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Festas juninas

Grande fachada festiva, de Alfredo Volpi - 1950

Origem das festas juninas
Antes de se tornar uma festa em comemoração vinculada aos santos do catolicismo, as celebrações no mês de junho já eram realizadas muitos antes da era cristã.
O solstício de verão no hemisfério norte ocorre em 21 ou 22 de junho, quando temos o dia mais comprido e a noite mais curta do ano. Os povos antigos, incluindo as civilizações gregas, egípcias e celtas, comemoravam essa passagem do calendário. Regadas com o calor do fogo e muita bebida e comida, eram celebrações à fertilidade e também para rogar aos seus deuses para que eles trouxessem fartura nas próximas colheitas.
Com a evangelização da Europa na Idade Média, o ritual pagão foi incorporado ao calendário cristão e ganhou um cunho religioso. Isso ocorreu, basicamente, por dois motivos: para facilitar a catequese dos pagãos e esvaziar ideologicamente suas comemorações. Não é por acaso que as comemorações cristãs possuem relação com as principais passagens de tempo. É o caso da Páscoa (que ocorre no primeiro domingo de lua cheia após o equinócio da primavera no hemisfério norte), o nascimento de Jesus (atribuído ao dia 25 de dezembro, logo após o solstício de inverno no hemisfério norte) e o dia de São João (dia 24 de junho, logo após o solstício de verão no hemisfério norte).
Em Portugal, a Igreja dedicou o mês de junho à celebração dos seus santos populares. Santo Antônio de Lisboa (ou Santo Antônio de Pádua) é comemorado no dia 13 de junho, São João Batista em 24 de junho, e São Pedro em 29 de junho.
Essa mistura entre festas cristãs de santos e folguedos pagãos recriam até hoje novas práticas culturais. Os rituais foram trazidos principalmente por portugueses ao Brasil colonial; mas houve a contribuição dos espanhóis, holandeses e franceses, o que deu origem a diversos tipos de celebrações nas diferentes regiões do país. Aqui, elas foram associadas aos rituais do solstício de inverno que também eram comemorados pelos povos existentes com muita festa e comida. A miscigenação étnica entre índios, africanos e europeus fez brotar no país uma série de belas expressões artísticas, como cantorias de viola e cordéis; emboladas de coco e cirandas; xote, xaxado e baião, sem falar nas quadrilhas e forrós.

Comidas típicas
Uma das principais atrações das festas juninas é a culinária típica. Como o mês de junho é tempo da colheita do milho no Brasil, os pratos mais comuns durante os festejos de junho são feitas a partir do grão. Além de servir para o consumo sendo cozido, assado e frito, o milho pode é  usado como base para inúmeros pratos, como curau, canjica, pamonha, pipoca, cuscuz, bolo, entre outros.
Além desses alimentos, as festas juninas são marcadas por um cardápio variado e com tradições que remontam ao interior do país: arroz doce, amendoim, paçoca, pinhão, broa de fubá, cocada, pé de moleque, quentão, batata doce assada, mané pelado (bolo de mandioca e queijo) e maçã do amor.

A quadrilha
Festa junina, de Edilsom da Silva Araújo
A quadrilha, dança típica das festas juninas brasileiras,  é carregada de referências caipiras e matutas. Mas sua origem vem de muito longe. A “quadrille” surgiu em Paris, no século XVIII, como uma dança de salão composta por quatro casais. Era dançada pela elite europeia e veio para o Brasil durante o período da Regência (por volta de 1830), onde era febre no ambiente aristocrático.
Da Corte carioca, a quadrilha acabou caindo no gosto do povo. Ao longo do século XIX, a dança se popularizou no Brasil e se fundiu com manifestações brasileiras preexistentes. “O brasileiro é um povo muito criativo e criou a forma estilizada de dançar a dança dos nobres”, opina a arte-educadora Lucinaide Pinheiro. A partir daí, diversas evoluções foram sendo incorporadas à quadrilha, entre elas o aumento do número de pares dançantes e o abandono de passos e ritmos franceses. As músicas e o casamento caipira que antecede a dança, também foram novidades incorporadas ao longo dos anos.
Um dos resquícios franceses na dança são os comandos proferidos pelo marcador da quadrilha. Escolhido, geralmente, entre os mais experientes do grupo, seu papel é anunciar os próximos passos da coreografia. O abrasileiramento de termos franceses deram origem, por exemplo, ao saruê (Soirée - reunião social noturna, ordem para todos se juntarem no centro do salão), anarriê (en arrière - para trás) e anavã (en avant - para frente).
:: Fonte e saiba mais em: Biblioteca Virtual Governo do Estado de São Paulo | EBC Agência. 

