COMPARTILHE NAS SUAS REDES

Mostrando postagens com marcador Paul Celan - o poeta trágico. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Paul Celan - o poeta trágico. Mostrar todas as postagens

Paul Celan - o poeta trágico

Paul Celan
Paul Celan (poeta, tradutor e ensaísta romeno de língua alemã)

Paul Pessakh Antschel, filho de judeus de língua alemã, nasceu em Czernowitz (Bukowina) em 23 de novembro de 1920. O pseudônimo Celan se origina da transformação anagramática do nome romeno Ancel. Na cidade natal, faz os estudos pré-universitários, para em 1938 iniciar a faculdade de Medicina em Tours (França), e um ano depois a de Romanística em Czernowitz, que em 1941 acaba ocupada por tropas alemãs e romenas. Celan é enviado a um campo de trabalhos forçados; seus pais morrem num campo de concentração.

Terminada a guerra, Celan começa a trabalhar em Bucareste como assistente editorial e tradutor atividade em que se destacou ao longo de sua vida. Em Bucareste, traduz obras de autores russos (Tchecov e Lermontov, por exemplo). Em Paris, dedica-se à literatura francesa (Valéry; Rimbaud e Michaux, entre outros), além de vários poetas russos, como Ossip Mandelstam, sempre autores aos quais se sente ligado pessoal e/ou poeticamente. Em 1947 ele deixa a Romênia e vai para Viena, onde publica, no ano seguinte, o livro Der Sand aus den Urnen, que manda recolher antes de mudar-se para Paris.

Na capital francesa, estuda Germanística e Lingüística. A partir de 1950, trabalha como escritor e tradutor. Em 1952 Celan se casa com a artista plástica Gisèle Lestrange, com quem tem o filho Eric, nascido em 1955.

A partir de 1952 começam a ser publicados os seus livros de poemas: Mohn und Gedächtnis, daquele ano; Von Schwelle zu Schwelle, de 1955; Sprachgitter, de 1959, Die Niemandsrose, de 1963; Atemwende, de 1967; Fadensonnen, de 1968; Lichtzwang, de 1970. Em 1958 recebe o Prêmio Literário da Cidade de Bremen; em 1960, o Prêmio Georg Büchner de Darmstadt, cujo discurso de agradecimento está incluído no presente volume; em 1964, o Grande Prêmio Cultural de Nordrhein-Westfalen.

 Os últimos livros de Celan, no entanto, não encontram mais tanta ressonância de público. Os anos que antecedem sua morte se caracterizam por tendências autodestrutivas, mania de perseguição e surtos de amnésia. Paul Celan acaba por suicidar-se no rio Sena, em abril de 1970.

Em 1971 é publicado seu livro Schneepart, organizado por ele antes mesmo de Lichtzwang. Uma reunião de poemas do espólio, sob o título Zeitgehöft, é publicada em 1976, assim como em 1985 seus primeiros poemas (Gedichte 1938-1944), numa época em que era claramente influenciado por Hölderlin, Rilke e Trakl. Em 1997 a Editora Suhrkamp reuniu os poemas do espólio sob o título Die Gedichte aus dem Nachlaß, escritos ao longo de sua vida. Apesar da origem judaica, de ter nascido na Romênia e das décadas em Paris, Celan sempre se fez entender como "escritor alemão".
Fonte: CAVALCANTE, Cladua. Nota biobibliográfica, in: "Cristal". Paul Celan. [tradução de Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999, p. 165-166.


“O poema, sendo como é uma forma de aparição da linguagem, é por isso de essência dialógica, o poema pode ser uma garrafa lançada ao mar, abandonada à esperança - decerto muitas vezes ténue - de poder um dia ser recolhida numa qualquer praia, talvez na praia do coração. Também neste sentido os poemas são um caminho: encaminham-se
para um destino (…) para um lugar aberto, para um tu intocável…”
- Paul Celan, “texto de agradecimento do primeiro prémio recebido, em Bremen”, 1958, in: "Arte Poética - Meridiano e outros textos".[tradução de João Barrento e Vanessa Milheiro; posfácio e notas de João Barrento]. Lisboa: Edições Cotovia, 1996.



OBRA DE PAUL CELAN PUBLICADA NO BRASIL E PORTUGAL
Brasil
Paul Celan, por (...)
:: Poemas. Paul Celan. [tradução e introdução Flávio Kothe]. Rio de Janeiro: Edição Tempo Brasileiro, 1977.
:: Hermetismo e hermenêutica. Paul Celan: Poemas II. [introdução, tradução, comentários e organização Flávio Kothe]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro | São Paulo: Instituto Hans Staden, 1985.
:: Cristal. Paul Celan. [tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.
:: A poesia hermética de Paul Celan. [seleção, tradução e cometários de Flávio Rene Kothe]. Edição bilíngue. Brasília: Editora UnB, 2016.

Portugal 
:: Arte poética: o meridiano e outros textos. Paul Celan. [tradução de João Barrento e Vanessa Milheiro; posfácio e notas de João Barrento]. Lisboa: Edições Cotovia, 1996.
:: Sete rosas mais tarde: Antologia poética. Paul Celan. [seleção, tradução e introdução João Barrento e Yvete K. Centeno]. Lisboa: Edições Cotovia, 2006. {A antologia inclui poemas dos títulos "Papoila e Memória", "De Limiar em Limiar", "Grelha de Linguagem", "A Rosa de Ninguém", "Sopro", "Viragem", "Sóis Desfiados", "A Força da Luz", "A Parte da Neve" e "A Cerca do Tempo"}. 
:: A morte é uma flor. poemas do espólio. Paul Celan. [tradução João Barrento]. Lisboa: Edições cotovia, 2008.
:: Não sabemos mesmo o que importa. cem poemas. Paul Celan. [tradução Gilda Lopes Encarnação]. Lisboa: Relógio d'Água, 2014.

Antologia (participação)
:: Quatro mil anos de poesia. [organização J. Guinsburg e Zulmira Ribeiro Tavares]. Coleção Judaica. São Paulo: Editora Perspectiva, 1969.
:: Bem acima do silêncio escrevo teu nome - Poesia e Holocausto. [idealização e organização Francisco Mallmann e Laura Nicolli]. Associação Casa de Cultura Beit Yaacov; Museu do Holocausto de Curitiba, s/data. {poetas presentes: Anne Ranasinghe, Charlotte Delbo, Ingeborg Bachmann, Irena Klepfisz, Jerzy Ficowski, Mascha Kaléko Motele, Nelly Sachs, Paul Celan, Paul Éluard, Peretz Markish, René Char, Rose Ausländer, Santino Spinelli, Selma Merbaum, Tadeusz Różewicz, W. H. Auden, Wislawa Szymborska}. Disponível no link. (acessado em 13.3.2024).

Em espanhol
:: Obras completas Paul Celan. [traducción de José Luis Reina Palazón]. Colección La Dicha de Enmudecer, rústica (Séptima edición). Madrid: Editorial Trotta, 2013.



Paul Celan
POEMAS BILÍNGUE DE PAUL CELAN - SELEÇÃO


ÓPIO E MEMÓRIA
MOHN UND GEDÄCHTNIS
(1952)


A AREIA DAS URNAS
Verde-mofo é a casa do esquecimento.
Diante de cada porta flutuante azuleja teu cantor decapitado.
Ele faz rufarem para ti os tambores de musgo e amarga vulva;
com artelho supurado risca na areia tua sobrancelha.
Desenha-a mais comprida do que era, e o vermelho de teus lábios.
Enches aqui as urnas e degustas teu coração.


DER SAND AUS DEN URNEN
Schimmelgrün ist das Haus des Vergessens.
Vor jedem der wehenden Tore blaut dein enthaupteter Spielmann.
Er schlägt dir die Trommel aus Moos und bitterem Schamhaar;
mit schwärender Zehe malt er im Sand deine Braue.
Länger zeichnet er sie als sie war, und das Rot deiner Lippe.
Du fühlst hier die Urnen und speisest dein Herz.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

CANÇÃO DE UMA DAMA NA SOMBRA 
Quando vem a taciturna e poda as tulipas:  
Quem sai ganhando? 
                  Quem perde?
                        Quem aparece na janela?  
Quem diz primeiro o nome dela?

É alguém que carrega meus cabelos.  
Carrega-os como quem carrega mortos nos braços.  
Carrega-os como o céu carregou meus cabelos no ano em que amei. 
Carrega-os assim por vaidade.    

E ganha. 
              E não perde. 
                         E não aparece na janela.   
E não diz o nome dela.    

É alguém que tem meus olhos.  
Tem-nos desde quando portas se fecham.  
Carrega-os no dedo, como anéis.  
Carrega-os como cacos de desejo e safira:  
era já meu irmão no outono;  
conta já os dias e noites.  

E ganha.
             E não perde. 
                    E não aparece na janela.    

E diz por último o nome dela.  
É alguém que tem o que eu disse.  
Carrega-o debaixo do braço como um embrulho.  
Carrega-o como o relógio a sua pior hora.  
Carrega-o de limiar a limiar, não o joga fora.  

E não ganha.
                    E perde. 
                              E aparece na janela.  
E diz primeiro o nome dela.    

E é podado com as tulipas.


CHANSON EINER DAME IM SCHATTEN
Wenn die Schweigsame kommt und die Tulpen köpft:
Wer gewinnt?
                  Wer verliert?
                             Wer tritt an das Fenster?
Wer nennt ihren Namen zuerst?

Es ist einer, der trägt mein Haar.
Er trägts wie man Tote trägt auf den Händen.
Er trägts wie der Himmel mein Haar trug im Jahr, da ich liebte.
Er trägt es aus Eitelkeit so.

Der gewinnt.
                 Der verliert nicht.
                             Der tritt nicht ans Fenster.
Der nennt ihren Namen nicht.

Es ist einer, der hat meine Augen.
Er hat sie, seit Tore sich schliessen.
Er trägt sie am Finger wie Ringe.
Er trägt sie wie Scherben von Lust und Saphir:
er war schon mein Bruder im Herbst;
er zählt schon die Tage und Nächte.

Der gewinnt.
                Der verliert nicht.
                           Der tritt nicht ans Fenster.

Der nennt ihren Namen zuletzt.
Es ist einer, der hat, was ich sagte.
Er trägts unterm Arm wie ein Bündel.
Er trägts wie die Uhr ihre schlechteste Stunde.
Er trägt es von Schwelle zu Schwelle, er wirft es nicht fort.

