“Como conhecer as coisas senão sendo-as?”
- Jorge de Lima
- Jorge de Lima
Jorge Mateus de
Lima (União dos Palmares AL 1893 - Rio de Janeiro RJ 1953). Poeta, romancista,
artista plástico, ensaísta, médico e político. É filho de um rico comerciante e
senhor de engenho de antiga linhagem local. Em 1902, muda-se, com a mãe e os
irmãos, para Maceió, onde realiza os estudos fundamentais. Transfere-se para
Salvador em 1908 e ingressa na Faculdade de Medicina da Bahia. No terceiro ano
do curso, vai morar no Rio de Janeiro, onde se forma em 1914. Nesse mesmo ano,
publica seu primeiro livro, XIV Alexandrinos. Em 1915, volta para Maceió, onde
passa a clinicar, atendendo em consultório próprio, ao mesmo tempo que se
dedica à literatura. Envolve-se, também, com a política local, exercendo o
cargo de deputado estadual entre 1919 e 1922. Com a Revolução de 1930, abandona
temporariamente a carreira política e resolve radicar-se de vez no Rio de
Janeiro. Monta consultório médico, na Cinelândia, centro da cidade, que
funciona também como ateliê de pintura, além de se tornar um famoso ponto de
encontro de intelectuais como Murilo Mendes (1901-1975), Graciliano Ramos
(1892-1953) e José Lins do Rego (1901-1957). Converte-se ao catolicismo em
1935. Em 1939 passa a se dedicar também às artes plásticas, participando de
algumas exposições. Publica seu livro mais importante, Invenção de Orfeu, em
1952. Meses antes de morrer, em 1953, grava poemas para o Arquivo da Palavra
Falada da Biblioteca do Congresso Americano em Washington D.C., Estados Unidos.
Comentário
Crítico
A vasta obra de
Jorge de Lima se caracteriza pela grande variedade de gêneros, temas, formas e
estilo, o que justifica a divisão de sua poesia em fases: a parnasiana, a
regional ou afro-nordestina; a católica; e a órfica ou hermética. Por trás
dessa diversidade, porém, é possível reconhecer certa coerência na trajetória
do poeta, que descreve um movimento de "interiorização progressiva"
segundo o crítico Waltensir Dutra e de "descida às fontes da memória e do
inconsciente", na opinião de Alfredo Bosi (1936).
Seu livro de
estreia é XIV Alexandrinos, de 1914, marcado pela influência do parnasianismo,
sobretudo pelo emprego do soneto de 12 sílabas, característico dessa escola
literária. O Acendedor de Lampiões é o poema mais popular do livro, que confere
fama a Jorge de Lima e o título de "príncipe dos poetas de Alagoas".
A adesão ao modernismo ocorre entre 1925 e 1927. Os temas e a visão de mundo
são resultado da influência decisiva do pensamento do sociólogo Gilberto Freyre
(1900-1987).
Em Poemas, 1927 e
Novos Poemas, 1929, inicia-se a tematização da infância e do passado familiar,
recorrente nas demais fases. O memorialismo desse período ajuda a conter o
risco do exotismo na apresentação da cultura e do folclore regionais, já que
são representados a partir de uma perspectiva vivencial e afetiva. Os recursos
formais e estilísticos mais marcantes nessa fase são o verso livre, a linguagem
prosaica e afro-regional e o processo de composição baseado na enumeração de
nomes de seres, lugares, objetos, costumes, comidas etc., de modo a sugerir o
ritmo da evocação. O painel da vida nordestina que Jorge de Lima compõe a
partir desse processo faz de sua obra o correspondente, na poesia, da prosa de
ficção de José Lins do Rego (1901-1957).
Apesar de
enraizado no escravismo, o universo patriarcal dos banguês e engenhos de
cana-de-açúcar é ainda marcado por relações mais humanas, pessoalizadas ou
"cordiais", em contraste com a exploração impessoal e desumana das usinas.
Deve-se também a Freyre, o reconhecimento da influência decisiva do negro não
só no plano mais amplo da formação cultural brasileira, mas também na formação
mais individual dos meninos brancos do Nordeste, meninos da casa-grande, como o
poeta alagoano. Daí a atitude de simpatia e solidariedade para com a condição
do negro e sua história, que são abordadas de forma mais dramática e complexa
em Poemas Negros, 1947. Os poemas desse livro traçam uma espécie de história do
negro no Brasil articulada às vivências pessoais do autor, celebrando os ritos
sincréticos do candomblé e buscando suprimir de vez possíveis traços do
pitoresco e do preconceito involuntário.
Jorge de Lima - foto (...) |
A lírica final de
Jorge de Lima marca o retorno às formas clássicas, como o soneto, a épica, a
sextilha, a oitava, a terça-rima, o verso metrificado e a rima. Esse retorno
pode se dar pelo emprego de uma só forma no Livro de Sonetos, 1949, ou de
formas variadas em Invenção de Orfeu, 1952. O Livro de Sonetos, por exemplo,
não representa um retorno puro e simples à forma tradicional empregada em XIV Alexandrinos. Nele, a forma aparentemente
convencional coexiste com o hermetismo das imagens e temas inspirados pelas
vanguardas, como o surrealismo que norteia sua poesia desde a fase anterior.
O mesmo se pode
dizer das formas heterogêneas de Invenção de Orfeu. Nesse conjunto de poemas,
de mais de nove mil versos, distribuídos em dez cantos, a tensão já está
presente na concentração da lírica em contraste com o desdobramento narrativo
da épica. O livro é definido pelo poeta como uma "biografia épica",
"biografia total" ou "biografia com sondagens". É uma
espécie de épica camoniana subjetivada, de epopeia interior ou, como diz o
crítico português João Gaspar Simões, "o primeiro poema da brasilidade
interior". Para concebê-lo nesses termos épicos, o poeta refere-se não só
a Os Lusíadas, de Luís de Camões (1524 - 1580), mas também à Eneida do poeta
latino Virgilio (70 a.C. - 19 a.C.), entre outros. A essas referências
estritamente literárias, somam-se outras de natureza diversa: alusões à
literatura de informação, de Pero Vaz de Caminha (ca.1451 - 1500), e dos
primeiros cronistas; acontecimentos da história contemporânea (a Segunda
Guerra, o nazismo, a bomba atômica...); retomada de passagens da obra anterior
do próprio poeta; referências mitológicas, como a jornada de Orfeu,
representação mítica do próprio poeta; citações bíblicas; e evocações da
infância e da terra natal. A isso se acrescenta ainda o registro compulsório da
fantasia, próxima da escrita automática dos surrealistas.
Como ficcionista,
Jorge de Lima é autor de cinco obras que não obedecem nem à divisão, nem à
cronologia das fases de sua poesia, embora apresentem alguns pontos em comum
com elas. Assim, o romance Calunga, 1935, pode ser visto como uma espécie de
expressão em prosa à margem da fase regionalista, enquanto Guerra Dentro do
Beco, 1950, se aproxima mais da fase iniciada por Tempo e Eternidade, 1935.
Assim também a novela O Anjo, 1934, com sua tendência à evasão da realidade
para o mundo vertiginoso dos sonhos, traz características de diversas
vanguardas literárias, em particular o surrealismo, que permite aproximá-lo
dessa fase católica. O diálogo com o surrealismo marca ainda a produção de
Jorge de Lima no terreno das artes plásticas.
“Há poetas que fazem da poesia um acontecimento lógico, um exercício escolar, uma atividade dialética. Para mim a Poesia será sempre uma revelação de Deus, dom, gratuidade, transcendência, vocação.”
