Narlan Matos - acervo do autor |
Narlan Matos - foto (...) |
:: Fonte: o autor. (29.2.2016).
Essa sombra que me persegue – sou eu
Quanto mais claro e mais brilhante é o dia
Maior e mais nítida é sua face de breu
Tenho medo de tudo que é espelho
- Narlan Matos, 'Iluminuras populares', do livro "No acampamento das sombras". São Paulo: Cone Sul, 2001.
Narlan Matos - foto: Erico Amaral |
PRÊMIOS
1997 - Prêmio Copene de Literatura e Arte (atual Prêmio Braskem, na Bahia), pela obra "Senhoras e senhores: o amanhecer!".
2001 - Prêmio XEROX de Literatura Brasileira, pela obra "No acampamento das sombras".
Narlan Matos, por Devson Lisboa |
Poesia
:: Senhoras e senhores: o amanhecer!. [texto/orelhas de Ferreira Gullar, Ruy Espinheira Filho e Herberto Sales; capa Humberto Vellame]. Coleção Casa de Palavras. Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado, 1997, 94p.
:: No acampamento das sombras. São Paulo: Cone Sul, 2001.
:: Elegia ao novo mundo e outros poemas. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012.
Dissertação Mestrado
TEIXEIRA, Narlan Matos. Inventory of Chaos: Rogério Duarte, Tropicália and Postmodernity. (Dissertation Brazilian Literary and Cultural Studies). University of Illinois at Urbana-Champaign, 2012.
:: Outras produções acadêmicas e poéticas. Acesse AQUI!
Antologias (participação)
:: The Poetry of Men's Lives: an International Anthology. [Editado por F. Moramarco & A. Zolynas]. University of Georgia Press 2004.
:: Concerto Lírico a Quinze Vozes: uma coletânea de novos poetas da Bahia. [Edição J. I. Vieira de Melo]. Salvador BA: Aboio Livre, 2004.
Narlan Matos, por Rodrigo Artes |
:: Dueto de mundos: poetas do ocidente e oriente em Simpatia, de Narlan Matos e Maki Starfield. Kyoto: Junpa livros, 2016.
Organização
:: Tropicaos. de Rogerio Duarte. [organização Narlan Matos. Mariana Rosa e Sergio Cohn]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2003, p. 178.
Obra traduzida
Eslovênia
:: Pesem o vetru in mojem življenju - Narlan Matos. (antologia).. [tradutores Mojca Medvedšek, Blažka Müller Pograjc]. založba: Center za slovensko književnost izida: 2015.
Itália
:: La provincia oscura. Narlan Matos. [a cura di Giorgio Mobili]. Roma: Edizioni Fili D'Aquilone, 2016.
Japão
:: Duet of dots. Narlan Matos e Maki Starfield. [editor Mariko Sumikura; illustrator James Spitzer]. Japanese edition. Kyoto: Junpa Books, 2015.
:: Selected Poems with Japanese translations Narlan Matos. [translated from portuguese to english by Narlan Matos and Rebecca McKay; translated to Japanese by Kageura Makiko]. Disponível no link. (acessado em 29.1.2016).
:: Poemas traduzidos. Acesse AQUI!
Traduções realizadas
:: Cinco autores eslovenos (Five slovenian authors).. [translation to Portuguese Mozetič, B, M. Duchiade, S. Miguez, S. B. Salej, Narlan Matos]. Ljubljana, Slovenia: Slovenian Writers Union Press, 2000.
:: Outras traduções feitas. Acesse AQUI!
Ensaio do tempo
Me sinto à todo tempo partindo com o vento
Para lugares que não existem mas que existem porque criei
Aos poucos tornei-me esta duna cheia de lembranças e esquecimentos
Mas sinto a vida passando e o tempo em mim escorrendo
Enquanto sofro enquanto rio de felicidade
Meu corpo corre contra o tempo e eu corro para eternidade
- Narlan Matos, em "No acampamento das sombras". São Paulo: Cone Sul, 2001.
Narlan Matos - foto: Erico Amaral |
A casa paterna
na casa paterna cada porta é um labirinto
(são vinte e uma ao todo)
e todas se abrem para mim e me absinto
em lembranças batalhas em que quedei em silêncio
tragédias perdas manhãs sonhos aromas figos cajus
embora seja de adobe – como as casas do Novo México
é sobrenatural a casa: eis aqui o grande corredor
que vai dar no mistério, onde dormem memórias
dos tempos bélicos e por isso a casa é uma fortaleza
mas inútil para me defender dela e de sua metafísica
no porão – profundo e duro como a matéria do tempo
a noite é feita de ventos, escorpiões e idiomas alheios
e lá espectros habitam os quartos onde viviam escravos
tudo se move sem que se mova
tudo é invisível e tenaz como o aço de uma espada
e onde sempre sou sem nunca haver sido
esse muro branco ao redor do imenso quintal
tão alto quanto as nuvens e já não posso escapar
o velho coqueiro desafiando a brisa
e os sabiás de Gonçalves Dias nos ninhos
e esse velho jardim de mitos e alfazemas e jasmins
– onde jazem mins
repentinamente outros eus que julguei mortos
ressuscitam como fantasmas
como Lázaro ao sair da sepultura
assim sigo: eu dentro da casa e a casa dentro de mim
estou certo de que jamais sairei daqui vivo
- Narlan Matos, em "Elegia ao novo mundo e outros poemas". Rio de Janeiro: 7Letras, 2012, p. 50.
