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William Blake - o poeta e o visionário

William Blake - watercolor copy Thomas Phillips (detalhe)


William Blake nasceu em Londres, a 28 de novembro de 1757, filho de um comerciante. Seu pai, adepto do visionário Swedenborg, poupou-o da pedagogia oficial, incentivando a seguir seu próprio caminho e desenvolver seus dotes artísticos. As primeiras manifestações de vidência surgiram no futuro poeta aos quatro anos, quando vislumbrou a face de Deus na janela e deu um grito. Mais tarde, ao passear pelos campos de Peckam, encontrou uma árvore repleta de anjos de asas iridescentes, e num descampado avistou Ezequiel calmamente sentado. Ao relatar estes fatos à mãe, acabou por levar uma surra. Alheio às escolas, leu Swedenborg, Jacob Boheme, Paracelso e livros de ocultismo, enquanto caminhava pelos campos e riachos de Bayswater e Surrey.

Resolveu tornar-se um pintor, mas os altos custos desta arte fizeram-no optar pela técnica da gravura. Seu pai então levou-o ao atelier de Rylands, um dos mais renomados artistas da época, porém, ao fitar-lhe atentamente, Blake segredou ao pai: “Não gosto da cara deste homem, tem todo o jeito de quem vai morrer na forca”. E doze anos depois cumpriu-se a sua profecia.

Passa a ler Spencer, os Elizabetanos, Locke, Bacon e Winnckelmann. Freqüenta o estúdio de Basire, onde inicia-se na arte da gravura. Aos 21 anos, mestre em sua arte, começa a viver como gravurista. Conhece Catherine Boucher, com quem se casa a 18 de agosto de 1782.

William Blake, by Thomas Phillips
Em 1784, associa-se a James Parker e abre um atelier de impressão. Imprimia seus livros como fazia suas gravuras. Os textos vinham sempre acompanhados de ilustrações e o autor fazia questão de diferenciar uma cópia da outra, tomando cada uma um exemplar único.

Do Livro de Urizen, existem seis reproduções diferentes que, embora possuindo o mesmo texto, diferem quanto à coloração e ilustrações. Independente dos preconceituosos editores de sua época, gravava e imprimia livremente seu trabalho, através de minucioso domínio técnico da arte da gravura, da qual foi um revolucionário. Em 1787, desenvolve um método totalmente novo de prensagem que, além de outras inovações, permitia utilizar todos os matizes de cor possíveis. Este insólito processo, denominado “Impressão iluminada”, foi realizado inspirado numa visão do espectro de seu falecido irmão Robert, que revelou-lhe então o bizarro engenho.

Em 1800, deixa Londres e parte para Felphan, no condado de Sussex, onde passa a residir num “cottage”. lá desenvolve o poema “Milton” e inicia uma série de gravuras encomendadas por William Hayley, com quem acabará por se incompatibilizar.

A Inglaterra entra em guerra com a França, e uma onda de patriotismo varre o pais. O poeta envolve-se numa discussão com um soldado, e é levado à corte sob a acusação de agressão e de proferir injúrias, sendo absolvido em 1804. Após este desagradável incidente, retorna a Londres, onde decide entregar-se totalmente à arte, pois pensa ter aprendido com Hayley a maneira de enriquecer às custas do próprio trabalho. Porém, logo desilude-se e enfrenta uma de suas maiores crises financeiras.

A pedido do gravurista Gromek, ilustra “The Grave” que, sob seus protestos, será gravado por Schiavonetti. Por uma mísera quantia, o desonesto Gromek adquire os desenhos do poeta, feitos especialmente para os “Canterburry Pilgrims”, de Chaucer, e os descreve (ou provavelmente os mostra) a Stothard, que criará suas gravuras inspirado nestas informações.

Os “Canterbury Pilgrims”, de Stothard, são expostos com grande sucesso de público e crítica. Gromek então envia uma carta insultuosa a Blake. 

A 19 de malo de 1809, o poeta expõe seus “Canterbury Pilgrims”, originais. mostra que recebe um discreto número de pessoas e torna-se alvo de uma terrível crítica do periódico “The Examiner”. Blake, sentindo-se desprezado e injustiçado, continua a escrever “Jerusalém” e modifica o título do poema “Vala” para “Os Quatro Zoas”. Em 1812, exibe seus trabalhos na Associação dos Aquarelistas e, entre graves problemas financeiros, sobrevive graças às ilustrações que faz para o catálogo das porcelanas Wedgwood. O poema “Jerusalém”, finalizado em 1812, é muito bem recebido nos meios culturais e, cercado pelos amigos e jovens artistas admiradores de sua obra, passa seus últimos anos, morrendo em 1827, quando iniciava a impressão de seu “Dante”.
:: Fonte: LPM Editores (acessado em 23.7.2016) 



William Blake

OBRAS DE WILLIAM BLAKE EM PORTUGUÊS

BRASIL
:: Núpcias do céu e do infernoWilliam Blake. [tradução Oswaldino Marques; ilustrações de Blake; e xilogravura de capa de Manuel Segalá]. Coleção Maldoror 7. São Paulo: Civilização Brasileira|Philobiblion, 1956 {edição feita em prelo manual}; reedição Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.
:: Escritos de William Blake. [tradução de Alberto Marsicano & Regina de Barros Carvalho]. Série Rebeldes Malditos. Porto Alegre: L&PM, 1984.
:: William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli; editor J.C. Ismael]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1984; 2ª ed., 1993.
:: Canções da inocência e da experiênciaWilliam Blake. [tradução e prefácio de Antonio de Campos]. Palmares/Bagaço: Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, 1987.
:: O matrimônio do céu e do inferno| O livro de thelWilliam Blake. [tradução de José Antônio Arantes]. São Paulo: Iluminuras, 1987; 2ª ed., 2000; 3ª ed., 2007.
:: Tudo o que vive é sagrado – William Blake & D.H. Lawrence. [seleção, tradução e ensaios de Mário Alves Coutinho]. Belo Horizonte: Crisálida, 2001; 2ª ed., 2010.
:: Matrimônio do céu e do infernoWilliam Blake. [tradução de Júlia Vidili]. São Paulo: Madras, 2004.
:: Canções da inocência e canções da experiênciaWilliam Blake. [tradução de Gilberto Sorbini & Weimar de Carvalho]. São Paulo: Disal, 2005.
:: Canções da inocência e da experiênciaWilliam Blake. [tradução de Renato Suttana]. Coleção Fúrias de Orfeu. Sol Negro, s/d. 2005; 2ª ed., revista e atualizada. 2011. Disponível no link. (acessado em 23.7.2016).
:: Canções da inocência e da experiênciaWilliam Blake[tradução, prefácio e notas de Mário Alves Coutinho & Leonardo Gonçalves]. Belo Horizonte: Crisálida, 2005.
:: O casamento do céu e do inferno e outros escritos. William Blake. [seleção, tradução e apresentação de Alberto Marsicano; revisão de John Milton]. Edição bilíngue. Porto Alegre: Coleção L&PM Pocket, 2007.
:: O casamento do céu e do inferno. William Blake[organização e tradução de Ivo Barroso]. São Paulo: Hedra, 2008.
:: JerusalémWilliam Blake[tradução de Saulo Alencastre]. São Paulo: Hedra, 2010.
:: Milton. William Blake. [tradução Manuel Portela]. São Paulo: Editora Nova Alexandria, 2014.
:: Visões das filhas de Albion. William Blake. [tradução de Márcio Simões]. Edição Bilíngue. Coleção Fúrias de Orfeu. Sol Negro, s/d.

Ilustrações
:: Paraíso reconquistado. John Milton. [tradução Guilherme Gontijo Flores; ilustrações William Blake]. São Paulo: Editora Cultura, 2015.

Em revistas
:: O matrimônio do céu e do infernoWilliam Blake. [tradução de Dênis Urgal]. in: Revista Rizoma, 2002. 
:: O fantasma de Abel. William Blake.  [tradução de Ivan Schneider]. in: Revista Lucifer Luciferax, 6. 2010.

PORTUGAL
:: Primeiro livro de UrizenWilliam Blake[tradução de João Almeida Flor]. Lisboa: Assírio e Alvim: 1983.
:: A águia e a toupeira: poemas de William Blake. [Introdução, selecção e notas de Hélio Oswaldo Alves]. Guimarães: Pedra Formosa, 1996.
:: Poemas do manuscrito pickering seguidos d’os Portões do ParaísoWilliam Blake[tradução de Manuel Portela]. Lisboa: Antígona, 1996.
:: Uma ilha na luaWilliam Blake[tradução, prefácio e notas de Manuel Portela]. Lisboa: Antígona, 1996.
:: Sete livros iluminadosWilliam Blake[tradução de Manuel Portela]. Lisboa: Antígona, 2005.
:: Quatro visões memoráveisWilliam Blake[tradução de Manuel Portela]. Lisboa: Antígona, 2006.
:: Canções da inocência e da experiênciaWilliam Blake[tradução de Manuel Portela]. 2ª ed., Lisboa: Antígona, 2007.
:: MiltonWilliam Blake[tradução, introdução e notas de Manuel Portela]. Lisboa: Antígona, 2009.
:: Canções da inocência e de experiênciaWilliam Blake. [tradução de Jorge Vaz de Carvalho]. Lisboa: Assírio & Alvim, 2009. 


William Blake, por  Thomas Phillips (detalhe)

POEMAS SELECIONADOS DE WILLIAM BLAKE (EDIÇÃO BILÍNGUE)

De ESBOÇOS POÉTICOS
   À Estrela Vespertina

Anjo da tarde, de formosa cabeleira,
Agora que nos montes pousa o sol, acende
A tocha fúlgida do amor; põe a radiante
Coroa, e a nós sorri no leito vespertino!
A nosso amor sorri! E, enquanto puxas no alto
As cortinas azuis, esparze o teu argênteo
Orvalho em cada flor que fecha os doces olhos
No sono, em tempo certo. E durma o vento oeste
Por sobre o lago. O teu piscar fale silêncio,
Lave à penumbra tua prata. Muito cedo
Te vais, então ao largo se enraivece o lobo,
E o leão dardeja nos negrores da floresta.
Nossos rebanhos trazem teu sagrado orvalho
Na lã: com a influência tua, 
vem, protege-os.
.

From POETICAL SKETCHES
   To the Evening Star

Thou fair-hair'd angel of the evening,
Now, while the sun rests on the mountains, light
Thy bright torch of love; thy radiant crown
Put on, and smile upon our evening bed!
Smile on our loves; and, while thou drawest the
Blue curtains of the sky, scatter thy silver dew
On every flower that shuts its sweet eyes
In timely sleep. Let thy west wind sleep on
The lake; speak silence with thy glimmering eyes,
And wash the dusk with silver. Soon, full soon,
Dost thou withdraw; then the wolf rages wide,
And then the lion glares thro` the dun forest:
The fleeces of our flocks are cover'd with
Thy sacred dew: protect them with thine influence.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

Canção
De campo em campo errava eu docemente,
Provando todo o orgulho do verão,
Até que, a deslizar na luz do sol,
Do Príncipe do Amor tive a visão!

Mostrou-me lírios para meus cabelos,
Rosas coradas para minha testa;
Guiou-me pelos seus jardins formosos
Onde cultiva uma dourada festa.

Molha-me as asas o rocio de maio,
Febo me insufla o estro vocal que evola;
Com sua rede de seda ele me apanha,
E no ouro prende-me de sua gaiola.

Agrada-lhe sentar-se e ouvir meu canto,
Depois brinca comigo, e zomba, e ri;
Depois, abrindo as asas minhas de ouro,
Mofa da liberdade que perdi.
.

Song
How sweet I roam'd from field to field
And tasted all the summer's pride, 
Till I the Prince of Love beheld
Who in the sunny beams did glide! 

He showed me lilies for my hair, 
And blushing roses for my brow; 
He led me through his gardens fair
Where all his golden pleasures grow. 

