Arthur Rimbaud - poeta francês
"Um dia assentei a beleza em meus joelhos e a achei amarga."
- Arthur Rimbaud
Arthur Rimbaud, nascido no dia 20 de outubro de 1854, em Charleville, comuna francesa, Jean-Nicolas Arthur Rimbaud foi um poeta influente que escreveu praticamente todas as suas obras primas entre os 15 e os 18 anos. Segundo a opinião de críticos literários, o poeta francês é considerado precursor do surrealismo e também um pós-romântico.
Começou a revelar seu talento para a poesia durante a adolescência e, devido a seu temperamento rebelde, acabou fugindo de casa várias vezes durante a juventude. Ao completar 17 anos, muda-se para Paris com o apoio do poeta Paul Verlaine. Rimbaud tinha enviado sua obra “Soneto de Vogais” para Verlaine, que, um ano depois, deixa a família e começa a viver junto de Rimbaud em Londres. A relação de amor e ódio entre os dois chega ao fim quando Rimbaud é ferido por Verlaine com uma bala no pulso.
Rimbaud, talvez, tenha sido um dos primeiros poetas a viver sua própria poesia. Influenciou autores da geração perdida (Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Ezra Pound, Sherwood Anderson) e os beatniks dos anos 50 (Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William Burroughs).
Um dos apreciadores da obra de Rimbaud foi Henry Miller, escritor americano subversivo dos anos 30 que também viveu em Paris. “Até que o velho mundo morra de vez, o indivíduo 'anormal' será cada vez mais a norma. O novo homem se encontrará quando a guerra e a coletividade entre o indivíduo cessar. Veremos então o tipo de homem em sua plenitude e esplendor", disse Miller sobre Rimbaud.
Rimbaud, desenho à lápis feito por Paul Verlaine (1872) |
Entre suas principais obras estão “Uma Estação no Inferno”, de 1873 e “Iluminações”, de 1886. As duas abrangem novidades estéticas na maneira de escrever literatura com uma linguagem mais libertária, sendo que as idéias, nas obras de Rimbaud, nasciam da sinergia entre o verbo e tudo que os sentidos interpretavam. Aos 20 anos de idade, Rimbaud abandona a literatura e retoma a vida sem rumo que levava quando adolescente.
Começa a trabalhar com comércio de café na Etiópia, chega a fazer parte do Exército das colônias holandesas e faz tráfico de armas em Ogaden. Ainda visita o Chipre e Alexandria. Sua caminhada termina quando tem a perna amputada devido a um câncer no joelho. Após este episódio, morre no dia 10 de novembro de 1891 em Marselha, após anos de agonia.
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* Fonte: ARAUJO, Felipe. Arthur Rimbaud. InfoEscola. Disponível no link. (acessado 25.6.2014).
:: BORGES, Rudinei. A criação verbal de Rimbaud: a palavra selvagem. Revista Parâmetro - cultura e sociedade, 24 de fevereiro, 2011. Disponível no link. (acessado em 24.6.2014).
:: CAVALCANTI, Jardel Dias. Rimbaud, biografia do poeta maldito. Digestivo Cultural (colunas), 10.08.2010. Disponível no link. (acessado em 24.6.2014).
“O poeta se faz de vidente por meio de um longo, imenso e refletido desregramento de todos os sentidos”
- Rimbaud
Arthur Rimbaud - poeta francês
OBRA DE ARTHUR RIMBAUD
:: Une saison en enfer. Alliance typographique M.J. Poot,, Bruxelles, 1873.
:: Les illuminations. Edition originale de La Vogue, 1886.
:: Reliquaire, poésies. Préface de Rodolphe Darzens, L. Genonceaux éd., Paris, 1891.
:: Rimbaud: poésies complètes. Préface de Paul Verlaine, et notes de l'editeur. Léon Vanier libraire-éd., Paris, 1895. Disponível online BN/FR. (acessado em 26.6.2014).
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:: Oeuvres. [Édite par Paterne Berrichon].. París: Éditeur Société du Mercure de France, 1898. Disponível online BN/FR. (acessado em 26.6.2014).
:: Poesies: edition critique. [introduction et notes par H. de Bovillane de Lacoste]. Paris/Franca: Mercure de France, 1947, 261p.
:: Poésies complètes. Paris: Librairie Générale Française, 2009.
Rimbaud - obra publicada no Brasil
Arthur Rimbaud, por Pedro Covo |
:: Uma temporada no inferno e Iluminações. [introdução, tradução e notas Lêdo Ivo]. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1957; Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 2ª ed., 1982; 3ª ed., 1985; 4ª ed., 1993; 2004.
:: Poesia completa - Arthur Rimbaud. Edição bilíngue. [tradução Ivo Barroso]. Rio de Janeiro: Topbooks, 1994, 392p.; 3ª ed., 2009.
:: Prosa poética. [tradução: Ivo Barroso]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Topbooks, 2007.
:: Iluminuras - gravuras coloridas. [tradução Rodrigo Garcia Lopes e Mauricio Arruda Mendonça]. São Paulo: Editora Iluminuras, 2ª ed., rev. 1996; 3ª ed., 2002.
:: Rimbaud Livre. [Augusto de Campos].. (Coleção Signos). São Paulo: Editora Perspectiva, 2ª ed., 1993; 3ª ed., 2013, 88p.
:: Uma temporada no inferno. [tradução Paulo Hecker Filho]. Porto Alegre: L&PM, 1997; 2006.
:: A correspondência de Arthur Rimbaud.[tradução de Alexandre Ribondi; edição, seleção, Ivan G. Pinheiro Machado]. Porto Alegre: L&PM, 1983, 186p.; 2ª ed., 1991.
:: Uma estadia no inferno; Poemas escolhidos; A carta do vidente. [tradução e organização Daniel Fresnot]. São Paulo: M. Claret, 2005.
:: Iluminações / Uma cerveja no inferno (Illuminations . 1873 / Une saison en enfer . 1873-1875). Arthur Rimbaud. [tradução e notas Mário Cesariny]. Edição Bilíngue Português/ Francês. Edições Chão da Feira, 2021.
:: Um tempo no inferno & Iluminações. Arthur Rimbaud. [tradução Júlio Castañon Guimarães; capa Pedro Inoue]. São Paulo: Editora Todavia, 2021.
POEMAS ESCOLHIDOS DE ARTHUR RIMBAUD - EDIÇÃO BILÍNGUE
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Rimbaud, desenho à lápis feito por Paul Verlaine em seu caderno de notas |
POEMAS ESCOLHIDOS DE ARTHUR RIMBAUD - EDIÇÃO BILÍNGUE
A estrela chorou rosa...
A estrela chorou rosa ao céu de tua orelha.
O infinito rolou branco, da nuca aos rins.
O mar perolou ruivo em tua teta vermelha.
E o Homem sangrou negro o altar dos teus quadris.
**
L'étoile a pleuré rose...
L'étoile a pleuré rose au cœur de tes oreilles,
L'infini roulé blanc de ta nuque à tes reins;
La mer a perlé rousse à tes mammes vermeilles
Et l'Homme saigné noir à ton flanc souverain.
- Arthur Rimbaud. in: "Rimbaud Livre". [introdução e tradução Augusto de Campos]. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2ª ed., 2002, p. 38.
§§
A eternidade
De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.
Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.
Das lides humanas,
Das palmas e vaias,
Já te desenganas
E no ar te espraias.
De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.
Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.
De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai.
