Retrato de Ronald de Carvalho , por Vicente do Rego Monteiro (1921) .. [Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo] |
O CANTO que me ensinaste foi virgem e livre:
todas as águas balançaram nele,
todos os ventos murmuraram nele,
todos os perfumes se impregnaram nele.
Foi como um vôo,
foi como um vôo longo, longo,
um vôo todo verde no teu sol todo de ouro, no teu ar todo azul;
o canto virgem, o canto livre que me ensinaste.
- Ronald de Carvalho, in "Jogos Pueris", 1926.
Ronald de Carvalho (Rio de Janeiro RJ 1893 - idem 1935). Poeta, ensaísta, memorialista e diplomata brasileiro. Filho do engenheiro naval Artur Augusto de Carvalho, integrante da Revolta da Armada, 1893 a 1894, que é fuzilado pelas forças legalistas do governo Floriano Peixoto. Criado e instruído pelo avô até 1899, conclui os estudos primários e secundários aos 14 anos. Nesse período, ingressa na Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais, e inicia a carreira de jornalista, colaborando com a revista A Época e o Diário de Notícias. Em 1914, vai para Lisboa, e entra em contato com o modernismo português, por meio do poeta Fernando Pessoa (1888 - 1935), dos escritores Mário de Sá Carneiro (1890 - 1916) e Luís de Montalvor (1891 - 1947) e da revista portuguesa Orfeu, editada a partir de 1915. Essa relação com os modernistas portugueses marca sua obra e o aproxima dos modernistas brasileiros. Depois de publicar, em 1919, Poemas e Sonetos e História da Literatura Brasileira, participa da Semana de Arte Moderna, em 1922, e assume o verso livre com Epigramas Irônicos e Sentimentais. Em meio aos eventos de 1922, declama o famoso poema Os Sapos, de Manuel Bandeira (1886 - 1968) cujo conteúdo ataca os poetas parnasianos. Nos seis anos seguintes, publica O Espelho de Ariel, Estudos Brasileiros, Jogos Pueris e Toda a América, marcando sua filiação à estética modernista e a preocupação com a produção teórica. Rabelais e o Riso do Renascimento e mais duas partes dos Estudos Brasileiros são seus últimos livros, pois um acidente de automóvel interrompe sua carreira, aos 41 anos. A fase de sua obra em que predominam as formas fixas se aproxima do simbolismo e do parnasianismo. No período modernista, o tom grandiloqüente e a escrita formal o distanciam dos outros integrantes do movimento.
"(...) Respeitemos as tradições, saibamos compreender
a obra do passado, mas não nos confinemos dentro de fórmulas rígidas, nem
confundamos o preconceito com a verdade. Não devemos afirmar, a exemplo de
Marinetti, que um automóvel lançado em vertiginosa carreira é mais belo que a
Victoria de Samathracia. Devemos fazer, ao contrário, de todas as coisas uma
obra de beleza, retirando delas a energia alegre e saudável de que
necessitamos. É preciso não esquecer que cada homem traz consigo a sua fórmula,
cada homem é um momento de harmonia universal. A modernolatria, entretanto, é
tão perigosa como a classicolatria. Dentro, desses dois pólos está a sabedoria.
Libertemo-nos tanto de um quanto de outro preconceito."
- Ronald de Carvalho,
in "O espelho de Ariel". Rio de Janeiro: Anuário do Brasil, 1923 p.
107.
CRONOLOGIA DE RONALD DE CARVALHO
1893 - Nasce no Rio de Janeiro, em 16 de
maio.
1894 - Filho do engenheiro naval Artur
Augusto de Carvalho, integrante da Revolta da Armada, 1893 a 1894, que é
fuzilado pelas forças legalistas do governo Floriano Peixoto.
1915 - O poeta Ronald de Carvalho
participa no Rio da fundação da revista "Orfeu", dirigida em Portugal
por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro.
1922 - Participa da Semana de Arte
Moderna, em São Paulo.
1923 - Publica O Espelho de Ariel.
ca.1930/1933 - Exerce cargos diplomáticos em
Paris e depois em Haia, Países Baixos.
1935 - Morre em 15 de fevereiro, num desastre de automóvel,
no Rio de Janeiro.
retrato Ronald de Carvalho, por Cândido Portinari (1929) |
Poesia
Luz Gloriosa. 1913. Disponível na Biblioteca da Casa
Fernando Pessoa em Lisboa - link. (acessado em 18.1.2016).
Poemas e Sonetos. Rio de Janeiro: Leite Ribeiro
& Murilo, 1919. Disponível
Acervo Digital/Brasiliana USP – link. (acessado em 18.1.2016)
Epigramas Irônicos e
Sentimentais.[Epigrammas
ironicos e sentimentaes]. Rio de Janeiro: Annuario do Brasil, 1922. Disponível Acervo Digital/Brasiliana USP – link. (acessado em 18.1.2016)
Toda a América. [Ilustração Nicola Garo], Rio de
Janeiro: Pimenta de Mello e Cia, 150 p., 1926. Disponível Acervo
Digital/Brasiliana USP – link. = link e link. (acessado em 18.1.2016)
Jogos Pueris. [23 desenhos de Nicola de Garo]. Rio
de Janeiro: [s. n.], 1926. Disponível Acervo Digital/Brasiliana USP – link. (acessado em 18.1.2016)
Ensaio,
estudo e memória
Affirmações: um agape de
intellectuaes.
Rio de Janeiro: S. A. Monitor Mercantil, 1921.
O Espelho de Ariel. Rio de Janeiro: Anuário do Brasil,
1923.
Estudos brasileiros: 1ª Série. Rio de Janeiro: Annuario do Brasil, 1924
Imagens do México. 1930.
Estudos brasileiros: 2ª Série. Rio de Janeiro: F. Briguiet &
Cia Editores, 1931
Estudos brasileiros: 3ª Série. Rio de Janeiro: F. Briguiet &
Cia Editores, 1931
Rabelais e o Riso do
Renascimento. Rio
de Janeiro: F. Briguiet & Cia, 1931.
Imagens do Brasil e
do Pampa. 1933.
Le Brésil et le Genie
Français. 1933
Caderno de imagens da
Europa. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935.
Itinerário: Antilhas,
Estados Unidos, México.
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935.
Pequena História da
Literatura Brasileira.
