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Aleksandr Blok - poeta lírico russo

Aleksandr Blok, por Konstantin Somov, 1907
Aleksandr Blok é um dos maiores poetas de língua russa. Dramaturgo e crítico literário, Blok tornou-se um dos reconhecidos gênios da Era de Prata. Nascido em São Petersburgo, a 28 de Novembro de 1880, o autor viveu e trabalhou na viragem de duas épocas históricas e foi o último grande poeta da Rússia pré-revolucionária, que concluiu na sua obra as buscas poéticas de todo o séc. XIX. Ao mesmo tempo, o seu nome abre a primeira página da história da poesia soviética russa. Blok traduziu Byron, Heine e as trovas de Rutebeuf. As suas traduções são semelhantes às obras originais e distinguem-se pela sua alta qualidade artística. As obras poéticas de Aleksandr Blok foram traduzidas para muitas línguas.
Enquanto o seu pai era professor de Direito na Universidade de Varsóvia, a sua mãe era tradutora literária. Blok passou a juventude com o avô, Andrei Nikolaevitch Beketov, um notável botânico russo e reitor da Universidade de Petersburgo, onde o autor estudou jurisprudência e filologia.
Como poeta, Blok formou-se sob a influência da tradição da literatura clássica. Começou cedo a criar versos, aos 5 anos de idade. Blok adorava experimentar com o ritmo poético e tentou inventar novas formas. A maior influência na obra do escritor foi Vladimir Soloviev, um poeta, pensador religioso e filósofo do séc. XIX, que pregava ideias sobre a ruína apocalíptica do mundo e dizia que a sua salvação seria resultado de um Novo Advento.
O aproveitamento da imagem da Mulher Vestida com o Sol, a personificação da Beleza e do Bem, a santidade dos ideais dos heróis, a aspiração pela terra da Promissão, a ruptura decisiva com a vida que nos cerca, o culto do individualismo, tudo isto foi desenvolvido pormenorizadamente na primeira colecção de poesia Blok Versos sobre a Bela Dama (Стихи о Прекрасной Даме), de 1904, escrita sob a influência do primeiro grande amor e do início da vida familiar com Liubov Mendeleeva (filha do famoso cientista russo Dmitri Mendeleev). Imediatamente após a publicação da colectânea, o poeta tomou o lugar de liderança nas fileiras dos simbolistas, de quem se aproximara no início da década de 1900. No entanto, ele não compartilhava o sentimento místico de alguns poetas dessa tendência literária e criticou a sua incapacidade de conhecer a vida real.
O seu segundo livro, O Gozo Imprevisto (Нечаянная радость), de 1907, tornou popular o nome do poeta em amplos círculos literários. Aqui, o herói lírico tinha como que descido à terra das alturas celestiais. Desta colectânea fazem parte os poemas dos anos de 1904-1906, entre os quais se encontrava o mais famoso poema, A Desconhecida (Незнакомка), de 1906, cuja heroína ainda faz lembrar a personagem d'"A Bela Dama", mas surge num lugar terrestre: a taberna. A combinação do alto e do baixo, do romântico e do rotineiro na magia sonora dos versos fascinou os ouvintes. Devido à força da sua influência no leitor, Blok foi um dos mais relevantes poetas desse tempo. Valeri Briússov, um dos fundadores do simbolismo russo, escreveu o seguinte a respeito da colectânea: “Blok é um poeta do dia, e não da noite; um poeta do colorido, e não de matizes; de sons plenos, e não de gritos ou silêncios”. O Gozo Imprevisto é uma pintura oral que "expressa não apenas a fé do poeta na renovação da vida, mas também na possibilidade de se encontrar a si próprio e o seu universo poético único".
Os anos de 1906-1907 foram um ponto de viragem para Blok, estes foram anos de reavaliação de valores e destronação de ilusões. O poeta vira-se para a dramaturgia, pois, há muito tempo, que era afeiçoado ao teatro. Quando Blok sentiu o desejo e a necessidade de dizer novas palavras na sua obra, o gênero teatral tornou-se numa forma natural. Em 1906, Blok escreveu três dramas líricos: A Desconhecida (que desenvolvia o tema do poema homônimo), O Rei na Praça (Король на площади) (a negação moderna dos cânones do passado) e O Teatro de Feira (Балаганчик) (uma rejeição das velhas crenças e viragem para a realidade).
Simultaneamente, formou-se um novo entendimento do papel da arte na vida da sociedade e no destino do artista, ou seja, se, nos primeiros versos, o herói de Blok era o cavaleiro da Bela Dama, agora o poeta fala sobre o dever do artista perante o povo e a época. O próprio Blok participa ativamente na vida literária e escreve um grande número de artigos crítico-literários e jornalísticos (Sobre os Realistas / О реалистах, em 1907; Sobre a Lírica / О лирике, em 1907; O Povo e os Intelectuais / Народ и интеллигенция, em 1908, entre outros). Os apelos do poeta serviram a pátria e a sociedade, mas não encontraram repercussão entre os seus correligionários de outrora, ele ficou sozinho na sua busca pelo caminho do futuro.
Aleksandr Blok, 1922
O ciclo de versos Pensamentos Livres (Вольные мысли), de 1907, reflete os pontos de vista, já alterados, do poeta, isto é, ele afasta-se intencionalmente do lirismo acentuado e da vida real, o seu novo herói está estreitamente ligado ao mundo que o rodeia e aos destinos do povo e do país. Também a heroína lírica do poeta muda: em 1910, Blok escreve o poema No Restaurante (В ресторане), no qual a heroína já se habituou ao ambiente de alegria ébria; desaparece o sublime nos seus traços: a cigana "guinchou à aurora sobre o amor". Contudo, o sublime não deixa de ser tema de atenção poética para Blok, como pode ser visto no drama A Rosa e a Cruz (Роза и Крест), de 1912-13, e no poema O Jardim do Rouxinol (Соловьиный сад), de 1915.
Blok considera o tema da Pátria como o principal da sua obra. Desde os primeiros poemas sobre a Rússia (Vontade Outonal / Осенняя воля; Amor Outonal / Осенняя любовь, Rússia / Россия), a imagem do país surge em duas faces: uma mendicante e piedosa, e, ao mesmo tempo, uma libertina, selvagem e salteadora. Neste sentido, é significativo o ciclo No Campo de Kulikovo (На поле Куликовом), de 1908, obra de uma nova etapa do poeta. É importante a observação do autor no que diz respeito a este ciclo: "A batalha de Kulikovo pertence (…) aos acontecimentos simbólicos da história russa (…). Acontecimentos esses que tendem a regressar. Decifrá-los ainda não é possível". Blok traça um paralelo entre os acontecimentos do passado e os contemporâneos, o seu herói encontra-se no meio de uma luta pela salvação da Pátria e o poeta acredita na possibilidade de concórdia entre povo e intelectuais na luta pelo futuro da Rússia. Este também é o tema do poema O Castigo (Возмездие), de 1910, o qual se tornou num reflexo do destino da Rússia nos anos de viragem. O poema não foi concluído, mas as intenções do autor mostram que ele havia pedido a fé na personalidade heróica e excepcional e na possibilidade da sua existência.
A revolução de Outubro está na base de uma nova descolagem espiritual do poeta e da sua atividade civil. Em 1917, ele chama diretamente a "ouvir a música da revolução". Blok simbolista procurava agora um novo simbolismo social nos acontecimentos que ocorreram. Em Janeiro de 1918, escreve os poemas Os Doze (Двенадцать) e Os Citas (Скифы), e também o artigo jornalístico Os Intelectuais e a Revolução (Интеллигенция и революция). Blok pensava que a revolução levaria a desconhecidos, mas belos objetivos; que a revolução era uma fúria triunfante, um fogo purificador, no qual pereceria o velho mundo.
Ao convidar personalidades da cultura para participar na construção de um novo mundo, o próprio poeta trabalhou na Comissão Estatal para a publicação dos clássicos da literatura russa, na secção de repertório do departamento teatral da Narkompros (Comissariado do Povo de Educação) e colaborou na editora "Literatura mundial", a qual era dirigida por Gorki.
Mas, em breve, a decepção na encarnação real dos slogans pomposos da revolução, os acontecimentos da Guerra Civil e o início da Nova Política Econômica (NPE), na forma de retração da "onda revolucionária", e os confrontos com a poderosa máquina da nova burocracia levariam Blok a uma crise criativa, fazendo com que quase deixe de escrever poesia lírica. Os anos de 1920-1921 foram permeados por um clima de profunda depressão, pelo trágico da percepção do mundo, passando por uma aguda discórdia perante a realidade.
Em Abril de 1921, Blok adoeceu, em Maio o seu estado deteriorou-se, e a 7 de Agosto pereceu aos 41 anos de idade.
:: Fonte: Aleksandr Blok, por Vladimir I. Pliassov. Universidade de Coimbra - Portugal. Disponível no link. (acessado em 25.6.2016).


