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Juan Rulfo - escritor de mistérios e silêncios

Juan Rulfo - foto (...)
Juan Rulfo (Juan Nepomuceno Carlos Pérez Rulfo Vizcaíno). escritor e fotografo mexicanonasceu em Jalisco, México, em 16 de maio de 1917. Passou a infância na fazenda de seus avós, em contato com a pobre gente dos campos, de quem mais tarde nos daria retratos tão vívidos e dramáticos. Numa linguagem descarnada e precisa, ele retrata em poucas linhas um quadro da desolada existência dos deserdados. Estudou para contador, trabalhou em vária organizações, mas sua vocação eram as letras.
Cedo publicou seus primeiros contos, na revista Pan, de Guadalajara. “El llano em llamas”, contos, é de 1953. “Pedro Páramo”, romance que o projetou internacionalmente como um dos nomes mais expressivos da literatura latino-americana, é de 1955. O romance foi agraciado com o Prêmio Xavier Villaurrutia. Em 1980, o crítico mexicano Jorge Ayala Branco reúne no livro “El Gallo de Oro” textos que Rulfo concebeu originalmente para o cinema. O escritor recebeu, nesse ano, o Prêmio Nacional de Literatura. Em 1983 recebe o Prêmio Príncipe das Astúrias, concedido pelo governo de Espanha.
A sua concisa produção foi admirada por grandes mestres e intelectuais de ponta, a exemplo de Jorge Luis Borges, Gabriel García Marquez e de Susan Sontag. Seus dois únicos livros Chão em chamas (El Llano en Llamas) e Pedro Páramo mereceram numerosas reedições, traduções para diversos idiomas e uma vasta fortuna crítica. Em uma pesquisa do badalado diário madrileno El País, realizada em 1999, Pedro Páramo foi o mais citado entre os dez melhores romances em língua espanhola do século XX.
A outra faceta não tão conhecida do escritor é a de fotógrafo. Entre os anos 1940 e 1960, o mesmo em que suas histórias e seu romance foram gestados, Rulfo viajou pelo interior do México e registrou, entre outros assuntos, a paisagem, a arquitetura, a população nativa. Diferentemente da econômica escrita, Rulfo não teve a mesma preocupação com a concisão no que diz respeito a sua obra fotográfica, que reúne em torno de 6 mil negativos. 
Desde 1962 até sua morte, Rulfo foi diretor do departamento de publicações do Instituto Nacional Indígena do México. Foi membro da Academia de Letras Mexicana. Rulfo faleceu no dia 7 de janeiro de 1986. Seu nome é dado ao Prêmio de Literatura Latinoamericana e do Caribe, concedido pelo México. 
:: Fonte: Releituras | e outros.
:: Juan Rulfo - página oficial = nota biográfica - cronologia (acessado em 12.6.2016).


"Rulfo foi extremamente exigente com sua escrita. Tinha obsessão pelo corte e pela exaustiva lapidação e polimento e, note-se, escrevia para combater a solidão. O manejo com as estruturas da narrativa não se assemelhava a nada feito até então na literatura local. (...). Eram ecos longínquos, já que serviam somente de base para que ele forjasse um estilo absolutamente próprio onde acomodar sua voz singular: a literatura russa do século XIX, autores nórdicos que havia lido em minúcia."
- Eric Nepomuceno, em “Anotações sobre um gigante silencioso”. (prefácio). In: RULFO, Juan. Pedro Páramo. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008, p. 11.

Juan Rulfo, 1950 - © foto: Ricardo Salazar
OBRA DE JUAN RULFO PUBLICADA NO BRASIL
:: Pedro Páramo. Juan Rulfo. [tradução Jurema Finamour]. Coleção América Latina: realidade e romance, vol. 4. São Paulo: Brasiliense, 1969. 
:: Pedro Páramo e Planalto em chamas. Juan Rulfo. [tradução Eliane Zagury]. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977; 1992.
:: Pedro Páramo (romance) e Chão em chamas (conto). Juan Rulfo. [tradução e prefácio de Eric Nepomuceno]. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2004.
:: Pedro Páramo. [tradução e prefácio de Eric Nepomuceno].. (título nº 92 das edições Bestbolso).  Rio de Janeiro: Record, 2008. 
:: Chão de chamas. Juan Rulfo[tradução Eric Nepomuceno]. Bestbolso. Rio de Janeiro: Record,  2015.
:: 100 fotografias: Juan Rulfo. [fotografia e textos de Juan Rulfo; seleção e textos de Andrew Dempsey e Daniele de Luigi; tradução Denise Guimarães Bottmann e Genese Andrade]. São Paulo: Cosac Naify, 2010. 

Edição portuguesa
Juan Rulfo, 1979  - Archivo de la Fundación Juan Rulfo
:: Pedro Páramo. Juan Rulfo. [tradução António José Massano]. Lisboa: Edições 70, 1980; 1988.; Lisboa: Editorial Planeta de Agostini, 1999; 2000.
:: A planície em chamas (El llano en llamas). Juan Rulfo. [tradução Ana Santos; revisão Isabel Rodrigues]. Lisboa: Cavalo de Ferro, 2003.
:: Pedro Páramo. Juan Rulfo. [tradução Rui Lagartinho e Sofia Castro Rodrigues]. Lisboa: Edições Cavalo de Ferro, 2004.
:: Juan Rulfo. Obra reunida ('O llano em chamas', 1953, 'Pedro Páramo', 1955 e 'O galo de ouro', 1980).. [tradução Rui Lagartinho, Sofia Castro Rodrigues e Virgílio Tenreiro Viseu; revisão Maria aida Moura]. Lisboa: Edições Cavalo de Ferro, 2010.


Edição mexicana  - obras
conto e romance
:: Un pedazo de noche, fragmento de la novela “Los hijos del desaliento”.
:: La vida no es muy seria en sus cosas, (cuento). 1945.
:: El llano en llamas. México: Fondo de Cultura Económica, 1953.
:: Pedro PáramoMéxico: Fondo de Cultura Económica,1955.
:: Obra completa. Juan Rulfo. México: Fondo de Cultura Económica - FCE, 1985. 

cinema
:: El gallo de oro y otros textos para cine. [coord. Jorge Ayala Branco]. Biblioteca Era. El Libro de bolsillo. Ciudad de México: Ediciones Era, 1980.

fotografia
:: México: Juan Rulfo fotógrafo. (libro-catálogo). 2001.
:: Juan Rulfo: letras e imágenes. Ciudad de México: Editorial RM, 2002.
:: Tríptico para Juan Rulfo: poesía, fotografía, crítica. [coord. Víctor Jiménez, Alberto Vital e Jorge Zepeda]. Ciudad de México: Universidad Iberoamericana, 2006.
::Juan Rulfo: Oaxaca. Ciudad de México: Editorial RM, 2009.
::100 fotografías de Juan Rulfo[fotografía e textos de Juan Rulfo; selección y textos de Andrew Dempsey e Daniele de Luigi]. Ciudad de México: Editorial RM, 2010.

outros
:: México Indígena. Juan Rulfo. Número extraordinário. México: Instituto Nacional Indigenista, 1986. 

"Pedro Páramo é uma das melhores novelas das literaturas de língua hispânica e provavelmente da literatura universal"
- Jorge Luís Borges, in "Biblioteca pessoal".


"Há vários livros dentro deste romance conciso e contido. Uma história de amor desmesurado, desesperado e belo; também uma história da injustiça; outra, de vingança; e mais um painel depurado e amargo da realidade social nos campos do México de uma época imprecisa, e por isso mesmo, permanente; e também a história de um filho à procura do pai; e de um povoado habitado por mortos e fantasmas. "
- Eric Nepomuceno, em “Anotações sobre um gigante silencioso”. (prefácio). In: RULFO, Juan. Pedro Páramo. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008, p. 17.

Juan Rulfo - foto (...)
AFORISMOS, EXCERTOS DA OBRA DE JUAN RULFO
"Um pássaro brincalhão geme ao rasar o solo, imitando um queixume de criança. Mais além ouviu-se dar um soluço de cansaço e todavia mais longe, onde começava a abrir-se o horizonte, soltou um grito e uma risada, para voltar a gemer depois."
- Juan Rulfo, em "Pedro Páramo", no livro "Juan Rulfo. Obra reunida".. [tradução Rui Lagartinho, Sofia Castro Rodrigues e Virgílio Tenreiro Viseu; revisão Maria aida Moura]. Lisboa: Edições Cavalo de Ferro, 2010.


