COMPARTILHE NAS SUAS REDES

Emily Dickinson - liberdade e transgressão

Emily Dickinson - desenho
Emily Elizabeth Dickinson (poeta norte-americana) nasceu em 10 de dezembro de 1830, na pequena cidade de Amherst, perto de Boston, no estado de Massachusetts, uma das regiões de raízes mais puritanas e conservadoras dos Estados Unidos, e morreu no mesmo local em 15 de maio de 1886. Tendo vivido e produzido à margem dos círculos literários de seu tempo, solteira por convicção e auto-exilada dentro de casa por mais de vinte anos, Emily Dickinson não chegou a publicar os seus versos, por não se submeter aos rígidos padrões de discrição e singeleza que se esperava então de uma mulher. Sua voz era uma voz estranha em meio às tímidas dicções poéticas da época, e por essa razão ela teve de encarar em vida a rejeição de seu labor poético. Ao arrumar o quarto de Emily depois que ela morreu, a sua irmã Lavinia encontrou uma gaveta cheia de papéis em desordem. Eram cadernos e folhas soltas com uma grande quantidade de poemas inéditos. Disposta a divulgar a obra da irmã, Lavinia entrou em contato com um medíocre crítico literário, Thomas Higginson, que durante trinta anos renegou todos os versos que Emily lhe submetera, e uma obscura escritora, Mabel Todd, que por cinco anos havia freqüentado a casa da poeta sem nunca chegar sequer a vê-la. Dessa improvável união de forças surgiu a publicação póstuma de alguns de seus poemas, seguida em pouco tempo de diversas outras edições, em vista da excepcional acolhida que tiveram. Em 1955, o crítico e biógrafo Thomas H. Johnson reuniu numa edição definitiva todos os seus 1.775 poemas. Daí em diante a obra de Emily Dickinson passou a ser reverenciada por uma crescente legião de críticos e leitores exigentes. Sua escrita poética, ambígua, irônica, fragmentada, aberta a várias possibilidades de interpretação, antecipa, sob muitos aspectos, os movimentos modernistas que se sucederiam depois de sua morte. Essa instigante poesia, nascida na solidão e no anonimato mas impregnada dos mais profundos valores humanos, dá hoje a Emily Dickinson um merecido e imorredouro lugar no cânon literário universal.
Seus versos constam da coletânea "The Complete Poems of Emily Dickinson", editada por Thomas H. Johnson, Cambridge, Mass (EUA), 1955.

Fonte: Releituras (acessado em 13.2.2016).

Emily Dickinson

OBRA DE EMILY DICKINSON PUBLICADA EM PORTUGUÊS
Brasil
:: Poesias escolhidas de Emily Dickinson. [tradução Olivia Krähenbühl; ilustrações Darcy Penteado]. São Paulo: Saraiva, 1956.
:: Mistério e solidão: a vida e a obra de Emily Dickinson, de Thomas H, Johnson. [tradução Vera Neves Pedroso]. Coleção Mimesis. Rio de Janeiro: Lidador, 1965.
:: Cinco poemas de Emily Dickinson [tradução Manuel Bandeira]. in: BANDEIRA, Manuel. Poemas traduzidos (1943/1948). Rio de Janeiro: José Olympio, 1976. 
Emily Dickinson, por Skinny Domicile
:: Emily Dickinson. [tradução Paulo Vizioli]. in: VIZIOLI, Paulo. Poetas norte-americanos: antologia bilíngue. Rio de Janeiro: Lidador, 1976.
:: Cartas de Emily Dickinson a Thomas Wentworth Higginson. [tradução Rosaura Eichenberg; prefácio Cleber Teixeira; desenhos Pedro Pires]. Florianópolis SC: Noa Noa, 1983.
:: Emily Dickinson: Uma centena de poemas. [tradução, introdução e notas Aíla de Oliveira Gomes; apresentação Paulo Rónai; e prefácio Ashley Brown]. São Paulo:  T. A. Queiroz; EdUSP, 1984. 
:: Emily Dickinson: poemas. [tradução e ensaio introdutório: “O Mito de Amherst” Idelma Ribeiro de Faria]. Edição bilíngue. São Paulo: Hucitec, 1986. 
:: Emily Dickinson: cinquenta poemas. [tradução e seleção Isa Mara Lando]. Rio de Janeiro: Imago, 1999.
:: Emily Dickinson: 75 poemas. [prefácio e tradução Lucia Olinto]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Sete Letras, 1999.
:: Poemas de Emily Dickinson. [tradução, introdução e notas biográficas Ivo Cláudio Bender]. Edição bilíngue. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2002.
:: Emily Dickinson: Alguns poemas. [tradução e ensaio introdutório: “Emily Dickinson: a críptica beleza”, de José Lira; e prefácio de Paulo Henriques Britto]. Edição bilíngue. São Paulo: Editora Iluminuras, 2006, 319p.
:: Emily Dickinson - Poemas escolhidos (bilíngue).. [seleção, tradução e introdução Ivo Cláudio Bender]. Edição Bilíngue. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2007, 128p.
:: 20 poemas de amor e uma canção de Emily Dickinson. [tradução José Lira]. Folheto de cordel. Recife: Coqueiro, 2009, 24p. 
:: Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos].
Edição bilíngue
. Campinas: Unicamp, 2009, 109p.

:: Emily Dickinson: Loucas noites (Wild nights).. [tradução Isa Mara Lando]. Edição Bilíngue. Barueri SP: Disal Editora, 2010, 208p. 
:: A voz branca da solidão - Emily Dickinson. [tradução José Lira). Edição bilíngue. São Paulo: Iluminuras, 2011, 352p. 

Antologia (participação)
:: Folhetim — poemas traduzidos. [tradução de Ana Cristina Cesar]. Editora da Folha de S. Paulo, 1983.
:: + Emily Dickinson no Brasil. Referências e estudos/arquivo organizado pelo professor Carlos Daghlian/UNESP. Acesse AQUI!

Portugal
Emily Dickinson, by A field of dreams
:: 80 Poemas de Emily Dickinson. [tradução, prefácio e notas Jorge de Sena]. Lisboa: Edições 70, 1978.
:: Emily Dickinson. in: Leituras. poemas do inglês.  [tradução João Ferreira Duarte]. Lisboa: Relógio de Água, 1993.
:: Emily Dickinson: bilhetinhos com poemas. [tradução Ana Fontes; prefácio A. Joaquim]. Sintra: Colares Editora, 1995.
:: Emily Dickinson: poemas e cartas (antologia para um recital).. [introdução e tradução Nuno Júdice; seleção Nuno Vieira de Almeida; revista por Ana Luísa Amaral]. Edição bilíngüe. Lisboa: Cotovia, 2000, 190p
:: Duzentos Poemas de Emily Dickinson. [tradução, prefácio e organização Ana Luísa Amaral; apresentação João Barrento]. Edição bilíngue. Lisboa: Relógio D'Água, 2014.

Edições norte-americanas da obra de Emily Dickinson
:: Acesse AQUI

Escondo-me na minha flor,
Para que, murchando em teu Vaso,
tu, insciente, me procures –
Quase uma solidão.


I hide myself within my flower,
That fading from your Vase,
You, unsuspecting, feel for me –
Almost a loneliness.
 

- Emily Dickinson - "80 Poemas de Emily Dickinson". [tradução Jorge de Sena]. Lisboa: Edições 70, 1978.


POEMAS ESCOLHIDOS DE EMILY DICKINSON
Emily Dickinson, by Mark Alexander
1

Uma palavra se abre
Como um sabre —
Pode ferir homens armados
Com sílabas de farpa
Depois se cala —
Mas onde ela caiu
Quem se salvou dirá
No dia de desfile
Que algum Irmão de armas
Parou de respirar.

Aonde vá o sol sem ar —
Por onde vague o dia —
Lá está esse assalto mudo —
Lá, a sua vitória!
Observa o atirador arguto!
O tiro mais perfeito!
O alvo do Tempo
O mais sublime
É um ser “ignoto!”


1

There is a word
Which bears a sword
Can pierce an armed man —
It hurls its barbed syllables
And is mute again —
But where it fell
The saved will tell
On patriotic day,
Some epauletted Brother
Gave his breath away.

Wherever runs the breathless sun —
Wherever roams the day —
There is its noiseless onset —
There is its victory!
Behold the keenest marksman!
The most accomplished shot!
Time's sublimest target
Is a soul "forgot!"

(c. 1858)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

2

Sépala, pétala e um espinho —
Nesta manhã radiosa —
Gota de orvalho — Abelhas — Brisa —
Folhas em remoinho —
Sou uma rosa!


2

A sepal, petal,Annotate and a thorn
Upon a common summer's morn —
A flask of Dew — A Bee or two —
A Breeze — a caper in the trees —
And I'm a Rose!

(c. 1858)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

3

Um perde — outro ganha —
Jogadores jogados —
Lançam de novo os dados!


3

We lose — because we win —
Gamblers — recollecting which 
Toss their dice again!
(c. 1858)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

4

Se recordar fosse esquecer,
Eu não me lembraria.
Se esquecer, recordar,
Eu logo esqueceria.
Se quem perde é feliz
E contente é quem chora,
Que alegres são os dedos
Que colhem isto, Agora!


4

If recollecting were forgetting,
Then I remember not.
And if forgetting, recollecting,
How near I had forgot.
And if to miss, were merry,
And to mourn, were gay,
How very blithe the fingers
That gathered this, Today!
(c. 1858)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

5

O Sucesso é mais doce
A quem nunca sucede.
A compreensão do néctar
Requer severa sede.

Ninguém da Hoste ignara
Que hoje desfila em Glória
Pode entender a clara
Derrota da Vitória

Como esse — moribundo —
Em cujo ouvido o escasso
Eco oco do triunfo
Passa como um fracasso!


5

Success is counted sweetest
By those who ne’er succeed.
To comprehend a nectar
Requires sorest need.

Not one of all the purple Host
Who took the Flag today
Can tell the definition,
So clear, of Victory!