Alexander Blok (1907)
OBRAS DE ALEKSANDR BLOK
Poemas
  • “Стихи о Прекрасной Даме” (1904-1905) Versos sobre a bela senhora
  • “Нечаянная радость” (1907) O gozo imprevisto
  • “Снежная маска” (1907) Máscara de neve
  • “Земля в снегу” (1908) A terra na neve
  • “Ночные часы” (1911) As horas da noite
Teatro 
  • “Балаганчик” (1906) O teatro de feira
  • “Король на площади” (1906) O rei na praça
  • “Незнакомка” (1906) A desconhecida
  • “Песня Судьбы” (1908) A canção do Destino
  • “Роза и Крест” (1913) A rosa e a cruz
  • "Рамзес" (1919) Ramsés

PUBLICAÇÕES EM PORTUGUÊS DE ALEKSANDR BLOK
:: Da ironia. Aleksandr Blok. [tradução...]. Lisboa: Editora Pergaminho, 1995.

Antologias (participação)
:: Poesia da recusa. [organização e tradução Augusto de Campos]. Coleção signos 42. São Paulo: Editora Perspectiva, 2006.
:: Poesia russa moderna. [tradução de Augusto de Campos; Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman]. 6ª ed., revisada e ampliada. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001.
:: Poetas russos. [tradução, prólogo e notas de Manuel de Seabra]. Lisboa: Relógio D' Água Editores, 1995.

Girl with a book, by Alexander Deineka (1934)

BREVE ANTOLOGIA POÉTICA DE ALEKSANDR BLOK (EDIÇÃO BILÍNGUE)

Cleópatra

O museu triste da rainha
Há um, dois, três anos já se abriu.
Bêbada e louca a turba ainda se apinha...
Ela espera no túmulo sombrio.

Jaz na sinistra caixa
De vidro, nem morta nem viva.
Sobre ela a multidão saliva
Palavras torpes em voz baixa.

Ela se estende preguiçosamente
No sono eterno a que se recolhera...
Lenta e suave, uma serpente
Morde o peito de cera.

Eu mesmo, fútil e perverso,
Com olheiras de anil,
Vim ver o lúgubre perfil
Na cera fria imerso.

Todos te contemplamos neste instante.
Se essa tumba não fosse uma mentira
Eu ouviria, outra vez, arrogante,
Teu lábio putrefato que suspira:

“Dai-me incenso. Esparzi-me flores.
Em eras anteriores
Fui rainha do Egito. Hoje sou só
Cera. Apodrecimento. Pó.”