With sweet May dews my wings were wet, 
And Phoebus fired my vocal rage; 
He caught me in his silken net, 
And shut me in his golden cage. 

He loves to sit and hear me sing, 
Then, laughing, sports and plays with me; 
Then stretches out my golden wing, 
And mocks my loss of liberty.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

Canção demente
A noite é muito fria,
Selvagem uiva o vento;
Vem, Sono, e me alivia
De tanto sofrimento:
Mas eis que espreita o sol nascente
Na escarpa do oriente,
E eis que a passarada da aurora
À terra ignora.

Vê! Para a abóbada
Do céu pavimentado,
Repleto de tristeza
O meu canto é levado:
Umedece os olhos do dia,
Os ouvidos da noite invade,
Enlouquece a ventania...
E brinca a tempestade.

Qual diabo por nuvem coberto,
Com angústia ululante,
Sigo a noite de perto
E irei com ela adiante;
Volto as costas à aurora,
De onde o consolo aflora,
Que a luz me agarra a mente
Com dor fremente.
.

Mad song
The wild winds weep,
And the night is a-cold;
come hither, Sleep,
And my griefs infold:
But lo! the morning peeps
Over the eastern steeps,
And the rustling birds of dawn
The earth do scorn.

Lo! to the vault
Of pavèd heaven,
With sorrow fraught
My notes are driven:
They strike the ear of night,
Make weep the eyes of day;
They make mad the roaring winds,
And the tempests play.

Like a fiend in a cloud
With howling woe,
After night I do crowd,
And with night will go;
I turn my back to the east,
From whence comforts have increas'd;
For light doth seize my brain
With frantic pain.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

Às musas
Quer sobre os píncaros umbrosos de Ida,
          Quer nas luzentes câmaras da Aurora,
As câmaras do sol, onde sem vida
          A antiga melodia jaz agora,

Quer formosas andeis no Céu a errar,
          Quer da terra nos ângulos viçosos,
Quer nos recantos azulados do ar
          Onde nascem os ventos melodiosos,

Quer divagueis por rochas de cristal,
          Quer no seio do mar traceis a via
Por entre muitos bosques de coral,
          Formosas Nove, sem a Poesia,

O antigo amor deixastes, que apreciaram
          Em vós todos os bardos do passado!
Já quase as cordas lânguidas cessaram,
          Poucos as notas são, o som forçado!
.

To the muses
Whether on Ida's shady brow, 
         Or in the chambers of the East, 
The chambers of the sun, that now 
         From ancient melody have ceas'd; 

Whether in Heav'n ye wander fair, 
         Or the green corners of the earth, 
Or the blue regions of the air, 
         Where the melodious winds have birth; 

Whether on crystal rocks ye rove, 
         Beneath the bosom of the sea 
Wand'ring in many a coral grove, 
         Fair Nine, forsaking Poetry! 

How have you left the ancient love 
         That bards of old enjoy'd in you! 
The languid strings do scarcely move! 
         The sound is forc'd, the notes are few! 
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

De CANÇÕES DA INOCÊNCIA 
Introdução

A flautear em vale agreste,
A flautear canção feliz,
Das nuvens uma criança
Vem sorridente e me diz:

"Toca a canção de um Cordeiro!"
Toquei-a com alegria.
"Flautista, toca de novo."
Toquei: a chorar me ouvia.

"Deixa a flauta, a fácil flauta;
Canta os cantos de alegria."
Cantei tudo o que tocara;
De gozo a chorar me ouvia.

"Senta-te e escreve, flautista,
Num livro, a que possam ler."
E ela sumiu-me da vista:
E um junco então fui colher,

E fiz uma pena rude,
E manchei as águas mansas,
E escrevi minhas canções
Que hão de alegrar as crianças.
.

From SONGS OF INNOCENCE
Introduction

Piping down the valleys wild 
Piping songs of pleasant glee 
On a cloud I saw a child,
And he laughing said to me, 

“Pipe a song about a Lamb”; 
So I piped with merry chear; 
“Piper pipe that song again”— 
So I piped, he wept to hear. 

“Drop thy pipe thy happy pipe 
Sing thy songs of happy chear”; 
So I sung the same again 
While he wept with joy to hear. 

“Piper, sit thee down and write 
In a book that all may read”— 
So he vanish'd from my sight. 
And I pluck'd a hollow reed,

And I made a rural pen, 
And I stain'd the water clear, 
And I wrote my happy songs 
Every child may joy to hear.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§
The lamb- William Blake

O cordeiro
Cordeirinho, quem te fez?
Tu não sabes quem te fez?
Deu-te vida e esse relvado
Junto aos arroios do prado?
Deu-te a lã clara e macia
Do manto que delicia?
E a terna voz com que bales,
A alegrar todos os vales?
Cordeirinho, quem te fez?
Tu não sabes quem te fez?

Cordeirinho, vou dizer-te.
Cordeirinho, vou dizer-te.
Teu próprio nome o proclama,
Pois Cordeiro ele se chama.
É figura meiga e mansa,
Que também se fez criança.
Tu, cordeirinho, e eu, menino,
Temos seu nome divino.
Cordeiro, Deus te abençoe.
Cordeiro, Deus te abençoe.
.

The lamb
   Little lamb, who made thee?
   Does thou know who made thee?
Gave thee life & bid thee feed,
By the stream & o’er the mead;
Gave thee clothing of delight,
Softest clothing, woolly, bright;
Gave thee such a tender voice,
Making all the vales rejoice!
   Little lamb, who made thee?
   Does thou know who made thee?

   Little lamb, I’ll tell thee,
   Little lamb, I’ll tell thee!
He is callèd by thy name.
For He calls Himself a Lamb:
He is meek, and He is mild,
He became a little child:
I a child, and thou a lamb,
We are callèd by His name.
   Little lamb, God bless thee.
   Little lamb, God bless thee.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

O negrinho
No sul inóspito mamãe me deu à luz,
E eu sou preto, mas oh! a alma que tenho é branca;
Branca tal como um anjo é a criança inglesa,
Mas eu sou preto, como o que em negror se tranca.

Minha mãe me ensinava à sombra de grande árvore,
E, sentando-se à frente do calor do dia,
Tomava-me em seu colo e dava-me um beijinho,
E depois, indicando o leste, me dizia:

“Observa o sol nascente! É ali que mora Deus,
E irradia-nos luz, calor nos irradia;
Árvores, flores, animais e homens recebem
Consolo de manhã, prazer ao meio-dia.

“Somos postos na terra por um breve espaço,
Para que a luz do amor saibamos suportar;
E este rosto queimado e nossos corpos negros 
São só uma nuvem, uma sombra no pomar.

“Quando soubermos suportar bem o calor,
A nuvem some, e Deus dirá: “Vós, meu tesouro,
Deixai agora esse pomar, e quais cordeiros
Jubilai ao redor de minha tenda de ouro.””

Assim falava minha mãe, e me beijava;
E assim eu disse ao inglesinho: Quando eu for
Livre da nuvem negra, e ele da nuvem branca,
Quais cordeiros rodeando a tenda do Senhor,

Vou protegê-lo do calor até que, alegre,
Nos joelhos do Pai aprenda a se apoiar;
E então vou afagar os cachos seus de prata,
E serei tal como ele, e a mim ele há de amar.
.

The little black boy
My mother bore me in the southern wild, 
And I am black, but O! my soul is white; 
White as an angel is the English child,
But I am black, as if bereav'd of light. 

My mother taught me underneath a tree, 
And sitting down before the heat of day, 
She took me on her lap and kissed me, 
And pointing to the east, began to say: 

“Look on the rising sun: there God does live, 
And gives his light, and gives his heat away;
And flowers and trees and beasts and men receive 
Comfort in morning, joy in the noonday. 

“And we are put on earth a little space, 
That we may learn to bear the beams of love;
And these black bodies and this sunburnt face 
Is but a cloud, and like a shady grove. 

“For when our souls have learn'd the heat to bear, 
The cloud will vanish; we shall hear his voice,
Saying: “Come out from the grove, my love & care, 
And round my golden tent like lambs rejoice.””

Thus did my mother say, and kissed me; 
And thus I say to little English boy:
When I from black and he from white cloud free, 
And round the tent of God like lambs we joy,

I'll shade him from the heat, till he can bear 
To lean in joy upon our Father`s knee; 
And then I'll stand and stroke his silver hair, 
And be like him, and he will then love me.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

A floração
Alegre, alegre Pardal!
Sob a folhigem tão verde,
Uma floração perfeita
Te vê, às flechas igual,
Buscar teu berço natal
Junto a meu peito.

Belo, belo Pintarroxo!
Sob a folhagem tão verde,
Uma floração perfeita
Ouve o teu soluço baixo,
Belo, belo Pintarroxo,
Junto a meu peito.
.

The blossom 
Merry, merry Sparrow!
Under leaves so green
A happy Blossom 
Sees you swift as arrow
Seek your cradle narrow
Near my Bosom.

Pretty, pretty Robin!
Under leaves so green
A happy Blossom
Hears you sobbing, sobbing,
Pretty, pretty Robin,
Near my Bosom.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

O limpa-chaminés
Ao morrer minha mãe, eu era criancinha;
E meu pai me vendeu quando ainda a língua minha
Dizia “vale-dor!” De “varredor” não fujo,
Pois limpo chaminés, e sigo sempre sujo.

Chorou Tom Dacre ao lhe rasparem o cabelo,
Cacheado como um cordeirinho. E eu disse ao vê-lo:
“Não chores, Tom! Porque a fuligem não mais deve
Manchar, como antes, teu cabelo cor de neve.”

E ele ficou quietinho; e nessa noite, então,
Enquanto ele dormia, teve uma visão: 
Viu Dick, Joe, Ned e Jack, – e mil colegas mais, –
Encerrados em negros caixões funerais. 

E um anjo apareceu, com chave refulgente,
E abriu os seus caixões, soltando-os novamente;
E correm na verdura, a rir, para o arrebol,
E se banham num rio e reluzem ao sol.

Brancos e nus, sem mais sacolas e instrumentos,
Eis que sobem às nuvens, brincam sobre os ventos;
E esse Anjo disse a Tom que, se ele for bonzinho,
Terá Deus como pai, e todo o seu carinho.

E assim Tom despertou; e, antes do sol raiar,
Com sacolas e escovas fomos trabalhar.
Feliz, Tom nem sentia o frio matinal;
Quem cumpre o seu dever não teme nenhum mal.
.

The chimney sweeper
When my mother died I was very young, 
And my father sold me while yet my tongue 
Could scarcely cry " 'weep! 'weep! 'weep! 'weep!" 
So your chimneys I sweep & in soot I sleep. 

There's little Tom Dacre, who cried when his head 
That curl`d like a lambs back, was shav`d, so I said, 
"Hush, Tom! never mind it, for when your head's bare, 
You know that the soot cannot spoil your white hair." 

And so he was quiet, & that very night, 
As Tom was a-sleeping he had such a sight! 
That thousands of sweepers, Dick, Joe, Ned, & Jack, 
Were all of them lock`d up in coffins of black; 

And by came an Angel who had a bright key, 
And he open`d the coffins & set them all free; 
Then down a green plain, leaping, laughing they run, 
And wash in a river and shine in the sun; 

Then naked & white, all their bags left behind, 
They rise upon clouds, and sport in the wind. 
And the Angel told Tom, if he'd be a good boy, 
He'd have God for his father & never want joy. 

And so Tom awoke; and we rose in the dark 
And got with our bags & our brushes to work. 
Tho` the morning was cold, Tom was happy & warm; 
So if all do their duty, they need not fear harm.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§
Blake  - The divine image

A imagem divina
Para Mercê, Piedade, Paz e Amor
Todos apelam na aflição;
E a essas grandes virtudes de deleite
Dão como paga a gratidão.

Porque Mercê, Piedade, Paz e Amor 
São Deus, o nosso Pai amado;
E a Mercê, a Piedade, a Paz, o Amor
São o Homem, seu filho e cuidado.