§
Narlan Matos - foto: Acervo do autor |
abutres negros
planando calmos
nos píncaros das Américas
feito nuvens negras de plumas
se arrastando lentas ante nuvens brancas
em tuas asas de ventos a lembrança acesa
da Península de Yucatán e do México
e da Baja Califórnia e do Pico de Orizaba
nahuas e huastecos e yaquis e zapotecas
e dos finos nardos dos cactos de Sonora
e os lendários pueblos do Novo México
em tuas asas de ventos negros
os grandes segredos
sobrevoando os pueblos de Taos
o inexpugnável deserto do Mojave
as flores silvestres do Vale da Morte
e a Misón de Santo Antonio de Valero
sobrevoando os acidentes geográficos
as caatingas lajedos e o Acongágua
– o grande abutre que voa impávido
tu, sobrevivente da história e das lendas
dos Anassazi dos Yanomamis e dos Zia
guardas a imensa alma das Américas
– pura e sincera – sob tuas asas negras
- Narlan Matos, em "Elegia ao novo mundo e outros poemas". Rio de Janeiro: 7Letras, 2012, p. 32.
§
Acalanto
Há que alimentar a inocência de criança
E embalar a ternura, a criatura, a esperança
Há para o sonho não morrer
É preciso dormir para sonhar
É preciso sonhar para viver
Há tantas crianças dormindo
Ainda
É alta madrugada
Lá fora faz tanto frio
Psiu !!!
Não falem tão alto
Quando despertarem não adormecerão jamais como agora
- Narlan Matos, em "Senhoras e senhores: o amanhecer!". Coleção Casa de Palavras. Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado, 1997.
§
Álamos
nas árvores escurecidas
o pólen germina a noite
repleta de águias e coiotes
e narcisos selvagens demais
o vento abre suas asas enormes
e voa sem que possamos notá-lo
sobre quintais estrangeiros
um galo tardio anuncia a noite
e as corujas silentes nas copas
vigiando para que o dia não as
apanhe de surpresa em suas mãos
- Narlan Matos, em "Elegia ao novo mundo e outros poemas". Rio de Janeiro: 7Letras, 2012, p. 65.
§
Alumbramento
Só quando acordei hoje cedo
Notei que não havia mais ninguém em mim
Nem você
À sós, comigo, a vida é esse bloco de granito
Exata, dura, amolada pelo espaço infinito
E eu sou essa mansão de três andares
Quarenta quartos e vinte e cinco salas
- sem ninguém dentro
- Narlan Matos, em "No acampamento das sombras". São Paulo: Cone Sul, 2001.
§
Alquimistas da aurora
O ano que desaportou no cais do porto
Parte amanhã cedo na brisa frêmita do instante
Assim são nossos dias – breves passos nas areias do tempo
O dia que nascera há pouco, já soluça tenro muito além daquela serra
Assim é essa hora
Nos faz pessoa’
Alquimistas da aurora
O menino
O homem
O velho
E agora?
Em galope veloz
Fugimos do frio sibério dos minutos
Na certeza de que em nosso rastro
Em cavalgo certeiro, feroz
Algo nos persegue
Assim somos nós
Fugitivos ....
Em nossos cavalos alados de fogo
Transpassaremos feito raios as fronteiras atrozes desta noite
Para esquecermos na embriaguez de cada lua
A certeza de que chegamos e que partiremos
- Narlan Matos, em "Senhoras e senhores: o amanhecer!". Coleção Casa de Palavras. Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado, 1997.
§
Narlan Matos - foto (...) |
nesta noite da América austral
navego o firmamento com meus olhos
contemplando o que lhe há de invisível:
num espelho só me interessa o que não vejo
nesta noite da América austral
roubo a tinta de prata das estrelas
e debuxo outro homem
sobre o papel de seda azul da noite
vou dormir sonhando que a humanidade
liberte o pássaro azul da manhã
dos braços da escuridão
nesta noite da América austral
escrevo outro homem com a tinta das estrelas
- Narlan Matos, em "Elegia ao novo mundo e outros poemas". Rio de Janeiro: 7Letras, 2012, p. 34.