“Rainha! O que há em ti que me fascina?
No Egito, como escravo, eu te adorei.
Agora a sorte me destina
A ser poeta e rei.

Da tua tumba não vês que já imperas
Na Rússia como em Roma? Não vês, mais,
Que eu e César, em séculos e eras,
Ante o destino seremos iguais?”

Emudeço. Contemplo. Ela não muda.
Só o peito pulsa, quase
Respirando entre a gaze,
E ouço uma fala muda:

“Outrora eu suscitei paixões e lutas.
O que suscito agora?
Um poeta bêbado que chora
E o riso bêbado das prostitutas.”

10 de dezembro de 1907
.

Клеопатра 


Открыт паноптикум печальный 

Один, другой и третий год. 
Толпою пьяной и нахальной 
Спешим... В гробу царица ждет. 

Она лежит в гробу стеклянном, 

И не мертва и не жива, 
А люди шепчут неустанно 
О ней бесстыдные слова. 

Она раскинулась лениво — 

Навек забыть, навек уснуть... 
Змея легко, неторопливо 
Ей жалит восковую грудь... 

Я сам, позорный и продажный, 

С кругами синими у глаз, 
Пришел взглянуть на профиль важный 
На воск, открытый напоказ... 

Тебя рассматривает каждый, 

Но, если б гроб твой не был пуст, 
Я услыхал бы не однажды 
Надменный вздох истлевших уст: 

«Кадите мне. Цветы рассыпьте. 

Я в незапамятных веках 
Была царицею в Египте. 
Теперь — я воск. Я тлен. Я прах». — 

«Царица! Я пленен тобою! 

Я был в Египте лишь рабом, 
А ныне суждено судьбою 
Мне быть поэтом и царем! 

Ты видишь ли теперь из гроба, 

Что Русь, как Рим, пьяна тобой? 
Что я и Цезарь — будем оба 
В веках равны перед судьбой?» 

Замолк. Смотрю. Она не слышит. 

Но грудь колышется едва 
И за прозрачной тканью дышит... 
И слышу тихие слова: 

«Тогда я исторгала грозы. 

Теперь исторгну жгучей всех 
У пьяного поэта — слезы, 
У пьяной проститутки — смех». 

10 декабря 1907

- Aleksandr Blok (Алекса́ндр Блок), no livro "Poesia da recusa". [organização e tradução Augusto de Campos]. Coleção signos 42. São Paulo: Editora Perspectiva, 2006.

§

Ravena


Tudo o que é instante, tudo o que é traço

Sepultaste nos séculos, Ravena.
Como uma criança, no regaço
Da eternidade estas, serena.

Sob os portais romanos os escravos

Já não trazem mosaicos pelas vias.
O ouro dos muros arde
Nas basílicas lívidas e frias.

Os arcos dos sarcófagos desfazem,

Sob o beijo do orvalho, as cicatrizes.
Nos mausoléus azinhavrados jazem
Os santos monjes e as imperatrizes.

Todo o sepulcro gela e cala,

Os muros mudos, desde o umbral,
Para não acordar o olhar de Gala, 
Negro, a queimar por entre a cal.

Das pegadas de sangue e dor e insídia

O rastro já se apaga e se descora,
Para que a voz gelada de Placídia
Não se recorde das paixões de outrora.

O longo mar retrocedeu, longínquo,

As rodas circundaram as ameias,
Para que os restos de Teodorico
Não sonhem com a vida em suas veias.

Onde eram vinhedos – ruínas.

Gente e casas – tudo é tumba.
Sobre o bronze as letras latinas
Troam nas lajes como trompa.

Apenas, no tranqüilo e atento olhar

Das moças de Ravena, mudamente,
Às vezes uma sombra de pesar
Pelo irrecuperável mar ausente.

À noite, inclinado nas colinas,

Só, pondo os séculos à prova,
Dante – perfil aquilino –
Canta para mim da Vida Nova.

Maio-junho de 1909

.

Равенна


Всё, что минутно, всё, что бренно, 

Похоронила ты в веках. 
Ты, как младенец, спишь, Равенна, 
У сонной вечности в руках. 

Рабы сквозь римские ворота 

Уже не ввозят мозаИк. 
И догорает позолота 
В стенах прохладных базилик. 

От медленных лобзаний влаги 

Нежнее грубый свод гробниц, 
Где зеленеют саркофаги 
Святых монахов и цариц. 

Безмолвны гробовые залы, 

Тенист и хладен их порог, 
Чтоб чёрный взор блаженной Галлы, 
Проснувшись, камня не прожёг. 

Военной брани и обиды 

Забыт и стёрт кровавый след, 
Чтобы воскресший глас Плакиды 
Не пел страстей протекших лет. 

Далёко отступило море, 

И розы оцепили вал, 
Чтоб спящий в гробе Теодорих 
О буре жизни не мечтал. 

А виноградные пустыни, 

Дома и люди - всё гроба. 
Лишь медь торжественной латыни 
Поёт на плитах, как труба. 

Лишь в пристальном и тихом взоре 

Равеннских девушек, порой, 
Печаль о невозвратном море 
Проходит робкой чередой. 

Лишь по ночам, склонясь к долинам, 

Ведя векам грядущим счёт, 
Тень Данта с профилем орлиным 
О Новой Жизни мне поёт. 

Май - июнь 1909

- Aleksandr Blok (Алекса́ндр Блок), no livro "Poesia da recusa". [organização e tradução Augusto de Campos]. Coleção signos 42. São Paulo: Editora Perspectiva, 2006.

§


Do Ciclo ”Veneza”


II


Pelas lagunas, frio vento.

Gôndolas – mudas tumbas.
Esta noite, jovem e doente,
Sob a coluna do leão sucumbes.

Na torre, com uma canção de chumbo,

Os gigantes dão a hora noturna.
Na laguna lunar Marcos mergulha
Sua iconóstase soturna.

