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Salvatore Quasimodo - poeta siciliano

Salvatore Quasimodo
Salvatore Quasimodo (poeta, tradutor e crítico literário italiano) Prêmio Nobel de Literatura de 1959, "Por sua poesia lírica, que, com ardor clássico, expressa a trágica experiência de nossos tempos". Salvatore nasceu em Módica, pequena cidade perto de Siracusa, na Sicília, no dia 20 de agosto de 1901, filho de um ferroviário, e inicia seus estudos na cidade de Siracusa. Forma-se matemático em Palermo e, mais tarde, conclui o curso de engenharia em Roma. Ganha a vida como engenheiro e funcionário público nos dez anos seguintes e escreve poesia nas horas vagas até 1935, quando abandona a carreira para ensinar literatura italiana em Milão.
Em 1929, transferiu-se para Florença, aproximou-se dos círculos literários e, dois anos mais tarde, publicou seus poemas num veículo de expressão, a revista vanguarda Solaria. Em 1934, foi para Milão, o que marcou mudança significativa em sua vida pessoal e artística. Em 1935, abandona o empresa estatal e passa a dedicar-se apenas à poesia. Em 1938, trabalha na Letteratura, revista oficial do movimento hermético, e tornou-se editor do semanário Tempo. Em 1941, foi nomeado professo de literatura do Conservatório Giuseppe Verdi, de Milão. 
Durante a Segunda Guerra, envolve-se com o movimento antifascista e é preso por pouco tempo. Em 1943, estava em Milão quando a cidade foi bombardeada, episódio que inspirou o poema "Uomo del mio tempo" (1946).
Salvatore numa primeira fase de sua carreira, participou movimento hermético com os poetas Giuseppe Ungaretti e Eugenio Montale, movimento de poesia italiana, de versos curtos, estilo sofisticado e temas íntimos, derivado do simbolismo francês, de Mallarmé e Valéry. 
Nessa fase, usou como temas as memórias de infância, a vida e a cultura de Sicília, a religião e a morte. Com a publicação, até 1940, de cinco volumes de poemas - entre eles Acque e terre (193) e Oboe sommerso (1932) -, assumiu a liderança da poesia hermética. Após a Segunda Guerra, Quasimodo passou pa uma segunda fase, chamada de pós-hermética ou período humanístico, ligada à história contemporânea, às questões sociais, aos horrores do fascismo e da guerra e ao sofrimento humano. Desse período são La vita non è sogno (1949), La terra impeareggiabile (1958) e Dare e avere (1966).
Quasimodo traduziu para o italiano de escritores gregos/clássicos, como Sófocles e Eurípedes, Catulo, Ovídio e Virgílio; e  Shakespeare, Molière, além de contemporâneos, como o norte-americano E.E. Cummings e o chileno Pablo Neruda. Além do Nobel, recebeu os prêmios dell'Antico Fattore (1932), San Babila (1950), Etna-Taormina (1953) e Vieareggio (1958). Em 1960, tornou-se mestre honoris causa da Universidade de Messina e, em 1967, da Universidade de Oxford.
Nos seus últimos anos, o poeta viajou pela Europa e pela América, fazendo palestras e lendo seus peomas, traduzidos para quarenta línguas, inclusive o português. Salvatore Quasimodo morreu no dia 14 de junho de 1968, num hospital de Nápoles, após sofrer hoemorragia cerebral quando presidia um concurdo de poesia em Amalfi. 
:: Fonte: GÓES, Ludenbergue. Todos os ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura: 1901-2010. Editora Global, 2010. 


Salvatore Quasimodo

OBRA POÉTICA EM PORTUGUÊS
:: Salvatore Quasimodo: poesias escolhidas. [tradução Sílvio Castro]. Coleção Biblioteca dos Prêmios Nobel de Literatura, vol. 55. Rio de Janeiro: Editora Delta | Opera Mundi, 1968; 1973.
:: Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999. (Prêmio Paulo Rónai de Tradução 1999, da Fundação Biblioteca Nacional).

Antologia (participação)
:: Rosa do mundo 2001 poemas para o futuro. [tradução de Ernesto Sampaio]. Lisboa: Assírio & Alvim, 2001.


“Meu limite é a Sicília; nela há antigas civilizações, necrópoles, latomias, telamões que se destacam na relva, minas de sal e de enxofre e mulheres que choram durante séculos seus filhos mortos, furores contidos ou desencadeados, criminosos por amor ou por zelo de honra.”
- Salvatore Quasimodo, em 'depoimento'. 


Salvatore Quasimodo
POEMAS ESCOLHIDOS DE SALVATORE QUASIMODO (EDIÇÃO BILÍNGUE)


Águas e terras
Acque e terre


E DE REPENTE É NOITE
Cada um está só no coração da terra
traspassado por um raio de sol:
e de repente é noite.
.

ED È SUBITO SERA
Ognuno sta solo sul cuor della terra
trafitto da un raggio di sole:
ed è subito sera.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

E O TEU VESTIDO É BRANCO
Tens a cabeça baixa e me olhas:
e o teu vestido é branco,
e um seio aflora de entre as rendas
soltas do teu ombro esquerdo.

A luz me supera; treme,
e te toca os braços nus.

Revejo-te. Tinhas 
palavras poucas e breves,
que punham alma
no peso de uma vida
que sabia a circo.

Profunda era a estrada
por onde o vento descia
certas noites de inverno,
e nos despertava estranhos
como na primeira vez.
.

E LA TUA VESTE È BIANCA
Piegato hai il capo e mi guardi;
e la tua veste è bianca,
e un seno affiora dalla trina
sciolta sull’omero sinistro.

Mi supera la luce; trema,
e tocca le tue braccia nude.

Ti rivedo. Parole
avevi chiuse e rapide,
che mettevano cuore
nel peso d’una vita
che sapeva di circo. 

Profonda la strada
su cui scendeva il vento
certe notti di marzo,
e ci svegliava ignoti
come la prima volta.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

ÁRIES
No lento girar dos céus
a estação se revela: ao vento nova,
à amendoeira que aclara
planos de sombra aéreos
nuvens de sombra e searas:
e recompõe as vozes sepultas
dos álveos, dos fossos,
dos dias de graça fabulosos.

Toda o mato se espalha,
e uma ânsia de gélidos loureiros desnudos deuses pagãos 
se apossa das águas remotas;
e ei-los que se erguem do fundo de entre os saibros
e invertidos dormem celestes.
.