- Jorge de Lima
CRONOLOGIA
Jorge de Lima, por Cândido Portinari (1939) |
1899/1900 - Por volta dos seis ou sete
anos, é acometido de uma asma alérgica que o obriga a ficar isolado em casa,
com crises agudas de dispnéia;
1902 - Muda-se para Maceió com a mãe e
os irmãos, permanecendo o pai em União dos Palmares. Em Maceió, começa a freqüentar
o Instituto Alagoano dos irmãos Aristeu e Goulart de Andrade;
1903 - Transfere-se para o Colégio
Diocesano, dos Irmãos Maristas. Publica os primeiros versos no jornal do
colégio, intitulado O Corifeu;
1907 - Seus poemas, em geral sonetos,
começam a aparecer nos jornais locais. É dessa época a composição de O
Acendedor de Lampiões;
1908 - Muda-se para Salvador e ingressa
na Faculdade de Medicina. Data dessa a época a composição do poema Bahia de
Todos os Santos, primeiro de uma voga moderna de textos dedicados à Bahia;
1911 - Transfere-se para o Rio de
Janeiro;
1914 - Forma-se em medicina e defende a
tese O Destino Higiênico do Lixo no Rio de Janeiro. Publica seu primeiro livro
de poemas, XIV Alexandrinos;
1915 - Volta para Maceió e abre um
consultório;
1919 - É eleito deputado à Assembléia
Estadual em Maceió. Ocupa o cargo até 1922;
1925 - Casa-se com Ádila Alves de Lima,
de tradicional família gaúcha. Rompe com a estética parnasiana e adere ao
Modernismo, causando surpresa e decepção para aqueles que o consideram
"Príncipe dos Poetas Alagoanos". Publica o folheto O Mundo do Menino
Impossível, em que recolhe alguns poemas de adesão à nova estética, a ser
depois incluído em Poemas;
1927 - Faz concurso de Literatura
Brasileira e Línguas Latinas, no Ginásio do Estado, tornando-se professor
catedrático. Apresenta uma tese de concurso intitulada Dois Ensaios, em que
aborda, um, a obra do escritor francês Marcel Proust (1871-1922) e, outro, o
Modernismo Brasileiro;
1930 - Muda-se para o Rio de Janeiro,
após perseguição política, passando a clinicar em consultório na Cinelândia,
centro da cidade. O consultório era também ateliê e ponto de encontro de
intelectuais;
1931 - Torna-se membro da Comissão de
Literatura Infantil do Ministério da Educação;
1934 - Publica O Anjo, tentativa de
ficção surrealista em meio à voga do romance social. Publica também uma
biografia do Padre José de Anchieta em comemoração do 4º centenário de seu
nascimento, lançada no Correio da Manhã;
1935 - Recebe o Prêmio de Literatura da
Fundação Graça Aranha. Converte-se ao catolicismo e publica Tempo e Eternidade
em parceria com Murilo Mendes (1901 - 1975). Publica também o romance Calunga;
1936 - Recebe prêmio de romance da
Revista Americana, de Buenos Aires. Candidata-se à vaga de Goulart de Andrade
na Academia Brasileira de Letras - ABL e é derrotado por Barbosa Lima Sobrinho;
1937 - Assume o cargo de professor de
Literatura Luso-Brasileira na Universidade do Distrito Federal. Escreve, a
pedido do ministro Gustavo Capanema, a biografia de dom Vital, bispo de São
Paulo, que lê em sessão realizada na Escola Nacional de Música;
1940 - Recebe o Grande Prêmio de Poesia
da ABL. Torna-se professor de Literatura Brasileira na Universidade do Brasil,
depois de ter sido assistente de Literatura Portuguesa do crítico e historiador
português Fidelino de Figueiredo (1889-1967);
1942 - Publica dois livros infantis, um
sobre a vida de São Francisco de Assis e, outro, sobre as Aventuras de
Malasarte (traduzido do alemão em parceria com o irmão, Mateus de Lima).
Fere-se em desastre de automóvel na Avenida Beira-Mar, no Rio;
Jorge de Lima, por (...) |
1944 - Candidata-se sem êxito à vaga de
Pereira da Silva na ABL;
1945 - Publica o estudo sobre D. Vidal.
Com a redemocratização do país, tenta outra vez a política, ingressando na
União Democrática Nacional (UDN);
1947 - É eleito vereador no Rio de
Janeiro, pela UDN;
1948 - É escolhido presidente da Câmara
de Vereadores do Rio de Janeiro;
1950 - Sai a edição argentina de
Mira-Celi. É lançada sua Obra Poética, organizada pelo ensaísta Otto Maria
Carpeaux (1900 - 1978);
1951 - Participa da 1ª Bienal
Internacional de São Paulo, com a tela Penteado;
1952 - Com a fundação da Sociedade
Carioca de Escritores (SOCE), Jorge de Lima torna-se presidente provisório;
1953 - Morre em 15 de novembro, no Rio
de Janeiro.
"Há sempre um copo de mar para um homem
navegar."
-
Jorge de Lima, em "Invenção de Orfeu". 1952.
HOMENAGEM
Em 1975, a Escola
de Samba Estação Primeira de Mangueira, faz uma homenagem com o tema 'Imagens
poéticas de Jorge de Lima', com a escola obtendo o segundo lugar no desfile.
OBRAS - PRIMEIRAS EDIÇÕES
Poesia
XIV Alexandrinos. Edições Artes Gráficas, 1914.
O Mundo do Menino
Impossível. [Capa e ilustrações são do autor, e os desenhos
foram coloridos a lápis pelo irmão Hildebrando de Lima], Edições Casa
Trigueiros, 1925.
Poemas.
Edições Casa Trigueiros, 1927.
Essa Negra Fulô.
[edição limitada de 120 exemplares, poema depois traduzido para o alemão,
francês, inglês, húngaro e espanhol], 1928.
Novos Poemas.
Edições Pimenta de Melo & Cia., 1929.
Poemas Escolhidos. (1925 a 1930).. [Capa
de Manuel Bandeira]. Rio de Janeiro: Andersen Editores, 1932, 186p.
Livro Poemas Negros, de Jorge de Lima Ilustrações Lasar Segall |
A Túnica Inconsútil.
[Capa de Santa Rosa e estampa de Cândido Portinari]. Cooperativa Cultural
Guanabara, 1938. Em 1940, recebe o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras pelos
versos de A Túnica Inconsútil.
Poemas Negros.
[edição de luxo, prefácio Gilberto Freyre e ilustrações Lasar Segall]. Revista
Acadêmica, 1947.
Livro de Sonetos.
Rio de Janeiro: Livros de Portugal, S.A., 1949, 165p.
Vinte sonetos.
[com ilustrações do autor], Editor V. P. Brumlik, 1949.
Obra Poética.
[com a inclusão de Anunciação e Encontro de Mira-Celi, e ilustrações de Alberto
da Veiga Guignard para o poema].. (Org. Otto Maria Carpeaux). Editora Getúlio
Costa, 1949, 659p.
Invenção de Orfeu.
[ilustração de Fayga Ostrower]. Edições Livros do Brasil, 1952.
Castro Alves.
Vidinha. 1952.
Poesia.
Rio de Janeiro: Editora Ronfino, 1952, 176p.
Antologia Poética.
Editora: Livraria José Olimpo, 1974.
Jorge de Lima:
poesia completa. (Org. Alexei Bueno e texto crítico Marco
Lucchesi). Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997.
Melhores Poemas
Jorge de Lima. [Seleção e Prefácio: Gilberto Mendonça Teles].
São Paulo: Global Editora, 2000.
Romances
Salomão e as
Mulheres. Edições Graphics Editora Paulo. Pongetti & Cia,
1927, 248p.
O Anjo.
[Ilustrações de Santa Rosa]. Editora Cruzeiro do Sul, 1934, 132p. Recebe o prêmio da
Fundação Graça Aranha, pelo romance.
Calunga.
Porto Alegre: Livraria do Globo, 1935, 188p. Em 1936, recebe o prêmio da Revista
Americana, de Buenos Aires, pelo romance.
A Mulher Obscura.
[Capa de Santa Rosa]. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1939, 300p.
Guerra dentro do
Beco. [Capa de Santa Rosa]. Editora A Noite, 1950, 285p.
Ensaio, história, biografia
Jorge de Lima, por (...) |
Dois Ensaios -
Proust e Todos Cantam sua Terra. 1929.
Anchieta.
Editora: Civilização Brasileira, 1934.
Rassenbildung und
Rassenpolitik in Brasilien. (Formação e política raciais no
Brasil). 1934.