Der gewinnt nicht.
                  Der verliert.
                              Der tritt an das Fenster.
Der nennt ihren Namen zuerst.


Der wird mit den Tulpen geköpft.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

CORONA
Da minha mão o outono come sua folha: somos amigos.
Descascamos o tempo das nozes e o ensinamos a andar:
o tempo volta à casca.

No espelho é domingo,
no sonho se dorme,
a boca fala a verdade.

Meu olho desce ao sexo da amada:
olhamo-nos,
dizemo-nos o obscuro,
amamo-nos como ópio e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
como o mar no raio-sangue da lua.

Ficamos entrelaçados à janela, eles nos olham da rua:
está na hora de saber!
Está na hora da pedra começar a florescer,
de um coração golpear a inquietude.
Está na hora de ser hora.

Está na hora.


CORONA
Aus der Hand frißt der Herbst mir sein Blatt: wir sind Freunde.
Wir schälen die Zeit aus den Nüssen und lehren sie gehn:
die Zeit kehrt zurück in die Schale.

Im Spiegel ist Sonntag,
im Traum wird geschlafen,
der Mund redet wahr.

Mein Aug steigt hinab zum Geschlecht der Geliebten:
wir sehen uns an,
wir sagen uns Dunkles,
wir lieben einander wie Mohn und Gedächtnis,
wir schlafen wie Wein in den Muscheln,
wie das Meer im Blutstrahl des Mondes.

Wir stehen umschlungen im Fenster, sie sehen uns zu von der Straße:
es ist Zeit, daß man weiß!
Es ist Zeit, daß der Stein sich zu blühen bequemt,
daß der Unrast ein Herz schlägt.
Es ist Zeit, daß es Zeit wird.


Es ist Zeit.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

FUGA SOBRE A MORTE
Leite-breu d' aurora nós o bebemos à tarde
nós o bebemos ao meio-dia e de manhã nós o bebemos à noite
bebemos e bebemos
cavamos uma cova grande nos ares
Na casa mora um homem que brinca com as serpentes e escreve
ele escreve para a Alemanha quando escurece teus cabelos de ouro Margarete
ele escreve e aparece em frente à casa e brilham as estrelas ele assobia e chama seus 
[mastins
ele assobia e chegam seus judeus manda cavar uma cova na terra
ordena-nos agora toquem para dançarmos

Leite-breu d'aurora nós te bebemos à noite
nós te bebemos de manhã e ao meio-dia nós te bebemos à tarde
bebemos e bebemos
Na casa mora um homem que brinca com as serpentes e escreve
que escreve para a Alemanha quando escurece teus cabelos de ouro Margarete
Teus cabelos de cinza Sulamita cavamos uma cova grande nos ares onde não se deita 
[ruim

Ele grita cavem mais até o fundo da terra vocês ai vocês ali cantem e toquem
ele pega o ferro na cintura balança-o seus olhos são azuis
cavem mais fundo as pás vocês aí vocês ali continuem tocando para dançarmos

Leite-breu d' aurora nós te bebemos à noite
nós te bebemos ao meio-dia e de manhã nós te bebemos à tardinha
bebemos e bebemos
Na casa mora um homem teus cabelos de ouro Margarete
teus cabelos de cinza Sulamita ele brinca com as serpentes

Ele grita toquem mais doce a morte a morte é uma mestra d' Alemanha
Ele grita toquem mais escuro os violinos depois subam aos ares como fumaça
e terão uma cova grande nas nuvens onde não se deita ruim

Leite-breu d'aurora nós te bebemos à noite
nós te bebemos ao meio-dia a morte é uma mestra d' Alemanha
nós te bebemos à tarde e de manhã bebemos e bebemos
a morte é uma mestra d' Alemanha seu olho é azul
ela te atinge com bala de chumbo te atinge em cheio
na casa mora um homem teus cabelos de ouro Margarete
ele atiça seus mastins contra nós dá-nos uma cova no ar
ele brinca com as serpentes e sonha a morte é uma mestra d' Alemanha

teus cabelos de ouro Margarete
teus cabelos de cinza Sulamita


TODESFUGE
Schwarze Milch der Frühe wir trinken sie abends 
wir trinken sie mittags und morgens wir trinken sie nachts 
wir trinken und trinken 
wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng 
Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt 
der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland dein goldenes Haar Margarete 
er schreibt es und tritt vor das Haus und es blitzen die Sterne er pfeift seine Rüden 
[herbei
er pfeift seine Juden hervor läßt schaufeln ein Grab in der Erde 
er befiehlt uns spielt auf nun zum Tanz

Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts 
wir trinken dich morgens und mittags wir trinken dich abends 
wir trinken und trinken 
Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt 
der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland dein goldenes Haar Margarete 
Dein aschenes Haar Sulamith wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht 
[eng

Er ruft stecht tiefer ins Erdreich ihr einen ihr andern singet und spielt 
er greift nach dem Eisen im Gurt er schwingts seine Augen sind blau 
stecht tiefer die Spaten ihr einen ihr andern spielt weiter zum Tanz auf

Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts 
wir trinken dich mittags und morgens wir trinken dich abends 
wir trinken und trinken 
ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete 
dein aschenes Haar Sulamith er spielt mit den Schlangen 

Er ruft spielt süßer den Tod der Tod ist ein Meister aus Deutschland 
er ruft streicht dunkler die Geigen dann steigt ihr als Rauch in die Luft 
dann habt ihr ein Grab in den Wolken da liegt man nicht eng

Schwarze Milch der Frühe wir trinken dich nachts 
wir trinken dich mittags der Tod ist ein Meister aus Deutschland 
wir trinken dich abends und morgens wir trinken und trinken 
der Tod ist ein Meister aus Deutschland sein Auge ist blau 
er trifft dich mit bleierner Kugel er trifft dich genau 
ein Mann wohnt im Haus dein goldenes Haar Margarete 
er hetzt seine Rüden auf uns er schenkt uns ein Grab in der Luft 
er spielt mit den Schlangen und träumet der Tod ist ein Meister aus Deutschland

dein goldenes Haar Margarete 
dein aschenes Haar Sulamith
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§


DO AZUL que ainda busca seu rosto, sou o primeiro a beber.   
Vejo e bebo de teu rastro:  
Deslizas pelos meus dedos, pérola, e cresces!  
Cresces como todos os esquecidos.  
Deslizas: o granizo negro da melancolia   
cai num lenço, todo branco pelo aceno de despedida.  


VOM BLAU, das noch sein Auge sucht, trink ich als erster.
Aus deiner Fußspur trink ich und ich seh:
du rollst mir durch die Finger, Perle, und du wächst!
Du wächst wie alle, die vergessen sind.
Du rollst: das schwarze Hagelkorn der Schwermut
fällt in ein Tuch, ganz weiss vom Abschiedwinken.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

QUEM ARRANCA do peito seu coração para a noite deseja a rosa.
São seus a folha e o espinho,
para ele ela põe a luz no prato,
pare ele ela enche os copos com sopro,
pare ele murmuram as sombras do amor.

Quem arranca do peito seu coração para a noite e o atira alto:
Não erra o alvo
apedreja a pedra,
e ele bate o sangue do relógio,
para ele sua hora soa o tempo na mão:
ele pode brincar com bolas mais bonitas
e falar de ti e de mim.


WER SEIN HERZ aus der Brust reiβt zur Nacht, der langt nach der Rose.
Sein ist ihr Blatt und ihr Dorn,
ihm legt sie das Licht auf den Teller,
ihm füllt sie die Gläser mit Hauch,
ihm rauschen die Schatten der Liebe.

Wer sein Herz aus der Brust reiβt zur Nacht und schleudert es hoch:
der trifft nicht fehl,
der steinigt den Stein,
dem läutet das Blut aus der Uhr,
dem schlägt seine Stunde die Zeit aus der Hand:
er darf spielen mit schöneren Bällen
und reden von dir und von mir.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§


EM VIAGEM
Há um momento que te converte a poeira em comitiva, 
tua casa em Paris em local de sacrifício de tuas mãos, 
teu olho negro em negríssimo olho.

Há uma granja que guarda uma parelha para teu coração.
Teu cabelo quer voar quando viajas – mas está proibido.
Os que permanecem e acenam, não sabem. 




AUF REISEN

Es ist eine Stunde, die macht dir den Staub zum Gefolge,

dein Haus in Paris zur Opferstatt deiner Hände,

dein schwarzes Aug zum schwärzesten Auge.



Es ist ein Gehöft, da hält ein Gespann für dein Herz.
Dein Haar möchte wehn, wenn du fährst – das ist ihm verboten.
Die bleiben und winken, wissen es nicht.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

CRISTAL
Não procura nos meus lábios tua boca,
não diante da porta o forasteiro,
não no olho a lágrima.    

Sete noites acima caminha o vermelho ao vermelho,
sete corações abaixo bate a mão à porta,
sete rosas mais tarde rumoreja a fonte.


KRISTALL
Nicht an meinen Lippen suche deinen Mund,
nicht vorm Tor den Fremdling,
nicht im Aug die Träne.

Sieben Nächte höher wandert Rot zu Rot,
sieben Herzen tiefer pocht die Hand ans Tor,
sieben Rosen später rauscht der Brunnen.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

ESTOU SÓ, arrumo a flor de cinzas 
no vaso cheio de maduro negrume. Boca-irmã, 
falas uma palavra que sobrevive diante das janelas,
e escala muda o que sonhei, em mim.

Eis-me na flor da hora murcha
e poupo uma resina para um pássaro tardio:
ele traz o floco de neve na pluma vermelha-vida;
o grãozinho de gelo no bico, e atravessa o verão.


ICH BIN ALLEIN, ich stell die Aschenblume
ins Glas voll reifer Schwärze. Schwestermund,
du sprichst ein Wort, das fortlebt vor den Fenstern,
ùnd lautlos klettert, was ich träumt, an mir empor.

Ich steh im Flor der abgeblühten Stunde
und spar ein Harz für einen späten Vogel:
er trägt die Flocke Schnee auf lebensrote Feder;
das Körnchen Eis im Schnabel , komt er durch den Sommer.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

OS CÂNTAROS
               Para Klaus Demus

Nas longas mesas do tempo
embebedam-se os cântaros de Deus.
Eles esvaziam os olhos de quem vê e de quem não,
os corações das sombras reinantes,
o magro rosto da noite.
São os maiores bebedores:
levam à boca o vazio como o pleno
e não transbordam como eu ou tu..