Pois a Mercê tem coração humano,
Tem a Piedade humano rosto,
O Amor, a humana forma divinal,
E a Paz, enfim, a humana veste.

Todo homem, pois, de todos os quadrantes,
Que na aflição apelos faz,
Apela à humana forma divinal,
Amor, Mercê, Piedade, Paz.

Todos devem amar a forma humana,
Sejam pagãos, turcos, judeus;
Onde moram Mercê, Amor, Piedade,
Ali também mora Deus.
.

The divine image
To Mercy, Pity, Peace, and Love, 
All pray in their distress:
And to these virtues of delight 
Return their thankfulness. 

For Mercy, Pity, Peace, and Love, 
Is God, our father dear: 
And Mercy, Pity, Peace, and Love, 
Is Man, his child and care. 

For Mercy has a human heart, 
Pity, a human face, 
And Love, the human form divine, 
And Peace, the human dress. 

Then every man, of every clime, 
That prays in his distress, 
Prays to the human form divine, 
Love, Mercy, Pity, Peace. 

And all must love the human form, 
In heathen, Turk, or Jew. 
Where Mercy, Love, & Pity dwell, 
There God is dwelling too. 
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§


Infant joy

Alegria infantil
“Não tenho nome,
Tenho apenas dois dias.”
Que nome então irei dar-te?
“Eu sou feliz,
Já isso o diz.”
Seja alegria a tua parte!

Bela alegria,
Doce alegria, de apenas dois dias!
Alegria irei chamar-te.
Sorris enquanto
Feliz eu canto:
Seja alegria a tua parte!
.

Infant joy
“I have no name: 
I am but two days old.”
What shall I call thee? 
“I happy am, 
Joy is my name.”
Sweet joy befall thee! 

Pretty joy! 
Sweet joy but two days old, 
Sweet joy I call thee:
Thou dost smile,
I sing the while, 
Sweet joy befall thee!
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

De CANÇÕES DA EXPERIÊNCIA 
Introdução

Ouvi a voz do Bardo!
O Ontem, o Hoje, o Amanhã leva consigo!
Ele ouviu o anunciado
Pelo Verbo Sagrado,
Que caminhou pelo pomar antigo,

A chorar e a chamar
Sobre o orvalho da noite a alma perdida;
Que pode controlar
Até o polo estelar,
E também renovar a luz caída!

“Retorna, oh Terra, agora!
Deixa a relva orvalhada em que tu dormes;
A noite vai-se embora,
E já desponta a aurora
Das massas sonolentas e disformes.

“Não vás mais te afastar.
Por que alguém como tu se afastaria?
Todo o chão estelar,
Toda a conta do mar
Hão de ser teus até que rompa o dia.”
.

From SONGS OF EXPERIENCE
Introduction

Hear the voice of the Bard! 
Who Present, Past, & Future sees; 
Whose ears have heard
The Holy Word
That walk'd among the ancient trees,

Calling the lapsèd Soul 
And weeping in the evening dew;
That might control
The starry pole,
And fallen, fallen light renew! 

“O Earth, O Earth, return! 
Arise from out the dewy grass; 
Night is worn, 
And the morn 
Rises from the slumberous mass. 

“Turn away no more; 
Why wilt thou turn away? 
The starry floor 
The wat`ry shore 
Is giv'n thee till the break of day.”
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

A Resposta da terra
Sua fronte do negror
A Terra ergueu, negror tétrico e triste;
Fugiu o seu fulgor
(É de pedra o pavor!), 
E angústia cinza em seu cabelo existe.

“Prisioneira do mar, 
Guarda o Ciúme Estelar o meu reduto;
Sentindo o frio polar,
Grisalha, a lamentar,
O Pai de Homens Antigos ora escuto.

“Pai de homens, egoísta!
Temor ciumento, tão cruel e rude!
Suportam um deleite
Que à noite se sujeite
As virgens da manhã, da juventude?

“Não ri a primavera
Ao ver a florescência ou o botão?
Acaso o semeador
Semeia quando é noite,
Ou lavra o lavrador na escuridão?

“Rompe o duro grilão
Que me envolve e que os ossos me congela!
Sempre egoísta e vão!
Eterna maldição
Que o livre Amor à servitude atrela.”
.

Earth's answer
Earth rais'd up her head, 
From the darkness dread & drear. 
Her light fled: 
( Stony dread! )
And her locks cover'd with grey despair. 

“Prison'd on wat`ry shore 
Starry Jealousy does keep my den, 
Cold and hoar 
Weeping o'er 
I hear the Father of the ancient men. 

“Selfish father of men, 
Cruel, jealous, selfish fear! 
Can delight 
Chain'd in night 
The virgins of youth and morning bear?

“Does spring hide its joy 
When buds and blossoms grow? 
Does the sower
Sow by night,
Or the plowman in darkness plow? 

“Break this heavy chain 
That does freeze my bones around, 
Selfish! vain! 
Eternal bane! 
That free Love with bondage bound.”
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§
The Clod & the Pebble

O torrão e o seixo
“O Amor jamais a si quer contentar,
Não tem cuidado algum com o que é seu;
Sacrifica por outro o bem-estar,
E, a despeito do Inferno, erige um Céu.”

Esse era o canto de um Torrão de Terra,
Pisado pelas patas da boiada;
Mas um Seixo, nas águas do regato,
Modulava esta métrica adequada:

“O Amor somente a si quer contentar,
Atar alguém ao próprio gozo eterno;
Sorri quando o outro perde o bem-estar,
E, a despeito do Céu, ergue um Inferno.”
.

The clod & the pebble
“Love seeketh not Itself to please,
Nor for itself hath any care;
But for another gives its ease,
And builds a Heaven in Hell’s despair.”

So sang a little Clod of Clay,
Trodden with the cattle’s feet;
But a Pebble of the brook,
Warbled out these meters meet:

“Love seeketh only Self to please,
To bind another to its delight;
Joys in another’s loss of ease,
And builds a Hell in Heaven’s despite.”
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§
Blake  -  The-Chimney-Sweeper

O limpa-chaminés 
Na neve há um pontinho bem negro que vai
E diz “varre-dor!” com os tons do pesar!
“Responde: onde estão tua mãe e teu pai?”
“Os dois foram juntos à Igreja rezar.

“Como entre os espinhos mostrei que era forte,
E ria no inverno, entre a neve a tombar,
Vestiram a mim com as vestes da morte,
E a mim ensinaram os tons do pesar.

E, como feliz eu cantei e dancei,
Acharam que tudo comigo é pilhéria;
E louvam a Deus e Seu Padre e Seu Rei,
Que formam um Céu com a nossa miséria.” 
.

The Chimney Sweeper
A little black thing among the snow
Crying "weep, 'weep," in notes of woe! 
"Where are thy father & mother? say?" 
"They are both gone up to the church to pray. 

“Because I was happy upon the heath, 
And smil'd among the winter's snow, 
They clothèd me in the clothes of death, 
And taught me to sing the notes of woe. 

“And because I am happy, & dance & sing, 
They think they have done me no injury, 
And are gone to praise God & His Priest & King, 
Who make up a heaven of our misery."
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

A rosa doente
Oh rosa, estás doente!
O verme que se aventa
Invisível à noite
Nos uivos da tormenta

Encontrou o teu leito
De prazer carmesim;
E seu escuro amor secreto
À tua vida põe fim.
.

The sick rose
O Rose, thou art sick!
The invisible worm
That flies in the night
In the howling storm

Has found out thy bed
Of crimson joy,
And his dark secret love
Does thy life destroy.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

O tigre
Tigre, tigre, flamante fulgor
Nas florestas de denso negror,
Que olho imortal, que mão poderia
Te moldar a feroz simetria?

Em que altura ou abismo sem par
Ardeu o fogo do teu olhar?
Com quais asas sobe ele ao que clama?
Quais as mãos que seguram a chama?

Qual ombro poderia, ou qual arte,
Essas fibras do peito forjar-te?
E, ao pulsar desse teu coração,
Que pés horrendos, que horrenda mão?

Qual o martelo? Qual a corrente?
Que fornalha fundiu a tua mente?
Qual a bigorna? Os punhos são quais,
Que atenazam terrores mortais?

Quando os astros, inermes de espanto,
Salpicaram os céus com seu pranto,
Por acaso sorriu teu obreiro?
Quem te fez, fez também o Cordeiro?

Tigre, tigre, flamante fulgor
Nas florestas de denso negror,
Que olho imortal, que mão ousaria
Te moldar a feroz simetria?
.

The tyger
Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye 
Could frame thy fearful symmetry? 

In what distant deeps or skies. 
Burnt the fire of thine eyes? 
On what wing dare he aspire? 
What the hand, dare seize the fire? 

And what shoulder, & what art, 
Could twist the sinews of thy heart? 
And when thy heart began to beat, 
What dread hand? & what dread feet? 

What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain? 
What the anvil? what dread grasp 
Dare its deadly terrors clasp! 

When the stars threw down their spears, 
And water'd heaven with their tears,
Did he smile his work to see? 
Did he who made the Lamb make thee? 

Tyger! Tyger! burning bright 
In the forests of the night,
What immortal hand or eye 
Dare frame thy fearful symmetry?
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

Ah! girassol
Ah! Girassol, do tempo cansado,
Tu que medes do Sol a passagem,
À procura do clima dourado
Onde finda o viandante a viagem!

Aonde a Moça em mortalha de neve,
Aonde o Jovem que ardeu por amar
Sonham, vindos da tumba, ir em breve, –
Lá o meu Girassol quer chegar.
.

Ah sun-flower
Ah Sun-flower! weary of time,
Who countest the steps of the Sun,
Seeking after that sweet golden clime
Where the traveller's journey is done;

Where the Youth pined away with desire,
And the pale Virgin shrouded in snow,
Arise from their graves and aspire,
Where my Sun-flower wishes to go.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§
The garden of love - Blake
O jardim do amor
Eu fui ao Jardim do Amor,
E vi algo jamais avistado:
No centro havia uma Capela,
Onde eu brincava no relvado.

Tinha os portões fechados, e "Proibido" 
Era a legenda sobre a porta escrita.
Voltei-me então para o Jardim do Amor,
Que outrora dera tanta flor bonita,

E vi que estava cheio de sepulcros,
E muitas lápides em vez de flores;
E em negras vestes hediondas os Padres faziam rondas,
E atavam com nó espinhoso meus desejos e meu gozo.
.

The garden of love
I went to the Garden of Love, 
And saw what I never had seen: 
A Chapel was built in the midst, 
Where I used to play on the green. 

And the gates of this Chapel were shut, 
And “Thou shalt not” writ over the door; 
So I turn'd to the Garden of Love, 
That so many sweet flowers bore, 

And I saw it was filled with graves, 
And tomb-stones where flowers should be: 
And Priests in black gowns were walking their rounds, 
And binding with briars, my joys & desires.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

O pequeno vagabundo
Oh mãe querida, mãe querida, a Igreja é fria,
Mas doce e quente e boa é a Cervejaria;
Onde há bom trato ao certo sei dizer esperto,
E esse trato no Céu jamais irá dar certo.

Mas se dessem cerveja a nós lá na Igreja,
E uma doce fogueira, às almas benfazeja,
Cantar e orar se iria quanto é longo o dia,
E da Igreja ninguém jamais se afastaria.

O Padre então rezar, beber, cantar pudera,
Quais pássaros seríamos na primavera;
E teria a Ilusão, na Igreja em prontidão,
Prole mais forte, sem jejum e sem bastão.

E, como um pai radiante ao ver os filhos seus
Contentes e felizes tal como Ele, Deus,
Concedendo quartel ao Diabo, ou ao tonel,
Dar-lhe-ia um beijo, e mais bebida, e mais burel.
.

The little vagabond
Dear mother, dear mother, the Church is cold, 
But the Ale-house is healthy & pleasant & warm; 
Besides I can tell where I am used well, 
Such usage in Heaven will never do well. 