Festa de São João, de Heitor dos Prazeres
BREVE ANTOLOGIA POÉTICA - FESTAS JUNINAS E NOITE DE SÃO JOÃO

A noite de São João
Agora onde as colinas de Languedoc estão azuis com vinhedos
Nadando para as margens dos baixos cumes castanhos como conchas,
Um milhar de vilarejos começam a nomear a tua noite com fogueiras.

As chamas que acordam tão grandes como a fé,

Abrindo seus olhos ferozes e inocentes de colina em colina
No anoitecer de meados do verão,
Ardem nas eternas encruzilhadas 
Estas suas fogueiras pagãs e convertidas.

E os feixes escuros da formosa colheita de verão

Levantam-se nos campos profundos
Onde há dois mil anos, São João,
Tuas fogueiras são jovens entre nós;
Elas gritam, lá, como o teu testemunho no deserto,

Pelos olivais cinzas,

Pelas encruzilhadas das estradas dos vinhedos
Onde uma vez os feixes de trigo choraram sangue
Alertando para as foices dos maniqueístas.

E nos nossos corações, aqui, em outra nação

Está pronta a tua profunda noite de meados do verão.
É uma noite de outras fogueiras,
Em que todos os pensamentos, todos os destroços do mundo barulhento
Nadam para fora do conhecimento como folhas vivas ou como fumaça sobre as piscinas de vento.

Oh, ouve essa escuridão, ouve essa escuridão profunda,

Ouve esses mares de escuridão em cujas margens nós estamos e morremos.
Agora podemos ter a ti, paz, agora podemos dormir em tua vontade, doce Deus da paz?
Agora podemos ter a Tua Palavra e nela repousar?

Profeta e eremita, grande João Batista,

Tu que nos trouxeste para a soleira do teu deserto,
Tu que conquistaste para nós
O primeiro tênue sabor do abandono do mundo:
Quando poderemos comer as coisas que mal provamos?
Quando poderemos ter o santo favo de mel da tua própria vasta solidão?

Tu tens em tuas duas mãos, ah!, mais do que o Batismo:

Os frutos e as três virtudes e os sete dons.
Esperamos a tua intercessão:
Ou devemos morrer sem a misericórdia à beira dessas margens impossíveis?

Acenda, acenda neste deserto

Os rastros dessas fogueiras maravilhosas:
Purifica-nos e guia-nos na nova noite, com o poder de Elias
E encontra para nós os cumes do amor e da oração
Que a Sabedoria quer de nós, oh amigo do Noivo!

E leva-nos para as tendas secretas,

Os sagrados, inimagináveis tabernáculos
- Thomas Merton [tradução Moisés Sbardelotto].. poema do livro "Brucia, invisibile fiamma: Poesie per ogni tempo liturgico". Magnano, Itália: Edizioni Qiqajon, 1998.

§


Cordel do São João
São João arrasta-pé:
Forró, fogueira, baião...
Xote, xaxado e quadrilha...
Foguete, bomba, balão...
Caruaru-Campina Grande:
Fachada, Alfredo Volpi -1970
São João bom é no Sertão... 

São João lá na Bahia:
Na festa do interior...
Irecê, Ibititá...
Cruz das Almas, Salvador...
Em Recife dos Cardosos:
Fogueira, paz e amor...

Arraiá, queima de espada:
Cará, milho, animação...
Festa junina e joanina:
No Brasil é tradição...
Santo Antônio e São Pedro:
O quente é o São João...

Sortes e adivinhas:
Simpatia e acalanto...
Pai-Nosso, Salve-Rainha:
A festa é um encanto...
Santo de cabeça pra baixo:
Atrás da porta no canto...

Crisma, batismo de fogo:
Dançar e pular fogueira...
Asssar batata na brasa:
Cantar a Mulher Rendeira...
Baião de Luiz Gonzaga:
Com forró a noite inteira...

Latada, pamonha, canjica:
Mel, cuscuz e macaxeria...
Cachaça de alambique:
Cana quente de primeira...
São João é no Nordeste:
Pra curar a pasmaceira...

Mês de junho, 24:
O Dia de São João...
É festa da cristandade:
É antiga tradição...
Até no Antigo Egito:
Já tinha celebração...

Pular fogueira, dançar:
Chuva de ouro e rojão...
Sortilégio e buscapé:
É bela a celebração...
Pistolas de lágrimas no céu:
Nas noites de São João...

Bandeirolas e balões:
Claridade no Sertão...
Barraquinhas de comida:
Mugunzá, licor, quentão...
Balinha e amendoim:
Como é bom o São João...

No São João de hoje em dia:
Tudo está muito mudado...
Tem show e festa em clube:
Se perdeu o rebolado...
Saudade do São João:
No terreiro e no roçado...