§
Antes que anoiteça
Antes que anoiteça
É preciso recolher os infantes que crescem nas ruas
E alertar o Capitão que há uma guerra!
Tomaremos Paris de assalto esta noite
Colocaremos sentinelas nas esquinas
E soaremos o toque de avançar
Às caixas de guerra!
Primeiro dobrado
Marche!
Antes que anoiteça
Abriremos apertos de mãos
E nos diremos sorrindo
Aprenderemos a sinceridade
A dizer quase sempre a verdade
Antes que anoiteça
Passaremos rascunhos a limpo
Descobriremos que a vida é feita de sete quedas e uns amores
Revolução do coração já!
É tempo ...
É tempo de colher os frutos
É tempo de falar do amor
O amor
Espalharemos rosas nos campos devastados pelas guerras!
Strawberry fields forever!
Campos de concentração – nunca mais
É preciso entender a poesia
Antes que anoiteça
- Narlan Matos, em "Senhoras e senhores: o amanhecer!". Coleção Casa de Palavras. Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado, 1997.
§
Automundo
Pessoas apressadas
Cidades apressadas
Mundo apressado
Aonde vocês estão indo com tanta pressa?
A vida fica a 450º Oeste
- Narlan Matos, em "Senhoras e senhores: o amanhecer!". Coleção Casa de Palavras. Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado, 1997.
§
Canção de minha rua
Nasci na Rua da Matriz de Itaquara para nunca mais morrer
É dela que vem este riacho que nunca seca
É dela que vem a poesia que vai em minha vida
Nesta cidade que apaga a todos com mãos de borracha
Cheia de over drives e avenidas de vale e estruturas fantásticas
Nesta cidade que faz de cada um todo mundo – sem escrúpulos –
Estás comigo ruazinha
esta manhã que nunca vai anoitecer
tu me fizeste como sou sou
me inventaste com teu matiz, teu cariz
e só assim sou feliz, feliz e não triste
porque sei que estou aqui vivo
nesta cidade onde ninguém existe
nesta cidade onde ninguém existe
- Narlan Matos, em "No acampamento das sombras". São Paulo: Cone Sul, 2001.
§
Cirandas
de repente
por detrás de casas vermelhas amarelas magentas
e do silêncio dos quintais verdes e das árvores azuis
o estrondo da campanhia e o vozerio imediato
das crianças americanas
na escola ao lado explodindo a inércia da manhã
e repartindo o dia entre tantos dias e olvidos
de repente
por detrás de tantos anos (trinta?)
e de tantos continentes e calendários destroçados
o barulho da sineta e a algazarra na hora do recreio
e as crianças do Grupo Escolar João Pessoa
de mãos dadas cantando cirandas
e ainda girando
e ainda girando
em algum lugar de mim
- Narlan Matos (Illinois|EUA, 2010), em "Elegia ao novo mundo e outros poemas". Rio de Janeiro: 7Letras, 2012, p. 53.
§
Civilizações Ágrafas
eu escrevo
porque em 476 d.C
os turcos otomanos tomaram Constantinopla
e acabaram com o Império Romano
e porque a Peste Negra quase extinguiu os europeus da face da terra
e por que o Rio Mississípi é o mesmo rio que corre onde eu nasci
e porque o Egito é um presente do Nilo
eu escrevo
porque Abraão Lincoln e Tupac Amaru existiram
e tenho claras provas disso
e porque Bartolomeu Dias cruzou o Cabo das Tormentas
para que Portugal fosse feliz
e porque Vasco da Gama entregou uma carta de D. Manuel I de Portugal
ao Samorim de Calicute explicando tudo
e porque em 1492 a América foi encontrada
antes de tudo
porque o homem inventou a escrita e o alfabeto latino
eu escrevo
porque Dylan Thomas cantava seus salmos para o homem
da mesma forma que o Grande Rei Salomão
cantava os seus a Deus
porque quando nasci
não havia data importante para celebrar
exceto no dia anterior quando a Bastilha tombou
e porque o Chade é o coração morto da África
e porque Deus inventou Einstein
para que Einsten inventasse Deus
eu escrevo
porque os Árabes colonizaram
uma Europa arrogante e miserável
pagã como as chamas da Santa Inquisição
e porque Santo Agostinho era virtuoso
e porque Maurício de Nassau trouxe Franz Post para a Nova Holanda
e Nicolas Poussin pintou um quadro chamado
a Peste em Ashdod no ano de 1630
e porque milhares de escravos foram trazidos
da África acorrentados nos navios mercantes
e porque Castro Alves escreveu Vozes D’Africa em língua portuguesa
eu escrevo
porque hoje é segunda-feira
e amanhã vou encontrá-la de novo
e ver seu sorriso mais lindo que a face da primavera nos prados
e por isso ela estará sempre comigo com o céu verde em seus olhos
e porque descobri que uma parte dela é verdade
e a outra escrevi eu mesmo
e porque quero visitar a Bolívia e a Venezuela
e porque os índios no continente americano estão ameaçados de extinção
eu escrevo
para me vingar do Tratado de Tordesilhas e da malta dos quatrocentos
[degredados
e para responder à Carta do Descobrimento
aos diários de Hernan Cortéz, Francisco Pizarro e Cabeza de Vaca
e porque Cristóvão Colombo chegou até aqui
e porque Adão e Eva foram expulsos do Eden – como eu
eu escrevo
porque o fim do verbo é o fim do mundo
- Narlan Matos, em "Elegia ao novo mundo e outros poemas". Rio de Janeiro: 7Letras, 2012, p. 28-29.
