa enorme harpa plantada no deserto. Uma música que seja como a nota lancinante deixada no ar por um pássaro que morre. Uma música que seja como o som dos altos ramos das grandes árvores vergastadas pelos temporais. Uma música que seja como o ponto de reunião de muitas vozes em busca de uma harmonia nova. Uma música que seja como o vôo de uma gaivota numa aurora de novos sons...
- Vinicius de Moraes


Vinicius de Moraes
ACERVO DIGITAL - VINICIUS DE MORAES
O acervo completo de poemas de Vinicius de Moraes se encontra digitalizado, agora, na Brasiliana da USP, que pertence a biblioteca de José Mindlin. Trata-se das primeiras edições de todos os livros de poemas do autor. 
Local: Brasiliana USP - Universidade de São Paulo.
Deve-se destacar, nesse sentido, a ousadia dos herdeiros de Vinicius de Moraes, que foram os primeiros a dispor toda a obra em poesia e prosa de Vinicius de Moraes no site do autor



Soneto da espera
(Rio de Janeiro)
Aguardando-te, amor, revejo os dias 
Da minha infância já distante, quando 
Eu ficava, como hoje, te esperando 
Mas sem saber ao certo se virias. 

E é bom ficar assim, quieto, lembrando 
Ao longo de milhares de poesias 
Que te estás sempre e sempre renovando 
Para me dar maiores alegrias. 

Dentro em pouco entrarás, ardente e loura 
Como uma jovem chama precursora 
Do fogo a se atear entre nós dois 

E da cama, onde em ti me dessedento 
Tu te erguerás como o pressentimento 
De uma mulher morena a vir depois.
- Vinicius de Moraes 

Samba para Vinícius
(Tom, Vinícius Toquinho e Miúcha)

Soneto de inspiração
(Rio de Janeiro)
Não te amo como uma criança, nem 
Como um homem e nem como um mendigo 
Amo-te como se ama todo o bem 
Que o grande mal da vida traz consigo. 

Não é nem pela calma que me vem 
De amar, nem pela glória do perigo 
Que me vem de te amar, que te amo; digo 
Antes que por te amar não sou ninguém. 

Amo-te pelo que és, pequena e doce 
Pela infinita inércia que me trouxe 
A culpa é de te amar - soubesse eu ver 

Através da tua carne defendida 
Que sou triste demais para esta vida 
E que és pura demais para sofrer.

Vinicius de Moraes
FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA
Enciclopédia Literatura Brasileira - Itaú Cultural 
Site Oficial de Vinicius de Moraes

** Fotos e imagens: acervo pessoal e internet
_________
*** Todos os poemas e citações de Vinicius de Moraes, desta pagina foram extraídos do Site Oficial do autor.


Vinicius de Moraes

Senti a alegria da vida
Que vivia nas flores pequenas
Senti a Beleza da vida
Que morava na luz e morava no céu
E cantei e cantei.
A minha voz subiu até ti, senhor
E tu me deste a paz.
Guarda meu coração no teu coração
Que ele é puro e simples.
Guarda minha alma na tua alma
Que ela é bela, senhor.
Guarda o meu espírito no teu espírito
Porque ele é a minha luz.
E porque só a ti ele exalta e ama.
- De O Caminho para a distância.


© Direitos reservados ao autor/e ou ao seus herdeiros

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske


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Trabalhos sobre o autor:
Caso, você tenha algum trabalho não citado e queira que ele seja incluído - exemplo: livro, tese, dissertação, ensaio, artigo - envie os dados para o nosso "e-mail de contato", para que possamos incluir as referências do seu trabalho nesta pagina. 

Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Vinicius de Moraes - o poetinha. Templo Cultural Delfos, abril/2012. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
gina atualizada em 18.12.2013.



Licença de uso: O conteúdo deste site, vedado ao seu uso comercial, poderá ser reproduzido desde que citada a fonte, excetuando os casos especificados em contrário. 
Direitos Reservados © 2016 Templo Cultural Delfos

12 comentários:

  1. Demais! Linkei em http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/vinicius-de-moraes-poemas-de-amor/

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  2. Obrigada Fabio, agradecemos pela gentileza e participação.
    Volte sempre! Abraços.

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  3. Maravilhoso! Parabéns pelo excelente trabalho...Vinicius é e sempre será o poetinha de uma obra gigante!

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    1. Obrigada Izabel, ficamos felizes que tenha gostado.
      Volte sempre!
      Abraços.

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  4. Sensacional! Esplendido!...

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    1. Obrigada Valter, que bom que gostastes!
      Volte sempre, abraços

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  5. Sou fã de Vinícius,desde menina. Tenho uma coleção de músicas, poesias, livros. Senti falta ou não vi uma poema que me lembra a adolescencia: Se você quer ser minha namorada....

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    1. Olá,
      Tal poema/canção de Vinicius encontra-se nessa página - http://www.elfikurten.com.br/2013/01/vinicius-de-moraes-o-poeta-nao-tem-fim.html
      É uma página com diversos poemas de Vinicius de Moraes. Acredito que vá gostar da coletânea.
      Abraços

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  6. Sempre fui fã de Vinicius de Moraes....
    Simplesmente maravilhosa essa página.
    tenho certeza que quem ve-la vai adorar.
    Abraços

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    1. Obrigada, fico feliz em saber que gostaste!
      Volte sempre,
      abraços

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  7. Na espera por melhores dias conquanto tirem do ar essa bobageira a que dão nome de funk e querem chamar de música, encontrar a poesia de Vinícius de Moraes é respirar o melhor e o mais puro do oxigênio. Parabéns ao blog e aos blogueiros e a vc Gabriela Fenske Feldkircher; Sucesso.

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    1. Obrigada, fico muito feliz em saber que gostaste!
      Volte sempre.
      Abraços

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