Biografia de Alexandre
José de Melo Morais. 1941.
Vida de São
Francisco de Assis. 1944.
D. Vital.
[Prefácio de Gustavo Capanema]. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1945,
96p.
Vida de Santo
Antonio. [Capa de Santa Rosa]. Edições Ocidente, 1947.
As Aparições.
[Ilustrações de Eduardo Sued]. Sociedade Os Cem Bibliófilos do Brasil,1966.
Infantil e juvenil
História da Terra
e da Humanidade. Editora ABC, 1937, 219p.
Aventuras de
Malazarte. 1942.
Artes
A pintura em
pânico [com fotomontagens], Rio de Janeiro: Tipografia
Luso-Brasileira, 1943.
Antologia e seleta
Obra Completa (organização
Afrânio Coutinho). Rio de Janeiro: Aguilar, 1958.
Jorge de Lima 80 anos. [organização Rubens Jardim]. São Paulo: Edições do autor, 1973.
Jorge de Lima 80 anos. [organização Rubens Jardim]. São Paulo: Edições do autor, 1973.
Biografia
Biografia épica -
Jorge de Lima. [Introdução e notas Manuel Cavalcanti Proença e
ilustrações Cleoo], Edições de Ouro, 1967, 339p.
Artigos e entrevistas
A mystica e a
poesia. In: A Ordem. (vol. XIV – julho a dezembro) Rio de
Janeiro: Órgão do Centro Dom Vital: 1935.
A mística e a
poesia. Jornal de Letras, Rio de Janeiro, out. 1952 / jun. 1953.
Minhas Memórias.
In: Jornal de Letras, Rio de Janeiro, out. 1952, jun. 1953.
Jorge de Lima.
[Grandes entrevistas].. (Concedida a Homero Senna, publicada originalmente na
Revista d’O Jornal, de 29/07/1945). Tiro de Letra. Disponível no link. (acessado em 8.3.2014)
“Uma das mais fortes, das mais construtivas do mundo atual. Infelizmente a língua portuguesa nos isola perante os escritores de outras línguas. Se fôssemos traduzidos, certamente teríamos uma influência universal.”
Traduções e edições estrangeiras
Alemão
Jorge de Lima, por Cândido Portinari (1937) |
Espanhol
Poemas.
(Tradução J. Torres Oliveros e R. Arechavaleta). Buenos Aires: Raigal, 1956.
Calunga.
(Tradução Ramón Pietro). Buenos Aires: Editorial Americale, 1942.
Esa Negra Fuló y
otros poemas [Essa
Nega Fulô e Outros Poemas].. (Tradução
Gastón Filgueiras). San Rafael: Mendoza, 1949.
Anunciación y Encuentro de Mira-Celi. Buenos Aires: Sociedad Editorial
Latino-Americana, 1950.
La Invención de Orfeo: 30 Sonetos [Invenção de Orfeu: 30 Sonetos].. ( Tradução
Antonio Cisneros). Lima: Centro de Estudios Brasileños, 1979.
Antología Fundamental de Jorge de Lima. (Tradução Francisco Cervantes). México: Universidad
Autônoma Metropolitana, 1989.
Italiano
Invenzione di
Orfeo [Invenção de Orfeu].. ( Tradução Ruggero Jacobbi). Roma:
Abete, 1982.
“É um país semi-colonial, com as maiores
possibilidades de ser uma verdadeira democracia e o maior país do futuro.”
Traduções realizadas por Jorge de Lima
Morte, tua vitória
onde está, de Daniel Rops, ?.
Sol de Satã,
de Georges Bermanos, 1947.
"[...] há as naus que não chegam mesmo sem ter
naufragado: não porque nunca tivessem quem as guiasse no mar ou não tivessem
velame ou leme ou âncora ou vento ou porque se embebedassem ou rotas se
despregassem, mas simplesmente porque já estavam podres no tronco da árvore de
que as tiraram."
-
Jorge de Lima, em "Biografia épica". Edições de Ouro, 1967, p. 174.
O PINTOR
OBRA
Quadro com mulher
- mulher sambando (1939)
Cavalos Alados
(1940)
Cavaleiro da
esperança (1941)
Iemanjá
(1941)
Pássaros e flores
(1941)
Duas mulheres e
violino (1942)
Crucificação - [I]..
(1944)
Moça passeando -
sonâmbula (1944)
Pierrô
(1944)
Três meninas
(1944)
Arcos e
Costureiras (1945)
Moças de Ouro
Preto (1945)
Noiva
(1945)
Duas cabeças
(1947 ?)
Pianista [I]
.. (1947)
Profeta bíblico
(1947)
Três figuras
(1947)
Vitral (1947)
Cristo
(1948)
Menino Azul -
Arlequim (1948)
Sob a bata de um
Arlequim - O mágico (1948)
Casal de velhos
(1949)
Crucificação [II]..
(1949)
Lírios (1949)
Cabeleira plástica
(1950)
Mulheres públicas
- As mariposas (1950)
Figura de mulher
(1951)
Pianista [II].. (1951)
Altair e Violante
(1953)
Moça com pássaro
(1953)
Anjos (Sem/data)
Menina e peixes
(Sem/data)
Safo (Sem/data)
S.T.
(Sem/data)
___
Fonte:
Catálogo das obras de Jorge de Lima, em PAULINO, Ana Maria. Artistas
Brasileiros - Jorge de Lima. Edusp, 1995.
Disponível no link. (acessado em 9.3.2014).
EXPOSIÇÕES
Individuais
1946 - Rio de janeiro RJ - Exposição
individual, na ABI;
1951 - Recife PE - Individual, no
Gabinete Português de Leitura.
Coletivas
1942 - São Paulo SP - 7º Salão do
Sindicato dos Artistas Plásticos, na Galeria Prestes Maia;
1944 - Rio de Janeiro RJ - 50º Salão
Nacional de Belas Antes - Divisão Moderna;
1944 - Rio de Janeiro RJ - 51º Salão
Nacional de Belas Antes - Divisão Moderna;
1947 - Rio de Janeiro RJ - 52º Salão
Nacional de Belas Antes - Divisão Moderna - menção honrosa;
1948 - Rio de Janeiro RJ - Salão de
Artes Plásticas da Sociedade Brasileira de Belas Artes - menção honrosa;
1949 - Rio de Janeiro RJ - 54º Salão
Nacional de Belas Artes - Divisão Moderna - menção honrosa;
1951 - São Paulo SP - 1ª Bienal
Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon;
1953 - Rio de Janeiro RJ - 2ª Salão
Nacional de Arte Moderna.
Póstumas
1962 - Recife PE - Retrospectiva na
Galeria Rozemblit, apresentada por Vicente do Rego Monteiro;
1981 - Maceió AL - Artistas Brasileiros
da Primeira Metade do Século XX, no Instituto Histórico e Geográfico;
1983 - Estréia do espetáculo de dança O
Grande Circo Místico, baseado no poema homônimo de Jorge de Lima, com roteiro
de Naum Alves de Souza e coreografia de Carlos Trincheiras, pelo Ballet Guaíra;
1983 - Rio de Janeiro RJ - Gravação do
disco O Grande Circo Místico, com músicas de Edu Lobo e letras de Chico Buarque
baseadas no poema de Jorge de Lima;
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal
Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal;
1990 - São Paulo SP - Arte e Medicina,
na Sadalla Galeria de Arte;
1993 - São Paulo SP - 100 Obras-Primas
da Coleção Mário de Andrade: pintura e escultura, no IEB/USP;
1998 - Rio de Janeiro RJ - 16º Salão
Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ;
2002 - Porto Alegre RS - Apropriações e
Coleções, no Santander Cultural;
2010 - Rio de Janeiro RJ - A pintura em Pânico [Fotomontagens].. (Curadoria: Simone Rodrigues). 16 de março a 02 de maio, na Caixa Cultural.
2010 - Rio de Janeiro RJ - A pintura em Pânico [Fotomontagens].. (Curadoria: Simone Rodrigues). 16 de março a 02 de maio, na Caixa Cultural.