**
L'Eternité
Elle est retrouvée.
Quoi ? - L'Eternité.
C'est la mer allée
Avec le soleil.
Ame sentinelle,
Murmurons l'aveu
De la nuit si nulle
Et du jour en feu.
Des humains suffrages,
Des communs élans
Là tu te dégages
Et voles selon.
Puisque de vous seules,
Braises de satin,
Le Devoir s'exhale
Sans qu'on dise : enfin.
Là pas d'espérance,
Nul orietur.
Science avec patience,
Le supplice est sûr.
Elle est retrouvée.
Quoi ? - L'Eternité.
C'est la mer allée
Avec le soleil.
- Arthur Rimbaud [mai/1872]. in: "Rimbaud Livre". [introdução e tradução Augusto de Campos]. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2ª ed., 2002, p. 51.
§§
A uma razão
Um toque de teu dedo no tambor desencadeia todos
os sons e dá início à nova harmonia.
Um passo teu recruta os novos homens, e os põe em
marcha.
Tua cabeça avança: o novo amor! Tua cabeça recua,
- o novo amor!
"Muda nossos destinos, passa ao crivo as calamidades,
a começar pelo tempo", cantam estas crianças, diante
de ti."Semeia não importa onde a sustância de nossas
fortunas e desejos", pedem-te.
Chegada de sempre, que irás por toda parte.
**
À une Raison
Un coup de ton doigt sur le tambour décharge tous les sons et commence la nouvelle harmonie.
Un pas de toi, c'est la levée des nouveaux hommes et leur en-marche.
Ta tête se détourne : le nouvel amour !
Ta tête se retourne, — le nouvel amour !
"Change nos lots, crible les fléaux, à commencer par le temps", te chantent ces enfants. "Élève n'importe où la substance de nos fortunes et de nos voeux" on t'en prie.
Arrivée de toujours, qui t'en iras partout.
- Arthur Rimbaud, em "Iluminações". [introdução, tradução e notas Lêdo Ivo]. Edições Francisco Alves, 3ª ed., 1985.
§§
Canção da mais alta torre
Inútil beleza
A tudo rendida,
Por delicadeza
Perdi minha vida.
Ah! que venha o instante
Que as almas encante.
Eu me digo: cessa,
Que ninguém te veja:
E sem a promessa
Do que quer que seja.
Não te impeça nada,
Excelsa morada.
De tanta paciência
Para sempre esqueço:
Temor e dolência
Aos céus ofereço,
E a sede sem peias
Me escurece as veias.
Assim esquecidas
Vão-se as Primaveras
Plenas e floridas
De incenso e de heras
Sob as notas foscas
De cem feias moscas.
Ah! Mil viuvezas
Da alma que chora
E só tem tristezas
De Nossa Senhora!
Alguém oraria
À Virgem Maria?
Inútil beleza
A tudo rendida.
Por delicadeza
Perdi minha vida.
Ah! que venha o instante
Que as almas encante!
**
Chanson de la plus haute Tour
Oisive jeunesse
À tout asservie,
Par délicatesse
J'ai perdu ma vie.
Ah! que le temps vienne
Où les cœurs s'éprennent.
Je me suis dit : laisse,
Et qu'on ne te voie :
Et sans la promesse
De plus hautes joies.
Que rien ne t'arrête
Auguste retraite.
J'ai tant fait patience
Qu'à jamais j'oublie;
Craintes et souffrances
Aux cieux sont parties.
Et la soif malsaine
Obscurcit mes veines.
Ainsi la Prairie
À l'oubli livrée,
Grandie, et fleurie
D'encens et d'ivraies,
Au bourdon farouche
De cent sales mouches.
Ah! Mille veuvages
De la si pauvre âme
Qui n'a que l'image
De la Notre-Dame!
Est-ce que l'on prie
La Vierge Marie ?
Oisive jeunesse
À tout asservie,
Par délicatesse
J'ai perdu ma vie.
Ah! que le temps vienne
Où les cœurs s'éprennent.
- Arthur Rimbaud [mai/1872]. in: "Rimbaud Livre". [introdução e tradução Augusto de Campos]. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 1992, p. 42-45.
§§
Flores
De um pequeno degrau dourado -, entre os cordões
de seda, os cinzentos véus de gaze, os veludos
verdes e os discos de cristal que enegrecem como
bronze ao sol -,vejo a digital abrir-se sobre um
tapete de filigranas de prata, de olhos e de cabe-
leiras.
Peças de ouro amarelo espalhadas sobre a ágata,
pilastras de um cetim branco e de finas varas de
rubis rodeiam a rosa d'água.
Como um deus de enormes olhos azuis e de formas
de neve, o mar e o céu atraem aos terraços de
mármores a multidão das rosas fortes e jovens.
**
Fleurs
D'un gradin d'or, — parmi les cordons de soie, les gazes grises, les velours verts et les disques de cristal qui noircissent comme du bronze au soleil, — je vois la digitale s'ouvrir sur un tapis de filigranes d'argent, d'yeux et de chevelures.
Des pièces d'or jaune semées sur l'agate, des piliers d'acajou supportant un dôme d'émeraudes, des bouquets de satin blanc et de fines verges de rubis entourent la rose d'eau.
Tels qu'un dieu aux énormes yeux bleus et aux formes de neige, la mer et le ciel attirent aux terrasses de marbre la foule des jeunes et fortes roses.
Mística
No declive da escarpa, os anjos giram suas roupas
de lã sobre os relvados de ouro e esmeralda.
Prados de flamas saltam até o alto da colina.À
esquerda, o terraço da aresta é pisado por todos
os homicidas e todas as batalhas, e todos os rumores
desastrosos tecem sua curva. Atrás da aresta direita,
a linha dos orientes,dos progressos.
E, enquanto a banda no alto do quadro é formada pelo
rumor giratório e saltitante das conchas marinhas e
das noites humanas,
A doçura florida das estrelas e do céu e do resto desce
da escarpa, como um cesto, - contra nosso rosto,e faz o
abismo florido e azul lá embaixo.
**
Mystique
Sur la pente du talus les anges tournent leurs robes de laine dans les herbages d'acier et d'émeraude.
Des prés de flammes bondissent jusqu'au sommet du mamelon. À gauche le terreau de l'arête est piétiné par tous les homicides et toutes les batailles, et tous les bruits désastreux filent leur courbe. Derrière l'arête de droite la ligne des orients, des progrès.
Et tandis que la bande en haut du tableau est formée de la rumeur tournante et bondissante des conques des mers et des nuits humaines,
La douceur fleurie des étoiles et du ciel et du reste descend en face du talus comme un panier, contre notre face, et fait l'abîme fleurant et bleu là-dessous.
- Arthur Rimbaud, em "Iluminações". [introdução, tradução e notas Lêdo Ivo]. Edições Francisco Alves, 3ª ed., 1985.
§§
Os corvos
Senhor, quando os campos são frios
E nos povoados desnudos
Os longos ângelus são mudos...
Sobre os arvoredos vazios
Fazei descer dos céus preciosos
Os caros corvos deliciosos.
Hoste estranha de gritos secos,
Ventos frios varrem nossos ninhos!
Vós, ao longo dos rios maninhos,
Sobre os calvários e seus becos,
Sobre as fossas, sobre os canais,
Dispersai-vos e ali restais.
Aos milhares, nos campos ermos,
Onde há mortos recém-sepultos,
Girai, no inverno, vossos vultos
Para cada um de nós vos vermos,
Sede a consciência que nos leva,
Ó funerais aves da treva!