But if at the Church they would give us some ale, 
And a pleasant fire our souls to regale, 
We'd sing and we'd pray all the live-long day, 
Nor ever once wish from the Church to stray.

Then the Parson might preach, & drink, & sing, 
And we'd be as happy as birds in the spring; 
And modest Dame Lurch, who is always at church, 
Would not have bandy children, nor fasting, nor birch. 

And God, like a father rejoicing to see 
His children as pleasant and happy as He, 
Would have no more quarrel with the Devil or the barrel, 
But kiss him, & give him both drink and apparel.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§
Blake - London

Londres 
Em cada rua escriturada em que ando,
Onde o Tâmisa escriturado passa,
Eu nos rostos que encontro vou notando
Os sinais da doença e da desgraça.

Ouço nos gritos que os adultos dão,
E nos gritos de medo do inocente,
Em cada voz, em cada interdição,
As algemas forjadas pela mente.

Se o Limpa-Chaminés acaso grita,
Assusta a Igreja escura pelos anos;
Se o Soldado suspira de desdita,
O sangue mancha os muros palacianos.

Mas o que mais à meia-noite é ouvido
É a rameira a lançar praga fatal,
Que estanca o pranto do recém-nascido
E empesteia a mortalha conjugal.
.

London
I wander thro' each charter'd street, 
Near where the charter'd Thames does flow,
And mark in every face I meet 
Marks of weakness, marks of woe. 

In every cry of every Man, 
In every Infant`s cry of fear, 
In every voice, in every ban, 
The mind-forg'd manacles I hear. 

How the Chimney-sweeper`s cry 
Every blackning Church appalls; 
And the hapless Soldier`s sigh 
Runs in blood down Palace walls. 

But most thro' midnight streets I hear 
How the youthful Harlot`s curse 
Blasts the new-born Infant`s tear, 
And blights with plagues the Marriage hearse
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

O abstrato humano
A Piedade jamais iria além,
Se pobre não fizéssemos alguém;
Nem da Mercê se correria empós,
Fossem todos felizes como nós.

Quem traz a Paz é o medo mútuo apenas,
Quando ainda as invejas são pequenas;
Depois a Crueldade lança um laço armado,
E espalha as suas iscas com cuidado.

Ela se assenta com temores santos
E rega o chão com prantos;
Então deita a Humildade sua raiz
Debaixo de seus pés.

Logo está com a horrível sombra
Do Mistério a cabeça lhe recobre;
E a mosca, assim como a lagarta,
No Mistério se farta.

Nasce o fruto do Engano de sua flor,
Vermelho e doce no sabor;
E o corvo na sua sombra mais escura
O ninho seu pendura.

Os Deuses que governam terra e mar
Tentaram aquela árvore encontrar,
Mas foi vã sua busca pelos anos...
Uma cresce nos cérebros humanos.
.

The human abstract
Pity would be no more, 
If we did not make somebody poor; 
And Mercy no more could be, 
If all were as happy as we; 

And mutual fear brings Peace, 
Till the selfish loves increase;
Then Cruelty knits a snare, 
And spreads his baits with care. 

He sits down with holy fears, 
And waters the ground with tears; 
Then Humility takes its root 
Underneath his foot. 

Soon spreads the dismal shade 
Of Mystery over his head; 
And the Catterpiller and Fly 
Feed on the Mystery. 

And it bears the fruit of Deceit, 
Ruddy and sweet to eat; 
And the raven his nest has made 
In its thickest shade. 

The Gods of the earth and sea 
Sought thro’ Nature to find this tree, 
But their search was all in vain: 
There grows one in the Human Brain.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

Tristeza infantil
Meu pai chorou e minha mãe gemeu: 
No mundo perigoso vejo-me eu,
A esganiçar-me, nu, desamparado,
Qual demônio por nuvem ocultado.

Nas mãos do pai brigando prisioneiro,
Batendo-me co`as faixas do cueiro,
Atado e exausto, achei que o menor mal
Era amuar no peito maternal.
.

Infant sorrow
My mother groan`d! my father wept. 
Into the dangerous world I leapt: 
Helpless, naked, piping loud,
Like a fiend hid in a cloud. 

Struggling in my fathers hands,
Striving against my swaddling bands, 
Bound and weary I thought best 
To sulk upon my mothers breast.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§
Blake  - A poison tree

Uma árvore de veneno
Zanguei-me com meu amigo:
A ira cessou, eu a digo.
Com o inimigo zanguei-me:
A ira cresceu, eu calei-me.

E a reguei de alma sombria
Com meu pranto noite e dia;
E a expus ao sol de gentis
Risos e falsos ardis.

E cresceu noite e manhã,
Dando luzente maçã;
Ao ver o brilho que tinha,
E sabendo que era minha,

Veio o inimigo ao pomar
Após a noite tombar.
Bem cedo o vi, com agrado,
Ao pé da árvore estirado.
.

A poison tree
I was angry with my friend: 
I told my wrath, my wrath did end. 
I was angry with my foe: 
I told it not, my wrath did grow. 

And I water`d it in fears, 
Night & morning with my tears;
And I sunnèd it with smiles, 
And with soft deceitful wiles. 

And it grew both day and night,
Till it bore an apple bright. 
And my foe beheld it shine, 
And he knew that it was mine,

And into my garden stole, 
When the night had veil`d the pole; 
In the morning glad I see
My foe outstretch`d beneath the tree.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

Do MANUSCRITO “ROSSETTI”
       Vi uma Capela toda de Ouro

Vi uma Capela toda de ouro;
Ninguém passava os seus umbrais;
Muitos lá fora em pé choravam,
Com orações e prantos e ais.

Vi levantar-se entre os pilares
Brancos da porta uma Serpente;
Após forçar, forçar, forçar,
Rompe ela os gonzos de ouro à frente,

E pelo chão que recamavam
Rubis e contas a brilhar,
Toda a extensão viscosa arrasta,
Até chegar ao branco altar,

E lá vomita o seu veneno
Por sobre o Vinho e o Pão divinos.
Voltei-me então para um chiqueiro,
E me deitei entre os suínos.
.

From the “ROSSETTI” MANUSCRIPT
      I Saw A Chapel All of Gold

I saw a Chapel all of gold 
That none did dare to enter in, 
And many weeping stood without, 
Weeping, mourning, worshipping.

I saw a Serpent rise between 
The white pillars of the door, 
And he forc`d & forc`d & forc`d, 
Down the golden hinges tore, 

And along the pavement sweet, 
Set with pearls & rubies bright, 
All his slimy length he drew, 
Till upon the altar white, 

Vomiting his poison out 
On the Bread & on the Wine.
So I turn`d into a sty 
And laid me down among the swine.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

Pedi a um ladrão
Pedi a um ladrão que me roubasse um pêssego:
Olhos ao céu levanta.
Pedi os favores de graciosa dama:
Chora suave e santa.

Então veio um anjo ao ver-me indo embora:
Piscou ao ladrão,
Sorriu à senhora.
E tem mudo o gozo
Da fruta que quer,
E sério e jocoso
Possui a mulher.
.

I asked a thief
I asked a thief to steal me a peach:
He turned up his eyes.
I ask’d a lithe lady to lie her down:
Holy & meek she cries.
As soon as I went an angel came:
He wink’d at the thief
And smil’d at the dame,
And without one word spoke
Had a peach from the tree,        
And `twixt earnest & joke
Enjoy’d the Lady.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

(Mofadores)
Zombai, zombai, Voltaire, Rousseau!
Zombai, zombai: tudo, porém, em vão!
Vós atirais a areia contra o vento,
E o vento a sopra em vossa direção.

E cada areia torna-se uma gema
Refletida nos raios divinais;
Sopradas, cegam o olho do zombador,
Mas nas trilhas de Israel cintilam mais.

Tanto os átomos de Demócrito
Quanto as partículas de luz de Newton são
Areias onde, junto ao Mar Vermelho,
Fulgem as tendas de Israel com tal clarão.
.

(Scoffers)
Mock on, mock on, Voltaire, Rousseau:             
Mock on, mock on: 'tis all in vain!
You throw the sand against the Wind,
And the wind blows it back again.

And every sand becomes a gem
Reflected in the beams divine;
Blown back they blind the mocking eye,
But still in Israel's paths they shine.

The atoms of Democritus                                
And Newton's particles of light
Are sands upon the Red sea shore,
Where Israel's tents do shine so bright.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

De AUGÚRIOS DA INOCÊNCIA 
Ver todo um Mundo num grão
E um Céu em ramo que enflora
É ter o Infinito na palma da mão
E a Eternidade numa hora.

Um tordo rubro engaiolado
Deixa o Céu inteiro irado…
Um cão com dono e esfaimado
Prediz a ruína do estado…
Ao grito da lebre caçada
Da mente, uma fibra é arrancada
Ferida na asa a cotovia,
Um querubim, seu canto silencia…
A cada uivo de lobo e de leão
Uma alma humana encontra a redenção.
O gamo selvagem acalma,
A errar por aí, a nossa alma.
Se gera discórdia o judiado cordeiro,
Perdoa a faca do açougueiro…
A verdade com mau intuito
Supera a mentira de muito.
É justo que assim deva ser:
É do homem a dor e o prazer;
Depois que isso aprendemos a fundo,
Seguros podemos sair pelo mundo…
O inquiridor, que astuto se posta,
Jamais saberá a resposta…
O grito do grilo ou uma charada
À dúvida dão resposta adequada…
Quem duvida daquilo que vê
Jamais crerá, sem como e porquê.
Se duvidassem, sol e lua
Apagariam a luz sua.
Soltar tua ira pode ser um bem,
Mas bem nenhum quando a ira te retém…
Toda manhã e todo entardecer
Alguém para a miséria está a nascer.
Em toda tarde e toda manhã linda
Uns nascem para o doce gozo ainda.
Uns nascem para o doce gozo ainda.
Outros nascem numa noite infinda.
Passamos na mentira a acreditar
Quando não vemos através do olhar,
Que uma noite nos traz e outra deduz
Quando a alma dorme mergulhada em luz.
Deus aparece e Deus é luz amada
Para almas que na noite têm morada,
Mas com a forma humana se anuncia
Para as que vivem nas regiões do dia.
.

From AUGURIES OF INNOCENCE
To see a  World in a grain of sand
And a Heaven in a wild flower,
Hold Infinity in the palm of your hand
And Eternity in an hour.

A robin redbreast in a cage
Puts all Heaven in a rage…
A dog starv´d at his master´s gate
Predicts the ruin of the state…
Each outcry of the hunted hare
A fibre from the brain does tear.
A skylark wounded in the wing,
A cherubim does cease to sing…
Every wolf’s and lion’s howl
Raises from Hell a human soul.
The wild deer, wandering here and there,
Keeps the human soul from care.
The lamb misus’d breeds public strife,
And yet forgives the butcher’s knife…
A truth that’s told with bad intent
Beats all the lies you can invent.
It is right it should be so;
Man was made for joy and woe;
And when this we rightly know,
Thro’ the world we safely go…
The questioner, who sits so sly,
Shall never know how to reply…
He who doubts from what he sees
Will ne’er believe, do what you please.
If the sun and moon should doubt,
They’d immediately go out.
To be in a passion you good may do,
But no good if a passion is in you…
Every night and every morn
Some to misery are born.
Every morn and every night
Some are born to sweet delight.
Some are born to sweet delight,
Some are born to endless night.
We are led to believe a lie
When we see not thro’ the eye,
Which was born in a night to perish in a night
When the soul slept in beams of light.
God appear & God is light
To those poor souls who dwell in night,
But does a human form display
To those who dwell in realms of day.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

De A REVOLUÇÃO FRANCESA
(Livro I: Versos 1-15)

Os mortos pairam sobre a Europa, sobre a alegre França caem a nuvem e a visão. 
Oh nuvem providencial! Doente, doente, o Príncipe em seu leito, envolto em
nevoa escura  
E medonha, sua forte mão estendida. Frio doloroso lhe percorre os ossos
Do ombro até o cetro, pesado em excesso para um punho mortal, e que não mais
Por mão visível será brandido, nem na crueldade irá machucar as montanhas que florescentes suavemente.
Doente as montanhas, e suas vinhas todas choram, aos olhos do real pranteador;
Pálida em seu rosto a nuvem de manhã. Ergue-te, Necker! A antiga alvorada nos chama
De torpores de cinco mil anos. Desperto, mas minh`alma está em sonhos;
Vejo de minha janela que as velhas montanhas da França, como homens idosos, fenecem.
Perturbado, apoiando-se em Necker, desce o Rei para a sala do conselho; montanhas umbrosas
Lançam com medo vozes de trovão; os bosques da França recolhem o som;
Nuvens de sabedoria respondem proféticas, rolando pesadas sobre o teto do palácio.
Quarenta homens, a dialogar com mágoas nas sombras infinitas de suas almas,
Como nossos pais antigos em regiões crepúsculares, caminham, reunidos à volta do Rei;
Novamente a estrondoza voz da França está a gritar para a manhã; a manhã profetiza para as suas nuvens.
.