ARIETE
Nel pigro moto dei cieli 
la stagione si mostra: al vento nuova, 
al mandorlo che schiara
piani d'ombra aerei 
nuvoli d'ombre e biade: 
e ricompone le sepolte voci 
dei greti, dei fossati, 
dei giorni di grazia favolosi.

Ogni erba dirama, 
e un'ansia prende le remote acque 
di gelidi lauri ignudi iddii pagani; 
ed ecco salgono dal fondo fra le ghiaie 
e capovolte dormono celesti.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

ÁGUA PARADA
Água parada, sono dos paludes
que em largas manchas secretas venenos,
ora branca ora verde sob os raios,
és como a minha alma.

Se acinza o choupo em volta e o azinheiro;
dentro se quietam folhas e sementes,
cada uma tem suas camadas concêntricas
esfranjadas pelo sombrio zunir do áfrico.

Assim, como na água se alargam
os anéis da memória, meu coração;
desprende-se de um ponto e logo morre:
assim, de ti é irmã água morta.
.

ACQUAMORTA
Acqua chiusa, sonno delle paludi
che in larghe lamine maceri veleni,
ora bianca ora verde nei baleni,
sei simile al mio cuore.

II pioppo ingrigia d'intorno ed il leccio;
le foglie e le ghiande si quietano dentro,
e ognuna ha i suoi cerchi d'un unico centro
sfrangiati dal cupo ronzar del libeccio.

Cosí, come su acqua allarga
il ricordo i suoi anelli, mio cuore;
si muove da un punto e poi muore:
cosí t'è sorel
la acquamorta.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

TERRA
Noite, serenas sombras,
berço de ar,
chega-me o vento se por ti divago,
com ele o mar cheiros da terra
onde canta na praia minha gente
às velas, às nassas,
às crianças antes da aurora despertadas.

Montes secos, planícies de relva nova
que espera manadas e greges,
tenho dentro o vosso mal que me escava.
.

TERRA 
Notte, serene ombre, 
culla d’aria, 
mi giunge il vento se in te mi spazio, 
con esso il mare odore della terra 
dove canta alla riva la mia gente 
a vele, a nasse, 
a bambini anzi l’alba desti. 

Monti secchi, pianure d’erba prima 
che aspetta mandrie e greggi, 
m’è dentro il male vostro che mi scava.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

CURVA-SE O DIA
Eis-me desamparado, Senhor,
no teu dia,
cerrado a toda luz.

De ti privado tenho medo,
perdida estrada de amor,
e não me é dada nem mesmo
a graça de trêmulo confessar-me
tão seca é a minha vontade.

A ti amei e combati;
curva-se o dia
e colho sombras dos céus:
que tristeza o meu coração 
de carne!
.

SI CHINA IL GIORNO
Mi trovi deserto, Signore, 
nel tuo giorno, 
serrato ad ogni luce.

Di te privo spauro, 
perduta strada d'amore, 
e non m'è grazia 
nemmeno trepido cantarmi
che fa secche mie voglie.

T'ho amato e battuto; 
si china il giorno 
e colgo ombre dai cieli: 
che tristezza il mio cuore 
di carne!
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

ANTIGO INVERNO
Desejo de tuas mãos claras
na penumbra da chama:
sabiam a roble, a rosas;
a morte. Antigo inverno.

Buscavam milho os pássaros
e eram súbito de neve;
assim as palavras.
Um pouco de sol, um halo de anjo,
e logo a névoa; e as árvores,
e nós feitos de ar na manhã.
.

ANTICO INVERNO
Desiderio delle tue mani chiare
nella penombra della fiamma:
sapevano di rovere e di rose;
di morte. Antico inverno.

Cercavano il miglio gli uccelli
ed erano subito di neve;
così le parole.
Un po' di sole, una raggera d'angelo,
e poi la nebbia; e gli alberi,
e noi fatti d'aria al mattino.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

PENA DE COISAS QUE NEM SEI  
Densa de brancas e de negras raízes
cheira a fermento e a vermes
a terra talhada d´água.

Pena de coisas que nem sei
em mim rebenta: não basta uma morte
se, escuta, mais vezes me pesa
no coração, com sua relva, um pedaço de terra.
.

DOLORE DI COSE CHE IGNORO
Fitta di bianche e di nere radici
di lievito odora e lombrichi,
tagliata dall’acque la terra.

Dolore di cose che ignoro
mi nasce: non basta una morte
se ecco più volte mi pesa
con l’erba, sul cuore, una zolla.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

FRESCA MARINHA
A ti assemelho minha vida de homem,
fresca marinha que trazes seixos e luzes
e esqueces com nova onda
aquela a que já deu som
o mover do vento.

Se me despertas te escuto,
e cada pausa é céu no qual me perco,
serenidade de árvores no claro da noite.
.

FRESCA MARINA
A te assomiglio la mia vita d’uomo,
fresca marina che trai ciottoli e luce
e scordi a nuova onda 
quella cui diede il suono
già il muovere dell’aria.

Se mi desti t’ascolto,
e ogni pausa è cielo in cui mi perdo,
serenità d’alberi a chiaro della notte.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

ESPELHO
E eis que do tronco 
rompem-se os brotos: 
um verde mais novo da relva 
que o coração acalma: 
o tronco parecia já morto, 
vergado no barranco.

E tudo me sabe a milagre; 
e eu sou aquela água de nuvens 
que hoje reflecte nas poças 
mais azul seu pedaço de céu, 
aquele verde que se racha da casca 
e que tampouco ontem à noite existia.
.

SPECCHIO
Ed ecco sul tronco
Si rompono gemme:
un verde più nuovo dell’erba
che il cuore riposa:
il tronco pareva già morto,
piegato sul botro.

E tutto mi sa di miracolo;
e sono quell’acqua di nube
che oggi rispecchia nei fossi
più azzurro il suo pezzo di cielo,
quel verde che spacca la scorza
che pure stanotte non c’era.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

AVIDAMENTE ESTENDO A MINHA MÃO
Na pobreza da carne, como sou,
eis-me, Senhor: poeira da estrada
que o vento mal levanta em seu perdão.

Mas se afilar não soube noutro tempo
a voz primitiva ainda tosca,
avidamente estendo a minha mão:
dá-me da dor o pão cotidiano.
.

AVIDAMENTE ALLARGO LA MIA MANO
In povertà di carne, come sono
eccomi, Padre; polvere di strada
che il vento leva appena in suo perdono.

Ma se scarnire non sapevo un tempo
la voce primitiva ancora rozza,
avidamente allargo la mia mano:
dammi dolore cibo cotidiano.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§
Salvatore Quasimodo
Oboé submerso
Òboe sommerso

OBOÉ SUBMERSO
Ávida dor, adia tua dádiva
nesta minha hora 
de suspirado abandono. 

