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Eugenio Montale - poeta italiano

Eugenio Montale
Eugenio Montale (poeta, tradutor e crítico literário) recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1975. Nascido em Gênova a 12 de outubro de 1896, Eugenio Montale teve a mocidade marcada pela paisagem da Ligúria natal, as férias na casa da família em Monterosso, nas Cinque Terre, a paixão pela música e as lições de canto com o sonho juvenil de se tornar um barítono famoso, a pintura que anos depois, na maturidade, vai produzir pequenos, requintadíssimos quadros. Entre 1917 e 1919, breve parêntese como oficial na Primeira Guerra Mundial, aquela guerra que, nos mesmos anos e nas mesmas trincheiras, vira nascer o dolente patriotismo do soldado raso Giuseppe Ungaretti. Nos anos a seguir haverá antes de tudo a procura de uma colocação na sociedade e a escolha antifascista com a assinatura do manifesto de Benedetto Croce. Haverá as dificuldades econômicas, as viagens, a literatura inglesa como campo privilegiado de pesquisa, o trabalho editorial e a atividade de crítico, literário e musical, antes em Florença e depois em Milão, que a partir de 1948 será a sua cidade de eleição. Haverá ainda as amizades escolhidas (Svevo, Pound) e as várias musas: mas sempre com discrição e com uma fidelidade de base à companheira esposa de anos, Drusilla Tanzi, a “Mosca” da alcunha familiar, desaparecida em 1963. Só na última parte da vida é que vão chegar os reconhecimentos oficiais, com a nomeação a senador perpétuo do Parlamento italiano “por seus altos merecimentos no campo literário e artístico”, em 1967 e com o Prêmio Nobel em 1975. A morte o colherá em Milão em 12 de setembro de 1981.
Eugenio Montale

Ao longo desta vida e quase paralela, a obra. A poesia manifesta-se com aparições espaçadas. Jorra oficialmente em 1925 com Ossi di seppia (Ossos de siba), despedida lírico-subjetiva dos anos iludidos da mocidade e experiência de formas métricas em que a tradição aparece cônscia de todos os contributos das velhas e novas vanguardas, Só em 1939, em vésperas da Segunda Guerra Mundial, o segundo livro, Le occasioni (As ocasiões), que reúne os textos escritos entre 1928 e 1939 e em que a poesia, deixando o impressionismo dos Ossos, se torna abstrata e metafísica, pós-simbolista, com apelos a Eliot e à sua teoria do correlativo-objetivo. Em 1943, Finisterre, que depois, em 1956, constituirá a primeira parte de La bufera e altro (A tormenta e outras coisas). O novo Montale, mais coloquial, em que o desespero da primei­ra estação parece se ter dissolvido num auto-humorismo sem remédio e numa nova pietas para com os outros, homens e coisas, nasce com os Xênia (1966) e depois com Satura (1971). É talvez este o Montale, cantor ecumênico do desengano do nosso século, em que o mundo internacional se reconhece e identifica.
:: Fonte: Culturapara. por Luciana Stegagno Picchio (Roma, junho de 1997).

"Ossi di seppia não promete o desejado impossível, mas também não o silencia. E paradoxalmente o indica em silêncio: 'Não nos peças a fórmula que te possa abrir mundos,/ e sim alguma sílaba torcida e seca como um ramo./ Hoje apenas podemos dizer-te/ o que não somos, o que não queremos'"
- Dora Ferreira da Silva, em 'orelha' do livro "Ossos de Sépia 1920-1927. Eugenio Montale". [tradução, prefácio e notas de Renato Xavier]. Coleção Prêmio Nobel. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

Eugenio Montale
OBRA DE EUGENIO MANTALE EM PORTUGUÊS
:: Ossos de Sépia 1920-1927. Eugenio Montale. [tradução, prefácio e notas de Renato Xavier]. Coleção Prêmio Nobel. São Paulo: Companhia das Letras, 2002; 2ª ed., 2011.
:: Poesias – Eugenio Montale. [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.
:: Diário póstumo – Eugenio Montale. [tradução, introdução e notas de Ivo Barroso]. Rio de Janeiro: Record. 2000.
:: Poesia - Eugenio Montale. [selecção, tradução, prefácio e notas de José Manuel Vasconcelos]. Edição bilíngue. Colecção ‘Documenta Poética’. Lisboa: Editora Assírio & Alvim, 2004.

Antologia (participação)
:: Transverso: coletânea de poemas traduzidos. [organização José Paulo Paes]. Campinas: Editora da Unicamp, 1988.


Eugenio Montale na casa em Milão
POEMAS SELECIONADOS DE EUGENIO MONTALE

 Goza se entrando no pomar o vário
vento balouça a vaga do existir:
onde agora afunda um morto
novelo de memórias
horto não fora, antes relicário.

Sentes como voando um passarinho?
é o comover-se do regaço eterno;
esta fímbria de terra, vê, no extremo,
se muda, solitária, num cadinho.

A garra fica aquém do áspero muro
se avanças, vai de encontro
– pode ser – ao fantasma que te salva:
aqui se entramam atos e racontos
rasurados no jogo do futuro.

Nesta rede de malhas que constringem
busca aquela mais frouxa: foge, atreve-te,
salta – rezo por ti – será mais leve
minha sede, menos acre a ferrugem.
.
Il frullo che tu senti non è un volo, 
ma il commuoversi dell’eterno grembo; 
vedi che si trasforma questo lembo 
di terra solitario in un crogiuolo.

Un rovello è di qua dall’erto muro. 
Se procedi t’imbatti 
tu forse nel fantasma che ti salva: 
si compongono qui le storie, gli atti 
scancellati pel giuoco del futuro.

Cerca una maglia rotta nella rete 
che ci stringe, tu balza fuori, fuggi! 
Va, per te l’ho pregato, — ora la sete 
mi sarà lieve, meno acre la ruggine…
- Eugenio Montale [tradução inédita de Haroldo de Campos].

§

OS LIMÕES

Escuta-me, os poetas laureados 
movem-se tão somente entre as plantas 
de nomes pouco usados: buxos ligustros e acantos. 
Eu, por mim, gosto de caminhos que levam às agrestes 
valas aonde em poças 
já meio secas rapazes apanham 
alguma enguia miúda: 
as veredas que seguem junto às bordas, 
descem por entre os tufos de canas 
e chegam até os hortos, no meio dos limoeiros.

É melhor quando a algazarra dos pássaros 

se dilui e é tragada pelo azul: 
mais claro se há de escutar o sussurro 
de ramos amigos no ar que não se move quase, 
e as sensações desse cheiro 
que não se aparta da terra 
e uma doçura inquieta chove no peito. 
Aqui das distraídas paixões 
por um milagre cala-se a guerra, 
aqui até a nós pobres cabe nossa parte de riqueza 
e é o aroma dos limões.

Vês, é nesses silêncios em que as coisas 

se abandonam e como que estão prestes 
a trair o seu último segredo, 
que por vezes se espera 
descobrir um engano da Natureza, 
o ponto morto do mundo, o elo que não resiste,
a mecha a deslindar que enfim nos ponha 
no âmago de uma verdade. 
O olhar revista em torno, 
a mente indaga reúne separa 
no perfume que alastra 
quando mais langue o dia. 
São os silêncios em que se avista 
em toda sombra humana que se afasta 
alguma importunada Divindade.

Mas a ilusão falha e o tempo nos reporta 

às ruidosas cidades onde o azul se mostra 
só aos pedaços, no alto, entre as cimalhas. 
A chuva cansa a terra, depois; cerra-se 
o tédio do inverno sobre as casas, 
a luz se torna avara — a alma amarga. 
Quando um dia um portão entreaberto 
em meio às árvores de um pátio 
nos mostra os amarelos dos limões; 
e o gelo do coração se desfaz, 
e brotam em nosso peito 
as canções que ressoam 
dos seus clarins de ouro solar.
.

I LIMONI

Ascoltami, i poeti laureati
si muovono soltanto fra le piante
dai nomi poco usati: bossi ligustri o acanti.
lo, per me, amo le strade che riescono agli erbosi
fossi dove in pozzanghere
mezzo seccate agguantano i ragazzi
qualche sparuta anguilla:
le viuzze che seguono i ciglioni,
discendono tra i ciuffi delle canne
e mettono negli orti, tra gli alberi dei limoni.

Meglio se le gazzarre degli uccelli

si spengono inghiottite dall'azzurro:
più chiaro si ascolta il susurro
dei rami amici nell'aria che quasi non si muove,
e i sensi di quest'odore
che non sa staccarsi da terra
e piove in petto una dolcezza inquieta.
Qui delle divertite passioni
per miracolo tace la guerra,
qui tocca anche a noi poveri la nostra parte di ricchezza
ed è l'odore dei limoni.

Vedi, in questi silenzi in cui le cose

s'abbandonano e sembrano vicine
a tradire il loro ultimo segreto,
talora ci si aspetta
di scoprire uno sbaglio di Natura,
il punto morto del mondo, l'anello che non tiene,
il filo da disbrogliare che finalmente ci metta
nel mezzo di una verità.
Lo sguardo fruga d'intorno,
la mente indaga accorda disunisce
nel profumo che dilaga
quando il giorno più languisce.
Sono i silenzi in cui si vede
in ogni ombra umana che si allontana
qualche disturbata Divinità.