1ª ed. 1921, - 6ª Ed. [revisada] - Rio de Janeiro: F. Briguiet, 1937.
O nacionalismo em
arte. In:
América Latina – Revista de Arte e Pensamento. Ano I, nº 3, outubro-novembro de
1919.
A Época- Revista de
Ciência e Literatura.
Rio de Janeiro, julho-agosto, 1909-1912.
:: Acervo Digital Ronald de Carvalho, 1893-1935. Brasiliana USP - Link. (acessado em 18.1.2016)
:: Acervo Digital Ronald de Carvalho, 1893-1935. Brasiliana USP - Link. (acessado em 18.1.2016)
Coletâneas
9 Poetas Del Brasil - una
antologia. de
Enrique Bustamante y Ballivian. Lima: Centro de Estudios Brasileños, 1978, 109
p.
Poesia e prosa. [Coleção Nossos clássicos]. Edição
de Peregrino Júnior. Rio de Janeiro: Agir, 1969. 118p.
Panorama do movimento
simbolista brasileiro.
Edição de Andrade Muricy 2º Ed. Brasília: INL, 1973. V.2 - Literatura
brasileira, 12.
TRADUÇÕES E EDIÇÕES ESTRANGEIRAS DA OBRA DE RONALD DE
CARVALHO
Francês
Epigramas Irônicos e
Sentimentais.
Tradução Francis de Miomandre.
Tout l´Amérique. Tradução Maurice Wellische e H.
Barhier.
Rabelais et le Rire
de la Renaissance
[Rabelais e o Riso do Renascimento]. Paris: Émile Hazan, éditeur, 1932.
Le Brésil et le Genie
Franjais.
Paris: Harzan, 1933.
Espanhol
Toda la América. [Tradução Francisco Villaespessa].
Madrid: Casa Editorial, 1930. – e São Paulo: Editora Hispano-Brasileña, 1935.
Italiano
Tutta l´America. [Tradução G. A. Magno].
VEJA A CARTA DE FERNANDO PESSOA A RONALD DE CARVALHO
:: Acessando AQUI!
VEJA A CARTA DE FERNANDO PESSOA A RONALD DE CARVALHO
:: Acessando AQUI!
"o meu Ronald de Carvalho, o
poeta da epopéia da “Luz Gloriosa” em que todo o dinamismo brasileiro se
manifesta em uma fantasia de cores, de sons e de formas vivas e ardentes,
maravilhoso jogo de sol que se torna poesia! A sua arte mais aérea agora, nos
novos epigramas, não definha no frívolo virtuosismo que é o folguedo do
artista. Ela vem da nossa alma, perdida no assombro do mundo, e é a vitória da
cultura sobre o terror, e nos leva pela emoção de um verso, de uma imagem, de
uma palavra, de um som à fusão do nosso ser no Todo infinito."
-
Graça Aranha, em Trecho da Conferência “A emoção estética na arte moderna” —
1922.
Ronald de Carvalho |
POESIA ESCOLHIDA DE RONALD DE CARVALHO
[Importante: alguns poemas mantém a 'grafia' original da época]
Êxul
Esse que sabe rir vai à festa da Vida...
— Quantos já vi passar neste longo caminho,
com os olhos postos no alto e a boca ressequida,
desejosa de sol, de pâmpanos e vinho...
Vão em busca do céu na alameda comprida
que se perde lá baixo... e eu sempre a olhar, sozinho
a audácia dos que vão para o orgulho da lida,
transpondo luar a luar, vencendo espinho a espinho...
— Caem rosas... depois... outras rosas vêm vindo...
outras rosas cairão... outras virão... e eu preso,
a ver os que lá vão pelo caminho infindo...
— Mas todos ao voltar trazem no passo triste
no lábio êxul, nas mãos senis, no olhar aceso,
a mentira imortal de tudo quanto existe...
- Ronald de Carvalho,
in "Os Sonetos do Sangue", do livro 'Luz Gloriosa', 1913.
Anoitece...
Venho sofrer contigo a hora dolente que erra,
Sob a lâmpada amiga, entre um vaso com rosas,
Um festão de jasmins, e a penumbra que desce...
Hora em que há mais distância e mágoa pela terra;
Quando, sobre os chorões e as águas silenciosas,
Redonda, a lua calma e sutil, aparece...
O rumor de uma voz sobe no espaço, ecoando,
Mais um dia se foi, menos uma ilusão!
E assim corre, igualmente, a ampulheta da vida.
Senhor! depois de mim, como folhas em bando,
Num crepúsculo triste, outros homens virão
Para recomeçar a rota interrompida,
E a amargura sem fim de um mesmo sonho vão...
Nos dormentes
jardins bolem asas incautas,
Sobre os campos a bruma ondeia, devagar.
Estremecem no céu estrelas sonolentas
E os rebanhos, que vão na neblina lunar,
Agitam molemente, ao longe, as curvas lentas
Das estradas de esmalte, ao rudo som das frautas.
Anoitece...
Tremula ainda, no poente, a luz de alguns clarões,
E, enquanto sobre o meu teu olhar adormece,
Entre o perfil sombrio e vago dos chorões,
Redonda, a lua calma e distante, aparece...
- Ronald de Carvalho, in
‘Noturnos’, no livro “Poemas e Sonetos”, 1919.
Vida
Para um destino incerto caminhamos,
Tontos de luz, dentro de um sonho vão;
E finalmente, a gloria que alcançamos
Nem chega a ser uma desilusão!
Levanta-se da sombra, entre altos ramos,
Como um fumo a subir, lento, do chão,
A distancia que tanto procuramos,
E os nossos braços nunca atingirão.
Mas um dia, perdidos, hesitante,
A alma vencida e farta, as mãos tateantes,
De repente, paramos de lutar;
E ao nosso olhar, cansado de amargura,
As montanhas têm muito mais altura,
O céu mais astros, e mais água o mar!
- Ronald de Carvalho,
no livro “Poemas e Sonetos”, 1919.
II
Sobre o rio tranqüilo espelha-se um pomar.
Brilham nas sombras, entre as arvores, ao luar,
A torre de granito, o pesado quadrante,
E os dourados delfins de teu parque distante.
Em redor dos rosais correm, cantando, as fontes,
Solitários lampiões adormecem nas pontes.
Sob a névoa de azuis, que envolve todo o espaço,
A paisagem parece uma gravura de aço.