Mas, anjos do ar, no alto da fronde,
Mastros sem fim que os céus encantam,
Deixai os pássaros que cantam
Aos que no breu do bosque esconde,
Lá, onde o escuro é mais escuro,
Uma derrota sem futuro.
**
Les corbeaux
Seigneur, quand froide est la prairie,
Quand dans les hameaux abattus,
Les longs angelus se sont tus...
Sur la nature défleurie
Faites s'abattre des grands cieux
Les chers corbeaux délicieux.
Armée étrange aux cris sévères,
Les vents froids attaquent vos nids!
Vous, le long des fleuves jaunis,
Sur les routes aux vieux calvaires,
Sur les fossés et sur les trous
Dispersez-vous, ralliez-vous!
Par milliers, sur les champs de France,
Où dorment des morts d'avant-hier,
Tournoyez, n'est-ce pas, l'hiver,
Pour que chaque passant repense!
Sois donc le crieur du devoir,
Ô notre funèbre oiseau noir!
Mais, saints du ciel, en haut du chêne,
Mât perdu dans le soir charmé,
Laissez les fauvettes de mai
Pour ceux qu'au fond du bois enchaîne,
Dans l'herbe d'où l'on ne peut fuir,
La défaite sans avenir.
- Arthur Rimbaud [mai/1872]. in: "Rimbaud Livre". [introdução e tradução Augusto de Campos]. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2ª ed., 2002, p. 46-49.
§§
Vênus Anadiômena
Como de um verde túmulo em latão o vulto
De uma mulher, cabelos brunos empastados,
De uma velha banheira emerge, lento e estulto,
Com déficits bastante mal dissimulados;
Do colo graxo e gris saltam as omoplatas
Amplas, o dorso curto que entra e sai no ar;
Sob a pele a gordura cai em folhas chatas,
E o redondo dos rins como a querer voar...
O dorso é avermelhado e em tudo há um sabor
Estranhamente horrível; notam-se, a rigor,
Particularidades que demandam lupa...
Nos rins dois nomes só gravados: Clara Vênus;
- E todo o corpo move e estende a ampla garupa
Bela horrorosamente, uma úlcera no ânus.
**
Vénus Anadyomène
Comme d'un cercueil vert en ferblanc, une tête
De femme à cheveux bruns fortement pommadés
D'une vieille baignoire émerge, lente et bête,
Avec des déficits assez mal ravaudés ;
Puis le col gras et gris, les larges omoplates
Qui saillent ; le dos court qui rentre et qui ressort ;
Puis les rondeurs des reins semblent prendre l'essor ;
La graisse sous la peau paraît en feuilles plates ;
L'échine est un peu rouge, et le tout sent un goût
Horrible étrangement ; on remarque surtout
Des singularités qu'il faut voir à la loupe...
Les reins portent deux mots gravés : Clara Venus ;
– Et tout ce corps remue et tend sa large croupe
Belle hideusement d'un ulcère à l'anus.
- Arthur Rimbaud (27 de julho de 1870). in: "Rimbaud Livre". [introdução e tradução Augusto de Campos]. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2ª ed., 2002, p. 25.
§§
Vogais
A negro, E branco, I rubro, U verde, O azul, vogais,
Ainda desvendarei seus mistérios latentes:
A, velado voar de moscas reluzentes
Que zumbem ao redor dos acres lodaçais;
E, nívea candidez de tendas areais,
Lanças de gelo, reis brancos, flores trementes;
I, escarro carmim, rubis a rir nos dentes
Da ira ou da ilusão em tristes bacanais;
U, curvas, vibrações verdes dos oceanos,
Paz de verduras, pas dos pastos, paz dos anos
Que as rugas vão urdindo entre brumas e escolhos;
O, supremo Clamor cheio de estranhos versos,
Silêncio assombrados de anjos e universos;
– Ó! Ômega, o sol violeta dos Seus olhos!
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Voyelles
A noir, E blanc, I rouge, U vert, O bleu : voyelles,
Je dirai quelque jour vos naissances latentes:
A, noir corset velu des mouches éclatantes
Qui bombinent autour des puanteurs cruelles,
Golfes d'ombre ; E, candeurs des vapeurs et des tentes,
Lances des glaciers fiers, rois blancs, frissons d'ombelles;
I, pourpres, sang craché, rire des lèvres belles
Dans la colère ou les ivresses pénitentes;
U, cycles, vibrements divins des mers virides,
Paix des pâtis semés d'animaux, paix des rides
Que l'alchimie imprime aux grands fronts studieux;
O, suprême Clairon plein des strideurs étranges,
Silences traversés des Mondes et des Anges;
- O l'Oméga, rayon violet de Ses Yeux!
- Arthur Rimbaud, em "Rimbaud Livre". [introdução e tradução Augusto de Campos]. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2ª ed., 2002, p. 37.
§§
O barco bêbado
Quando eu atravessava os Rios impassíveis,
Senti-me libertar dos meus rebocadores.
Cruéis peles-vermelhas com uivos terríveis
Os espetaram nus em postes multicores.
Eu era indiferente à carga que trazia,
Gente, trigo flamengo ou algodão inglês.
Morta a tripulação e finda a algaravia,
Os Rios para mim se abriram de uma vez.
Imerso no furor do marulho oceânico,
No inverno, eu, surdo como um cérebro infantil,
Deslizava, enquanto as Penínsulas em pânico
viam turbilhonar marés de verde e anil.
O vento abençoou minhas manhãs marítimas.
Mais leve que uma rolha eu dancei nos lençóis
das ondas a rolar atrás de suas vítimas,
dez noites, sem pensar nos olhos dos faróis!
Mais doce que as maçãs parecem aos pequenos,
A água verde infiltrou-se no meu casco ao léu
E das manchas azulejantes dos venenos
E vinhos me lavou, livre de leme e arpéu.
Então eu mergulhei nas águas do Poema
do Mar, sarcófago de estrelas, latescente,
Devorando os azuis, onde às vezes – dilema
Lívido – um afogado afunda lentamente;
Onde, tingindo azulidades com quebrantos
E ritmos lentos sob o rutilante albor,
Mais fortes que o álcool, mais vastas que os nossos prantos,
fermentam de amargura as rubéolas do amor!
Conheço os céus crivados de clarões, as trombas,
Ressacas e marés: conheço o entardecer,
A Aurora em explosão como um bando de pombas,
E algumas vezes vi o que o homem quis ver!
Eu vi o sol baixar, sujo de horrores místicos,
Iluminando os longos glaciais;
Como atrizes senis em palcos cabalísticos,
Ondas rolando ao longe os frêmitos de umbrais!
Sonhei que a noite verde em neves alvacentas
Beijava, lenta, o olhar dos mares com mil coros,
Soube a circulação das seivas suculentas
E o acordar louro e azul dos fósforos canoros!
Por meses eu segui, tropel de vacarias
Histéricas, o mar estuprando as areias,
Sem esperar que aos pés de ouro das Marias
Esmorecesse o ardor dos Oceanos sem peias!
Cheguei a visitar as Flóridas perdidas
Com olhos de jaguar florindo em epidermes
De homens! Arco-íris tensos como bridas
No horizonte do mar de glaucos paquidermes.
Vi fermentarem pântanos imensos, ansas
Onde apodrecem Leviatãs distantes!
O desmoronamento da água nas bonanças
E abismos a se abrir no caos, cataratantes!