As he, defeated — dying —
On whose forbidden ear
The distant strains of triumph
Burst agonized and clear!

(c. 1859)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

6

Nossa porção de noite —
Nossa porção de aurora —
Nossa ausência de amor —
Nossa ausência de agrura —

Uma estrela, outra estrela
Que se extravia!
Uma névoa, outra névoa,
Depois – o Dia!


6

Our share of night to bear —
Our share of morning —
Our blank in bliss to fill
Our blank in scorning —
  
Here a star, and there a star,        
Some lose their way!
Here a mist, and there a mist, 
Afterwards — Day! 
 
(c. 1859)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§
 

7

Tanto júbilo! Tanto!
Se eu errar, que pobreza!
Pobres como eu, no entanto,
Tudo arriscaram num só Lance!
Ganharam! Sim! Temendo embora —
Deste lado a Vitória!

Vida é só Vida! E Morte, Morte!
Ar é Ar, e Alegria, Alegria!
E se eu falhar, enfim,
É doce ao menos conhecer o ruim!
Perder não é mais que Perder,
Não há mais fim que o Fim!

Mas se eu ganhar! Canhões no Mar!
Sinos nas Torres, pelo ar
Ressoem lentamente!
O Céu é muito diferente
Quando sonhado; terra firme —
Poderá extinguir-me!


7

’Tis so much joy! ’Tis so much joy!   
If I should fail, what poverty!   
And yet, as poor as I,   
Have ventured all upon a throw!
Have gained! Yes! Hesitated so —       
This side the Victory!   
 
Life is but Life! And Death, but Death!
Bliss is, but Bliss, and Breath but Breath!   
And if indeed I fail,   
At least, to know the worst, is sweet!           
Defeat means nothing but Defeat,   
No Drearier, can befall!   
 
And if I gain! Oh Gun at Sea!   
Oh Bells, that in the Steeples be!   
At first, repeat it slow!           
For Heaven is a different thing,   
Conjectured, and waked sudden in —
And might extinguish me!

(c. 1860)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§
 

8

A salvo nos seus Quartos de Alabastro —
Distantes do Festim —
Dos Sóis e do Verão —
Dormem os meigos mestres da Ressurreição —
Tetos de Pedra — Paredes de Cetim!

Grandiosos vão os Anos ao Crescente —
Os Mundos os seus Arcos circunscrevem —
E os Firmamentos — fogem —
Diademas – decaem — dobram-se — os Doges —
Gotas sem som – em um Disco de Neve —


8

Safe in their Alabaster Chambers —
Untouched by Morning —
And untouched by Noon —
Lie the meek members of the Resurrection —
Rafter of Satin — and Roof of Stone! 

Grand go the Years — in the Crescent — above them —
Worlds scoop their Arcs —
And Firmaments — row —
Diadems — drop — and Doges – surrender —
Soundless as dots — on a Disc of Snow —

(c. 1861)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

9

Tive uma jóia nos meus dedos —
E adormeci —
Quente era o dia, tédio os ventos —
"É minha", eu disse —

Acordo — e os meus honestos dedos
(Foi-se a Gema) censuro —
Uma saudade de Ametista
É o que eu possuo —


9

I held a Jewel in my fingers —
And went to sleep —
The day was warm, and winds were prosy —
I said “‘Twill keep” —

I woke — and chid my honest fingers,
The Gem was gone —
And now, an Amethyst remembrance
Is all I own —

(c. 1861)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

10

Senti um Féretro em meu Cérebro,
E Carpideiras indo e vindo
A pisar — a pisar — até eu sonhar
Meus sentidos fugindo —

E quando tudo se sentou,
O Tambor de um Ofício —
Bateu — bateu — até eu sentir
Inerte o meu Juízo

E eu os ouvi — erguida a Tampa —
Rangerem por minha Alma com
Todo o Chumbo dos pés, de novo,
E o Espaço — dobrou,

Como se os Céus fossem um Sino
E o Ser apenas um Ouvido,
E eu e o Silêncio estranha Raça
Só, naufragada, aqui —

Partiu-se a Tábua em minha Mente
E eu fui cair de Chão em Chão —
E em cada Chão achei um Mundo
E Terminei sabendo — então —


10

I felt a Funeral, in my Brain,
And Mourners, to and fro
Kept treading — treading — till it seemed
That Sense was breaking through —

And when they all were seated,
A Service like a Drum —
Kept beating — beating — till I thought
My Mind was going numb —

And then I heard them lift a Box
And creak across my Soul
With those same Boots of Lead, again,
Then Space — began to toll,

As all the Heavens were a Bell,
And Being, but an Ear,
And I, and Silence, some strange Race
Wrecked, solitary, here —

And then a Plank in Reason, broke,
And I dropped down, and down —
And hit a World, at every plunge,
And Finished knowing — then —

(c. 1861)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

11

Não sou Ninguém! Quem é você?
Ninguém — Também?
Então somos um par?
Não conte! Podem espalhar!

Que triste — ser— Alguém!
Que pública — a Fama —
Dizer seu nome — como a Rã —
Para as almas da Lama!


11


I’m Nobody! Who are you?
Are you — Nobody — too?
Then there’s a pair of us!
Don’t tell! they’d advertise — you know!

How dreary — to be — Somebody!
How public — like a Frog —
To tell one’s name — the livelong June —
To an admiring Bog!
(c. 1861)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

Emily Dickinson, by (...)
12

Lidamos com o Joio —
Para chegar à Joia! —
Jogamos fora o Joio —
Julgando-nos ingênuos —

Mas a Forma era a mesma —
E a nova Mão bateia
Com Táticas de Gema —
Praticando Areia —


12


We play at paste —
Till qualified, for Pearl —
Then, drop the Paste —
And deem ourself a fool —

The shapes — though — were similar —
And our new Hands
Learned Gem-Tactics —
Practicing Sands —

(c. 1862)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

13

Muita Loucura faz Sentido —
A um Olho esclarecido —
Muito Sentido — é só loucura —
É a Maioria
Que decide, suprema —
Aceite — e você é são —
Objete — é perigoso —
E merece uma Algema


13

Much Madness is divinest Sense —
To a discerning Eye —
Much Sense — the starkest Madness —
’Tis the Majority
In this, as all, prevail —
Assent — and you are sane —
Demur — you’re straightway dangerous —
And handled with a Chain —

(c. 1862)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

14

Morri pela beleza — e assim que no Jazigo
Meu Corpo foi fechado,
Um outro Morto foi depositado
Num Túmulo contíguo —

“Por que morreu?” murmurou sua voz.
“Pela Beleza” — retruquei —
“Pois eu — pela Verdade – É o mesmo. Nós
Somos Irmãos. É uma só lei” —

E assim Parentes pela Noite, sábios —
Conversamos a Sós —
Até que o Musgo encobriu nossos lábios —
E — nomes — logo após —


14

I died for Beauty — but was scarce
Adjusted in the Tomb
When One who died for Truth, was lain
In an adjoining room —

He questioned softly “Why I failed”?
“For Beauty”, I replied —
“And I — for Truth — Themself are One —
We Brethren, are”, He said —

And so, as Kinsmen, met a Night —
We talked between the Rooms —
Until the Moss had reached our lips —
And covered up — our names —
(c. 1862)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§
15

Beleza — não tem causa — É —
Cace-a e ela cessa —
Não a cace e ela cresce —

Tente alcançar na Messe

As Ondas — quando o Vento
Passa os dedos por ela —
Deus do alto vela
Para negar o Intento —


15

Beauty — be not caused — It Is —
Chase it, and it ceases —
Chase it not, and it abides —

Overtake the Creases

In the Meadow — when the Wind
Runs his fingers thro' it —
Deity will see to it
That You never do it —

(c. 1862)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

16

Algumas Borboletas há
Nos Campos do Brasil —
Voam ao meio-dia só —
Depois — cessa o Alvará —

Alguns Aromas — vêm e vão
À tua Escolha, uma só vez —
Estrelas — que à Noite entrevês —
Estranhas — de Manhã —


16


Some such Butterfly be seen
On Brazilian Pampas —
Just at noon — no later — Sweet —
Then — the License closes —

Some such Spice — express and pass —
Subject to Your Plucking —
As the Stars — You knew last Night —
Foreigners — This Morning —

       (c. 1862)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§ 

17

Eu temo a Fala escassa —
O Homem que fala Pouco —
Falastrão — é oco —
O Tagarela — passa —

Mas O que pesa — Enquanto a Turba —
Ao máximo se expande —
Esse Homem — me perturba —
Temo que seja Grande —


17

I fear a Man of frugal Speech —
I fear a Silent Man —
Haranguer — I can overtake
Or Babbler — entertain —

But He who weigheth — While the Rest —
Expend their furthest pound —
Of this Man — I am wary —
I fear that He is Grand —
       (c. 1862)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

Emily Dickinson, by Gareth Southwell
18

Prazer — vira pintura —
Se visto pela Dor —
Melhor — porque impossível
Ao fruidor —

A Montanha — à distância —
É Âmbar — um véu —
Perto — dispersa-se — a ânsia —
E Isto é — o Céu —


18

Delight — becomes pictorial —
When viewed through Pain —
More fair — because impossible
Than any gain —

The Mountain — at a given distance —
In Amber — lies —
Approached — the Amber flits — a little —
And That’s — the Skies —

(c. 1862)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§
 

19

Banir a Mim — de Mim —
Fosse eu Capaz —
Fortim inacessível
Ao Eu Audaz —

Mas se meu Eu — Me assalta —
Como ter paz
Salvo se a Consciência
Submissa jaz?

E se ambos somos Rei
Que outro Fim
Salvo abdicar-
Me de Mim?


19

Me from Myself — to banish —
Had I Art —
Impregnable my Fortress
Unto All Heart —

But since Myself — assault Me —
How have I peace
Except by subjugating
Consciousness?