Tudo está quieto; no ar apenas estremece,
Com um longínquo rumor de lagrima ou de prece,
A pluma de um repuxo! E como a água relumbra
No cofre de veludo espesso da penumbra!
E como a água, a subir e a descer, levemente,
Lembra o teu coração gelado e indiferente!...
- Ronald de Carvalho, in
‘Noturnos’, no livro “Poemas e Sonetos”, 1919.
V
Ao luar, os violoncelos, entre os choupos,
Cessaram de chorar. A noite é mágoa
Tombando, em folhas tremulas, dos topos,
Nos repuxos subindo, em plumas de água.
E assim, as mãos nas minhas mãos, errando
Pelos rosais da estrada, num cenário
De saudades, de sombras, e de mágoa,
Vamos o velho tempo recordando.
E os violoncelos choram novamente,
Ao luar que banha o espaço solitário,
Enquanto as folhas tombam no ar dormente,
E o céu se estrela de ouro e plumas de água
- Ronald de Carvalho, in
‘Noturnos’, no livro “Poemas e Sonetos”, 1919.
Vento noturno
Volúpia do vento noturno,
do vento que vem das montanhas e das ondas,
do vento que espalha no espaço o cheiro das resinas,
a exalação da maresia e do mato virgem,
das mangas maduras, das magnólias e das laranjas,
dos lírios do brejo e das praias úmidas.
Volúpia do vento noturno nas noites tropicais,
quando o brilho das estrelas é fixo, duro,
quando sobe da terra um hálito quente, abafado,
e a folhagem lustrosa lembra o aço polido.
Volúpia do vento morno do verão,
carregado de odores excitantes,
como um corpo de mulher adolescente,
de mulher que espera o momento do amor...
Volúpia do vento noturno em minha terra natal!
- Ronald de Carvalho,
no livro “Epigramas Irônicos e Sentimentais”, 1922.
Doçura da chuva
DOÇURA melancólica da chuva,
dos muros úmidos, das ruas cheias de água barrenta,
da atmosfera pesado, sonolenta,
doçura da chuva..
Doçura melancólica da chuva,
quando não ha cartas de amor para rasgar,
quando não ha rondeis nem bailadas para rimar,
e o vide, parece, onde méis devagar!
doçura de chuva..
Doçura melancólica da chuva,
quando ficam rasos de água os olhos dos homens líricos,
quando as penas marcham ao compasso grave dos alexandrinos,
e jorram dos corações sonetos sentimentais.
Melancolia irônico de chuva,
sob uma epígrafe bucólico de Sá de Miranda,
no redondilha dos madrigais.
Monotonia da chuva indiferente, calma,
caindo nos charcos, caindo nos pântanos,
caindo na alma.
Doçura melancólica de chuva!
- Ronald de Carvalho,
no livro “Epigramas Irônicos e Sentimentais”, 1922.
Bucólica
MANHÃ parece que nasceu do teu riso,
do teu riso de pássaro ou de fonte.
Vibram na tua voz trilhos d'água fresca,
d'água que escorre por entre avances e samambaias.
E as tuas mãos são duas borboletas brancas
voando sobre papoulas e tinhorões,
voando no luz de manhã...
- Ronald de Carvalho,
no livro “Epigramas Irônicos e Sentimentais”, 1922.
A dança das folhas
COMO a chuva é subtil, sem eloqüência, calma,
discreta, fina, cheia de pudor!
Como a chuva é mansa,
como a chuva é alma...
Ao longo dos caminhos, rodopia, dança
um punhado de folhas, sem rumor...
- Ronald de Carvalho,
no livro “Epigramas Irônicos e Sentimentais”, 1922.
Este perfume...
ESTE perfume de lírios e framboesas é toda a infância!
(murmuram os riachos em que entravemos os pés descalce
<*• as mãos ávidas em busca das lagostas cor de limo,
voam as borboletas azuis, zinem as cigarras, zumbem os
besouros!
Este perfume...
(Gemem os bambuais, soa o buzina dos tropeiros,
espalha-se no ar o cheiro das tangerinas e dos cambucás;
passem caçadores com enfiados de passarinhos...
Como brilhem teus olhos de cobice,
teus olhos como brilhem novamente!)
Este perfume.
(não tocas mais os minuetos de Mozart...
dize: quem aponha agora as lagostas cor de limo,
quem aponha as borboletas azuis ?...)
Este perfume de lírios e framboesas...
- Ronald de Carvalho,
no livro “Epigramas Irônicos e Sentimentais”, 1922.
Épura
Geometrias, imaginações destes caminhos
da minha terra!
Curvas de trilhas,
triângulos de asas,
bolas de cor...
Círculos de sombras agachadas entre as árvores,
cilindros de troncos embebidos na luz.
Geometrias, imaginações destes caminhos
da minha terra!
Melancolicamente, nesta alegria geométrica,
pingando bilhas polidas,
o leque das bananeiras abana o ar da manhã...
- Ronald de Carvalho,
no livro “Jogos Pueris”, 1926.
II
Pela névoa a ondular, como um acorde lento,
Os pés brancos ao luar, e os cabellos ao vento,
Estendeste-me as mãos esguias e nervosas,
Numa ronda aromai de cravos e de rosas.
Que lâmpada flamenga o teu olhar desvenda?
E's longa como um lírio aberto numa taça,
E nas águas de um lago a tua forma lassa
Tem gumes de punhal, e escumilhas de renda.
Serias Colombina? Ah! se eu fosse Pierrot,
No jardim silencioso, á margem dessa estrada:
Por onde vieste, a rir, e onde sonhando vou,
Dar-te-ia o coração no fim de uma bailada!
Ha theorbas a chorar num bosque de jasmins,
Sobre as fontes, em torno, entre violetas boia
O plenilúnio como uma pallida jóia,
E estremece na sombra a cauda dos golfins...
Mas apenas beijei as tuas mãos nervosas,
Como um flamingo de ouro o teu vulto passou
Numa ronda aromai de cravos e de rosas.
Se fosses Colombina, e se eu fosse Pierrot!...
- Ronald de Carvalho, in
‘Elegias’, (grafia original), no livro “Poemas e Sonetos”, 1919.
Allegoria da manhã
Terra cheia de luz, para o teu esplendor
Ergo as mãos, num tremor de desejo e de gloria!