Ma l'illusione manca e ci riporta il tempo

nelle città rumorose dove l'azzurro si mostra
soltanto a pezzi, in alto, tra le cimase.
La pioggia stanca la terra, di poi; s'affolta
il tedio dell'inverno sulle case,
la luce si fa avara - amara l'anima.
Quando un giorno da un malchiuso portone
tra gli alberi di una corte
ci si mostrano i gialli dei limoni;
e il gelo dei cuore si sfa,
e in petto ci scrosciano
le loro canzoni
le trombe d'oro della solarità.
- Eugenio Montale, em "Ossos de Sépia 1920-1927". [tradução, prefácio e notas de Renato Xavier]. Coleção Prêmio Nobel. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

§

CORNE-INGLÊS
O vento que esta tarde toca atento 
— lembra um vibrar de chapa veemente — 
os instrumentos espessos dos ramos, 
e varre o acobreado horizonte 
em que faixas de luz se estendem 
como vias ao céu que retumba 
(Nuvens em viagem, alvos 
reinos do alto! Excelsos Eldorados 
de portas mal vedadas!) 
e o mar que escama a escama, 
lívido, muda de cor, 
lança à terra uma tromba 
de revoltas espumas; 
o vento que nasce e amaina 
no dia que escurece lento 
em ti também tocasse esta tarde 
coração dissonante, 
esquecido instrumento.
.

CORNO INGLESE
ll vento che stasera suona attento 
– ricorda un forte scotere di lame –
gli strumenti dei fitti alberi e spazza 
l'orizzonte di rame 
dove strisce di luce si protendono 
come aquiloni al cielo che rimbomba 
(Nuvole in viaggio, chiari 
reami di lassù! D'alti Eldoradi 
malchiuse porte!) 
e il mare che scaglia a scaglia, 
livido, muta colore, 
lancia a terra una tromba 
di schiume intorte; 
il vento che nasce e muore 
nell'ora che lenta s'annera 
suonasse te pure stasera 
scordato strumento, 
cuore.
- Eugenio Montale, em "Ossos de Sépia 1920-1927". [tradução, prefácio e notas de Renato Xavier]. Coleção Prêmio Nobel. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

§

FALSETE
Esterina, os vinte anos te ameaçam,
gris-rosada nuvem
que pouco a pouco te envolve.
Tu o percebes e não temes.
Imersa te veremos
na bruma que o vento
esgarça ou condensa, violento.
Depois da onda de cinzas surgirás
mais bronzeada que nunca,
voltado para uma ventura mais distante
o intenso rosto que lembra
o da arqueira Diana.
Afloram-te os vinte outonos,
enredam-te as idas primaveras;
escuta, por ti dobra
um presságio nas elísias esferas.
Não te soe
como um cântaro rachado
percutido!; espero que seja
para ti inefável concerto
de guizos.

O incerto amanhã não te amedronta.
Cheia de graça o corpo estiras
sobre o recife luzente de sal
e ao sol te queimas.
Lembras a lagartixa
inerte na pedra lisa;
a ti espreita a juventude,
a ela o laço de capim do menino.
A água é a força que te revigora,
na água te reencontras e te renovas:
te imaginamos alga, seixo,
equórea criatura
que a salsugem não mancha
e á praia torna mais pura.

Como estás certa! Não turvar
com agouros o presente risonho.
Tua alegria já empenha o futuro
e um dar de ombros
esboroa os fortins
do teu amanhã obscuro.
Ergues-te e avanças pelo pontilhão
estreito, sobre o sorvedouro sibilante:
teu perfil se entalha
sobre um fundo de pérola.
Hesitas no alto da prancha oscilante,
e então ris, e como se despegada pelo vento
te arrojas entre os braços
de teu divino amigo que te agarra.

A ti seguimos com os olhos, nós, da raça
dos que estão presos à terra.
.

FALSETTO
Esterina, i vent'anni ti minacciano, 
grigiorosea nube 
che a poco a poco in sé ti chiude. 
Ciò intendi e non paventi. 
Sommersa ti vedremo 
nella fumea che il vento 
lacera o addensa, violento. 
Poi dal fiotto di cenere uscirai 
adusta più che mai, 
proteso a un'avventura più lontana 
l'intento viso che assembra 
l'arciera Diana. 
Salgono i venti autunni, 
t'avviluppano andate primavere; 
ecco per te rintocca 
un presagio nell'elisie sfere. 
Un suono non ti renda 
qual d'incrinata brocca 
percossa!; io prego sia 
per te concerto ineffabile 
di sonagliere. 

La dubbia dimane non t'impaura. 
Leggiadra ti distendi 
sullo scoglio lucente di sale 
e al sole bruci le membra. 
Ricordi la lucertola 
ferma sul masso brullo; 
te insidia giovinezza, 
quella il lacciòlo d'erba del fanciullo. 
L'acqua è la forza che ti tempra, 
nell'acqua ti ritrovi e ti rinnovi: 
noi ti pensiamo come un'alga, un ciottolo, 
come un'equorea creatura 
che la salsedine non intacca 
ma torna al lito piú pura. 

Hai ben ragione tu! Non turbare 
di ubbie il sorridente presente. 
La tua gaiezza impegna già il futuro 
ed un crollar di spalle 
dirocca i fortilizi 
del tuo domani oscuro. 
T'alzi e t'avanzi sul ponticello 
esiguo, sopra il gorgo che stride: 
il tuo profìlo s'incide 
contro uno sfondo di perla. 
Esiti a sornmo del tremulo asse, 
poi ridi, e come spiccata da un vento 
t'abbatti fra le braccia 
del tuo divino amico che t'afferra. 

Ti guardiamo noi, della razza 
di chi rimane a terra.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

Epigrama
Sbarbaro, menino inspirado, dobra multicores
papéis e extrai barquinhos que confia à lama
movediça de um regato; olha-os indo embora.
Sê precavido por ele, cavalheiro que passas:
com a tua bengala alcança a delicada flotilha,
que não se perca; e chegue a um portinho de pedras.
.

Epigramma
Sbarbaro, estroso fanciullo, piega versicolori
carte e ne trae navicelle che affida alla fanghiglia
mobile d’un rigagno; vedile andarsene fuori.
Sii preveggente per lui, tu galantuomo che passi:
col tuo bastone raggiungi la delicata flottiglia,
che non si perda; guidala a un porticello di sassi.
- Eugenio Montale, em "Ossos de Sépia 1920-1927". [tradução, prefácio e notas de Renato Xavier]. Coleção Prêmio Nobel. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

§

QUASE UM DEVANEIO
Renasce o dia, pressinto-o
no alvor de prata gasta
pelos muros:
Uma luz frouxa listra as janelas fechadas.
Retorna o acontecimento do sol
mas sem as vozes difusas,
os estrépitos habituais.

Por quê? Penso em um dia enfeitiçado
e da ronda das horas sempre iguais
me desforro. Transbordará a força
que em mim crescia, inconsciente mago,
há tanto tempo. Então me assomarei à janela,
farei sumir as altas casas, as alamedas vazias.

Terei diante de mim uma paisagem de neve intacta
mas suave como se numa tapeçaria.
Deslizará no céu flocoso um raio tardio.
Prenhes de luzes invisíveis selvas e colinas
me farão o elogio dos alegres regressos.

Lerei feliz os negros
sinais dos ramos contra o branco
como um alfabeto essencial.
Todo o passado de uma só vez
se fará presente.
Som algum turbará
essa alegria solitária.
Riscará o ar
ou pousará numa estaca
alguma pega.
.

QUASI UNA FANTASIA
Raggiorna, lo presento 
da un albore di frusto 
argento alle pareti: 
lista un barlume le finestre chiuse. 
Torna l'avvenimento 
del sole e le diffuse 
voci, i consueti strepiti non porta. 

Perché? Penso ad un giorno d'incantesimo 
e delle giostre d'ore troppo uguali 
mi ripago. Traboccherà la forza 
che mi turgeva, incosciente mago, 
da grande tempo. Ora m'affaccerò, 
subisserò alte case, spogli viali. 

Avrò di contro un paese d'intatte nevi 
ma lievi come viste in un arazzo. 
Scivolerà dal cielo bioccoso un tardo raggio. 
Gremite d'invisibile luce selve e colline 
mi diranno l'elogio degl'ilari ritorni. 

Lieto leggerò i neri 
segni dei rami sul bianco 
come un essenziale alfabeto. 
Tutto il passato in un punto 
dinanzi mi sarà comparso. 
Non turberà suono alcuno 
quest'allegrezza solitaria. 
Filerà nell'aria 
o scenderà s'un paletto 
qualche galletto di marzo.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

Aonde vão as riçadas donzelas
ânforas plenas sobre os ombros
o firme passo tão leve;
e ao fundo abre-se um vale
em vão espera as belas
com a sombra de uma pérgola de vinha
e seus cachos que pendem oscilantes.
O sol que vai alto,
as encostas que se avistam
não têm cores: nesse minuto brando
a natureza como num flash
dispõe felizes suas
criaturas, mãe não madrasta,
em leveza de formas.
Mundo que dorme ou mundo que se vangloria
de imutável existência, quem saberá?,
homem que passas, dá tu também
o melhor ramo de teu jardim.
Depois segue: neste vale
não há lugar para sombra e luz.
Longe daqui tua estrada te conduz,
não há asilo para ti, estás demasiado morto:
segue o curso de tuas estrelas.
Adeus, pois, cacheadas donzelas,
levai nos ombros vossas ânforas plenas.
.