Um gélido oboé soletra 
alegria de folhas perenes, 
não minhas, e esquece; 

anoitece dentro de mim: 
a água se põe 
nas minhas mãos de relva. 

Perpassam asas no esbatido céu, 
fugazes: o coração transmigra 
sinto-me sáfaro, 

e os dias um ruína.
.

ÒBOE SOMMERSO
Avara pena, tarda il tuo dono
in questa mia ora
di sospirati abbandoni.

Un oboe gelido risillaba
gioia di foglie perenni,
non mie, e smemora;

In me si fa sera:
l'acqua tramonta
sulle mie mani erbose.

Ali oscillano in fioco cielo,
labili: il cuore trasmigra
ed io son gerbido,

e i giorni una maceria.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

REPOUSO DA GRAMA
Deriva de luzes; fugazes vórtices,
aéreas zonas de sóis,
ressurgem abismos: abro a terra
que é minha e me deito. E durmo:
há séculos a grama repousa
seu coração comigo.

Desperta-me a morte:
mais único, mais só,
profundo bater do vento:
de noite.
.

RIPOSO DELL’ERBA
Deriva di luce; labili vortici,
aeree zone di soli,
risalgono abissi: apro la zolla
ch’è mia e m’adagio. E dormo:
da secoli l’erba riposa
il suo cuore con me.

Mi desta la morte:
piú uno, piú solo,
battere fondo del vento:
di notte.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

SEM MEMÓRIA DE MORTE
A primavera desperta árvores e rios;
a voz profunda não ouço,
em ti perdido, amada.

Sem memória de morte,
unidos na carne,
as trombetas do último dia
nos despertam adolescentes.

Ninguém nos ouve:
o leve respirar do sangue!

Feita ramo
floresce em teu flanco
a minha mão.

De plantas pedras águas
nascem os animais
ao sopro do ar.
.

SENZA MEMORIA DI MORTE
Primavera solleva alberi e fiumi;
la voce fonda non odo,
in te perduto, amata.

Senza memoria di morte,
nella carne congiunti,
il rombo d'ultimo giorno
ci desta adolescenti.

Nessuno ci ascolta;
il lieve respiro del sangue!

Fatta ramo
fiorisce sul tuo fianco
la mia mano.

Da piante pietre acque
nascono gli animali
al soffio dell'aria.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

AMÉM PELO DOMINGO IN ALBIS
Não me traíste, Senhor:
de todas as dores
fui feito primogénito.
.

AMEN PER LA DOMENICA IN ALBIS 
Non m'hai tradito, Signore:
d'ogni dolore
son fatto primo nato.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§
Salvatore Quasimodo
Erato e Apólion
Erato e Apòllìon

SÍLABAS A ERATO
A ti se inclina o coração solitário,
exílio de amortecidos sentidos
em que se muda e ama
aquilo que pareceu nosso ontem,
e agora está sepulto na noite.

Semicírculos de ar te resplandecem 
no rosto, eis que me surges
no tempo em que primeiro o desejo aflige
e me fazes pálido, lenta a boca
à luz do teu sorriso.

Por possuir-te te perco
e não me queixo: és bela ainda,
imóvel na doce pose do sono:
serenidade de morte extremo gozo.
.

SILLABE A ERATO
A te piega il cuore in solitudine,
esilio d'oscuri sensi
in cui trasmuta ed ama
ciò che parve nostro ieri,
e ora è sepolto nella notte.

Semicerchi d'aria ti splendono
sul volto; ecco m'appari
nel tempo che prima ansia accora
e mi fai bianco, tarda la bocca
a luce di sorriso.

Per averti ti perdo,
e non mi dolgo: sei bella ancora,
ferma in posa dolce di sonno:
serenità di morte estrema gioia.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

APÓLION 
Em seu profundo sono os montes
jazem prostrados.

A hora nasce
da morte plena, Apólion;
atardo-me ainda nos meus membros
e o coração pesa imêmore.

Minhas mãos te estendo
das chagas esquecidas,
amado destrutor.
.

APÒLLION
I monti a cupo sonno
supini giacciono affranti.

L'ora nasce
della morte piena, Apòllion;
io sono tardo ancora di membra
e il cuore grava smemorato.

Le mie mani ti porgo
dalle piaghe scordate,
amato distruttore.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

NO SENTIMENTO DE MORTE
Cerúleas árvores
onde se escuta o som mais suave
e onde nasce o prazer com as chuvas novas.

Numa rama, dócil
a luz oscila
em bodas com o vento;

no sentimento de morte,
eis-me, assustado de amor.
.

NEL SENSO DI MORTE 
Ceruli alberi
dove più dolce suono migra
e nasce gusto alle piogge nuove.

Ad una fronda, docile
la luce oscilla
alle nozze con l'aria;

nel senso di  morte,
eccomi, spaventato d'amore.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§
Salvatore Quasimodo
Novas Poesias
Nuove Poesie

A GRALHA RI, NEGRA NAS LARANJEIRAS
Quem sabe é isso o que se chama vida:
ao meu redor cantando ritmadas
e oscilando as cabeças em cadência
dançam crianças no pátio da igreja. 
Paz vespertina, sombras reacesas
no gramado de tão límpido verde,
belíssimas sob o clarão da lua!
Dorme teu breve sono de memória; 
acorda, agora. Vê, borbulha o poço
na primeira maré. Chegou a hora:
já não minha, imagens secas, distantes.
E tu vento do sul cheirando a citro
empurra a lua para onde dormem
crianças nuas, força o potro aos campos
úmidos pelos rastros de éguas, abre
o mar, levanta as nuvens sobre as árvores:
a garça já caminha para a água
e lenta explora a lama entre os espinhos,
a gralha ri, negra nas laranjeiras.
.

RIDE LA GAZZA, NERA SUGLI ARANCI
Forse è un segno vero della vita:
intorno a me fanciulli con leggeri
moti del capo danzano in un gioco
di cadenze e di voci lungo il prato
della chiesa. Pietà della sera, ombre
riaccese sopra l’erba cosí verde,
bellissime nel fuoco della luna!
Memoria vi concede breve sonno;
ora, destatevi. Ecco, scroscia il pozzo
per la prima marea. Questa è l’ora:
non più mia, arsi, remoti simulacri.
E tu vento del sud forte di zàgare,
spingi la luna dove nudi dormono
fanciulli, forza il puledro sui campi
umidi d’orme di cavalle, apri
il mare, alza le nuvole dagli alberi:
giá l’airone s’avanza verso l’acqua
e fiuta lento il fango tra le spine,
ride la gazza, nera sugli aranci.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

ESTRADA DE AGRIGENTUM
Lá dura um vento que recordo aceso
nas crinas dos cavalos inclinados
pelo galope nas planuras, vento
que tacha e rói o arenito e o peito
dos lúgubres atlantes revirados 
sobre a grama. Alma antiga, de rancores, 
cinzenta, regressas àquele vento,
farejas o leve musgo que veste
os gigantes despejados do céu.
Como estás só no espaço, que te resta!
E mais te afliges se o som escutas
que se afasta na direcção do mar
onde Vênus já raia matutina:
o marranzano tristemente vibra
do carreteiro que devagar sobe
o morro nítido de lua, entre 
o murmúrio das mouras oliveiras.
.