"Faltava muito para o amanhecer. O céu brilhava de estrelas gordas, inchadas de tanta noite. A lua mostrara-se e escondera-se. Era uma dessas luas tristes que ninguém olha, de quem ninguém faz caso. Esteve ali por instantes desfigurada, sem dar qualquer luz, correndo a esconder-se atrás dos montes."
- Juan Rulfo, em "Pedro Páramo", no livro "Juan Rulfo. Obra reunida".. [tradução Rui Lagartinho, Sofia Castro Rodrigues e Virgílio Tenreiro Viseu; revisão Maria aida Moura]. Lisboa: Edições Cavalo de Ferro, 2010.


"Eu esperava ver aquilo através das recordações de minha mãe, através da sua nostalgia entrecortada de suspiros. […] Trago os olhos com que ela contemplou tudo isto, porque me deu os seus olhos para ver: “Há além, passado o desfiladeiro de Los Colimotes, uma vista extraordinariamente bela sobre uma planície verdejante, um tanto amarelada pelo milho maduro. De lá vê-se Comala, branqueando a terra, iluminando-a durante a noite.”
- Juan Rulfo, em "Pedro Páramo", no livro "Juan Rulfo. Obra reunida".. [tradução Rui Lagartinho, Sofia Castro Rodrigues e Virgílio Tenreiro Viseu; revisão Maria aida Moura]. Lisboa: Edições Cavalo de Ferro, 2010.


"– Aqui está calor – disse.
– Sim, mas isto ainda não é nada (…) Vai ver como ele aperta mais quando chegarmos a Comala. Aquilo está sobre as brasas da terra, mesmo na boca do inferno. Basta dizer-lhe que muitos dos que lá morrem, ao chegarem ao inferno, regressam em busca do seu agasalho."
- Juan Rulfo, em "Pedro Páramo", no livro "Juan Rulfo. Obra reunida".. [tradução Rui Lagartinho, Sofia Castro Rodrigues e Virgílio Tenreiro Viseu; revisão Maria aida Moura]. Lisboa: Edições Cavalo de Ferro, 2010.


"- E a tua alma? Para onde julgas que foi?
- Deve andar errando pela terra como tantas outras, à procura de vivos que rezem por ela. talvez me odeie pelos maus tratos que lhe dei, mas isso agora já não me preocupa. Descansei do vício dos seus remorsos. (...) Quando me sentei para morrer ela pediu que me levantasse e continuasse a arrastar a vida, como se ainda esperasse algum milagre que me purificasse das culpas. Nem sequer tentei (...) E abri a boca para que se fosse embora. E foi-se. Senti quando me caiu nas mãos o fiozinho de sangue com que estava amarrada ao meu coração." 
- Juan Rulfo, em "Pedro Páramo", no livro "Juan Rulfo. Obra reunida".. [tradução Rui Lagartinho, Sofia Castro Rodrigues e Virgílio Tenreiro Viseu; revisão Maria aida Moura]. Lisboa: Edições Cavalo de Ferro, 2010.


"A gente às vezes chegava a pensar, no meio deste caminho sem margens, que nada existiria depois; que não se poderia encontrar nada, ao final desta planura rajada de gretas e de arroios secos. Mas sim, existe algo. Há um povoado. Ouve-se o ladrar dos cachorros e sente-se no ar o cheiro da fumaça, e se saboreia esse perfume das pessoas como se fora uma esperança."
- Juan Rulfo, do conto "A terra que nos deram", no livro "Chão de chamas" (1953).. [tradução Eglê Malheiros].. publicado na revista “Ficção” de Julho de 1976, n° 7, p. 58.


"Não dizemos o que pensamos. Já faz tempo que se acabou nossa vontade de falar. Acabou-se com o calor. Qualquer um conversaria muito à vontade em outra parte, mas aqui dá trabalho. A gente conversa aqui e as palavras se esquentam na boca com o calor de fora, e ressecam a língua da gente até que acabam com o fôlego. As coisas aqui são assim. Por isso ninguém está para conversas."
- Juan Rulfo, do conto "A terra que nos deram", no livro "Chão de chamas" (1953).. [tradução Eglê Malheiros].. publicado na revista “Ficção” de Julho de 1976, n° 7, p. 58.


"- Então é coisa minha. Bem, como estava-lhe dizendo, isso de não ter voltado é modo de dizer. Mal seu cavalo acabava de passar quando ouvi que batiam na minha janela. Como é que eu vou saber se foi ilusão minha? O fato é que alguma coisa me obrigou a ir ver quem era." 
- Juan Rulfo, em "Pedro Páramo", no livro "Pedro Páramo e Planalto em chamas". [tradução Eliane Zagury]. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992, p. 23.


"[...] De Apango desceram os índios com os seus rosários de macela, o seu alecrim, os seus molhos de tominho. Não trouxeram lascas de pinho porque os pinheiros estão molhados, nem tanino porque os carvalhos também estão molhados pela muita chuva. Estendem as ervas no chão, sob os arcos do portal, e esperam."
- Juan Rulfo, em "Pedro Páramo", no livro "Pedro Páramo e Planalto em chamas". [tradução Eliane Zagury]. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992, p. 73.


"Tornou a me dar boa noite. E embora não houvesse crianças brincando, nem pombas, nem telhados azuis, senti que o povoado vivia. E que eu escutava somente o silêncio; talvez porque minha cabeça viesse cheia de ruídos e de vozes. De vozes, sim. E aqui, onde o ar era escasso, ouviam-se melhor essas vozes. Ficavam dentro da gente, pesadas."
- Juan Rulfo, em 'Pedro Páramo', no livro "Pedro Páramo e Chão em chamas". [tradução Eric Nepomuceno]. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2004, p.20.


"Eu imaginava ver aquilo através das recordações da minha mãe; da sua nostalgia, entre fiapos de suspiros. Ela viveu sempre suspirando por Comala, pelo regresso; mas jamais voltou. Agora, venho eu em seu lugar. Trago os olhos com que ela viu estas coisas, porque me deu seus olhos para ver."
- Juan Rulfo, em 'Pedro Páramo', no livro "Pedro Páramo e Chão em chamas". [tradução Eric Nepomuceno]. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2004, p.26.



"Lá estava sua mãe no umbral da porta, com uma vela na mão. Sua sombra escorrida rumo ao teto, longa, estendida. E as vigas do teto a devolviam os pedaços, despedaçada. 
- Estou triste – disse. Então ela se virou. 
Apagou a chama da vela.
Fechou a porta e abriu seus soluços, que continuaram sendo ouvidos confundidos com a chuva.
O relógio da igreja badalou as horas, uma atrás da outra, como se o tempo tivesse encolhido."
- Juan Rulfo, no livro "Pedro Páramo". [tradução de Eric Nepomuceno]. Rio de Janeiro: Best Bolso | Record, 2008,  p. p.27.



“[…] Nas colinas verdes. Quando soltávamos pipas na época do vento. Ouvíamos lá embaixo o rumor vivo do povoado enquanto estávamos acima dele, no alto da colina, conforme ia embora o fio de cânhamo arrastado pelo vento.” 
- Juan Rulfo, em 'Pedro Páramo', no livro "Pedro Páramo e Chão em chamas". [tradução Eric Nepomuceno]. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2004, p. 36.


“Seus lábios estavam molhados como se tivessem sido beijados pelo orvalho [...] De você, eu me lembrava. Quando você estava ali me olhando com seus olhos de água-marinha.” 
- Juan Rulfo, em 'Pedro Páramo', no livro "Pedro Páramo e Chão em chamas". [tradução Eric Nepomuceno]. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2004, p. 36.


"No dia em que você foi embora entendi que não tornaria a vê-la. Você ia tingida de vermelho pelo sol da tarde, pelo crepúsculo ensanguentado do céu. Você sorria. Deixava para trás um povoado do qual muitas vezes você mesma me disse: “Gosto daqui por sua causa; mas odeio isso aqui por causa de todo o resto, até por ter nascido aqui”. Pensei: “Não regressará jamais; não voltará nunca”."
- Juan Rulfo, em 'Pedro Páramo', no livro "Pedro Páramo e Chão em chamas". [tradução Eric Nepomuceno]. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2004, p. 45.