Dove se ne vanno le ricciute donzelle
che recano le colme anfore su le spalle
ed hanno il fermo passo sì leggero;
e in fondo uno sbocco di valle
invano attende le belle
cui adombra una pergola di vigna
e i grappoli ne pendono oscillando.
Il sole che va in alto, 
le intraviste pendici
non han tinte: nel blando
minuto la natura fulminata
atteggia le felici
sue creature, madre non matrigna,
in levità di forme.
Mondo che dorme o mondo che si gloria
d'immutata esistenza, chi può dire?,
uomo che passi, e tu dagli 
il meglio ramicello del tuo orto.
Poi segui: in questa valle
non è vicenda di buio e di luce.
Lungi di qui la tua via ti conduce,
non c'è asilo per te, sei troppo morto:
seguita il giro delle tue stelle. 
E dunque addio, infanti ricciutelle,
portate le colme anfore su le spalle.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

Agora sejam os teus passos
mais cuidado: a um pulo
daqui se te prepara
cena bem rara.
A porta enferrujada de um templete
está cerrada para sempre.
Uma grande claridade se difunde
no mato da entrada.
E aqui onde pisadas humanas
não soarão, nem dores fictícias,
estiradas no chão vigila um magro cão.
Nunca se moverá
nesta hora que pressentimos asfixiosa.
Sobre o teto se exibe
uma nuvem grandiosa.
.

Ora sia il tuo passo 
piú cauto: a un tiro di sasso 
di qui ti si prepara 
una più rara scena. 
La porta corrosa d'un tempietto 
è rinchiusa per sempre. 
Una grande luce è diffusa 
sull'erbosa soglia. 
E qui dove peste umane 
non suoneranno, o fittizia doglia, 
vigila steso al suolo un magro cane. 
Mai piú si muoverà 
in quest'ora che s'indovina afosa. 
Sopra il tetto s'affaccia 
una nuvola grandiosa.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

VENTO E BANDEIRAS
A ventania que alçou o amargo aroma
do mar às espirais dos vales,
e te assaltou, desgrenhou teu cabelo,
novelo breve contra o pálido céu;

a rajada que colou teu vestido
e rápida te modulou à sua imagem,
como voltou, tu longe, a estas pedras
que o monte estende sobre o abismo;

e como passada a embriagada fúria 
retoma agora ao jardim o hálito submisso 
que te ninou, estirada na rede, 
entre as árvores, nos teus vôos sem asas.

Ai de mim! O tempo nunca arranja duas vezes 
de igual maneira suas contas! E é esta a 
nossa sorte: de outra maneira, como na natureza, 
nossa história se abrasaria num relâmpago.

Surto sem igual, — e que agora traz vida 
a um povoado que exposto
ao olhar na encosta de um morro 
se paramenta de galas e bandeiras.

O mundo existe... Um espanto pára
o coração que sucumbe aos espíritos errantes,
mensageiros da noite: e não pode acreditar
que homens famintos possam ter sua festa.
.

VENTO E BANDIERE
La folata che alzò l'amaro aroma
del mare alle spirali delle valli,
e t'investì, ti scompigliò la chioma,
groviglio breve contro il cielo pallido;

la raffica che t'incollò la veste
e ti modulò rapida a sua imagine,
com'è tornata, te lontana, a queste
pietre che sporge il monte alla voragine;

e come spenta la furia briaca
ritrova ora il giardino il sommesso alito
che ti cullò, riversa sull'amaca,
tra gli alberi, ne' tuoi voli senz'ali.

Ahimè, non mai due volte configura
il tempo in egual modo i grani! E scampo
n'è: ché, se accada, insieme alla natura
la nostra fiaba brucerà in un lampo.

Sgorgo che non s'addoppia, – ed or fa vivo
un gruppo di abitati che distesi
allo sguardo sul fianco d'un declivo
si parano di gale e di palvesi.

Il mondo esiste…Uno stupore arresta
il cuore che ai vaganti incubi cede,
messaggeri del vespero: e non crede
che gli uomini affamati hanno una festa.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

Não nos peças a palavra que acerte cada lado
de nosso ânimo informe, e com letras de fogo
o aclare e resplandeça como açaflor
perdido em meio de poeirento prado.

Ah o homem que lá se vai seguro,
dos outros e de si próprio amigo,
e sua sombra descura que a canícula
estampa num escalavrado muro!

Não nos peças a fórmula que possa abrir mundos,
e sim alguma sílaba torcida e seca como um ramo.
Hoje apenas podemos dizer-te
o que não somos, o que não queremos.
.

Non chiederci la parola che squadri da ogni lato
l'animo nostro informe, e a lettere di fuoco
lo dichiari e risplenda come un croco
perduto in mezzo a un polveroso prato. 

Ah l'uomo che se ne va sicuro,
agli altri ed a se stesso amico,
e l'ombra sua non cura che la canicola
stampa sopra uno scalcinato muro!

Non domandarci la formula che mondi possa aprirti,
sì qualche storta sillaba e secca come un ramo.
Codesto solo oggi possiamo dirti,
ciò che non siamo, ciò che non vogliamo.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

Não busques abrigo na sombra 
desse bosque de verdura 
qual o falcão que mergulha 
como um raio na canícula.

É hora de deixar quieto
o caniçal sonolento
e de observar as formas
da vida que se esboroa

Caminhamos numa poeira 
de madrepérola vibrante, 
num ofuscamento pegajoso 
que quase nos desfibra.

No entanto, tu o sentes, mesmo na onda árida 
que lassidão nos traz neste instante de enfado 
não é hora ainda de lançar num abismo 
nossas vidas errantes.

Como este claustro de rochas 
que parece desfiar-se 
em teias de nuvens; 
assim nossas almas ressequidas

onde a ilusão mantém aceso 
um fogo mais de cinzas 
se entregam à serenidade 
de uma certeza: da luz.
.

Non rifugiarti nell'ombra 
di quel folto di verzura 
come il falchetto che strapiomba 
fulmineo nella caldura.

E' ora di lasciare il canneto 
stento che pare s'addorma 
e di guardare le forme 
della vita che si sgretola.

Ci muoviamo in un pulviscolo 
madreperlaceo che vibra, 
in un barbaglio che invischia
gli occhi e un poco ci sfibra.

Pure, lo senti, nel gioco d'aride onde 
che impigra in quest'ora di disagio 
non buttiamo già in un gorgo senza fondo
le nostre vite randage.

Come quella chiostra di rupi 
che sembra sfilaccicarsi 
in ragnatele di nubi; 
tali i nostri animi arsi

in cui l'illusione brucia 
un fuoco pieno di cenere 
si perdono nel sereno 
di una certezza: la luce.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

a K.
Repenso o teu sorriso e é para mim como uma água límpida 
retida por acaso entre as pedras de um rio, 
exíguo espelho onde contemplas uma hera e seus corimbos; 
e tudo sob o abraço de um branco céu tranqüilo.

Esta é a minha lembrança; não sei dizer, faz tanto tempo, 
se de teu rosto surge livre uma alma ingênua, 
ou se em verdade és dos errantes que o mal do mundo exaure 
e o sofrimento carregam como um talismã.

Mas posso dizer-te isto, que teu rosto recordado 
afoga a mágoa inconstante numa onda de calma, 
e que tua figura se insinua em minha memória nevoenta 
imaculada como a copa de uma jovem palmeira...
.

a K.
Ripenso il tuo sorriso, ed è per me un’acqua limpida
scorta per aventura tra le petraie d’un greto,
esiguo specchio in cui guardi un’ellera i suoi corimbi;
e su tutto l’abbraccio d’un bianco cielo quieto.

Codesto è il mio ricordo; non saprei dire, o lontano,
se dal tuo volto s’esprime libera un’anima ingenua,
o vero tu sei dei raminghi che il male del mondo estenua
e recano il loro soffrire con sé come un talismano.

Ma questo posso dirti, che la tua pensata effigie
sommerge i crucci estrosi in un’ondata di calma,
e che il tuo aspetto s’insinua nella mia memoria grigia
schietto come la cima d’una giovinetta palma…
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

Traz-me o girassol que eu o transplante
no meu terreno queimado de maresia,
e a ansiedade de sua face amarela mostre
aos azuis brilhantes do céu todo dia.

Tendem à claridade as coisas obscuras,
exaurem-se os corpos num decorrer
de tintes: esses em música. Esvaecer
é portanto a ventura das desventuras.

Traz-me tu a planta que conduz
aonde surgem louras de tranparências
e evapora-se a vida como essência;
traz-me o girassol enlouquecido de luz.
.

Portami il girasole ch'io lo trapianti
nel mio terreno bruciato dal salino,
e mostri tutto il giorno agli azzurri specchianti
del cielo l'ansietà del suo volto giallino.

Tendono alla chiarità le cose oscure,
si esauriscono i corpi in un fluire
di tinte: queste in musiche. Svanire
è dunque la ventura delle venture.

Portami tu la pianta che conduce
dove sorgono bionde trasparenze
e vapora la vita quale essenza;
portami il girasole impazzito di luce.
- Eugenio Montale, em "Ossos de Sépia 1920-1927". [tradução, prefácio e notas de Renato Xavier]. Coleção Prêmio Nobel. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

§
Eugenio Montale, por Tullio Pericoli

O que de mim soubeste
não foi mais que a aparência,
a túnica que reveste
nossa humana aventura.

E talvez além do pano
o azul tranqüilo estivesse;
tapava o claro céu
um simples sigilo.