STRADA DI AGRIGENTUM
Là dura un vento che ricordo acceso
nelle criniere dei cavalli obliqui
in corsa lungo le pianure, vento
che macchia e rode l'arenaria e il cuore
dei telamoni lugubri, riversi
sopra l'erba. Anima antica, grigia
di rancori, torni a quel vento, annusi
il delicato muschio che riveste
i giganti sospinti giù dal cielo.
Come sola allo spazio che ti resta!
E più t'accori s'odi ancora il suono
che s'allontana largo verso il mare
dove Espero già striscia mattutino:
il marranzano tristemente vibra
nella gola al carraio che risale
il colle nitido di luna, lento
tra il murmure d'ulivi saraceni.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

JÁ ESTÁ CONOSCO A CHUVA
Já está conosco a chuva,
sacode o ar silencioso.
As andorinhas riscam as águas paradas
junto às lagoas lombardas,
voam como gaivotas catando peixes;
o feno cheira além do espaço das hortas.

Ainda um ano queimado,
sem um lamento, sem um grito
que inesperadamente vença um dia.
.

GIÀ LA PIOGGIA È CON NOI
Già la pioggia è con noi,
scuote l’aria silenziosa.
Le rondini sfiorano le acque spente
presso i laghetti lombardi,
volano come gabbiani sui piccoli pesci;
il fieno odora oltre i recinti degli orti.

Ancora un anno è bruciato,
senza un lamento, senza un grido
levato a vincere d’improvviso un giorno.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

JÁ SE DESPRENDE A MAGRA FLOR
Nada saberei de minha vida,
escuro monótono sangue.

Não saberei quem amei, quem amo
agora que aqui contido, reduzido a meus membros,
no gasto vento de março
enumero os males dos dias desvendados.

Já se desprende a magra flor
dos galhos. E eu contemplo
a paciência de seu vôo irrevogável.
.

GIÀ VOLA IL FIORE MAGRO
Non saprò nulla della mia vita,
oscuro monotono sangue.

Non saprò chi amavo, chi amo,
ora che qui stretto, ridotto alle mie membra,
nel guasto vento di marzo
enumero i mali dei giorni decifrati.

Già vola il fiore magro
dai rami. E io attendo
la pazienza del suo volo irrevocabile.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§
Salvatore Quasimodo
Dia após dia
Giorno dopo giorno 


DOS RAMOS DOS SALGUEIROS
E como podíamos nós cantar
com o pé estrangeiro sobre o peito, 
entre os mortos deixados pelas praças
na grama dura de gelo, ao gemido
de ovelha das crianças, ao uivo negro
da mãe que caminhava para o filho
crucificado no poste de telégrafo?
Dos ramos dos salgueiros, como ex-votos,
até as nossas liras penduradas
oscilavam de leve ao triste vento.
.

ALLE FRONDE DEI SALICI 
E come potevamo noi cantare
con il piede straniero sopra il cuore,
fra i morti abbandonati nelle piazze
sull’erba dura di ghiaccio, al lamento
d’agnello dei fanciulli, all’urlo nero
della madre che andava incontro al figlio
crocifisso sul palo del telegrafo?
Alle fronde dei salici, per voto,
anche le nostre cetre erano appese,
oscillavano lievi al triste vento.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

 A AMURADA
 E já na amurada do estádio,
 entre fendas e tufos de erva pênsil, 
 as lagartixas correm como raios;
 e a rã retorna às águas dos canais, 
 canto-chão das minhas noites distantes 
 de aldeia. Tu recordas este sítio
 onde Vênus saudava nosso encontro 
 de sombras. Ó querida, quanto tempo 
 com as folhas dos álamos se foi, 
 quanto sangue pelos rios da terra.
.

LA MURAGLIA
 E già sulla muraglia dello stadio,
 tra gli spacchi e i ciuffi d’erba pensile,
 le lucertole guizzano fulminee;
 e la rana ritorna nelle rogge,
 canto fermo alle mie notti lontane
 dei paesi. Tu ricordi questo luogo
 dove la grande stella salutava
 il nostro arrivo d’ombre. O cara, quanto
 tempo è sceso con le foglie dei pioppi,
 quanto sangue nei fiumi della terra.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

OUVE-SE AINDA O MAR
Há muitas noites ouve-se ainda o mar 
que, leve, sobe e desce a lisa areia. 
Eco de uma voz na mente aprisionada 
que do tempo remonta: e mesmo este 
lamento assíduo de gaivotas: dos 
pássaros das torres, talvez, que abril 
impele para as campinas. Outrora, 
comigo estavas aqui com tua voz;
e eu quisera que a ti também voltasse 
de mim, agora, um eco de memória, 
como esse escuro murmúrio de mar.
.

S'ODE ANCORA IL MARE
Già da più notti s'ode ancora il mare, 
lieve, su e giù, lungo le sabbie lisce. 
Eco d'una voce chiusa nella mente 
che risale dal tempo; ed anche questo 
lamento assiduo di gabbiani: forse 
d'uccelli delle torri, che l'aprile 
sospinge verso la pianura. Già 
m'eri vicina tu con quella voce; 
ed io vorrei che pure a te venisse, 
ora, di me un'eco di memoria, 
come quel buio murmure di mare.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

A BALSA
De onde chamas? Tênue na neblina
tua voz ressoa. Das cabanas, ainda,
é tempo, ávidos cães se lançam
pela trilha de odores para o rio:
luminosa de sangue na outra margem
escarnece a fuinha. Conheço
essa balsa: ali, sobre a água afloram
seixos negros; e outras balsas passam
na noite com seus fachos de enxofre.
Agora estás distante certamente
pois tua voz tem o inumerável tom
do eco, e mal o ritmo lhe percebo.
Mas te vejo: tens violetas nas mãos
cruzadas, tão pálidas, e tens líquenes
junto aos olhos. Portanto, estás morta.
.