Nas sombras das galerias dos palácios,

À palidez da lua – passos.
Salomé, esgueirando-se, passeia
Minha cabeça em sangue nos seus braços.

Tudo dorme – palácios, canais, gente.

Só o passo deslizante da princesa
Só – sobre o peito negro – uma cabeça
Contempla a treva em torno com tristeza.

III


O barulho da vida já não dura.

A maré de inquietudes se quebranta.
E no veludo negro o vento canta
Minha vida futura.

Talvez despertarei noutro lugar,

Quem sabe nesta terra entristecida,
E algumas vezes hei de suspirar
Pensando em sonho nesta vida?

Mercador, padre, arrais, neto de um doge,

Quem me fará viver? Que criatura
Há de forjar com minha mãe futura
Na noite escura a vida que me foge?

Quem sabe até, ao escutar o canto

Da jovem veneziana, comovido,
O meu futuro pai por entre o encanto
Da canção já me tenha pressentido?

Quem sabe em algum século vindouro

A mim, criança, a sorte me consente
Abrir as pálpebras, tremulamente,
Junto à coluna do leão de ouro?
Mãe, o que canta este áfono instrumento?
Talvez a fantasia já te embale
E me protejas com teu santo xale
Da laguna e do vento?

Não! O que é, o que foi – tudo está vivo!

Fantasias, visões, ideias – tudo!
A onda do oceano recidivo
As despeja na noite de veludo!

26 de agosto de 1909

.

Венеция


2


Холодный ветер от лагуны. 

Гондол безмолвные гроба. 
Я в эту ночь - больной и юный - 
Простёрт у львиного столба. 

На башне, с песнию чугунной, 

Гиганты бьют полночный час. 
Марк утопил в лагуне лунной 
Узорный свой иконостас. 

В тени дворцовой галлереи, 

Чуть озарённая луной, 
Таясь, проходит Саломея 
С моей кровавой головой. 

Всё спит - дворцы, каналы, люди, 

Лишь призрака скользящий шаг, 
Лишь голова на чёрном блюде 
Глядит с тоской в окрестный мрак. 

3


Слабеет жизни гул упорный. 

Уходит вспять прилив забот. 
И некий ветр сквозь бархат чёрный 
О жизни будущей поёт. 

Очнусь ли я в другой отчизне, 

Не в этой сумрачной стране? 
И памятью об этой жизни 
Вздохну ль когда-нибудь во сне? 

Кто даст мне жизнь? Потомок дожа, 

Купец, рыбак, иль иерей 
В грядущем мраке делит ложе 
С грядущей матерью моей? 

Быть может, венецейской девы 

Канцоной нежной слух пленя, 
Отец грядущий сквозь напевы 
Уже предчувствует меня? 

И неужель в грядущем веке 

Младенцу мне - велит судьба 
Впервые дрогнувшие веки 
Открыть у львиного столба? 
Мать, что поют глухие струны? 
Уж ты мечтаешь, может быть, 
Меня от ветра, от лагуны 
Священной шалью оградить? 

Нет! Всё, что есть, что было, - живо! 

Мечты, виденья, думы - прочь! 
Волна возвратного прилива 
Бросает в бархатную ночь! 

26 августа 1909

- Aleksandr Blok (Алекса́ндр Блок), no livro "Poesia da recusa". [organização e tradução Augusto de Campos]. Coleção signos 42. São Paulo: Editora Perspectiva, 2006.

§


Do Ciclo “Florença”


I


Morre, Florença, meu judas,

Desaparece pelo tempo e o espaço!
Na hora do amor, não quero a tua ajuda,
Na hora da morte, nego o meu abraço! 

Ri, minha Bella, de ti mesma, esquece,

Perdeste a tua antiga formosura!
Do pútrido sepulcro a ruga cresce
E hoje deforma-te a figura!

Já estertoram os teus carros,

Casos disformes em desgaste.
Ao pó da Europa e seus escarros
Por que te entregaste?

Já no teu pó rangem motores,

Lá onde o monge foi queimado,
Onde Leonardo sonhou cores
E Fra Beato, o azul dourado!

Minas os Medicis em glória

Pisas os lírios dos teus lares,
Porém renegas tua história
No, pó, no caos dos teus bazares!

Ao nasalar das tuas preces,

O odor mortuário dos teus templos,
A secular tristeza em que apodreces,
Some, Florença, na espiral dos tempos.

IV


As pedras queimam de calor

A febre do meu olhar.
Iris brancos já sem cor
Parecem querer voar.

Ó tristeza incontida,

Eu te conheço de nascença!
Miro, ao céu negro de Florença,
Minha alma negra, sem saída.

Junho de 1909

.

Флоренция


1


Умри, Флоренция, Иуда, 

Исчезни в сумрак вековой! 
Я в час любви тебя забуду, 
В час смерти буду не с тобой! 

О, Bella, смейся над собою, 

Уж не прекрасна больше ты! 
Гнилой морщиной гробовою 
Искажены твои черты! 

Хрипят твои автомобили, 

Твои уродливы дома, 
Всеевропейской жёлтой пыли 
Ты предала себя сама! 

Звенят в пыли велосипеды 

Там, где святой монах сожжён, 
Где Леонардо сумрак ведал, 
Беато снился синий сон! 

Ты пышных МЕдичей тревожишь, 

Ты топчешь лилии свои, 
Но воскресить себя не можешь 
В пыли торговой толчеи! 

Гнусавой мессы стон протяжный 

И трупный запах роз в церквах - 
Весь груз тоски многоэтажный - 
Сгинь в очистительных веках! 

4


Жгут раскалённые камни 

Мой лихорадочный взгляд. 
Дымные ирисы в пламени, 
Словно сейчас улетят. 