And since We're mutual Monarch
How this be
Except by Abdication —
Me — of Me?
(c. 1862)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§
 

20

A Dor — tem Algo de Vazio —
Não sabe mais a Era
Em que veio — ou se havia
Um tempo em que não era —

Seu futuro é só Ela —
Seu Infinito faz supor
O seu Passado — que desvela
Novos Passos — de Dor.


20

Pain — has an Element of Blank —
It cannot recollect   
When it began — or if there were
A time when it was not —

It has no Future — but itself —
Its Infinite contain
Its Past — enlightened to perceive
New Periods — of Pain.
(c. 1862)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

21

Habito a Possibilidade —
Casa melhor que a Prosa —
De Janelas mais pródiga —
Superior — em Portas —

Cômodos como Cedros —
Impermeáveis ao Olho —
E por Eterno Teto
Os Dosséis do Céu —

De Visitantes — o mais justo —
Por Ofício — Isto —
Só as asas destas parcas Mãos
Para o meu Paraíso —


21

I dwell in Possibility —
A fairer House than Prose —
More numerous of Windows —
Superior — for Doors —

Of Chambers as the Cedars —
Impregnable of Eye —
And for an Everlasting Roof
The Gambrels of the Sky —

Of Visitors — the fairest —
For Occupation — This —
The spreading wide my narrow Hands
To gather Paradise —
(c. 1862)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

22

Como se o Mar rompesse
Mostrando um outro Mar ―
E fosse ― um outro ― nesse
Mar ainda pré-formar ―

Mares do Mar ― que invade
As Praias singulares
De outros futuros Mares ―
Nestes ― a Eternidade ―


22

As if the Sea should part
And show a further Sea ―
And that ― a further ― and the There 
But a presumption be ―

Of Periods of Seas ―
Unvisited of Shores ―
Themselves the Verge of Seas to be ―
Eternity ― is Those ―
(c. 1863)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

Dickinson, by Melville
23

Publicar — é o Leilão
Da nossa Mente —
Pobreza — uma razão
De algo tão deprimente

Mas Nós — antes, em Greve,
Da Mansarda ir, sem cor,
Branca — Ao Branco Criador —
Que investir — Nossa Neve —

A Ele nosso Pensamento
Pertence — a Ele Que encomenda
 Sua ilustração Corpórea — a Venda
Do Real Alento —

Mercar, sim — o que emana
Do Celeste Endereço —
Sem reduzir a Alma Humana
À Desgraça do Preço —


23

Publication — is the Auction
Of the Mind of Man —
Poverty — be justifying
For so foul a thing

Possibly — but We — would rather
From Our Garret go
White — Unto the White Creator —
Than invest — Our Snow —

Thought belong to Him who gave it —
Then — to Him Who bear
It's Corporeal illustration — Sell
The Royal Air —

In the Parcel — Be the Merchant
Of the Heavenly Grace —
But reduce no Human Spirit
To Disgrace of Price —
(c. 1863)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

24

Não podia beber se
Você antes não bebesse,
Por mais que a antecedesse
O Pensar da Sede.


24

I could not drink it, Sweet,
Till You had tasted first,
Though cooler than the Water was
The Thoughtfulness of Thirst.
(c. 1864)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§
 

25

Corta o Ar do Ar —
Divide a Luz, se puderes —
Eles se acharão
Cubos numa Gota
Ou Grãos num Vaso
Vão
Névoas não anulam
Odores volvem
Força a Flama
E com um Louro impulso
Ante a tua impotência
Voa a Chama.


25

Banish Air from Air —
Divide Light if you dare —
They'll meet
While Cubes in a Drop
Or Pellets of Shape
Fit
Films cannot annul
Odors return whole
Force Flame
And with a Blonde push
Over your impotence
Flits Steam.
(c. 1864)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§
 
26

Esses testaram o Horizonte —
E desapareceram
Pássaros antes de cumprir
A Latitude.

Nossa Retrospectiva Deles
Prazer pousado,
Nossa Antecipação
— Dúvida — Dado —


26


These tested Our Horizon —
Then disappeared
As Birds before achieving
A Latitude.

Our Retrospection of Them
A fixed Delight,
But our Anticipation
A Dice — a Doubt —
 
(c. 1864)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§
 

27

Mansão malsã de Quem?
Tabernáculo ou Tumba —
Domo de um Verme —
Grota de um Gnomo —
Ou Elfo em Catacumba?


27

Drab Habitation of Whom?
Tabernacle or Tomb —
Or Dome of Worm —
Or Porch of Gnome —
Or some Elf’s Catacomb?


(c. 1864)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

28

Me oculto em minha flor,
Que fana no teu Vaso,
Sem suspeitar, sentes por mim —
Quase tristeza acaso.


28

I hide myself within my flower,           
That, fading from your Vase,   
You, unsuspecting, feel for me —
Almost a loneliness.   

(c. 1864)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

29

A Dor — expande o Tempo —
Eras se enrolam dentro da
Circunferência
De um só Cérebro —

A Dor contrai — o Tempo —
Num mero Tiro
Milhões de Eternidades
Cabem num Suspiro —


29

Pain — expands the Time —
Ages coil within
The minute Circumference
Of a single Brain —

Pain contracts — the Time —
Occupied with Shot
Gamuts of Eternities
Are as they were not —

(c. 1864)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§
 

Emily Dickinson
30

A Morte é um Diálogo entre
 A Alma e o Pó.
 Diz a Morte “Some” — A Alma “Só
 Me cabe ser Crente” —

A Morte — sob a Terra — clama —
Vai-se a Alma
Deixando o seu — prova cabal —
Manto de Lama.


30

Death is a Dialogue between
The Spirit and the Dust.
"Dissolve" says Death —The Spirit "Sir
I have another Trust" —

Death doubts it — Argues from the Ground —
The Spirit turns away
Just laying off for evidence
An Overcoat of Clay.

(c. 1864)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

31

O Abrir e o Fechar
Do Ser é igual e
Desigual, se o for,
À Flor no Caule.

Que de mesma Semente
Vão, em igual Botão,
Paralelos, perfeitos
No que já não são.


31

The Opening and the Close
Of Being, are alike
Or differ, if they do,
As Bloom upon a Stalk.

That from an equal Seed
Unto an equal Bud
Go parallel, perfected
In that they have decayed.

(c. 1865)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

32

Morrer por ti era pouco.
Qualquer grego o fizera.
Viver é mais difícil —
É esta a minha oferta —

Morrer é nada, nem
Mais. Porém viver importa
Morte múltipla — sem
O Alívio de estar morta.


32

Too scanty ’twas to die for you,
The merest Greek could that.
The living, Sweet, is costlier —
I offer even that —

The Dying, is a trifle, past,
But living, this include
The dying multifold — without
The Respite to be dead.

(c. 1865)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

33

A Geometria é a maior Magia
Para a imaginação do mago —
Cujos prodígios, meros atos,
A humanidade prestigia.


33

Best Witchcraft is Geometry
To the magician’s mind —
His ordinary acts are feats
To thinking of mankind.

(c. 1870)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

34

A Voz que para mim é um Mar
É para outros chã —
A Face que nasce a Manhã
Fana sob outro Olhar —

Que diferença há em Substância
Se o que me é Soma
A outras Finanças só alcance a
Pobreza Extrema!


34

The Voice that stands for Floods to me
Is sterile borne to some —
The Face that makes the Morning mean
Glows impotent on them —

What difference in Substance lies
That what is Sum to me
By other Financiers be deemed
Exclusive Poverty!

(c. 1871)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§
 

35

Ruas sem som serviam
Circunscrições de Pausa —
Nem Sim — nem Não — se ouviram
Sem Universo — ou Causa —

Relógios davam Dia —
Noite — Sinos distantes —
Mas Eras não havia
E nem Depois nem Antes.


35

Great Streets of silence led away  
To Neighborhoods of Pause     —
Here was no Notice — no Dissent —
No Universe — no Laws —

By Clocks, ’twas Morning, and for Night         
The Bells at Distance called —
But Epoch had no basis here
For Period exhaled.  

(c. 1870)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

36

Se o meu Riacho é fluente
Há de secar —
Se o meu Riacho é silente
Ele é o Mar —

Que cresce. Em meu espanto
Tento escapar
Para um (dizem que existe) Canto
Onde “não há Mar” —


36

Because my Brook is fluent
I know ‘tis dry —
Because my Brook is silent
It is the Sea —

And startled at its rising
I try to flee
To where the Strong assure me
Is “no more Sea” —

(c. 1871)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§
 
37

A palavra morre
Quando ocorre,
Se dizia.
Eu digo que ela
Se revela
Nesse dia.


37

A word is dead   
When it is said,   
Some say.   
I say it just   
Begins to live           
That day.   

(c. 1872?)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§ 

38

O Enigma decifrado
Despreza-se com pressa —
A Surpresa de Ontem
Já não nos interessa —


38

The Riddle we can guess
We speedily despise —
Not anything is stale so long
As Yesterday's surprise —

(c. 1870)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

Emily Dickinson, by Leland Myrick
39

Tanto orgulho em morrer
Que nos humilha. Tanta
Indiferença em ter
Tudo o que nos encanta —
Tão feliz, ao revés,
De ir aonde ninguém quis —
Que a Angústia se desdiz
Em Inveja, a teus pés —


39

So proud she was to die   
It made us all ashamed   
That what we cherished, so unknown   
To her desire seemed —
So satisfied to go           
Where none of us should be
Immediately — that Anguish stooped   
Almost to Jealousy —

(c. 1873)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

40

Nesta Vida tão breve
De que nos dão só um gole
Quanto — quão pouco — está
Sob o nosso controle


40

In this short Life
that only lasts an hour
How much — how little —
is within our power
(c. 1873)
- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

41

Ontem é História,
Mas está tão longe —
Ontem é Poesia —
É Filosofia —

Ontem é mistério —
Mas onde está Hoje?
Mal especulamos
O tempo nos foge


41

Yesterday is History,
‘Tis so far away —
Yesterday is Poetry —
‘Tis Philosophy —

Yesterday is mystery —
Where it is Today
While we shrewdly speculate
Flutter both away

(c. 1873)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

42

O Cogumelo — à Noite —
É o Gnomo da Floresta — e
De Dia, Trufo-Travesti,
Estaca, um Toco.