IL TRAGHETTO
Di dove chiami? Fioca questa nebbia 
di te risuona. Ancora alle baite, 
è tempo, i cani avidi si lanciano 
verso il fiume sulle peste odorose: 
luminosa di sangue all’altra riva 
sghignazza la faina. E’ traghetto 
che conosco: là, sull’acqua risalgono 
ciottoli neri; e quante barche passano 
nella notte con fiaccole di zolfo. 
Ora sei veramente già lontana 
se la voce ha tono innumerevole 
d’eco, e appena ne odo la carenza. 
Ma ti vedo: hai viole fra le mani 
conserte, così pallide, e lichene 
vicino agli occhi. Dunque, tu sei morta.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

O TEU PÉ SILENCIOSO
E eis o mar e o agrave já florido
e a viva cor do rio acompanhando
antigas tumbas cavadas no muro
como celas de favos e nos espelhos,
ainda rindo, meninas de cabelos
escuros soltos. Uma vinha a teu lado
na riba jônica (brilhava uma abelha
de liso mel na pupila) e deixou
o brilho apenas de um nome na sombra
da oliveira. Ninguém mais que te salva:
sabes que cada dia é igual ao outro
no teu rosto: fugaz mudar da luz
à volta do halo que nos cerca, além 
do vazio da lua, onde atravessa
o Hades o teu pé silêncioso.
.

IL TUO PIEDE SILENZIOSO
Ed ecco il mare e il fiore già sull’àgave
e il colore del fiume vivo lungo
antiche tombe fitte alla muraglia
come celle d’alveare e dentro specchi,
ridenti ancora, fanciulle dai cupi                       
capelli disciolti. Una era al tuo fianco
sulle rive joniche (splendeva un’ape
liscia di miele nel suo occhio), e lasciò
appena il chiaro d’un nome nell’ombra
degli ulivi. Nessuno che ti salva:                     
tu sai che appare un giorno uguale ad altri
sul tuo volto: un mutarsi della luce
rapido intorno al cerchio che ci chiude,
di là dal vuoto della luna, dove
varca l’Ade il tuo piede silenzioso.                 
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§
Salvatore Quasimodo
A vida não é sonho
La vita non è sogno


EPITÁFIO PARA BICE DONETTI
Com os olhos postos na chuva e nos elfos da noite
ei-la, na quadra quinze do Musocco,
a mulher emiliana a quem amei um dia
no tempo triste da juventude.
Foi sorteada há pouco pela morte
enquanto olhava quieta o vento do outono
agitar os ramos dos plátanos e as folhas,
de sua cinza casa de subúrbio.
Tem o rosto ainda vivo de surpresa,
como o deve ter tido na infância, deslumbrado
pelo comedor de fogo no alto da carroça.
Ó tu que passas, vindo de outros mortos,
defronte à tumba mil cento e sessenta,
pára um minuto e rende uma homenagem
àquela que nunca chorou este homem
que aqui fica, odiado, com seus versos,
um como tantos, operário de sonhos.
.

EPITAFFIO PER BICE DONETTI 
Con gli occhi alla pioggia e agli elfi della notte,
è là, nel campo quindici a Musocco,
la donna emiliana da me amata
nel tempo triste della giovinezza.
Da poco fu giocata dalla morte
mentre guardava quieta il vento dell'autunno
scrollare i rami dei platani e le foglie
dalla grigia casa di periferia.
Il suo volto è ancora vivo di sorpresa,
come fu certo nell'infanzia, fulminato
per il mangiatore di fuoco alto sul carro.
O tu che passi, spinto da altri morti,
davanti alla fossa undici sessanta,
fermati un minuto a salutare
quella che non si dolse mai dell'uomo
che qui rimane, odiato, coi suoi versi,
uno come tanti, operaio di sogni.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

QUASE UM MADRIGAL
O girassol se verga para o oeste
e já se afunda o dia no seu olho
em ruína e o ar de verão se adensa
e já encurva a folhagem e a fumaça
dos canteiros de obras. Afasta-se com o seco
fluir das nuvens e estrilar de raios
este último truque do céu. Outra vez,
como há anos, amiga, contemplamos
o cambiar das árvores espremidas
nos Navigli. Mas sempre é nosso o dia
e sempre o mesmo sol que se despede
com o fio de seu raio afetuoso.

Não tenho mais lembranças, nem as desejo;
toda memória se remonta à morte,
a vida não se acaba. Cada dia
é nosso. Um se fechará para sempre
e tu comigo, quando já for tarde.
Aqui no cais de pedra do canal, 
como crianças, balançando os pés,
olhamos a água, os primeiros galhos
cujo verde no fundo se escurece.
E o homem que em silencio se aproxima
não esconde uma faca em suas mãos
mas uma flor de gerânio.
.

QUASI UN MADRIGALA
Il girasole piega a occidente 
e già precipita il giorno nel suo 
occhio in rovina e l'aria dell'estate 
s'addensa e già curva le foglie e il fumo 
dei cantieri. S'allontana con scorrere 
secco di nubi e stridere di fulmini 
quest'ultimo gioco del cielo. Ancora, 
e da anni, cara, ci ferma il mutarsi 
degli alberi stretti dentro la cerchia 
dei Navigli. Ma è sempre il nostro giorno 
e sempre quel sole che se ne va 
con il filo del suo raggio affettuoso. 

Non ho più ricordi, non voglio ricordare; 
la memoria risale dalla morte, 
la vita è senza fine. Ogni giorno 
è nostro. Uno si fermerà per sempre, 
e tu con me, quando ci sembri tardi. 
Qui sull'argine del canale, i piedi 
in altalena, come di fanciulli, 
guardiamo l'acqua, i primi rami dentro 
il suo colore verde che s'oscura. 
E l'uomo che in silenzio s'avvicina 
non nasconde un coltello fra le mani
ma un fiore di geranio.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

ANNO DOMINI MCMXLVII
Haveis parado de rufar os tambores
na cadência da morte aos quatro horizontes
junto aos féretros cobertos de bandeiras,
de semear chagas e lágrimas de piedade
nas cidades destruídas, ruína sobre ruína.
E ninguém mais esclama: «Deus ó Deus 
por que me abandonastes?» E não mais corre 
nem leite nem sangue do peito furado. E agora
que haveis ocultado os canhões entre as magnólias,
deixa-nos um dia sem armas, sobre a relva,
ao som da água que escorre,
das folhas de caniço frescas nos cabelos
enquanto abraçamos a mulher que nos ama.
Que de repente não nos soe antes da noite
o toque de recolher. Um dia, um dia só 
para nós, senhores da terra,
antes que outra vez rufle o ar e o ferro
e um estilhaço nos arda em plena fronte.
.