О, безысходность печали, 

Знаю тебя наизусть! 
В чёрное небо Италии 
Чёрной душою гляжусь. 

Июнь 1909

- Aleksandr Blok (Алекса́ндр Блок), no livro "Poesia da recusa". [organização e tradução Augusto de Campos]. Coleção signos 42. São Paulo: Editora Perspectiva, 2006.

§

Do Ciclo “Dança da Morte”

Noite. Fanal. Rua. Farmácia.

Uma luz estúpida e baça.
Ainda que vivas outra vida,
Tudo é igual. Não há saída.

Morres – e tudo recomeça,

E se repete a mesma peça:
Noite – rugas de gelo no canal.
Farmácia. Rua. Fanal.

10 de outubro de 1912

.

Пляски смерти

2


Ночь, улица, фонарь, аптека,

Бессмысленный и тусклый свет.
Живи еще хоть четверть века -
Всё будет так. Исхода нет.

Умрешь — начнешь опять сначала

И повторится всё, как встарь:
Ночь, ледяная рябь канала,
Аптека, улица, фонарь.

10 октября 1912

- Aleksandr Blok (Алекса́ндр Блок), no livro "Poesia da recusa". [organização e tradução Augusto de Campos]. Coleção signos 42. São Paulo: Editora Perspectiva, 2006.

§

Os Doze
Noite negra.
Neve branca.
Vento, vento!
Gente vacila na treva.
Vento, vento –
Varrendo toda a terra!
O vento escreve
Na neve branca.
Gelo – embaixo da neve.
É liso, rente:
O pé que passa
Desliza – pobre gente!
De casa em casa
Uma corda pende.
Sobre a corda uma faixa:
"Todo o poder à Assembléia Constituinte!"
Uma velhinha chora em voz baixa
Sem perceber o que se passa: 
"Para que essa imensa faixa?"
Tanto pano desperdiçado,
Quantas roupas para as crianças,
E todo mundo esfarrapado..."
Lá vai, galinha espavorida,
A velhinha e seus tremeliques:
– Ai, Mãe-do-Céu, os bolcheviques 
Vão acabar com nossa vida!
O vento açoita, voraz.
O frio corta, feroz.
Na encruzilhada o burguês
De nariz no cache-nez.
E este, quem é? Longos bandós,
Murmureja a meia voz:
– Súcia!
– É o fim da Rússia! –
Por certo, um aristocrático 
Literato...
E você, onde vai nesse trote,
Enrolado no seu saiote?
Para que essa cara escura,
Camarada cura?
Madame em seu astracã se
Encontra com outra dama:
– Ah, que doloroso transe...
Zás-trás, num relance
É madame que se esparrama!
Ai, ai!
Segura que ela cai!
Vento gaiato,
Vento espavento,
Levanta as saias,
Derruba a gente,
Rasga, rói, desfaz
O grande cartaz:
"Todo o poder à Assembléia Constituinte!"
E palavras traz:
... Também fizemos nossa conspiração...
... Essa é a casa...
... Revolução...
... Resolução:
10 rublos a hora, 25 a noitada...
... Por menos ninguém dá ...
... Dorme comigo, vá ...
É tarde.
Tudo turvo.
Na rua
Nua,
Um velho curvo.
E o vento arde...
Ei, carcaça!
Vem cá,
Me abraça ...
Pão!
De graça...
E o futuro?
Passa!
Escuro, céu escuro.
Ódio surdo, ódio
No peito oco.
Ódio escuro, São Ódio.
Camarada! Abre 
O olho!


O vento vaga, a neve dança.
A coluna dos doze avança.
Nos fuzis, uma negra tira,
E o fogo, fogo, fogo gira...
Na boca um toco, à testa um gorro,
Falta somente um ás de ouros.
Liberdade, liberdade;
Sus, sus, sem cruz!
Tra-ta-tá!
Faz frio, frio atroz.
– Kátia e Vanka estão na taverna...
– Muita gaita entre a meia e a perna!
Vaniuchka está cheio da nota...
Já foi nosso, agora é da bota!
Ah! Vankanalha de uma figa,
Não ponha a mão na minha amiga!
Liberdade, liberdade,
Sus, sus, sem cruz!
Kátia e Vanka, braços dados,
Para que, para que abraçados?
Tra-ta-tá!
E o fogo, fogo, fogo gira...
Fuzil no ombro, negra tira...
Revolução, mantém o passo!
O inimigo arma o seu laço!
Ergue o fuzil, továrich, sem receio!
Mira na Santa Rússia, bem no meio
Da nauseabunda,
Gravebunda,
Moribunda,
Sus, sus, sem cruz!


Nossos moços largam casa
Pelo Exercito Vermelho.
Pelo Exercito Vermelho
Nossos moços largam brasa!
Ah, dor-dureza!
Vida de moleza!
Fuzil austríaco,
Trapo de casaco!
Burguês, treme de terror!
Poremos fogo na terra,
Fogo no sangue – é a guerra!
Dá-nos tua benção, Senhor!

4
Trenó arranca, a neve risca,
Kátia e Vanka lá se vão...
Lanterna elétrica faísca
Sobre o timão...
Isca! Isca!
Gala de capote e bota,
Ele, cara de idiota, 
Torce e retorce o bigode
Todo janota,
e chuchota...
Vanka – com ele é galante!
Vanka – como e bem falante!
A Kátia ele abraça e beija 
E corteja...
A nuca enfim ela dobra,
Dentes-pérolas desdobra...
Ah, Kátia, minha garota,
Minha gatinha marota...