Como se lentamente
Em toda a sua Saga
Mais lento que a Serpente
Mais breve que uma Praga —

Malabar vegetal —
Gente do Álibi — tal
Uma Bolha antecede
E, Bolha, se despede —

Como se visse a Grama
Interromper sua trama —
Um sub-reptício enxerto
Do verão circunspecto.

Se a Natureza a um Traidor
Quisesse descompor —
Se Apóstata tivesse —
O Cogumelo — é esse!


42

The Mushroom is the Elf of Plants —
At Evening, it is not —
At Morning, in a Truffled Hut
It stop upon a Spot

As if it tarried always
And yet it’s whole Career
Is shorter than a Snake’s Delay
And fleeter than a Tare —

’Tis Vegetation’s Juggler —
The Germ of Alibi —
Doth like a Bubble antedate
And like a Bubble, hie —

I feel as if the Grass was pleased
To have it intermit —
This surreptitious scion
Of Summer’s circumspect.

Had Nature any supple Face
Or could she one contemn —
Had Nature an Apostate —
That Mushroom — it is Him!

(c. 1874)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

43

Se o lábio hábil a sílaba
Soubesse sopesar,
Poderia, surpreso,
Ruir sob seu peso.


43

Could mortal lip divine
The undeveloped Freight
Of a delivered syllable
‘Twould crumble with the weight.

(c. 1877)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

44

Um Vão na Pedra Tumular
Faz do feroz Lugar
Um Lar —


44

A Dimple in the Tomb
Makes that ferocious Room
A Home —

(c. 1880)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.

§

 45

A Fama é uma abelha.
Tem um estribilho —
Um ferrão em brasa —
Ah! também tem asa.


45

Fame is a bee.
It has a song —
It has a sting —
Ah, too, it has a wing.

(?)

- Emily Dickinson - 'Não sou ninguém'. Poemas. [traduções Augusto de Campos]. Campinas: Unicamp, 2009.


****
TRADUÇÃO AÍLA DE OLIVEIRA

606
“Dizem, ‘com o tempo se esquece’,
Mas isto não é verdade,
Que a dor real endurece,
Como os músculos, com a idade.

O tempo é o teste da dor,
Mas não é o seu remédio –
Prove-o e, se provado for,
É que não houve moléstia.


606
They say that “Time assuages” –
Time never did assuage –
An actual suffering strengthens
As Sinews do, with age –

Time is a Test of Trouble –
But not a Remedy –
If such it prove, it prove too
There was no Malady – 

- Emily Dickinson, em "Emily Dickinson: Uma centena de poemas". [tradução, introdução e notas Aíla de Oliveira Gomes]. São Paulo:  T. A. Queiroz; EdUSP, 1984.

§

701
“Um pensamento me veio hoje à mente
Que já antes me ocorreu.
Não o concluí; foi tempo atrás; que ano
Não lembro corretamente;

Nem para onde foi, nem porque veio
A mim por segunda vez;
Nem, em definitivo, o que ele era
Tenho a arte de dizer.

Mas – em algum canto – em minha alma – eu sei
Que já encontrei Coisa assim –
Foi só um relembrar – foi tão somente –
E já não mais veio a mim.


701
A Thought went up my mind today –
That I have had before –
But did not finish – some way back –
I could not fix the Year –

Nor where it went – nor why it came
The second time to me –
Nor definitely, what it was –
Have I the Art to say –

But somewhere – in my Soul – I know –
I’ve met the thing before –
It just reminded me – ‘twas all –
And came my way no more –

- Emily Dickinson, em "Emily Dickinson: Uma centena de poemas". [tradução, introdução e notas Aíla de Oliveira Gomes]. São Paulo:  T. A. Queiroz; EdUSP, 1984.
 


Emily Dickinson

FORTUNA CRÍTICA DE EMILY DICKINSON
AGUIAR, Isabel Cristina Moreira de.. Por uma poética do limite: o conceito de epiclese na poesia de Emily Dickinson. (Dissertação Mestrado em Literatura). Universidade de Brasília, UNB, 1998.
AGUIAR, Isabel Cristina Moreira de.. Indagações à beira do caminho: uma proposta de leitura de Emily Dickinson. Revista da Academia Brasileira de Letras, Brasília, p. 190 - 198, 29 nov. 2001. 

ALMEIDA, Moíza Fernandes. Emily Dickinson e Cecília Meireles: entre o eterno e o efêmero, duas vozes femininas em dois diferentes séculos de poesia. (Dissertação Mestrado em Letras). Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, CESJF, 2006. 
ALMEIDA, Moíza Fernandes. A intertextualidade no Universo Feminino de Cecília Meireles e Emily Dickinson. Cadernos para o Professor (Juiz de Fora), v. Ano XI, p. 17-24, 2005. 
ALVES, Lourenço, FERNANDA Maria; SIMONI, Karine; REGINA, Silvia La .. Augusto de Campos tradutor de Emily Dickinson. Cadernos de Tradução (UFSC), v. 35, p. 161-188, 2015.
ANTUNES, Futin Buffara. Emily Dickinson. Constelacão Carijó Centro de Letras de Paranaguá, Curitiba, p. 11 - 306, 10 fev. 2004. 
ARAÚJO, Fidélia Cassandra Pereira de.; BARROS, Valécio Irineu . A Modernidade na Poética de Emily Dickinson. Letra Viva (UFPB), v. 1, p. 37-67, 2006.
ARIEL, Marcelo. Conversas com Emily Dickinson e outros poemas. São Paulo: Orpheu / Multifoco, 2010, 110p.
Emily Dickinson, (painting-collage), 
by Amelia Rosselli, 2012
BANDEIRA, Manuel. Poesia, Crônicas inéditas I. [org. Júlio Castañon Guimarães]. São Paulo: Cosac Naify, 2008 [1928], p. 323, 325.
BANDEIRA, Manuel. A poesia moderna norte-americana, crônicas inéditas II. [org. Júlio Castañon Guimarães]. São Paulo: Cosac Naify, 2009 [1938], p. 187-188, 443.