§
Cosmogonias
Entre esses dois numerosinhos cardinais
Cabem infinitos números
O sistema solar inteiro ... e mais eu
Os livros enfileirados, um após o outro
Nas prateleiras longas desta biblioteca
Parecem compor um outro livro, num
Outro plano, noutras nuances
Em tudo há uma passagem que vai dar
em outra coisa
coisa dentro de coisa
fundo sem fundo
Meu gato se aproxima de mim, leve
Feito um gato
lambe minhas pernas
Com um olhar felino azul me indaga
Milhões de universos se encaixam
Nos espaços que outros deixam
E formam imagens
E formam miragens
E formam estranhas linguagens
Como a língua dos Búlgaros que aterroziravam
A Europa há séculos e séculos atrás
Observando estas formiguinhas aqui
Caminhando lentas no galho do Pessegueiro
Indo em direção cega ao pêssego
Que amadureceu
Sem me perguntarem nada
Me pergunto quando é que isso tudo
Vai caber em mim
- Narlan Matos, em "No acampamento das sombras". São Paulo: Cone Sul, 2001.
§
Elegia ao novo mundo
tu me perguntas meu amigo
onde eu estive durante o meu longo silêncio
estive na açucena das canas e na amargura dos canaviais
onde as folhas tremiam de medo dos homens
os canaviais me sussurraram em gritos horrendos
o sangue amargo que lhe adocicou a boca
as mãos ásperas que lhe enxugaram a face
o canavial que morria de fome antes de completar 27 anos de idade
das vozes sem estrela que embalavam ao longe línguas estranhas
ó canavial verde, de que cor é meu sangue vermelho?
meu sangue tem medo da morte do açoite da noite
meu sangue tem medo de mim
tu me perguntas meu amigo
onde eu estive durante o meu longo silêncio
eu estive nos navios negreiros mercantes
que mercaram meu destino até a América até agora
beberam minhas lendas como se bebe um barril de rum podre
mercaram cada estrela do céu e do mar infinito
cada pássaro cada pluma de meu cocar
e desenharam mapas com meu sangue
e ergueram totens sobre minha tribo
e atearam fogo nos campos sagrados do meu povo
e suas lanças me repartiram as veias em continentes distantes diferentes
tu me perguntas meu amigo
onde eu estive durante o meu longo silêncio
estive pelas escumas dos mares nunca d’antes
por onde vieram a pólvora a baioneta o espelho a tuberculose a sífilis
por onde vieram a espada e o elmo
– as nuvens jamais se esquecerão disso!
oh mar salgado, quanto de teu sal são genocídios de Portugal!
no atlântico negro
nos tombadilhos de velhos navios piratas
nos calabouços da crueldade humana
nas prisões da Serra Leoa – que ainda doem em alguma dobra do meu corpo
em Angola
na Guiné-Bissau
no Senegal
no Benin
estive no reino da Guatemala
e na província de Yucatán
e na província de Cartagena de las Indias
e nos grandes reinos e grande província do Peru
e no novo reino de Granada
e nas ilhas de Cuba e Trinidad
e no reino dos Astecas
onde espadas de brutalidade fenderam meu corpo nu
onde os cães de caça dos barões das Índias se alimentavam dos braços e
[das pernas de crianças indefesas
tu me perguntas onde eu estive meu amigo
e somente agora posso quebrar meu silêncio:
eu estive comigo
- Narlan Matos, em "Elegia ao novo mundo e outros poemas". Rio de Janeiro: 7Letras, 2012, p. 17-18.
§
Elenco
Não é o mundo, é uma película
Não é a vida, é um roteiro
Não é a cidade, é uma tela
Não é o dia, é uma cena
Não sou eu, é uma personagem
Não é Deus, é o diretor.
- Narlan Matos, em "No acampamento das sombras". São Paulo: Cone Sul, 2001.