"A madrugada foi apagando minhas recordações. Ouvia de vez em quando o som das palavras, e notava a diferença. Porque as palavras que havia ouvido até então, e só então fiquei sabendo, não tinham nenhum som, não soavam; sentiam-se; mas sem som, como as que ouvem durante os sonhos."
- Juan Rulfo, no livro "Pedro Páramo". [tradução de Eric Nepomuceno]. Rio de Janeiro: Best Bolso | Record, 2008,  p. 59.


"Lá você vai encontrar a minha querência. O lugar que eu amei. Onde os meus sonhos emagreceram. Meu povoado, levantado sobre a planície. Cheio de árvores e de folhas, como um cofre onde guardamos nossas memórias. Você vai sentir que ali a gente gostaria de viver para a eternidade. O amanhecer; a manhã; o meio-dia e a noite, sempre os mesmos; mas com a diferença do ar. Lá, onde o ar muda a cor das coisas, onde a vida se ventila como se fosse um murmúrio; como se fosse um puro murmúrio da vida…"
- Juan Rulfo, no livro "Pedro Páramo". [tradução de Eric Nepomuceno]. Rio de Janeiro: Best Bolso | Record, 2008,  p. 70.



“Penso em quando os limões amadureciam. No vento de fevereiro que rompia os talos das samambaias, antes que o abandono as secasse; os limões maduros que enchiam o velho pátio com seu perfume.” 
- Juan Rulfo, em 'Pedro Páramo', no livro "Pedro Páramo e Chão em chamas". [tradução Eric Nepomuceno]. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2004, p. 113.


"Sabe-se lá de onde, o fato é que um chegou um circo, trazendo acrobatas e trapezistas. Músicos. Primeiro se aproximavam como se fossem curiosos, e num instante já tinham se transformado em vizinhos, de maneira que houve até serenata. E assim, pouco a pouco a coisa se transformou em festa. Comala formigou de gente, de festança e de ruídos, igual que nos dias da quermesse, quando dava trabalho dar um passo pelo povoado."
- Juan Rulfo, no livro "Pedro Páramo". [tradução de Eric Nepomuceno]. Rio de Janeiro: Best Bolso | Record, 2008,  p. 129.



"Porque tinha medo das noites que enchiam a escuridão de fantasmas. De encerrar-se com seus fantasmas. Disso tinha medo."
- Juan Rulfo, em 'Pedro Páramo', no livro "Pedro Páramo e Chão em chamas". [tradução Eric Nepomuceno]. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2004, p.173. 


JUAN RULFO - 0 FOTÓGRAFO
Ao escritor Juan Rulfo se deve a mais completa série de estudos etnográficos sobre as populações indígenas do México. Rulfo publicou as primeiras fotos em 1949, na revista América, realizando sua primeira exposição em 1960, em Guadalajara. Discreto e criterioso, ele só começou a ficar conhecido como fotógrafo após a grande exposição realizada no Palácio de Belas Artes da Cidade do México, em 1980, acompanhada de um catálogo, homenagem nacional, seis anos antes de sua morte.
As suas imagens revelam um México e seus habitantes, seus afetos, sua história, sua arquitetura e sua geografia com uma sensibilidade particular. A câmera de Rulfo enquadra a solidão de monumentos astecas, a solenidade e o drama de suas ruínas, a urbanidade moderna, a vastidão da paisagem e, em seus meandros, momentos prosaicos e rituais da vida dos personagens que as habitam. Susan Sontag, autora de Sobre a fotografia, disse certa vez: “Juan Rulfo é o melhor fotógrafo que conheci na América Latina”.

Autorretrato de Juan Rulfo em Nevado de Toluca (déc. 1940)


Juan Rulfo - autorretrato

Juan Rulfo - década de 1950

Juan Rulfo, Niño y grupo - década de 1950

Juan Rulfo, niña  - 1956 


Juan Rulfo - década de 1940

Juan Rulfo, Mujeres recogiendo café  - 1956


Juan Rulfo, campesinas de Oaxaca

Juan Rulfo - década de 1940

Juan Rulfo - década de 1950


“E os pardais riam; bicavam as folhas que a brisa fazia cair, e riam; deixavam suas plumas entre os espinhos dos galhos e perseguiam as borboletas, e riam. Era esse tempo”
- Juan Rulfo, em 'Pedro Páramo', no livro "Pedro Páramo e Chão em chamas". [tradução Eric Nepomuceno]. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2004, p.114.

Juan Rulfo - foto: Manuel Álvarez Bravo, c. 1955.
FORTUNA CRÍTICA DE JUAN RULFO
AGUIAR, Flávio; VASCONCELOS, Sandra Guardini T. (orgs.). Ángel Rama. Literatura e cultura na América Latina. São Paulo: Edusp, 2001.
AGUIAR, Larissa Walter Tavares de.. A inter-relação entre o ser humano e o espaço em Pedro Páramo, de Juan Rulfo. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Estadual de Maringá, UEM, 2014.
AGUIAR, Larissa Walter Tavares de; LIBANORI, Evely Vânia. Animais e vegetais no espaço-tempo de Comala em Pedro Páramo, de Juan Rulfo. In: 2º CIELLI Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários Maringá PR, 2012.
ALCARAZ, Rafael Camorlinga. Religião e literatura na narrativa de Juan Rulfo. (Tese Doutorado em Literatura). Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, 2001. Disponível no link. (acessado em 12.6.2016).
ALCARAZ, Rafael Camorlinga. Religión y ficción en la narrativa de Juan Rulfo. México: SEP- UNAM, 2003.
ALCARAZ, Rafael Camorlinga. Escenas de Pedro Páramo - un drama a la mexicana. Anuario Brasileño de Estudios Hispánicos, Brasilia, DF, v. 4, p. 137-145, 1999.
ALCARAZ, Rafael Camorlinga. La figura del sacerdote en Pedro Páramo. Fragmentos (Florianópolis), Florianópolis, v. 1, n.27, p. 57-77, 2005.
ALCARAZ, Rafael Camorlinga. Juan Rulfo en portugués: la literatura mexicana en diálogo con la brasileña. In: XIX Coloquio de Literatura Mexicana e Hispanoamericana, 2003, Hermosillo. Actas del XIX Coloquio de Literatura Mexicana e Hispanoamericana, 2003.
ALONSO, Juliano Gaeschlin. Para chegar a Susana San Juan: as jornadas épica e mítica em Pedro Páramo. (Dissertação Mestrado em Letras Neolatinas). Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, 2003.
Juan Rulfo - foto (...)
ALONSO, Juliano Gaeschlin. Para chegar a Susana San Juan : as trajetórias épica e mítica em Pedro Parámo. In: III Colóquio de Pós-graduação e Pesquisa em Letras Neolatinas, 2003. v. 1. p. 21-22.
ANDRADE, Émile Cardoso.. A representação do trágico na literatura latino-americana. (Dissertação Mestrado em Literatura). Universidade de Brasília, UNB, 2006.
ANDRADE, Émile Cardoso.. A transculturação do trágico na literatura latino-americana: a tragédia em Pedro Páramo de Juan Rulfo. In: Anais do 1º Simpósio Internacional de Literatura Latino-americana contemporânea. Brasília, 2003. v. 1.
ARMANDO, Maria Luiza de Carvalho.. Buscando el origen y la muerte: notas de una lectura de Pedro Páramo (Juan Rulfo). Fragmentos, Florianópolis (SC), 1989, v. 2, n.2, p. 24-65, 1989.
ARRIGUCCI JR., Davi. “Juan Rulfo: pedra e silêncio”. In: ARRIGUCCI Jr, Davi. Enigma e comentário. Ensaios sobre literatura e experiência. Companhia das Letras : São Paulo, 1987, p. 167-172.
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BACHMANN, Theresa Katarina Souza e Silva.. Luis González y Juan Rulfo: la historia y la literatura en la formación de la memoria mexicana. In: Anais do I Congreso Pernambucano de Español, 2007.
BACHMANN, Theresa Katarina Souza e Silva.. Pedro Páramo e suas traduções brasileiras. In: As Amércas: Encruzilhadas Glocais, 2007, Recife. As Américas: Encruzilhadas Gliocais, 2006.
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CANTARELLI, Ana Paula. A relação entre os indivíduos e a terra na Comala de Juan Rulfo. In: Heloísa Helena Siqueira Correia; Osvaldo Copertino Duarte; Valdir Aparecido de Souza. (Org.). Isto não é um mapinguari. Fronteiras moventes, relações, saberes e poderes. 1ª ed., Marilia: Poiesis Editora, 2015, v. 1, p. 199-205.
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CANTARELLI, Ana Paula; UMBACH, Rosani Úrsula Ketzer.. A estrutura narrativa e o contexto de produção do romance 'Pedro Páramo', de Juan Rulfo. Contexto (UFES), v. 22, p. 379-394, 2012.
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"Na verdade, nunca houve na América Latina um escritor mais silencioso que Rulfo. Este gigante em silêncio foi certamente o maior escritor mexicano do século XX, um dos maiores da América Latina e da literatura universal de seu tempo. Seus dois e solitários livros foram suficientes para instalá-lo de vez no pedestal reservado aos mestres e mestras."
- Eric Nepomuceno, em “Anotações sobre um gigante silencioso”. (prefácio). In: RULFO, Juan. Pedro Páramo. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008, p. 7.