From THE FRENCH REVOLUTION
(Book I: Verses 1-15)

The dead brood over Europe: the cloud and vision descends over cheerful France;
O cloud well appointed! Sick, sick, the Prince on his couch! wreath’d in dim
And appalling mist; his strong hand outstretch’d, from his shoulder down the bone,
Runs aching cold into the sceptre, too heavy for mortal grasp—no more
To be swayèd by visible hand, nor in cruelty bruise the mild flourishing mountains.        
Sick the mountains! and all their vineyards weep, in the eyes of the kingly mourner;
Pale is the morning cloud in his visage. Rise, Necker! the ancient dawn calls us
To awake from slumbers of five thousand years. I awake, but my soul is in dreams;
From my window I see the old mountains of France, like agèd men, fading away.
Troubled, leaning on Necker, descends the King to his chamber of council; shady mountains        
In fear utter voices of thunder; the woods of France embosom the sound;
Clouds of wisdom prophetic reply, and roll over the palace roof heavy.
Forty men, each conversing with woes in the infinite shadows of his soul,
Like our ancient fathers in regions of twilight, walk, gathering round the King:
Again the loud voice of France cries to the morning; the morning prophesies to its clouds.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

De O CASAMENTO DO CÉU E DO INFERNO
O Argumento

Rintras ruge e sacode suas chamas pelo carregado;
Nuvens famintas sobre o abismo pendem.

Dócil outrora, e numa senda perigosa,
O homem justo mantinha o seu curso
Ao longo do vale da morte.
Plantam-se rosas onde crescem espinhos,
E sobre a estéril charneca
Zumbem as abelhas melíferas.

Então foi plantada a senda perigosa;
E um rio e uma nascente
Em cada penhasco e tumba;
E sobre os ossos esbranquiçados
Criou-se a argila vermelha;

Até que o vilão deixou as sendas do bem-estar
E foi trilhar as sendas perigosas, impelindo
O justo para os climas áridos.

Agora a insinuante serpente se arrasta
Em doce humildade,
Enquanto o justo se enraivece nos ermos
Onde vagam os leões.
Rintras ruge e sacode suas chamas pelo ar carregado;
Nuvens famintas sobre o abismo pendem.

*
Assim como um novo céu teve início, – e se passaram agora trinta e três anos desde o seu advento, – assim revive o Inferno Eternal. E eis! Swedenborg é o Anjo assentado no sepulcro: os seus escritos são as vestes de linho dobradas. Agora é a soberania de Edom, e o retorno de Adão ao Paraíso. Ver Isaías, Caps. XXXIV e XXXV.
Sem Contrários não há progressão. A Atração e a Repulsa, a Razão e a Energia, o Amor e o Ódio são necessários à existência humana.
Desses contrários emerge o que os religiosos chamam o Bem e o Mal. O Bem é o passivo que obedece à Razão. O Mal é o ativo que nasce da Energia.
O Bem é o Céu. O Mal é o Inferno.
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From THE MARRIAGE OF HEAVEN AND HELL
The Argument

Rintrah roars & shakes his fires in the burden'd air;
Hungry clouds swag on the deep

Once meek, and in a perilous path,
The just man kept his course along
The vale of death.
Roses are planted where thorns grow.
And on the barren heath
Sing the honey bees.

Then the perilous path was planted:
And a river, and a spring
On every cliff and tomb;
And on the bleached bones
Red clay brought forth.

Till the villain left the paths of ease,
To walk in perilous paths, and drive
The just man into barren climes.

Now the sneaking serpent walks
In mild humility.
And the just man rages in the wilds
Where lions roam.

Rintrah roars & shakes his fires in the burden'd air;
Hungry clouds swag on the deep.

*
As a new heaven is begun, and it is now thirty-three years since its advent: the Eternal Hell revives. And lo! Swedenborg is the Angel sitting at the tomb; his writings are the linen clothes folded up. Now is the dominion of Edom, & the return of Adam into Paradise; see Isaiah XXXIV & XXXV Chap:
Without Contraries is no progression. Attraction and Repulsion, Reason and Energy, Love and Hate, are necessary to Human existence.
From these contraries spring what the religious call Good & Evil. Good is the passive that obeys Reason. Evil is the active springing from Energy.
Good is Heaven. Evil is Hell.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

A voz do demônio
Todas as Bíblias, ou códigos sagrados, têm sido as causas dos seguintes Erros:
1. Que o Homem tem dois princípios reais de existência, ou seja, um Corpo e uma Alma.
2. Que a Energia, chamada o Mal, provém apenas do Corpo; e que a Razão, chamada o Bem, provem apenas da Alma.
3. Que Deus atormentará o Homem por toda a Eternidade, se seguir as suas Energias.
Mas os seguintes Contrários é que são a Verdade:
1. O Homem não possui um Corpo distinto de sua Alma, pois aquilo que chamamos Corpo é somente uma parcela da Alma discernida pelos cinco Sentidos, os principais canais de comunicação da Alma neste estágio.
2. A Energia é a única vida, e deriva do Corpo; e a Razão é o limite, ou circunferência externa, da Energia.
3. A Energia é o Eterno Prazer.

*
Os que refreiam o desejo fazem isso porque o deles é suficientemente fraco para ser refreado; e o refreador, ou razão, usurpa o seu lugar e governa os inapetentes.
E o desejo, ao ser refreado, vai aos poucos se apassivando, até que se torna apenas a sombra do desejo.
A história desse fato vem relatada no Paraíso Perdido; e o Governante, ou Razão, é chamado Messias.
E o Arcanjo original, ou dono do comando das hostes celestiais, é chamado Demônio ou Satã; e. seus filhos são chamados de Pecado e Morte.
Mas, no Livro de Jó, o Messias de Milton se chama Satã.
Pois essa história tem sido adotada por ambos os lados.
Na verdade, pareceu à Razão que o Desejo tinha sido expulso; mas, na versão do Demônio, foi o Messias quem tombou, formando um céu com o que surripiara do Abismo.
É o que se mostra no Evangelho, no episodio em que ele suplica ao Pai que envie o confortador, ou Desejo, para que a Razão possa ter idéias sobre as quais construir; sendo que outro não é o Jeová da Bíblia que aquele que mora nas chamas ardentes.
Sabei que, após a morte de Cristo, ele se tornou Jeová. 
Mas, em Milton, o Pai é o Destino; o Filho, a Somatória dos cinco Sentidos; e o Espírito Santo, o Vácuo!
Nota: A razão por que Milton se sentiu em grilhões quando escreveu sobre Anjos e Deus, e em liberdade quando sobre Demônios e o Inferno, é que ele era um Poeta de verdade, e do lado do Demônio, embora não o soubesse.
.

The voice of the Devil.
All Bibles or sacred codes have been the causes of the following Errors.
1. That Man has two real existing principles Viz: a Body & a Soul.
2. That Energy, call'd Evil, is alone from the Body, & that Reason, call'd Good, is alone from the Soul.
3. That God will torment Man in Eternity for following his Energies.
But the following Contraries to these are True
1. Man has no Body distinct from his Soul for that call'd Body is a portion of Soul discern'd by the five Senses, the chief inlets of Soul in this age
2. Energy is the only life and is from the Body and Reason is the bound or outward circumference of Energy.
3 Energy is Eternal Delight

*
Those who restrain desire, do so because theirs is weak enough to be restrained; and the restrainer or reason usurps its place & governs the unwilling.
And being restrain'd it by degrees becomes passive till it is only the shadow of desire.
The history of this is written in Paradise Lost, & the Governor or Reason is call'd Messiah.
And the original Archangel or possessor of the command of the heavenly host, is call'd the Devil or Satan and his children are call'd Sin & Death.
But in the Book of Job Miltons Messiah is call'd Satan.
For this history has been adopted by both parties.
It indeed appear'd to Reason as if Desire was cast out, but the Devil's account is, that the Messiah fell, & formed a heaven of what he stole from the Abyss.
This is shewn in the Gospel, where he prays to the Father to send the comforter or Desire that Reason may have Ideas to build on, the Jehovah of the Bible being no other than he who dwells in flaming fire.
Know that after Christs death, he became Jehovah.
But in Milton; the Father is Destiny, the Son, a Ratio of the five senses, & the Holy-ghost, Vacuum!
Note: The reason Milton wrote in fetters when he wrote of Angels & God, and at liberty when of Devils & Hell, is because he was a true Poet and of the Devils party without knowing it.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

Provérbios do Inferno
No tempo da semeadura, aprende; na colheita, ensina; no inverno, desfruta.
Conduz teu carro e teu arado por sobre os ossos dos mortos.
A estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria.
A Prudência é uma solteirona rica e feia, cortejada pela Impotência.
Quem deseja, mas não age, gera a pestilência.
O verme partido perdoa ao arado.
Mergulha no rio quem gosta de água.
O tolo não vê a mesma árvore que o sábio.
Aquele, cujo rosto não se ilumina, jamais há de ser uma estrela.
A Eternidade anda apaixonada pelas produções do tempo.
A abelha atarefada não tem tempo para tristezas.
As horas de loucura são medidas pelo relógio; mas nenhum relógio mede as de sabedoria.
Os alimentos sadios não são apanhados com armadilhas ou redes.
Toma do número, do peso e da medida em ano de escassez.
Nenhum pássaro se eleva muito, se se eleva com as próprias asas.
Um cadáver não vinga as injúrias.
O ato mais sublime é colocar outro diante de ti.
Se o louco persistisse em sua loucura, acabaria se tornando sábio.
A loucura é o manto da velhacaria.
O manto do orgulho é a vergonha.
As Prisões se constroem com as pedras da Lei, os Bordéis, com os tijolos da Religião.
O orgulho do pavão é a glória de Deus.
A luxúria do bode é a bondade de Deus.
A fúria do leão é a sabedoria de Deus.
A nudez da mulher é a obra de Deus.
O excesso de tristeza ri; o excesso de alegria chora.
O rugir dos leões, o uivar dos lobos, o furor do mar tempestuoso e a espada destruidora são fragmentos de eternidade grandes demais para os olhos homanos.
A raposa condena a armadilha, não a si própria.
Os júbilos fecundam. As tristezas geram.
Que o homem use a pele do leão; a mulher, a lã da ovelha.
O pássaro, um ninho; a aranha, uma teia; o homem, a amizade.
O sorridente tolo egoísta e o melancólico tolo carrancudo serão ambos julgados sábios para que sejam flagelos.
O que se prova, outrora era apenas imaginado.
A ratazana, o camundongo, a raposa, o coelho olham as raízes; o leão, o tigre, o cavalo, o elefante olham os frutos.
A cisterna contém; a fonte derrama.
Um só pensamento preenche a imensidão.
Dize sempre o que pensas, e o homem torpe te evitará.
Tudo o que se pode acreditar já é uma imagem da verdade.
A águia nunca perdeu tanto o seu tempo como quando resolveu aprender com a gralha.
A raposa provê para si, mas Deus provê para o leão.
De manhã, pensa; ao meio-dia, age; no entardecer, come; de noite, dorme.
Quem permitiu que dele te aproveitasses, esse te conhece.
Assim como o arado vai atrás de palavras, assim Deus recompensa orações.
Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da instrução.
Da água estagnada espera veneno.
Nunca se sabe o que é suficiente até que se saiba o que é mais que suficiente.
Ouve a reprovação do tolo! É um elogio soberano!
Os olhos, de fogo; as narinas, de ar; a boca, de água; a barba, de terra.
O fraco na coragem é forte na esperteza.
A macieira jamais pergunta à faia como crescer; nem o leão, ao cavalo, como apanhar sua presa.
Ao receber, o solo grato produz abundante colheita.
Se outros não fosse tolos, nós teríamos que ser.
A essência do doce prazer jamais pode ser maculada.
Ao veres uma Águia, vês uma parcela da Gênialidade. Levanta a cabeça!
Assim como a lagarta escolhe as mais belas folhas para deitar os seus ovos, assim o sacerdote lança a sua maldição sobre as alegrias mais belas.
Criar uma florzinha é o labor de séculos.
A maldição aperta. A  bênção afrouxa.
O melhor vinho é o mais velho; a melhor água, a mais nova.
Orações não aram! Louvores não colhem!
Júbilos não riem! Tristezas não choram!
A cabeça, o Sublime; o coração, o Sentimento; os genitais, a Beleza; as mãos e os pés, a Proporção.
Como o ar para o pássaro ou o mar para o peixe, assim é o desprezo para o desprezível.
A gralha gostaria que tudo fosse preto; a coruja, que tudo fosse branco.
A Exuberância é a Beleza.
Se o leão fosse aconselhado pela raposa. seria ardiloso.
O Progresso constrói estradas retas; mas as estradas tortuosas, sem o Progresso, são estradas da Genialidade.
Melhor matar uma criança no berço que acalentar desejos insatisfeitos.
Onde o homem não está, a natureza é estéril.
A verdade nunca pode ser dita de modo a ser compreendida sem ser acreditada.
É suficiente! ou Basta.