E na paz de um jardim mysterioso e pagão,
Onde passeia o sol como um velho pintor,
Numa ingênua canção dou-te a minha memória,
E num beijo aromai, dou-te o meu coração.
Coroada de jasmins, de pampanos e rosas,
Coberta de trigaes maduros, sobre os rios
A tua imagem real veste-se de cristaes;
E em teus braços, que são as estradas gloriosas,
Cantam fontes rolando entre juncos esguios,
Estremecem bambus e verdes laranjaes.
Entre as latadas de uva, e as framboezas vermelhas,
Ha brilhos de rubis, e reflexos de prata;
E no tremulo véo velludoso das parras
Um bando transparente e sonoro de abelhas,
Como um fio de mel, ondula e se desata
Sobre a folhagem de ouro, os cravos e as cigarras.
Range no poço antigo a polilha da corda,
Sobre os tanques de opala as arvores recuryas
Boiam, no espelho azul da água fresca e parada.
Cortam pássaros o ar; pelas granjas, accorda
O moinho que volteia as grandes azas curvas,
E em cada face, o olhar que esvoaça, é uma bailada
Terra cheia de luz, nos pomares o outono
Incendeia e arredonda a vinha hospitaleiro,
As amphoras que vão no hombro das raparigas
Têm perfumes que dão volúpia e que dão somno;
Nas bilhas, espumando, o leite morno cheira,
E a campina é um clarão de papoulas e espigas.
Na dourada manhã, sobre a paz infinita
Das collinas azues, e dos jardins pagãos,
Para o teu esplendor, terra nobre e bemdita,
Ao sol que se levanta, ergo-te as minhas mãos!
- Ronald de Carvalho, in
'Poemas da Natureza', [dedicado a Tristão da Cunha], (grafia original), no
livro “Poemas e Sonetos”, 1919.
Allegoria da noite
A noite é suave como um beijo sobre a face.
Nas frondes quietas ronda o luar, e o luar accende
Figuras de marfim, suspensas entre a bruma.
Pelo céo de cristal, luminosa e fugace,
Brilha uma estrella, e foge; e todo o espaço esplende,
Num tremulo clarão de alabastro e de espuma.
A paisagem parece um aquário gelado.
As gramas são coraes sombrios, e as raízes
Lembram aranhas de ouro, a fugir na penumbra.
O casario, sobre as curvas de nm montado,
Deita espectros no chão, e ha lagrimas felizes
Nos ramos, de onde o orvalho escorre, e me deslumbra.
Na doçura do ambiente a solidão é um poema
Que a alma diz, devagar, num leve choro de harpas;
E o silencio é uma voz que emmudeceu na sombra...
A lua abre, no azul, como a flor de um diadema,
E no céo de cristal, aprumando as escarpas,
Num tropel de alcantis o horisonte se escombra.
Noite, irmã da illusão, quanto sonho glorioso
Semeiam tuas mãos, onde ardem, num chuveiro,
Astros, constellações, nebulosas distantes,
E toda a flora ideal de um paiz maravilhoso !
Quanto desejo vão, inquieto e passageiro,
Tomba de tuas mãos, como a hora dos quadrantes...
Nas sombras do jardim sobe um rumor de chuva
Da água dos vasos, que um Tritão indifferente
Na fonte senhoreal deixa rolar, num salto.
E os faunos, em redor da vinha aberta em uva,
Descerram, num clarão, os olhos de repente,
E movem quasi, a rir, os cornos de bazalto.
Pelo céo de cristal, luminosa e fugace,
Brilha uma estrella, e foge. O espaço claro esplende.
Nas frondes quietas ronda o luar que a terra accende.
A noite é suave como um beijo sobre a face...
- Ronald de Carvalho, in
'Poemas da Natureza', [dedicado a Tristão da Cunha], (grafia original), no
livro “Poemas e Sonetos”, 1919.
Silêncio
Ninguém... A noite dorme, silenciosa.
Pela encosta dos morros sobe a lua.
Que esquisita saudade se insinua
Na noite silenciosa!
As arvores, nos ermos, estão quietas;
E, ao luar, que inunda as calmas alamedas,
Ha um brilho de vidrilhos e de sedas
Entre as arvores quietas.
Que mão subtil nas relvas orvalhadas
Derramou tanta jóia e pedraria?
Parece até que vai nascer o dia
Nas relvas orvalhadas!
Rola um perfume de jasmins no ambiente.
E, entre a sombra que envolve toda a altura,
Um repuxo finíssimo murmura
No desolado ambiente..
- Ronald de Carvalho, in
'Poemas da Natureza', [dedicado a Tristão da Cunha], no livro “Poemas e
Sonetos”, 1919.
Vinho Amargo
A coroa de louros sobre a fronte,
Erguendo ás mãos a taça, e a palma de ouro,
O poeta vê, na curva do horizonte,
Franjas de céu, pedras de ancoradouro.
Brilham no mar sereno as naus, e a ponte
Que rasga as ondas como um brigue louro.
E tudo bóia em sol, águas de fonte,
Tanques de prata, ou leões de pátio mouro.
De súbito, porém, pálida e nua,
A vida enche-lhe a taça de berylo,
E ele mergulha os lábios, e recua!
Pois no vinho que a vida lhe oferece,
Como num fundo olhar, negro e tranqüilo,
Todo o pavor da morte lhe aparece!
- Ronald de Carvalho, In
'Figuras de Cinza e de Ouro' [dedicado a Alceu Amoroso Lima], no livro “Poemas
e Sonetos”, 1919.
Sombras que voltam
Dentro do nosso olhar, ás vezes, nasce,
Como na água de um lago transparente
Uma indistincta floração fugace,
Todo o passado, em ronda, suavemente.
E o juramento que se fez, e a face
Que se beijou, chorando, docemente,
E volta, pallida, (e antes não voltasse!)
Tudo se ergue na sombra, de repente.
E são verões, outonos, primaveras,
Mares coalhados de astros e galeras,
Tardes de prata, auroras de cristal;
E cidades que, longe, vão surgindo,
A' beira azul de um golpho calmo e lindo,
Entre grinaldas de âmbar e coral!
- Ronald de Carvalho, In
'Figuras de Cinza e de Ouro' [dedicado a Alceu Amoroso Lima], (grafia
original), no livro “Poemas e Sonetos”, 1919.