Geleiras, sóis de prata, ondas e céus cadentes!
Náufragos abissais na tumba dos negrumes,
Onde, pasto de insetos, tombam as serpentes
Dos curvos cipoais, com pérfidos perfumes!
Ah! se as crianças vissem o dourar das ondas,
Áureos peixes do mar azul, peixes cantantes...
– As espumas em flor ninaram minhas rondas
E as brisas da ilusão me alaram por instantes.
Mártir de pólos e de zonas misteriosas,
O mar a soluçar cobria os meus artelhos
Com flores fantasmais de pálidas ventosas
e eu, como uma mulher, me punha de joelhos...
Quase ilha a balouçar entre borras e brados
De gralhas tagarelas com olhar de gelo,
Eu vogava, e por minha rede os afogados
Passavam, a dormir, descendo a contrapelo.
Mas eu, barco perdido em baías e danças,
Lançado no ar sem pássaros pela torrente,
De quem os Monitores e os arpões das Hansas
Não teriam pescado o casco de água ardente;
Livre, fumando em meio às virações inquietas,
Eu que furava o céu violáceo como um muro
Que mancham, acepipe raro aos bons poetas,
Líquens de sol vômitos de azul escuro;
Prancha louca a correr com lúnulas e faíscas
E hipocampos de breu, numa escolta de espuma,
Quando os sóis estivais estilhaçam em riscas
O céu ultramarino e seus funis de bruma;
Eu que tremia ouvindo, ao longe, a estertorar,
O cio dos Behemóts e dos Maelstroms febris,
Fiandeiro sem fim dos marasmos do mar,
Anseio pela Europa e os velhos peitoris!
Eu vi os arquipélagos astrais! e as ilhas
Que o delírio dos céus desvela ao viajor:
– É nas noites sem cor que te esqueces e te ilhas,
Milhão de aves de ouro, ó futuro Vigor?
Sim, chorar eu chorei! São mornas as Auroras!
Toda lua é cruel e todo sol, engano:
O amargo amor opiou de ócios minhas horas.
Ah! que esta quilha rompa! Ah! que me engula o oceano!
Da Europa a água que eu quero é só o charco
Negro e gelado onde, ao crepúsculo violeta,
Um menino tristonho arremesse o seu barco
trêmulo como a asa de uma borboleta.
No meu torpor, não posso, ó vagas, as esteiras
Ultrapassar das naves cheias de algodões,
Nem vencer a altivez das velas e bandeiras,
Nem navegar sob o olho torvo dos pontões.
**
Le bateau Ivre
Comme je descendais des Fleuves impassibles,
Je ne me sentis plus guidé par les haleurs:
Des Peaux-Rouges criards les avaient pris pour cibles,
Les ayant cloués nus aux poteaux de couleurs.
J'étais insoucieux de tous les équipages,
Porteur de blés flamands ou de cotons anglais.
Quand avec mes haleurs ont fini ces tapages,
Les Fleuves m'ont laissé descendre où je voulais.
Dans les clapotements furieux des marées,
Moi, l'autre hiver, plus sourd que les cerveaux d'enfants,
Je courus! Et les Péninsules démarrées
N'ont pas subi tohu-bohus plus triomphants.
La tempête a béni mes éveils maritimes.
Plus léger qu'un bouchon j'ai dansé sur les flots
Qu'on appelle rouleurs éternels de victimes,
Dix nuits, sans regretter l'oeil niais des falots!
Plus douce qu'aux enfants la chair des pommes sûres,
L'eau verte pénétra ma coque de sapin
Et des taches de vins bleus et des vomissures
Me lava, dispersant gouvernail et grappin.
Et dès lors, je me suis baigné dans le Poème
De la Mer, infusé d'astres, et lactescent,
Dévorant les azurs verts; où, flottaison blême
Et ravie, un noyé pensif parfois descend;
Où, teignant tout à coup les bleuités, délires
Et rhythmes lents sous les rutilements du jour,
Plus fortes que l'alcool, plus vastes que nos lyres,
Fermentent les rousseurs amères de l'amour!
Je sais les cieux crevant en éclairs, et les trombes
Et les ressacs et les courants: je sais le soir,
L'Aube exaltée ainsi qu'un peuple de colombes,
Et j'ai vu quelquefois ce que l'homme a cru voir!
J'ai vu le soleil bas, taché d'horreurs mystiques,
Illuminant de longs figements violets,
Pareils à des acteurs de drames très antiques
Les flots roulant au loin leurs frissons de volets!
J'ai rêvé la nuit verte aux neiges éblouies,
Baiser montant aux yeux des mers avec lenteurs,
La circulation des sèves inouïes,
Et l'éveil jaune et bleu des phosphores chanteurs!
J'ai suivi, des mois pleins, pareille aux vacheries
Hystériques, la houle à l'assaut des récifs,
Sans songer que les pieds lumineux des Maries
Pussent forcer le mufle aux Océans poussifs!
J'ai heurté, savez-vous, d'incroyables Florides
Mêlant aux fleurs des yeux de panthères à peaux
D'hommes! Des arcs-en-ciel tendus comme des brides
Sous l'horizon des mers, à de glauques troupeaux!
J'ai vu fermenter les marais énormes, nasses
Où pourrit dans les joncs tout un Léviathan!
Des écroulements d'eaux au milieu des bonaces,
Et les lointains vers les gouffres cataractant!
Glaciers, soleils d'argent, flots nacreux, cieux de braises!
Échouages hideux au fond des golfes bruns
Où les serpents géants dévorés des punaises
Choient, des arbres tordus, avec de noirs parfums!
J'aurais voulu montrer aux enfants ces dorades
Du flot bleu, ces poissons d'or, ces poissons chantants.
– Des écumes de fleurs ont bercé mes dérades
Et d'ineffables vents m'ont ailé par instants.
Parfois, martyr lassé des pôles et des zones,
La mer dont le sanglot faisait mon roulis doux
Montait vers moi ses fleurs d'ombre aux ventouses jaunes
Et je restais, ainsi qu'une femme à genoux...
Presque île, ballottant sur mes bords les querelles
Et les fientes d'oiseaux clabaudeurs aux yeux blonds.
Et je voguais, lorsqu'à travers mes liens frêles
Des noyés descendaient dormir, à reculons!
Or moi, bateau perdu sous les cheveux des anses,
Jeté par l'ouragan dans l'éther sans oiseau,
Moi dont les Monitors et les voiliers des Hanses
N'auraient pas repêché la carcasse ivre d'eau;
Libre, fumant, monté de brumes violettes,
Moi qui trouais le ciel rougeoyant comme un mur
Qui porte, confiture exquise aux bons poètes,
Des lichens de soleil et des morves d'azur;
Qui courais, taché de lunules électriques,
Planche folle, escorté des hippocampes noirs,
Quand les juillets faisaient crouler à coups de triques
Les cieux ultramarins aux ardents entonnoirs;
Moi qui tremblais, sentant geindre à cinquante lieues
Le rut des Béhémots et les Maelstroms épais,
Fileur éternel des immobilités bleues,
Je regrette l'Europe aux anciens parapets!
J'ai vu des archipels sidéraux! et des îles
Dont les cieux délirants sont ouverts au vogueur:
– Est-ce en ces nuits sans fonds que tu dors et t'exiles,
Million d'oiseaux d'or, ô future Vigueur?
Mais, vrai, j'ai trop pleuré! Les Aubes sont navrantes.