ACERVOS
Acervo Nacional de Belas Artes - MNBA Rio de Janeiro;
Coleção Mário de Andrade - Instituto de Estudos Brasileiros - IEB/USP - SP;
Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio (CEDAE) - do Instituto de Estudos da Linguagem IEL/UNICAMP - Campinas/SP;
Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio (CEDAE) - do Instituto de Estudos da Linguagem IEL/UNICAMP - Campinas/SP;
Coleção particular
Canção "Essa Negra Fulô", Lorenzo Fernandez
Texto de Jorge de Lima
"Escrevi sempre o que desejei escrever, e se
hoje me dedico a outras tentativas de arte, não é porque ache bonito ser
romancista ou pintor, mas porque estas necessidades de vidência se impuseram
dentro de mim, chegando a constituir uma condição essencial de vida total,
verdadeira, absoluta, (...) Muitos me chamam de diletante: acho que o artista
tem a sua realidade própria, e não está sujeito a nenhuma exigência superior.
Não faço o que poderia agradar aos outros, mas o que nasce em mim e luta para
se libertar de minha sensibilidade, sem ligar a qualquer espécie de chatos.
Aliás, parece que o que há no Brasil com os escritores, é um inexplicável medo
de ser “eles mesmos”, sem premeditações nem compromissos. Muitos são os
espécimes de homens de letras que traem a si mesmos, não tendo coragem de
enfrentar a crítica, preferindo realizar coisas impessoais e informes. Há
poetas que fazem da poesia um acontecimento lógico, um exercício escolar, uma
atividade dialética. Para mim, a Poesia será sempre uma revelação de Deus, dom,
gratuidade, transcendência, vocação. Longe de mim o egoísmo de dizer que sou
poeta porque nasci poeta (...)"
-
Jorge de Lima, em "Poesia completa". (org. Alexei Bueno). Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1997.
O POETA
POEMAS ESCOLHIDOS
A mão enorme
Dentro da noite, da tempestade,
a nau misteriosa lá vai.
O tempo passa, a maré cresce,
O vento uiva.
A nau misteriosa lá vai.
Acima dela
que mão é essa maior que o mar?
Mão de piloto?
Mão de quem é?
A nau mergulha,
o mar é escuro,
o tempo passa.
Acima da nau
a mão enorme
sangrando está.
A nau lá vai.
O mar transborda,
as terras somem,
caem estrelas.
A nau lá vai.
Acima dela
a mão eterna
lá está.
-
Jorge de Lima, do livro ‘Tempo e Eternidade’. Porto Alegre: Livraria do Globo,
1935.
Anjo daltônico
Tempo da infância, cinza de borralho,
tempo esfumado sobre vila e rio
e tumba e cal e coisas que eu não valho,
cobre isso tudo em que me denuncio.
Há também essa face que sumiu
e o espelho triste e o rei desse baralho.
Ponho as cartas na mesa. Jogo frio.
Veste esse rei um manto de espantalho.
Era daltônico o anjo que o coseu,
e se era anjo, senhores, não se sabe,
que muita coisa a um anjo se assemelha.
Esses trapos azuis, olhai, sou eu.
Se vós não os vedes, culpa não me cabe
de andar vestido em túnica vermelha.
-
Jorge de Lima, em "Humor e Humorismo". [org. Idel Becker]. São Paulo:
Editora Brasiliense, 1961, p. 206.
Banhistas
Este poema de amor não é lamento
nem tristeza distante, nem saudade,
nem queixume traído nem o lento
perpassar da paixão ou pranto que há de
transformar-se em dolorido pensamento,
em tortura querida ou em piedade
ou simplesmente em mito, doce invento,
e exaltada visão da adversidade.
É a memória ondulante da mais pura
e doce face (intérmina e tranqüila)
da eterna bem-amada que eu procuro;
mas tão real, tão presente criatura
que é preciso não vê-la nem possuí-la
mas procurá-la nesse vale obscuro.
-
Jorge de Lima, em “Poemas negros”. Rio de Janeiro: Record, 2007, p.168.
Estudos ilustrações para o livro 'Poemas Negros' de Jorge de Lima, por Lasar Segall [Acervo Museu Lasar Segall] |
Benedito Calunga
calunga-ê
não pertence ao papa-fumo,
nem ao quibungo,
nem ao pé de garrafa,
nem ao minhocão.
Benedito Calunga
calunga-ê
não pertence a nenhuma ocaia nem a nenhum tati, nem
mesmo a Iemanjá,
nem mesmo a Iemanjá.
Benedito Calunga
calunga-ê
não pertence ao Senhor
que o lanhou de surra
e o marcou com ferro de gado
e o prendeu com lubambo nos pés.
Benedito Calunga
pertence ao banzo
que o libertou,
pertence ao banzo
que o amuxilou,
que o alforriou
para sempre
em Xangô.
Hum-Hum.
-
Jorge de Lima, em “Poemas negros”.
Canto I - Fundação da Ilha
I
Um barão assinalado
sem brasão, sem gume e fama
cumpre apenas o seu fado:
amar, louvar sua dama,
dia e noite navegar,
que é de aquém e de além-mar
a ilha que busca e amor que ama.
Nobre apenas de memórias,
vai lembrado de seus dias,
dias que são histórias,
histórias que são porfias
de passados e futuros,
naufrágios e outros apuros,
descobertas e alegrias.
Alegrias descobertas
ou mesmo achadas, lá vão
a todas as naus alertas
de vária mastreação,
mastros que apontam caminhos
a países de outros vinhos.
Esta é a ébria embarcação.
Barão ébrio, mas barão,
de manchas condecorado;
entre o mar, o céu e o chão
fala sem ser escutado
a peixes, homens e aves,
bocas e bicos, com chaves,
e ele sem chaves na mão.
- Jorge de Lima, em "Invenção de
Orfeu". Rio de Janeiro: Record, 2005, p. 27.
Canto VII - Audição de Orfeu
Sei dos pássaros, sei dos hipopótamos,
sei de metais, de idades, aconteço-me,
embebo-me na chuva que é do céu,
abraso-me no fogo dos infernos.
Porquanto,
como conhecer as coisas senão sendo-as?
Abrigo as minhas musas, amam sobre.
Aflijo-me por elas, sofro nelas,
encarno-me em poesia, morro em cruz,
cravo-me, ressuscito-me. Petrus sum.
Sou Ele mas traindo-o, mas em burro,
com esses cascos na terra, e ventas no ar,
cheirando Flora; minhas quatro patas
rimam iguais, forradas, alforriadas,
burro de Ramos, levo sobre o dorso
Alguém em flor, Alguém em dor, Alguém.
Contudo,
burro épico, vertido pra crianças,
transporto-as à outra margem, sou Cristóvão
Colombo, sou columba, Deus Espírito
que desce sobre o início, sou palavra
antes de mim, eu evo. Ave Maria,
Eva sem culpa, tem de mim piedade,
Pia sacramental de que emerjo ilha.
-
Jorge de. Invenção de Orfeu. Rio de Janeiro: Aguilar, 1974, p. 137.
Canto I - XXVI
Qualquer que seja a chuva desses campos
devermos esperar pelos estios;
e ao chegar os serões de os fiéis enganos
amar os sonhos que restaram frios.
Porém se não surgir o que sonhamos
e os ninhos imortais forma vazios,
há de haver pelo menos por ali
os pássaros que nós identificamos.
Feliz de quem com cânticos se esconde
e julga tê-los em seus próprios bicos,
e ao bico alheio em cânticos responde.
E vendo em torno as mais terríveis cenas,
possa mirar-se as asas despenadas
e contentar-se com as secretas penas.
-
Jorge de Lima, em "Invenção de Orfeu".
Canto VI - Canto da desaparição
I
Aqui é o fim do mundo, aqui é o fim do mundo
em que até aves vêm cantar para encerrá-lo.
Em cada poço, dorme um cadáver, no fundo,
e nos vastos areais — ossadas de cavalo.
Entre as aves do céu: igual carnificina:
se dormires cansado, à face do deserto,
quando acordares hás de te assustar. Por certo,
corvos te espreitarão sobre cada colina.