BANDEIRA, Manuel. Antologias - poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996 [1957]. p. 521-522.
BANDEIRA, Manuel. Noções de História das Literaturas. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1960; p. 529.
BARRENTO, João. "[Recensão crítica a '200 Poemas', de Emily Dickinson]" / João Barrento. In: Revista Colóquio/Letras. Recensões Críticas, n.º 190, Set. 2015, p. 200-203.
BARROS, Valécio Irineu. A Modernidade em Emily Dickinson. (Monografia Graduação em Letras). Universidade Federal da Paraíba, UFPB, 1993.BRITO, João Batista de.. Emily Dickinson. in ______. Poesia e Leitura: Os Percursos do Gozo. João Pessoa: Funesc, 1989, p. 97-108.
BRANCO, Lucia Castello. A branca dor da escrita: três tempos com Emily Dickinson (ensaios).. [tradução das cartas e poemas Fernanda Mourão]. Rio de Janeiro: 7 Letras; Belo Horizonte: UFMG, 2003.
BRITTO, Paulo Fernando Henriques. Dois poemas de Emily Dickinson. Revista Brasileira (Rio de Janeiro. 1941), v. VIII, p. 65-74, 2014. 
CAMPOS, Augusto de.. Emily: o difícil anonimato. in: O anticrítico. São Paulo: Companhia das Letras, 1986, p. 105-119.
CAMPOS, Paulo Mendes. Oito poemas - Emily Dickinson. in: Trinca de copas. Rio de Janeiro: Achiamé, 1984, p. 47-50. 
CESAR, Ana Cristina. Cinco e meio. crítica e tradução. São Paulo: Ática, 1999, p. 383-398.
CESARINY, Mário. Emily Dickinson. As Mãos na Água a Cabeça no Mar. Lisboa: A Phala, 1972 [1954], p. 30-32.
COSTA, Walter Carlos. Emily Dickinson segundo Jorge de Sena. in: Denise Scheyerl, Elizabeth Ramos, orgs. Vozes Olhares Silêncios (diálogos transdiciplinares entre a lingüística aplicada e a tradução). Salvador: EDUFBA, 2008, p. 237-245.
DANTAS, Marluce Oliveira Raposo. Emily Dickinson entre Influxos Americanos e Ingleses. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, 1979.
DANTAS, Marluce Oliveira Raposo. Emily Dickinson: uma retórica feminina própria?. Cadernos do Ctch da Unicap, Recife, v. 3, 1995.  
DANTAS, Marluce Oliveira Raposo. A Poesia Metafísica Inglesa e Emily Dickinson. Caderno de Letras da Ufrj, Rio de Janeiro, v. II - 3, p. 30-44, 1986.
DAGHLIAN, Carlos. A Obsessão Irônica na Poesia de Emily Dickinson. (Livre-docência). Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, 1987.
DAGHLIAN, Carlos. A ironia metafísica na poesia de Emily Dickinson. In: Thaïs Flores Nogueira Diniz; Lúcia Helena de Azevedo Vilela. (Org.). Itinerários: homenagem a Solange Ribeiro de Oliveira. 1ª ed., Belo Horizonte - MG: Faculdade de Letras da UFMG, 2009, v. , p. 105-127.  
DAGHLIAN, Carlos. A concepção irônica da natureza na poesia de Emily Dickinson. In: Denise Scheyerl; Elizabeth Ramos. (Org.). Vozes, olhares, silêncios: diálogos transdisciplinares entre a lingüística aplicada e a tradução. 1ª ed.,Salvador - BA: EDUFBA, 2008, v. , p. 221-236.  
DAGHLIAN, Carlos. Emily Dickinson: A realização de uma performance identitária pela ironização da sociedade. In: Luiz Paulo da Moita Lopes; Fabio Akcelrud Durão; Roberto Ferreira da Rocah. (Org.). Performances: Estudos de literatura em homenagem a Marlene Soares dos Santos. 1ª ed., Rio de Janeiro: Contra Capa, 2007, v. 1, p. 165-186. 
DAGHLIAN, Carlos. A Ironia como Poética na Poesia de Emily Dickinson. In: Onésimo T. Almeida; Alice R. Clemente. (Org.). George Monteiro: The Discreet Charm of a Portuguese-American Scholar. 1ª ed., Providence, RI: Gávea-Brown, 2005, v. , p. 59-74.  
DAGHLIAN, Carlos. Musicalidade na poesia de Emily Dickinson: Influência e repercussão. In: Carlos Daghlian. (Org.). Poesia e Música. 1ª ed., São Paulo: Perspectiva, 1985, v. 195, p. 163-184.  
DAGHLIAN, Carlos. Componentes irônicos na poesia de Emily Dickinson. Letra Viva (UFPB), v. Espec., p. 79-98, 2006.  
DAGHLIAN, Carlos. A Ironia como Poética na Poesia de Emily Dickinson. Gávea-Brown, v. -XXV, p. 59-74, 2004. 
 DAGHLIAN, Carlos. Re-Visions: New Voices, New Perspectives on Dickinson's Poetry - Rescuing Dickinson 'After great pain'. The Emily Dickinson Journal, Baltimore, MD - USA, v. 2, p. 158-165, 1997.  
DAGHLIAN, Carlos. Translating split the lark. The Emily Dickinson Journal, Baltimore, MD - EUA, v. 1-2, p. 118-119, 1997. 
 DAGHLIAN, Carlos. A reclusão de Emily Dickinson vista sob novo ângulo. Estudos Lingüísticos e Literários, Salvador - BA, v. 9, p. 137-143, 1989.  
DAGHLIAN, Carlos. Emily ao Modo de Emily. Estudos Lingísticos e Literários, UFBA- Salvador, n.9, p. 205-205, 1989.  
DAGHLIAN, Carlos. Addendum to Poems by Emily Dickinson in Portuguese: Bibliographical Notice by Carlos Daghlian & Rogerio E. Chociay. Dickinson Studies, Brentwood, Maryland, v. 71, n.2nd half, p. 39-41, 1989.  
DAGHLIAN, Carlos. Nota Bibliográfica: Poemas de Emily Dickinson em português. Estudos Anglo-Americanos, v. 2, p. 97-98, 1978. 
DAGHLIAN, Carlos. Emily Dickinson in the Brazilian Classroom. Emily Dickinson Bulletin, Brentwood, Maryland - EUA, v. 24, p. 227-230, 1973. 
DAGHLIAN, Carlos. Emily Dickinson and Fernando Pessoa: Two Poets for Posterity. Emily Dickinson Bulletin, Brentwood, Maryland - EUA, p. 66-73, 1971.
DAGHLIAN, Carlos. A auto-ironia na poesia de Emily Dickinson. Fragmentos, número 34, p. 35-48, Florianópolis/ jan - jun/ 2008. Disponível no link. (acessado em 13.2.2016). 
DIAS, Raquel Érica Luis. Minha carta ao mundo: Emily Dickinson e os anseios de autoria. (Dissertação Mestrado em Teoria Literaria e Critica da Cultura). Universidade Federal de São João Del-Rei, UFSJ, 2014.
EMILY Dickinson: uma poética de transgressão. in: ler.letras.up.pt. Disponível no link. (acessado em 13.2.2016).
FALEIROS, Álvaro. Traduzir o poema. São Paulo: Ateliê Editorial, 2012.
FARIA, Marcus Vinicius de.. Emily Dickinson: Vida Toda Linguagem. in: O Cometa Itabirano, n. 49, 1976.
FAUSTINO, Mário. Fontes e correntes da poesia contemporânea: 5. Emily Dickinson, in: Poesia-experiência. Benedito NUNES (org.). São Paulo: Perspectiva, 1977, pp. 85-90. 
FERNANDES, Moíza de Castro. Emily Dickinson e Cecília Meireles: entre o eterno e o efêmero, duas vozes femininas em dois diferentes séculos de poesia. (Dissertação Mestrado em Letras). Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, 2006. 
FREITAS, Marinela. Emily Dickinson e Luiza Neto Jorge: quantas faces?. São Paulo: Edições Afrontamento, 2014 - 456p.
GONÇALVES, Emony Bartalini Felisardo. Aspectos da construção poética na poesia de Emily Dickinson: imagem. (Monografia Graduação em Letras). Unifafibe, Bebedouro SP, 2014. Disponível no link. (acessado em 13.2.2016).
GUOLLO, Fernanda Maccari; CABRAL, Gladr da Silva. A visão de Emily Dickinson sobre a morte: muito além do sentimentalismo. Revista de Iniciação Científica (Criciúma), v. Vol. 6, p. 1-10, 2008. 
GUSMÃO, Ana Nobre de.. A prisioneira de Emily Dickinson. Porto: Edições Asa, 2008, 319p.
Emily Dickinson, by Zombie Rust
HALL, Alcina Brasileiro. The soul selects her own society- A poesia de Emily Dickinson: uma questão de escolha. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal do Paraná, UFPR, 2001.
HALL, Alcina Brasileiro. Emily Dickinson: A Irmã de Shakespeare. Fragmentos (UFSC), v. 34, p. 49-62, 2008.
HALL, Alcina Brasileiro. Dossiê Especial: Reflexões Shakesperianas - Emily Dickinson: A Irmã de Shakespeare. Eletras (UTP), v. 18, p. 1, 2009.

HAZIN, Marli Vila Nova de Moraes. Emily Dickinson: Vida Reclusa, Obra Aberta. Letra Viva (UFPB), v. Ed Esp, p. 133-140, 2006. 
HOMOLITERATUS. A elouquência é o coração ficar sem voz: o silêncio de Emily Dickinson. in: Homolitaratus, 14 de agosto de 2014. Disponível no link. (acessado em 13.2.2016).
JOHNSON, Thomas H.. Mistério e solidão: a vida e a obra de Emily Dickinson. [tradução Vera Neves Pedroso]. Coleção Mimesis. Rio de Janeiro: Lidador, 1965.
LEITE, Carmem Silvia Martins. A obra de Emily Dickinson é avançada para sua época. Mulier, jrmulier, p. 1 - 8, 1 dez. 2009.
LIED, Justina Inês Faccini. Emily Dickinson in her private bubble:poems, letters and the condition of presence. (Tese Doutorado em Letras). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, 2008. 
LIED, Justina Inês Faccini. Emily Dickinson's poetry. Signos (Lajeado), Lajeado - RS, v. 25, n.2, p. 53-59, 2004. 
LIED, Justina Inês Faccini. O tema natureza na poesia de Emily Dickinson. In: XI Semana de Letras, 2004, Porto Alegre - RS, 2004. p. 55-55. 
LOBO FILHO, Blanca. A poesia de Emily Dickinson e de Henriqueta Lisboa. [tradução de Oscar Mendes]..  Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1973, 100p.
LOURENÇO, Fernanda Maria Alves. Tradução de poesia: Emily Dickinson segundo a perspectiva tradutória de Augusto de Campos. (Dissertação Mestrado em Estudos da Tradução). Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, 2014.
LPM. As perguntas sobre Emily Dickinson não querem calar. in: Blog L&PM Editores, 10 dezembro 2015. Disponível no link. (acessado em 13.2.2016).
MARQUES, Oswaldino. Renascença da Poesia Americana. Ensaios escolhidos (Teoria e Crítica Literárias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968, p. 239-241, 248, 258, 264.
MARTINS, Maria Lúcia Milléo. Intimate Immensity in Emily Dickinson. Fragmentos (Florianópolis), v. 34, p. 91-98, 2008.
MENDONÇA, Jeová Rocha de; AZERÊDO, Genilda (org.). A palavra viva de Emily Dickinson. 1ª ed., João Pessoa - Paraíba: Idéia, 2006. v. 300. 198p.
MONTANHINI, Nadia. Emily e eu - a arte poética de Emily Dickinson. LivroPronto, 2011, 120p.
MONTEIRO
, Valeria Jaco. A dicção em Hilda Hilst e Emily Dickinson. (Monografia Graduação em Letras). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP, 1989.

MORAES, Thiago Ponce de.. Poemas de Emily Dickinson. (tradução/ outra). São Paulo: Revista Zunái, 2008.  
NEPOMUCENO, Luís André. Quando a palavra é incomunicável: a poesia de Emily Dickinson. Cerrados (UnB. Impresso), v. 20, p. 231-255, 2011.
NEPOMUCENO, Luís André. Identidades imaginadas: uma autobiografia romântica nas cartas de Emily Dickinson. Remate de Males. Campinas-SP, (31.1-2): pp. 159-177, Jan./Dez. 2011. Disponível no link. (acessado em 13.2.2016).
NEVES, Maria de Fátima de Barros. A Representação da Natureza  na poesia de Emily Dickinson e Cecília Meireles e uma proposta de leitura na Internet. (Tese Doutorado em Literatura Brasileira). Universidade Federal da Paraíba, UFPB, 2006. Disponível no link. (acessado em 13.2.2016).
NUNES, Cassiano. Emily Dickinson, Norte-Americanos. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1970 [1954], p. 43-47.
NUTO, João Vianney Cavalcanti. Aspects of the Structure of Modern Lyricism in Emily Dickinson. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal da Paraíba, UFPB, 1994. 
NUTO, João Vianney Cavalcanti. A Lírica Dissonante de Emily Dickinson. Letra Viva (UFPB), v. 10, p. 167-191, 2006. 
NUTO, João Vianney Cavalcanti. Emily Dickinson e a crítica: problemas de leitura. In: Anais do I Encontro de Pós-Graduandos da UFPB. João Pessoa: CCHLA, 1993. v. 1. p. 164-165. 
OLIVEIRA, Luciana Aguiar de.. Riding with Literature: The Railroad enterprise in the writings of Thoreau, Walt Whitman and Emily Dickinson. (Monografia Graduação em Letras). Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, 2005.
PAGLIA, Camille. Personas sexuais arte e decadencia de nefertite a Emily Dickinson. [tradução de Marcos Santarrita]. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, 655p.
RAMOS, Patricia de Lara. Imagens Poéticas e Representações da morte na lírica de Emily Dickinson e Helena Kolody: convergências e contrastes. (Dissertação Mestrado em Letras -Linguagem e Sociedade). Universidade Estadual do Oeste do Paraná, UNIOESTE, 2014.
RAMOS, Patricia de Lara; AISSA, José Carlos. As representações da morte: elos e diferenças entre it was not death, for i stood up, de Emily Dickinson, e a catedral, de Alphonsus de Guimaraens. Scripta Alumni, v. 8, p. 22-32, 2012.
ROMANELLI, Sergio. De poeta a poeta: a unica traducao possivel? O caso Dickinson / Virgillito. Uma analise descritiva. (Dissertação Mestrado em Letras e Lingüística). Universidade Federal da Bahia, UFBA, 2003.
ROMANELLI, Sergio. Un percorso di scintille: R.S. Virgillito da R. M. Rilke a E. Dickinson. In: Silvia la Regina e Anne Macedo. (Org.). Percorsi italo-brasiliani. Dieci anni di convenzione UdA - UFBA. 1ª ed., Ariccia (Roma): Aracne, 2011, v. 1, p. 317-329.
ROMANELLI, Sergio. Da poeta a poeta. Note a margine di una traduzione. Rina Sara Virgillito traduce Emily Dickinson. Mosaico Italiano, Rio de Janeiro, p. 6 - 7, 1 out. 2003. 