Toute lune est atroce et tout soleil amer:
L'âcre amour m'a gonflé de torpeurs enivrantes.
Ô que ma quille éclate! Ô que j'aille à la mer!
Si je désire une eau d'Europe, c'est la flache
Noire et froide où vers le crépuscule embaumé
Un enfant accroupi plein de tristesse, lâche
Un bateau frêle comme un papillon de mai.
Je ne puis plus, baigné de vos langueurs, ô lames,
Enlever leur sillage aux porteurs de cotons,
Ni traverser l'orgueil des drapeaux et des flammes,
Ni nager sous les yeux horribles des pontons.
- Arthur Rimbaud [mai/1872]. in: "Rimbaud Livre"[introdução e tradução Augusto de Campos]. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2ª ed., 2002, p. 29-35.
§§
Cidade
Sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole considerada moderna porque todo estilo conhecido foi excluído das mobílias e do exterior das casas bem como do plano da cidade. Aqui você não encontrará o menor sinal de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas às expressões mais simples, enfim! Estes milhões de pessoas que nem tem necessidade de se conhecer levam a educação, o trabalho e a velhice de um modo tão igual que sua expectativa de vida é muitas vezes mais curta do que uma estatística louca encontrou para os povos do continente. Assim como, de minha janela, vejo espectros novos rolando pela espessa e eterna fumaça de carvão, — nossa sombra dos bosques, nossa noite de verão! — as Erínias novas, na porta da cabana que é minha pátria e meu coração, já que tudo aqui parece isto, — Morte sem lágrimas, nossa filha ativa e serva, um Amor desesperado, e um Crime bonito gemendo na lama da rua.
Nocturne vulgaire
Un souffle ouvre des brèches opéradiques dans les cloisons, — brouille le pivotement des toits rongés, — disperse1 les limites des foyers, — éclipse les croisées. — Le long de la vigne, m'étant appuyé du pied à une gargouille, — je suis descendu dans ce carrosse dont l'époque est assez indiquée par les glaces convexes, les panneaux bombés et les sophas contournés — Corbillard de mon sommeil, isolé, maison de berger de ma niaiserie, le véhicule vire sur le gazon de la grande route effacée ; et dans un défaut en haut de la glace de droite tournoient les blêmes figures lunaires, feuilles, seins ; — Un vert et un bleu très foncés envahissent l'image. Dételage aux environs d'une tache de gravier.
— Ici, va-t-on siffler pour l'orage, et les Sodomes, — et les Solymes, — et les bêtes féroces et les armées,
— (Postillon et bêtes de songe reprendront-ils sous les plus suffocantes futaies, pour m'enfoncer jusqu'aux yeux dans la source de soie).
— Et nous envoyer, fouettés à travers les eaux clapotantes et les boissons répandues, rouler sur l'aboi des dogues...
— Un souffle disperse les limites du foyer.
- Arthur Rimbaud, em "Iluminuras - gravuras coloridas". [tradução Rodrigo Garcia Lopes e Mauricio Arruda Mendonça]. São Paulo: Editora Iluminuras, 3ª ed., 2002.
§§
Promontório
A aurora dourada e o pôr do sol arrepiante encontram nosso brickem alto-mar diante dessa vila e de suas dependências, que formam um promontório tão extenso quanto o Épiro e o Peloponeso, ou mesmo a grande ilha do Japão, quem sabe a Arábia! Templos iluminados pelo retorno das teorias, das vistas imensas da defesa das costas modernas; dunas ilustradas de flores quentes e de bacanais; dos grandes canais de Cartago e os Embankments de uma Veneza suspeita; a erupção mole de Etnas e as fissuras de flores e águas nas geleiras; lavatórios rodeados de álamos da Alemanha; declives de parques singulares inclinando as copas da Árvore do Japão; e as fachadas circulares dos “Royal” ou dos “Grand” de Scarbro e do Brooklyn; e seus railways flanqueiam, cruzam e pendem sobre as disposições deste Hotel, escolhidas na história das mais elegantes e mais colossais construções da Itália, América, Ásia, em cujas janelas e terraços, agora cheios de luzes, de bebidas e brisas chiques, estão abertos ao espírito dos viajantes e dos nobres — permitindo, durante o dia, a todas as tarantelas do litoral, — e até mesmo aos ritornelos dos vales ilustres da arte, decorar maravilhosamente as fachadas do Palácio-Promontório.
**
Promontoire
L'aube d'or et la soirée frissonnante trouvent notre brick en large en face de cette villa et de ses dépendances, qui forment un promontoire aussi étendu que l'Épire et le Péloponnèse, ou que la grande île du Japon, ou que l'Arabie ! Des fanums qu'éclaire la rentrée des théories, d'immenses vues de la défense des côtes modernes ; des dunes illustrées de chaudes fleurs et de bacchanales ; de grands canaux de Carthage et des Embankments d'une Venise louche ; de molles éruptions d'Etnas et des crevasses de fleurs et d'eaux des glaciers ; des lavoirs entourés de peupliers d'Allemagne ; des talus de parcs singuliers pendant des têtes d'Arbres1 du Japon ; les façades circulaires des "Royal" ou des "Grand" de Scarbro ou de Brooklyn ; et leurs railways flanquent, creusent, surplombent les dispositions de cet Hôtel, choisies dans l'histoire des plus élégantes et des plus colossales constructions de l'Italie, de l'Amérique et de l'Asie, dont les fenêtres et les terrasses à présent pleines d'éclairages, de boissons et de brises riches, sont ouvertes à l'esprit des voyageurs et des nobles — qui permettent, aux heures du jour, à toutes les tarentelles des côtes, — et même aux ritournelles des vallées illustres de l'art, de décorer merveilleusement les façades du Palais-Promontoire.
- Arthur RImbaud, em "Iluminuras - gravuras coloridas". [tradução Rodrigo Garcia Lopes e Mauricio Arruda Mendonça]. São Paulo: Editora Iluminuras, 3ª ed., 2002, p. 89.
FORTUNA CRÍTICA DE ARTHUR RIMBAUD
BELINATO, Wagner Vonder. O espelho de Rimbaud: A obra de Florbela Espanca e o gênio impar francês. (Monografia Graduação em Letras). Universidade Estadual de Maringá, UEM, 2006.
BORER, Alain. Rimbaud l’heure de la Fuite. France, Gallimard, 1991.
Eselvier / Campus, 2005.
NERO, Luciana Brandão Carreira Del. Ruptura e reinvenção: o que Rimbaud tem a nos ensinar sobre o Ato.. Correio da APPOA, v. 212, p. 45-51, 2012.
NICHOLL, Charles. Rimbaud na África: os últimos anos de um poeta no exílio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
SILVA, Silvana
Vieira da. As traduções do soneto
Voyelles de Arthur Rimbaud (co-autoria). In: VI Encontro Nacional de
Tradutores: Integração via Tradução, 1998, Fortaleza (CE). Anais do VI Encontro
Nacional de Tradutores. São Paulo: Humanitas, 1998. p. 253-257.
VICENTE,
Adalberto Luis. A Retórica do oprimido:
uma leitura do poema Le Forgeron de Arthur Rimbaud. Boletim 1992,
Araraquara-SP, v. 5, p. 2-16, 1992.
Rimbaud - obra disponível em pdf
:: Iluminações, de Arthur Rimbaud. [tradução Janer Cristaldo]. eBooksBrasil. 2012. Disponível em pdf no link. (acessado em 25.6.2014).