Em teu colo, Kátia, fiz
Uma linda cicatriz.
Teu seio, Kátia querida,
Tem no meio uma ferida.
Dança, dança, bis!
Pernas roliças de atriz!
Punhas lingerie de renda –
Quebra, requebra!
Botavas teu corpo à venda –
Bola, rebola!
Rola, rola, meretriz!
Meu coração pede bis!
Lembras, Kátia, o oficial?
Só por causa de uma vaca
Passou pelo meu punhal.
Tua memória anda fraca?
A minha, bisca, te diz:
Vem, vaca, bis!
Papavas finos confeitos,
Passeavas de salto auto,
Andavas com os cadetes –
Agora vais com soldados?
Também quero ser feliz:
Bis, Kátia, bis!
6
... Lá vai em doida correria
O trenó – berra e bate o guia...
– Alto lá! Nem um passo mais!
– Ajuda, André! – Petruchka, atrás!
Trac-tararac-tac-tac-tac-tac!
Contra o céu a neve estilhaça.
– Lá se vai! Vanka escapuliu!
Um tiro ainda! Arma o fuzil!
Trac-tararac! Vais aprender
...................................................
A não roubar minha mulher!
Foge, poltrão! Passou por perto!
Mas cedo ou tarde ainda te acerto...
E Kátia? – Morta, lá, gelada,
Com a cabeça transpassada.
Contente, Kátia? Você ria...
Ri, cadáver, na neve fria!
Revolução, mantém o passo!
O inimigo arma o seu laço!

7
De novo avançam na neve
Os doze – fuzil no ombro.
Só um deles não se atreve 
A erguer o rosto da sombra.
Depressa, anda mais depressa,
Lenço amarrado ao pescoço,
Desvairado vai o moço,
Sai do compasso, tropeça.
– Ei, camarada, onde vais? 
– Que te deu? O que te dói? 
– Ei, Pedro, não podes mais?
Ou é Kátia que te rói?
– Camaradas, meus irmãos,
Eu a amava, realmente.
Noites negras, de paixão,
Kátia não me sai da mente.
– Por esse olhar – estopim
Que incendiou o meu peito,
Por esse sinal carmim
Sobre o seu ombro direito,
Eu a perdi, ai de mim,
Eu mesmo fiz o malfeito!
– Ei, Pedro, que choro é esse?
Ouçam só essa vitrola...
– Para que virar do avesso
A alma? Deixa de ser mole!
– Rapaz, ergue essa cabeça!
Anda, mantém o controle!
– Este não é o momento
Para servirmos de ama-
Seca do teu sofrimento.
Uma ação maior nos chama!
E Petruchka acerta o passo,
Vai de novo no compasso...
Cabeça alta, pra frente,
Ele sorri novamente...
Eia, eia!
Enche a cara, saqueia!
Fecha o trinco, põe tranca,
Hoje, a entrada é franca!
Abra a adega, burguês,
Chegou a nossa vez!

8
Ah, dor-dureza!
Mortal
Tédio sem remédio!
Tempo, tempão
Mato, mato...
Fuzil na mão
Cato, cato...
Grãozinho, grão
Parto, parto ...
Faca, facão
Corto, corto ...
Burguês, foge como um rato!
Teu sangue barato
Bebo gota a gota
Por minha garota.
Senhor, acalma a alma de tua serva...
Tédio!

9
Tudo é silêncio na cidade.
Torre do Neva. Tudo jaz.
Não há mais guardas. Liberdade!
Viva! sem vinho, meu rapaz!
Eis o burguês na encruzilhada,
Nariz no cache-nez, ao vento.
A seu lado, transido, cauda
Entre as pernas, um cão sarnento.
Eis o burguês, um cão sem osso,
Taciturna interrogação,
E o mundo velho – frente ao moço –
Rabo entre as pernas, como um cão.

10
A neve investe no vento.
Ah, vento nevoento!
A gente nem vê a gente
Frente a frente.
Neve em funil se revira,
Neve em coluna regira...
– Ah, Senhor, que noite fria! 
– Ei, chega de hipocrisia!
Que te adiantou, camarada,
Essa imagem redourada?
Procura ser consciente,
Deixa desse disparate. A
Tua mão ainda está quente
Do sangue da tua Kátia!
– Mantém, revolucionário,
O teu passo vigilante!
Avante, avante, avante,
Povo operário!

11
... Lá se vão sem santo e sem cruz
Os doze – pela estrada.
Prontos a tudo,
Presos a nada ...
A mira dos fuzis de aço 
Caça inimigos pelo espaço ...
Até nos becos sem saída,
Lá onde a neve cai em maços
E a bota afunda, confundida,
Chega, implacável, o seu passo.
Vermelho-aberta,
A bandeira.
Todos alerta,
Em fileira.
Arma o seu guante
O adversário...
E a neve com seu cortante
Açoite
Dia e noite...
Avante, avante, 
Povo operário!

12
... Eles se vão num passo onipotente...
– Quem vai aí! Fale ou atiro! 
É o vento apenas a zurzir o 
Pendão vermelho a sua frente...
Lá adiante, um monte de neve.
– Quem é? Quem está aí oculto?
Só um cachorro se atreve
A entremostrar o magro vulto...
– Some da vista, cão sarnento,
Ou eu te corto a baioneta!
Mundo velho, cão lazarento,
Desaparece na sarjeta!
Mostrando os dentes, como um lobo,
Rabo entre as pernas, segue atrás
O cão com fome, cão sem dono.
– Ei, responde, há alguém mais?
– Quem é que agita a bandeira? 
– Olha bem, que noite escura! 
– Quem mais por aí se esgueira?
– Saia de trás da fechadura!
–Továrich, te entrega logo!
É inútil. Não há saída.
– Melhor ser pego com vida,
Te entrega ou eu passo fogo!
Trac-tac-tac! – Só o eco
Responde de beco em beco.
Só o vento, com voz rouca,
Gargalha na neve louca ...
Trac-tac-tac!
Trac-tac-tac...
... Eles se vão num passo onipotente...
Atrás – o cão esfomeado.
À frente – pendão sangrento,
Às avalanches insensível, 
Às balas duras invisível,
Em meio às ondas furiosas
Da neve, coroado de rosas
Brancas, irrompe imprevisto –
À frente – Jesus Cristo.