§
Narlan Matos - foto: Érico Amaral |
sou infecto
e estou cheio de impurezas
como meu povo
o povo que me povoa
de olfatos e memórias
de olvidos e quimeras
de azaleias azuis e cançonetas
o povo que em mim soergue povoados e aldeias
e esculpe acidentes geográficos em minha carne
falando línguas que não falo
escrevendo palavras que não escrevo
como um trem de vapor
planando sobre os caminhos de uma terra virgem
e hesita e segue rumando adentro do invisível
mais que há em nós
garimpando luares
num rio de noites
códices
máscaras
espectros
totens
pássaros
mosaicos
verdes
latitudes
lavras
povos
llamas
bisões
lanças
pirâmides
cântaros
instrumentos
escrevendo palavras de nuvens e advento
na boca de uma civilização
sou infecto
como a lâmina afiada invisível que em mim
(que nos nós profundos)
fronteira o sim e o não
e sei antes que o tempo fosse tempo
que não se nasce impunemente
a moeda com que se cunha um continente
mas estou contrito com o horizonte
com as pedras de Machu Picchu e Cuzco
com o cobre por sobre o sol que cobre o Atacama
com o coqueiral verde-oliva na ilha de meus sonhos
o bananal verde-claro por sob seu crepúsculo
sou infecto
e espero a chuva que não molha
a chuva que não cai do céu
a chuva que não lava
a chuva que um dia resplandecerá em mim um dia límpido de maio
- Narlan Matos, em "Elegia ao novo mundo e outros poemas". Rio de Janeiro: 7Letras, 2012, p. 25-26.
§
Meridianos
Entre a densidade da vida e a leveza do ar
Entre nuvens de poesia e nuvens de carbono
Entre o Novo Testamento e a rispidez do Tora
Entre as carícias que me deste e as que não queres mais me dar
Quem sempre pede por amor mas tem medo de amar
Entre o claro que há no céu e o pez da tempestade no mar
Entre o Nordeste do Brasil imerso em sua miséria
E a sonda espacial que foi a Marte espionar
Sobre a Linha do Equador e a linha de costurar
Eu que quando parto fico e quando fico quero zarpar
Vou lento lendo a me procurar
- Narlan Matos, em "No acampamento das sombras". São Paulo: Cone Sul, 2001.
§
Noturno
O vento sul sopra novamente de algum lugar de mim – sólido
Tantas são as partes
Tantos sou eu.
Vagar por folhas secas, desfeitas e caducas que me resvestem como lágrimas
O outono não é tão cordial quanto setembro
Como aquela de tez lisa e ardente que me acariciou a face descorada pelo tempo
Hoje o dia não aconteceu
O mundo inteiro evaporou e a chuva apagou o que já não havia.
- Narlan Matos, em "Senhoras e senhores: o amanhecer!". Coleção Casa de Palavras. Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado, 1997.
§
O país crônico
é crônico meu país
em suas vielas enlamaçadas
praias enluaradas
noites estreladas
há um crime em sua flora
é crônico meu povo
sambando resignado
entre o pelourinho
e a enseada de Botafogo
é crônico meu país
em seus coqueiros feitos de sol
(é perigosa sua vegetação rasteira)
são crônicas minhas mãos
sonhando meu país e meu povo
buscando outro poente para o poema
é longa a restinga entre um poeta e um povo
ao meu redor minha terra
seus perfumes e seu mar
sobre sua superfície beijam-lhe os rios de minha infância
e as estepes como esmeraldas verdes
brotadas do fundo de seu mistério sem fundo
em sua face
as brancas areias de uma duna
tão bela quanto a cabeleira negra de uma palmeira ao luar
em suas alas
de vento litorâneo
tremulam seus estandartes:
o pão de açúcar nosso de cada dia
feito de nossas amarguras
e a Baía de Guanabara
sobrevoando o absurdo
como uma asa delta sobre Ipanema
sob a qual está parado meu poema
em sua alma
ornada de romãs
cajus pitangas e oiticicas
suas chapadas são palavras secando ao sol
em sua alma
dorme um sonho
(um sonho doce e profundo
como uma manga madura no pé)
um carro alegórico e uma porta-bandeira
à espera do advento do grande dia.
- Narlan Matos, em "Elegia ao novo mundo e outros poemas". Rio de Janeiro: 7Letras, 2012, p. 41-42.
§
Narlan Matos - foto (...) |
Na beira daquele rio
Há alguém
Que o tempo não rui
Debruçado
Com olhos à eternidade das águas que passam
As águas espelham os olhos
Os olhos espelham as águas
As águas que a vida traz
A mesma vida carrega
Para sua correnteza distante
E tudo não passa de passagem
Nasce o dia
Nasce para nós
Desatarmos os nós
E assim ficará nascendo até que nasçamos para sempre
- Narlan Matos, em "Senhoras e senhores: o amanhecer!". Coleção Casa de Palavras. Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado, 1997.