Onde puserdes vosso Amor
Onde puserdes vosso Amor,
Logo achareis mágoa e tortura:
A vida é feita de doçura
E, ao mesmo tempo, de amargor.
Andam, assim, prazer e dor
No mundo vão, tão de mistura,
Que separá-los é loucura,
Sobre loucura, dissabor.
Mas é costume, infelizmente,
Costume mão, de toda gente,
Querer ventura sem travor,
Tomai, pois, tento, que, em verdade,
Não vereis só felicidade
Onde puserdes vosso Amor.
- Ronald de Carvalho, in
'Sonetos', no livro “Poemas e Sonetos”, 1919.
A estrada sem fim
Dentre uma leve espuma, em rondas suaves,
A madrugada rompe. Um canto de ânsia
Sobe da selva funda e sossegada,
E agita as frondes no ar sonoro de aves.
O homem levanta as mãos para a distancia
Que surge, lentamente, em sua estrada;
E o passo audaz, sereno, a alma confiante,
Sobre pedras e espinhos caminhando,
O tempo que floresce no quadrante
Vai, solitário e alegre, desfolhando...
Ao sol do meio dia, quando o espaço
Toma os contornos de um castelo mouro,
E o céu em chamas, lembra um rio de aço
Entre escarpas de brasa e vulcões de ouro,
O homem pára, abre os olhos, e medita
Na solidão das landes, infinita!
Depois, a tarde cobre todo o ambiente
Com as imagens sonâmbulas, estranhas,
De uma renda de cinza transparente;
E, enquanto, pouco e pouco, tremulando,
Num chuveiro de soes a noite desce,
O homem, erguendo as mãos inutilmente
A' distancia, que vai sempre aumentando,
Entre abismos, torrentes e montanhas,
Pela estrada sem fim desaparece...
- Ronald de Carvalho,
no livro “Poemas e Sonetos”, 1919.
Crepúsculo
No parque silencioso as abelhas douradas,
Entre a folhagem calma, abrem as azas finas;
Sobem leves canções do fundo das estradas,
E uma indecisa luz veste, ao longe, as colunas.
Hora serena e irreal. Por que, quando entardece,
A alma inquieta tem mais saudade, e tem mais dor?
Por que o passado assim, na memória, aparece,
E põe no lábio triste um imenso amargor?...
Enquanto as formas vão morrendo pelo ambiente
Um perfume subtil e doce envolve o espaço;
A sombra desce no ar e, como á flor de um lago,
Entre a noite, ainda vaga, e o dia, ainda mais vago,
Desabrocham no céu, distante e transparente,
A lua de cristal, e os soes de opala de aço...
- Ronald de Carvalho, in
'Poemas da Natureza', [dedicado a Tristão da Cunha], no livro “Poemas e
Sonetos”, 1919.
A um adolescente
Faze do instante que passa
Toda a tua aspiração;
Que o mundo cheio de graça
Caberá na tua mão!
Sê sóbrio: com um copo de água,
Um fruto, e um pouco de pão.
Nem sombra de leve mágoa
Cortará teu coração.
Ama a rude terra virgem,
Com todo o teu rude amor;
Pois colherás na vertigem
De cada sonho, uma flor.
Sofre em silencio, sozinho,
Porque os sofrimentos são
O mais saboroso vinho
Para a sombra e a solidão...
E quando, um dia, o cansaço
Descer ao teu coração,
Une á terra o peito lasso,
E morre beijando o chão;
Morre assim como indeciso
Fumo, que nos ares vai,
Morre num breve sorriso,
Como uma folha que cai...
- Ronald de Carvalho, in
'Poemas da vida', no livro “Poemas e Sonetos”, 1919.
V
Na paz do outono,
Grave, profunda,
Teu vulto de ave
Leve ligeira,
Sobre a alameda
Crieia de rosas
Que o luar inunda;
(Sombra de seda.
Pluma ligeira)
Teu vulto suave
Sobre a alameda,
E' uma roseira
Cheia de rosas,
Na paz do outono.
- Ronald de Carvalho, in
‘Elegias’, (grafia original), no livro “Poemas e Sonetos”, 1919.
Écloga tropical
Entre a chuva de ouro das carambolas
e o veludo polido das jabuticabas,
sobre o gramado morno,
onde voam borboletas e besouros,
sobre o gramado lustroso
onde pulam gafanhotos de asas verdes e vermelhas,
Salta uma ronda de crianças!
O ar é todo perfume,
perfume tépido de ervas, raízes e folhagens.
O ar cheira a mel de abelhas...
E há nos olhos castanhos das crianças
a doçura e o travor das resinas selvagens,
e há nas suas vozes agudas e dissonantes
um áureo rumor de flautas, de trilos, de zumbidos
e de águas buliçosas...
- Ronald de Carvalho,
no livro “Epigramas Irônicos e Sentimentais”, 1922.
Deante da vida
Entre ondas voluptuosas de verdura
A floresta levanta os braços fortes,
Braços que estão, vergados, rebentando
Em flores vivas, em plumagens fartas,
E em frutos saborosos, que são como
Os pensamentos amadurecidos
Que sobem da humildade das raizes
Para o esplendor das frondes constelladas!
Tudo se move num rumor confuso:
Folhas e caules, sebes, trepadeiras;
Rios que o sol escalda, e onde fulguram,
Entre rubros clarões de labaredas,
Jóias, punhaes de fogo e espadas de aço;
Campos, que o vento agita, e a luz transforma
Em mares empolados, onde rolam
Vagalhões de esmeraldas e safiras.
Tudo se move! até das penhas rudes
A rocha millenar estala, e tomba!
A Terra tem palpitações profundas,
E tanto o largo seio empina e abaixa,
E tanto se revolve, que parece
Não supportar o peso das montanhas,
Dos serros brutos, dos pedrouços duros,
Que lhe apertam de mais o agreste flanco.
Num brilho de metaes em braza fervem
Os atalhos de ardente areia acceza,
O curvo espaço, a cúpula das arvores,
A água das fontes recamada de ouro;
E como em copas onde o vinho espuma,
Nas corollas abertas se embebedam
As lustrosas abelhas de velludo,
E os pelludos bezouros rumorosos.
Cada tronco de bronze é uma columna,
E cada umbella um capitei luxuoso;
E ha nas pedras estatuas modeladas
Por mãos desconhecidas, mysteriosas;
Mãos que arrancam da magua e da alegria,
Do terror, da tristeza e da amargura
Que a lagrima das coisas vai deixando,
As mascaras eternas da Belleza.