Ou era de fato a estapafúrdia
mudança de minha vida,
o abrir-se de uma terra
incendiada que jamais verei.

Restou assim esta casca
minha real substância;
o fogo que não se amortece
para mim chamou-se: ignorância.

Se divisas uma sombra, não é
sombra – mas eu próprio.
Pudesse arrancá-la de mim
e te ofereceria de presente.
.

Ciò che di me sapeste 
non fu che la scialbatura, 
la tonaca che riveste 
la nostra umana ventura.

Ed era forse oltre il telo 
l'azzurro tranquillo; 
vietava il limpido cielo 
solo un sigillo. 

0 vero c'era il falòtico 
mutarsi della mia vita, 
lo schiudersi d'un'ignita 
zolla che mai vedrò. 

Restò così questa scorza 
la vera mia sostanza; 
il fuoco che non si smorza 
per me si chiamò: l'ignoranza. 

Se un'ombra scorgete, non è 
un'ombra – ma quella io sono.
Potessi spiccarla da me, 
offrirvela in dono.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

Talvez uma manhã andando num ar de vidro,
árido, voltando-me, verei cumprir-se o milagre:
o nada às minhas costas, o vazio atrás
de mim, com um terror de embriagado.

Depois como em painel, assentarão de um lanço
árvores casas colinas para o habitual engano.
Mas será tarde demais; e eu irei muito quedo
entre os homens que não se voltam, com meu segredo.
.

Forse un mattino andando in un’aria di vetro,
arida, rivolgendomi, vedrò compirsi il miracolo:
il nulla alle mie spalle, il vuoto dietro
di me, con un terrore di ubriaco.

Poi come s’uno schermo, s’accamperanno di gitto
alberi case colli per l’inganno consueto.
Ma sarà troppo tardi; ed io me n’andrò zitto

tra gli uomini che non si voltano, col mio segreto.
- Eugenio Montale, em "Ossos de Sépia 1920-1927". [tradução, prefácio e notas de Renato Xavier]. Coleção Prêmio Nobel. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

§

Valmórbia, dispersavam-se em teu fundo
floridas nuvens de plantas tocadas pela brisa.
Nascia em nós, trazidos pelo cego acaso,
o olvido do mundo.

Calavam-se os disparos, no solitário regaço
ouvia-se apenas o som o Leno rouco.
Desabrochava um foguete de sua haste, pálido
lacrimejava no ar.

As noites claras eram todas uma aurora
e traziam raposas a minha gruta.
Valmórbia, um nome – e agora na desbotada
memória, terra onde não anoitece.
.

Valmorbia, discorrevano il tuo fondo
fioriti nuvoli di piante agli àsoli.
Nasceva in noi, volti dal cieco caso,
oblio del mondo.

Tacevano gli spari, nel grembo solitario
non dava suono che il Leno roco.
Sbocciava un razzo su lo stelo, fioco
lacrimava nell'aria.

Le notti chiare erano tutte un'alba
e portavano volpi alla mia grotta.
Valmorbia, un nome – e ora nella scialba
memoria, terra dove non annotta.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

Teria querido sentir-me áspero e essencial
como as pedras que volteias,
carcomidas pelo salsugem;
fragmento fora do tempo, testemunha
de uma vontade fria que não passa.
Outro fui: homem que atento olha
em si mesmo, nos outros, a efervescência
da vida fugaz – homem a quem tarda
o ato, que ninguém, depois, destrói.
Quis buscar o mal
que corrói o mundo, a pequena torção
de uma alavanca que paralisa
a máquina universal; e vi todos
os eventos do minuto
como se prestes a desmoronar.
Se seguia o sulco de um caminho o oposto
me tentava o coração; e talvez
me faltasse a lâmina que corta,
a mente que decide e se resolve.
De outros livros precisava,
não de tua página altissonante.
Mas nada lamento: tu desatas
ainda os nós internos com seu canto.
O teu delírio agora sobe aos céus.
.

Avrei voluto sentirmi scabro ed essenziale
siccome i ciottoli che tu volvi,
mangiati dalla salsedine;
scheggia fuori dal tempo, testimone
di una volontà fredda che non passa.
Altro fui: uomo intento che riguarda
in sé, in altrui, il bollore
della vita fugace – uomo che tarda
all'atto, che nessuno, poi, distrugge.
Volli cercare il male
che tarla il mondo, la piccola stortura
d'una leva che arresta
l'ordegno universale; e tutti vidi
gli eventi del minuto
come pronti a disgiungersi in un crollo.
Seguìto il solco di un sentiero m'ebbi
l'opposto in cuore, col suo invito; e forse
m'occorreva il coltello che recide,
la mente che decide e si determina.
Altri libri occorrevano
a me, non la tua pagina rombante.
Ma nulla so rimpiangere: tu sciogli
ancora i groppi interni col tuo canto.
Il tuo delirio sale agli astri ormai.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

ARSÊNIO 
Os redemoinhos levantam a poeira,
em espirais, sobre os telhados e sobre as praças
desertas, onde os cavalos encapuzados
farejam a terra, parados frente
às vidraças reluzentes dos hotéis.
Pela avenida, em frente ao mar, desces 
neste dia
ora chuvoso ora claro, no qual parece disparar 
transformando as horas
sempre iguais, na sua estreita trama, um refrão
de castanholas.

E o signo de uma órbita: segue-o.
Desce na direção do horizonte onde 
uma tromba de chumbo se ergue sobre a voragem,
mais que ela errante: salobre nimbo
vorticoso, soprado pelo rebelde
elemento às nuvens; faz teus passos
rangerem no saíbro e tropeçarem
no emaranhado das algas: talvez seja esse 
o tão esperado instante que te dispense
de findar tua viagem, elo de uma
cadeia, imóvel caminhar, oh tão conhecido
delírio, Arsênio, de imobilidade...

Escuta entre as palmeiras o jorro trêmulo
dos violinos, sumido quando reboa
o trovão com um fremir de folha-de-flanders
percutida; a tempestade é suave quando
desponta branca a estrela da Canícula
no céu azul e parece distante a noite 
já proxima: se o raio a entalha
desgalha-se como uma árvore preciosa
na luz que de vermelho se tinge: e o tamborim
dos ciganos é um murmúrio  silencioso.

Desce ao centro dessa escuridão que se espessa
e muda o meio-dia em uma noite
de globos acesos, balançando na orla, –
e fora, onde uma única sombra confunde
céu e mar, dos pesqueiros esparsos palpita
a luz do acetileno –
                                    até onde o céu goteja trepidante,
fumeia o solo sedento,
tudo em volta se agita, espadanam
os toldos molhados, um imenso sussurro varre
a terra, e amolecem chiando
as lanternas de papel pelas ruas.

Assim perdido entre as cadeiras de vime e as esteiras
de palha pingando, tu, junco que as raízes
consigo arrasta, viscosas, nunca
arrancadas, fremes de vida e te arojas
a um vazio ressonante de lamentos
sufocados, a crista da onda antiga
que te enrola novamente te engole; e ainda
tudo o que te retém, rua pórtico
muro espelho te fixa numa só
gelada multidão de mortos,
e se um gesto te roça, uma palavra
cai perto de ti, é talvez, Arsênio,
na hora que se esvai, o apelo de uma
vida sufocada para ti surgida, e o vento
a leva com a cinza dos astros.
.

ARSENIO 
I turbini sollevano la polvere
sui tetti, a mulinelli, e sugli spiazzi
deserti, ove i cavalli incappucciati
annusano la terra, fermi innanzi
ai vetri luccicanti degli alberghi.
Sul corso, in faccia al mare, tu discendi
in questo giorno
or piovorno ora acceso, in cui par scatti
a sconvolgerne l'ore
uguali, strette in trama, un ritornello
di castagnette.

E' il segno d'un'altra orbita: tu seguilo.
Discendi all'orizzonte che sovrasta
una tromba di piombo, alta sui gorghi,
più d'essi vagabonda: salso nembo
vorticante, soffiato dal ribelle
elemento alle nubi; fa che il passo
su la ghiaia ti scricchioli e t'inciampi
il viluppo dell'alghe: quell'istante
è forse, molto atteso, che ti scampi
dal finire il tuo viaggio, anello d'una
catena, immoto andare, oh troppo noto
delirio, Arsenio, d'immobilità...

Ascolta tra i palmizi il getto tremulo
dei violini, spento quando rotola
il tuono con un fremer di lamiera
percossa; la tempesta è dolce quando
sgorga bianca la stella di Canicola
nel cielo azzurro e lunge par la sera
ch'è prossima: se il fulmine la incide
dirama come un albero prezioso
entro la luce che s'arrosa: e il timpano
degli tzigani è il rombo silenzioso

Discendi in mezzo al buio che precipita
e muta il mezzogiorno in una notte
di globi accesi, dondolanti a riva, -
e fuori, dove un'ombra sola tiene
mare e cielo, dai gozzi sparsi palpita
l'acetilene -
                     finché goccia trepido
il cielo, fuma il suolo che t'abbevera,
tutto d'accanto ti sciaborda, sbattono
le tende molli, un fruscio immenso rade
la terra, giù s'afflosciano stridendo
le lanterne di carta sulle strade.