§
Orquídeas
a manhã
ao redor das orquídeas
desenha gestos acorda cores
encanta as nuvens brancas
e as faz rubras amarelas azuis
são sóbrias as orquídeas
nesta manhã boreal
iluminadas pelo sonho
são ainda mais formosas
as orquídeas são borboletas
que não sabem voar
nelas ecoa uma música pungente
e suave como a bruma leve
ou o orvalho adormecido sobre
o verde-escuro das begônias
as orquídeas são o espelho
onde a manhã se vê e se mira
acesas como estrelas recém-nascidas
vermelhas como papoulas ao entardecer
de um fevereiro de fogo e lava
como seus abraços de infinito
acolhem geografias barcos sonhos
e signos e desconhecidos alfabetos
a manhã nasce das orquídeas
- Narlan Matos, em "Elegia ao novo mundo e outros poemas". Rio de Janeiro: 7Letras, 2012, p. 63.
§
Os grãos
Um homem velho pousado na praça
em estado de estátua
parece não ver os pássaros que passam
em busca dos grãos
os olhos fixos no nada que é agora
cada ruga que vê traz em si uma rusga
que pesa na alma feito ferro
não há mais como voar de si
sente os movimentos cada vez mais lentos
sente o sangue se arrastando pelas vias
Assiste bem à presa fácil que se tornou
Não é a vida vaporosa que por fim escapa
É o tempo que lhe alcança.
- Narlan Matos, em "No acampamento das sombras". São Paulo: Cone Sul, 2001.
§
Rafia
Noto que os livros me ateiam silêncios apenas
Imerso num rio amarelo de folhas mortas
A escrivaninha se desfaz de mim e me exila
Minhas mãos vagas galgam e não encontram
Tento recortar um losango fresco do céu
E colar sobre a superfície do papel – sem sentido
Frases soltas em busca de liga, em busca de asas
Não adianta nem o clássico tratado de versificação
De Manuel Bandeira – tudo resulta em vão
Só há poesia se houver vida antes de mais nada
- Narlan Matos, em "No acampamento das sombras". São Paulo: Cone Sul, 2001.
§
Raiar
Vinham com a tarde meus raios de ternura
Vinham com a chuva meus sonhos de chuva
Vinha com o vento a voluta cantilena
Vinham com as nuvens telegramas de Estocolmo
Vinham com a vida outras formas de tristeza
E o cansaço e a frieza da escuridão meridional
Vinha com azul celeste a imensidão da eternidade
- Narlan Matos, em "No acampamento das sombras". São Paulo: Cone Sul, 2001.
§
Romance das romãs
mesmo teu cabelo
que não sei o nome da cor
teu sorriso
intrigante como um rubi ao sol
como um amanhecer no atlântico sul
mesmo a pétala dos teus seios
impregnando o dia de outros tons
mesmo teu ventre
esculpido por meus beijos
no silêncio no afã
mesmo quando dormes infinita
espalhada no leito como a Via Láctea no universo
mesmo tua tez alva lisa fina teus lábios ao toque da manhã
tudo em você é uma romã]
- Narlan Matos, em "Elegia ao novo mundo e outros poemas". Rio de Janeiro: 7Letras, 2012, p. 71.
§
Sombra
O mundo que vejo
Está por trás dos olhos
E me olha desconfiado
Meus óculos estão tortos
E pesados demais
Há um segredo guardado em cada coração
Num lugar onde ninguém tem acesso
A moça é muito elegante
Com um vestido verde anos setenta
Essa caneta que me trouxeram
De Londres escreve tão bem quanto a minha antiga
O mundo que eu escrevo
Está deitado à sombra
- Narlan Matos, em "Senhoras e senhores: o amanhecer!". Coleção Casa de Palavras. Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado, 1997.
§
Narlan Matos - foto: Érico Amaral |
Estas não são as flores que deixei
Estas não são as coisas que deixei
Esta mesmo não é a Ana Maria que deixei
Ana Maria mudou-se
Só as fotografias riem para sempre
O mundo não
O mundo não é um retrato
Este, este não é meu coração
Esta,
Esse aí não sou eu
Eu ?
Eu me perdi de mim
O tempo bate asas
Enormes
Indiferentes
À espreita de ninguém
À espera de ninguém
Era uma vez
Uma vez ...
Essas pegadas que arquiteto agora na areia
Não durarão muito
Não mudarão
Não apagarão a arquitetura das que ficaram
(no pretérito tudo permanecerá intacto)
Aquelas,
Aquelas estão mortas
Para sempre
- Narlan Matos, em "Senhoras e senhores: o amanhecer!". Coleção Casa de Palavras. Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado, 1997.
§
Tenochtitlán
e quem libertará o crepúsculo dos velhos pecados?
mais do que isto: quem entenderá a luna equatorial
bordando com estrelas a longa noite que se arrasta há séculos?
numa praia guatemalteca dormem a tristeza e a esperança
do coração latino-americano revolucionário e suave
em nossas faces máscaras astecas formatam nossos rostos
e o estranho sacrifício da vida ainda ocorre dentro de nós
quantos dobrões de ouro não pagariam pela captura de minha alma...