:: Les Illuminations, de Rimbaud (francês). Athena. Disponível no link. (acessado em 25.6.2014).
:: Una temporada en el infierno; Iluminaciones; y Cartas del vidente - de Arthur Rimbaud. [tradução Ramón Buenaventura].. (em espanhol). Revolucionária Anarquista. Disponível em pdf no link. (acessado em 24.6.2014).
Textos de Rimbaud (Versiones Completas)
:: Une Saison en enfer - Arthur Rimbaud (Francés)
:: Una Temporada en el Infierno (Versión I) - Arthur Rimbaud (Español)
:: Una Temporada en el Infierno (Versión de Ramón Buenaventura) - Arthur Rimbaud (Español)
:: Iluminations - Arthur Rimbaud (Francés)
:: Iluminaciones - (Versión I) - Arthur Rimbaud
:: Iluminaciones - (Versión de R. Buenaventura) - Arthur Rimbaud
:: Cartas del vidente (Versión de R. Buenaventura) - por Arthur Rimbaud
Livro de Rimbaud para consulta online
:: Rimbaud Livre. [introdução e tradução Augusto de Campos]. São Paulo: Perspectiva, 2ª ed., 2002.
FANPAGE DEDICADO A LITERATURA FRANCESA
:: Literatura francesa / Littérature française
REFERÊNCIAS E OUTRAS FONTES DE PESQUISA
:: Rimbaud - Portal Domínio Público
:: La Máquina del Tiempo - una revista de literatura = Arthur Rimbaud
:: Musée Arthur Rimbaud
:: Truca - Biografia Rimbaud
:: Biblioteca Nacional - Catalogo online (Arthur Rimbaud)
:: Poemargens - Rimbaud
:: Arthur Rimbaud (Francês y Inglês)
:: Encyclopédia Larousse: Arthur Rimbaud - poète français (Charleville 1854-Marseille 1891)
* Colaboração: José Alexandre da Silva
© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske
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A estrela chorou rosa ao céu de tua orelha.
O infinito rolou branco, da nuca aos rins.
O mar perolou ruivo em tua teta vermelha.
E o Homem sangrou negro o altar dos teus quadris.
**
L'étoile a pleuré rose...
L'étoile a pleuré rose au cœur de tes oreilles,
L'infini roulé blanc de ta nuque à tes reins;
La mer a perlé rousse à tes mammes vermeilles
Et l'Homme saigné noir à ton flanc souverain.
- Arthur Rimbaud. in: "Rimbaud Livre". [introdução e tradução Augusto de Campos]. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2ª ed., 2002, p. 38.
§§
A eternidade
De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.
Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.
Das lides humanas,
Arthur Rimbaud, por (...) |
Já te desenganas
E no ar te espraias.
De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.
Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.
De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai.
**
L'Eternité
Elle est retrouvée.
Quoi ? - L'Eternité.
C'est la mer allée
Avec le soleil.
Ame sentinelle,
Murmurons l'aveu
De la nuit si nulle
Et du jour en feu.
Des humains suffrages,
Des communs élans
Là tu te dégages
Et voles selon.
Puisque de vous seules,
Braises de satin,
Le Devoir s'exhale
Sans qu'on dise : enfin.
Là pas d'espérance,
Nul orietur.
Science avec patience,
Le supplice est sûr.
Elle est retrouvée.
Quoi ? - L'Eternité.
C'est la mer allée
Avec le soleil.
- Arthur Rimbaud [mai/1872]. in: "Rimbaud Livre". [introdução e tradução Augusto de Campos]. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2ª ed., 2002, p. 51.
§§
A uma razão
Um toque de teu dedo no tambor desencadeia todos
os sons e dá início à nova harmonia.
Um passo teu recruta os novos homens, e os põe em
marcha.
Tua cabeça avança: o novo amor! Tua cabeça recua,
- o novo amor!
"Muda nossos destinos, passa ao crivo as calamidades,
a começar pelo tempo", cantam estas crianças, diante
de ti."Semeia não importa onde a sustância de nossas
fortunas e desejos", pedem-te.
Chegada de sempre, que irás por toda parte.
**
À une Raison
Un coup de ton doigt sur le tambour décharge tous les sons et commence la nouvelle harmonie.
Un pas de toi, c'est la levée des nouveaux hommes et leur en-marche.
Ta tête se détourne : le nouvel amour !
Ta tête se retourne, — le nouvel amour !
"Change nos lots, crible les fléaux, à commencer par le temps", te chantent ces enfants. "Élève n'importe où la substance de nos fortunes et de nos voeux" on t'en prie.
Arrivée de toujours, qui t'en iras partout.
- Arthur Rimbaud, em "Iluminações". [introdução, tradução e notas Lêdo Ivo]. Edições Francisco Alves, 3ª ed., 1985.
§§
Canção da mais alta torre
Inútil beleza
A tudo rendida,
Por delicadeza
Perdi minha vida.
Ah! que venha o instante
Que as almas encante.
Eu me digo: cessa,
Que ninguém te veja:
E sem a promessa
Do que quer que seja.
Não te impeça nada,
Excelsa morada.
De tanta paciência
Para sempre esqueço:
Temor e dolência
Aos céus ofereço,
E a sede sem peias
Me escurece as veias.
Assim esquecidas
Rimbaud, por Anna |
Plenas e floridas
De incenso e de heras
Sob as notas foscas
De cem feias moscas.
Ah! Mil viuvezas
Da alma que chora
E só tem tristezas
De Nossa Senhora!
Alguém oraria
À Virgem Maria?
Inútil beleza
A tudo rendida.
Por delicadeza
Perdi minha vida.
Ah! que venha o instante
Que as almas encante!
Chanson de la plus haute Tour
Oisive jeunesse
À tout asservie,
Par délicatesse
J'ai perdu ma vie.
Ah! que le temps vienne
Où les cœurs s'éprennent.
Je me suis dit : laisse,
Et qu'on ne te voie :
Et sans la promesse
De plus hautes joies.
Que rien ne t'arrête
Auguste retraite.
J'ai tant fait patience
Qu'à jamais j'oublie;
Craintes et souffrances
Aux cieux sont parties.
Et la soif malsaine
Obscurcit mes veines.
Ainsi la Prairie
À l'oubli livrée,
Grandie, et fleurie
D'encens et d'ivraies,
Au bourdon farouche
De cent sales mouches.
Ah! Mille veuvages
De la si pauvre âme
Qui n'a que l'image
De la Notre-Dame!
Est-ce que l'on prie
La Vierge Marie ?
Oisive jeunesse
À tout asservie,
Par délicatesse
J'ai perdu ma vie.
Ah! que le temps vienne
Où les cœurs s'éprennent.
- Arthur Rimbaud [mai/1872]. in: "Rimbaud Livre". [introdução e tradução Augusto de Campos]. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 1992, p. 42-45.
§§
Flores
De um pequeno degrau dourado -, entre os cordões
de seda, os cinzentos véus de gaze, os veludos
verdes e os discos de cristal que enegrecem como
bronze ao sol -,vejo a digital abrir-se sobre um
tapete de filigranas de prata, de olhos e de cabe-
leiras.
Peças de ouro amarelo espalhadas sobre a ágata,
pilastras de um cetim branco e de finas varas de
rubis rodeiam a rosa d'água.
Como um deus de enormes olhos azuis e de formas
de neve, o mar e o céu atraem aos terraços de
mármores a multidão das rosas fortes e jovens.
