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Fausto Rodrigues Valle - poeta e contista

Fausto Rodrigues Valle - foto:UFG - revista Afirmativa
Fausto Valle (médico e escritor), nascido em Araxá, MG, no dia 22 de agosto de 1930. Filho de Delvo e Artemira Valle. Enraizou-se em Goiás desde o primeiro ano de vida. Foi professor universitário, exercendo também cargos de direção na Universidade Federal de Goiás. Sua pequena produção literária da juventude perdeu-se no tempo e no espaço. Reativou-se literariamente no ano de 1988, quando publicou seu primeiro livro. Desde então, escreve regularmente. Sua obra: A fonte do sal (poesia, Zamenhoff Editores, 1988), Cravos sobre a mesa (poesia, Editora Kelps, 1992), Relógio de areia (poesia, Editora Kelps, 1998), Aldeia absurda (poesia, Editora Kelps, 1999), Confraria dos marimbondos (contos, Editora Kelps, 2001), Um boi no telhado (contos, R&F Editora, 2005), Poemas dispersos (poesia, EditoraKelps/Editora UCG, 2005). Escreveu uma peça de teatro, O escolhido. Escreveu textos para teatro de mamulengos. Tem artigos, poemas e contos espalhados na internet, em sites de outros escritores. Publicou poemas na revista portuguesa "Palavras em Mutação", a convite — e em mais duas revistas brasileiras. Recebeu os prêmios: Menção honrosa no extinto concurso José Décio Filho (1991), com o livro Cravos sobre a mesa; Bolsa de Publicações Wilson Cavalcanti Nogueira, versão 1997, da Fundação Cultural de Pires do Rio, com o livro Relógio de areia; Troféu Goyazes 2004 (Bernardo Elis, categoria conto), concedido pela Academia Goiana de Letras; premiado com o Troféu "Tioko", 2009 de literatura, pela União Brasileira de Escritores - secção Goiás; Recebeu o 'Título de cidadania goianiense', concedido pela Câmara Municipal de Vereadores de Goiânia em 2009. Morreu em 12 de maio de 2010, em Goiânia.
:: Fonte: Revista Germina (acessado em 27.1.2016).
Saiba mais em: UBE - Seção Goiás (acessado em 27.1.2016).



OBRA DE FAUSTO RODRIGUES VALLE
Poesia

::  A fonte do sal. Goiânia GO: Zamenhoff Editores, 1988.
:: Cravos sobre a mesa. Goiânia GO: Editora Kelps, 1992.
:: Relógio de areia. Goiânia GO: Editora Kelps, 1998.

:: Aldeia absurda. Goiânia GO: Editora Kelps, 1999.
:: Poemas dispersos. Goiânia GO: Editora Kelps; Editora UCG, 2005.
Fausto Rodrigues Valle - foto: Revista Germina Literatura
Contos e crônicas
:: Confraria dos marimbondos. Goiânia GO: Editora Kelps, 2001.

:: Um boi no telhado. Goiânia GO: Editora R&f,  2005.
:: Além do vão da janela. Goiânia GO: Editora R&f, 2009.

Antologias (participação) 
BANDEIRAS, Mônica; FRAGA,Whisner (org.). Literatura século XXI. vol. 2,. (contos e poesia). Rio de Janeiro: Blocos Editora, 1999, 104p.
FERREIRA, Ana Luiza Serra (org.). O conto de hoje em dia - nova antologia. (conto). Goiânia GO:  Editora R&F, 2014. 
GOMES, Vera Lúcis Oliveira (org.). Goiânia: flor e poesia - antologia poética. (poesia). Goiânia GO: Prefeitura Municipal de Goiânia, Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo, 1993, 120p.
NASCENTE, Gabriel (org.). Antologia Goiás, meio século de poesia. Os filhos do amanhecer. (poesia). Goiânia GO: Editora Kelps, 1997, 282p.

Em revistas
VALLE, Fausto. Sabino. (conto). in: Bestiario - revista de contos. Disponível no link. (acessado em 27.1.2016). 
_____ . Fausto Valle: 3 contos (A casa das flores - A viagem; e Sadam). in: revista Germina Literatura. Disponível no link. (acessado em 27.1.2016).
_____ Fausto Valle: poemas. in: revista Germina Literatura. Disponível no link. (acessado em 27.1.2016).