- Narlan Matos, em "Elegia ao novo mundo e outros poemas". Rio de Janeiro: 7Letras, 2012, p. 38.
§
Tzar
é colossal a espera por tudo
pelo mar que o poente esconde e desenha
pelos braços mansos do brancor da praia
da espuma
pelo perfume das alfazemas
pelos prados e pelas violetas
pela dama sonhada com suas mãos de lírios
e seus braços de jasmim
perfumados pelo frio da noite escura
é imortal o tzar do tempo
como um samurai escondido no invisível
sobrevoando nossos cadáveres frágeis
vocabulários escorrem de sua boca
em forma de regatos e montanhas
em nossas almas
dói a dor de ser e estar
em nossas almas
nada cala nem acalenta
e depois de tudo
nos acena um estranho nada por detrás das coisas
enquanto isso sente os amanheceres
e o vento
e o ouro que o verão semeia na paisagem
e as palavras de março anunciando folhas verdes
sente a água escura dos rios da floresta
fluindo sobre a areia branca
sente o que há de terno meu irmão
Porque é colossal a espera pelo homem
- Narlan Matos, em "Elegia ao novo mundo e outros poemas". Rio de Janeiro: 7Letras, 2012, p. 83.
§
Vazio
Essas ruas vazias
Essa noite vazia
Esses dias vazios
Essas pessoas desertas
Essas praças desertas
Essas hora vazia
Tudo que temo
De um dia
Ser vazio
Como esse vazio
Que me invade agora
- Narlan Matos, em "Senhoras e senhores: o amanhecer!". Coleção Casa de Palavras. Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado, 1997.
Narlan Matos - foto (...) |
ALBUQUERQUE, Adenilson de Barros de.. Os nossos quintais e a poesia de Narlan Matos em Elegia ao Novo Mundo e outros poemas. LL Journal, v. 9, p. 00, 2014. Disponível no link. e link. (acessado em 29.1.2016).
ALBUQUERQUE, Adenilson de Barros de.. Memória e identidade nos poemas A via crucis e Numa praia deserta da california, de Narlan Matos. in: 17ª JELL, 2014, Marechal Cândido Rondon. Jornada de Estudos Linguísticos e Literários, 2014.
ANDRADE, Alysson. Poeta Narlan Matos fala sobre Tropicália, Gil e São João de Jequié. in: Jequi Noticias|Espaço Aberto. Disponível no link. (acessado em 29.1.2016).
ARAÚJO, Jorge de Souza. Fragrância do canto novo. (crítica). Disponível no link. (acessado em 29.1.2016).
Narlan Matos - foto: acervo do autor |
FONSECA, Aleilton santana de.. Panorama de la poésie brésilienne: les poètes bahianais, des modernes aux contemporains (Panorama of Brazilian Poetry: the Bahian Poets, from Modern to Contermporary). Latitudes, nº 17, maio|2003, p. 4-7. Disponível no link. (acessado em 29.1.2016).
LEUZZI, Silvia. L’esagerato Io di Narlan Matos. in: Cerco la Strofa, 14 ott, 2015. Disponível no link. (acessado em 29.1.2016).
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NARLAN Matos på Södermalms Poesifestival 2013. in: Tidningen Kulturen (Suécia), 28 augusti 2013. Disponível no link. (acessado em 29.1.2016).
NARLAN Matos. Domača in brazilska poezija ter romaneskno vijuganje med ustaljenimi vzorci mišljenja. RTV|SLO/STA (Eslovena) - Ljubljana, 21 december 2015. Disponível no link. (acessado em 29.1.2016).
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POETRY Translation Workshop, Slovenia. in: 诗东西 Poetry East West, December 19, 2015. Disponível no link. (acessado em 29.1.2016).
RIBEIRO, Carlos. à luz das Narrativas - escritos sobre obra e autores. Salvador BA: EDUFBA, 2009, 133p. Disponível no link. (acessado em 29.1.2016).
SANTIAGO-DÍAZ, Eleuterio. Narlan Matos e Elegia ao novo mundo e outros poemas: o prólogo extraviado. Revista Literatura, História e Memória, vol. 10, nº 16, 2014. Disponível no link. (acessado em 29.1.2016).
TEXEIRA, Narlan Matos. Lawrence Ferlinghetti: A micro-interview with Narlan Matos (entrevista). in: IWP 9 Internacional writing Program, 2010. Disponível no link. (acessado em 29.1.2016).