DIE KRÜGE
             Für Klaus Demus

An den langen Tischen der Zeit
zechen die Krüge Gottes.
Sie trinken die Augen der Sehenden leer und die Augen der Blinden,
die Herzen der waltenden Schatten,
die hohle Wange des Abends.
Sie sind die gewaltigsten Zecher:
sie führen das Leere zum Mund wie das Volle
und schäumen nicht über wie du oder ich.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§



À NOITE, quando o pêndulo do amor oscila,

entre Sempre e Nunca,

tua palavra junta-se às luas do coração

e teu tempestuoso olho

azul entrega à terra ao céu.

De bosque distante, enegrecido de sonho
sopra-nos o apagado,
e o perdido rodeia, grande como os fantasmas do futuro.

O que então afunda e se ergue
vale para o intimamente enterrado:
cego como o olho que trocamos,
beija o tempo na boca.


NACHTS, wenn das Pendel der Liebe schwingt
zwischen Immer und Nie,
stöβt dein Wort zu den Monden des Herzens
und dein gewitterhaft blaues
Aug reicht der Erde den Himmel. 

Aus fernen, aus traumgeschwärztem
Hain weht uns an das Verhauchte,
und das Versäumte geht um, groβ wie die Schemen der Zukunft. 

Was sich nun senkt und hebt,
gilt dem zuinnerst Vergrabnen:
blind wie der Blick, den wir tauschen,
küβt es die Zeit auf den Mund.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§



DE LIMIAR A LIMIAR

VON SCHWELLE ZU SCHWELLE

(1955)



Paul Celan


OUVI DIZER
Ouvi dizer que há
na água uma pedra e um círculo
e sobre a água uma palavra
que estende o círculo em torno da pedra.

Vi meu choupo descer para a água,

vi como o seu braço agarrou as profundezas,
vi suas raízes implorarem a noite aos céus.


Não o segui,

somente colhi do chão aquela migalha
que tem a forma de teu olho e a nobreza,
tirei de teu pescoço  o colar de sentenças
e com ele adornei a mesa, onde já estava a migalha.
E não voltei a ver meu choupo.




ICH HÖRTE SAGEN 

Ich hörte sagen, es sei 
im Wasser ein Stein und ein Kreis
und über dem Wasser ein Wort, 
das den Kreis um den Stein legt. 

Ich sah meine Pappel hinabgehn zum Wasser,
ich sah, wie ihr Arm hinuntergriff in die Tiefe, 
ich sah ihre Wurzeln gen Himmel um Nacht flehn. 

Ich eilt ihr nicht nach, 
ich las nur vom Boden auf jene Krume,
die deines Auges Gestalt hat und Adel, 
ich nahm dir die Kette der Sprüche vom Hals 
und säumte mit ihr den Tisch, wo die Krume nun lag. 

Und sah meine Pappel nicht mehr.

- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.



§



NO VERMELHO TARDIO 
No vermelho tardio dormem os nomes: 
um 
tua noite desperta 
e leva-o, com bastões brancos apalpando
ao longo da muralha sul do coração,
sob os pinheiros:
um, de forma humana,
avança à cidade-oleiro,
onde a chuva é acolhida como amiga
de uma hora-mar.
No azul
ela diz uma palavrárvore que promete sombras
e o nome de teu amor
acrescenta suas sílabas.


IM SPÄTROT 
Im Spätrot schlafen die Namen: 
einen 
weckt deine Nacht 
und führt ihn, mit weiβen Stäben entlang- 
tastend am Südwall des Herzens, 
unter die Pinien: 
eine, von menschlichem Wuchs, 
schreitet zur Töpferstadt hin, 
wo der Regen einkehrt als Freund 
einer Meeresstunde. 
Im Blau 
spricht sie ein schattenverheißendes Baumwort, 
und deiner Liebe Namen 
zählt seine Silben hinzu.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

LUZIR 
Com silencioso corpo 
repousas na areia ao meu lado, 
Superestrelada. 

...............

Irrompeu-se algum raio 
até mim? 
Ou foi a barra
rompida sobre nós
que luz assim!


LEUCHTEN
Schweigenden Leibes
liegst du im Sand neben mir,
Übersternte.

................................

Brach sich ein Strahl
herüber zu mir?
Oder war es der Stab,
den man brach über uns,
der so leuchtet?
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

DISTÂNCIAS 
Olho no olho, no frio,  
deixa-nos também começar assim:  
juntos 
deixa-nos respirar o véu  
que nos esconde um do outro,  
quando a noite se dispõe a medir  
o que ainda falta chegar  
de cada forma que ela toma  
para cada forma  
que ela a nós dois emprestou.  


FERNEN
Aug in Aug, in der Kühle,
laß uns auch solches beginnen:
gemeinsam
laß uns atmen den Schleier,
der uns voreinander verbirgt,
wenn der Abend sich anschickt zu messen,
wie weit es noch ist
von jeder Gestalt, die er annimmt,
zu jeder Gestalt,
die er uns beiden geliehn.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

O HÓSPEDE
Muito antes de anoitecer
chega à tua casa aquele que trocou acenos com a escuridão.
Muito antes de amanhecer
ele desperta
e, antes de ir-se, atiça um sonho,
um sonho ressonante de passos:
o escutas medir as distâncias
e jogas para lá a tua alma.


DER GAST
Lange vor Abend

kehrt bei dir ein, der den Gruß getauscht mit dem Dunkel.
Lange vor Tag
wacht er auf
und facht, eh er geht, einen Schlaf an,
einen Schlaf, durchklungen von Schritten:
du hörst ihn die Fernen durchmessen
und wirfst deine Seele dorthin.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

ASSIS
Noite úmbria.
Noite úmbria com a prata do sino e folha de oliva.
Noite úmbria com a pedra que trouxeste até aqui.
Noite úmbria com a pedra.

Mudo, o que veio à vida, mudo.
Enche os jarros.

Jarro barroso.
Jarro barroso, onde a mão do oleiro cresceu firme.
Jarro barroso que para sempre trancafiou a mão de uma sombra.
Jarro barroso com o selo da sombra.

Pedra, para onde olhas, pedra.
Deixa entrar o asno.

Animal trotante.
Animal trotante na neve, que a mais nua mão espalha.
Animal trotante frente à palavra, que caiu presa.
Animal trotante, que come o sono com a mão.

Brilho que não quer consolar, brilho.
Os mortos – estes ainda mendigam, Francisco.


ASSISI
Umbrische Nacht.
Umbrische Nacht mit dem Silber von Glocke und Ölblatt.
Umbrische Nacht mit dem Stein, den du hertrugst.
Umbrische Nacht mit dem Stein.

Stumm, was ins Leben stieg, stumm.
Füll die Krüge um.

Irdener Krug.
Irdener Krug, dran die Töpferhand festwuchs.
Irdener Krug, den die Hand eines Schattens für immer verschloβ.
Irdener Krug mit dem Siegel des Schattens.

Stein, wo du hinsiehst, Stein.
Laβ das Grautier ein.

Trottendes Tier.
Trottendes Tier im Schnee, den die nackteste Hand streut.
Trottendes Tier vor dem Wort, das ins Schloβ fiel.
Trottendes Tier, das den Schlaf aus der Hand friβt.

Glanz, der nicht trösten will, Glanz.
Die Toten – sie betteln noch, Franz.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

FALA TAMBÉM TU
fala por último,
diz teu falar.
Fala –
Mas não separa o não do sim.
Dá ao teu falar também o sentido:
dá-lhe a sombra.
Dá-lhe sombra bastante,
dá-lhe tanta
quanto sabes dividir em ti entre
meia-noite e meio-dia e meia-noite.
Olha em volta
vê a vida ao redor –
Na morte! Viva!
Fala a verdade quem sombras fala.
Mas então se esvai o lugar em que estás:
Para onde agora, desnudado de sombra, para onde?
Sobe. Vá tateando.
Torna-te mais magro, mais irreconhecível, mais fino!
Mais fino: um fio,
por onde ela quer descer, a estrela:
para embaixo nadar, embaixo,
onde se vê cintilar: no ondear
de palavras errantes.


SPRICH AUCH DU,
sprich als letzter,
sag deinen Spruch.

Sprich −
Doch scheide das Nein nicht vom Ja.
Gib deinem Spruch auch den Sinn:
gib ihm den Schatten.

Gib ihm Schatten genug,
gib ihm so viel,
als du um dich verteilt weißt zwischen
Mittnacht und Mittag und Mittnacht.

Blicke umher:
sieh, wie’s lebendig wird rings −
Beim Tode! Lebendig!
Wahr spricht, wer Schatten spricht.

Nun aber schrumpft der Ort, wo du stehst:
Wohin jetzt, Schattenentblößter, wohin?
Steige. Taste empor.
Dünner wirst du, unkenntlicher, feiner!
Feiner: ein Faden,

an dem er herabwill, der Stern:
um unten zu schwimmen, unten,
wo er sich schimmern sieht: in der Dünung
wandernder Worte.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

PRISÃO DA ALMA
SPRACHGITTER
(1959)

Paul Celan
FLOR
A pedra.
A pedra no ar, que segui.
Teu olho, tão cego como a pedra.

Éramos
mãos,
esvaziamos a escuridão, encontramos
a palavra, que ascendia o verão:
flor.

Flor — uma palavra de cegos.
Teu olho e meu olho:
procuram
água.

Crescimento.
O coração: de parede a parede
se forma.

Uma palavra ainda, como esta, e os martelos
vibram ao ar livre.


BLUME
Der Stein.
Der Stein in der Luft, dem ich folgte.
Dein Aug, so blind wie der Stein.

Wir waren
Hände,
wir schöpften die Finsternis leer, wir fanden
das Wort, das den Sommer heraufkam:
Blume.

Blume — ein Blindenwort.
Dein Aug und mein Aug:
sie sorgen
für Wasser.

Wachstum.
Herzwand um Herzwand
blättert hinzu.

Ein Wort noch, wie dies, und die Hämmer
schwingen im Freien.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

TENEBRAE
Estamos próximos, Senhor,
próximos e palpáveis.

Palpados já, Senhor,
Agarrados uns aos outros, como se
o corpo de cada um de nós fosse
teu corpo, Senhor.

Roga, Senhor,
Roga por nós,
estamos próximos.

Empurrados pelo vento fomos,
fomos até lá para curvar-nos
rumo a vale e cratera.