II
Dentro desse tumulto luminoso
O Poeta, um dia, despertou. «Caminha!,
Alguém lhe segredou; «Caminha», os olhos
Tontos de amor, lhe dizem deslumbrados.
«Vai em busca da vida que te chama»!
E elle vendo no olhar, e na alma vendo
Um sonho novo de felicidade,
Abrio as mãos anciosas para a vida!
O crepúsculo pallido descera
Com o silencio e a penumbra sobre a terra,
Numa poeira de fôrmas indecisas
Todas as fôrmas no ar se confundiam.
A selva, agora, em sombra mergulhada,
Com a folhagem serena adormecida,
Tinha o tranquillo aspecto das madréporas
E dos coraes nas landes submarinas.
Dos encruzados ramos caprichosos
O orvalho em claras gotas escorria;
E ao tibio luar nascente as folhas calmas
Eram conchas finíssimas suspensas;
O musgo era um tapete de algas humidas,
E os luzentes arroios imitavam
Peixes de fria escama scintillante,
Nadando num tremor de espumas leves.
Tacteante, embora, o Poeta caminhava
Ebrio das maravilhas que seus olhos
Iam na noite immensa descobrindo:
Quando uma voz de estranha resonancia,
Ferindo os fundos boqueirões remotos,
Varando a repousada somnolencia,
E a espessura dos bosques silenciosos,
De súbito accordou o espaço mudo!
Que voz, ao mesmo tempo, doce e horrível
Assim o allucinava e o seduzia?
Que tentáculos frios, movediços,
Vinham prendel-o, assim ? Que inviso polvo
Seus hesitantes passos arrastava ?
E implacável, teimosa, tentadora,
Dentro da noite solitária e immensa,
A voz lhe segredou: «Caminha, é a vida!»
«Caminha, que verás um céo mais alto,
«Recoberto de estrellas palpitantes;
«Caminha, e beberás a água mais pura
«Que poderá provar a tua boca !
«Entrarás em jardins nunca sonhados,
«Onde receberá teu lábio virgem,
«Num chuveiro de pétalas macias,
«Um baptismo de beijos deliciosos.»
«Foge das tuas furnas desoladas,
«O' Pássaro nocturno da floresta!
«Vai para a vida que te espera, soffrega!
E elle, seguindo a voz que abria como
Um caminho sonoro pelos ares,
E que, de instante a instante, mais crescia,
A uma região de agudas cordilheiras,
Lento, levou os fatigados passos.
III
Por todo o ambiente, em véos de opala, ondeante,
Um nevoeiro subtil se derramava.
O contorno das coisas era feito
De bruma e de cristal; e a luz que, trêmula,
Descia na atmosphera vaporosa
Entre florões de floculos prateados,
Misturava no seu mortiço fluido
Ao tom do marfim velho a cor das pérolas.
Mal os olhos do Poeta se afizeram
A' nevoa circumstante, um arrepio
Correu-lhe a face, e pertubou-lhe a vista!
Estava em frente delle um alto monte
De refranjada escarpa multiforme,
Recortado de dentes e de agulhas,
Por onde uma caudal vertiginosa
Com raivoso fragor se despenhava.
Fervendo sobre os blocos de granito,
Martellando nas rocas recurvadas,
Rugindo na aspereza dos penhascos,
A torrente saltava, em crespos jorros !
De cada aresta lisa e penetrante
Repontava uma lamina desnuda,
E em cada pedregulho rebatido
Um clamor de bigornas se escutava.
Logo, o Poeta parou. Não era de água
A torrente que os ecos abalava;
E a voz que em seus ouvidos rebramia
Eram gritos de angustia e desespero,
Queixas, supplicas, ais, gemidos longos,
Brados convulsos de ódio e de tortura,
Uivos de maldição, ululos cavos
De quem sentisse rotas as entranhas 1
Era a vida que, em turbilhões, rolava
Num continuo tropel de ossos partidos
E laceradas carnes esmagadas;
Eram corpos que, em vão, se debatiam,
Eram bocas que, em vão, se procuravm,
Era toda a afflição que os mundos move,
Era todo o infinito da amargura
Apenas revelado num segundo!
Não era de água, mas de sangue escuro
A torrente que os ecos sacudia:
Sangue de corações que rebentavam,
Sangue de mil batalhas inclementes !
E o monte infindo, que se desdobrava
Pelo infindo horisonte sem limites,
Era como o Destino, mudo e immovel,
Dentro da vida inquieta e passageira.
Emquanto o Poeta, insomne, contemplava
Tanta miséria, a alma lhe disse: «Foge!
«Na tua agreste furna ha mais doçura
«Que no mais lindo e cristallino còllo,
«O silencio da selva é mais humano
«Que a voz da dolorosa vida humana.
«Na aza das borboletas e nos brutos
•Ha mais sabedoria que nos homens».
«Vai para os teus abysmos, onde a noite
«Tem mais encanto e mais deslumbramentos,
«E onde a tua cabeça resplandece,
«No pincaro das serras solitárias!
«Deixa a vida bater de encontro a vida
«Como as ondas se chocam contra as ondas.
•Homem-divino, Poeta ! Volta á selva,
«Volta á Belleza eterna e silenciosa...»
- Ronald de Carvalho, in
Poemas da Vida [dedicado a Mario Simonsen], (grafia original) no livro “Poemas e Sonetos”, 1919
Toda a América
Onde estão os teus poetas, América?
Onde estão eles que não compreendem
os teus meios-dias voluptuosos,
as tuas redes pesadas de corpos eurítmicos,
que se balançam nas sombras úmidas,
as tuas casas de adobe que dormem
debaixo dos cardos,
os teus canaviais que estalam e se
derretem em pingos de mel,
as tuas solidões, por onde o índio passa,
coberto de couro, entre rebanhos de cabras,
as tuas matas que chiam, que trilham,
que assobiam e fervem,
os teus fios telegráficos que enervam a
atmosfera de humores humanos,
os martelos dos teus estaleiros,
os silvos das tuas turbinas,
as torres dos teus altos fornos,
o fumo de toas as tuas chaminés,
e os teus silêncios silvestres que absorvem
e espaço e o tempo?
Onde estão os teus poetas, América?
Onde estão eles que não se debruçam
sobre os trágicos suores das tuas sestas bárbaras?