Così sperso tra i vimini e le stuoie
grondanti, giunco tu che le radici
con sé trascina, viscide, non mai
svelte, tremi di vita e ti protendi
a un vuoto risonante di lamenti
soffocati, la tesa ti ringhiotte
dell'onda antica che ti volge; e ancora
tutto che ti riprende, strada portico
mura specchi ti figge in una sola
ghiacciata moltitudine di morti,
e se un gesto ti sfiora, una parola
ti cade accanto, quello è forse, Arsenio,
nell'ora che si scioglie, il cenno d'una
vita strozzata per te sorta, e il vento
la porta con la cenere degli astri.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

DORA MARKUS

I

Foi onde a ponte de madeira
leva a Porto Corsini sobre o mar aberto
e uns poucos homens, quase imóveis, lançam
e recolhem suas redes. Com um sinal
da tua mão indicavas na outra margem
invisível tua pátria  verdadeira.
Depois seguimos o canal até as docas
da cidade, luzentes de fuligem,
nos baixos onde se afundava
uma primavera inerte, sem memória.

E aqui, onde uma vida antiga
se mosqueia numa doce
ansiedade de Oriente,
tuas palavras irisavam como as escamas
de um salmonete moribundo.

Teu desassossego me faz pensar
nas aves de arribação que se jogam contra os faróis
nas noites tempestuosas:
é tempestade também tua doçura,
turbilhona e não aparece,
e seus repousos são ainda mais raros.
Não entendo como exaurida resistes
neste lago
de indiferença que é o teu coração; talvez
te proteja o amuleto que guardas
junto ao batom,
ao pó-de-arroz, à lima: um ratinho branco
de marfim; e assim existes!


II

Agora em tua Caríntia
de murtas floridas e de charcos,
debruçada na amurada observas
a carpa que tímida aboca
ou acompanhas sobre as tílias, entre os eriçados
picos a incandescência
do crepúsculo e nas águas a labareda
dos toldos dos molhes e das pensões.

A noite que se estende
sobre a úmida baía não traz
com a palpitação dos motores
senão gemidos de gansos e um interior
de brancas majólicas conta
ao espelho enegrecido que um dia te viu
diferente uma história de frios
enganos e a deixa marcada 
lá onde a esponja não alcança.

A tua legenda, Dora!
Mas já está escrita naqueles olhares
de homens que ostentam suíças
altaneiros e frágeis nos grandes
retratos de ouro e retorna
em cada acorde que exala
a harmônica desafinada no dia
que escurece, cada vez mais tarde.

Está escrito lá. O sempre-verde
louro da cozinha
resiste, a voz não muda,
Ravena está longe, destila veneno 
uma fé implacável.
Que quer de ti? Ninguém entrega
voz, legenda ou destino...
Mas é tarde, cada vez mais tarde.
.

DORA MARKUS

I

Fu dove il ponte di legno
mette a Porto Corsini sul mare alto
e rari uomini, quasi immoti, affondano
o salpano le reti. Con un segno
della mano additavi all'altra sponda
invisibile la tua patria vera.
Poi seguimmo il canale fino alla darsena
della città, lucida di fuliggine,
nella bassura dove s'affondava
una primavera inerte, senza memoria.

E qui dove un'antica vita
si screzia in una dolce
ansietà d'Oriente,
le tue parole iridavano come le scaglie
della triglia moribonda.

La tua irrequietudine mi fa pensare
agli uccelli di passo che urtano ai fari
nelle sere tempestose:
è una tempesta anche la tua dolcezza,
turbina e non appare.
E i suoi riposi sono anche più rari.
Non so come stremata tu resisti
in quel lago
d'indifferenza ch'è il tuo cuore; forse
ti salva un amuleto che tu tieni
vicino alla matita delle labbra,
al piumino, alla lima: un topo bianco
d'avorio; e così esisti!


II

Ormai nella tua Carinzia
di mirti fioriti e di stagni,
china sul bordo sorvegli
la carpa che timida abbocca
o segui sui tigli, tra gl'irti
pinnacoli le accensioni
del vespro e nell'acque un avvampo
di tende da scali e pensioni.

La sera che si protende
sull'umida conca non porta
col palpito dei motori
che gemiti d'oche e un interno
di nivee maioliche dice
allo specchio annerito che ti vide
diversa una storia di errori
imperturbati e la incide
dove la spugna non giunge.

La tua leggenda, Dora!
Ma è scritta già in quegli sguardi
di uomini che hanno fedine
altere e deboli in grandi
ritratti d'oro e ritorna
ad ogni accordo che esprime
l'armonica guasta nell'ora
che abbuia, sempre più tardi.

È scritta là. Il sempreverde
alloro per la cucina
resiste, la voce non muta,
Ravenna è lontana, distilla
veleno una fede feroce.
Che vuole da te? Non si cede
voce, leggenda o destino.
Ma è tardi, sempre più tardi.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

A TORMENTA
Les princes n'ont point d'yeux pour voir grand's merveilles, 
Leurs mains ne servent plus qu'à nous persécuter....                                                 
                                                            AGRIPPA D'AUBIGNÉ, À Dieu

A tormenta que despeja sobre as folhas
duras da magnólia os longos trovões 
de março e o granizo,

(os sons de cristal te surpreendem 
no teu ninho noturno, do ouro
que se apagou dos mognos, no gravado 
dos livros encadernados, arde ainda
um grão de açúcar na concha
de tuas pálpebras)

o raio que candila
árvores e muros e as surpreende naquela
eternidade do instante –  mármore maná
e destruição – que em ti levas esculpida
por teu mal e que mais que o amor 
a mim te une, estranha irmã, –

e logo o golpe  seco, os sistros, o fremir 
dos tamborins na cova lôbrega,
o tropear do fandango, e por cima de tudo
algum gesto que se perde...
                                             Como quando
te voltaste e com a mão, livre
a testa da nuvem dos cabelos,

me saudaste – para sumir no escuro.
.

LA BUFERA
Les princes n'ont point d'yeux pour voir grand's merveilles, 
Leurs mains ne servent plus qu'à nous persécuter....                                                 
                                                            AGRIPPA D'AUBIGNÉ, À Dieu

La bufera che sgronda sulle foglie 
dure della magnolia i lunghi tuoni 
marzolini e la grandine,

(i suoni di cristallo nel tuo nido 
notturno ti sorprendono, dell'oro 
che s'è spento sui mogani, sul taglio 
dei libri rilegati, brucia ancora 
una grana di zucchero nel guscio 
delle tue palpebre)

il lampo che candisce 
alberi e muro e li sorprende in quella 
eternità d'istante – marmo manna 
e distruzione – ch'entro te scolpita 
porti per tua condanna e che ti lega 
– più che l'amore a me, strana sorella, –

e poi lo schianto rude, i sistri, il fremere 
dei tamburelli sulla fossa fuia, 
lo scalpicciare del fandango, e sopra 
qualche gesto che annaspa...
                                               Come quando 
ti rivolgesti e con la mano, sgombra 
la fronte dalla nube dei capelli, 

mi salutasti – per entrar nel buio.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

DOIS NO CREPÚSCULO 
Entre tu e eu flui no mirante
uma claridade subaquática que deforma
o perfil das colinas e o teu rosto.
Contra um desfocado fundo, recorta-se
cada um de teus gestos; chega sem deixar rastro,
e desaparece, no espaço que preenche
cada sulco e se fecha quando passas:
tu comigo aqui, neste ar que desce
para selar
o som das pedras.
                                E eu, subjugado
às forças  que pesam em volta, sucumbo
ao sortilégio de não reconhecer
nada mais de mim fora de mim: se ergo
apenas o braço, muda-se
o ato, estilhaçado cristal, desconhecida
e desbotada sua memória, e o gesto
já não me pertence;
se falo, escuto atônito aquela voz
descer até  seus registros mais remotos
ou apagada no ar que não a sustenta.

Assim até a hora que resiste ao último
espasmo do dia
dura o desvario; depois um sopro
reanima os vales num frenético
movimento e retira da folhagem um agudo
som que se dispersa
em breves baforadas e as primeiras luzes
desenhar os cais.
                              ...as palavras
caem leves entre nós. Olho-te
num suave revérbero. Não sei
se te conheço; sei que nunca estive tão apartado
de ti como neste tardio
retorno. Poucos instantes queimaram
tudo de nós: tudo menos duas faces, duas
máscaras que, com esforço, se entalham
um sorriso.
.

DUE NEL CREPUSCOLO
Fluisce fra te e me sul belvedere
un chiarore subacqueo che deforma
col profilo dei colli anche il tuo viso.
Sta in un fondo sfuggevole, reciso
da te ogni gesto tuo; entra senz’orma,
e sparisce, nel mezzo che ricolma
ogni solco e si chiude sul tuo passo:
con me tu qui, dentro quest’aria scesa
a sigillare
il torpore dei massi.
                                 Ed io riverso
nel potere che grava attorno, cedo
al sortilegio di non riconoscere
di me più nulla fuor di me; s’io levo
appena il braccio, mi si fa diverso
l’atto, si spezza su un cristallo, ignota
e impallidita sua memoria, e il gesto
già più non m’appartiene;
se parlo, ascolto quella voce attonito,
scendere alla sua gamma più remota
o spenta all’aria che non la sostiene.