E, se entoas teu canto a essa aves (teu canto
que é debaixo dos céus, a mais triste canção),
vem das aves a voz repetindo teu pranto.
E, entre teu angustiado e surpreendido espanto,
tangê-las-ás de ti, de ti mesmo, em que estão
esses corvos fatais. E esses corvos não vão.
-
Jorge de Lima, em "Invenção de Orfeu".
[Como sombra invasora e transbordada]
Como sombra invasora e transbordada
de asa de cinza e chuva quebradiça
tu desterras o tempo interrompido
com tua solidão alucinada.
Pedra de olvido e fonte abandonada,
essa faixa de névoa é tão perdida
que morre e nasce em ti, se em mim tu inclinas
tua distância em plumas desfolhada.
De cal flutuante e de onda descontínua
Musa és tão só, tão mar ensimesmado
tão sortilégio, tão solitária e erma
que pareces escada submarina
para eu descer imerso, no teu reino
investido dos mantos decisivos.
-
Jorge de Lima, em "Jorge de Lima: poesia completa". (Org. Alexei
Bueno). Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 485.
Essa Negra Fulô
Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha,
chamada negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
— Vai forrar a minha cama
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!
Essa negra Fulô
Essa negrinha Fulô!
ficou logo pra mucama
pra vigiar a Sinhá,
pra engomar pro Sinhô!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô,
vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô!
vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô!
Essa negra Fulô!
"Era um dia uma princesa
que vivia num castelo
que possuía um vestido
com os peixinhos do mar.
Entrou na perna dum pato
saiu na perna dum pinto
o Rei-Sinhô me mandou
que vos contasse mais cinco".
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô!
"minha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou
pelos figos da figueira
que o Sabiá beliscou".
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá
Chamando a negra Fulô!)
Cadê meu frasco de cheiro
Que teu Sinhô me mandou?
— Ah! Foi você que roubou!
Ah! Foi você que roubou!
O Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa,
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô).
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê meu lenço de rendas,
Cadê meu cinto, meu broche,
Cadê o meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
Ah! foi você que roubou!
Ah! foi você que roubou!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dêle pulou
nuinha a negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê, cadê teu Sinhô
que Nosso Senhor me mandou?
Ah! Foi você que roubou,
foi você, negra fulô?
Essa negra Fulô!
-
Jorge de Lima, em "Jorge de Lima: poesia completa". (Org. Alexei
Bueno). Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997.
Maria Diamba
Para não apanhar mais
Falou que sabia fazer bolos
Virou cozinha.
Foi outras coisas para que tinha jeito.
não falou mais.
Viram que sabia fazer tudo,
Até mulecas para a Casa-Grande.
Depois falou só,
Só diante da ventania
Que ainda vem do Sudão;
Falou que queria fugir
Dos senhores e das judiarias deste mundo
Para o sumidouro.
-
Jorge de Lima, em "Poemas Negros", Revista Acadêmica, 1947.
[Não procureis qualquer nexo naquilo]
Não procureis qualquer nexo naquilo
que os poetas pronunciam acordados
pois eles vivem no âmbito intranqüilo
em que se agitam seres ignorados.
No meio de desertos habitados
só eles é que entendem o sigilo
dos que no mundo vivem sem asilo
parecendo com eles renegados
Eles possuem, porém, milhões de antenas
distribuídas por todos os seus poros
aonde aportam do mundo suas penas.
são os que gritam quando tudo cala,
são os que vibram de si estranhos coros
para a fala de Deus que é sua fala.
-
Jorge de Lima, em "Poemas negros". Rio de Janeiro: Record, 2007, p.
149.
O acendedor de lampiões
Lá vem o acendedor de lampiões de rua!
Este mesmo que vem, infatigavelmente,
Parodiar o Sol e associar-se à lua
Quando a sobra da noite enegrece o poente.
Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite, aos poucos, se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.
Triste ironia atroz que o senso humano irrita:
Ele, que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.
Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade
Como este acendedor de lampiões de rua!
-
Jorge de Lima
O grande desastre aéreo de ontem
[a Cândido
Portinari]
Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor
para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista em que a morte acentuou a
palidez, despenhar-se com sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e
pernas de dançarinas arremessadas na explosão. Corpos irreconhecíveis
identificados pelo Grande Reconhecedor. Vejo sangue no ar, vejo chuva de sangue
caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos poetas mártires. Vejo a nadadora
belíssima, no seu último salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida.
Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda. E vejo a
louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas, e a
prima-dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa. E o
sino que ia para uma capela do oeste, vir dobrando finados pelos pobres mortos.
Presumo que a moça adormecida na cabine ainda vem dormindo, tão tranqüila e
cega! Ó amigos, o paralítico vem com extrema rapidez, vem como uma estrela
cadente, vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as nuvens de Deus. E há
poetas míopes que pensam que é o arrebol.
-
Jorge de Lima
O manto do poeta
E o manto do poeta lhe foi dado frente a frente
e investido pelas próprias mãos do Senhor.
E o manto era talar e por fora tinha cordas de harpa
para transmitir a todas as gerações
o som de seus gestos e de seu andar.
E era belíssimo o manto do poeta
e era obra de grande engenho:
e era fio de escarlata com o número de suas tribos,
com os sete dias da criação e a simbologia de suas
musas.
Traje tão imponente e tão sábio nunca houve antes
dele
desde o primeiro homem.
Dele nenhum vivente fora investido fora de seus
iguais.
E abaixo do manto havia a túnica interior
em que o livre arbítrio permitia a inscrição das
insígnias
opostas.
E abaixo da túnica, havia a pele abrigando o sexo em
todos os poros;
mas um manto de pequenas chamas tornava-o sem mácula
como um santo dentro da Graça.
-
Jorge de Lima, em "Jorge de Lima: poesia completa". (Org. Alexei
Bueno). Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997, p. 353 -354.
O poeta vence o tempo
Já não vejo mais a paisagem de plantas carnívoras.
Levada pelos riachos a água velha canta de novo.
A relva ignora sua tragédia e alteia as folhas
inocentes.
Regresso ao teu tempo, Davi.
Como tu tenho harpa e tenho Deus.
E num dia bíblico assim
fora dos tempos duros
posso voltar às origens,
e sentir como tu
que sou mais forte que o rei,
mais forte que todos os Golias.
Mas não sei como tu
distinguir se essa estrela claríssima
é a estrela da manhã
ou se é mesmo a poesia
que nós vemos no céu
– antecedente e posterior a tudo.
-
Jorge de Lima, do livro ‘Tempo e Eternidade’, em "Jorge de Lima: poesia
completa". (Org. Alexei Bueno). Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997, p. 338.
[Estão aqui as pobres coisas]
Estão aqui as pobres coisas: cestas
esfiapadas, botas carcomidas, bilhas
arrebentadas, abas corroídas,
com seus olhos virados para os que
as deixaram sozinhas, desprezadas,
esquecidas com outras coisas, sejam:
búzios, conchas, madeiras de naufrágio,
penas de ave e penas de caneta,
e as outras pobres coisas, pobres sons,
coitos findos, engulhos, dramas tristes,
repetidos, monótonos, exaustos,
visitados tão só pelo abandono,
tão só pela fadiga em que essas ditas
coisas goradas e órfãs se desgastam.
-
Jorge de Lima, em "Canto Quinto, trecho final do poema VII" do livro
'Invenção de Orfeu'.
Pelo silêncio
Pelo silêncio que a envolveu, por essa
aparente distância inatingida,
pela disposição de seus cabelos
arremessados sobre a noite escura:
pela imobilidade que começa
a afastá-la talvez da humana vida
provocando-nos o hábito de vê-la
entre estrelas do espaço e da loucura;
pelos pequenos astros e satélites
formando nos cabelos um diadema
a iluminar o seu formoso manto,
vós que julgais extinta Mira-Celi
observai neste mapa o vivo poema
que é a vida oculta dessa eterna infanta.
-
Jorge de Lima
Poema 30
Acontece que uma face
alta noite vem juntar-se
à minha face. Magia:
ela penetra em meus lábios,
em minha fronte, em meus olhos,
e eu não sei se é a minha face
ou se é a face do meu sono
ou da morte. Ou quem dirá?