Fausto Rodrigues Valle - foto: (...)

POEMAS ESCOLHIDOS DE FAUSTO RODRIGUES VALLE
Argonauta
Abrem-se ondas e vagas
à quilha veloz,
afastam-se recifes e escolhos:
passa ao largo
a nau sem músculos,
sua carga de mistério.

Velas pandas, o rijo vento
leva a intimorata argo
a inonimados portos.

Velho timoneiro, a face dura
ao sal e ao sol do mar,
lança âncoras ao fundo.

Ao deitar do dia, junto à amurada,
olha a vasta distância
e devaneia,
o devaneio do mestre.
 

- Fausto Rodrigues Valle, em "Cravos sobre a mesa". Goiânia GO: Editora Kelps, 1992.


Cigarras
Nesta primavera
as cigarras cantam diferente.

Há retidos gestos de adeus
nas retinas
e saudades nas horas.

Longos olhos miram
longamente as sombras
à procura de duendes.

Olhos feito punhais cravam-se
em meus olhos: detém-se
o jorro de palavras.

Emoções rompem as eclusas
e a poesia nasce, tímida planta,
nos áridos campos onde plantei
a semente de todas as palavras.
 

- Fausto Rodrigues Valle, em "A fonte do sal". Goiânia GO: Zamenhoff Editores, 1988.


Corpo
                    Dos cuerpos frente a frente
                    son a veces raizes
                    en la noche enlazadas
                   
- Octávio Paz - 'Dos cuerpos'.

O corpo à minha frente,
metade prata, metade cascata
de luz. É noite alta.

Lira de suaves sons
no caminho de pedras,
e os ouvidos escutam.

Ruidosa cachoeira,
remanso empós,
e o rio flui, sonoro.

A lua detrás da nuvem,
nuvens nos olhos. São látegos
os sons no peito.

A dança do corpo, o espaço
de ritmos pleno.
É quase a aurora.

Um corpo à minha frente,
metade prata, metade tudo,

e os pássaros alegres.
- Fausto Rodrigues Valle, em "Cravos sobre a mesa". Goiânia GO: Editora Kelps, 1992. 


Fausto Rodrigues Valle - foto: (...)
Esplende a rosa
Esplende a rosa, a rosa
na ponta do caule de espinhos,
em seu destino de flor.

Lúbricas pérolas cintilam
nas pétalas, trêmulas,
na cálida manhã.

O orvalho umedece a rosa
e a lágrima a face rósea.
Ao balanço do vento,
a dúvida na balança:
colher a lágrima da flor

ou o orvalho de teu rosto?
- Fausto Rodrigues Valle, em "A fonte do sal". Goiânia GO: Zamenhoff Editores, 1988. 


Goiânia
Em Goiânia, o dia não termina
e a noite é o dia interminável,
nas ruas lavadas de azul.

Praças, ruas e avenidas
com cheiro de lençol limpo,
escoam a sôfrega robustez
dos noctívagos dos bares.

Não há odor de naftalina
em lugar algum. Nas alcovas,
a ocupação secular do sexo,
a embriaguez do amor.

Em Goiânia, o farol do dia,
clareia a noite interminável. 
 
- Fausto Rodrigues Valle, em "Aldeia absurda". Goiânia GO: Editora Kelps, 1999. 


Inércia
Inércia, o ócio
lento, a gema
de onde brota.

Não há trégua
para o tempo.

Fuga, vertigem,
turbilhonamento.

A passo e passo
o instante, o fim.
- Fausto Valle, em “Aldeia absurda”. Goiânia/GO: Kelps, 1999.


Não sois poeta
Não ouço estrelas,
elas são mudas.
A lua anêmica
nada me diz.
Cadê os sonhos?
Ora, direis,
não sois poeta?


Mundo corroído
por olhos vesgos,
ouvidos surdos
- gira no espaço,
ganhando tempo
para se erguer
na boa estima
do Criador.
 