Tale nel punto che resiste all’ultima
consunzione del giorno
dura lo smarrimento; poi un soffio
risolleva le valli in un frenetico
moto e deriva dalle fronde un tinnulo
suono che si disperde
tra rapide fumate e i primi lumi
disegnano gli scali.
                              ... le parole
tra noi leggere cadono. Ti guardo
in un molle riverbero. Non so
se ti conosco; so che mai diviso
fui da te come accade in questo tardo
ritorno. Pochi istanti hanno bruciato
tutto di noi: fuorchè due volti, due
maschere che s’incidono, sforzate,
di un sorriso.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

A ENGUIA
A enguia, a sereia
dos mares frios que deixa o Báltico
para alcançar os nossos mares,
nossos estuários, os rios
que sobe pelas profundezas, contra a enxurrada,
de braço em braço e depois
de veio em veio, cada vez mais delgados,
sempre mais dentro, sempre mais perto do coração 
da rocha, filtrando-se
por regos de lama até que um dia
uma luz desfechada dos castanheiros
acende sua chispa num poço d`água parada,
nas valas que se despejam
dos flancos do Apenino, na Romagna;
a enguia, tocha, açoite,
flecha de Amor na terra
que só as nossas ravinas ou os ressecados 
regatos pirenaicos reconduzem
a paraísos de fecundação;
a verde alma que procura
vida onde só 
reina aridez e a desolação,
a centelha que diz:
tudo começa quando tudo parece
carbonizar-se, galho enterrado;
breve arco-íris, íris gêmea
daquela que teus cílios encastoam 
e que fazes brilhar intacta entre os filhos
do homem, afundados no teu lamaçal, podes tu
não crê-la irmã?
.

L`ANGUILLA
L’anguilla, la sirena
dei mari freddi che lascia il Baltico
per giungere ai nostri mari,
ai nostri estuari, ai fiumi
che risale in profondo, sotto la piena avversa,
di ramo in ramo e poi
di capello in capello, assottigliati,
sempre più addentro, sempre più nel cuore
del macigno, filtrando
tra gorielli di melma finché un giorno
una luce scoccata dai castagni
ne accende il guizzo in pozze d’acquamorta,
nei fossi che declinano
dai balzi d’Appennino alla Romagna;
l’anguilla, torcia, frusta,
freccia d’Amore in terra
che solo i nostri botri o i disseccati
ruscelli pirenaici riconducono
a paradisi di fecondazione;
l’anima verde che cerca
vita là dove solo
morde l’arsura e la desolazione,
la scintilla che dice
tutto comincia quando tutto pare
incarbonirsi, bronco seppellito;
l’iride breve, gemella
di quella che incastonano i tuoi cigli
e fai brillare intatta in mezzo ai figli
dell’uomo, immersi nel tuo fango, puoi tu
non crederla sorella?
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

XÊNIA I

1

Querido pequeno inseto
que chamavam de mosca, não sei por quê, 
esta tarde quase ao escurecer
enquanto lia o Segundo Livro de Isaías 
reapareceste ao meu lado,
mas não tinhas óculos, 
não podias me ver
nem podia eu sem aquela centelha 
reconhecer-te no escuro.

2

Sem óculos nem antenas 
pobre inseto que asas
só tinhas na imaginação,
uma bíblia em frangalhos e ainda por cima tão pouco 
confiável, o negro da noite,
um relâmpago, um trovão e depois
nem mesmo a tempestade. Quem sabe, 
te foste cedo demais sem mesmo uma 
palavra? Mas é ridículo
pensar que ainda tivesses lábios.

3

No Saint-James em Paris terei que pedir 
um quarto "de solteiro". (Não gostam
de hóspedes desacompanhados). E a mesma coisa também
na falsa Bizâncio de teu hotel 
veneziano; para buscar logo depois 
a cabine das telefonistas,
tuas amigas de sempre; e repartir, 
gasta a corda,
o desejo de reaver-te, fosse
num gesto só ou em algo habitual.

4

Havíamos estudado para o além
um assobio, uma senha de reconhecimento. 
Experimento reproduzi-lo na esperança
de já estarmos todos mortos sem saber.

5

Nunca cheguei a saber se eu era 
o teu cão fiel e catarrento
ou tu o meu.
Para os outros, não, eras um inseto míope 
perdido no blablablá
da grã-finagem. Eram ingênuos 
aqueles espertos e não sabiam serem 
eles o teu joguete:
mesmo no escuro vistos e desmascarados 
por um teu senso infalível, por teu
radar de morcego.

6

Jamais pensaste em deixar traços 
de ti em prosa ou verso. E este
foi o teu encanto - e mais tarde meu desgosto
[de mim mesmo.
Foi também o meu pavor: de vir a ser 
relegado por ti ao limo coaxante
dos neoteroi.

7

Pena de si mesmo, angústia e pena infinita
de quem adora o aqui embaixo e espera e desespera 
de um outro... (Quem ousa dizer um outro mundo?).
....................................................................................
"Estranha pena..." (Azucena, Segundo ato).

8

Tua palavra tão sofrida e desprotegida 
resta a única que me sacia.
Mas mudou-se o acento, é outra sua cor. 
Me habituarei a ouvir-te ou a decifrar-te 
no tique-taque do telex,
na fumaça volúvel dos meus charutos 
de Brissago.

9

Ouvir era tua única maneira de ver.
A conta do telefone se reduziu a bem pouco.

10

"Rezava?". "Sim, pedia a Santo Antônio 
que a fizesse encontrar
sombrinhas perdidas e outros objetos 
do guarda-roupa de São Hermes".
"Só por isso?". "Também pelos Seus mortos 
e por mim".
"É o suficiente" disse o padre.

11

Recordar o teu choro (e o meu dobrado)
não chega a apagar o espocar de tuas risadas.
Eram como a antecipação de um Juízo Universal privado, 
só teu, nunca ocorrido infelizmente.

12

A primavera desemboca com seu passo de toupeira. 
Não mais te ouvirei falar de antibióticos 
venenosos, da agarra de teu fêmur,
dos bens de fortuna de que um cobiçoso omisso 
te depenou.

A primavera avança com suas névoas untuosas, 
com suas longas luzes, suas horas insuportáveis. 
Não mais te ouvirei lutar contra o regurgitar
do tempo, dos fantasmas, dos problemas logísticos 
do Verão.

13

Teu irmão morreu cedo: tu eras
a menina despenteada que me olha 
"fazendo pose" no oval de um retrato. 
Ele escrevia músicas inéditas, inauditas, 
hoje enterradas num baú ou quem sabe
trituradas. Talvez as reinvente
alguém sem se dar conta, se o que está escrito está escrito.
Eu o queria sem havê-lo conhecido. 
Além de ti ninguém o recordava. 
Não fiz pesquisas: agora é inútil. 
Depois de ti tornei-me o único
para quem ele existiu. Mas é possível,
tu o sabes, amar uma sombra, sombras nós mesmos.

14

Dizem que a minha
é uma poesia de impertinência. 
Mas se era tua pertencia a alguém:
a ti que não és mais forma e sim essência. 
Dizem que no mais alto grau a poesia 
exalta o Todo em fuga,
negam que a tartaruga
seja mais rápida que o raio.
Tu, apenas tu, sabias que o movimento 
não difere da estase,
que o vazio é o pleno e o céu limpo 
a mais difusa das nuvens.
Desta forma compreendo melhor tua longa viagem 
prisioneira do gesso e das bandagens.
No entanto não me dá sossego
saber que sós ou juntos somos uma só coisa.
.

XENIA I

1

Caro piccolo insetto
che chiamavano mosca non so perche,
stasera quasi al buio
mentre leggevo il Deuteroisaia
sei ricomparsa accanto a me,
ma non avevi occhiali,
non potevi vedermi
ne potevo io senza quel luccichio
riconoscere te nella foschia.

2

Senza occhiali, ne antenne,
povero insetto, che ali
avevi solo nella fantasia,
una bibbia sfasciata ed anche poco
attendibile, il nero della notte,
un lampo, un tuono e poi 
neppure la tempesta. Forse che
te n'eri andata cosi presto senza
parlare? Ma e ridicolo 
pensare che tu avessi ancora labbra

3

Аl Saint James di Parigi dovro chiedere
una camera 'singola' (non amano
i clienti spaiati). E cosi pure
nella falsa Bisanzio del tuo albergo
veneziano; per poi cercare subito
lo sgabuzzino delle telefoniste,
le tue amiche di sempre; e ripartire,
esaurita la carica meccanica,
il desiderio di riaverti, fosse
pure in un solo gesto o un'abitudine.

4

Аvevamo studiato per l'aldila
un fischio, un segno di riconoscimento.
Mi provo a modularlo nella speranza
che tutti siamo gia morti senza saperlo.

5

Non ho mai capito se io fossi
il tuo cane fedele e incimurrito
o tu lo fossi per me.
Per gli altri no, eri un insetto miope
smarrito nel blabla
dell'alta societa. Erano ingenui
quei furbi e non sapevano
di essere loro il tuo zimbello:
di esser visti anche al buio e smascherati
da un tuo senso infallibile, dal tuo
radar di pipistrello.

6

Non hai pensato mai di lasciar traccia
di te scrivendo prosa o versi. E fu
il tuo incanto - e dopo la mia nausea di me.
Fu pure il mio terrore: di esser poi
ricacciato da te nel gracidante
limo dei neoteroi.

7

Pieta di se, infinita pena e angoscia
di chi adora il quaggiu e spera e dispera
di un altro... (Chi osa dire un altro mondo?). 
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
'Strana pieta...' (Azucena, atto secondo).