ANNO DOMINI MCMXLVII 
Avete finito di battere i tamburi
a cadenza di morte su tutti gli orizzonti
dietro le bare strette alle bandiere,
di rendere piaghe e lacrime a pietà
nelle città distrutte, rovina su rovina.
E più nessuno grida: «Mio Dio
perché m'hai lasciato?» E non scorre più latte
né sangue dal petto forato. E ora
che avete nascosto i cannoni fra le magnolie,
lasciateci un giorno senz'armi sopra l'erba
al rumore dell'acqua in movimento,
delle foglie di canna fresche tra i capelli
mentre abbracciamo la donna che ci ama.
Che non suoni di colpo avanti notte
l'ora del coprifuoco. Un giorno, un solo
giorno per noi, o padroni della terra,
prima che rulli ancora l'aria e il ferro
e una scheggia ci bruci in piena fronte.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§
Salvatore Quasimodo e Anita Ekberg, pubblicata su Tempo
illustrato, per la serie Gli incontri impossibili 1961
foto©archivio Paolo Di Paolo
O falso e vero verde
Il falso e vero verde


OS VIOLÕES MORTOS
A minha terra é sobre rios junto ao mar,
nenhum lugar tem voz tão lânguida
onde meus pés vagueiam
por entre juncos pesados de lesmas.
Não resta dúvida é outono: no vento esgarçado
os violões mortos vibram suas cordas
sobre a negra boca e uma mão agita os
dedos de fogo.
               Ao espelho da lua
meninas com peitos de laranja se penteiam.

Quem chora? Quem chicoteia os cavalos no ar
vermelho? Pararemos nesta margem
ao longo das correntes de grama e tu, amor
não me conduzas frente àquele espelho
infinito: nele se miram rapazes
que cantam e árvores altíssimas e águas.
Quem chora? Eu não, crê-me: sobre rios
correra exasperados, ao estalo de um açoite,
os cavalos sombrios, os relâmpagos de enxofre.
Eu não, minha raça tem facas
que ardem e luas e feridas que queimam.
.

LE MORTE CHITARRE
La mia terra è sui fiumi stretta al mare,
non altro luogo ha voce così lenta
dove i miei piedi vagano
tra giunchi pesanti di lumache.
Certo è autunno: nel vento a brani
le morte chitarre sollevano le corde
su la bocca nera e una mano agita le dita
di fuoco.
              Nello specchio della luna
si pettinano fanciulle col petto d'arance.

Chi piange? Chi frusta i cavalli nell'aria
rossa? Ci fermeremo a questa riva
lungo le catene d'erba e tu amore
non portarmi davanti a quello specchio
infinito: vi si guardano dentro ragazzi
che cantano e alberi altissimi e acque.
Chi piange? lo no, credimi: sui fiumi
corrono esasperati schiocchi d'una frusta,
i cavalli cupi i lampi di zolfo.
lo no, la mia razza ha coltelli
che ardono e lune e ferite che bruciano.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

O FALSO E O VERO VERDE
Não mais me esperas com o mesquinho som
do relógio. Que importa se exibes
ou escondes tua tristeza: apenas restam
hirtas,  áridas horas, o bater
súbito de folhas contra as vidraças
de tua janela, sobre estradas de nuvens.
Resta-me a lentidão de um sorriso,
o escuro céu de um vestido, o veludo
cor de ferrugem enrolado aos cabelos
e solto sobre os ombros e tua face
mergulhada numa água quase imóvel.

Golpes de folhas de amarelo tosco,
aves de fuligem. Outra folhagem
agora greta os galhos e rebenta
emaranhada: o falso e o vero verde
de abril, o desenfreado sarcasmo
do esperado florir. E tu não floras,
não crias corpo, nem os sonhos  resurges
do nosso além, não tens mais os teus olhos
infantis, não tens mais as ternas mãos
com que buscar-me o rosto que me escapa?
Resta o pudor de escrever versos em álbuns
ou de lançar um grito no vazio
ou no inverossímel coração
que luta ainda com seus restos de tempo.
.

IL FALSO E VERO VERDE
Tu non m’aspetti più col cuore vile
dell’orologio. Non importa se apri
o fissi lo squallore: restano ore
irte, brulle, con battito di foglie
improvvise sui vetri della tua
finestra, alta su due strade di nuvole.
Mi resta la lentezza d`un sorriso,
il cielo buio d’una veste, il velluto
colore ruggine avvolto ai capelli
e sciolto sulle spalle e quel tuo volto
affondato in un’acqua appena mossa.

Colpi di foglie ruvide di giallo,
uccelli di fuliggine. Altre foglie
ora screpolano i rami e già scattano
aggrovigliate: il falso e vero verde
dell’aprile, quel ghigno scatenato
del certo fiorire. E tu non fiorisci,
non metti giorni, né sogni che salgono
dal nostro al di là, non hai più i tuoi occhi
infantili, non hai più mani ténere
per cercare il mio viso che mi sfugge?
Resta il pudore di scrivere versi
di diario o di gettare un urlo al vuoto
o nel cuore incredibile che lotta
ancora con il suo tempo scosceso.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

ALÉM DAS ONDAS DAS COLINAS
Não te escapou a vida por cabalas
ou híbridos signos zodiacais ou sílabas
e cifras ordenadas a aclarar
o mundo. Mas preso em vida estiveste
a medir e pesar com areia e sangue
ora o silêncio ora as vozes de morte,
vindas de além das ondas das colinas. 
.

AL DI LÀ DELLE ONDE DELLE COLLINE
Non t'è sfuggita la vita per cabale
o ibridi emblemi di zodiaco o sillabe
e numeri ordinati a riscoprire
il mondo. Ma sei stato in prigionia
a misurare, con la sabbia e il sangue,
i silenzi le voci della morte,
al di là delle onde delle colline.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

AOS QUINZE DO LARGO DO LORETO
Esposito, Fiorani, Fogagnolo,
Casiraghi, quem sois? Vós, nomes, sombras?
Soncini, Principato, inscrições mortas
vós, Del Riccio, Temolo, Vertemati,
Gasparini? Folhas de uma árvore
de sangue, Galimberti, Ragni, vós,
Bravin, Mastrodomenico, Poletti?
Ó caro sangue nosso que não suja
a terra, sangue que inicia a terra
na hora dos fuzis. As vossas chagas
de chumbo nas espáduas nos humilham:
muito tempo passou. Retomba a morte 
das bocas funéreas, reclamam a morte 
as bandeiras estrangeiras que ainda pendem 
frente aos portais de vossas casas. Crendo-se
vivos, temem morrer por vossa mãos.
A nossa não é uma vigília de tristeza 
não é velada de lágrimas nas túmbas;
a morte não da sombra quando é vida.
.