- Fausto Rodrigues Valle, em "Aldeia absurda". Goiânia GO: Editora Kelps, 1999.


Rosa-dos-ventos
Há muitos rumos na rosa-dos-ventos.
Há muitos ventos na rosa dos rumos.
Em minhas rotas, prescindo da rosa,
sigo o astro, seu rastro pelo espaço,
na derrota dos mares.
Se não há ventos,
a inutilidade de estar
a barlavento.

Agarro-me aos tropos,
ao vislumbre de portos,
para chegar a contento
na linha-do-vento
e conseguir navegar
um fictício mar. 

 - Fausto Rodrigues Valle, em "Relógio de areia". Goiânia GO: Editora Kelps, 1998.


Silêncio
Meu silêncio é de dentro,
não ausência de sons.
Silva o vento e eu escuto o vento,
sem falar na sonoridade
de meus oblíquos passos.

Meus silêncio atroa nos cantos
escuros do ser aturdido,
ajunta-se a outros silêncios
que me acompanham na vereda
por onde caminho, perdido.

Meu silêncio deixa-me vígil,
como se mil tambores surdos
percutissem meus pobres tímpanos.
Meu silêncio retumba na estrada
e, um dia, ecoará na tumba.

 - Fausto Rodrigues Valle, em "Poemas dispersos". Goiânia GO: Editora Kelps; Editora UCG, 2005.


Travessia
Atravessei a ponte
sem medo da altura.
Olhando atrás eu vi
abismo negro e fundo.
Então veio a tremura,
tardo efeito do medo.

Atravessar ponte e ponte,
ombro a ombro com o perigo,
é do viver corriqueiro.
Não olhar para trás
é o segredo da vida,
se a vida tiver segredo.
- Fausto Valle, em “Aldeia absurda”. Goiânia/GO: Kelps, 1999.


Um certo sorriso
São deslindáveis teus desejos
conscientes ou inconscientes,
mesmo que os queira esconder.
Um lampejo de olhar, um riso
de Mona Lisa, menos discreto, 
desvenda quentura de lavas
a escorrer pelas grutas e grotas
aparentemente insondáveis.

- Fausto Valle, em “Aldeia absurda”. Goiânia/GO: Kelps, 1999.


Vaso de flores
O som do vento
faz dançar a chama da vela.
O balé da chama
aquece as flores no vaso,
flores que ontem me deste.

Bruxuleia vermelho clarão
e o vermelho à sombra adere.
O vento gira, gira e gira
vibrando a chama da vela
que dança, ao giro do vento,
obsessiva, hipnótica dança.

Deitadas ao acaso, enrubescem
as flores no vaso.
Lá fora, a música do vento
adere ao latido do cão.

- Fausto Rodrigues Valle, em "A fonte do sal". Goiânia GO: Zamenhoff Editores, 1988.


FORTUNA CRÍTICA DE FAUSTO RODRIGUES VALLE 
Fausto Rodrigues Valle - foto: (...)
AQUINO, Luiz de.. Fausto, poeta menino!. in: Revista Germina, Especial, junho 2010. Disponível no link. (acessado em 27.1.2016).
LIMA, Mariano Antonio. A Aldeia Absurda de Fausto Rodrigues Valle. in: Jornal de Poesia. Disponível no link. (acessado em 27.1.2016).
MONTEIRO, Dilson Lages. Como fazer poesia. in: Entre textos, 14 de março de 2003. Disponível no link. (acessado em 27.1.2016).
MOURA, Francisco Miguel de.. Um boi no telhado. in: Usina de Letras. Disponível no link. (acessado em 27.1.2016). 
TELES, José Mendonça (editor). Dicionário do escritor Goiano. 4ª ed., Goiânia: Kelps, 2011.
VÊNCIO, Eberth. Fausto Valle. in: UBE - Seção Goiás, 22/6/2009. Disponível no link. (acessado em 27.1.2016). 
VÊNCIO, Eberth. Valle a pena ler. in: Revista Bula, 11/7/2009. Disponível no link. (acessado em 27.1.2016). 


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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Fausto Rodrigues Valle - poeta e contista. Templo Cultural Delfos, janeiro/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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** Página atualizada em 27.1.2016.



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