Fomos ao bebedouro, Senhor.

Havia sangue, havia
o que verteste, Senhor.

Brilhava.

Jogou-nos tua imagem nos olhos, Senhor.
Olhos e boca estão por demais abertos e vazios, Senhor. 
Bebemos, Senhor.
O sangue e a imagem que no sangue havia, Senhor.

Roga, Senhor.
Estamos próximos.


TENEBRAE
Nah sind wir, Herr,
nahe und greifbar.

Gegriffen schon, Herr,
ineinander verkrallt, als wär 
der Leib eines jeden von uns 
dein Leib, Herr.

Bete, Herr, 
bete zu uns, 
wir sind nah.

Windschief gingen wir hin, 
gingen wir hin, uns zu bücken 
nach Mulde und Maar.

Zur Tränke gingen wir, Herr.

Es war Blut, es war, 
was du vergossen, Herr.

Es glänzt.

Es warf uns dein Bild in die Augen, Herr.
Augen und Mund stehn so offen und leer, Herr.
Wir haben getrunken, Herr.
Das Blut und das Bild, das im Blut war, Herr.

Bete, Herr.
Wir sind nah.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

PRISÃO DA PALAVRA
Olho redondo entre as barras.

Pálpebra de animal cintilante
rema para cima,
libera um olhar.

Íris, nadadora, sem sonhos e triste:
o céu, cinza-coração, deve estar próximo.

Inclinada, no bico de ferro,
a limalha fumegante.
No sentido da luz
adivinhas a alma.

(Se eu fosse como tu. Se fosses como eu.
Não estaríamos
sob um mesmo alísio?
Somos estranhos.)

Os ladrilhos. Por cima,
uma junto à outra, as duas
poças cinza-coração:
dois
bocados de silêncio.


SPRACHGITTER
Augenrund zwischen den Stäben. 

Flimmertier Lid 
rudert nach oben, 
gibt einen Blick frei. 

Iris, Schwimmerin, traumlos und trüb: 
der Himmel, herzgrau, muss nah sein. 

Schräg, in der eisernen Tülle, 
der blakende Span. 
Am Lichtsinn 
errätst du die Seele. 

(Wär ich wie du. Wärst du wie ich. 
Standen wir nicht 
unter einem Passat? 
Wir sind Fremde.) 

Die Fliesen. Darauf, 
dicht beieinander, die beiden 
herzgrauen Lachen: 
zwei 
Mundvoll Schweigen.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

STRETTO

*
Trazidos para o 
campo 
com a marca que não engana:

Grama, escrita-espalhada. As pedras, brancas,
com as sombras dos talos:
Não leia mais - vê!
Não veja mais - vai!

Vá, tua hora
não tem irmãs, estás -
estás em casa. Uma roda, lentamente,
rola para fora de si mesma, os raios
escalam,
escalam por campo enegrecido, a noite
não precisa de estrelas, em lugar algum 
perguntam por ti.

                                                  Em lugar algum 
                                                                          perguntam por ti -

O local em que estavam, ele tem 
um nome - tem
nenhum. Não estavam lá. Algo
havia entre eles. Não 
olham através.

Não olhavam, não,
falavam de 
palavras. Ninguém
despertou, o
sono 
veio sobre eles.

* 
                         Veio, veio. Em lugar algum 
                                                                  perguntam -

Sou eu, eu, 
estava entre vocês, estava
aberto, estava
audível, fiz sinal, sua respiração
obedeceu, sou 
eu ainda, vocês
estão dormindo.

*
                                                  Sou eu ainda -

Anos.
Anos, anos, um dedo
tateia de cima a baixo, tateia
ao redor:
pontos de sutura, palpáveis, aqui
se abre demais, lá
voltou a fechar-se - quem 
o cobriu?

*

                                                  Cobriu-o  
                                                              - quem?

Veio, veio. 
Veio uma palavra, veio,
veio pela noite,
queria brilhar, queria br4ilhar.

Cinzas.
Cinzas, cinzas.
Noite.
Noite-e-noite. Vai
para o olho, para o úmido.

                                                 Vai
                                                        para o olho, 
                                                                           para o úmido. -

Furacões.
Furacões, desde sempre, 
turbilhão de partículas, o outro,
tu
bem sabes, nós 
lemos no livro, era 
opinião.

Era, era
opinião. Como
nos tocamos 
- tocamos, com
essas 
mãos?

Também estava escrito que.
Onde? Nós
fizemos silêncio sobre isso,
silêncio de morte, grande, 
um
silêncio
verde, uma sépala, nela
suspenso um pensamento de vegetal -

verde, sim.
suspenso, sim,
sob malicioso
céu.

Nela, sim,
de vegetal.

Sim.
Furacões, tur-
bilhão de partículas, sobrou
tempo, sobrou,
para tentar com a pedra - era
hospitaleira, não
cortava a palavra. Como
estávamos bem: 

Granulosos,
granulosos e fibrosos. Hasteados,
densos;
cacheados e irradiantes; nevríticos, 
espalmados; soltos, rami-
ficados -: ela, isto 
não cortava a palavra, isto
falava,
falava com prazer a olhos secos, antes de fechá-los.

Falava, falava.
Era, era.

Nós
não desistimos, estávamos
no meio, um
monte de poros, e
ele veio.

Veio até nós, veio
através, remendava 
invisível, remendava
a última membrana,
e
o mundo, um cristal em mil
irrompeu, irrompeu.

*
                                                  Irrompeu, irrompeu.
                                                                        Então -
noites, decompostas. Círculos,
verdes ou azuis, vermelhos
quadrados: o 
mundo insere o seu mais íntimo
no jogo com as novas 
horas. - Círculos
vermelhos ou pretos, claros
quadrados nenhuma
sombra voadora,
nenhuma
prancheta, nenhuma 
alma de fumaça sobe e acompanha. 

*
                                                  Sobe e
                                                             acompanha -

No abrigo da coruja, 
na petrificada lepra, 
em
nossas mãos escapulidas, no 
mais recente repúdio,
sobre a 
barreira de balas junto 
ao muro em ruínas:

visível, de
novo: os
sulcos os

coros, outrora, os
salmos. Ho, ho-
sana.

Mas 
ainda há templos. Uma
estrela 
ainda tem luz.
Nada, 
nada está perdido.
Ho-
sana.
No abrigo da coruja, aqui,
as conversas, cinza-dia,
das marcas d´água subterrânea.

                                                  (- cinza-dia,
                                                                   das 
                                                                        marcas d´água subterrânea -

Trazidos 
para o campo 
com 
a marca 
que não engana:

grama,
grama, 
escrita-espalhada.)


ENGFÜHRUNG

*
Verbracht ins
Gelände
mit der untrüglichen Spur:

Gras, auseinandergeschrieben. Die Steine, weiß,
mit den Schatten der Halme:
Lies nicht mehr – schau!

Geh, deine Stunde
hat keine Schwestern, du bist –
bist zuhause. Ein Rad, langsam,
rollt aus sich selber, die Speichen
klettern,
klettern auf schwärzlichem Feld, die Nacht
braucht keine Sterne, nirgends
fragt es nach dir.

*
                                                           Nirgends
                                                                         fragt es nach dir –

Der Ort, wo sie lagen, er hat
einen Namen – er hat
keinen. Sie lagen nicht dort. Etwas
lag zwischen ihnen. Sie
sahn nicht hindurch.

Sahn nicht, nein,
redeten von
Worten. Keines
erwachte, der
Schlaf
kam über sie.

*
                                         Kam, kam. Nirgends
                                                                        fragt es –

Ich bins, ich,
ich lag zwischen euch, ich war
offen, war
hörbar, ich tickte euch zu, euer Atem
gehorchte, ich
bin es noch immer, ihr
schlaft ja.

*
                                                           Bin es noch immer –

Jahre.
Jahre, Jahre, ein Finger
tastet hinab und hinan, tastet
umher:
Nahtstellen, fühlbar, hier
klafft es weit auseinander, hier
wuchs es wieder zusammen - wer
deckte es zu?

*
                                                     Deckte es
                                                               zu – wer?

Kam, kam.
Kam ein Wort, kam,
kam durch die Nacht,
wollt leuchten, wollt leuchten.

Asche.
Asche, Asche.
Nacht.
Nacht-und-Nacht. – Zum
Aug geh, zum feuchten.

*
                                                 Zum 
                                                         Aug geh,
                                                                     zum feuchten –

Orkane.
Orkane, von je,
Partikelgestöber, das andre,
du
weißts ja, wir
lasens im Buche, war
Meinung.

War, war
Meinung. Wie
faßten wir uns
an – an mit
diesen 
Händen?

Es stand auch geschrieben, daß.
Wo? Wir
taten ein Schweigen darüber,
giftgestillt, groß,
ein 
grünes
Schweigen, ein Kelchblatt, es
hing ein Gedanke an Pflanzliches dran –

grün, ja
hing, ja
unter hämischem
Himmel.

An, ja,
Pflanzliches.

Ja.
Orkane, Par-
tikelgestöber, es blieb
Zeit, blieb,
es beim Stein zu versuchen – er
war gastlich, er
fiel nicht ins Wort. Wie
gut wir es hatten:

Körnig,
körnig und faserig. Stengelig,
dicht;
traubig und strahlig; nierig,
plattig und
klumpig; locker, ver-
ästelt –: er, es
fiel nicht ins Wort, es
sprach,
sprach gerne zu trockenen Augen, eh es sie schloß.

Sprach, sprach.
War, war.

Wir
ließen nicht locker, standen
inmitten, ein
Porenbau, und
es kam.

Kam auf uns zu, kam
hindurch, flickte
unsichtbar, flickte
an der letzten Membran,
und
die Welt, ein Tausendkristall,
schoß an, schoß an.

*
                                                       Schoß an, schoß an.
                                                                                Dann –

Nächte, entmischt. Kreise,
grün oder blau, rote
Quadrate: die
Welt setzt ihr Innerstes ein
im Spiel mit den neuen
Stunden. – Kreise,
rot oder schwarz, helle
Quadrate, kein
Flugschatten,
kein
Meßtisch, keine
Rauchseele steigt und spielt mit.

*
                                                               Steigt und
                                                                                 spielt mit -

In der Eulenflucht, beim
versteinerten Aussatz,
bei
unsern geflohenen Händen, in
der jüngsten Verwerfung,
überm
Kugelfang an
der verschütteten Mauer:

sichtbar, aufs
neue: die
Rillen, die

Chöre, damals, die
Psalmen. Ho, ho-
sianna.