Se de alguma criatura
composta apenas de face
incorpórea como o sono,
face de Lenora obscura
que penetra em minha sala
e do outro mundo me espia
-
Jorge de Lima
Poema relativo
Vinde ó bem-amada,
junto á minha casa
tem um regato (até quieto o regato.)
Não tem pássaros, que pena!
Mas os coqueiros fazem
quando o vento passa,
um barulho que ás vezes parece
bate-bate de azas
Suponha, ó bem-amada,
se o vento não sopra,
podem vir borboletas
á procura das minhas jarras
onde ha flores debruçadas,
tão debruçadas que parecem escutar.
Todos os homens têm seus crentes
ó bem-amada:
__! os que pregam o amor do próximo
e os que pregam a morte dele.
Mas tudo é pequeno
e ligeiro no mundo, ó amada,
só o clamor dos desgraçados
é cada vez mais imenso.
Vinde ó bem-amada.
Junto á minha casa
tem um regato até manso.
E os teus passos podem ir devagar
pelos caminhos:
aqui não há a inquietação
de se atravessar o asfalto.
Vinde ó bem-amada,
porque como lhe disse
se não há pássaros no meu parque,
poder ser se o vento
não soprar forte
que venham borboletas.
Tudo é relativo
e incerto no mundo
. Também tuas sobrancelhas
parecem azas abertas.
-
Jorge de Lima, em ‘Bazar’, ano 1, n.4, nov.1931.
Rei é oxalá, rainha é iemanjá
Rei é Oxalá que nasceu sem se criar.
Rainha é Iemanjá que pariu Oxalá sem se manchar.
Grande santo é Ogum em seu cavalo encantado.
Eu cumba vos dou curau. Dai-me licença angana.
Porque a vós respeito,
e a vós peço vingança
contra os demais aleguás e capiangos brancos.
Agô!
que nos escravizam, que nos exploram,
a nós operários africanos,
servos do mundo,
servos dos outros servos.
Oxalá! Iemanjá! Ogum!
Há mais de dois mil anos o meu grito nasceu!
-
Jorge de Lima, em “Poemas negros”.
Soneto da saudade
Quem não canta? Quem? Quem não canta e sente?
-Chama que já passou mas que assim mesmo é chama…
A saudade, eu a sinto infinda, confidente.
Que de longe me acena e fascina e chama…
Mágoa de todo o mundo e que tem toda gente:
Uns sorrisos de mãe… uns sorrisos de dama…
…Um segredo de amor que se desfaz e mente…
Quem não teve? Quem? Quem não os teve e os ama?
Olhos postos ao léu, altivagos, à toa,
Quantas vezes tu mesmo, a cismar, de repente
Te ficaste gozando uma saudade boa?
Se vês que em teu passado uma saudade adeja,
-Faze que uma saudade a ti seja presente!
-Faze que tua morte uma saudade seja!
-
Jorge de Lima
soneto XV
A garupa da vaca era palustre e bela,
uma penugem havia em seu queixo formoso;
e na fronte lunada onde ardia uma estrela
pairava um pensamento em constante repouso.
Esta a imagem da vaca, a mais pura e singela
que do fundo do sonho eu às vezes esposo
e confunde-se à noite à outra imagem daquela
que ama me amamentou e jaz no último pouso.
Escuto-lhe o mugido – era o meu acalanto,
e seu olhar tão doce inda sinto no meu:
o seio e o ubre natais irrigam-me em seus veios.
Confundo-os nessa ganga informe que é meu canto:
semblante e leite, a vaca e a mulher que me deu
o leite e a suavidade a manar de dois seios.
-
Jorge de Lima
soneto XIX
Todavia, vejamos, há meninos
nascidos, e há uns tantos moribundos
a olhar as mãos, e os dedos superfinos
das próprias mãos, não muito, mas imundas.
E agora penetramos: Camarinhas,
halls, salas e outras peças sem suores,
algumas sujidades tuas, minhas,
e vasos para mijos tão conforme.
Encolhem-se de pejo, ficam rubras,
atrás, dos reposteiros, doces lares
com cheiros de comidas e ossos-bucos
e alguns mirrados numas tutelares.
Gozemos as visitas dos sofás,
perplexas, muitas vezes, com os tremores
de terra ou sufocada pelo gás,
senão por transcendentes cobertores.
Senão pela memórias de família,
pelos vultos das pátrias, (ó que tempos!)
pelos falsos demônios em vigília
mais cavilosos que os genuínos demos.
Senão por mim, atrás do pincenê,
do pensamento dito, do retrato
da parede escabrosa. (Quem me vê,
vê janelas de infância num sobrado).
E essa indelével rosa e cabra-cegas,
e as madornas gamosas e as mucamas
e essa rede escondida em que carregas
a dissimulação te acalentando.
Ó casas de tranqüilos terremotos,
primaveras, velhices, lenocínios,
desarrimos presentes e remotos,
relativos, senão bons destinos.
Nessas tardes calmosas tão pudentas
com os rostos maquilados e precatórios,
concordamos, amigo, que dos tempos
as tardes são os tempos e os cenários.
-
Jorge de Lima
Tarde oculta no tempo
O andarilho sem destino reparou então
que seus sapatos tinham a poeira indiferente
de todas as pátrias pitorescas;
e que seus olhos conservavam as noites e os dias
dos climas mais vários do universo;
e que suas mãos se agitaram em adeuses
a milhares da cais sem saudades e amigos;
e que todo o seu corpo tinha conhecido
as mil mulheres que Salamão deixou.
E o andarilho sem destino viu
que não conhecia a Tarde que está oculta no tempo
sem paisagens terrenas, sem turismos, sem povos,
mas com a vastidão infinita onde os horizontes
são as nuvens que fogem.
-
Jorge de Lima, do livro ‘Tempo e Eternidade’, em “Os melhores poemas de Jorge
de Lima [seleção Gilberto Mendonça Teles]. 2ª ed., São Paulo: Global Editora,
2001, p. 62.
Torso horizontal
Ó grande ser profundo, musa intacta
de fundidos cabelos, inconsútil,
teu pousado suspiro, sopro e lume,
tuas mãos enlaçadas, tua máscara,
sombra de antigas faces, minha essência,
cuidado! não despertes, não te mudes,
ó grande ser profundo, musa inclusa,
divina selva, tida como densa,
teu inerte abandono me acalenta
no escarvado do seio sempiterno,
nas roupagens talares que te vestem,
na palavra insofrida ainda imersa
nesse oceano de símbolos latentes,
oh! Grandeza de sombra que me sentes.
-
Jorge de Lima
[Vereis que o poema cresce independente]
Vereis que o poema cresce independente
e tirânico. Ó irmãos, banhistas, brisas,
algas e peixes lívidos sem dentes,
veleiros mortos, coisas imprecisas,
coisas neutras de aspecto suficiente
a evocar afogados, Lúcias, Isas,
Celidônias... Parai sombras e gentes!
Que este poema é poema sem balizas.
Mas que venham de vós perplexidades
entre as noites e os dias, entre as vagas
e as pedras, entre o sonho e a verdade, entre...
Qualquer poema é talvez essas metades:
essas indecisões das coisas vagas
que isso tudo lhe nutre sangue e ventre.
Poema "Essa Negra Fulô, de Jorge de Lima
Recitado por Waldemar Henrique
Conhecimento de Jorge de Lima
Era a negra Fulô que nos chamava
de seu negro vergel. E eram trombetas,
salmos, carros de fogo, esses murmúrios
de Deus a seus eleitos, eram puras
canções de lavadeira ao pé da fonte,
era a fonte em si mesma, eram nostálgicas
emanações de infância e de futuro,
era um ai português desfeito em cana.
Era um fluir de essências e eram formas
além da cor terrestre e em volta ao homem,
era a invenção do amor no tempo atômico,
o consultório mítico e lunar
(poesia antes da luz e depois dela),
era Jorge de Lima e eram seus anjos.
- Carlos Drummond de Andrade, em "Fazendeiro do Ar", 1954.