SANTOS, Wilson Taveira de Los.. A adversidade como elemento catalisador dos processos criativos Emily Dickinson: a produção da obra literária. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, 2000.
Emily Dickinson, 
by Bookmark
SILVA JR., Maurício Cléto. Considerações sobre as imagens da morte em Emily Dickinson. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade de São Paulo, USP, 2004.
SILVA JR., Maurício Cléto. A divindade e o crepúsculo: a postura crítica de Emily Dickinson. in: Tomitch, Lêda M.B.; Abrahão, M. Helena V.; Daghlian, Carlos; Ristoff, Divo I.. (Org.). Literaturas de Língua Inglesa: Visões e Revisões. Florianópolis: Editora Insular Ltda., 2005, v., p. 99-106. 
SILVA, Fernanda Angelica Parreiras Mourão. 117 e outros poemas: à procura da palavra de Emily Dickinson. (Tese Doutorado Estudos Literários). Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, 2008. Disponível no link. (acessado em 13.2.2016).
SILVA, Maria das Graças Gomes Villa da.. A esperança em Clarice Lispector e em Emily Dickinson: o encontro com a alteridade. in: Estudos Anglo-Americanos (ABRAPUI), n. 25-26, 2001-2002, pp. 87-98.
TAVARES, Daniella Amaral. Emily Dickinson: três momentos em dois poemas. Todas as Musas: Revista de Literatura e das Múltiplas Linguagens da Arte (Online), v. 1, p. 184-197, 2014.
VASCONCELOS, José Odilon Barboza de Lira de (José Lira).. Biografemas da estrangeirização na poesia de Emily Dickinson. (Dissertação Mestrado em Teoria da Literatura). Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, 2004. Disponível no link. (acessado em 13.2.2016). 
VASCONCELOS, José Odilon Barboza de Lira de (José Lira).. Emily Dickinson e a poética da estrangeirização. Recife: PPGL/UFPE, 2006.
VASCONCELOS, José Odilon Barboza de Lira de (José Lira).. Poetry in the classroom (with reference to Emily Dickinson’s poems). Recife: Livro Rápido, 2004.
WANDERLEY, Márcia Cavendish. Emily Dickinson: ‘Morri pela beleza’. in: Do jeito delas: vozes femininas de língua inglesa [tradução de Jorge Wanderely; organização e ensaios Márcia Cavendish Wanderley, Carlos Eduardo Fialho, Suely Cavendish]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008, p. 86-90. 
WIECHMANN, Natalia Helena. A questão da autoria feminina na poesia de Emily Dickinson. (Dissertação Mestrado em Estudos Literários). Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", UNESP, 2012. Disponível no link. (acessado em 13.2.2016).
WIECHMANN, Natalia Helena. A questão da autoria feminina na poesia de Emily Dickinson. 1ª ed., Jundiaí: Paco Editorial, 2015. v. 1. 
WIECHMANN, Natalia Helena. A poesia-experiência de Emily Dickinson. RevLet: Revista Virtual de Letras, v. 7, p. 283-293, 2015.  Disponível no link. (acessado em 13.2.2016).
WIECHMANN, Natalia Helena. A poesia de Emily Dickinson e de William Carlos Williams: alguns pontos de comparação. Revista Hispeci & Lema (Online), v. V, p. 128-142, 2014. WIECHMANN, Natalia Helena. A fortuna crítica de Emily Dickinson. Revista Criação & Crítica, v. 1, p. 47-62, 2013.  
WIECHMANN, Natalia Helena. A poesia de Emily Dickinson: relações entre a recorrência da imagem do aprisionamento e questões da autoria feminina. Revista do SELL, v. 3, p. 564-588, 2011.  
WIECHMANN, Natalia Helena. The Soul Selects her own Society: isolamento e reclusão na poesia de Emily Dickinson. REEL. Revista Eletrônica de Estudos Literários, v. 1, p. 1-21, 2011. 
 WIECHMANN, Natalia Helena. Walt Whitman, Emily Dickinson e a Guerra Civil Americana. Carandá, v. 1, p. 135-153, 2011.  
WIECHMANN, Natalia Helena. Relações entre poesia e imagem em "I died for Beauty", de Emily Dickinson. Revista Digital Leitura Crítica (IMES), v. 1, p. 1-14, 2010. 


Emily Dickinson, (collage), by John Morse
DICKINSON ELECTRONIC ARCHIVES
Os manuscritos de Emily Dickinson está em dois locais: nos arquivos de coleções especiais do Amherst College e na Biblioteca Houghton da Universidade de Harvard.
:: Acesse AQUI!


EMILY DICKINSON MUSEUM
A casa onde Emily Dickinson viveu, “The Homestead”, é um museu aberto à visitação. 

:: Acesse site AQUI!


A uma luz evanescente
Vemos mais agudamente
Que à da candeia que fica.
Algo há na fuga silente
Que aclara a vista da gente
E aos raios afia.


By a departing light
We see acuter, quite,
Than by a wick that stays.
There's something in the flight
That clarifies the sight
And decks the rays.
- Emily Dickinson - "80 Poemas de Emily Dickinson". [tradução Jorge de Sena]. Lisboa: Edições 70, 1978.



Emily Dickenson, by GJ Southwell
OUTRAS REFERÊNCIAS E FONTES DE PESQUISA 
POEMAS TRADUZIDOS/BILÍNGUE 
:: Alguma Poesia - Carlos Machado
:: Ler Jorge de Sena(10 poemas de Emily Dickinson traduzidos por Jorge de Sena)
ESTUDOS E PUBLICAÇÕES NO BRASIL
:: Emily Dickinson no Brasil. Referências e estudo/ arquivo organizado pelo professor Carlos Daghlian/UNESP.
POEMAS APENAS TRADUÇÃO EM PORTUGUÊS
:: A Voz da Poesia
:: Citador
EM INGLÊS
:: Projeto Gutenberg - Emily Dickinson
:: Wikisource - Emily Dickinson  

© Obra de Emily Dickinson é de domínio público

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske em colaboração com José Alexandre da Silva

=== === ===

Trabalhos sobre o autor:
Caso, você tenha algum trabalho não citado e queira que ele seja incluído - exemplo: livro, tese, dissertação, ensaio, artigo - envie os dados para o nosso "e-mail de contato", para que possamos incluir as referências do seu trabalho nesta pagina.

Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten; SILVA, José Alexandre da.. (pesquisa, seleção e organização). Emily Dickinson - liberdade e transgressão. Templo Cultural Delfos, fevereiro/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
** Página atualizada em 26.6.2016.


Licença de uso: O conteúdo deste site, vedado ao seu uso comercial, poderá ser reproduzido desde que citada a fonte, excetuando os casos especificados em contrário. 
Direitos Reservados © 2016 Templo Cultural Delfos

August Stramm - poeta expressionista alemão

August Stramm
August Stramm (1874-1915), poeta alemão. Formado em Filosofia na universidade de Halle, trabalhou como inspetor dos correios em Bremen. Convocado para lutar na I Guerra Mundial, faleceu em combate na frente russa. O poeta, que integrou o grupo da revista literária Der Sturm, foi um dos autores mais talentosos e inventivos do expressionismo alemão, abandonando a métrica e fraturando a sintaxe de forma radical. Além da poesia, escreveu também para o teatro. No Brasil, foi traduzido por Augusto e Haroldo de Campos (este último publicou um ensaio sobre o poeta, acompanhado de traduções, no livro O Arco-Íris Branco).
:: Fonte: Revista Zunaí. (acessado em 12.2.2016).


"August Stramm nos legou um conjunto de poemas que apesar de pouco extenso impressiona vivamente pela obsessão temática, pela audácia textural e pela radicalidade do discurso. Em sua verticalização aguda e agressiva, seus hirtos construtos líricos nos aguardam: estalactites de sangue no fundo escuro da insondável caverna do mistério humano – brilham se iluminados e de tão densos e sucintos parecem cortar como faca em nossa emoção e sensibilidade."
- Augusto de Campos, in:
August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.
 



OBRAS PUBLICADAS NO BRASIL
Poesia
:: Os estenogramas líricos, de August Stramm. [tradução e ensaio Haroldo de Campos]. in: CAMPOS, Haroldo de.. O arco-íris branco. Rio de Janeiro: Imago 1997, p.109-127. 
:: August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

Antologia (participação)
CAVALCANTI, Claudia (org. e trad.). Poesia expressionista alemã. São Paulo: Estação Liberdade, 2000. 