Janeiro 1918
.

Двенадцать
1
Черный вечер.
Белый снег.
Ветер, ветер!
На ногах не стоит человек.
Ветер, ветер -
На всем божьем свете!
Завивает ветер
Белый снежок.
Под снежком - ледок.
Скользко, тяжко,
Всякий ходок
Скользит - ах, бедняжка!
От здания к зданию
Протянут канат.
На канате - плакат:
"Вся власть Учредительному Собранию!"
Старушка убивается - плачет,
Никак не поймет, что значит,
На что такой плакат,
Такой огромный лоскут?
Сколько бы вышло портянок для ребят,
А всякий - раздет, разут...
Старушка, как курица,
Кой-как перемотнулась через сугроб.
- Ох, Матушка-Заступница!
- Ох, большевики загонят в гроб!
Ветер хлесткий!
Не отстает и мороз!
И буржуй на перекрестке
В воротник упрятал нос.
А это кто? - Длинные волосы
И говорит вполголоса:
- Предатели!
- Погибла Россия! -
Должно быть, писатель -
Вития...
А вон и долгополый -
Сторонкой - за сугроб...
Что' нынче невеселый,
Товарищ поп?
Помнишь, как бывало
Брюхом шел вперед,
И крестом сияло
Брюхо на народ?..
Вон барыня в каракуле
К другой подвернулась:
- Ужь мы плакали, плакали...
Поскользнулась
И - бац - растянулась!
Ай, ай!
Тяни, подымай!
Ветер веселый
И зол и рад.
Крутит подолы,
Прохожих косит,
Рвет, мнет и носит
Большой плакат:
"Вся власть Учредительному Собранию"...
И слова доносит:
...И у нас было собрание...
...Вот в этом здании...
...Обсудили -
Постановили:
На время - десять, на' ночь - двадцать пять...
...И меньше - ни с кого не брать...
...Пойдем спать...
Поздний вечер.
Пустеет улица.
Один бродяга
Сутулится,
Да свищет ветер...
Эй, бедняга!
Подходи -
Поцелуемся...
Хлеба!
Что впереди?
Проходи!
Черное, черное небо.
Злоба, грустная злоба
Кипит в груди...
Черная злоба, святая злоба...
Товарищ! Гляди
В оба!

2
Гуляет ветер, порхает снег.
Идут двенадцать человек.
Винтовок черные ремни,
Кругом - огни, огни, огни...
В зубах - цыгарка, примят картуз,
На спину б надо бубновый туз!
Свобода, свобода,
Эх, эх, без креста!
Тра-та-та!
Холодно, товарищ, холодно!
- А Ванька с Катькой - в кабаке...
- У ей керенки есть в чулке!
- Ванюшка сам теперь богат...
- Был Ванька наш, а стал солдат!
- Ну, Ванька, сукин сын, буржуй,
Мою, попробуй, поцелуй!
Свобода, свобода,
Эх, эх, без креста!
Катька с Ванькой занята -
Чем, чем занята?..
Тра-та-та!
Кругом - огни, огни, огни...
Оплечь - ружейные ремни...
Революционный держите шаг!
Неугомонный не дремлет враг!
Товарищ, винтовку держи, не трусь!
Пальнем-ка пулей в Святую Русь -
В кондовую,
В избяную,
В толстозадую!
Эх, эх, без креста!

3
Как пошли наши ребята
В красной гвардии служить -
В красной гвардии служить -
Буйну голову сложить!
Эх ты, горе-горькое,
Сладкое житье!
Рваное пальтишко,
Австрийское ружье!
Мы на горе всем буржуям
Мировой пожар раздуем,
Мировой пожар в крови -
Господи, благослови!

4
Снег крутит, лихач кричит,
Ванька с Катькою летит -
Елекстрический фонарик
На оглобельках...
Ах, ах, пади!..
Он в шинелишке солдатской
С физиономией дурацкой
Крутит, крутит черный ус,
Да покручивает,
Да пошучивает...
Вот так Ванька - он плечист!
Вот так Ванька - он речист!
Катьку-дуру обнимает,
Заговаривает...
Запрокинулась лицом,
Зубки блещут жемчугом...
Ах ты, Катя, моя Катя,
Толстоморденькая...

5
У тебя на шее, Катя,
Шрам не зажил от ножа.
У тебя под грудью, Катя,
Та царапина свежа!
Эх, эх, попляши!
Больно ножки хороши!
В кружевном белье ходила -
Походи-ка, походи!
С офицерами блудила -
Поблуди-ка, поблуди!
Эх, эх, поблуди!
Сердце ёкнуло в груди!
Помнишь, Катя, офицера -
Не ушел он от ножа...
Аль не вспомнила, холера?
Али память не свежа?
Эх, эх, освежи,
Спать с собою положи!
Гетры серые носила,
Шоколад Миньон жрала,
С юнкерьем гулять ходила -
С солдатьем теперь пошла?
Эх, эх, согреши!
Будет легче для души!

6
...Опять навстречу несется вскачь,
Летит, вопит, орет лихач...
Стой, стой! Андрюха, помогай!
Петруха, сзаду забегай!..
Трах-тарарах-тах-тах-тах-тах!
Вскрутился к небу снежный прах!..
Лихач - и с Ванькой - наутек...
Еще разок! Взводи курок!..
Трах-тарарах! Ты будешь знать,
. . . . . . . . . . .
Как с девочкой чужой гулять!..
Утек, подлец! Ужо, постой,
Расправлюсь завтра я с тобой!
А Катька где? - Мертва, мертва!
Простреленная голова!
Что', Катька, рада? - Ни гу-гу...
Лежи ты, падаль, на снегу!..
Революцьонный держите шаг!
Неугомонный не дремлет враг!