Also
stehen noch Tempel. Ein
Stern
hat wohl noch Licht.
Nichts,
nichts ist verloren.

Ho-
sianna.

In der Eulenflucht, hier,
die Gespräche, taggrau,
der Grundwasserspuren.

*
                                             (– – taggrau,
                                                               der
                                                                     Grundwasserspuren –

Verbracht
ins Gelände
mit
der untrüglichen
Spur:

Gras.
Gras,
auseinandergeschrieben.)
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

A ROSA-DE-NINGUÉM
NIEMANDSROSE
(1963)

Paul Celan
HAVIA TERRA neles, e
escavavam.

Escavavam, escavavam, e assim
o dia todo, a noite toda. E não louvavam a Deus
que, como ouviram, queria isso tudo,
que, como ouviram, sabia isso tudo.

Escavavam e não ouviram mais nada;
não se tornaram sábios, não inventaram uma canção,
não imaginaram linguagem alguma.
Escavavam.

Veio um silêncio, veio também uma tormenta,
vieram os mares todos.
Eu escavo, tu escavas, e o verme também escava,
e quem canta ali diz: eles escavam.

Oh alguém, oh nenhum, oh ninguém, oh tu:
Para onde foi, se não há lugar algum?
Oh, tu escavas e eu cavo, e eu me escavo rumo a ti,
e no dedo desperta-nos o anel.


ES WAR ERDE IN IHNEN, und
sie gruben.

Sie gruben und gruben, so ging
ihr Tag dahin, ihre Nacht. Und sie lobten nicht Gott,
der, so hörten sie, alles dies wollte,
der, so hörten sie, alles dies wußte.

Sie gruben und hörten nichts mehr;
sie wurden nicht weise, erfanden kein Lied,
erdachten sich keinerlei Sprache.
Sie gruben.

Es kam eine Stille, es kam auch ein Sturm,
es kamen die Meere alle.
Ich grabe, du gräbst, und es gräbt auch der Wurm,
und das singende dort sagt: sie graben.

O einer, o keiner, o niemand, o du:
Wohin gings, da’s nirgendhin ging?
O du gräbst und ich grab, und ich grab mich dir zu,
und am Finger erwacht uns der Ring.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

IR-AO-FUNDO,
a palavra que lemos.
Os anos, as palavras desde então.
Somos sempre os mesmos.

Sabes, o espaço é infinito,
sabes, não precisas voar,
sabes o que se escreveu em teu olho
aprofunda-nos o fundo.


DAS WORT VOM ZUR-TIEFE-GEHN,
das wir gelesen haben.
Die Jahre, die Worte seither.
Wir sind es noch immer.

Weißt der Raum ist unendlich,
weißt du brauchst nicht zu fliegen,
weißt du, was sich in dein Aug schrieb,
vertieft uns die Tiefe.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

MUDOS AROMAS outonais. O
mal me quer, intacto, passou
entre lar e abismo pela
tua memória.

Um estranho abandono estava
ali, palpável, e terias
quase
vivido.        


STUMME HERBSTGERÜCHE. Die
Sternblume, ungeknickt, ging
zwischen Heimat und Abgrund durch
dein Gedächtnis.

Eine fremde Verlorenheit war
gestalthaft zugegen, du hättest
beinah
gelebt.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

SALMO
Ninguém nos molda de novo com terra e barro,
ninguém evoca o nosso pó.
Ninguém.

Louvado sejas, Ninguém.
Por ti queremos 
florescer.
Ao teu
encontro.

Um nada 
éramos nós, somos, continuamos 
sendo, florescendo:
rosa-de-nada, a
rosa-de-ninguém.

Com
o estilete claralma,
o estame alto-céu, 
a coroa rubra 
da palavra purpúrea, que cantamos
sobre, oh, sobre
o espinho.


PSALM
Niemand knetet uns wieder aus Erde und Lehm,
niemand bespricht unsern Staub.
Niemand.

Gelobt seist du, Niemand.
Dir zulieb wollen
wir blühn.
Dir
entgegen.

Ein Nichts
waren wir, sind wir, werden
wir bleiben, blühend:
die Nichts-, die
Niemandsrose.

Mit
dem Griffel seelenhell,
dem Staubfaden himmelswüst,
der Krone rot
vom Purpurwort, das wir sangen
über, o über
dem Dorn.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

ERRÁTICO 
As noites se fixam  
sob teu olho. As sílabas re-  
colhidas pelos lábios — belo,  
silencioso círculo —  
ajudam a estrela rastejante  
em seu centro. A pedra,  
um dia perto da fronte, abre-se aqui:    

ante todos os  
espalhados  
sóis, alma,  
estavas, no éter.


ERRATISCH
Die Abende graben sich dir
unters Aug. Mit der Lippe auf-
gesammelte Silben — schönes,
lautloses Rund —
helfen dem Kriechstern
in ihre Mitte. Der Stein,
schläfennah einst, tut sich hier auf:

bei allen
versprengten
Sonnen, Seele,
warst du, im Äther.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

JÁ NÃO É MAIS 
este 
peso às vezes 
carregado contigo 
até a hora. É 
outro. 

É a carga que detém o vazio, 
vazio que con-
tigo iria.
Não tem, como tu, um nome. Talvez
sejam a mesma coisa. Talvez
um dia também me chames
assim.


ES IST NICHT MEHR 
diese
zuweilen mit dir
in die Stunde gesenkte
Schwere. Es ist
eine andre.
Es ist das Gewicht, das die Leere zurückhält,
die mit-
ginge mit dir.
Es hat, wie du, keinen Namen. Vielleicht
seid ihr dasselbe. Vielleicht
nennst auch du mich einst
so.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

CORTEI BAMBUS:
para ti, meu filho.
Eu vivi.

A cabana trans-
portada amanhã, ela
existe.

Não ajudei a construí-la: tu
não sabes em que tipo 
de urnas
levei areia ao meu redor, há anos,
sob ordem e ordenação. A tua
vem do ar livre – e continua
livre.

A cana, que aqui toma pé, amanhã 
ainda existe, seja lá onde
a alma irá levar-te no des-
compromisso.


ICH HABE BAMBUS GESCHNITTEN
für dich, mein Sohn.
Ich habe gelebt.

Diese morgen fort-
getragene Hütte, sie
steht.

Ich habe nicht mitgebaut: du
weißt nicht, in was für
Gefäße ich den 
Sand um mich her tat, vor Jahren, auf
Geheiß und Gebot. Der deine
kommt aus dem Freien -- er bleibt 
frei.

Das Rohr, das hier Fuß faßt, morgen
steht es noch immer, wohin dich
die Seele auch hinspielt im Un-
gebundenen.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

MUDANÇA DE AR
ATEMWENDE
(1967)


Paul Celan - foto: Gisèle Freund | Paris 1964
CONFIANTE, PODES 
acolher-me com neve:
sempre que eu, ombro a ombro
com a amoreira atravessei o verão,
gritou sua mais jovem
folha.


DU DARFST mich getrost
mit Schnee bewirten:
sooft ich Schulter an Schulter
mit dem Maulbeerbaum schritt durch den Sommer,
schrie sein jüngstes
Blatt.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

NOS RIOS A NORTE DO FUTURO
lanço a rede que tu
hesitante carregas
com sombras escritas por 
pedras.


IN DEN FLÜSSEN NÖRDLICH DER ZUKUNFT
werf ich das Netz aus, das du
zögernd beschwerst
mit von Steinen geschriebenen
Schatten.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

DIANTE DO TEU ROSTO TARDIO,
só – 
indo entre
noites que também me transformam,
ficou algo
que já estivera conosco, in-
tocado por pensamentos.


VOR DEIN SPÄTES GESICHT,
allein –
gängerisch zwischen
auch mich verwandelnden Nächten,
kam etwas zu stehn,
das schon einmal bei uns war, un-
berührt von Gedanken.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

ESTAR, NA SOMBRA
do estigma no ar.

Para-ninguém-e-nada-estar.
Irreconhecido,
para ti
somente.

Com tudo o que lá dentro cabe,
mesmo que sem
fala.


STEHEN, IM SCHATTEN
des Wundenmals in der Luft.

Für-niemand-und-nichts-Stehn.
Unerkannt,
für dich
allein.

Mit allem, was darin Raum hat,
auch ohne
Sprache.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

Ilustração Gisele Celan-Lestrange
DIQUE DE PALAVRAS, vulcânico, 
afogado pelo rugir do mar. 

Em cima 
a massa flutuante 
dos anti-seres: içou 
bandeiras – imagem e copia
cruzam-se vaidosas pelo tempo.

Até que arremesses a lua-
palavra, de onde
acontece o milagre baixa-mar
e a cratera cardi-
forme
procria nua para os primórdios,
os rei-
nascidos.


WORTAUFSCHÜTTUNG, vulkanisch,
meerüberrauscht.
Oben
der flutende Mob
der Gegengeschöpfe: er
flaggte – Abbild und Nachbild
kreuzen eitel zeithin.
Bis du den Wortmond hinaus-
scleuderst, von dem her
das Wunder Ebbe geschieht
und der herz-
förmige Krater
nackt für die Anfänge zeugt,
die Königs-
geburten.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

DO GRANDE 
sem- 
olhos 
criado de teus olhos: 

o hexa- 
métrico, nulo-pálido 
rejeitado. 

Uma mão de cego, rijo-estelar também ela,
do atravessar o nome,
repousa sobre ele, por tanto
tempo como sobre ti,
Esther.


VOM GROSSEN 
Augen- 
losen 
aus deinen Augen geschöpft: 

der sechs- 
kantige, absageweiße 
Findling. 

Eine Blindenhand, sternhart auch sie 
vom Namen-Durchwandern, 
ruht auf ihm, so 
lang wie auf dir, 
Esther.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

UM RIBOMBAR: é
a própria verdade
que entre as pessoas
surgiu,
em meio ao
turbilhão de metáforas.


EIN DRÖHNEN: es ist
die Wahrheit selbst
unter die Menschen
getreten,
mitten ins
Metapherngestöber.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§


UMA VEZ

ouvi-o, 

e ele lavava o mundo, 

invisível, noite-adentro, 

real. 



Um e Infinito, 

destruído, 

eu-traído. 



Luz havia. Salvação.