**
Fleurs
D'un gradin d'or, — parmi les cordons de soie, les gazes grises, les velours verts et les disques de cristal qui noircissent comme du bronze au soleil, — je vois la digitale s'ouvrir sur un tapis de filigranes d'argent, d'yeux et de chevelures.
Des pièces d'or jaune semées sur l'agate, des piliers d'acajou supportant un dôme d'émeraudes, des bouquets de satin blanc et de fines verges de rubis entourent la rose d'eau.
Tels qu'un dieu aux énormes yeux bleus et aux formes de neige, la mer et le ciel attirent aux terrasses de marbre la foule des jeunes et fortes roses.
- Arthur Rimbaud, em "Iluminações". [introdução, tradução e notas Lêdo Ivo]. Edições Francisco Alves, 3ª ed., 1985.
§§
Mística
No declive da escarpa, os anjos giram suas roupas
de lã sobre os relvados de ouro e esmeralda.
Prados de flamas saltam até o alto da colina.À
esquerda, o terraço da aresta é pisado por todos
os homicidas e todas as batalhas, e todos os rumores
desastrosos tecem sua curva. Atrás da aresta direita,
a linha dos orientes,dos progressos.
E, enquanto a banda no alto do quadro é formada pelo
rumor giratório e saltitante das conchas marinhas e
das noites humanas,
A doçura florida das estrelas e do céu e do resto desce
da escarpa, como um cesto, - contra nosso rosto,e faz o
abismo florido e azul lá embaixo.
**
Mystique
Sur la pente du talus les anges tournent leurs robes de laine dans les herbages d'acier et d'émeraude.
Des prés de flammes bondissent jusqu'au sommet du mamelon. À gauche le terreau de l'arête est piétiné par tous les homicides et toutes les batailles, et tous les bruits désastreux filent leur courbe. Derrière l'arête de droite la ligne des orients, des progrès.
Et tandis que la bande en haut du tableau est formée de la rumeur tournante et bondissante des conques des mers et des nuits humaines,
La douceur fleurie des étoiles et du ciel et du reste descend en face du talus comme un panier, contre notre face, et fait l'abîme fleurant et bleu là-dessous.
- Arthur Rimbaud, em "Iluminações". [introdução, tradução e notas Lêdo Ivo]. Edições Francisco Alves, 3ª ed., 1985.
§§
Os corvos
Senhor, quando os campos são frios
E nos povoados desnudos
Os longos ângelus são mudos...
Sobre os arvoredos vazios
Fazei descer dos céus preciosos
Os caros corvos deliciosos.
Hoste estranha de gritos secos,
Ventos frios varrem nossos ninhos!
Vós, ao longo dos rios maninhos,
Sobre os calvários e seus becos,
Sobre as fossas, sobre os canais,
Dispersai-vos e ali restais.
Aos milhares, nos campos ermos,
Onde há mortos recém-sepultos,
Girai, no inverno, vossos vultos
Para cada um de nós vos vermos,
Sede a consciência que nos leva,
Ó funerais aves da treva!
Mas, anjos do ar, no alto da fronde,
Mastros sem fim que os céus encantam,
Deixai os pássaros que cantam
Aos que no breu do bosque esconde,
Lá, onde o escuro é mais escuro,
Uma derrota sem futuro.
**
Les corbeaux
Seigneur, quand froide est la prairie,
Quand dans les hameaux abattus,
Les longs angelus se sont tus...
Sur la nature défleurie
Faites s'abattre des grands cieux
Les chers corbeaux délicieux.
Armée étrange aux cris sévères,
Les vents froids attaquent vos nids!
Vous, le long des fleuves jaunis,
Sur les routes aux vieux calvaires,
Sur les fossés et sur les trous
Dispersez-vous, ralliez-vous!
Par milliers, sur les champs de France,
Où dorment des morts d'avant-hier,
Tournoyez, n'est-ce pas, l'hiver,
Pour que chaque passant repense!
Sois donc le crieur du devoir,
Ô notre funèbre oiseau noir!
Mais, saints du ciel, en haut du chêne,
Mât perdu dans le soir charmé,
Laissez les fauvettes de mai
Pour ceux qu'au fond du bois enchaîne,
Dans l'herbe d'où l'on ne peut fuir,
La défaite sans avenir.
- Arthur Rimbaud [mai/1872]. in: "Rimbaud Livre". [introdução e tradução Augusto de Campos]. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2ª ed., 2002, p. 46-49.
§§
Vênus Anadiômena
De uma mulher, cabelos brunos empastados,
De uma velha banheira emerge, lento e estulto,
Com déficits bastante mal dissimulados;
Do colo graxo e gris saltam as omoplatas
Amplas, o dorso curto que entra e sai no ar;
Sob a pele a gordura cai em folhas chatas,
E o redondo dos rins como a querer voar...
O dorso é avermelhado e em tudo há um sabor
Estranhamente horrível; notam-se, a rigor,
Particularidades que demandam lupa...
Nos rins dois nomes só gravados: Clara Vênus;
- E todo o corpo move e estende a ampla garupa
Bela horrorosamente, uma úlcera no ânus.
**
Vénus Anadyomène
Comme d'un cercueil vert en ferblanc, une tête
De femme à cheveux bruns fortement pommadés
D'une vieille baignoire émerge, lente et bête,
Avec des déficits assez mal ravaudés ;
Puis le col gras et gris, les larges omoplates
Qui saillent ; le dos court qui rentre et qui ressort ;
Puis les rondeurs des reins semblent prendre l'essor ;
La graisse sous la peau paraît en feuilles plates ;
L'échine est un peu rouge, et le tout sent un goût
Horrible étrangement ; on remarque surtout
Des singularités qu'il faut voir à la loupe...
Les reins portent deux mots gravés : Clara Venus ;
– Et tout ce corps remue et tend sa large croupe
Belle hideusement d'un ulcère à l'anus.
- Arthur Rimbaud (27 de julho de 1870). in: "Rimbaud Livre". [introdução e tradução Augusto de Campos]. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2ª ed., 2002, p. 25.
§§
Vogais
A negro, E branco, I rubro, U verde, O azul, vogais,
Ainda desvendarei seus mistérios latentes:
A, velado voar de moscas reluzentes
Que zumbem ao redor dos acres lodaçais;
E, nívea candidez de tendas areais,
Lanças de gelo, reis brancos, flores trementes;
I, escarro carmim, rubis a rir nos dentes
Da ira ou da ilusão em tristes bacanais;
U, curvas, vibrações verdes dos oceanos,
Paz de verduras, pas dos pastos, paz dos anos
Que as rugas vão urdindo entre brumas e escolhos;
O, supremo Clamor cheio de estranhos versos,
Silêncio assombrados de anjos e universos;
– Ó! Ômega, o sol violeta dos Seus olhos!
**
Voyelles
A noir, E blanc, I rouge, U vert, O bleu : voyelles,
Je dirai quelque jour vos naissances latentes:
A, noir corset velu des mouches éclatantes
Qui bombinent autour des puanteurs cruelles,
Golfes d'ombre ; E, candeurs des vapeurs et des tentes,
Lances des glaciers fiers, rois blancs, frissons d'ombelles;
I, pourpres, sang craché, rire des lèvres belles
Dans la colère ou les ivresses pénitentes;
U, cycles, vibrements divins des mers virides,
Paix des pâtis semés d'animaux, paix des rides
Que l'alchimie imprime aux grands fronts studieux;
O, suprême Clairon plein des strideurs étranges,
Silences traversés des Mondes et des Anges;
- O l'Oméga, rayon violet de Ses Yeux!
