Carlos Machado - foto: Editora Abril/divulgação
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Carlos Machado - capas dos livros de poesia |
Obra poética
:: Pássaro de vidro. [capa Rodrigo Maroja]. São Paulo: Hedra, 2006.
:: Mané Ventura, Gonçalo e eu - uma história de Cordel. São Paulo: Editora do autor, 2012.
:: Tesoura cega. [fotografia da capa Mario Rui Feliciani]. São Paulo: Dobra Editorial, 2015.
Infanto-juvenil
:: Cada bicho com seu capricho. (poemas para crianças).. [ilustrações Geraldo Valério]. São Paulo: MOV Palavras, 2015.
Antologias [participação]
BERND, Zilá (org.). Antologia de poesia afro-brasileira — 150 anos de consciência negra no Brasil. Belo Horizonte: Mazza, 2011.
DAMAZIO, Reynaldo; PROENÇA, Ruy; MELO, Tarso de (orgs.). Outras ruminações – 75 poetas e a poesia de Donizete Galvão. São Paulo: Dobra, 2014.
PORTOCARRERO, Celina (org.). Amar, verbo atemporal — 100 poemas de amor. Rio de Janeiro: Rocco, 2012.
RAMOS, Inês (org.). Os dias do amor — Um poema para cada dia do ano. Portugal: Ministério dos Livros, 2009.
Artigos e ensaios
MACHADO, Carlos. Passos de ternura. Um até breve ao poeta Donizete Galvão. in: Kultme, 5.2.2014. Disponível no link. (acessado em 25.12.2015).
______ . O dia em que Fernando Brant me mandou e-mail. in: Kultme, 16.7.2015. Disponível no link. (acessado em 25.12.2015).
______ . Sob a pele das palavras. in: Germina, revista de literatura & arte, agosto|2006. Disponível no link. (acessado em 26.12.2015).
______ . Escândalo: Rimas de luxo na canção popular. in: Kultme, 09.11.2015. Disponível no link. (acessado em 26.12.2015).
Entrevista
KULTME. O que não tem tradução – entrevista com o poeta Carlos Machado. [entrevista]. in Kultme, 1.12.2014. Disponível no link. (acessado em 25.12.2015).“A poesia de Carlos Machado se insere no conjunto de propostas da grande linha da poesia universal: o discurso do homem no mundo e sua condição existencial.”
- Ronaldo Costa Fernandes, no ensaio "Tesoura cega: a poesia afiada de Carlos Machado". in: MACHADO, Carlos. 'Tesoura cega - poemas'. São Paulo: Dobra Editorial, 2015, p. 101.
Carlos Machado - fonte: Kultme |
A caça insubmissa
Nada possuis do outro
nem corpo nem asa
nem mesmo o sopro
morno da palavra
teu é apenas o perfume
de carne e cedro
que aspiras na pele
da caça insubmissa
nada é teu: dorme
e inventa no sonho
outra forma de laço
caça sem caçador
- Carlos Machado, em "Tesoura cega". São Paulo: Dobra Editorial, 2015, p. 90.
Água e sal
digo que foi o vento:
inundou meus olhos
de sal
(esse vento do mar
você sabe...)
mas é mentira:
não são lágrimas
de sal
é a pungência do azul
- Carlos Machado, em "Tesoura cega". São Paulo: Dobra Editorial, 2015, p. 67.
Anatomias
anatomia de coisas
desnudar
o pássaro de vidro
e ver em seu lado
oculto
o outro lado
de seu vulto
dissecar
vozes
sombras descalças
e perquirir
a substância
escassa que principia
na polpa
branca do dia
flagrar a ânsia
do relógio
e a cadência
dessa máquina
humana
fotografar
a permanência
da chama
anatomia do gesto
dobrar a esquina
de mim mesmo
olhar pra trás
e ainda
enxergar
o resto de
meu gesto
tonto
- Carlos Machado, em "Pássaro de vidro". São Paulo: Hedra, 2006.
As coisas
As coisas não têm culpa.
São apenas testemunhas
de nossas comédias.
As coisas não abraçam causas.
É inútil acusá-las
de qualquer inclinação,
lealdade ou felonia.
Substantivos neutros,
são apenas coisas:
este botão descosturado de tua blusa
este chinelo ao pé da cama
um folha de papel em branco
- e nenhum drama.
As coisas não guardam segredos
nem remorsos.