EINMAL, 
da hörte ich ihn, 
da wusch er die Welt, 
ungesehen, nachtlang, 
wirklich. 

Eins und Unendlich, 
vernichtet, 
ichten, 

Licht war. Rettung.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999. 

§

SÓIS EM FIOS
FADENSONNEN
(1968)


Paul Celan
A MARCA DE UMA MORDIDA em lugar algum.
Também a ela
tens de combater
a partir daqui.ie 


DIE SPUR EINES BISSES im Nirgends.
Auch sie
mußt du bekämpfen, 
von hier aus.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

ETERNIDADES, sobre ti 
passam-morrem, 
uma carta pega 
teus ainda in-
tactos dedos, 
a fronte brilhante 
chega rodopiando 
e deita-se em
fragrâncias, fragores.


EWIGKEITEN, über dich 
hinweggestorben, 
ein Brief berührt 
deine noch un- 
verletzten Finger, 
die erglänzende Stirn 
turnt herbei
und bettet sich in
Gerüche, Geräusche.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

FOSTE MINHA MORTE:
pude deter-te,
enquanto tudo me escapava.


DU WARST MEIN TOD: 
dich konnte ich halten, 
während mir alles entfiel.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

AS CABEÇAS, MONSTRUOSAS, A CIDADE 
Que constroem 
detrás da felicidade. 

Se mais uma vez fosses minha dor, fiel a ti, 
e um lábio passasse por ela, deste lado, no
local onde saio de mim,

eu te levaria por
esta rua
acima.


DIE KÖPFE, UNGEHEUER, DIE STADT,
die sie baun,
hinterm Glück.

Wenn du noch einmal mein Schmerz wärst, dir treu,
und es käm eine Lippe vorbei, diesseitig, am
Ort, wo ich aus mir herausreich,

Ich brächte dich durch
diese Straβe
nach vorn.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

A ETERNDADE ENVELHECE: em 
Cerveteri os 
asfódelos 
perguntam-se brancos.

Com aconchegante concha
das caldeiras de mortos,
sobre a pedra, sobre a pedra,
tomam a sopa
em todas as camas
e covas


DlE EWIGKEIT ALTERT: in
Cerveteri die 
Asphodelen 
fragen einander weiß. 

Mit mummelnder Kelle, 
aus den Totenkesseln, 
übern Stein, übern Stein, 
lõffeln sie Suppen
in alle Betten
und Lager
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

ORVALHO. E eu deitado contigo, tu, no lixo,
uma lua lamacenta
atirou-nos a resposta,

nos partimos em dois
e de novo repartimos um:

o Senhor dividiu o pão,
o pão dividiu o Senhor.


TAU. Und ich lag mit dir, du, im Gemülle,
ein matschiger Mond
bewarf uns mit Antwort,

wir bröckelten auseinander
und bröselten wieder in eins:

der Herr brach das Brot,
das Brot brach den Herrn.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

PRESSÃO DA LUZ
LICHTZWANG
(1970)

Paul Celan
UMA VEZ, a morte era corrente,
tu te escondeste em mim.


EINMAL, der Tod hatte Zulauf,
verbargst du dich in mir.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

PRÉ-CIENTE SANGRA
duas vezes atrás da cortina,

Consciente
perola


VORGEWUSST BLUTET 
zweimal hinter dem Vorhang,

Mitgewuβt
perlt
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

QUANDO ME ABANDONEI EM TI,  
eras pensamento,   

algo   
murmura entre nós dois:   
do mundo a primeira   
das últimas   
asas,

em mim cresce   
a pele sobre    
tempestuosa   
boca,  

tu 
não chegas 
até 
ti.


WO ICH MICH IN DIR VERGASS
wardst du Gedanke,

etwas
rauscht durch uns beide:
der Welt erste
der letzten 
Schwingen,

mir wächst
das Fell zu übern
gewittrigen
Mund,

du
kommst nicht
zu
dir.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

Ilustração Gisele Celan-Lestrange
COMO TE EXTINGUES em mim: 
ainda no último   
e gasto   
nó de ar   
estás lá com uma   
faísca   
de vida.   


WIE DU DICH AUSSTIRBST in mir:
noch im letzten
zerschlissenen
Knoten Atems
steckst Du mit einem 
Splitter
Leben.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

OS DESAPARECIDOS
papagaios-cinza
rezam a missa
em tua boca.

Ouves chover
e achas que também agora
seria Deus.


DIE ENTSPRUNGENEN 
Graupapageien 
lesen die Messe 
in deinem Mund. 

Du hörsts regnen 
und meinst, auch diesmal 
sei 's Gott.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

NEVE REPARTIDA
SCHNEEPART
(1971)

ILEGIBILIDADE deste
Paul Celan
mundo. Tudo em dobro.

Os fortes relógios
dão razão à hora cindida,
roucos.

Tu, presa nas tuas profundezas,
somes de ti
para sempre.


UNLESBARKEIT dieser
Welt. Alles doppelt.

Die starken Uhren
geben der Spaltstunde recht,
heiser.

Du, in dein Tiefstes geklemmt,
entsteigst dir

für immer.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

OUÇO, O MACHADO FLORESCEU,
ouço, o local não é nomeável,

ouço, o pão que o observa
cura o enforcado,
o pão que lhe fez a mulher,

ouço, falam da vida
como único refúgio.


ICH HÖRE, DIE AXT HAT GEBLÜHT,
ich höre, der Ort ist nicht nennbar,

ich höre, das Brot, das ihn ansieht,
heilt den Erhängten,
das Brot, das ihm die Frau buk,

ich höre, sie nennen das Leben 

die einzige Zuflucht.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

O MUNDO TARTAMUDEANTE
no qual hóspede 
terei sido, um nome,
transpirado muro abaixo
que uma ferida devolve lambendo.


DIE NACHZUSTOTTERNDE WELT,
bei der ich zu Gast
gewesen sein werde, ein Name,
herabgeschnitzt von der Mauer,

an der eine Wunde hochleckt.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

UMA FOLHA, DESARVORADA,
para Bertolt Brecht:

Que tempos são estes,
em que uma conversa
é quase um crime,
por incluir
o já explícito?


EIN BLATT, BAUMLOS
für Bertolt Brecht:

Was sind das für Zeiten,
wo ein Gespräch
beinah ein Verbrechen ist,
weil es soviel Gesagtes

mit einschließt?
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

E FORÇA E DOR 
e o que me impulsionou 
e levou e parou: 

jubissextos 
anos, 

marulhar de pinheiros, uma vez, 

a convicção furtiva
de que isto deve ser dito
diferente.


UND KRAFT UND SCHMERZ 
und was mich stieß 
und trieb und hielt: 

Hall-Schalt- 
Jahre, 

Fichtenrausch, einmal, 

die wildernde Überzeugung, 
daß dies anders zu sagen sei als 

so.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

Bon vent, bonne mer, 
um trémulo 
encefalotrapo, um 
pedaço de mar, 
iça, onde moras, 
sua capital, a 
inocupável.


Bon vent, bonne mer, 
ein flackernder 
Hirnlappen, ein 
Meerstück, 
hifit, wo du lebst, 
seine Hauptstadt, die 

unbesetzbare.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§

A ETERNIDADE mantém-se nos limites:
leve, em seus
imponentes metro-tentáculos,
atentamente
gira as ervilhas-glicose
radioscopiáveis por
unhas.


DIE EWIGKEIT hält sich in Grenzen:
leicht, in ihren
gewaltigen Meß-Tentakeln,
bedachtsam,
rotiert die von Finger-
nägeln durchleuchtbare

Blutzucker-Erbse.
- Paul Celan, em "Cristal". Paul Celan. [seleção e tradução Claudia Cavalcante]. São Paulo: Iluminuras, 1999.