AMIZADES LITERÁRIAS E ARTÍSTICAS
Narlan Matos and Noam Chomsky no MIT (2008) - foto: acervo do autor |
Derek Walcott and Narlan Matos [prêmio nobel de literatura], in Iowa University (2002) |
Narlan Matos e David Hilliard (dos Panteras Negras), Universidade Novo Mexico, (2005) |
Narlan Matos e o maestro Luiz Caldas - foto: acervo do autor |
Myrian Fraga e Narlan Matos - foto (...) |
Do outro lado do espelho
Não sou eu quem me sorri
Do outro lado do espelho
Não sou eu quem me olha
Aí dentro
Olha pra mim
Sem me olhar nos olhos
Um alguém desconhecido
Espelho, espelho meu
Quem me olha do espelho não sou eu
- Narlan Matos, em "Senhoras e senhores: o amanhecer!". Coleção Casa de Palavras. Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado, 1997.
RECITANDO POEMAS - VÍDEOS
Narlan Matos Teixeira, "Elegia ao novo mundo"
Narlan Matos Teixeira, poemas: "Pós-colombianos" -
"América austral" - "Tenochitlán"
Minas das Minas, Luiz Caldas and Narlan Matos
Os lírios
lentos, os lírios acontecem
...............................................
ensimesmados em seus casulos
aguardam pela chegada do grande acontecimento
de repente – mas muito lentamente
explodem de dentro de si para se tornarem a si mesmos
mesmo já tendo sido a si mesmos desde sempre
explodem as pétalas brancas
de dentro
de algum lugar do seu misterioso verde
é belo o sorriso branco dos lírios
compondo sua ficção com as palavras do nada
e, mais oculta ainda,
sua fragrância pura emana como um hálito
o mais puro hálito da natureza sobre os homens
- Narlan Matos, em "Elegia ao novo mundo e outros poemas". Rio de Janeiro: 7Letras, 2012, p. 70.
Narlan Matos - foto: Benediktas Januševičius |
Glossário
contra o pó de que sou feito, só mesmo as palavras
só elas me lavram com seus arados inexistentes e
abrem sulcos na carne em que habito e de que sou feito
e me preparam para o que não sei
para o grande mistério da colheita
só as palavras sopram em minhas narinas e me originam
só elas me dão bocas e vozes e me nutrem com sua estranha matéria
e me fazem homem (Só as palavras fazem o homem possível)
fazem nascer o deserto e o oásis
fazem nascer linhas e acidentes
fazem nascer minhas unhas cabelos
meus pés com que piso na terra e esculpo
pegadas e rastros dementes e trilhas
bebo as palavras como a terra bebe a chuva e o rio
e urina os cirros e os nimbos e o orvalho leve
como as palavras como se fossem frutas frescas colhidas
vivas deste quintal numa manhã nímia de janeiro ou março
como-as como se tivessem cor e forma geométrica
todas as frutas frescas da manhã de um quintal ensolarado
são palavras
soltas como roupas secando ao vento no varal
são pássaros-palavras e pousam sobre mim em bandos e depois
voltam para de onde não vieram
são sóis as palavras tingindo com sua lua todas as cores
as peras de mostarda e os abacaxis de amarelo
contra o barro de que sou feito, só mesmo as palavras
me libertam de mim mesmo
de minha alma
um pequeno lote de terra dentro do qual labuto pela vida
há séculos a alma do homem não passa de um latifúndio improdutivo
há que se fazer reforma agrária na alma do homem
palavras como limo limeira sobre o lajedo
como pedras afiadas
como águas-vivas
como plantas e seiva e saliva
como fetos
como sal do mar
como ciranda de sentidos
(as plantas sempre voltam seus rostos para o sol)
palavras como corais de semânticas da escarpa inacessível
como vinhas sobre vinhedos
como as palavras como a terra come a semente nova
e defeca a grama o húmus a estepe rasteira a manga-rosa doce manga-espada
contra o exército da realidade
somente as palavras ateam fogo sobre minha superfície
serão orquídeas selvagens envenenadas de tempo e perfume?
serão embarcações onde navegam a metafísica e os átimos?
são as palavras de lírios ou delírios?
ou são as palavras feitas do mesmo que as pedras?
contra o pó de que sou feito, só mesmo as palavras
ouço as palavras assanhando os cabelos do vento
e o vento conversando com os campos no alto da noite
com suas palavras de ar
há um diálogo entre o vento e os campos e só eu sei
e só eu ouço porque só eu falo sua língua
vejo pássaros voando dentro do vento como se fossem um pedaço
do próprio vento tornado em matéria e plumas
somente as palavras semeiam vida sobre meus campos
somente as palavras semeiam vida sobre mim.
- Narlan Matos, em "Elegia ao novo mundo e outros poemas". Rio de Janeiro: 7Letras, 2012, p. 75-76.
Narlan Matos - acervo do autor |
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OUTRAS FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA
:: Jornal de Poesia
:: Literature Across Frontiers - Narlan Matos
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Narlan Matos - o poeta sertão-mundo. Templo Cultural Delfos, fevereiro/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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Lindíssimos os poemas.
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