August Stramm

POEMAS (BILÍNGUE) ESCOLHIDOS DE AUGUST STRAMM  

a caminho da igreja
Montanhas soam
Teu andar vibra sóis
As mãos fulgem
Luzes
Estrelas
A torre da igreja dominga
Murmura
Onde está você


kirchgang
Die Berge läuten
Dein Gang wippt Sonnen
Die Hände funkeln
Lichten
Sternen
Der Kirchturm sonntagt
Raunt
Wo bist Du.
- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.


§
 Do livro DU – Você

Encontro
O portão agarra com fitas listras
Meu bastão bate
Retine
No escanchado marco de pedra.
O riso
Aterroriza
No escuro
Ilusexcitante
Em
Tremor cálido
Tropeça
Brusco
O pensamento.
Um beijo negro
Furta arisco porta afora
O lampião
Bruxu
Luz
Atrás
Dele
No beco.


Verabredung
Der Torweg fängt mit streifen Bändern ein
Mein Stock schilt
Klirr
Den frechgespreizten Prellstein.
Das Kichern
Schrickt
Durch Dunkel
Trügeneckend
In
Warmes Beben
Stolpern
Hastig
Die Gedanken.
Ein schwarzer Kuß
Stiehlt scheu zum Tor hinaus
Flirr
Der Laternenschein
Hellt
Nach
Ihm
In die Gasse.

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Infiel
Teu riso chora em meu peito
Os lábios irabrasados ferrolham
No hálito farejam murchifolhas!
Teu olhar traicida-se
E
Precipita palavras vociferantes!
Esquecer
Esmigalhar nas mãos!
Livre
Corteja a fímbria do teu vestido
Coleante
Do alto!


Untreu
Dein Lächeln weint in meiner Brust
Die glutverbissnen Lippen eisen
Im Atem wittert Laubwelk!
Dein Blick versargt
Und
Hastet polternd Worte drauf.
Vergessen
Bröckeln nach die Hände!
Frei
Buhlt dein Kleidsaum
Schlenkrig
Drüber rüber!

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Passar
A casa faísca nas estrelas
Meu passo para e esfria.
Em teu seio meu cérebro dorme.
Dúvidas me devoram!
Pleno
Sombra teu busto na janela
A espreita me cala
Estrelas roçam ferro em brasa
Meu coração
Carboniza!
Em tua janela
Gela
Cinza de brisa
Os pés arrastam um peso vazio!


Vorübergehn
Das Haus flackt in den Sternen
Mein Schritt verhält und friert.
In deinem Schoße schläft mein Hirn.
Mich fressen Zweifel!
Voll
Schattet deine Büste in dem Fenster
Das Spähen hüllt mich lautlos
Die Sterne streifeln glühes Eisen
Mein Herz
Zerkohlt!
An deinem Fenster
Eist
Ein Windhauch Asche.
Die Füße tragen weiter leere Last!

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Sonho
Pelos arbustos estrelas se enroscam
Olhos submergem fumam afundam
Murmuram balbúcios
Flores fendem
Olores instilam
Borrascas inundam
Ventos vagam tragam apagam
Lenços se rasgam
Cair assusta na noite funda.


Traum

Durch die Büsche winden Sterne
Augen tauchen blaken sinken
Flüstern plätschert
Blüten gehren
Düfte spritzen
Schauer stürzen
Winde schnellen prellen schwellen
Tücher reißen
Fallen schrickt in tiefe Nacht.

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Desesperado
No alto ressoa um seixo agudo
A noite verte vidro
O tempo estaca
Eu
Cascalho
Tu
Te
Vidras!


Verzweifelt
Droben schmettert ein greller Stein
Nacht grant Glas
Die Zeiten stehn
Ich
Steine.
Weit
Glast
Du!

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Melancolia
Trilhar testar
Viver tenta
Estuante estar
Olhares buscam
Expirar cresce
O porvir
Grita!
E
Mude
Ser.


Schwermut

Schreiten Streben
Leben sehnt
Schauern Stehen
Blicke suchen
Sterben wächst
Das Kommen
Schreit!
Tief
Stummen
Wir.

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Intimidade
O ouvir fala 
Brasas fremem
Esgares esguelham
Sangue suspira
Teu joelho dobra
Os rios ferventes
Lavam
Lava
No mar
E
Nossas almas
Mur
Muram
Em
Si.


Heimlichkeit
Das Horchen spricht
Gluten klammen
Schauer schielen
Blut seufzt auf
Dein Knie lehnt still
Die heißen Ströme
Brausen
Heiß
Zu Meere
Und
Unsere Seelen
Rauschen
Ein
In
Sich.

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Desejo
Mãos esticam
Rigidez treme
Terra cresce da terra
Teu perto longeia
O passo afunda
O estar persegue o ido
Um olhar
Tem
É!
Vanilusão
Eueja!


Sehnen
Die Hände strecken
Starre bebt
Erde wächst an Erde
Dein Nahen fernt
Der Schritt ertrinkt
Das Stehen jagt vorüber
Ein Blick
Hat
Ist!
Wahnnichtig
Icht!

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Reencontro
Teu passo treme
O olho morre no olhar
O vento
Agita
Pálidos panos.
Tu
Te re
Tornas!
O tempo corteja o espaço!


Wiedersehen

Dein Schreiten bebt
In Schauen stirbt der Blick
Der Wind
Spielt
Blasse Bänder.
Du
Wendest
Fort!
Den Raum umwirbt die Zeit!

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Crepúsculo
O claro acorda o escuro
O escuro aborta a luz
O espaço rompe os espaços
Farrapos afogam-se na solidão!
A alma dança
E
Oscila e oscila
E
Estremece no espaço
Você!
Meus membros buscam-se
Meus membros roçam-se
Meus membros
Oscilam afundam afundam afogam-se
Na
Imensidão
Você!

O claro aborta o escuro
O escuro devora a luz!
O espaço se afoga na solidão
A alma
Ferve
Ferrolha-se
Para!
Meus membros
Giram
Na
Imensidão
Você!

O claro é luz!
A solidão sorve!
A imensidão escorre
Rasga
Me
Em
Você!
Você!


Dämmerung
Hell weckt Dunkel
Dunkel wehrt Schein
Der Raum zersprengt die Räume
Fetzen ertrinken in Einsamkeit!
Die Seele tanzt
Und
Schwingt und schwingt
Und
Bebt im Raum
Du!
Meine Glieder suchen sich
Meine Glieder kosen sich
Meine Glieder
Schwingen sinken sinken ertrinken
In
Unermeßlichkeit
Du!

Hell wehrt Dunkel
Dunkel frißt Schein!
Der Raum ertrinkt in Einsamkeit
Die Seele
Strudelt
Sträubet
Halt!
Meine Glieder
Wirbeln
In
Unermeßlichkeit
Du!

Hell ist Schein!
Einsamkeit schlürft!
Unermeßlichkeit strömt
Zerreißt
Mich
In
Du!
Du!

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Compromisso
Teu andar sorri pra mim
E
Toma meu coração.
O aceno prende e afia.
Na sombra do teu vestido
Alça-se
Oscilante
Ameaçador
Murmura!
Ondeias e ondeias.
Meu punho agarra às cegas.
O Sol sorri!
E
Coxeia débeis medos!
Perdido perdido!


Begegnung
Dein Gehen lächelt in mich über
Und
Reißt das Herz.
Das Nicken hakt und spannt.
Im Schatten deines Rocks
Verhaspelt
Schlingern
Schleudert
Klatscht!
Du wiegst und wiegst.
Mein Greifen haschet blind.
Die Sonne lacht!
Und
Blödes Zagen lahmet fort
Beraubt beraubt!

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Maldição
Vedas e vetas!
Incêndios uivam
Chamas
Queimam!
Nem eu
Nem tu
Nem ti!
A mim!
Mim!


Fluch
Du sträubst und wehrst!
Die Brände heulen
Flammen
Sengen!
Nicht Ich
Nicht Du
Nicht Dich!
Mich!
Mich!

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Passeio noturno
Na noite declinante
Cala-se o nosso passo
Mãos palor temem um tremor convulso
Luz ceifa sombras em nossa cabeça
Nas sombras
Nós!
Alta reluz a estrela
O álamo pende acima
E
Ergue a terra consigo
A terra em sono abraça o céu desnudo.
Tremes e tramas
Teus lábios molham
O céu beija
E
Nos nasce o beijo!


Abendgang
Durch schmiege Nacht
Schweigt unser Schritt dahin
Die Hände bangen blaß um krampfes Grauen
Der Schein sticht scharf in Schatten unser Haupt
In Schatten
Uns!
Hoch flimmt der Stern
Die Pappel hängt herauf
Und
Hebt die Erde nach
Die schlafe Erde armt den nackten Himmel.
Du schaust und schauerst
Deine Lippen dünsten
Der Himmel küßt
Und
Uns gebärt der Kuß!

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

 Do livro TROPFBLUT – Gotas de Sangue

August Stramm
Alvorada
A noite
Geme
Às seivas sonolentas
Beijos.
O ferro ringe opaco.
O ódio se estira
E
Arrasta o sonho entre os sulcos.
Rir pesa
O bosque lanceia as sombras.
No olho choram
Estrelas
E se afogam.


Wecken
Die Nacht
Seufzt
Um die schlafen Schläfen
Küsse.
Eisen klirrt zerfahlen.
Haßt reckt hoch
Und
Schlurrt den Traum durch Furchen.
Wiehern stampft
Schatten lanzt der Wald.
Ins Auge tränen
Sterne
Und
Ertrinken.

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Campo de batalha
Torrões moles afrouxam o ferro
Sangues filtram flocos de limo
Crostas migalham
Carnes lamam
Amamentar estua nos destroços
Entrematanças
Chispam
Olhos de crianças.