“Se trabaja con imaginación, intuición y una verdad aparente; cuando esto se consigue, entonces se logra la historia que uno quiere dar a conocer.”
- Juan Rulfo

AMIZADES LITERÁRIAS


Jorge Luis Borges e Juan Rulfo - foto: Rogelio Cuéllar  (1973)


Pablo Neruda e Juan Rulfo - foto: Sara Facio

Mario Vargas Llosa e  Juan Rulfo - foto: Hans Ehrmann | memória chilena

Gabriel García Márquez  e Juan Rulfo - foto: Rafael López Castro (déc.  1980)

Juan Carlos Onetti e Juan Rulfo - foto: acervo Fundación Juan Rulfo

"Ele achava que a conhecia. E, mesmo se não fosse assim, será que não bastava saber que ela era a criatura mais amada por ele sobre a terra? E que além do mais, e isso era o mais importante, serviria para que ela andasse pela vida alumbrando-se com aquela imagem que apagaria todas as outras recordações. Mas qual era o mundo de Susana San Juan? Essa foi uma das coisas que Pedro Páramo jamais chegou a saber."
- Juan Rulfo, em 'Pedro Páramo', no livro "Pedro Páramo e Chão em chamas". [tradução Eric Nepomuceno]. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2004, p. 137.


ENTREVISTA COM JUAN RULFO
Juan Rulfo - Entrevista a fondo



"Havia uma lua grande no meio do mundo. Eu perdia meus olhos olhando você. Os raios da lua filtrando-se sobre a sua cara. Não me cansava de ver essa aparição que era você. Suave, esfregada de lua; sua boca inchada e suave, umedecida, colorida de estrelas; seu corpo transparentando-se na água da noite."
- Juan Rulfo, em 'Pedro Páramo', no livro "Pedro Páramo e Chão em chamas". [tradução Eric Nepomuceno]. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2004, p. 172.


Juan Rulfo (autorretrato) en la capilla abierta de Tlalmanalco - década 1949
FILMOGRAFIA DE JUAN RULFO
Filme: También ellos tienen ilusiones
Gênero: Cortometraje
Direção: Adolfo Garnica 
Roteiro: Adolfo Garnica. Diálogos: Juan Rulfo
País/ano: 1954-1956


Filme: Talpa 
Direção: Alfredo B. Crevenna 
Roteiro: Edmundo Báez, s/cuento homónimo de Juan Rulfo
País/ano: 1955


Filme: Viva la tierra
Gênero: Cortometraje
Direção: Adolfo Garnica 
Roteiro: s/textos de Juan Rulfo. Historia de Luis Garnica
País/ano: 1958


Filme: El despojo
Gênero: Cortometraje
Direção: Antonio Reynoso, 1958-1960). 
Guión: s/textos de Juan Rulfo
País/ano: 1958-1960

Rulfo, por Naranjo

Filme: Paloma herida
Direção: Emilio Indio Fernández 
Roteiro: Juan Rulfo, s/argumento de Emilio Indio Fernández
País/ano: 1962


Filme: El gallo de oro
Direção: Roberto Gavaldón 
Roteiro: Carlos Fuentes, Gabriel García Márquez, Roberto Gavaldón, s/argumento de Juan Rulfo
País/ano: 1964
Duração: 29 min.


Filme: La fórmula secreta
Direção: Rubén Gámez 
Roteiro: Rubén Gámez, s/textos de Juan Rulfo. Cortometraje.
País/ano: 1964


Filme: Pedro Páramo
País/ano: México - 1966
Duração: 105 min.
Direção: Carlos Velo
Argumento e roteiro: Carlos Fuentes, Carlos Velo y Manuel Barbachano Ponce, baseado em novela homônima de Juan Rulfo 
Fotografia (p&B): Gabriel Figueroa 
Música: Joaquín Gutiérrez Heras 
Edição: Gloria Schoemann 
Intérpretes: John Gavin, Pilar Pellicer, Ignacio López Tarso, Julissa, Graciela Doring, Carlos Fernández
Produtora: CLASA Films Mundiales y Manuel Barbachano Ponce.


Filme: El rincón de las vírgenes
Direção: Alberto Isaac 
Roteiro: Alberto Isaac, s/cuentos Anacleto Morones y El día del derrumbe, de Juan Rulfo
País/ano: 1972


Filme:¡Diles que no me maten! 
Gênero: Cortometraje
Direção: Antonio Jiménez Pons 
Roteiro: Luis Moreno, s/cuento homónimo de Juan Rulfo
País/ano: 1973


Filme: ¿No oyes ladrar a los perros? / N´entends-tu pas les chiens aboyer?
Direção: Fraancois Reichenbach, 1974). 
Roteiro e Diálogos: Carlos Fuentes, s/adaptación de Jacqueline Lefebre, Noel Howard, Francois Reinchenbach, inspirados en cuento homónimo de Juan Rulfo
País/ano: 1974


Filme: Que esperen los viejos / Emigrantes
Gênero: Cortometraje
Direção: José Bolaños 
Roteiro: José Bolaños, s/texto de Juan Rulfo
País/ano: 1976


Filme: Pedro Páramo / El hombre de la media luna
País/ano: 1976-1977
Duração: 108 min.
Direção: José Bolaños 
Argumento e roteiro: Juan Rulfo y José Bolaños, baseado na novela Pedro Páramo.
Fotografia (cor): Jorge Stahl hijo 
Música: Ennio Morricone 
Edição: Carlos Savage hijo 
Intérpretes: Manuel Ojeda, Venetia Vianelo, Bruno Rey, Jorge Martínez de Hoyos, Patricia Reyes Spíndola, Blanca Guerra. 
Produção: Conacine 

Juan Rulfo, por Luis Trimano | 'Revista 7 dias
ilustrados'. Buenos Aires 1969.

Filme: El hombre
Direção: José Luis Serrato 
Roteiro: José Luis Serrato, s/cuento homónimo de Juan Rulfo
País/ano: 1978


Filme: ¡Diles que no me maten!
Gênero: Cortometraje
Direção: Gherardo Garza Fausti 
Roteiro: Gherardo Garza Fausti, s/cuento homónimo de Juan Rulfo
País/ano: 1979


Filme: Talpa 
Direção: Gastón T. Melo
Roteiro: Alejandro Pohlenz, Lidia Camacho, s/cuento homónimo de Juan Rulfo
País/ano: 1982


Filme: ¡Diles que no me maten! 
Gênero: Cortometraje
Direção: Francisco Becerra
Roteiro: s/cuento homónimo de Juan Rulfo
País/ano: 1983


Filme: Tras el horizonte
Gênero: Cortometraje
Direção: Mitl Valdés
Roteiro: Mitl Valdés, s/cuento El hombre, de Juan Rulfo
País/ano: 1984


Filme: Los confines 
Direção: Mitl Valdés
Roteiro: Mitl Valdés, s/los cuentos El hombre, ¡Diles que no me maten!, Talpa y fragmentos de Pedro Páramo, de Juan Rulfo
País/ano: 19841985


Filme: El imperio de la fortuna
Direção: Arturo Ripstein
Roteiro: Paz Alicia Garciadiego, s/argumento El gallo de oro, de Juan Rulfo
País/ano: 1985