Assistem caladas
e resistem
vestidas de cal e silêncio.
As coisas não têm quereres
nem poderes.
Mas, desassombradas,
exibem sempre
o semblante estoico da pedra.
Nisso as coisas são todas iguais
— todas indiferentes.
- Carlos Machado, em "Tesoura cega". São Paulo: Dobra Editorial, 2015, p. 13-14.
Baobá
Vontade de fazer
uma coisa grande
de futuro imenso:
plantar um pé
de jacarandá
um baobá
e deixá-lo aí
para beijar
a cumeeira
dos séculos,
zombar de tudo
que é breve
e que, como nós,
se consome
no atrito das
horas, na
vertigem
incontrolável
das coisas miúdas.
- Carlos Machado, em "Tesoura cega". São Paulo: Dobra Editorial, 2015, p. 79.
Caminhada
Consente o caminhar
com passo
de não chegar
a lugar algum:
anda porque andas,
pelo simples
prazer de ter o
vento na pele
e o olha na flor
vadia da beira
do caminho.
- Carlos Machado, em "Tesoura cega". São Paulo: Dobra Editorial, 2015, p. 81.
Certo
as coisas não dão certo
nunca deram certo
não foram feitas para dar certo
nós é que temos a ambição
do alinhamento e da simetria
e até inventamos deuses perfeitos
construídos à imagem
e semelhança do que sonhamos
as coisas não dão certo
nós é que cerzimos o pano
obturamos o dente
remendamos a fronteira no mapa
e inauguramos
na estátua de chumbo
um simulacro de ave
queremos crer
que as coisas dão certo
as coisas agora estão dando certo
e — se deus quiser —
sempre darão
- Carlos Machado, em "Pássaro de vidro". São Paulo: Hedra, 2006.
Entre ave e réptil
interessa-me
entre ave e réptil
a condição
ambígua
confesso meu
fascínio por
essa corda estendida
entre uma e outra
palavra
e sua falsa noção
de equilíbrio
trago na raiz
do gesto o alvoroço
do circo
nervo reteso
lanço-me no ar
risco a
superfície do inútil — e vôo!
por vezes
uma palavra mais ágil
me subtrai
do precipício
mas quase sempre
me esborracho
no chão
em meu vôo solo
sem tambor nem
auxílio
reconfirmado
sísifo
— amador de seu ofício —
alço-me outra vez
ao risco dos trapézios
- Carlos Machado, poema publicado na revista Cacto nº 3, dezembro|2003.
Ferreiro
malhar o ferro frio
até que do bruto
metal desponte
o fio da navalha
malhar até que o aço
rubro de cansaço
se renda ao sopro
de um calafrio
e que da matéria
distante e alheia
salte faiscante
uma centelha
- Carlos Machado, publicado na revista eletrônica italiana "Fili d'aquilone" n. 7, iuglio/settembre 2007.
Luas
todo pretérito
é sempre
mais que perfeito
nenhum soluço
cabe inteiro
dentro do peito
emanações do
passado
despertam luas
lindas e nuas
que só se despem
do outro lado
- Carlos Machado, em "Tesoura cega". São Paulo: Dobra Editorial, 2015, p. 69.
Mapa
De certo, apenas a incerteza.
O copo branco sobre a mesa
e esta aspiração de domingos.
De certo, a morte e seus respingos.
O menino azul quer um mapa,
carta de agir, segura e exata.
Quer seguir rijo, reto e justo
para justíssimo lugar.
O que, então, responder? Desiste,
esse lugar não há e – triste –
não há mapa, nem portulano,
nem porto lhano onde ancorar?
Como dizer? Menino, os mapas
não são roteiros de achamento,
mas tênues direções de vento
para quem só busca o buscar.
- Carlos Machado, em "Tesoura cega". São Paulo: Dobra Editorial, 2015, p. 9.
Ofício
Constróis com empenho
teu artefato de sílabas
Enuncias a noite
alcanças o feminino
das coisas sem gênero
vagueias no campo branco
do que não se diz.
Relojoeiro, numismata
colecionador de conchas do mar
gastas o olho
e a alma
nesse ofício minúsculo.
Tua ração é o tempo
o tempo e seu estandarte
de sustos
paisagem sem freios
à janela do trem.
Mas sabes:
depois de tantos incêndios
luas novas e paixões
o que se aprende é bem pouco.
Bastaria dizer:
os espinheiros florescem
na varanda.