AI QUINDICI DI PIAZZALE LORETO
Esposito, Fiorani, Fogagnolo,
Casiraghi, chi siete? Voi nomi, ombre?
Soncini, Principato, spente epigrafi,
voi, Del Riccio, Temolo, Vertemati,
Gasparini? Foglie d’un albero
di sangue, Galimberti, Ragni, voi,
Bravin, Mastrodomenico, Poletti?
O caro sangue nostro che non sporca
la terra, sangue che inizia la terra
nell’ora dei moschetti. Sulle spalle
le vostre piaghe di piombo ci umiliano:
troppo tempo passò. Ricade morte
da bocche funebri, chiedono morte
le bandiere straniere sulle porte
ancora delle vostre case. Temono
da voi la morte, credendosi vivi.
La nostra non è guardia di tristezza,
non è veglia di lacrime alle tombe:
la morte non dà ombra quando è vita.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

DA TEIA DO OURO
Da teia do ouro pendem aranhas repulsivas.
.

DALLA RETE DELL’ORO
Dalla rete dell’oro pendono ragni ripugnanti.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§
Salvatore Quasimodo
A terra incomparável
La terra impareggiabile


A TERRA INCOMPARÁVEL
De há muito te devo palavras de amor:
ou são talvez aqueles que se diz 
a todo instante e apenas ditas morrem 
e que a memória teme, as que transformam
os inevitáveis sinais em hostil
dialogo em choque com a alma. Talvez
o ruído da mente não deixe ouvir
minhas palavras de amor ou o medo
do echo arbitrário que desfoca
da imagem mais delicada o tom
afetuoso: ou tocam elas o invisível
ironia, sua natureza de lâmina 
ou, amor meu, minha vida que se acaba.
Ou talvez seja a cor que as ofusca
ao chocarem-se com a luz
do tempo que a ti virá quando o meu
já não puder mais proclamar-te, amor, amor
obscuro, já chorando
a beleza, a impetuosa ruptura
com a terra incomparável, amor.
.

LA TERRA IMPAREGGIABILE
Da tempo ti devo parole d'amore:
o sono forse quelle che ogni giorno
sfuggono rapide appena percosse
e la memoria le teme, che muta
i segni inevitabili in dialogo
nemico a picco con l'anima. Forse
il tonfo nella mente non fa udire
le mie parole d'amore o la paura
dell'eco arbitraria che sfoca
l'immagine più debole d'un suono
affettuoso: o toccano l'invisibile
ironia, la sua natura di scure
o la mia vita già accerchiata, amore.
O forse è il colore che le abbaglia
se urtano con la luce
del tempo che verrà a te quando il mio
non potrà più chiamare amore oscuro
amore già piangendo
la bellezza, la rottura impetuosa
con la terra impareggiabile, amore.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

HOJE VINTE E UM DE MARÇO
Hoje vinte e um de março entra Áries
no equinócio e malha sua
testa máscula contra árvores e rochas,
e tu amor desprendes
a seus golpes o vento de inverno
de tua orelha voltada
para minhas últimas palavras. Bóia
a primeira espuma sobre as plantas, pálida
quase verde e não recusa 
a advertência. E a noticia corre
até as gaivotas reunidas
entre os arco-íris: despontam
cascateando suas vozes
de chorros que repicam
nas gruas. Tu, o meu lado, afogas
o seu grito, abres a ponte 
entre nós e as rajadas
que a natureza prepara subterrânea
num clarão insensato,
ultrapassa o empuxo dos rebentos.
Já não nos basta, agora, a primavera.
.

OGGI VENTUNO MARZO
Oggi ventuno marzo entra l'Ariete
nell'equinozio e picchia la sua 
testa maschia contro alberi e rocce
e tu amore stacchi
ai suoi colpi il vento d'inverno
dal tuo orecchio inclinato
sull'ultima mia parola. Galleggia
la prima schiuma sulle piante, pallida
quasi verde e non rifiuta
l'avvertimento. E la notizia corre
ai gabbiani che s'incontrano
fra gli arcobaleni: spuntano
scosciando il loro linguaggio
di spruzzi che rintoccano
nelle grotte. Tu copri il loro grido
al mio fianco, apri il ponte
fra noi e le raffiche
che la natura prepara sottoterra
in un lampo privo di saggezza,
oltrepassi la spinta dei germogli.
Ora la primavera non ci basta.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

NESTA CIDADE
Nesta cidade existe até a maquina
que tritura sonhos: com uma ficha
viva, um pequeno disco de dores
num instante estás lá, nessa terra,
perdido em meio a sombras delirantes
de algas fosfóreas e cogumelos de fumo:
um carrossel de monstros
girando sobre conchas
que se espedaçam podres quando soam.
Está num bar da esquina, alí na curva 
dos plátanos, aqui na minha metrópole
ou alhures. Vamos! já dispara o botão.
.

IN QUESTA CITTÀ
In questa città c’è pure la macchina 
che stritola i sogni: con un gettone
vivo, un piccolo disco di dolore 
sei subito di là, su questa terra,
ignoto in mezzo ad ombre deliranti 
su alghe di fosforo funghi di fumo: 
una giostra di mostri 
che gira su conchiglie
che si spezzano putride sonando.
È in un bar d'angolo laggiù alla svolta
dei platani, qui nella mia metropoli
o altrove. Su, già scatta la manopola.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

MINOTAURO EM CNOSSOS
Os jovens de Creta tinham a cintura
delicada e as ancas arredondadas. O Minotauro
também por eles mugia no Labirinto.
E sabia Ariadne das paixões de Pasifa
que espumou imagens bestiais como o touro que,
como Vênus, desfechou-se do mar.
Mas a arte, os arneses do homem, os signos
refinados de uma vida civilizada
são vossos, cretenses, não os vence a morte.
Mas não há mais ninguém que apunhale
o monstro em Cnossos e no mercado
de Herácleton sujo e confuso do Oriente
nada há mais que se pareça
à Grécia de antes da Grécia.
.