Schlachtfeld

Schollenmürbe schläfert ein das Eisen
Blute filzen Sickerflecke
Roste krumen
Fleische schleimen
Saugen brünstet um Zerfallen.
Mordesmorde
Blinzen
Kinderblicke.

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Ferida
A terra sangra sob o capacete
Estrelas caem
O universo tacteia.
Calafrios rangem
Rede
Moínham solidões.
Névoa
Chora
Longe
Teu olhar.


Wunde
Die Erde blutet unterm Helmkopf
Sterne fallen
Der Weltraum tastet.
Schauder brausen
Wirbeln
Einsamkeiten.
Nebel
Weinen
Ferne
Deinen Blick.

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Assalto
De todos os ângulos terrores uivam quere
Ácida
Açoita
A vida
Ante
Si
Aqui
A morte arfante
Os céus farrapam
O horror ceifa selvagante os cegos.


Sturmangriff
Aus allen Winkeln gellen Fürchte Wollen
Kreisch
Peitscht
Das Leben
Vor
Sich
Her
Den keuchen Tod
Die Himmel fetzen.
Blinde schlächtert wildum das Entsetzen.

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Ocaso
O ócio tece
O torpor anoitece
O orar pesa
O sol chaga
Afaga
Você.


Abend
Müde webt
Stumpfen dämmert
Beten lastet
Sonne wundet
Schmeichelt
Du.

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Caído
O céu vela o olho
A terra unha a mão
O ar zumbe
Chora
E
Entrelaça
Lagrimulheres
Dentre
Madeixas


Gefallen
Der Himmel flaumt das Auge
Die Erde krallt die Hand
Die Lüfte sumsen
Weinen
Und
Schnüren
Frauenklage
Durch
Das strähne Haar.

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Guarda
A noite embala as pálpebras
O sono pisca e chispa
O inimigo farisca
O cachimbo
Faísca
E Todos os espaços
Tremem
Miúdos
Mudos.


Wacht
Die Nacht wiegt auf den Lidern
Müdigkeit falckt und neckt
Der Feind verschmiegt
Die Pfeife schmugt
Verloren
Und
Alle Räume
Frösteln
Schrumpfig
Klein.

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Guerra
A dor draga
A espera encara o horror
Parturir estremece
Gestar estira os membros
A hora sangra
A pergunta ergue o olho
O tempo pare
Cansaço
Pro
Cria
A morte.


Krieg
Wehe wühlt
Harren starrt entsetzt
Kreißen schüttert
Bären spannt die Glieder
Die Stunde blutet
Frage hebt das Auge
Die Zeit gebärt
Erschöpfung
Jüngt
Der
Tod.

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Projétil
O céu lança núvens
E estala em fumaça.
Faíscas riscam.
Pés roçam pós.
Olhos casquinam no caos
E
Desesguelham.


Schrapnell
Der Himmel wirft Wolken
Und knattert zu Rauch.
Spitzen blitzen.
Füße wippen stiebig Kiesel.
Augen kichern in die Wirre
Und
Zergehren.

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Patrulha
Pedras pontam
Janela ri traição
Galhos esganam
Montes moitas desfolham sussurros
Guincham
Morte


Patrouille

Die Steine feinden
Fenster grinst Verrat
Aeste würgen
Berge Sträucher blättern raschlig
Gellen
Tod.

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Temor
Os céus pendem
Sombras sequestram nuvens
Medos
Saltam
Estreitam
Estiram
Cavam
Rôta
Bôta
Resiste
A
Cunha
Cova.


Zagen
Die Himmel hangen
Schatten haschen Wolken
Aengste
Hüpfen
Ducken
Recken
Schaufeln
Müde
Stumpft
Versträubt
Die
Gehre
Gruft.

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§
 

Túmulo de guerra
Estacas imploram braços em cruz
A escrita teme o pálido imprevisto
Flores desafiam
Pós se encolhem
Lágrima
Treme
Espelha
Esquecer.


Krieggrab
Stäbe flehen kreuze Arme
Schrift zagt blasses Unbekannt
Blumen frechen
Staube schüchtern.
Flimmer
Tränet
Glast
Vergessen.

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Zona de combate
Assombrolhos esquadrinham campos rotos
Acima abaixo
Abaixo acima
O sol
Explode
O sol pedra
E
Desexplode.


Kampfflur
Glotzenschrecke Augen brocken wühles Feld
Auf und nieder
Nieder auf
Brandet
Sonne
Steinet Sonne
Und
Verbrandet.

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§


Sentinela
A cruz da torre assusta uma estrela
O cavalo arfa fumaça
O ferro ringe sonolento
Névoas afogam
Chuvas
Congelam calafrios
Afagam
Sussurram
Você!


Wache
Das Turmkreuz schrickt ein Stern
Der Gaul schnappt Rauch
Eisen klirrt verschlafen
Nebel Streichen
Schauer
Starren Frösteln
Frösteln
Streicheln
Raunen
Du!

- August Stramm - Poemas-estalactites. [tradução Augusto de Campos]. Coleção Signus 44. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009.

§

Os estenogramas líricos

Sinal
O tambor compassa
o clarim cresce
e
a morte encosta-se
a cabeça com a morte que tatala
se eriça
ir ir
resistir
vai
e vai e vai
e vai e vai
e vai e vai e vai e vai
vai
compassa
vai



Signal
Die Trommel stapft
das Horn wächst auf
und
Sterben stemmt
das Haupt durch flattre Sterben
sträubt
Gehen Gehen
Sträuben
geht
und geht und geht
und geht und geht
und geht und geht und geht und geht
geht
stapft
geht.
- August Stramm, "Os estenogramas líricos de August Stramm". [tradução Haroldo de Campos
]. in: CAMPOS, Haroldo de.. O arco-íris branco. Rio de Janeiro: Imago, 1997.

§

Luar
Lívidos langues
Lábeis flexíveis
Gatos odoram
Flores fremem
Águas lambem
Ventos soluçam
A luz desnuda seios agudos
O tacto geme em minha mão.


Mondschein
Bleich und müde
Schmieg und weich
Kater duften
Blüten graunen
Wasser schlecken
Winde schluchzen
Schein entblößt die zitzen Brüste
Fühlen stöhnt in meine Hand.

- August Stramm, "Os estenogramas líricos de August Stramm" [tradução Haroldo de Campos. ]. in: CAMPOS, Haroldo de.. O arco-íris branco. Rio de Janeiro: Imago, 1997.

§

Inconstância
Meu buscar busca!
Mil vezes me transformo
Me apalpo
E tateio-te
E te apanho!
Anseio-me!
E a ti, a ti, tu
Mil vezes tu
E sempre tu
Multívia tu
Nosfusão
Confusão
Circunfusa
Cada vez mais difusa
Através da
Ambifusão
Tu
Te
Me!


Wankelmut
Mein Suchen sucht!
Viel tausend wandeln Ich!
Ich taste Ich
Und fasse Du
Und halte Dich!
Versehne Ich!
Und Du und Du und Du
Viel tausend Du
Und immer Du
Allwege Du
Wirr
Wirren
Wirrer
Immer wirrer
Durch
Die Wirrnis
Du
Dich
Ich!

- August Stramm, "Os estenogramas líricos de August Stramm" [tradução Haroldo de Campos]. in: CAMPOS, Haroldo de.. O arco-íris branco. Rio de Janeiro: Imago, 1997.

§

Recordação
mundos emudecem para fora de mim
mundos mundos
negror e palor e cor!
luz na luz!
arder flamejar chamejar
agitar flutuar viver
acercar-se caminhar
caminhar
todos os dorido-esvaídos desejos
todas as acre-escorridas lágrimas
todas as áspero-escarnecidas ânsias
todos os frios fogos sufocados
através da fervitorrente de meu sangue
através do incêndio de meus nervos
através do pensamento-labareda
tempestuam tempestuam
rompem rampam
rodoviam
a ti
a via
a via
a via
para mim!
a ti
a via
meclamorosa
a ti
a via
telírioterna
a ti
a via
flamirrasgada
a ti
a via
impercorrida
nunca
encontrada
via
para
mim!


Erinnerung
Welten schweigen aus mir raus
Welten Welten
Schwarz und fahl und licht!
Licht im Licht!
Glühen Flackern Lodern
Weben Schweben Leben
Nahen Schreiten
Schreiten
All die weh verklungenen Wünsche
All die harb zerrungenen Tränen
All die barsch verlachten Aengste
All die kalt erstickten Gluten
Durch den Siedstrom meines Blutes
Durch das Brennen meiner Sehnen
Durch die Lohe der Gedanken
Stürmen
Bogen bahnen
Regen wegen
Dir
Den Weg
Den Weg
Den Weg
zu mir!
Dir
Den Weg
Den ichumbrausten
Dir
Den Weg
den duumträumten
Dir
Den Weg
Den flammzerrissenen
Dir
Den Weg
Den unbegangenen
Nie
Gefundenen Weg
zu
Mir!

- August Stramm, "Os estenogramas líricos de August Stramm" [tradução Haroldo de Campos]. in: CAMPOS, Haroldo de.. O arco-íris branco. Rio de Janeiro: Imago, 1997.

§

August Stramm
© Obra em domínio público

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske em colaboração com José Alexandre da Silva

=== === ===

Trabalhos sobre o autor:
Caso, você tenha algum trabalho não citado e queira que ele seja incluído - exemplo: livro, tese, dissertação, ensaio, artigo - envie os dados para o nosso "e-mail de contato", para que possamos incluir as referências do seu trabalho nesta pagina.

Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten; SILVA, José Alexandre da.. (pesquisa, seleção e organização). August Stramm - poeta expressionista alemão. Templo Cultural Delfos, fevereiro/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
** Página atualizada em 13.2.2016.



Licença de uso: O conteúdo deste site, vedado ao seu uso comercial, poderá ser reproduzido desde que citada a fonte, excetuando os casos especificados em contrário. 
Direitos Reservados © 2016 Templo Cultural Delfos

COMPARTILHE NAS SUAS REDES