- Carlos Machado, em "Tesoura cega". São Paulo: Dobra Editorial, 2015, p. 94-95.
Paixões
Uma paixão minúscula.
Colecionar conchas do mar
visitar o delta do Parnaíba
ou, glória do carbono,
montar um esguio exército
de lápis coloridos.
Paixão invisível
a olho nu
indetectável pelos radares
do trânsito
ou pelos cães farejadores da polícia.
Paixão de lupa
desvio de rota
mania encarapitada
na garupa da alma.
Exercício vadio
só para quem sabe
que mais vale
um gosto
que duas ou três moedas sem brilho.
- Carlos Machado, em "Tesoura cega". São Paulo: Dobra Editorial, 2015, p. 82.
Ponto final
O mundo acaba? Talvez sim.
Porém não como supõem
poetas e profetas. Quem
treme de medo diante dos
círculos infernais de Dante;
quem teme as trombetas
do Apocalipse; quem geme
de pânico ao pensar nas geenas
e nos seres estrambóticos
de Hieronymus Bosch. Não,
a ciência é mais sutil e cruel.
Nenhum temor ou tremor
pressupõe o que pode vir
das sinistras conjecturas
dos cosmólogos. Nem água
nem fogo nem horror dantesco.
Colapso universal e absurdo.
O Big Bang ao avesso.
Todas as dimensões contraídas
num ponto único. Ponto
monstruosamente final.
- Carlos Machado, em "Tesoura cega". São Paulo: Dobra Editorial, 2015, p. 57.
Xeque-mate
Quando menos se espera, já são horas.
A dama de espadas perde o gume
e o pássaro pousado vai embora.
Quando menos se espera, o que se anuncia
não é a sorte grande, a estrela Aldebarã
ou a sagração da primavera.
São tempos de abutre
e o coração, músculo bélico, fraqueja.
De repente, já é sábado,
há uns assuntos desagradáveis para resolver
e, sobre a pele confusa da alma,
uma densa crosta de óxido e desalento.
Quando menos se espera, o rei está em xeque,
e é dezembro.
Há uma complicação de trânsito
na avenida
uma artéria que não dá passagem.
Quando menos se espera, já é tarde.
- Carlos Machado, em "Tesoura cega". São Paulo: Dobra Editorial, 2015, p. 20.
FORTUNA CRÍTICA
MACHADO, Luiz Alberto. O Pássaro de Vidro de Carlos Machado. In. Sobresites. Disponível no link. (acessado em 25.12.2015).
OLIVEIRA, Vera Lúcia de..Vidro vida que reflete: a poesia de Carlos Machado. in:revista eletrônica italiana "Fili d'aquilone, nº. 7, iuglio/settembre 2007. Disponível no link. (acessado em 26.12.2015).
Carlos Machado - fonte: Kultme |
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Oi Carlos. Nunca mais recebi seus poemas pois meu email agora é
ResponderExcluirsommaravilhoso@gmail.com
Posso mostrar-lhes meus poemas?
ResponderExcluirO Vapor Assassinado
Voou do asfalto
Voou na poeira para o alto
Lá vagou
Um vapor vate
Vaga-lume
Prefácio de uma história
Sem título nem memória
Mas aquela tinha forma de moleque
Escalando a trilha amarga
E pousava numa pista de vento calado
O vapor ao Redentor de si
Mento armado e coração de pedra, lá
Branco de olhar e braços apogéticos.
E o vapor evaporando...
Enquanto o colo gélido o esperava aberto
Estava lá o que sonhara
O vapor evaporando foi subindo do asfalto
Em ebulição
E voou atrás da vida
E voou atrás da sorte
Na senzala contemporânea
Experimentou suas idiossincrasias
Foi a primeira e dura lição
Lá havia uma solução
Que o atraia
Lá havia uma resposta
Instantânea
Lá havia uma utopia
Que o apaixonava
Lá havia uma ilusão
Que o acalentava
Mas de nada ele sabia
(era apenas um vapor)
Nem sabia que sabia
Mas, com certeza havia um sonho lá
E o vapor quis ver o sangue
Da causa que nem valia
A causa dos proibidos, oprimidos, excluídos, resumidos
Idos
dos
os
sssssssss
E a carne virou pó
que virou vapor
que virou sangue
que virou adrenalina
que virou posfácio
E perdeu-se na orelha
A polícia o acertou
Mandou bala no vapor