*
Os Gigantes que deram existência sensível a este mundo, e que agora parecem viver nele em grilhões, são na verdade as causas da vida e as fontes de toda atividade. Mas os seus grilhões são a esperteza das mentes fracas e domesticadas, que têm o poder de resistir à energia; pois, de acordo com o provérbio, o fraco na coragem é forte na esperteza.
Assim, uma parcela do ser é o Prolífico; a outra, o Devorante. Ao Devorador parece que aquele que produz está em grilhões; mas não é bem assim, visto que ele apenas apreende porções da existência e confunde-as com o todo.
O Prolífico, porém, deixaria de ser Prolífico, se o Devorador, como um mar, não mais recebesse o excesso de suas delícias.
Alguns dirão: “Mas não é somente Deus o Prolífico?” E eu respondo: “Deus apenas age e é nos seres existentes, que são os Homens”.
Esses dois tipos de homens sempre existiram sobre a Terra, e devem ser inimigos. Quem tenta reconciliá-los procura destruir a existência.
A Religião é uma tentativa de reconciliar os dois.
Nota: Jesus Cristo não quis uni-los, mas separá-los – como na Parábola das Ovelhas e das Cabras! E ele declara: “Não vim trazer a Paz, mas uma Espada”.
O Messias – ou Satã, ou Tentador – era considerado antigamente um dos Antediluvianos, que são nossas Energias.

*
A OPOSIÇÃO é a verdadeira Amizade.
Uma Fantasia Memorável

Uma vez avistei um Demônio numa língua de fogo, que se elevou até um Anjo assentado numa nuvem. E o Demônio proferiu estas palavras:
“A adoração de Deus consiste em honrar os seus dons em outros homens, segundo a genialidade de cada um, dedicando-se maior amor aos maiores homens. Os que invejam ou caluniam os grandes homens odeiam a Deus; pois não existe outro Deus”.
O Anjo, ao ouvir isso, tornou-se quase azul; mas, recompondo-se, ficou amarelo e, por fim, branco e rosa; e, então, sorrindente, respondeu:
“Idólatra! Deus não é unico? E não é visível em Jesus Cristo? E Jesus Cristo não sancionou a lei dos dez mandamentos? E não são todos os outros homens loucos, pecadores e nulidades?”
Retrucou o Demônio: “Tritura um imbecil numa argamassa com trigo, e mesmo assim a sua imbecilidade não será expelida. Se Jesus Cristo é o maior dos homens, deverias dedicar-lhe o máximo amor. Ouve agora como ele sancionou a lei dos dez mandamentos: não desprezou ele o sábado, desprezando assim o Deus do sábado? não matou os que foram mortos por sua causa? não desviou a lei da mulher apanhada em adultério? não roubou o trabalho dos outros para que o sustentassem? não deu falso testemunho ao omitir sua defesa perante Pilatos? não cobiçou quando orou por seus discípulos e lhes pediu que sacudissem o pó de suas sandálias diante dos que se negavam a recebê-los? Pois eu te digo: nenhuma virtude pode existir sem a quebra desses dez mandamentos. Jesus era toda virtude, e agia por impulso, não por regras”.
Depois que ele assim havia falado, eis que o Anjo, estendendo os braços e enlaçando a língua de fogo, foi consumido, e ascendeu como Elias.

*
UMA só lei para o Leão e o Touro é Opressão.
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Proverbs of Hell
In seed time learn, in harvest teach, in winter enjoy.
Drive your cart and your plow over the bones of the dead.
The road of excess leads to the palace of wisdom.
Prudence is a rich ugly old maid courted by Incapacity.
He who desires but acts not, breeds pestilence.
The cut worm forgives the plow.
Dip him in the river who loves water.
A fool sees not the same tree that a wise man sees.
He whose face gives no light, shall never become a star.
Eternity is in love with the productions of time.
The busy bee has no time for sorrow.
The hours of folly are measur'd by the clock, but of wisdom: no clock can measure.
All wholsom food is caught without a net or a trap.
Bring out number weight & measure in a year of dearth.
No bird soars too high, if he soars with his own wings.
A dead body revenges not injuries.
The most sublime act is to set another before you.
If the fool would persist in his folly he would become wise.
Folly is the cloke of knavery.
Shame is Prides cloke.
Prisons are built with stones of Law, Brothels with bricks of Religion.
The pride of the peacock is the glory of God.
The lust of the goat is the bounty of God.
The wrath of the lion is the wisdom of God.
The nakedness of woman is the work of God.
Excess of sorrow laughs. Excess of joy weeps.
The roaring of lions, the howling of wolves, the raging of the stormy sea, and the destructive sword, are portions of eternity too great for the eye of man.
The fox condemns the trap, not himself.
Joys impregnate. Sorrows bring forth.
Let man wear the fell of the lion. woman the fleece of the sheep.
The bird a nest, the spider a web, man friendship.
The selfish smiling fool, & the sullen frowning fool shall be both thought wise, that they may be a rod.
What is now proved was once only imagin'd.
The rat, the mouse, the fox, the rabbet; watch the roots; the lion, the tyger, the horse, the elephant, watch the fruits.
The cistern contains: the fountain overflows.
One thought fills immensity.
Always be ready to speak your mind, and a base man will avoid you.
Every thing possible to be believ'd is an image of truth.
The eagle never lost so much time, as when he submitted to learn of the crow.
The fox provides for himself. but God provides for the lion.
Think in the morning. Act in the noon. Eat in the evening. Sleep in the night.
He who has suffer'd you to impose on him knows you.
As the plow follows words, so God rewards prayers.
The tygers of wrath are wiser than the horses of instruction.
Expect poison from the standing water.
You never know what is enough unless you know what is more than enough.
Listen to the fools reproach! it is a kingly title!
The eyes of fire, the nostrils of air, the mouth of water, the beard of earth.
The weak in courage is strong in cunning.
The apple tree never asks the beech how he shall grow; nor the lion, the horse, how he shall take his prey.
The thankful reciever bears a plentiful harvest.
If others bad not been foolish, we should be so.
The soul of sweet delight can never be defil'd.
When thou seest an Eagle, thou seest a portion of Genius. lift up thy head!
As the catterpiller chooses the fairest leaves to lay her eggs, so the priest lays his curse on the fairest joys.
To create a little flower is the labour of ages.
Damn braces: Bless relaxes.
The best wine is the oldest, the best water the newest.
Prayers plow not! Praises reap not!
Joys laugh not! Sorrows weep not!
The head Sublime, the heart Pathos, the genitals Beauty, the hands & feet Proportion.
As the air to a bird or the sea to a fish, so is contempt to the contemptible.
The crow wish'd every thing was black, the owl, that every thing was white.
Exuberance is Beauty.
If the lion was advised by the fox. he would be cunning.
Improvement makes strait roads, but the crooked roads without Improvement, are roads of Genius.
Sooner murder an infant in its cradle than nurse unacted desires.
Where man is not, nature is barren.
Truth can never be told so as to be understood, and not be believ'd.
Enough! or Too much.

*
The Giants who formed this world into its sensual existence and now seem to live in it in chains, are in truth the causes of its life & the sources of all activity, but the chains are the cunning of weak and tame minds which have power to resist energy, according to the proverb, the weak in courage is strong in cunning.
Thus one portion of being is the Prolific, the other the Devouring: to the devourer it seems as if the producer was in his chains, but it is not so, he only takes portions of existence and fancies that the whole.
But the Prolific would cease to be Prolific unless the Devourer, as a sea, recieved the excess of his delights.
Some will say: 'Is not God alone the Prolific?' I answer: 'God only Acts & Is, in existing beings or Men.'
These two classes of men are always upon earth, & they should be enemies; whoever tries to reconcile them seeks to destroy existence.
Religion is an endeavour to reconcile the two.
Note: Jesus Christ did not wish to unite but to seperate them, as in the Parable of sheep and goats! & he says I came not to send Peace but a Sword.
Messiah or Satan or Tempter was formerly thought to be one of the Antediluvians who are our Energies.

*
OPPOSITION is true Friendship.
A Memorable Fancy.
Once I saw a Devil in a flame of fire, who arose before an Angel that sat on a cloud, and the Devil utter'd these words: 
'The worship of God is: Honouring his gifts in other men, each according to his genius, and loving the greatest men best: those who envy or calumniate great men hate God; for there is no other God.'
The Angel hearing this became almost blue but mastering himself he grew yellow, & at last white, pink, & smiling, and then replied:
'Thou Idolater, is not God One? & is not he visible in Jesus Christ? and has not Jesus Christ given his sanction to the law of ten commandments, and are not all other men fools, sinners, & nothings?'
The Devil answer'd: 'bray a fool in a morter with wheat, yet shall not his folly be beaten out of him; if Jesus Christ is the greatest man, you ought to love him in the greatest degree; now hear how he has given his sanction to the law of ten commandments: did he not mock at the sabbath, and so mock the sabbaths God? murder those who were murder'd because of him? turn away the law from the woman taken in adultery? steal the labor of others to support him? bear false witness when he omitted making a defence before Pilate? covet when he pray'd for his disciples, and when he bid them shake off the dust of their feet against such as refused to lodge them? I tell you, no virtue can exist without breaking these ten commandments. Jesus was all virtue, and acted from impulse, not from rules.'
When he had so spoken, I beheld the Angel, who stretched out his arms, embracing the flame of fire, & he was consumed and arose as Elijah.
*
ONE Law for the Lion & Ox is Oppression.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§

De MILTON
Seus pés já caminharam no passado? 

E pelos verdes montes da Inglaterra 
Seus pés já caminharam no passado? 
Nos aprazíveis prados da Inglaterra
O Cordeiro de Deus foi avistado? 

E o Semblante Divino iluminou
As névoas destes morros e caminhos? 
Jerusalém foi construída em meio 
A estes negros Satânicos Moinhos? 