§


Paul Celan
FORTUNA CRÍTICA DE PAUL CELAN
ABI-SÂMARA, Raquel. Quem sou eu, quem és tu: Hans-Georg Gadamer, leitor de Paul Celan. (Tese Doutorado em Letras). Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, 2004.
ABI-SÂMARA, Raquel. Traduzir Paul Celan: uma tarefa sem limite. In: SOUZA, Marcelo Paiva de; CARVALHO, RAimundo; SALGUEIRO, Wilberth. (Org.). Sob o signo de Babel: Literatura e poéticas da tradução. Vitória: Flor & cultura editores, 2006, v. , p. 69-74.
ABI-SÂMARA, Raquel. Hans-Georg Gadamer: leitor de Paul Celan. In: Hans-Georg Gadamer. (Org.). Quem sou eu, quem és tu? Comentário sobre o ciclo de poemas Hausto-Cristal de Paul Celan. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2005, v. , p. 5-40.
ABI-SÂMARA, Raquel. Traduzir Paul Celan: uma tarefa sem limite. In: Sob o signo de Babel: literatura e poéticas da tradução, 2006, Vitória - ES. Sob o signo de Babel. Vitória ES: PPGL/Mel, 2005. p. 69-74.
ABI-SÂMARA, Raquel. Paul Celan: a caminho do 'tu' e da realidade poética. In: X Congresso Internacional da Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC), 2006, Rio de Janeiro. CD-ROM do X Congresso Internacional da Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC), 2006.
ARAÚJO, Karin Bakke de.. Fuga fúnebre, de Paul Celan. Cadernos de Literatura em Tradução, v. 11, p. 281-288, 2010.
ARON, Irene. Paul Celan: a expressão do indizível. in: Pandemonium Germanicum, n°1, 1997, p. 77-85. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
Paul Celan e Gisele Celan-Lestrange
ATAÍDE, Artur Almeida de.. Berman contra Berman, e o exemplo das traduções de 'Todesfuge', de Paul Celan, para o português. Tempo Brasileiro, v. abr-jun., p. 61-78, 2014.
BARROS, José Eduardo Marques de.. Passagens ao poético: A correspondência de Paul Celan e Gisèle Celan-Lestrange. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, 2006. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
BARROS, José Eduardo Marques de.. Paul Celan: a poética do cicatricement. Escola Letra Freudiana, v. 40, p. 211-220, 2009. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
BARROS, José Eduardo Marques de.. Paul Celan, um poeta em tempos sombrios. Escola Letra Freudiana, v. 37, p. 249-254, 2006.
BARROS, José Eduardo Marques de.. Paul Celan, a poética do cicatricement. revista da internet: Revista Confraria arte e literatura, Internet, 20 maio 2008.
BECKERT, Cristina; CANTINHO, Maria João; CORREIA, João Carlos; SOEIRO, Ricardo Gil.. Paul Celan: da ética do silêncio à poética do encontro. Lisboa: Centro de Filosofia de Lisboa, 2015.
BERTOMEU, Fabio Vélez. Paul Celan y la 'elección' de la lengua. Revista electrónica de Estudios filológicos, v. 13, p. -, 2007.
CANTINHO, Maria João. A neve das palavras - ensaio sobre Paul Celan. in: Mallarmargens, 14 de outubro de 2012; e in: Espéculo. Revista de estudios literarios. Universidad Complutense de Madrid, nº 30, 2005.. Disponível no link e link. (acessado em 5.4.2016).
CANTINHO, Maria João. A morte é um mestre que veio da Alemanha: ensaio sobre a alegoria na poesia de Celan. in: Caderno 10 - gewebe, Janeiro a Junho de 2013. Disponível no link e link. (acessado em 5.4.2016).
CANTINHO, Maria João. A frágil luz que nos espera (sobre Paul Celan). in: ZUNÁI- Revista de Poesia e Debates. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
CANTINHO, Maria João. Apresentação da antologia de Paul Celan: não sabemos mesmo o que importa. in: Academia.Edu. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
CARDOZO, Mauricio Mendonça. A obscuridade do poético em Paul Celan. Pandaemonium Germanicum (Online), v. 15, p. 82-108, 2012. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
CARDOZO, Mauricio Mendonça. Paul Celan: prática e espaço da poesia contemporânea. Revista de Letras (São Paulo), v. 48, p. 145-155, 2008.
CARDOZO, Mauricio Mendonça. Paul Celan: a poesia depois de Auschwitz. Coyote (São Paulo), Londrina, v. 14, p. 2-7, 2006.
CARDOZO, Mauricio Mendonça. Zurique, zum Storchen, de Paul Celan. Pandaemonium Germanicum, v. 10, p. 135-135, 2006.
CARDOZO, Mauricio Mendonça. Fuga em Dor Maior: projeto de tradução do poema Todesfuge, de Paul Celan. In: XII Congreso Latinoamericano de EStudios Germanísticos, 2006, Havana, Cuba. Akten des XII. ALEG-Kongresses. Havana e Leipzig: ALEG (Associação Latino-americana de Estudos Germânicos), 2006. p. 1-13.
CARDOZO, Mauricio Mendonça. Lugares e Passagens na obra de Paul Celan. In: X Congresso Internacional da ABRALIC, 2006, Rio de Janeiro. X Congresso Internacional da Associação Brasileira de Literatura Comparada, 2006 - Simpósio de Topologias da poesia na modernidade. Rio de Janeiro: ABRALIC, 2006. v. CD. p. 1-7.
CARNEIRO, Tiago da Fonseca. Paul Celan und Ruy Barata - Das Todesmotiv im Vergleich. (Graduação Graduação em Letras - Habilitação em Língua Alemã). Universidade Federal do Pará, UFPA, 2009.
CARONE NETTO, Modesto. A poética do silêncio: João Cabral de Melo Neto e Paul Celan. São Paulo: Perspectiva, 1979. 
CARONE, Modesto. Paul Celan: A Linguagem Destruída. Folha de S. Paulo, domingo, 19 de agosto de 1973. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
CARREIRAS, Maria Antónia Trigueiros de Castro. Da criação e da morte: Peregrinação pela obra de Paul Celan. (Tese Doutorado em Psicologia Clínica). Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação de Coimbra, 2008.
CARVALHO, Tiago Nascimento de.. A síntese poética na Modernidade: uma leitura de Quasímodo,Celan e Sophia Andresen. Marginahlia, v. 2, p. 15-23, 2007.
CASAL, Amanda Mendes. "Tous passeurs infatigables": tradução e exigência fragmentária em Maurice Blanchot, tradutor de Paul Celan. (Dissertação Mestrado em Estudos de Tradução). Universidade de Brasília, UnB, 2013. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
CAVALCANTE, Ania. Shoah e Literatura: os poemas de Paul Celan do campo de trabalho forçado de Tabaresti. In: Simpósio da Pós-Graduação de Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas, 2007, São Paulo. IV Simpósio dos Pós-Graduandos. São Paulo, 2007.
COUBE, Fabio Marchon; CARVALHO, Luiz Fernando Medeiros de.. A alteridade derridiana na poética de Paul Celan: marcas do monolinguismo do outro. III SIDIS - Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
DESCOMPS, Alexandre Gabriel Claude Stanislas. An Paul Celan. Revue Alsacienne de Littérature, Strasbourg, v. 56, p. 74-74, 1996.
FELSTNER, John. Paul Celan. Poeta, superviviente, Judío. Madri: Editorial Trotta, 2002.
FERENCZY, Vivien Delitsch. Paul Celan: poemas da juventude. (Monografia Graduação em Letras). Universidade Federal do Paraná, UFPR, 2013. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
FERRAZ, Flávia Coimbra. O prosseguimento do cavar Imre Kertész e Paul Celan. In: Anais do XI Congresso Internacional da Associação Brasileira de Literatura Comparada, 2008.
FONSECA, Celso Fraga da. Poemas de Paul Celan (1920-1970). Cadernos de Literatura em Tradução, v. 1, p. 13-49, 1997.
GADAMER, Hans-Georg. Quem sou eu, quem és tu?: comentário sobre o ciclo de poemas
Hausto-Cristal de Paul Celan. [tradução e apresentação de Raquel Abi-Sâmara]. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2005.
GUERREIRO, António. O acento agudo do presente. Lisboa: Cotovia, 2000.
GUIMARAES, Beatriz da Fontoura. Trauma e Real: do que não cessa de não se escrever na poesia de Paul Celan. (Tese Doutorado em Psicologia). Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, 2013. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
GUIMARAES, Beatriz da Fontoura. Exílio e escrita em Paul Celan. In: Ana Costa; Doris Rinaldi. (Org.). A escrita como experiência de passagem. 1ª ed., Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2012, v. 1, p. 205-212.
HARBUSCH, Ute. Arte, poesia e tradução em Paul Celan: pensar Mallarmé até as últimas conseqüências. [tradução Vera Lúcia de Oliveira Lins]. Revista Alea - da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro,  v. 3, n. 2, dez. 2001. 
HITRON, Odelia. Lendo Celan no Brasil: a recepção de Celan em "Logocausto", de Leandro Sarmatz. in: Cadernos de Língua e Literatura Hebraica - USP, nº 12, 2015. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
KLOSS, Milene Vania; UMBACH, R. U. K. . A estrutura da lírica moderna em poemas de Carlos Drummond de Andrade e Paul Celan. In: XIII Salão de Iniciação Científica, 2002, Porto Alegre. XIII salão de Iniciação Científica e X Feira. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2002. v. 1. p. 642-643.
KOTHE, Flavio René. 'Encontro de Martin Heidegger e Paul Celan', comentário e tradução. Jornal de ANE, Associação Nacional de Escritores, Brasília-DF, p. 7-7, 1 jan. 2013.
KOTHE, Flavio René. Paul Celan, nosso conterrâneo II. Suplemento Literário de Minas Gerais - Imprensa Oficial, Belo Horzonte, p. 16-20, 1 nov. 2008.
KOTHE, Flavio René. Paul Celan, nosso conterrâneo I. Suplemento Literário de Minas Gerais - Imprensa Oficial, Belo Horizonte, p. 3-8, 1 set. 2008.
KOTHE, Flavio René. Paul Celan: um grito contra o holocausto, entrevista.. Riovale Jornal, Caderno 2., Santa Cruz do Sul, , v. 1, p. 4-5, 6 maio 1995.
KOTHE, Flavio René. Celan e Cabral lembrado num bom momento, resenha de A poética do silêncio de Modesto Carone.. Jornal da Tarde, São Paulo, , v. 1, p. 1-1, 17 maio 1980.
Paul Celan
KOTHE, Flavio René. Celan, a poesia da solidão, tradução e ensaio.. Suplemento Cultural de O Estado de São Paulo, São Paulo, , v. 1, p. 1 - 1, 27 abr. 1980.
KOTHE, Flavio René. Paul Celan em quatro tempos. Suplemento Literário de Minas Gerais, Imprensa Oficial., Belo Horizonte, , v. 1, p. 1-1, 14 set. 1976.
KOTHE, Flavio René. Fuga da Morte, tradução de poema de Paul Celan.. José, Revista de Arte e Literatura nº 3, Rio de Janeiro, Ed. Fontana., , v. 1, p. 1-1, 1 set. 1976.
KOTHE, Flavio René. Paul Celan, tradução e nota.. Suplemento Literário de Minas Gerais, Imprensa Oficial., Belo Horizonte, , v. 1, p. 1-1, 29 maio 1976.
KOTHE, Flavio René. Paul Celan, tradução de outros poemas e nota.. Suplemento Literário de Minas Gerais, Imprensa Oficial., Belo Horizonte, p. 1-1, 21 dez. 1974.
KOTHE, Flavio René. Paul Celan, tradução de poemas e nota. Suplemento Literário de Minas Gerais, Imprensa Oficial., Belo Horizonte, , v. 1, p. 1-1, 10 nov. 1973.
LAGES, Susana Kampff. Memória e melancolia em Paul Celan. Cisões e desdobramentos entre ?Die Todesfuge (A fuga da morte) e? Die Posaunenstelle?(O lugar das trombetas). Forum Deustch - Revista Brasileira de Estudos Germanísticos, v. 8, p. 87-99, 2004.
LAGES, Susana Kampff. Entre-lugares da tradução: releituras da tradição - Franz Kafka, Walter Benjamin e Paul Celan. In: Evando Nascimento; Maria Clara Castellões de Oliveira. (Org.). Literatura e filosofia: diálogos. Juiz de Fora;São Paulo: UFJF; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004, v. , p. 209-221.
LAGES, Susana Kampff. ?Memoria e malinconia in Paul Celan. Scissioni e sdoppiamenti tra Todesfuge e Die Posaunenstelle.?. In: XXX Convegno Interuniversitario di Bressanone [18-, 2004, Bressanone. PERON, G., VERLATO, Z. & ZAMBON, F. Memoria. Poetica, retorica e filologia della memoria.(Atti del XXX Convegno Interuniversitario di Bressanone [18-. Trento: Dipartimento di Scienze Filologiche e Storiche, 2004. p. 347-360.
LINS, Vera Lúcia de Oliveira. Paul Celan: a poesia como lugar de pensamento. Inimigo Rumor, RJ/Edit. Sette Letras, v. 5, p. 60-73, 1998.
LINS, Vera Lúcia de Oliveira. Poesia e crítica: uns e outros. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005.
LOURENÇO, Aline Praça Bernar Borges. O Meridiano da Poemática Celaniana. Linguagem em (Re)vista, v. 5, p. 86-100, 2008.
MORAES, Thiago Ponce de.. Agora sim... talvez seja eu e mais alguém - específica experiência da leitura de Paul Celan e Ricardo Reis. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, 2011.
MORAIS, Franklin Farias. Paul Celan e poética do trauma. ContraPonto, v. 5, p. 83-91, 2015.
MYSJKIN, Jan H.. Interlúdio para Paoloncelo: Paul Celan em Bucareste. in: Alea - Estudos Neolatinos, vol. 16 nº 1 - Rio de Janeiro Jan./Jun 2014. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
OBRAS completas Paul Celan. [traducción de José Luis Reina Palazón]. colección La Dicha de Enmudecer, rústica (Séptima edición). Madrid: Editorial Trotta, 2013.
OLIVEIRA, Mariana Camilo de.. "A dor dorme com as palavras": a poesia de Paul Celan nos territórios do indizível e da catástrofe (Dissertação Mestrado em Estudos Literários). Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, 2008. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
OLIVEIRA, Mariana Camilo de.. A dor dorme com as palavras. A poesia de Paul Celan nos territórios do indizível e da catástrofe. 1ª ed., Rio de Janeiro: 7Letras, 2011. v. 1. 202p.
OLIVEIRA, Mariana Camilo de.. Aquém da linguagem: o indizível na poesia de Paul Celan. Em Tese (Belo Horizonte. Impresso), v. 16, p. 1-7, 2010. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
OLIVEIRA, Mariana Camilo de.. Catástrofe e sublimação na poesia de Paul Celan: apontamentos sobre uma dor que dorme com as palavras. Psyche (São Paulo), v. 12, p. 1-11, 2008. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
PAUL Celan: no Rastro Perdido da Experiência. in: Poeticia, janeiro 2011. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
PEREIRA, Prisca Rita Agustoni de Almeida. Traduzir o silêncio: história, ética e estética na obra de Paul Celan. Fragmentos (UFSC), v. 39, p. 73-84, 2012. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
PEREIRA, Prisca Rita Agustoni de Almeida. Storia, etica ed estetica nell'opera di Paul Celan. Mosaico Italiano, v. 86, p. 14-17, 2011.
PEREZ, Juliana Pasquarelli. Offene Gedichte. Eine Studie über Paul Celans Die Niemandsrose. (Tese Doutorado em Letras - Língua e Literatura Alemã). Universidade de São Paulo, USP, 2005.
PEREZ, Juliana Pasquarelli. Offene Gedichte: Eine Studie über Paul Celans Die Niemandsrose. Würzburg: Königshausen & Neumann, 2010.
PEREZ, Juliana Pasquarelli. Zur Frage der Wirklichkeit bei Paul Celan. In: Olivia Diaz Pérez; Florian Gräfe; Juliana P. Perez; Friedhelm Schmidt-Welle. (Org.). Transformationen der Erinnerung und der Wirklichkeit in der Literatur. 1ª ed., Tübingen: Stauffenburg Verlag, 2014, v. 2, p. 100-107.
PEREZ, Juliana Pasquarelli. Merianhafte Fragen. Celan-Forschung in Brasilien?. In: Jaroslaw LOPUSCHANSKYJ; Natalija DASCHKO. (Org.). Komparatistische Forschungen zu österreichisch-ukrainischen Literatur-, Sprach- und Kulturbeziehungen. 1ª ed., Drohobytsch: , 2012, v. 1, p. 61-70.
PEREZ, Juliana Pasquarelli. Hommage an das Menschliche. Eine textgenetische Interpretation von Paul Celans Mandorla und Einem, der vor der Tür stand. In: Gellhaus, Axel; Herrmann, Karin. (Org.). Qualitativer Wechsel. Textgenese bei Paul Celan. Würzburg: Königshausen & Neumann, 2010, v., p. 115-136.
PEREZ, Juliana Pasquarelli. Paul Celan e Fernando Pessoa: antecipações de uma poetologia. In: Eduardo F. Coutinho. (Org.). Discontinuities and displacements: studies in comparatives literature. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2009, v. 1, p. 450-456.
PEREZ, Juliana Pasquarelli. Notas de Paul Celan sobre o judaísmo e poesia. Itinerarios (UNESP. Araraquara), v. 39, p. 89-101, 2014. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
PEREZ, Juliana Pasquarelli. Pausa para o efêmero: breve ensaio sobre o tempo na poesia de Paul Celan. Tempo Brasileiro, v. 176, p. 15-34, 2009.
Paul Celan
PEREZ, Juliana Pasquarelli. Abertura à presença humana: um estudo sobre Die Niemandsrose, de Paul Celan. Escritos (Fundação Casa de Rui Barbosa), v. 2, p. 255-281, 2008.
PEREZ, Juliana Pasquarelli. Abertura e hermetismo na poesia de Paul Celan. Terceira Margem, v. 15, p. 191-204, 2006.
PEREZ, Juliana Pasquarelli. À margem do abismo: uma interpretação poetológica de Zürich, zum Storchen, de Paul Celan. Pandaemonium Germanicum, v. 10, p. 113-138, 2006.
PEREZ, Juliana Pasquarelli. Vielleicht Hoffnung. Noch ein Versuch über Paul Celans Sprachgitter. Pandaemonium Germanicum, São Paulo, v. 1, p. 171-188, 2004.
PEREZ, Juliana Pasquarelli. Textgenese und Interpretation am Beispiel von Paul Celans Die Niemandsrose. In: XI. Internationaler Germanistenkongress, 2008, Paris. Akten des XI. Internationalen Germanistenkongresses Paris 2005. Bern, Berlin, Bruxelles,: Peter Lang, 2008. v. 5. p. 383-389.
PERINI, Ruy. Música e poesia: uma leitura intersemiótica de Paul Celan. Contexto (Vitória), v. XII, p. 109-126, 2004. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
PINHEIRO, Laíse Helena Barbosa Araújo Sales. Poesia de Paul Celan: um evento em três tempos. In: 6 Seminário Brasileiro de História da Historiografia - SNHH, 2012, Mariana - MG. 6º Seminário Brasileiro de História da Historiografia - O giro-linguístico e a historiografia: balanço e perspectivas, 2012.
PRESSLER, Gunter Karl. As Traduções do Poema Todesfuge (Fuga de Morte) de Paul Celan: sua Expressividade em duas Línguas. In: Julia Mann. Uma Vida entre duas Culturas, 1999, Belém, 1999.
ROSENTHAL, Erwin T.. O desafio de traduzir Paul Celan. Tradução & Comunicação – Revista Brasileira de Tradutores, São Paulo, n. 7, p. 163-168, dez. 1985.
ROSSI, Ana Helena. Deux lieux poétiques: Ingeborg Bachmann et Paul Celan. Cahiers de Critique de Poésie, v. 1, p. 152-156, 2010.
ROSSI, Ana Helena. Sur Ingeborg, Paul Celan et Giuseppe Ungaretti. Cahiers de Critique de Poésie, v. 21, p. 156-156, 2011.
SANTANA JÚNIOR, Fernando Oliveira. Linguagens Fraturadas: Representação da Shoá nas Poéticas de Paul Celan e de Leandro Sarmatz. Revista Vértices, v. Único, p. 73-87, 2012.
SANTIAGO, José Antonio. La doble lectura de H. M. Enzensberger acerca de dos poeta hermanados: Paul Celan y César Vallejo. in: Poligrafías - Revista de teoría literaria y literatura comparada, nº 2, otoño 2012. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
SCHMITT, Elise. Lírica alemã do pós-guerra: Obscuridade ou hermetismo na poesia de Paul Celan. Anais da ... Jornada de Estudos Linguísticos e Literários, v. 1, p. 135-149, 2014.
SILVA, Ana Cristina Pinto da.. Pensamento, crítica e experiência na poesia. Revista Doc, Ano VIII, nº 3 - Janeiro/Junho 2007. Disponível no link. (acessado em 5.4.2016).
SOUSA, Marcos Eduardo de.. ?Ninguém testemunha pelas testemunhas?: Paul Celan e Theodor Adorno, pensar a literatura após Auschwitz. In: Anais 4º Congresso Nacional ? 1° Internacional ? de Letras, Artes e Cultura: Linguagem, Memória e Arte - Interfaces, 2013, São João del-Rei - MG, 2013.
TEIXEIRA, Marcelo Augusto Pinto; COUTINHO, L. E. B. . Viagens desoladas:a poesia de exílio na voz do inaudito em Paul Celan e processos migratóriosna poesia de T.S. Eliot. In: Luiz Edmundo Bouças Coutinho e Flora de Paoli. (Org.). Corpos letrados, corpos viajantes. 1ª ed., Rio de Janeiro: Confraria dos Ventos, 2011, v. 1, p. 1-277.