Filme: La cuesta de las comadres 
Direção: Oscar Menéndez
Roteiro: Textos de Juan Rulfo. Cortometraje.
País/ano: 1990


Filme: Un pedazo de noche
Gênero: Cortometraje
Direção: Luis Manuel Serrano
Roteiro: Patricio Ruffo, Gerardo Lara, Luis Manuel Serrano, s/texto de Juan Rulfo
País/ano: 1991

Juan Rulfo, por Télam

Filme: Luvina 
Gênero: Cortometraje
Direção: Lucinda Martínez 
Roteiro: Lucinda Martínez, s/cuento homónimo de Juan Rulfo
País/ano: 1991


Filme: Rulfo Aeternum
Gênero: Mediometraje. Video
Direção: Rafael Corkidi
Roteiro: Rafael Corkidi, s/cuento La herencia, de Matilde Arcángel, Juan Rulfo
País/ano: 1991


Filme: Agonía
Gênero: Cortometraje
Direção: Jaime Ruiz Ibáñez
Roteiro: Jaime Ruiz Ibáñez, s/cuento Los girasoles, de Juan Rulfo
País/ano: 1991


Filme: Pedazo de noche
Gênero: Cortometraje
Direção: Roberto Rochín Naya
Roteiro: Roberto Rochín Naya, Tomás Pérez Turrent, Elías Nahmias, s/cuento homónimo de Juan Rulfo
País/ano: 1994


Filme: Rubén Jaramillo, 1900-1962, una historia mexicana
Gênero: Mediometraje. Video
Direção: Oscar Menéndez
Roteiro: Investigación de Fernando Acosta
Textos: Juan Rulfo
País/ano: 1997
:: Fonte: Escritores Mexicanos - Juan Rulfo | Juan Rulfo - Site oficial (11/12.6.2016).
:: WEATHERFORD, Douglas J.. Juan Rulfo y el cine. in: Juan Rulfo, especial. Disponível no link. (acessado em 12.6.2016).


ASOMBRO POR JUAN RULFO
- por Gabriel García Márquez


Juan Rulfo e Gabriel García Márquez (década de 1980)
foto: Rafael López Castro
El descubrimiento de Juan Rulfo -como el de Franz Kafka- será sin duda un capítulo esencial de mis memorias. Yo había llegado a México el mismo día en que Ernest Hemingway se dio el tiro de la muerte, el 2 de julio de 1961, y no sólo no había leído los libros de Juan Rulfo, sino que ni siquiera había oído hablar de él. Yo vivía en un apartamento sin ascensor de la calle Renán, en la colonia Anzures. Teníamos un colchón doble en el suelo del dormitorio grande, una cuna en el otro cuarto y una mesa de comer y escribir en el salón, con dos sillas únicas que servían para todo.
Habíamos decidido quedarnos en esta ciudad que todavía conservaba un tamaño humano, con un aire diáfano y flores de colores delirantes en las avenidas, pero las autoridades de inmigración no parecían compartir nuestra dicha. La mitad de la vida se nos iba haciendo colas inmóviles, a veces bajo la lluvia, en los patios de penitencia de la Secretaría de Gobernación.
Yo tenía 32 años, había hecho en Colombia una carrera periodística efímera; acababa de pasar tres años muy útiles y duros en París y ocho meses en Nueva York, y quería hacer guiones de cine en México. El mundo de los escritores mexicanos de aquella época era similar al de Colombia y me encontraba muy bien entre ellos. Seis años antes había publicado mi primera novela, La hojarasca, y tenía tres libros inéditos: El coronel no tiene quien le escriba, que apareció por esa época en Colombia; La mala hora, que fue publicada por la editorial Era, poco tiempo después a instancias de Vicente Rojo, y la colección de cuentos de Los funerales de la mamá grande. De modo que era yo un escritor con cinco libros clandestinos, pero mi problema no era ése, pues ni entonces ni nunca había escrito para ser famoso, sino para que mis amigos me quisieran más y eso creía haberlo conseguido.
Mi problema grande de novelista era que después de aquellos libros me sentía metido en un callejón sin salida y estaba buscando por todos lados una brecha para escapar. Conocí bien a los autores buenos y malos que hubieran podido enseñarme el camino y, sin embargo, me sentía girando en círculos concéntricos, no me consideraba agotado; al contrario, sentía que aún me quedaban muchos libros pendientes pero no concebía un modo convincente y poético de escribirlos. En ésas estaba, cuando Álvaro Mutis subió a grandes zancadas los siete pisos de mi casa con un paquete de libros, separó del montón el más pequeño y corto, y me dijo muerto de risa: ''Lea esa vaina, carajo, para que aprenda''; era Pedro Páramo.
Aquella noche no pude dormir mientras no terminé la segunda lectura; nunca, desde la noche tremenda en que leí "La metamorfosis" de Kafka, en una lúgubre pensión de estudiantes de Bogotá, casi 10 años atrás, había sufrido una conmoción semejante. Al día siguiente leí El llano en llamas y el asombro permaneció intacto; mucho después, en la antesala de un consultorio, encontré una revista médica con otra obra maestra desbalagada: La herencia de Matilde Arcángel; el resto de aquel año no pude leer a ningún otro autor, porque todos me parecían menores.
No había acabado de escapar al deslumbramiento, cuando alguien le dijo a Carlos Velo que yo era capaz de recitar de memoria párrafos completos de Pedro Páramo. La verdad iba más lejos, podía recitar el libro completo al derecho y al revés sin una falla apreciable, y podía decir en qué página de mi edición se encontraba cada episodio, y no había un solo rasgo del carácter de un personaje que no conociera a fondo.
Más tarde, Carlos Velo y Carlos Fuentes me invitaron a hacer con ellos una revisión crítica de la primera adaptación del Pedro Páramo para el cine. Había dos problemas esenciales: el primero, era el de los nombres. Por subjetivo que se crea, todo un nombre se parece en algún modo a quien lo lleva y eso es mucho más notable en la ficción que en la vida real. Juan Rulfo ha dicho, o se lo han hecho decir, que compone los nombres de sus personajes leyendo lápidas de tumbas en los cementerios de Jalisco; lo único que se puede decir a ciencia cierta es que no hay nombres propios más propios que los de la gente de sus libros; aún me parecía imposible y me sigue pareciendo, encontrar jamás un actor que se identificara sin ninguna duda con el nombre de su personaje.
Lo malo de esos preciosos escrutinios es que las cerrazones de la poesía no son siempre las mismas de la razón. Los meses en que ocurren ciertos hechos son esenciales para el análisis de la obra de Juan Rulfo, y yo dudo de que él fuera consciente de eso. En el trabajo poético -y Pedro Páramo lo es, en su más alto grado- los autores suelen invocar los meses por compromisos distintos del rigor cronológico; más aún, en muchos casos se cambia el nombre del mes, del día y hasta del año, sólo por eludir una rima incómoda, oír una cacofonía, sin pensar que esos cambios pueden inducir a un crítico a una confusión terminante. Esto ocurre no sólo con los días y los meses, sino también con las flores; hay escritores que no se sirven de ellas por el prestigio puro de sus nombres, sin fijarse muy bien si se corresponden al lugar o a la estación, de modo que no es raro encontrar buenos libros donde florecen geranios en las playas y tulipanes en la nieve. En el Pedro Páramo donde es imposible establecer de un modo definitivo dónde está la línea de demarcación entre los muertos y los vivos, las precisiones son todavía más quiméricas, nadie puede saber en realidad cuánto duran los años de la muerte.
He querido decir todo esto para terminar diciendo que el escrutinio a fondo de la obra de Juan Rulfo me dio por fin el camino que buscaba para continuar mis libros, y que por eso me era imposible escribir sobre él, sin que todo esto pareciera sobre mí mismo; ahora quiero decir, también, que he vuelto a releerlo completo para escribir estas breves nostalgias y que he vuelto a ser la víctima inocente del mismo asombro de la primera vez; no son más de 300 páginas, pero son casi tantas y creo que tan perdurables como las que conocemos de Sófocles.
- Gabriel García Márquez, "Asombro por Juan Rulfo". (texto leído por Gabriel García Márquez el jueves 18 de septiembre de 2003, fecha en que se cumplió el cincuentenario de la primera edición de El Llano en llamas, en el programa radiofónico De 1 a 3). fonte: CiudadSeva.