8

La tua parola cosi stenta e imprudente
resta la sola da cui mi appago.
Ma e mutato l'accento, altro il colore.
Mi abituero a sentirti o a decifrarti
nel ticchettio della telescrivente,
nel volubile fomo dei miei sigari
di Brissago.

9

Ascoltare era il solo tuo modo di vedere.
Il conto del'telefono s'e ridotto a ben poco

10

"Pregava?". "Si, pregava Sant'Antonio
perche fa ritrovare 
gli ombrelli smarriti e altri oggetti
del guardaroba di Sant'Ermete".
"Per questo solo?". "Anche per i suoi morti
e per me".
"E sufficiente" disse il prete.

11

Ricordare il tuo pianto (il mio era doppio)
non vale a spegner lo scoppio delle tue risate,
Erano come l'anticipo di un tuo privato
Giudizio Universale, mai accaduto purtroppo.

12

La primavera sbuca col suo passo di talpa.
Non ti sentiro piu parlare di antibiotici
Velenosi, del chiodo del tuo femore,
dei beni di fortuna che t'ha un occhiuto omissis
spennacchiati.

La primavera avanza con le sue nebbie grasse,
Con le sue luci lunghe, le sue ore insopportabili.
Non ti sentiro piu lottare col rigurgito
del tempo, dei fantasmi, dei problemi logistici
dell' Estate.

13

Tuo fratello mori giovane, tu eri
La bimba scarrufata che mi guarda
'in posa' nell'ovale di un ritratto.
Scrisse musiche inedite, inaudite,
Oggi sepolte in un baule o andate
Al macero. Forse le riinventa 
Qualcuno inconsapevole, se cio ch'e scritto e scritto.
L'amavo senza averlo conosciuto.
Fuori di te nessuno lo ricordava.
Non ho fatto ricerche: ora e inutile.
Dopo di te sono rimasto il solo
per cui egli e esistito. Ma e possibile,
lo sai, amare un ombra, ombre noi stessi.

14

Dicono che la mia
sia una poesia d'innapartenenza.
Ma s'era tua, era di qualcuno, 
di te, che non sei piu forma, ma essenza. 
Dicono che la poesia al suo culmine 
magnifica il Tutto in fuga 
negano, che la testuggine 
sia piu veloce di un fulmine. 
Tu sola sapevi, che il moto
non e diverso dalla stasi,
che il vuoto e il pieno e il sereno
e la piu diffusa delle nubi.
Cosi meglio intendo il tuo lungo viaggio
Impriggionata tra le bende e le gessi.
Eppure non mi da riposo
sapere che in uno o in due noi siamo una sola cosa.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

O POSITIVO
Prosternemo-nos quando se levanta o sol
e cada um encara a sua Meca.
Se algo ainda nos resta, um simples sim,
digamo-lo, mesmo de olhos fechados.
.

IL POSITIVO
Prosterniamoci quando sorge il sole
e si volga ciascuno alla sua Mecca.
Se qualcosa ci resta, almeno un si
diciamolo, anche se con occhi chiusi.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

O NEGATIVO
Gemas de um mesmo ovo os jovens entram
nas arenas da vida. Vênus
os conduz, Mercúrio os divide,
Marte o resto fará. Não brilharão
muito tempo sobre a Acrópole as luzes
desta primavera ainda tímida.
.

IL NEGATIVO
Tuorli d'un solo uovo entrano i giovani
nelle palestre della vita. Venere
li conduce, Mercurio li divide,
Marte farà il resto. Non a lungo
brillerà qualche luce sulle Acropoli
di questa primavera ancora timida
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

DEPOIS DA CHUVA
Sobre a areia molhada surgem ideogramas 
de pés de galinha. Olho para trás 
mas não vejo nem santuário nem asilo de aves. 
Terá passado um ganso cansado, ou talvez manco. 
Não saberia decifrar aquela linguagem 
ainda que fosse chinês. Uma simples aragem 
a apagará. Não é verdade
que a Natureza seja muda. Fala ao deus-dará 
e a única esperança é que não se ocupe 
muito da gente.
.

DOPOPIOGGIA
Sulla rena bagnata appaiono ideogrammi
A zampa di gallina. Guardo addietro
Ma non vedo rifugi o asili di volatili.
Sarà passata un’anatra stanca, forse azzoppata.
Non saprei decrittare quel linguaggio
Se anche fossi cinese. Basterà un soffio
Di vento a scancellarlo. Non è vero 
Che la Natura sia muta. Parla a vanvera
E la sola speranza è che non si occupi
Troppo di noi.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

Cobri de alpiste a sacada
para o concerto da madrugada de amanhã.
Apaguei a luz e esperei pelo sono.
E já na passarela se inicia
o desfile dos mortos grandes e pequenos
que conheci em vida. É difícil distinguir
quem eu gostaria ou não que
regressasse entre nós. Lá onde estão
parecem inalteráveis por um algo mais
de decomposição sublimada. Nós fizemos
o melhor de nossos esforços para piorar o mundo.
.

Ho sparso di becchime il davanzale
per il concerto di domani all'alba.
Ho spento il lume e ho atteso il sonno.
E sulla passerella già comincia
la sfilata dei morti grandi e piccoli
che ho conosciuto in vita. Arduo distinguere
tra chi vorrei e non vorrei che fosse
tornato tra noi. Là dove stanno
sembrano inalterabili per un di più
di sublimata corruzione. Abbiamo
fatto del nostro meglio per peggiorare il mondo.
Eugenio Montale, em "Poesias: Eugenio Montale". [seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti]. Edição bilíngue. Rio de Janeiro: Record, 1997.

§

Eugenio Montale - 2002

[POEMA 5]

APENAS UM VÍCIO
Bufões transvestidos de poetas
burocráticos arrogantes,
pedantes pregoeiros
vós sois os porta-flâmulas
brandindo insígnias desbotadas.
Ser poeta não é um título de glória.
Apenas um vício natural.
Um fardo que por medo
amarramos mal.
.

È SOLO UN VIZIO
Fliaci travestiti da poeti
burocrati arroganti, 
pedanti imbonitori
siete voi i vessilliferi: 
portatori d'insegne sbiadite.
L'esser poeti non è un vanto.
È solo un vizio di natura.
Un peso che s'ingroppa
con paura.
- Eugenio Montale, em "Diário póstumo – Eugenio Montale". [tradução, introdução e notas de Ivo Barroso]. Rio de Janeiro: Record. 2000.

§

[POEMA 13]

MORTAIS
Não possuímos a cognição
da futuração.
Nossa previsão é limitada.
Quanto ao livre-arbítrio
faço algumas exceções.
Não há bifurcação, mas
percurso obrigatório.
.

MORTALI
Noi non abbiamo cognizione
della futurizione.
La nostra previsione è limitata.
Quanto al libero arbitrio
farei qualche eccezione.
Non vi è biforcazione, ma
percorso obbligato.
- Eugenio Montale, em "Diário póstumo – Eugenio Montale". [tradução, introdução e notas de Ivo Barroso]. Rio de Janeiro: Record. 2000.

§

[POEMA 25]

A FELICIDADE
Ontem senti que o inverno me havia 
reservado uma alegre surpresa. 
Revelavas meus pensamentos em voz alta. 
— E se a vida fosse um mistério vão? 
— Fica em teu exílio, não sejas cruel 
para com aquele vago sentido de esperança 
que é tudo que nos resta. Coisa diversa 
é a felicidade. Existe, talvez, 
mas não a conhecemos.
.

LA FELICITÀ
Ieri sentii che l'inverno mi aveva
riservata una sorpresa lieta.
Svelavi ad alta voce i miei pensieri.
— E se la vita fosse un mistero vano?
— Resta nel tuo eliso, non essere crudele
verso quel vago senso di speranza
che a noi, solo, rimane. Ben altro
è la felicità. Esiste, forse,
ma non la conosciamo.
- Eugenio Montale, em "Diário póstumo – Eugenio Montale". [tradução, introdução e notas de Ivo Barroso]. Rio de Janeiro: Record. 2000.

§

[POEMA 38]

É difícil viver
sem fé alguma;
cada dia a notícia 
de um massacre.  E nas colisões
cotidianas, descobrimos o sombrio
sinal do destino.
Mesmo os zimbórios parecem
tetos baixos, mas uma nota,
um frêmito inesperado
entre as trepadeiras, ou um
desconhecido que rebate a bola
e a partida recomeça.
É a batalha da sobrevivência.
.

É difficile vivere
senza fede alcuna;
ogni giorno una notizia
d’un massacro.  E negli incastri
quotidiani, scorgiamo Il cupo
segno del destino.
Anche le guglie sembrano
tetti bassi, ma una nota
un guizo inaspettato
tra i rampicanti, o un ignoto
battitore che rilancia la palla
e la partita ricomincia.
È la battaglia della sopravvivenza.
- Eugenio Montale, em "Diário póstumo – Eugenio Montale". [tradução, introdução e notas de Ivo Barroso]. Rio de Janeiro: Record. 2000.

§

[POEMA 43]

Somos fantoches manipulados por mãos hostis.
Não adianta ver as injustiças.
Tudo agora ruiu. Até o prodígio
se esfarela.  Os olhos estão cansados.
O último tempo da vida foi vivido.
Só nos resta a magia de um vôo
desta terra fulminada para
um outro antro, no qual afundaremos
para depois emergir com contornos esbatidos.
.