No São João de minha infância:
Não tinha eletricidade...
A luz era à luz da lua...
Tinha estrelicidade...
Do São João de menino:
Lembro e morro de saudade...
- Gustavo Dourado. in: site do autor

§

Noite de São João
Alegria no terreiro!
Coloridas bandeirolas,
sanfona, flauta, pandeiro,
cantores violões e violas.
Junto ao mastro de São João,
nas mesas e tabuleiros,
tigelinhas de quentão …
quitutes bem brasileiros…
pinhão, pipoca, amendoim…
O céu, cheinho de estrelas,
e eu, com você junto a mim,
não me cansava de vê-las…
Lá fora, clareando tudo,
a crepitante fogueira,
estalando como açoite,
queimava o negro veludo
daquela festiva noite
de tradição brasileira.
- Décio Valente, no livro "Cantigas simples: poesias". São Paulo: edição do autor, 1971.

§

Noite de S. João
Noite de S. João para além do muro do meu quintal. 
Do lado de cá, eu sem noite de S. João. 
Porque há S. João onde o festejam. 
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite, 
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos. 
E um grito casual de quem não sabe que eu existo. 
- Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa), em "Poemas Inconjuntos".
- "Noite de São João" (poema de Alberto Caeiro|Fernando Pessoa), música de Vitor Ramil (voz e violão Vitor Ramil), do disco "Cantorias e Cantadores" vol.2. para ouvir acesse o link (acessado 1.6.2016).

§

Profundamente
Festa de São João, de Alfredo Volpi -1953
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes

Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?

— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
*
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?

— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
- Manuel Bandeira, no livro "Antologia Poética - Manuel Bandeira". Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001, p. 81.

§

Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
- Carlos Drummond de Andrade, no livro "Alguma Poesia". 1930.



Quadrilha, de Drummond por Drummond

§

“Nas noites de São João, uma fogueira enorme iluminava a casa de seu Ribeiro. Havia fogueiras diante das outras casas, mas a fogueira do major tinha muitas carradas de lenha. As moças e os rapazes andavam em redor dela, de braço dado. Assava-se milho verde nas brasas e davam-se tiros medonhos de bacamarte. O major possuía um bacamarte, mas o bacamarte só desenferrujava nos festejos de São João.”
- Graciliano Ramos, no livro "São Bernardo". 

§

“Quando vi a fogueira, passei ao largo, com medo de que os meninos me atirassem bombinhas. Mas, mesmo de longe, pude apreciar esse São João alegre e buliçoso, cheio de balões e de vozes gratas da infância.Apesar da literatura que se faz pelo Natal e pelo São João, esses dias continuam inundados de uma poesia própria, que resiste a todas as agressões dos principiantes das letras. Permanecem com sua força evocativa e voltam com aquela pontualidade inexorável para vir lembrar-nos que estamos envelhecendo irremediavelmente."
- Ciro dos Anjos, no livro 'O Amanuense Belmiro'.


CRÔNICAS E CONTOS
:: Crônica de Machado de Assis - festas juninas: (Santo Antônio, São João e São Pedro). Acesse AQUI!


FESTAS JUNINAS RETRATADA NAS ARTES PLÁTICAS

Festa de São João, de Alfredo Volpi (década 1940)

Noite de São João, Portinari - 1957

Festa de São João, Portinari - 1958

Festa de São João, de Anita Malfatti, s/data -
 [Coleção Particular - São Paulo]
Festa Junina, de Djanira - 1968

Festa de São João, de Anita Malfatti

Alfredo Volpi

Noite de São João, de Militão dos Santos

Paisagem imaginaria com igrejas e balões,
de Alberto Guignard (déc. 1930)

Ciranda Cirandinha, xilogravura de Amaro Francisco

São João - Marina Jardim (2013)


UMA SELETA DE MÚSICAS TRADICIONAIS DAS FESTAS JUNINAS E NOITES DE SÃO JOÃO 

Luiz Gonzaga - São João na roça (Álbum completo - 1962)


Chegou a Hora da Fogueira - Carmen Miranda 
e Mario Reis


Dalva de Oliveira - Pedro, Antonio e João (1943)



Lamartine Babo - Isto é lá com Santo Antônio 
(Álbum 'Em Tempo de Lamartine' 1972)




AQUI NO SITE
:: Música tradicional - folguedos e danças populares
:: Patrimônio cultural imaterial brasileiro


OUTRAS REFERÊNCIAS E FONTES DE PESQUISA
:: Biblioteca Virtual Governo do Estado de São Paulo



© Direitos reservados aos autores e produtores

© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske

Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Festas juninas. Templo Cultural Delfos, Junho/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____

** Página atualizada em 1.6.2016


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