Trazei meu arco de ouro em fogos vivos! 
Trazei a minha flecha do desejo! 
Minha lança trazei! Nuvens, abri-vos! 
Trazei o carro ardente onde pelejo! 

Minha espada não vai dormir na mão,
Nem no campo mental eu cesso a guerra,
Até erguermos enfim Jerusalém 
Nesta verde e aprazível Inglaterra.
.

From MILTON
And did those feet in ancient time?

And did those feet in ancient time.
Walk upon England's mountains green?
And was the holy Lamb of God,
On England's pleasant pastures seen?

And did the Countenance Divine 
Shine forth upon our clouded hills?
And was Jerusalem builded here,
Among these dark Satanic Mills?

Bring me my Bow of burning gold:
Bring me my Arrows of desire:
Bring me my Spear: O clouds, unfold!
Bring me my Chariot of fire!

I will not cease from Mental Fight, 
Nor shall my Sword sleep in my hand,
Till we have built Jerusalem
In England's green and pleasant Land.
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§
William Blake - Jerusalem
De JERUSALÉM
(A Invacação do Capítulo I)

Do sono de Ulro! e da passagem através  da Eterna Morte! e do despertar para a Vida Eterna.

Este o tema que noite após noite me convoca no sono, e cada manhã
Me desperta ao raiar do sol. Então avisto o Salvador sobre mim,
A esparzir os seus raios de amor e a  ditar as palavras desta doce canção.

“Desperta! Desperta! Oh tu que dormes na terra das sombras, acorda! Expande-te!
Estou em ti e estás em mim, em mútuo amor divinal:
Fibras de amor de um humano por outro, na terra deleitosa de Álbion.
Em todo o escuro vale do Atlântico, para baixo das colinas de Surrey,
Uma água negra se acumula. Retorna, Álbion! Retorna!
Chamam por ti teus irmãos, e teus pais, e teus filhos.
Tuas amas e tuas mães, tuas filhas e tuas irmãs
Choram pela enfermidade de tua alma. E a Divina Visão se escurece.
A tua Emanação, que exibia os seus folguedos perante tua face,
Regozijando-se com suas filhas no Divino seio...
A tua Emanação  onde a ocultaste, a adorável Jerusalém?
Onde a ocultaste da visão e do fruir do Todo-Santo?
Eu não sou um Deus distante, sou um irmão e um amigo;
Dentro de vossos peitos resido, e vós residis em mim:
Eis! Somos Um, a perdoar todo Mal, sem esperar recompensa!
Sois os meus membros, oh vós que  dormis em Beúlas, a terra das sombras!

O homem, porém, perturbado se afasta , a descer para os vales escuros,
Dizendo: “Não somos Um; somos Muitos, oh enganosa 
Aparição, criada pelo cérebro incendiado! Sombra de imortalidade,
Que não quer perder minh`alma, vítima do teu amor! que prende 
O homem ao próprio inimigo do homem por meio de ilusórias amizades!
Jerusalém não mais existe! Suas filhas são indefinidas:
Somente pelo raciocínio o homem pode viver, e não pela fé.

As minhas montanhas são minhas, e para mim vou guarda-las:
Os montes Malvern e os Cheviots, os Wolds, Plinlimmon e Snowdon
São meus. Aqui, sobre eles, construirei minhas Leis de Virtude e Moral!
Não mais haverá a humanidade: apenas a guerra e o poder e a vitória!

Assim falou Álbion, com ciosos temores, escondendo a sua Emanação
Sobre o Tâmisa e o Medway, rios de Beúlas; dissimulando
Seu ciúme diante do trono divino, gelado, sombrio!

As nuvens recobrem as margens do Tâmisa! Os antigos pórticos de Álbion
Se escurecem! São arrastados através do espaço infinito, espalhados
Pelo Vácuo, em desespero incoerente! Cambridge e Oxford e Londres
São levadas com os Anéis estelares, espedaçadas e  disseminadas
Em Penhascos e Abismos de dor, ampliados sem dimensão, terríveis.
Corre o sangue pelas montanhas de Álbion, os gritos de guerra e tumulto
Ressoam na noite que não tem limite; e toda perfeição humana,
Montanhas, torrentes e cidades ficam pequenas e secas e escuras.
Cam é um simples regato! O rio Ely foi engolido!
Os centros de Lincoln e Norwich tremen às margens do lago Údan-Ádan!
Gales e a Escócia se encolhem, na direção do ocidente e do norte,
A chorar por temor dos guerreiros no Vale de Entúton-Beníton!
Qual nuvem de fumo, Jerusalém ficou espalhada pelo não ser:
Moabe e Amão e Amaleque e Canaã e o Egito e Arã
Recebem os seus filhos pequenos para os sacrifícios e os deleites da crueldade.

Trêmulo permaneço dia e noite; meus amigos ficam espantados.
Mas perdoam o meu divagar, pois não posso afastar-me da grande tarefa!
A tarefa de abrir os Mundos Eternos, de abrir a Visão Imortal
Do Homem para os Mundos interiores de seu Pensamento: para a Eternidade
Em contínua expansão no Seio de Deus: para a Imaginação Humana.
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From JERUSALEM 
(Invocation: Chapter I)

Of the Sleep of Ulro! and of the passage through
Eternal Death! and of the awaking to Eternal Life.

This theme calls me in sleep night after night, & ev'ry morn
Awakes me at sun-rise, then I see the Saviour over me
Spreading his beams of love, & dictating the words of this mild song.

Awake! awake O sleeper of the land of shadows, wake! expand!
I am in you and you in me, mutual in love divine:
Fibres of love from man to man thro Albions pleasant land.
In all the dark Atlantic vale down from the hills of Surrey
A black water accumulates, return Albion! return!
Thy brethren call thee, and thy fathers, and thy sons,
Thy nurses and thy mothers, thy sisters and thy daughters
Weep at thy souls disease, and the Divine Vision is darkend:
Thy Emanation that was wont to play before thy face,
Beaming forth with her daughters into the Divine bosom [Where!!]
Where hast thou hidden thy Emanation lovely Jerusalem
From the vision and fruition of the Holy-one?
I am not a God afar off, I am a brother and friend;
Within your bosoms I reside, and you reside in me:
Lo! we are One; forgiving all Evil; Not seeking recompense!
Ye are my members O ye sleepers of Beulah, land of shades!

But the perturbed Man away turns down the valleys dark;
[Saying. We are not One: we are Many, thou most simulative]
Phantom of the over heated brain! shadow of immortality!
Seeking to keep my soul a victim to thy Love! which binds
Man the enemy of man into deceitful friendships:
Jerusalem is not! her daughters are indefinite:
By demonstration, man alone can live, and not by faith.

My mountains are my own, and I will keep them to myself!
The Malvern and the Cheviot, the Wolds Plinlimmon & Snowdon
Are mine. here will I build my Laws of Moral Virtue!
Humanity shall be no more: but war & princedom & victory!

So spoke Albion in jealous fears, hiding his Emanation
Upon the Thames and Medway, rivers of Beulah: dissembling
His jealousy before the throne divine, darkening, cold!

The banks of the Thames are clouded! the ancient porches of Albion are
Darken'd! they are drawn thro' unbounded space, scatter'd upon
The Void in incoherent despair! Cambridge & Oxford & London,
Are driven among the starry Wheels, rent away and dissipated,
In Chasms & Abysses of sorrow, enlarg'd without dimension, terrible[.]
Albions mountains run with blood, the cries of war & of tumult
Resound into the unbounded night, every Human perfection
Of mountain & river & city, are small & wither'd & darken'd
Cam is a little stream! Ely is almost swallowd up!
Lincoln & Norwich stand trembling on the brink of Udan-Adan!
Wales and Scotland shrink themselves to the west and to the north!
Mourning for fear of the warriors in the Vale of Entuthon-Benython
Jerusalem is scatterd abroad like a cloud of smoke thro' non-entity:
Moab & Ammon & Amalek & Canaan & Egypt & Aram
Recieve her little-ones for sacrifices and the delights of cruelty

Trembling I sit day and night, my friends are astonish'd at me.
Yet they forgive my wanderings, I rest not from my great task!
To open the Eternal Worlds, to open the immortal Eyes
Of Man inwards into the Worlds of Thought: into Eternity
Ever expanding in the Bosom of God. the Human Imagination
- William Blake - poesia e prosa selecionados. [introdução, seleção, tradução e notas Paulo Vizioli]. Edição bilíngue. São Paulo: Nova Alexandria, 1993.

§
the sick rose, william blake
A rosa doente
Ó Rosa, estás doente!
Um verme pela treva
Voa invisivelmente
O vento que uiva o leva

Ao velado veludo
Do fundo do teu centro:
Seu escuro amor mudo
Te rói desde dentro.
.

The sick rose
O Rose thou art sick.
The invisible worm,
That flies in the night
In the howling storm:

Has found out thy bed
Of crimson joy:
And his dark secret love
Does thy life destroy.
- William Blake [transcriado Augusto de Campos]. em "Augusto de Campos. Viva vaia: poesia 1949-1979". São Paulo: Ateliê Editorial, 2007.

A rosa doente, William Blake - transcriado por Augusto de Campos

****

Tyger, de Blake, 1757.
O tigre
Tygre! Tygre! Brilho, brasa
que a furna noturna abrasa,
que olho ou mão armaria
tua feroz symmetrya? 

Em que céu se foi forjar
o fogo do teu olhar?
Em que asas veio a chamma?
Que mão colheu esta flamma?

Que força fez retorcer
em nervos todo o teu ser?
E o som do teu coração
de aço, que cor, que ação?

Teu cérebro, quem o malha?
Que martelo? Que fornalha
o moldou? Que mão, que garra
seu terror mortal amarra?

Quando as lanças das estrelas
cortaram os céus, ao vê-las,
quem as fez sorriu talvez?
Quem fez a ovelha te fez?

Tygre! Tygre! Brilho, brasa
que a furna noturna abrasa,
que olho ou mão armaria
tua feroz symmetrya?
.

The tyger
Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?

In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand, dare seize the fire?

And what shoulder & what art,
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand & what dread feet?

What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? what the grasp
Dare its deadly terrors clasp? 

When the stars threw down their spears, 
And water'd heaven with their tears,
Did he smile his work to see?
Did he who made the Lamb make thee?

Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?
- William Blake [transcriado Augusto de Campos]. em "Augusto de Campos. Viva vaia: poesia 1949-1979". São Paulo: Ateliê Editorial, 2007.