Siamo burattini mossi da mani ostili.
Non serve vedere le ingiustizie.
Tutto è ormai diruto.  Si sfalda
anche  il  prodígio.  Gli occhi sono stanchi.
L’ultimo tempo del vivere è vissuto.
Resta solo l’incantesimo d’un volo
da questa terra folgorata verso
un altro antro, nel quale affonderemo
per poi emergere con contorni sfumati.
- Eugenio Montale, em "Diário póstumo – Eugenio Montale". [tradução, introdução e notas de Ivo Barroso]. Rio de Janeiro: Record. 2000.

§

[POEMA 53]

A noite que se insinua entre os refolhos
mais escuros, compreendeu o segredo
do tempo, do espaço que divide.
A verdade está talvez nessa fímbria
que se adelgaça, no toco de cigarro,
ressurge naquele fundo de garrafa
abandonado à margem da ressaca.
O resto não passa mesmo de um pretexto
para sentir-se vivo e menos só.
.

La notte che s’insinua tra le pieghe
più oscure, ha capito l’arcano
del tempo, dello spazio che divide.
La verità è forse in questo lembo
che s’assottiglia, nel mozzicone spento,
riappare in quel fondo di bottiglia
abbandonato lungo la battigia.
Il resto, altro non è che un pretesto
per sentirsi vivi e meno soli. 
- Eugenio Montale, em "Diário póstumo – Eugenio Montale". [tradução, introdução e notas de Ivo Barroso]. Rio de Janeiro: Record. 2000.

§

[POEMA 77]

Um dia não muito longe
assistiremos à colisão
dos planetas e o céu diamantado
acabará submerso em escombros.
Então colheremos flores rutilantes
e estrelas de néon.
Olha, eis o sinal, um fogo 
acende-se no céu, chocam-se 
Júpiter e Órion e no terrível
estampido onde acabou o homem?
Certo que basta um sopro neste mundo
em que vivemos para que ele acabe.
Ficará talvez um grito, o da 
terra que não quer perecer.
.

Un giorno non lontano
assisteremo alla collisione
dei pianeti e il diamantato cielo
finirà sommerso in avvalli.
Allora coglieremo rutilanti fiori
e stelle al neon.
Guarda, ecco il segnale, un fuoco
s’appicca in cielo, si scontrano
Giove con Orione e nel terribile
frastuono dov’è finito l’uomo?
Certo basta un soffio al mondo
in cui viviamo per scomparire.
Rimarrà forse un grido, quello
della terra che non vuole finire.
- Eugenio Montale, em "Diário póstumo – Eugenio Montale". [tradução, introdução e notas de Ivo Barroso]. Rio de Janeiro: Record. 2000.

§

[POEMA 81]

Falarás de mim com o mesmo
fervor que te anima quando
recordas o avô já morto.
A morte não é o sono,
é um país do qual não se retorna;
lenta ressoa e depois chega,
é a hora, e de improviso é tua vez
de desaparecer entre seixos e terra.
.

Parlerai di me con lo stesso
fervore che t'accende quando
ricordi il nonno scomparso.
La morte non è il sonno,
è un lido dal quale non si torna;
lenta risuona e poi giunge,
è l'ora, e d'improvviso ti tocca
di sparire tra sassi e terra.
- Eugenio Montale, em "Diário póstumo – Eugenio Montale". [tradução, introdução e notas de Ivo Barroso]. Rio de Janeiro: Record. 2000.

§

FORTUNA CRÍTICA DE EUGENIO MANTALE
Eugenio Montale
CONTINI, Gianfranco. Uma longa fidelidade. Escritos sobre Eugenio Montale. [tradução Eduardo Sterzi de Carvalho Júnior]. São Paulo: Cosac Naify, 2010.  FARIAS, Maria Eneida Victor (tradução). Poemas de Eugenio Montale (1896-1981). Disponível no link. (acessado em 2.8.2016).
GASPARI, Silvana de.. confini nella poesia di eugenio montale e dante alighieri. In: patricia peterle e silvana de gaspari. (Org.). archivi poetici: disgregazione e potenzialità del novecento italiano. 1ª ed., rio de janeiro: 7 letras, 2015, v. 1, p. 89-98.
GASPARI, Silvana de.. confins na poesia de eugenio montale e dante alighieri. In: patricia peterle e silvana de gaspari. (Org.). arquivos poéticos: desagregação e potencialidades do novecento italiano. 1ª ed., rio de janeiro: 7letras, 2015, v. 1, p. 93-102.
GHIRARDI, Pedro Garcez. Poesia e diálogo: “ocasiões” que resistem. CEMOrOc-Feusp / IJI-Univ. do Porto, International Studies on Law and Education 15 set-dez 2013. Disponível no link. (acessado em 2.8.2016).
LACORTE, Rocco. Note per una ricerca sulla cultura e il linguaggio in Eugenio Montale. (Dissertação Mestrado em Romance Languages and Literatures). University of Notre Dame, UND, Estados Unidos, 2001. 
MAURO, Sergio.. Antologia de Montale peca pela seleção de poemas. O Estado de S. Paulo, São Paulo, v. 11/97, p. 3-3, 1997.
MAURO, Sergio.. A Antipoesia do Genovês Eugenio Montale. O Estado de S. Paulo, São Paulo, v. 12/96, p. 5-5, 1996.
MAURO, Sergio.. Montale-poeta necessário. Araraquara: Revista La Ricerca n. 11, 1996.
MÉLEGA, Marisa Pelella. Eugênio Montale – Criatividade Poética e Psicanálise. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
MÉLEGA, Maria Pelella. Eugênio Montale: um estudo da criatividade á luz da psicanálise. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade de São Paulo, USP, 1998.
PARENTE CUNHA, Helena Gomes.. Breve notícia de Eugenio Montale. Revista da Academia Brasileira de Literatura, Rio de Janeiro, v. 1, p. 61-63, 1985.
SILVA, Monique Bione. A melancolia na poesia de Carlos Drummond de Andrade e Eugenio Montale à sombra dantesca. (Dissertação Mestrado em Literatura). Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, 2016.
SILVA, Monique Bione. No limite da palavra: percursos pela poesia italiana. Mutatis Mutandis (Medellin. 2008), v. 9, p. 182-185, 2016.
SISCAR, Marcos Antonio.. Eugenio Montale. In: José Paulo Paes. (Org.). Transverso. Campinas: Editora da Unicamp, 1988, v. , p. 93-99.
SOUZA, Rubia Nara de.. Confini nella poesia di Eugenio Montale e Dante Alighieri. Rio de Janeiro - RJ: Editora 7 Letras, 2015. (Tradução/Artigo).
SOUZA, Rubia Nara de.. Montale e Drummond: possibili proiezioni. Rio de Janeiro - RJ: Editora 7 Letras, 2015. (Tradução/Artigo).
SUSSEKIND, Maria Flora.. Montale e a Apóstrofe. Jornal do Brasil, Idéias - RJ, p. 5 - 5, 29 ago. 1998.
TORRICO, Francesca Barraco.. Eugenio Montale: Una voce di là dal muretto. Comunit Italiana, Rio de Janeiro, v. 74, n.8, p. 4-5, 2003.
TORRICO, Francesca Barraco.. Eugenio Montale: al di là del muro. Revista Quaderni, São Paulo, p. 123-134, 2003.
TORRICO, Francesca Barraco.. Eugenio Montale: una voce di là dal muretto. Mosaico - Comunità Italiana, Rio de Janeiro, p. 4 - 5, 1 ago. 2003.


AMIZADES LITERÁRIAS E FAMÍLIA

Eugenio Montale al termine della cerimonia di consegna dei premi Nobel a
Stoccolma, 10 dicembre 1975

Eugenio Montale, Alberto Moravia e Pier Paolo Pasolini durante il premio letterario

Eugenio Montale, Luigi ed Eva Rognoni al Lido di Venezia: senza data ma 1953

Cesare Angelini com Eugenio Montale

Drusilla Tanzi com Eugenio Montale
Eugenio Montale e Gina Tiossi, 1975.

DESENHOS DE EUGENIO MONTALE
Disegno di Montale tirato in sanguigna nel 1976

Disegno di Montale tirato in sanguigna nel 1976


Disegno di Montale tirato in sanguigna nel 1976


Disegno di Montale tirato in sanguigna nel 1976

Disegno di Montale tirato in sanguigna nel 1976

Disegno di Montale
Ó VIDA
Ó vida, não te peço lineamentos 
fixos, vultos plausíveis ou possessos. 
Sinto que no teu giro inquieto o mesmo 
sabor que tem o mel tem o absinto. 

O coração propenso todo ao vil 
raro se afeta com pressentimentos. 
Tal como soa às vezes no silêncio 
do descampado um tiro de fuzil. 
.

MIA VITA
Mia vita, a te non chiedo lineamenti 
fissi, volti plausibili o possessi. 
Nel tuo giro inquieto ormai lo stesso 
sapore han miele e assenzio. 

Il cuore che ogni moto tiene a vile 
raro è squassato da trasalimenti. 
Così suona talvolta nel silenzio 
della campagna un colpo di fucile.
- Eugenio Montale, em "Diário póstumo – Eugenio Montale". [tradução, introdução e notas de Ivo Barroso]. Rio de Janeiro: Record. 2000.


Eugenio Montale por Gabriele Donelli (Set.1997)
OUTRAS FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISAS


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© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske em colaboração com José Alexandre da Silva


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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Eugenio Montale - poeta italiano. Templo Cultural Delfos, agosto/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
** Página atualizada em 4.8.2016.




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