7
И опять идут двенадцать,
За плечами - ружьеца.
Лишь у бедного убийцы
Не видать совсем лица...
Всё быстрее и быстрее
Уторапливает шаг.
Замотал платок на шее -
Не оправиться никак...
- Что, товарищ, ты не весел?
- Что, дружок, оторопел?
- Что, Петруха, нос повесил,
Или Катьку пожалел?
- Ох, товарищ, родные,
Эту девку я любил...
Ночки черные, хмельные
С этой девкой проводил...
- Из-за удали бедовой
В огневых ее очах,
Из-за родники пунцовой
Возле правого плеча,
Загубил я, бестолковый,
Загубил я сгоряча... ах!
- Ишь, стервец, завел шарманку,
Что ты, Петька, баба, что ль?
- Верно, душу наизнанку
Вздумал вывернуть? Изволь!
- Поддержи свою осанку!
- Над собой держи контроль!
- Не такое нынче время,
Чтобы нянчиться с тобой!
Потяжеле будет бремя
Нам, товарищ дорогой!
- И Петруха замедляет
Торопливые шаги...
Он головку вскидавает,
Он опять повеселел...
Эх, эх!
Позабавиться не грех!
Запирайте етажи,
Нынче будут грабежи!
Отмыкайте погреба -
Гуляет нынче голытьба!

8
Ох ты, горе-горькое!
Скука скучная,
Смертная!
Ужь я времячко
Проведу, проведу...
Ужь я темячко
Почешу, почешу...
Ужь я семячки
Полущу, полущу...
Ужь я ножичком
Полосну, полосну!..
Ты лети, буржуй, воробышком!
Выпью кровушку
За зазнобушку,
Чернобровушку...
Упокой, господи, душу рабы твоея...
Скучно!

9
Не слышно шуму городского,
Над невской башней тишина,
И больше нет городового -
Гуляй, ребята, без вина!
Стоит буржуй на перекрестке
И в воротник упрятал нос.
А рядом жмется шерстью жесткой
Поджавший хвост паршивый пес.
Стоит буржуй, как пес голодный,
Стоит безмолвный, как вопрос.
И старый мир, как пес безродный,
Стоит за ним, поджавши хвост.

10
Разыгралась чтой-то вьюга,
Ой, вьюга', ой, вьюга'!
Не видать совсем друг друга
За четыре за шага!
Снег воронкой завился,
Снег столбушкой поднялся...
- Ох, пурга какая, спасе!
- Петька! Эй, не завирайся!
От чего тебя упас
Золотой иконостас?
Бессознательный ты, право,
Рассуди, подумай здраво -
Али руки не в крови
Из-за Катькиной любви?
- Шаг держи революцьонный!
Близок враг неугомонный!
Вперед, вперед, вперед,
Рабочий народ!

11
...И идут без имени святого
Все двенадцать - вдаль.
Ко всему готовы,
Ничего не жаль...
Их винтовочки стальные
На незримого врага...
В переулочки глухие,
Где одна пылит пурга...
Да в сугробы пуховые -
Не утянешь сапога...
В очи бьется
Красный флаг.
Раздается
Мерный шаг.
Вот - проснется
Лютый враг...
И вьюга' пылит им в очи
Дни и ночи
Напролет...
Вперед, вперед,
Рабочий народ!

12
...Вдаль идут державным шагом...
- Кто еще там? Выходи!
Это - ветер с красным флагом
Разыгрался впереди...
Впереди - сугроб холодный,
- Кто в сугробе - выходи!..
Только нищий пес голодный
Ковыляет позади...
- Отвяжись ты, шелудивый,
Я штыком пощекочу!
Старый мир, как пес паршивый,
Провались - поколочу!
...Скалит зубы - волк голодный -
Хвост поджал - не отстает -
Пес холодный - пес безродный...
- Эй, откликнись, кто идет?
- Кто там машет красным флагом?
- Приглядись-ка, эка тьма!
- Кто там ходит беглым шагом,
Хоронясь за все дома?
- Все равно, тебя добуду,
Лучше сдайся мне живьем!
- Эй, товарищ, будет худо,
Выходи, стрелять начнем!
Трах-тах-тах! - И только эхо
Откликается в домах...
Только вьюга долгим смехом
Заливается в снегах...
Трах-тах-тах!
Трах-тах-тах...
...Так идут державным шагом,
Позади - голодный пес,
Впереди - с кровавым флагом,
И за вьюгой невидим,
И от пули невредим,
Нежной поступью надвьюжной,
Снежной россыпью жемчужной,
В белом венчике из роз -
Впереди - Исус Христос.

ЯНВАРЬ 1918
– Aleksandr Blok (Александр Блок).. "Os Doze|Двенадцать". {tradução de Augusto de Campos}. no livro "Poesia russa moderna". [tradução de Augusto de Campos; Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman]. 6ª ed., revisada e ampliada. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001.

§


Aleksander Blok, by Gipokras on DeviantArt
FORTUNA CRÍTICA
TROTSKI, Leon. Aleksandr blok: um ensaio. [tradução de Luiz Alberto Moniz]. E-book. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2015.


OUTRAS FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Aleksandr Blok - poeta lírico russo. Templo Cultural Delfos, junho/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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** Página atualizada em 26.6.2016.




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2 comentários:

  1. Uma dissertação de mestrado de 2019 da USP traz três dramas líricos do autor traduzidos ao português: "Teatrinho de feira, O rei na Praça e A desconhecida". Compartilho o link para que estas traduções sejam disponibilizadas na página. Parabéns pelo trabalho! https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8155/tde-30072019-161036/pt-br.php

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