Jorge de Lima - foto: (...) |
FORTUNA CRÍTICA DE JORGE DE LIMA
ANDRADE, Fábio Rigatto de Souza. A prima pobre dos versos: a narrativa de
Jorge de Lima. Folha de S.Paulo (mais!), 25/1/1998, p. 11 - 11.
CAVALCANTI, Luciano Marcos Dias. Anunciação e encontro de Mira-Celi: mito e
poesia na lírica final de Jorge de Lima. Todas as Musas: Revista de
Literatura e das Múltiplas Linguagens da Arte (Online), v. 4, p. 62-72, 2013. Disponível
no link. (acessado em 8.3.2014).
© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske
Caso, você tenha algum trabalho não citado e queira que ele seja incluído - exemplo: livro, tese, dissertação, ensaio, artigo - envie os dados para o nosso "e-mail de contato", para que possamos incluir as referências do seu trabalho nesta pagina.
[Estudos
acadêmicos: livros; teses; dissertações, monografias, ensaios, artigos e
entrevistas]
ALMEIDA, José Américo de. Nota preliminar a Poemas. In: LIMA, Jorge
de. Obra completa (org. Afrânio Coutinho). Rio de Janeiro: Aguilar Ed., 1958:
v. I.
ALMEIDA, Lilian Pestre de. Fulô: une célèbre jeune négresse
brésilienne, lecture et traduction. Conjonction (Haiti) 140 1979, p.
101-111.
ALMEIDA, Lilian Pestre de. Jorge de Lima: Quelques poemes
afro-bresiliens: Lecture et traduction. Cabiers du Monde Hispanique et
Luso-Bresilien, Toulose, 30 - 1978, p.
23-38.
ALMEIDA, Simone Cavalcante de. Cartografias de um lugar imaginário - uma
travessia pelo romance Calunga, de Jorge de Lima. (Dissertação Mestrado em
Letras e Lingüística). Universidade Federal de Alagoas, UFAL, 2008.
ALMEIDA, Simone Cavalcante de; REBELLO,
Lucia Sá. Mar alto - travessias pelo romance Calunga de Jorge de Lima. 1ª ed.,
Maceió: Edufal, 2009. v. 1. 224p.
Jorge de Lima, por Mendez |
ANDRADE, Fábio Rigatto de Souza. Jorge de Lima e Murilo Mendes: confluências
e divergências. Revista de Letras (São Paulo), São Paulo, v. 33, p.
199-220, 1993.
ANDRADE, Fábio Rigatto de Souza. Jorge de Lima, prosa e verso. Folha de
S.Paulo (Ilustrada), São Paulo, p. E2 - E2, 18 mar. 2006.
ANDRADE, Fábio Rigatto de Souza. Murilo Mendes e Jorge de Lima: Orfeu entre o
tempo e a eternidade. Ipotesi (UFJF), Juiz de Fora, UFJF, MG, v. 6, n.1, p.
97-103, 2002.
ANDRADE, Fábio Rigatto de Souza. O Engenheiro Noturno: a lírica final de
Jorge de Lima. (Dissertação Mestrado em Letras - Teoria Literária e
Literatura Comparada). Universidade de São Paulo, USP, 1993.
ANDRADE, Fábio Rigatto de Souza. O Engenheiro Noturno: a Lírica Final de
Jorge de Lima. 1ª ed., S.Paulo, SP: Edusp, 1997. v. 1. 192p.
ANDRADE, Fábio Rigatto de Souza. A Musa Quebradiça. in: BOSI, Alfredo (org). Leitura e poesia. São
Paulo: Ática, 1996, p. 125-140.
ANDRADE, Fábio Rigatto de Souza. Posfácio à 'Invenção de Orfeu'. In: Jorge de
Lima. (Org.). Invenção de Orfeu. 1ª ed., São Paulo: Cosac Naify, 2013, v.
1, p. 641-659.
ANDRADE, Mário de. Fantasias de um poeta. In PAULINO, Ana Maria (org.). O poeta
insólito - fotomontagens de Jorge de Lima. São Paulo: IEB/USP, 1987, p. 9-10.
ANDRADE, Mário de. Nota preliminar a A túnica inconsútil. In: LIMA, Jorge de. Obra
completa (org. Afrânio Coutinho). Rio de
Janeiro: Aguilar Ed., 1958: v. I.
ANSELMO, Manuel. A poesia de Jorge de Lima: ensaio de interpretação crítica. Rio de
Janeiro: Ed. do Autor, 1939.
ARAUJO, Jorge de Souza. Jorge de Lima e o idioma poético
afro-nordestino. Maceió: EDUFAL, 1983.
ARAUJO, Jorge de Souza. Jorge de Lima e o idioma poético
afro-nordestino. In: Jaime Nascimento; Hugo Gama. (Org.). Personalidades
negras: Trajetórias e Estratégias Políticas. 1ªed., Salvador-Ba: Quarteto,
2012, v. , p. 205-222.
ARAUJO, Jorge de Souza. Jorge de Lima: a palavra em pânico a poesia
em crise o espelho naufrago. 1ª ed., Salvador: Fundação Pedro Calmon,
2008. v. 01. 320p.
ARAUJO, Jorge de Souza. O idioma poético afro-nordestino de Jorge de
Lima. (Dissertação Mestrado em Letras - Letras Vernáculas). Universidade
Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, 1980.
ARÊAS, Vilma. As mil-e-duas Noites. In:
Remate de Males no. 7, Campinas: IEL (UNICAMP), 1990.
ARRUDA, Marla Donatoni Alves de. Jorge de Lima e Jorge Pedro Barbosa: resgate
folclórico. (Dissertação Mestrado em Letras - Teoria Literária e Literatura
Comparada). Universidade de São Paulo, USP, 2005.
ARTE e medicina. [Curadoria e texto Enock Sacramento; texto Alberto
Beuttenmüller, Márcio Sampaio]. São Paulo: Sadalla Galeria de Arte, 1990. 8 fs.
dobradas, il. p.b. color. Convite.
ASSUNÇÃO, Teodoro Rennó. Fotomontagem e
colagem poética em Jorge de Lima. Belo Horizonte: O eixo e a roda: v. 9/10,
2003/2004m p. 1-324. Disponível no link. (acessado em 9.3.2014).
ATHAÍDE, Tristão de. Nota preliminar a Tempo e eternidade.
In: LIMA, Jorge de. Obra completa (org. Afrânio Coutinho). Rio de Janeiro:
Aguilar Ed., 1958: v. I.
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no link. (acessado em 8.3.2014).
PINTURAS
Manuscritos
Essa Nega Fulô, poema de Jorge de Lima
Recitado por João Villaret no Teatro
São Luís em Lisboa, em 1957.
PINTURAS
Pássaros e Flores, Jorge de Lima (1941) [Coleção Maria Elvira Cortesão Santos Pinto] |
O menino azul (Arlequim), Jorge de Lima (1948) [Coleção Victor Bezerra] |
Pierrot, Jorge de Lima (1944) [Coleção Victor Bezerra] |
Cavaleiro da esperança, Jorge de Lima (1941) [Coleção Luís Buarque de Hollanda] |
Casal de velhos, Jorge de Lima (1949) [Coleção Maria Theresa Alves Jorge de Lima] |
Duas mulheres e violino, Jorge de Lima (1942) / [Coleção Fundo Mario de Andrade - Arquivo do IEB/USP-SP] |
Iemanja, Jorge de Lima (1941) / [Coleção Fundo Mario de Andrade - Arquivo do IEB/USP-SP] |
Menina e peixes, Jorge de Lima (sem data) [Coleção Maria Theresa Alves Jorge de Lima] |
Manuscritos
Anotações do poema 11 do Canto 6, do livro 'Invenção de Orfeu', de Jorge de Lima, [Acervo Literatura Fundação Casa Ruy Barbosa] |
Um trecho da agenda do poeta, em seu bloco de receitas |
Jorge de Lima - foto: (...) |
FOTOMONTAGEM DE JORGE DE LIMA
“O termo collage, como designação de expressão
determinada, foi colocado em circulação por Max Ernst desde 1918/19. Antes,
como material apenas e num sentido diverso, tanto Picasso como os cubistas e os
futuristas já haviam utilizado o material colado em suas obras (aliás,
denominavam isto de “papiers-collés”, pois a expressão de Ernst só foi surgir
após Dada), põem sempre em torno de material, com preocupações gráficas ou de
textura. E não no sentido como na expressão collage, inaugurada assim por Max
Ernst nas artes plásticas.”