Juan Rulfo, por (...)
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Mia Couto - entrevista

Mia Couto – foto: Cadinho Andrade (UFRGS)

Mia Couto: “O português do Brasil vai dominar”
O romancista moçambicano afirma que o poder que o país tem de exportar cultura está contagiando todos os países de língua portuguesa

A língua portuguesa está se transformando, muito por causa do papel das nações emergentes lusófonas da África. Nesta entrevista a Luís Antônio Giron da revista Época, concedida em São Paulo, o escritor moçambicano Mia Couto (18.4.2014), diz que, apesar da renovação de linguagem que a África apresenta hoje, o Brasil reúne condições para se tornar a nação dominante do ponto de vista cultural e linguística. Em relação aos países africanos, Couto diz que é preciso distinguir entre independência e descolonização – e que a África ainda não enfrentou o segundo termo. Para ele, o Brasil serviu como modelo para a formação da identidade nacional das nascentes nacos lusófonas da África, mas pelo lado da mistificação, o que se esgotou rapidamente. Ele afirma que o Brasil virou as costas para a África.

Luís Antônio Giron – O uso do português em várias nações gerou diferenças de vocabulário e uso. O português está se transformando a ponto de se desfigurar?

Mia Couto – O português é uma língua viva, não porque ela seja especialmente diferente. Mas ela viveu essa coisa que se chama Brasil. Vive a África que está se apropriando dela com cinco países africanos que o fazem de modo diverso. É evidente que é preciso um cuidado para que a língua continue com uma identidade e um fundamento. As diferenças do português em vários países não são sentidas como um problema. Salvo alguns intelectuais conservadores do Brasil e de Portugal, que têm um certo gosto de se apropriar da pureza da língua. De resto, existe nos países lusófonos até um gosto de visitar essas diferenças. O que está acontecendo de forma inelutável é que a variante brasileira será dominante. O português do Brasil vai dominar.

Luís Antônio Giron – Por quê?

Couto – Por causa do tamanho do Brasil e da capacidade que o país tem de exportar a si próprio, por via da novela de televisão. Há coisas que estamos pegando de vocês brasileiros que vocês nem notam. É o caso da expressão “todo mundo”. É uma expressão típica brasileira. Nos outros países dizemos “toda gente”. Mas hoje “todo mundo” é comum em Moçambique. Outra palavra é cambalacho... Deve ser uma expressão africana.

Luís Antônio Giron – “Cambalacho” é um termo do lunfardo, da gíria portenha, que incorporamos... É como “bacana’, do lunfardo argentino. Há uma troca. Eu lamento que não saibamos mais sobre as formas de falar da África. O Brasil exporta, mas não sabe absorver o que vem de fora.

Couto – O Brasil quis fazer uma batalha dentro da própria língua para se tornar independente de Portugal. Houve a afirmação de uma identidade própria que se expressa na língua. O Brasil sofre do peso de seu próprio tamanho. Sofreu um processo autocêntrico, que agora está sendo repensado e está mais propenso a escutar aquilo que vem de Moçambique, Angola e Timor Leste.  Ele tem muita coisa da África, mas é antigo. Agora o país importa o vocabulário do Brasil. Nós africanos temos que ser mais ativos e mais criativos nessa troca com o Brasil.

Luís Antônio Giron – Na palestra que o senhor fará no Brasil, o senhor chama atenção para o perigo de o pensamento se fechar em si mesmo. Como mantê-lo aberto?

Couto – As fronteiras são vitais, todo organismo cria seus próprios limites. As fronteiras na natureza são feitas para intercambiar. Mas na civilização as fronteiras são feitas para fechar, para enclausurar. A grande aprendizagem nossa é se mantiver em uma fronteira que crie pontes. O grande problema hoje é que as fronteiras criadas entre culturas, civilizações e povos nascem para fechar. As fronteiras são construídas a partir do medo do outro, do desconhecido. O outro é apresentado como uma ameaça, aquele que tem uma outra política, uma outra religião.

Luís Antônio Giron – O medo é também um problema político?  Erguer fronteiras – políticas, culturais, linguísticas e espirituais – é uma necessidade humana?

Couto – É uma necessidade humana, mas não da maneira como fazemos. Tivemos outras maneiras. Há culturas de hoje que são abertas, feitas para o convívio, para a partilha. Na África, muitas dessas fronteiras são vivas. As fronteiras se fecham às vezes. O fato de serem países em que o Estado homogêneo e todo-poderoso não existe tornam as fronteiras ávidas de deixarem de ser fronteiras. É uma condição diferente da dos países europeus, árabes, asiáticos e nos Estados Unidos. O medo hoje é bem distribuído, numa narrativa que contaminou tudo.

Luís Antônio Giron – Por que a Europa está caminhando na direção da exclusão do imigrante e de sua transformação em mão de obra.

Couto – Isso acontece como uma maneira de ocultar os problemas internos que essas sociedades têm. É uma forma de escamotear os conflitos internos desses universos. Existem razões que tendem a culpar o outro, sempre o estranho.   É como as famílias que recomendam às crianças que não falem com estranhos. Quando, na realidade, as grandes violências são cometidas dentro da casa. Essa versão começa a ser inculcada desde a infância.

Luís Antônio Giron – Como o senhor analisa a tribalização do mundo?

Couto – A tribalização da Europa acontece ao contrário do que aconteceu na África. Noto isso em Moçambique, que se manteve isolado por longo tempo. Mas era um país sentado à beira da praia, esperando pelos navios.  Tudo se deve à enfermidade dos mecanismos de pensamento, que tendem a criar essências, como algo que está fora da história, que faz parte da natureza. Assim, criam-se os estereótipos, como se dá no Brasil: os brasileiros do Sul são trabalhadores por natureza, os do Nordeste são menos trabalhadores, como se fosse uma coisa que está na massa do sangue. Como se tivéssemos que arrumar o mundo em um monte de gavetas, em vez de compreender que cada pessoa é uma pessoa e temos de procurar uma identidade.

Luís Antônio Giron – O senhor tem uma expressão que pode soar politicamente incorreta: “Eu sou mulato não das raças, mas de existências”.

Couto – É difícil de conviver com a complexidade que cada um tem dentro de si e o que cada outro é. Apesar da tendência de categorizar e simplificar, há qualquer coisa que escapa à categorização. É esta coisa que escapa que é o mais bonito, é o que quero fixar.

Luís Antônio Giron – O senhor afirma que a atitude politicamente correta é prejudicial às sociedades pós-coloniais como Brasil e Moçambique. Por quê?

Couto – Porque a mentalidade politicamente correta nasce de uma atitude religiosa do norte da Europa, da procura daquilo que é puro do ponto de vista moral, liberto de outras contaminações. Ela tenta resolver o mundo pela palavra. Pode soar poética, mas é uma coisa da religião protestante, que apoiava tudo na palavra divina, no poder do livro. É uma operação que obriga a pessoa a pensar duas vezes antes de dizer “favela” ou “comunidade” – um eufemismo que também tem origem religiosa. Tenho de policiar minha expressão de maneira que ela pareça certa. No fundo, não se resolve aquilo que é mais importante: mudar a realidade para que eu não tenha medo das palavras nem ter de pensar cinco vezes se eu devo dizer “negro” ou “preto” ou “afrodescendente”. O engraçado é que isso varia. Nosso foco tem que ser outro. É preciso deixar de pensar no vestuário superficial da palavra e ir mais fundo, investigar o próprio pensamento.

Luís Antônio Giron – O senhor não acha que, mesmo assim, em nome da ética e do respeito, algumas palavras precisam ser substituídas?

Couto – Há casos em que é preciso alterar o uso das palavras. A conotação que liga o negro ao negativo, ao sinistro.

Luís Antônio Giron – Como é a mentalidade politicamente correta na África?

Couto – Na África, essas coisas quase não existem, e quando ocorrem é por influência dos Estados Unidos. Essa coisa da afirmação positiva, das costas, nunca existiu. Mas agora já começa a haver um movimento a favor de introduzir um mecanismo de acerto por imposição de uma cota.

Luís Antônio Giron – O senhor é a favor das cotas?