"E grita toquem mais doce a música da morte a morte é um mestre/ Que veio da Alemanha(…)"
- Paul Celan, em "Sete rosas mais tarde". [tradução João Barrento e Yvete Centeno]. Lisboa: Edições Cotovia, 2006. p. 16, 17.


Paul Celan, por Malerei Keramik
OUTRAS FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA
:: paul celan | escamandro
:: Cultura Pará Art
:: ACULTURAR - Paul Celan - alguns poemas
:: Biblioteca Versila
:: Zivabdavid (blog).
Em inglês
:: Paul Celan: The Poetry Foundation
:: Paul Celan | Academy of American Poets



© Obra em domínio público

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske em colaboração com José Alexandre da Silva

=== === ===

Trabalhos sobre o autor:
Caso, você tenha algum trabalho não citado e queira que ele seja incluído - exemplo: livro, tese, dissertação, ensaio, artigo - envie os dados para o nosso "e-mail de contato", para que possamos incluir as referências do seu trabalho nesta pagina. 

Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten; SILVA, José Alexandre da. (pesquisa, seleção e organização). Paul Celan - o poeta trágico. Templo Cultural Delfos, abril/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
** Página atualizada em 7.5.2018.



Direitos Reservados © 2016 Templo Cultural Delfos

COMPARTILHE NAS SUAS REDES