No teu sangue mestiço crepitam fogos de queimadas,
juízes, tribunais, leis, bolsas, congressos,
escolas, bibliotecas, tudo se estilhaça
em clarões, de repente, nos teus pesadelos irremediáveis.
Ah! Como sabes queimas todos esses
troncos da floresta humana,
e refazer, como a Natureza, a tua ordem pela destruição!
Onde estão os teus poetas, América?
Onde estão eles que não vêem o alarido
construtor dos teus portos,
onde estão eles que não vêem essas bocas
marítimas que te alimentam de homens,
que atulham de combustível as fornalhas
dos teus caldeamentos,
onde estão eles que não vêem todas essas
proas entusiasmadas,
e esses guindastes e essas gruas que se cruzam,
e essas bandeiras que trazem a maresia
dos fiordes e dos golfos,
e essas quilhas e esses cascos veteranos
que romperam ciclones e pampeiros,
e esses mastros que se desarticulam,
e essas cabeças nórdicas e mediterrâneas,
que os teus mormaços vão fundir em bronze,
e esses olhos boreais encharcados de luz
e de verdura,
e esses cabelos muitos finos que procriarão
cabelos muito crespos,
e todos esses pés que fecundarão os teus
desertos!
Teus poetas não são dessa raça de servos
que dançam no compasso de gregos e latinos,
teus poetas devem ter as mãos sujas de
terra , de seiva e limo,
as mãos da criação!
E inocência para adivinhar os teus prodígios,
e agilidade para correr por todo o teu
corpo de ferro, de carvão, de cobre, de
ouro, de trigais, milharais e cafezais!
Teu poeta será ágil e inocente, América!
A alegria será a sua sabedoria,
a liberdade será a sua sabedoria,
e sua poesia será o vagido da tua própria
substância, América, da tua própria
substância lírica e numerosa.
Do teu tumulto ele arrancará uma energia submissa,
e no seu molde múltiplo todas as formas caberão,
e tudo será poesia na força de sua inocência.
América, teus poetas não são dessa raça
de servos que dançam no compasso de
gregos e latinos!
- Ronald de Carvalho,
[dedicado a Renato Almeida], no livro “Toda a América”, 1925.
ORPHEU – REVISTA TRIMESTRAL DE LITERATURA
Orpheu foi uma Revista Trimestral de Literatura editada em Lisboa. Apenas teve dois números publicados,
correspondentes aos primeiros dois trimestres de 1915, sendo o terceiro número
cancelado devido a dificuldades de financiamento. Apesar disso, a revista
exerceu uma notável e duradoura influência: o seu vanguardismo inspirou
movimentos literários subsequentes de renovação da literatura portuguesa. Mau
grado o impacto negativo que Orpheu causou na crítica do seu tempo, a
relevância desta revista literária advém de ter, efetivamente, introduzido em
Portugal o movimento modernista, associando nesse projeto importantes nomes das
letras e das artes, como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro,
Almada-Negreiros ou Santa-Rita Pintor, que ficaram conhecidos como geração
d'Orpheu.
Orpheu, um projeto luso-brasileiro
Em
finais de Março de 1915 surgia o primeiro número da revista Orpheu, propriedade
da firma Orpheu Lda, destinada a Portugal e Brasil, com 83 páginas impressas em
excelente papel e tipo agradável, tendo como diretores
Luiz de Montalvôr (para Portugal) e Ronald de Carvalho (para o Brasil), e
como editor o jovem António Ferro. Entre outros,
contava com a colaboração de Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada-Negreiros.
Na “Introdução”, Luiz de Montalvôr tentava explicar os princípios
programáticos e a orientação estética da revista, apresentando-a como: “um exílio de temperamentos de arte”
baseado num “principio aristocrático”,
oferecendo “harmonia esthética” aos
leitores com “desejos de bom gosto e
refinados propósitos em arte”.
Primeiro número -
Janeiro–Fevereiro–Março de 1915
Capa de Orpheu nº 1, por José Pacheko |
Contribuíram
para o primeiro número de Orpheu Luís de
Montalvor, Ronald de Carvalho, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, Alfredo
Pedro Guisado, Almada Negreiros, Armando Côrtes-Rodrigues e José Pacheko, que desenhou a capa e foi
responsável pela direção gráfica. O nome do jovem António Ferro consta também
neste primeiro número da revista como editor. No final da introdução a esta
primeira edição, assinada pelo seu diretor Luís de Montalvor, o grupo manifesta
o propósito de ir ao encontro de alguns desejos de bom gosto e refinados
propósitos em arte que isoladamente vivem por aí, convictos de que a revista,
pelo seu caráter inovador, revela um sinal de vida no ambiente literário
português manifestando esperança na adesão do «público leitor de seleção» a
este projeto literário. Se, nesses leitores de «seleção», o primeiro número da
revista encontrou «contentamento e carinho», no público em geral causou
escândalo e polêmica. A revista abalou decididamente o ambiente literário
português pela ousadia e vanguardismo de alguns dos seus textos. Foi, sem
dúvida, um sinal de vida que rompeu com as tradições literárias e significou o
advento do modernismo em Portugal. O próprio Pessoa, em carta a Armando
Côrtes-Rodrigues, revela o sucesso da revista e o escândalo que esta provocou,
nomeadamente pelo poema 16 de Mário de Sá-Carneiro e a Ode Triunfal, de Álvaro
de Campos [heterônimo de Fernando Pessoa].
José
Pacheko (1885-1934), capa de Orpheu,
fascículo
n.º 1, Janeiro–Fevereiro–Março de 1915.
"ORPHEU" - Revista
Trimestral de Literatura
Ano I -
1915, N.º 1, Janeiro - Fevereiro - Março.
Propriedade
de: Orpheu, Lda.
Editor:
Antonio Ferro
Direção:
Luiz de Montalvôr e Ronald de Carvalho
Oficinas:
Tipografia do Comércio - 10, Rua da Oliveira, ao Carmo - Lisboa.
capa
desenhada por José Pacheco
Sumario da 1ª edição:
Luiz de
Montalvôr - Introducção
Mario de
Sá-Carneiro - Para os "Indicios de Oiro" (poemas)
Ronald
de Carvalho - Poemas
Fernando
Pessoa - O Marinheiro (drama estático)
Alfredo
Pedro Guisado - Treze Sonetos
José de
Almada-Negreiros - Frizos (prosas)
Côrtes-Rodrigues
- poemas
Alvaro
de Campos - Opiário e Ode Triunfal
ORPHEU -- Revista
Trimestral de Literatura nº 1. Disponível
na Biblioteca Nacional Digital de Portugal em Lisboa - Link.