Fragmento "O tigre", de William Blake, transcriado por Augusto de Campos
§


William Blake, por Thomas Phillips (detalhe)

FORTUNA CRÍTICA DE WILLIAM BLAKE

ABIAHY, Ana Carolina de Araújo.. A tradução de William Blake abrindo as portas de um novo mundo. In: I Encontro Nacional de Cultura e Tradução, 2009, João Pessoa. Cultura e Tradução - Interfaces entre teoria e prática. João Pessoa: Ideia, 2009. p. 25-34.
ABIAHY, Ana Carolina de Araújo.. "The sick rose": William Blake e o equilíbrio entre natureza e cultura. In: III Colóquio Nacional Representações de Gênero e de Sexualidades, 2007, Campina Grande. Anais do III Colóquio Nacional Representações de Gênero e de Sexualidades. Campina Grande: Edufpb, 2007. v. 3. p. 1-14.
ABIAHY, Ana Carolina de Araújo.. "The sick rose": William Blake e o equilíbrio entre natureza e cultura. In: III Colóquio Nacional Representações de Gênero e de Sexualidades, 2007, Campina Grande. Anais do III Colóquio Nacional Representações de Gênero e de Sexualidades. Campina Grande: EDUFPB, 2007. v. 3. p. 6-7.
ABIAHY, Ana Carolina de Araújo.. A tradução de William Blake abrindo as portas de um novo mundo. In: I Encontro Nacional de Cultura e Tradução, 2009, João Pessoa. I Encult: encontro cultura e tradução. João Pessoa: Ideia, 2009. p. 24-25.
ALVES, Andrea Lima. "Oposição é Verdadeira Amizade": Imagem poética e pictórica na obra de William Blake. (Dissertação Mestrado em Teoria e História Literária). Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, 2001.
Retrato de William Blake, de John Linnell ( 1820 )
ALVES, Andrea Lima. A interação entre texto e ilustrações nos illuminated books de William Blake pelo prisma da obra America, a Prophecy. (Tese Doutorado em Teoria e Historia Literaria). Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, 2007. Disponível no link. (acessado em 23.7.2016).
BARBOSA, Evanilson Oliveira. A opressão da Revolução Industrial Inglesa na Obra de William Blake. (Monografia Graduação em Língua Inglesa e Literaturas). Universidade do Estado da Bahia, UNEB, 2013.
BETTS, Nancy Camara.. A Poesia Visual de William Blake. In: X Encontro Nacional da ANPAP, 1999, São Paulo. X Encontro Nacional da ANPAP. São Paulo: Associação Nacional de de Pesquisadores em Artes Plásticas, 1999. v. Vol. I. p. 190-196.
CABRERA, Ana Paula. A Finalização em Aquarela nos Livros Iluminados de William Blake: Por uma Metodologia de Análise da Arte Compósita. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, 2015.
CABRERA, Ana Paula; TAVARES, Enéias Farias; SANTOS, A.. William Blake e o turbulento ano de 1809: Catálogos Descritivos, Desavenças Criativas e Obras Visionárias. Fragmentum (on line), v. Nº 42, p. 13-26, 2015.
CALADO, Claudia Regina Rodrigues. Um estudo do processo de criação da obra verbo-pictórica Songs of Innocence and Experience, de William Blake. (Tese Doutorado em Letras). Universidade Federal da Bahia, UFBA, 2012.
CALADO, Claudia Regina Rodrigues. Um estudo do processo de criação dos poemas Holy Thursday e The Tyger, de William Blake. RevLet: Revista Virtual de Letras, v. 7, p. 76-95, 2015.
CALADO, Claudia Regina Rodrigues. Uma análise semiótica da obra verbo-pictórica songs of innocence and of experience, de William Blake. CASA (Araraquara), v. 11, p. 38-56, 2013.
DUARTE, Flavia Maris Gil. Londres dos limpadores de chaminés: literatura e experiência histórica nos poemas 'London' e 'The chimney sweeper', de William Blake (1789-1794).. (Dissertação Mestrado em História Social). Universidade Estadual de Londrina, UEL, 2011. Disponível no link. (acessado em 23.7.2016).
DUARTE, Flavia Maris Gil. A cidade de Londres nas canções da experiência de William Blake: uma interpretação das transformações ocorridas na sociedade industrial inglesa nas últimas décadas do século XVIII. in: Antíteses,  v. 7, n. 14, p. 469-491, jul. - dez. 2014. Disponível no link. (acessado em 23.7.2016).
FARIAS, Ricardo Heffel; GONÇALVES, D. S. . The voice of the Devil : Literature and the Reconstruction of the Christian Myth by José Saramago and William Blake. Revista Falas Breves, v. 1, p. 1-17, 2014.
FERREIRA, Bruno de Sá.. A Distorção Bate às Portas da Percepção: o roqueiro William Blake encontra os poetas da música. (Tese Doutorado em Letras). Universidade Federal Fluminense, UFF, 2011.
FERREIRA JUNIOR, Paulo Cesar Gil. William Blake: O tigre de Deus. Iluminismo, Romantismo e Revolução Industrial na poesia de Blake. (Monografia Graduação em Historia). Universidade Federal Fluminense, UFF, 2002.
FLORES, Guilherme Gontijo. William Blake. in: Escamandro. Disponível no link. (acessado em 23.7.2016).
HOTT, Luís Otávio. William Blake: abra as portas da sua percepção. in: Obvious. Disponível no link. (acessado em 23.7.2016).
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William Blake, by John Linnell
LIMA, Bruno Ribeiro de.. Exuberance is beauty: William Blake às margens de La part maudite. Revista Pandora, v. agosto, p. 1-9, 2012.
LOURENÇO, Isabel Maria Graça. The William Blake archive: da gravura iluminada à edição electrónica. (Tese de Doutoramento em Letras). Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2009. Disponível no link. (acessado em 23.7.2016).
MELLO JUNIOR, José de.. Swedenborg e William Blake da mística como literatura. Livro Aberto, v. 1, p. 4-8, 1997.
PALIERAQUI, Mariana dos Reis. Aspectos do fantástico em Milton, de William Blake. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, UEMS, 2020. 
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SANTOS, Alcides Cardoso dos.. Convenção e subversão em Jerusalem" de William Blake. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, 1995.
SANTOS, Alcides Cardoso dos.. Visões de William Blake: palavras e imagens em 'Jerusalém a emanação do gigante Albion'. Campinas: Editora da UNICAMP, 2009.
SANTOS, Alcides Cardoso dos..?I will not reason & compare: my business is to create?: Blake e a questão do método. Fragmentum (UFSM), v. 42, p. 89, 2014.
SANTOS, Alcides Cardoso dos.. Milton a Poem in Two Books: influência e afluência na linguagm poético-visual de William Blake. Itinerários (UNESP), Araraquara-SP, v. 14, p. 135-142, 1999.
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SANTOS, Andrio de Jesus Rosa dos.. Apocalipse & Energia: a composição satânica de Blake em Matrimonio de céu e inferno e América uma profecia. Palimpsesto (Rio de Janeiro. Online), v. 18, p. 159-170, 2014.
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SOUSA, Luis Filipe de Andrade. Profecia às margens do império: Contestação e resistência ao imperialismo britânico nas continental prophecies de William Blake. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Federal do Piauí, UFPI, 2010.
STEIL, Juliana. Tradução comentada de Milton de William Blake. (Tese Doutorado em Estudos da Tradução). Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, 2011. Disponível no link. (acessado em 23.7.2016).
STEIL, Juliana. Profecia poética e tradução. America: A Prophecy, de William Blake, traduzida e comentada. (Dissertação Mestrado em Estudos da Tradução). Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, 2007.
STEIL, Juliana; GUERINI, Andréia. As ilustrações de Blake para a Divina comédia no contexto das traduções da obra de Dante em língua inglesa. In: Andréia Guerini; Silvana de Gaspari. (Org.). Dante Alighieri: língua, imagem e tradução. 1ª ed., São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2015, v. , p. 26-34.
STEIL, Juliana. Questões de terminologia na tradução de literatura: os casos de Edith Wharton e William Blake. Caderno de Letras (UFPel), v. 23, p. 139-150, 2014.
STEIL, Juliana. Entre minúcias poéticas: a tradução da pontuação em Milton, de William Blake. Scientia Traductionis, v. 11, p. 388-397, 2012.
STEIL, Juliana. Blake/An Illustrated Quarterly (resenha). Linguagens : Revista de Letras, Artes e Comunicação (FURB), v. 3, p. 94-98, 2009.
STEIL, Juliana. O casamento do céu e do inferno & outros escritos de William Blake. Tradução de Alberto Marsicano.. Cadernos de Tradução (UFSC), v. 22, p. 275-279, 2008.
STEIL, Juliana. Canções da Inocência e da Experiência ? Revelando os dois estados opostos da alma humana, de William Blake. Tradução de Mário Alves Coutinho & Leonardo Gonçalves. Belo Horizonte: Crisálida, 2005, 147 p.. Cadernos de Tradução (UFSC), Florianópolis, v. XV, p. 273-283, 2006.
STEIL, Juliana. Traduções de Blake ao português. In: Primer Congreso - Formación e investigación en lenguas extranjeras y traducción, 2007, Buenos Aires. Primer Congreso - Formación e investigación en lenguas extranjeras y traducción, 2007.
William Blake - watercolor copy Thomas Phillips
TAVARES, Enéias Farias. As Portas da Percepção: Texto e Imagem nos Livros Iluminados de William Blake. (Tese Doutorado em Letras). Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, 2012.
TAVARES, Enéias Farias. A Unidade Corpo/Mente nos Livros Iluminados de William Blake. In: Tavares, E.F.; Magno, M.; Biancalana, G. R.. (Org.). Discursos do Corpo na Arte. 1ª ed., Santa Maria: Editora da UFSM, 2014, v. 1, p. 69-112.
TAVARES, Enéias Farias. William Blake e o turbulento ano de 1809: Catálogos descritivos, desavenças criativas e obras visionárias. Fragmentum (on line), v. 42, p. 13-26, 2015.
TAVARES, Enéias Farias; SANTOS, Andrio de Jesus Rosa dos.. ?Energia é Eterno Deleite?: A Figura Satânica em 'Matrimônio de Céu e Inferno', de William Blake. Estação Literária, v. 12, p. 123-142, 2014.
TAVARES, Enéias Farias; OLIVEIRA, L. C.. ?The Little Girl Lost' e 'The Little Girl Found?, de William Blake: Canção de Inocência ou de Experiência?. Crítica Cultural, v. 9, p. 105-117, 2014.
TAVARES, Enéias Farias. William Blake e a (Re)Visão do Juízo Final: Tradução e Crítica. Concinnitas (Online) (Rio de Janeiro), v. 20, p. 72-90, 2013.
TAVARES, Enéias Farias. 'The William Blake Archive': Repensando o acervo físico e o acervo digital. Letras (UFSM), v. 1, p. 109-132, 2013.
TAVARES, Enéias Farias. William Blake e os Peregrinos dos Canterbury Tales de Chaucer: Releituras Visuais e Textuais. Folio (Online): revista de letras, v. 2, p. 65-95, 2012.
TAVARES, Enéias Farias; PEREIRA, Lawrence Flores. A composição dos livros iluminados de William Blake na década de 1790: poesia e revolução. Letras (UFSM), v. 19, p. 81-100, 2010.
TAVARES, Enéias Farias. 'Oposição é verdadeira amizade': a mitologia de William Blake. Revista Litteris, v. 4, p. 10, 2010.
TAVARES, Enéias Farias. Blake e a discussão 'Ut Pictura Poesis' no seu 'Laocoonte': lendo a imagem e observando o texto. Todas as Musas: Revista de Literatura e das Múltiplas Linguagens da Arte (Online), v. 2, p. 237-258, 2010.
TAVARES, Enéias Farias. A releitura criativa da arte de Michelangelo nas iluminuras de William Blake. Temática (João Pessoa. Online), v. V, p. 4, 2009.
TAVARES, Enéias Farias. O Diabo e o Cristo na recriação pictórica dissidente de William Blake para Paraíso Perdido. Todas as Musas: Revista de Literatura e das Múltiplas Linguagens da Arte (Online), v. I, p. 2, 2009.
TAVARES, Enéias Farias. A Poesia de William Blake na Releitura dos Arquétipos Míticos de Northop Frye em ?Fearful Symmetry?. In: I SINAGEL ? Simpósio Nacional De Grupos De Pesquisa Em Estudos Literários, 2009, Maringá. Anais do I SINAGEL, 2009.
THROUP, Marcus Oliver; GOMES, E. S.. 'Misticismo religioso e imagens míticas em William Blake'. Revista Eletrônica de Teologia e Ciências da Religião - UNICAP, v. 1, p. 46-64, 2012.



Oberon, Titânia e Puck com dança das fadas (1786)

William Blake Minos illustration for The Divine Comedy by Dante Alighieri (Inferno V, 1-24)


Blake, by John Flaxman (c. 1804)

OUTRAS FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA

:: não gosto de plágio: blake no brasil - por denise bottmann 
:: UFRJ - Letras (Poetas)

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© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske; colaboração José Alexandre da Silva


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COMO CITAR:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). William Blake - o poeta e o visionário. Templo Cultural Delfos, fevereiro/2023. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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* Página atualizada em 2.2.2023.
** Página original JULHO/2016.



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2 comentários:

  1. olá!
    acredito que houve um equivoco. a foto na seção OBRAS DE WILLIAM BLAKE EM PORTUGUÊS não é do blake e sim do pintor: william glackens. confere?





    '

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