Couto – Não tenho simpática nenhuma pelas cotas. A cota avilta quem recebe e não diz nada de quem a dá. É preciso que não haja cotas, e sim que se resolvam os problemas radicalmente.

Luís Antônio Giron – Como seria resolver esses problemas em um mundo regido pelo mercado?

Couto – Não sei se é tão inviável assim. Por que não fazemos outra vez uma revolução? Não sei como. Para já o que é preciso não aceitar as cotas. Parecem soluções, são panaceias. Na África, as elites reproduziram o discurso do orgulho nacionalista e acabaram por reproduzir também os mecanismos de repressão a seu próprio povo. Em relação à realidade anterior, colonial, nada mudou. Processou-se apenas uma mudança de turno, as elites substituíram o antigo poder colonial europeu. As elites africanas indigenizaram o próprio colonialismo. É um sistema. É como se o oprimido se tornasse rapidamente opressor.

Luís Antônio Giron – Os países europeus experimentam hoje uma situação que África e Brasil já lidam há séculos: a da identidade múltipla. Com tantas identidades, a tendência não é a diluição? Ou o multiculturalismo é a solução para um mundo em crescente diversidade?

Couto – Não gosto do conceito e da palavra multiculturalismo. É preciso considerar o que cada um de nós tem por dentro. Ninguém é feito de uma cultura só. Isso não existe hoje. Eu dei aulas como biólogo e eu mostrava aos meus alunos que eles não são um indivíduo, mas uma simbiose de indivíduos com identidades completamente diversas, como bactérias, fungos e vírus que não estão vivendo com eles, mas são eles. A aceitação de que somos tão diversos é difícil. Aí os alunos achavam estranho e diziam: “Bactérias? Então eu sou bactéria?” Gosto de tudo o que a ciência propunha para derrubar a ideia de que somos um produto divino e puro foi absorvida. Quanto aos europeus, eles acreditam que defendem uma fortaleza, que é o centro histórico da civilização. Isso foi manipulado para que eles pudessem conviver com outras culturas, aí o multicultralismo. Mas a verdade é a convivência é pacífica, mas cada um tem a sua cultura separadamente.  Quando o ponto é que as culturas têm que se misturar e se tornar uma simbiose. Um pouco como aquilo que o Brasil fez: incorporar suas diferentes matrizes.
>> Khaled Hosseini: "Não gosto de ler 'O caçador de pipas'"

Luís Antônio Giron – No Brasil isso acontece em um plano mais ideal que real.

Couto – Sim, é mais o que o Brasil gostaria que acontecesse do que acontece. Os brasileiros conseguiram ir mais longe que quaisquer outros povos em fundir as religiões, fazer sincretismos, absorver as coisas que vieram da África e da Europa. Mas a sociedade brasileira é muito estratificada, é muito hierarquizada. E hoje acontece no Brasil um discurso de afirmação que dita que se sentir superior é se sentir europeu. O processo de imposição da língua, por exemplo, se deu pela violência. No Brasil ou em Moçambique, a língua portuguesa foi imposta. Há mais de 20 línguas diferentes em Moçambique. Todo mundo pode hoje falar sua língua, mas não é uma língua de prestígio, que pode chegar ao livro, como o português. O português é uma violência sutil hoje, mas continua presente.

Luís Antônio Giron – O poder do pensamento sistemático ocidental é arrasador. O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss veio ao Brasil e descreveu a complexidade do pensamento selvagem. Mas esse pensamento é reduzido a um objeto de estudo antropológico. O que seria uma redução.

Couto – O problema é que as pessoas que vivem esse pensamento aprendem rapidamente a se envergonhar do que elas pensam e praticam o suicídio epistemológico. Eles se encarregam eles próprios de matar os fundamentos de seu pensamento. Quando é objeto de uma coisa exótica, com sua graça, que serve a uma disciplina de etnografia e antropologia, mas não de alguma coisa que pode ser incorporada na modernidade. E aí o pensamento selvagem não tem lugar. Só tem lugar como objeto de museu.

Luís Antônio Giron – Os artistas tentaram alterar a imagem da África, não? É o caso de Picasso e sua tela Les Demoiselles d’Avignon...

Couto – A arte vai à frente, tentando abrir um caminho, de uma maneira muito modesta. Mas isso depois tem consequências. A arte e a literatura podem criar um desejo de que o mundo pode ser diverso. É um trabalho quase psiquiátrico o do artista, o de fazer as pessoas perderem o medo do outro e do desconhecido. Não só isso, mostrar que aqueles que a gente tema podem manter conosco uma relação de solução e de enriquecimento. A arte pode propor uma relação de namoro.

Luís Antônio Giron – Como enfrentar os problemas culturais e educacionais nos países africanos?

Couto – Hoje há muito mais gente em escola. Não são escolas que pensem seu próprio perfil e no sentido da utilidade. Estamos defasados em relação às grandes demandas do mundo. Falta qualificação em áreas no domínio técnico. Portanto, estamos criando uma situação em que há muita gente escolarizada e pouca preparada para enfrentar o mundo. A apreciação da África tem que mudar, e ler literatura contemporânea da África ajuda nisso. A África não exporta só jogador de futebol e dançarino. Exporta pensamento, a capacidade de produzir beleza.

Luís Antônio Giron – O Brasil hoje voltou a ser modelo para a África?

Couto – O presidente Lula torou o Brasil mais próximo. Até então o Brasil estava de costas viradas para a África. Na relação entre o Brasil e África, pode-se dizer que há um pré-Lula e um pós-Lula. Com Dilma, existe uma continuação. As empresas brasileiras foram levadas para a África e nossa relação se libertou do laço político. A Odebrecht, a Vale e Andrade Gutierrez estão presentes na África e estabeleceram uma relação que não depende mais da política. São empresas que criam relações. A Vale tem milhares de funcionários brasileiros que vivem em Moçambique, nas mais diferentes cidades. E isso cria qualquer coisa próxima. Eu lembro que anos atrás eu cheguei a um hotel, os moçambicanos se cumprimentavam à maneira indiana, com “Nemastê”. Eu não via televisão e achei tudo estranho. Só depois que soube que era por causa de uma novela, O caminho das Índias, que os brasileiros estavam vendo no hotel, e que contaminaram todos. Ali eu vi a globalização: os africanos se cumprimentando à maneira indiano por causa de uma novela brasileira.

Luís Antônio Giron – Como está a literatura moçambicana hoje?

Couto – Há uns cinco escritores interessantes e que se projetam mundialmente. O fato é que vivemos uma estagnação durante a guerra civil, de 1977 a 1992. A escola que ainda cultivava a literatura morreu. Hoje assistimos aos meninos que estão abraçando a poesia e o conto, e estou muito otimista.

Luís Antônio Giron – Por que o senhor nunca saiu de Moçambique e trocou Maputo por Lisboa?

Couto – Isso acontece mais com os africanos de língua inglesa do que os lusófonos. Lisboa é uma capital atraente mas não é Londres nem Paris. Nunca me ocorreu fazer isso. Não era um opção. Se eu tivesse de sair de Moçambique, eu carregaria Moçambique comigo. Minha família era muito nuclear. Fui visitar Lisboa quando adulto. Meus pais e meus irmãos estão lá. É como se Adão e Eva estivessem nascido em Moçambique.  Outro mundo era coisa estranha. O Brasil sofreu um processo autocêntrico, que agora está sendo repensado.

Luís Antônio Giron – O senhor diz que a literatura brasileira não é conhecida na África.  Como o senhor faz para tomar contato com ela?

Couto – Quando estou no Brasil faço minhas incursões. Gosto de algumas coisas que estão sendo feitos, como o Milton Hatoun, que é uma referência para mim. Um livro que me marcou foi O leite derramado. Porque eu queria ter feito esse livro, a memória de um velho que está no limite do que podemos acreditar, contando sua história e a de seu país. Era o meu projeto. Eu me reconheci no livro. Estou tentando encontrar uma maneira que seja minha.

Luís Antônio Giron – O senhor está escrevendo um romance?

Couto – Sim, ainda não tem título. É a história de um imperador, Gungunyana, um resistente contra a ocupação colônia, ele reinou de 1870 a 1895. Portugal precisava de capturá-lo para manter seu território colonial. Eu quero contar a história dele, mas não como um romance histórico, mas através de uma tradutora, como um elo entre o poder colonial e a resistência. Ela foi levada a Lisboa com Gungunyana. Ele morreu nos Açores, enterrado no mar como diz a personagem. É uma tentativa de reabilitar um personagem de um tempo que foi mistificado. 