MINOTAURO A CNOSSO
I giovani di Creta avevano vita
sottile e fianchi rotondi. Il Minotauro
mugghiava nel Labirinto anche per loro.
Sapienza, Arianna, dei sensi di Pasifae
che schiumò immagini bestiali col toro
scattato come Venere dal mare.
Ma l'arte, gli arnesi dell'uomo, i segni
raffinati d'una vita civile
sono vostri, cretesi, non c'è morte.
Ma non c'è più nessuno che accoltella
il mostro a Cnosso, e nel mercato
d'Hiràklion confuso e sporco d'Oriente
non c'è nulla che assomigli
alla Grecia di prima della Grecia.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

À NOVA LUA
No princípio Deus criou o céu
e a terra, depois no dia certo
pôs luminárias no céu
e no sétimo dia descansou.

Após bilhões de anos o homem,
feito à sua imagem e semelhança,
sem jamais descansar, com a sua
inteligência laica,
sem temor, no céu sereno
de uma noite de outubro
pôs outras luminárias iguais
àqueles que giravam
desde a criação do mundo. Amén.
.

ALLA NUOVA LUNA
In principio Dio creò il cielo
e la terra, poi nel suo giorno
esatto mise i luminari in cielo
e al settimo giorno si riposò.

Dopo miliardi di anni l'uomo,
fatto a sua immagine e somiglianza,
senza mai riposare, com la sua
intelligenza laica,
senza timore, nel cielo sereno
d'una notte d'ottobre
mise altri luminari uguali
a quelli che giravano
dalla creazione del mondo. Amen.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§
Salvatore Quasimodo
Dever e haver
Dare e avere

O SILÊNCIO NÃO ME ENGANA
Disforme o toque
do sino de San Simpliciano
se recolhe nos vidros da minha janela.
Não tem eco o som, assume um arco
transparente, faz-me lembrar meu nome.
Escrevo palavras e símiles, procuro
traçar um nexo possível
entre a vida e a morte. O presente está fora de mim
e não poderá conter-me senão em parte.
O silêncio não me engana, a fórmula
é abstrata. O que tem que vir já aqui está
e se não fosse por ti, amor,
o futuro já teria aquele eco
que não quero escutar e que vibra
certo como um inseto da terra.
.

IL SILENZIO NON M’INGANNA
Distorto il battito
della campana di San Simpliciano
si raccoglie sui vetri della mia finestra.
Il suono non ha eco, prende un cerchio
trasparente, mi ricorda il mio nome.
Scrivo parole e analogie, tento
di tracciare un rapporto possibile
tra vita e morte. Il presente è fuori di me
e non potrà contenermi che in parte.
Il silenzio non m’inganna, la formula
è astratta. Ciò che deve venire è quì,
e se non fosse per te, amore,
il futuro avrebbe già quell’eco
che non voglio ascoltare e che vibra
sicuro come un insetto della terra.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

IMPERCEPTÍVEL O TEMPO
No jardim ruboresce
a laranja, imperceptivel
o tempo dança
em sua casca,
a roda do moinho se separa
do lençol da água
mas continua seu giro
e enrola um minuto
ao minuto passado
ou futuro. Diverso é o tempo
no vórtice do fruto;
ineludível no corpo
que reflete a morte,
desliza contorcido,
confina a presa
na mente, inscreve
uma prova de vida.
.

IMPERCETTIBILE IL TEMPO
Nel giardino si fa rossa
l'arancia, impercettibile
il tempo danza
sulla sua scorza,
la ruota del mulino si stacca
alla piena dell'acqua
ma continua il suo giro
e avvolge un minuto
al minuto passato
o futuro. Diverso il tempo
sul vortice del frutto;
indeclinabile sul corpo
che riflette la morte,
scivola contorto
chiude la presa
alla mente, scrive
una prova di vita.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§

BASTA UM DIA PARA EQUILIBRAR O MUNDO
A inteligência a morte o sonho
negam a esperança. Nesta noite
em Brasov, nos Cárpatos, entre árvores
que não são as minhas, busco no tempo
uma mulher amda. O calor racha
as folhas dos choupos e eu
me digo palavras que nem sei,
reviro terras de memória.
Um jazz sombrio, canções italianas
passam invertidas sobre as cores dos íris.
No murmúrio das fontes
perdeu-se tua voz:
basta um dia para equilibrar o mundo.
.

BASTA UN GIORNO A EQUILIBRARE IL MONDO
L’intelligenza la morte il sogno
negano la speranza. In questa notte
a Brasov nei Carpazi, fra alberi
non miei cerco nel tempo
una donna d’amore. L’afa spacca
le foglie dei pioppi e io
mi dico parole che non conosco,
rovescio terre di memoria.
Un jazz buio, canzoni italiane
passano capovolte sul colore degli iris.
Nello scroscio delle fontane
s’è perduta la tua voce:
basta un giorno a equilibrare il mondo.
- Salvatore Quasimodo - poesias. [seleção, tradução e notas Geraldo Holanda Cavalcanti; prefácio de Luciana Stegagno Picchio]. Edição bilíngue.Rio de Janeiro: Record, 1999.

§
Salvatore Quasimodo - Prêmio Nobel da Literatura (1959)
FORTUNA CRÍTICA DE SALVATORE QUASIMODO
ARTIXZFFSKI, Ernesto von. salvatore quasimodo. in: escamandro, 3.11.2014. Disponível no link. (acessado em 24.7.2016).
FERRAZ, Heitor. Antologia reúne a poesia do siciliano Salvatore Quasimodo. in: Revista Cult, edição 21. Disponível no link. (acessado em 23.7.2016).
GÓES, Ludenbergue. Todos os ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura: 1901-2010. Editora Global, 2010.
PILATI, Alexandre Simões.. A lírica engasgada - uma leitura de Alle fronde dei salici de Salvatore Quasimodo. In: BASTOS, H.J.M; ARAÚJO, A. de F.B.. (org.). Teoria e Prática da Crítica Literária Dialética. 1ª ed., Brasília: Editora da UnB, 2011, v. 1, p. -.
SANTOS, Fernando Brandão dos.. Traduções de Salvatore Quasimodo da Poesia Lírica Grega. La Ricerca, FCL-UNESP Araraquara, SP, v. Ano VI, p. 69-73, 1995.


Eugenio Montale, Giuseppe Ungaretti e Salvatore Quasimodo

Arnoldo Mondadori con Eugenio Montale, Salvatore Quasimodo, Giuseppe Ungaretti,
Francesco Messina, Arturo Tofanelli e Renato Guttuso
(Fondazione Arnoldo e Alberto Mondadori) .c 1950.



Salvatore Quasimodo, por Emilio Palaz (1976)
OUTRAS FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA

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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Salvatore Quasimodo - poeta siciliano. Templo Cultural Delfos, julho/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).

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** Página atualizada em 25.7.2016.




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