-
Jorge de Lima
“A fotomontagem implica uma desforra, uma vingança
contra a restrição de uma ordem do conhecimento. Antecipa o ciclo de
metamorfoses em que o homem, por uma operação de síntese da sua inteligência,
talvez possa destruir ao mesmo tempo. Liberdade poética: este livro respira, a
infância dá a mão à idade madura, a calma e a catástrofe descobre parentesco
próximo ao folhearem um álbum de família.”
- Murilo Mendes, em “Fotomontagens de Jorge de Lima”. [edição organizada
por Ana Maria Paulino]. São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros,
Universidade de São Paulo, 1987, p 12.
“A fotomontagem parece brincadeira, a princípio.
Consiste apenas na gente se munir de um bom número de revistas e livros com
fotografias, recortar figuras, e reorganizá-las numa composição nova que a
gente fotografa ou manda fotografar. A princípio as criações nascem bisonhas,
mecânicas e mal inventadas. Mas aos poucos o espírito começa a trabalhar com
maior facilidade, a imaginação criadora apanha com rapidez, na coleção das
fotografias recortadas, os documentos capazes de se coordenar num todo
fantástico e sugestivo, os problemas técnicos da luminosidade são facilmente
resolvidos, e, com imensa felicidade, percebemos que, em vez de uma brincadeira
de passatempo, estamos diante de uma verdadeira arte, de um meio novo de
expressão!”
- Mário de Andrade, em “Fotomontagens de Jorge de Lima”. [edição
organizada por Ana Maria Paulino]. São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros,
Universidade de São Paulo, 1987, p 9.
Sem título [fotomontagem], Jorge de Lima (1939) [Arquivo do IEB/SP - Fundo Mario de Andrade] |
A Pintura em
Pânico [Fotomontagem]
[Imagens do livro]
A poesia abandona a ciência à sua própria sorte. [A pintura em Pânico (Fotomontagem), Jorge de Lima] |
A invenção da polícia [A pintura em Pânico (Fotomontagem), Jorge de Lima] |
O começo da catequese. [A pintura em Pânico (Fotomontagem), Jorge de Lima] |
Caim e Abel. [A pintura em Pânico (Fotomontagem), Jorge de Lima] |
A criação pelo vento. [A pintura em Pânico (Fotomontagem), Jorge de Lima] |
A poesia em pânico. [A pintura em Pânico (Fotomontagem), Jorge de Lima] |
Contudo permanecíamos inclusos, perenemente [A pintura em Pânico (Fotomontagem), Jorge de Lima] |
Tudo se levitando esta felicidade não era impossível. [A pintura em Pânico (Fotomontagem), Jorge de Lima] |
E as primeiras fecundações (contra todas as ordens). [A pintura em Pânico (Fotomontagem), Jorge de Lima] |
CASA ONDE NASCEU JORGE DE LIMA
Casa onde nasceu Jorge de Lima, União dos Palmares/Alagoas |
A casa onde nasceu e residiu o poeta Jorge de Lima, é tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Estado de Alagoas, pelo decreto nº 5.303/83, de 09 de fevereiro de 1983.
Situado na Praça Basiliano Sarmento, no município de União dos Palmares -Alagoas, de propriedade da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
A infância de Jorge de Lima foi toda vivida em União dos Palmares no sobrado colonial da família. Do sobrado, o poeta via o pátio da igreja, a movimentação da cidade, a festa da padroeira Santa Maria Madalena e, aos sete anos, presenciou a passagem do século XIX para o XX. Registros há de que muito da influência religiosa e lírica na poesia de Jorge de Lima deve-se à admiração àquela Santa.
Começou a rabiscar seus primeiros versos aos seis anos, na casa onde nasceu. Aos treze, compôs o soneto O Acendedor de Lampiões, seu primeiro sucesso como poeta.
CASA MEMORIAL JORGE DE LIMA
A Casa Jorge de Lima, uma iniciativa da Academia Alagoana de Letras (AAL). O centro cultural, onde morou o escritor, vai trazer livros, cartas, quadros e desenhos do artista.
O Prédio
Casa onde viveu Jorge de Lima, Praça Sinimbú, Centro - Maceió/AL (restaurada) |
O prédio construído no início do século 20, é tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Estado de Alagoas, pelo decreto nº 2.393, de 24 de janeiro de 2005. A casa foi recentemente restaurado e aberta ao público.
Acervo do escritor
Entre os documentos doados pela filha dele, Maria Thereza, tem textos inéditos e correspondências com grandes escritores: Gabriela Mistral, Pablo Neruda, Franz Kafka, Sartre, Simone de Beauvoir”. Faz parte também do acervo, um busto de Jorge de Lima assinado pelo escultor e pintor Bruno Giorgi, além da escrivaninha que pertenceu ao escritor, pintor e médico Jorge de Lima.
Serviço
Direção: Benedito Ramos (escritor)
Museóloga responsável: Cármen Lúcia Dantas
Historiógrafo responsável: Fernando Lôbo
Proprietária: Academia Alagoana de Letras
Localizada: na Praça Sinimbu, no Centro de Maceió/Alagoas.
Mesa e Cadeira do poeta, escritor, médico e pintor Jorge de Lima (Acervo Memorial Casa Jorge de Lima - Maceió/AL) |
ACERVO JORGE DE LIMA
Parte do acervo sobre o escritor alagoano Jorge de Lima, encontra-se na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro.
São documentos pessoais, objetos, esculturas, fotos e cartas.
Localização: Rua São Clemente, 134, próximo à estação Botafogo do Metrô, no Rio de Janeiro/RJ.
Site Oficial: Fundação Casa Rui Barbosa
EDITORAS
REDES SOCIAIS
REFERÊNCIAS E OUTRAS FONTES DE PESQUISA
Jorge de Lima, por [...], Capa do livro 'A vida e obra de Jorge de Lima', de Carlos Povina Cavalcanti |
© Direitos reservados ao autor/e ou seus herdeiros
© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Jorge de Lima - surrealismo e modernidade. Templo Cultural Delfos, dezembro/2022. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Jorge de Lima - surrealismo e modernidade. Templo Cultural Delfos, dezembro/2022. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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Página atualizada em 5.12.2022.
Nossa! Sinceramente adorei esse artigo sobre Jorge de Lima! Me ajudou bastante! Obrigado! Completíssimo!
ResponderExcluirOlá, ELFI K FENSKE. Belíssimo trabalho. Bravo!
ResponderExcluirOs que gostaram desse trabalho, podem gostar de ouvir isso:
http://betoqueiroz.com/2015/07/02/projeto-poesia-falada-jorge-de-lima/
Abraço fraterno,
Beto.
De todos os sites pesquisados, este apresenta a mais completa pesquisa sobre o grande artista Jorge de Lima.Fazendo jus a sua grandíssima obra. Parabéns.
ResponderExcluirBelíssimo trabalho esse dossiê Jorge de Lima: justíssima homenagem a esse poeta gigante, um dos maiores do século XX na literatura universal. "Invenção de Orfeu" é um monumento poético, um grande e derradeiro legado do escritor alagoano que, surpreendentemente, os brasileiros ainda não conhecem. Parabéns ao esforço de Elfi Fenske. Muito obrigado!
ResponderExcluirNão entendi o símbolo nonada no final da página...esse símbolo era usado por João Guimarães Rosa. Esse desenho é dele, o símbolo infinito.
ResponderExcluirBelo acervo, um grande de nossa literatura.
ResponderExcluirhttps://www.historiadealagoas.com.br/jorge-de-lima.html
ResponderExcluirSofrimento do sulista não sabe o Brasil por ser posi ti vo por ser pico lo
ResponderExcluir