Luís Antônio Giron – O que o senhor aprendeu com os escritores brasileiros?

Couto – Eu vim beber no Brasil. Sou mais influenciado pelos poetas brasileiros, como Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. A minha casa vivia cheia de poesia, porque meu pai, Fernando Couto, era vidrado em poesia brasileira e francesa. Eu tinha discos da poesia jogral de São Paulo, que hoje ninguém mais conhece. Mas me marcou escutar poemas como “Essa nega fulô”, de Jorge de Lima. Poesia era mais som do que leitura para mim. Em minha casa viviam essas vozes. Eu nem me dava conta de que poesia vinha do livro. Comecei a ouvir música brasileira na nossa varanda. Meu pai ouvia também as canções praieiras do Dorival Caymmi e aquele jeito doce de cantar me marcou desde menino. Depois vieram João Cabral de Melo Neto e Guimarães Rosa. Quando publiquei Vozes amanhecidas, em 1987, eu sofria influência do Guimarães Rosa, embora nunca o tinha lido. Depois o escritor Luandino Vieira, que transgredia a norma incorporando os sotaques de Luanda, chamou atenção em um entrevista que era influenciada por  Guimarães Rosa. Eu consegui uma fotocópia do conto “A terceira margem do Rio” e finalmente li. Quando escrevi o segundo livro de contos, Cada homem é uma raça, aí já era totalmente influenciado em Guimarães Rosa. Os contos dele são romances condensados.

Luís Antônio Giron – O senhor se encantou com Rosa pelo fato de ele experimentar e manipular a linguagem?

Couto – Sim. E era uma coisa que fazíamos intuitivamente em Moçambique, como deve ser quando incorporamos uma língua. Precisamos torná-la íntima, namorar com ela no chão e criar um novo ser.  O Rosa faz parte de um contexto histórico em que havia a necessidade de criar o sertão, uma fronteira pura em que o mundo não chegava para contaminar. É a construção do território da palavra, contra a lógica do tempo, isso me parecia importante.

Luís Antônio Giron – Qual a sua principal influência literária?

Couto – Venho da poesia. Li poesia francesa, como os surrealistas Paul Éluard e Jacques Prévert,  os petistas da resistência espanhola como Miguel Hernandez ou García Lorca. Vivíamos como se a poesia fosse um habitante da casa.  Fernando Pessoa é impossível de contornar. Ele é infinito. Na adolescência ele era o meu guia. Ele é o maior. Ele me ajudou a me resolver internamente, naquele momento que temos de nos confrontar com escolhas e criar uma identidade reconhecível, simples e única. Ele foi mais que uma influência literária. Foi filosófica.  Ele me ensinou a ser múltiplo e plural. Ele é o verdadeiro autor de autoajuda.  

Luís Antônio Giron – O quanto de poesia tem a sua obra de ficção? Há diferença para o senhor entre poesia e prosa?

Couto – Eu estou sempre lá na poesia. Não vejo diferença, faço prosa e poesia. Quando decido contar uma história, romance ou conto, acontece em poesia, só. É um estorvo. Quero contar uma história e ter a disciplina de romancista e lá está a poesia. Agora, olhando para a chuva na janela, a poesia é uma chuva que limpa o céu e torna a alma limpa. Vou para o romance sem saber como vai ser a história. É como se a poesia me ajudasse de olhar a história. 

Luís Antônio Giron – De onde o senhor tira suas histórias? E como as compõe?

Couto – Conto uma história a partir da sugestão do real. Mas tenho um pudor que me faz não reproduzir uma história real. Tiro de conversas de pessoa. Isso vem da capacidade de escutar os outros, há sempre uma história que está oculta. É um exercício que faço desde menino. Eu me sentava diante da casa e os meus pais me chamavam de muito devagar. Eu era muito sossegado. E assim eu observava.  Contar história é uma coisa que parte do não saber. É uma ignorância intencional. Ela me torna disponível para escutar vozes dos personagens. O que eu gosto é criar personagens. Eles têm de ser suficientemente sedutores para que eles possam me escutar também. É um jogo. Eu sei que é romântico o modo como olho o meu próprio modo de produção. Mas é assim que funciona.

Luís Antônio Giron – O senhor é romântico, não?

Couto – Sou um romântico que briga com a realidade, mas não lhe dá tanta importância assim como os românticos do passado. É que é um modo de subverter as coisas que eu aprendi do [líder revolucionário] vietnamita Ho Chi Minh. Ele escreveu uma poesia delicadíssima quando estava na cadeia. Perguntaram a ele como era possível ele ter escrito poesia tão singela numa posição tão dura. A resposta dele é um lema para mim: “Eu desvalorizei as paredes”. No fundo ele nunca esteve preso. Estamos presos a esta coisa que chamamos realidade, há uma ditadura que diz que o mundo tem que ser assim. Mas o mundo não é assim. Há outros mundos possíveis.

Luís Antônio Giron – Qual o seu método de trabalho?

Couto – Estou sempre anotando. Meus bolsos estão cheios de papéis e isso me atrapalha. É um caos permanente que depois pede que eu tenha um retiro para eu poder dar uma ordem a isso. Escrevo com a mão. Anoto em cinco, seis cadernos que perco, e depois escrevo no computador. O caos faz parte de mim.

Luís Antônio Giron – Que conselhos o senhor daria a um escritor jovem ou iniciante?

Couto – Meu conselho é que ele não fique intimidado pelo desejo de escrever bem. O escritor não é aquele que escreve bem só. Estiver bem escrevem muitos. É que ele procure a história, aquilo que é único, que ele deixe se surpreender com a permanência da infância nele. Não ter medo da infância.

Luís Antônio Giron – Experimentar a linguagem não está fora de moda?

Couto – Eu mesmo não me contento mais com isso. Estou buscando uma via, quero me surpreender, quero ousar. Por via da poesia quero manter uma relação de surpresa com a linguagem. Mas a busca da palavra transgredida estou abandonando. Há uma diferença em relação a isso com o tempo. Minha literatura ficou mais contida.

Luís Antônio Giron – O senhor enxerga alguma coisa boa na literatura de entretenimento?

Couto – Eu não gosto disso. Livros de aeroporto eu raramente compro. Eles são anunciados como os mais vendidos. Não é um estigma, mas eu procuro aquilo que é mais experimental e feito com um propósito que não seja de venda.

Luís Antônio Giron – É difícil ser escritor sem marketing, seja o pessoal, seja os das agências literárias e editoras. É possível viver sem isso?

Couto – A negocia ação que você pode fazer com o mercado é no sentido de não alterar o território impoluto da produção artística. Há um território que tem que ser preservado. No meu caso, tenho sido capaz de manter isso. Não faço por cálculo nem administro o que eu sou ou o que eu faço que não seja pelo trabalho artístico.

Luís Antônio Giron – As mudanças tecnológicas – como internet, e-books e tablets – estão alterando a forma de fazer literatura – e seu estilo?

Couto – Não sou muito capaz de entrar nesse mundo. Mas entrei o suficiente para que ele me ajudam. As tecnologias são escravas, ferramentas que eu uso, mas mantenho o meu universo interior.

Luís Antônio Giron – Os blogs provocaram uma renovação literária significativa ou repetem chavões?

Couto – Sim, a literatura se tornou mais acessível, aberta e imediata. Democratizar os autores é um universo completamente novo.

Luís Antônio Giron – Qual o futuro da ficção num mundo cada vez mais fascinado por produtos de alta tecnologia? A leitura não está prejudicada? A atenção não se dispersa?

Couto – A tecnologia não é ameaça. O pior é a incapacidade dos jovens de produzir histórias. Ele precisam ser capazes de ser autores das próprias histórias. Meu medo é que os jovens passem a ser grandes consumidores e não autores de um narrativa das suas próprias fantasias.  E isso começa na linguagem funcional e utilitária. Aquilo que está na língua e é fonte de enorme prazer e invenção da pessoa, essa parte está muito esquecida.
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Fonte: Revista Época, edição online, 18.4.2014. (acessado em 10.6.2016).

Mia Couto - foto: AFP
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** Página atualizada em 10.6.2016.



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