BAIXE AS REVISTAS ORPHEU 1 e 2 (PDF)
ORPHEU 1
[Universia] - Link.
ORPHEU 1 [Projeto
Gutenberg] - Link.
ORPHEU 2 [Projeto
Gutenberg] - Link.
"(...) O Ronald é um temperamento avesso ao tumulto lírico
moderno. O modernismo teve uma influência saudável sobre o Ronald mas não
alterou as linhas essenciais do seu espírito. (...) Ronald é inteligentíssimo
para compreender, não para descobrir. Compreende tudo, e tudo resume e reexpõe
com uma clareza e uma medida realmente maravilhosa. Ele tem o senso das
proporções, é o bom gosto acabado. Dediquei-lhe o meu livro assim: “A Ronald, o
clássico do canto novo”. De fato. Parece que ele chegou junto ao grupo das
musas modernas num momento de algazarra e ralhou: Tenham modos. E ensinou a
dançar a roda com modos."
- Manuel Bandeira em
carta a Mário de Andrade, em 13 de outubro de 1924. [explicando o princípio
ordenador da obra de Ronald no interior do modernismo], In MORAES, Marcos
Antonio de, (org.) Correspondência Mário de Andrade & Manuel Bandeira. São
Paulo: EDUSP; IEB - USP, 2000.
RONALD DE CARVALHO E A SEMANA DE 22
"Os Sapos" é um poema escrito por Manuel Bandeira, em 1918, e publicado em 1919. Destaca-se em sua obra por ter sido declamado por Ronald de Carvalho durante a Semana de Arte Moderna de 1922, evento de que Bandeira não participa, efetivamente. Ronald de Carvalho, em meio a vaias do público, lê o poema, que é uma sátira ao Parnasianismo, corrente estilística da época. Manuel Bandeira joga com as palavras à maneira dos parnasianos, colocando pontos essenciais e características importantes defendidas e cultuadas por eles; isto é: sonoridade, métrica regular etc.
Os Sapos
[Manuel Bandeira, 1918]
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" -
"Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
retrato de Manuel Bandeira, por Di Cavalcanti (1922) - Acervo MAM/SP |
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."
Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"-
"Foi!"
- "Não foi!" -
"Foi!" - "Não foi!".
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não
sabe!" - "Sabe!".
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...
"Ele estiliza a natureza, de preferência a natureza já
domesticada, já ‘estilizada’ dos parques, das quintas, das praças ajardinadas.
Um besouro passa zunindo, uma araponga canta, um raio de sol cai reto sobre a
relva, tudo providencialmente, tudo no instante exato em que tais coisas se
fazem necessários ao poeta para determinar o ambiente lírico. A surpresa, mas a
surpresa provocada, é um dos principais elementos com que joga essa arte. Tudo
é preparado para o momento decisivo, tudo ‘posa’ como diante de um fotógrafo."
- Sérgio Buarque de
Holanda, in "O espírito e a letra: estudos de crítica literária". v.
1. 1920-1947. Edição de Antonio Arnoni Prado. São Paulo: Companhia das Letras,
1996. p. 279.
“Ontem, sonolento e bem trajado, encontrei o Outono à beira
de um jardim... – Que fazes, meu amigo? – Ah! pois não sabes; - não quis ouvir
mais! O Outono empregado público, caricaturista, civilizado, o Outono lia o
Fon-Fon e os últimos versos dos poetas nacionais...
Tudo é assim, meu Luís, até o pobre Outono, o nosso lindo
Outono...”
- Ronald em carta a
Montalvor, provavelmente de setembro de 1914, [lembra as próprias caricaturas
estampadas nas páginas da Fon-Fon!], in SARAIVA, Arnaldo. Modernismo brasileiro
e Modernismo português: subsídios para o seu estudo e para a história de suas
relações. Campinas: Editora da UNICAMP, 2004, p. 326.
Ronald de Carvalho |
FORTUNA CRÍTICA DE RONAL DE CARVALHO
[Bibliografia sobre a obra e vida de
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história literária: o percurso intelectual de Ronald de Carvalho. Remate de
Males, v. 27, p. 265-275, 2007.
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Passagens da Jornada: momentos importantes das Jornadas de Estudos Franceses.
1ª ed. São Paulo: Editora Arte e Ciência, 2011, v. 1, p. 237-245.
SOUZA, Adalberto de Oliveira. Ronald de Carvalho como formador de leitores.
In: Vera Teixeira de Aguiar; Alice Áurea Penteado Martha. (Org.). Diálogos de
Sevilha. 1ª ed. Porto Alegre: Nova Prova, 2008, v. 1, p. 103-125.
SOUZA, Adalberto de Oliveira. Ronald de Carvalho e Fernando Pessoa.
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SOUZA, Adalberto de Oliveira. Ronald de Carvalho et Toute l´Amérique. In:
Jacqueline Penjon. (Org.). Paysage de la lusophonie. 1ª ed. Paris: Presses Sorbonne Nouvelle,
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SOUZA, Jonathas Augusto. Ideário Nacionalista de Ronald de
Carvalho: um estudo da Pequena História da Literatura Brasileira (1919).
(Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Estadual de Londrina, 2005.
VILLAÇA, A. C.. Ronald, o clássico modernista. In: CARVALHO, R. O espelho de Ariel
e poemas escolhidos. Rio de Janeiro: Nova Aguilar; Brasília: INL, 1976.
FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA
:: Enciclopédia
de Literatura Brasileira/Itaú Cultural - Link. (acessado em 19.1.2016)
:: Jornal
da Poesia/Ronald de Carvalho - Link. (acessado em 19.1.2016)
:: Site
Antonio Miranda – [Ronald Carvalho] - Link. (acessado em 19.1.2016)
:: Brasiliana USP [Ronald de
Carvalho] - Link. (acessado em 19.1.2016)
© A obra de Ronald de Carvalho é de domínio público
© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Ronald de Carvalho - uma travessia poética. Templo Cultural Delfos, janeiro/2013. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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Página atualizada em 20.1.2016.
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