- Arthur Rimbaud, em "Rimbaud Livre". [introdução e tradução Augusto de Campos]. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2ª ed., 2002, p. 37.
§§
O barco bêbado
Quando eu atravessava os Rios impassíveis,
Senti-me libertar dos meus rebocadores.
Cruéis peles-vermelhas com uivos terríveis
Os espetaram nus em postes multicores.
Eu era indiferente à carga que trazia,
Gente, trigo flamengo ou algodão inglês.
Morta a tripulação e finda a algaravia,
Arthur Rimbaud, por (...) |
Imerso no furor do marulho oceânico,
No inverno, eu, surdo como um cérebro infantil,
Deslizava, enquanto as Penínsulas em pânico
viam turbilhonar marés de verde e anil.
O vento abençoou minhas manhãs marítimas.
Mais leve que uma rolha eu dancei nos lençóis
das ondas a rolar atrás de suas vítimas,
dez noites, sem pensar nos olhos dos faróis!
Mais doce que as maçãs parecem aos pequenos,
A água verde infiltrou-se no meu casco ao léu
E das manchas azulejantes dos venenos
E vinhos me lavou, livre de leme e arpéu.
Então eu mergulhei nas águas do Poema
do Mar, sarcófago de estrelas, latescente,
Devorando os azuis, onde às vezes – dilema
Lívido – um afogado afunda lentamente;
Onde, tingindo azulidades com quebrantos
E ritmos lentos sob o rutilante albor,
Mais fortes que o álcool, mais vastas que os nossos prantos,
fermentam de amargura as rubéolas do amor!
Conheço os céus crivados de clarões, as trombas,
Ressacas e marés: conheço o entardecer,
A Aurora em explosão como um bando de pombas,
E algumas vezes vi o que o homem quis ver!
Eu vi o sol baixar, sujo de horrores místicos,
Iluminando os longos glaciais;
Como atrizes senis em palcos cabalísticos,
Ondas rolando ao longe os frêmitos de umbrais!
Sonhei que a noite verde em neves alvacentas
Beijava, lenta, o olhar dos mares com mil coros,
Soube a circulação das seivas suculentas
E o acordar louro e azul dos fósforos canoros!
Por meses eu segui, tropel de vacarias
Histéricas, o mar estuprando as areias,
Sem esperar que aos pés de ouro das Marias
Esmorecesse o ardor dos Oceanos sem peias!
Cheguei a visitar as Flóridas perdidas
Com olhos de jaguar florindo em epidermes
De homens! Arco-íris tensos como bridas
No horizonte do mar de glaucos paquidermes.
Vi fermentarem pântanos imensos, ansas
Onde apodrecem Leviatãs distantes!
O desmoronamento da água nas bonanças
E abismos a se abrir no caos, cataratantes!
Geleiras, sóis de prata, ondas e céus cadentes!
Náufragos abissais na tumba dos negrumes,
Onde, pasto de insetos, tombam as serpentes
Dos curvos cipoais, com pérfidos perfumes!
Ah! se as crianças vissem o dourar das ondas,
Áureos peixes do mar azul, peixes cantantes...
– As espumas em flor ninaram minhas rondas
E as brisas da ilusão me alaram por instantes.
Mártir de pólos e de zonas misteriosas,
O mar a soluçar cobria os meus artelhos
Com flores fantasmais de pálidas ventosas
e eu, como uma mulher, me punha de joelhos...
Quase ilha a balouçar entre borras e brados
De gralhas tagarelas com olhar de gelo,
Eu vogava, e por minha rede os afogados
Passavam, a dormir, descendo a contrapelo.
Mas eu, barco perdido em baías e danças,
Lançado no ar sem pássaros pela torrente,
De quem os Monitores e os arpões das Hansas
Não teriam pescado o casco de água ardente;
Livre, fumando em meio às virações inquietas,
Eu que furava o céu violáceo como um muro
Que mancham, acepipe raro aos bons poetas,
Líquens de sol vômitos de azul escuro;
Arthur Rimbaud, por Lautir |
Prancha louca a correr com lúnulas e faíscas
E hipocampos de breu, numa escolta de espuma,
Quando os sóis estivais estilhaçam em riscas
O céu ultramarino e seus funis de bruma;
Eu que tremia ouvindo, ao longe, a estertorar,
O cio dos Behemóts e dos Maelstroms febris,
Fiandeiro sem fim dos marasmos do mar,
Anseio pela Europa e os velhos peitoris!
Eu vi os arquipélagos astrais! e as ilhas
Que o delírio dos céus desvela ao viajor:
– É nas noites sem cor que te esqueces e te ilhas,
Milhão de aves de ouro, ó futuro Vigor?
Sim, chorar eu chorei! São mornas as Auroras!
Toda lua é cruel e todo sol, engano:
O amargo amor opiou de ócios minhas horas.
Ah! que esta quilha rompa! Ah! que me engula o oceano!
Da Europa a água que eu quero é só o charco
Negro e gelado onde, ao crepúsculo violeta,
Um menino tristonho arremesse o seu barco
trêmulo como a asa de uma borboleta.
No meu torpor, não posso, ó vagas, as esteiras
Ultrapassar das naves cheias de algodões,
Nem vencer a altivez das velas e bandeiras,
Nem navegar sob o olho torvo dos pontões.
**
Le bateau Ivre
Comme je descendais des Fleuves impassibles,
Je ne me sentis plus guidé par les haleurs:
Des Peaux-Rouges criards les avaient pris pour cibles,
Les ayant cloués nus aux poteaux de couleurs.
J'étais insoucieux de tous les équipages,
Porteur de blés flamands ou de cotons anglais.
Quand avec mes haleurs ont fini ces tapages,
Les Fleuves m'ont laissé descendre où je voulais.
Dans les clapotements furieux des marées,
Moi, l'autre hiver, plus sourd que les cerveaux d'enfants,
Je courus! Et les Péninsules démarrées
N'ont pas subi tohu-bohus plus triomphants.
La tempête a béni mes éveils maritimes.
Plus léger qu'un bouchon j'ai dansé sur les flots
Qu'on appelle rouleurs éternels de victimes,
Dix nuits, sans regretter l'oeil niais des falots!
Plus douce qu'aux enfants la chair des pommes sûres,
L'eau verte pénétra ma coque de sapin
Et des taches de vins bleus et des vomissures
Me lava, dispersant gouvernail et grappin.
Et dès lors, je me suis baigné dans le Poème
De la Mer, infusé d'astres, et lactescent,
Dévorant les azurs verts; où, flottaison blême
Et ravie, un noyé pensif parfois descend;
Où, teignant tout à coup les bleuités, délires
Et rhythmes lents sous les rutilements du jour,
Plus fortes que l'alcool, plus vastes que nos lyres,
Fermentent les rousseurs amères de l'amour!
Je sais les cieux crevant en éclairs, et les trombes
Et les ressacs et les courants: je sais le soir,
L'Aube exaltée ainsi qu'un peuple de colombes,
Et j'ai vu quelquefois ce que l'homme a cru voir!
J'ai vu le soleil bas, taché d'horreurs mystiques,
Illuminant de longs figements violets,
Pareils à des acteurs de drames très antiques
Les flots roulant au loin leurs frissons de volets!
J'ai rêvé la nuit verte aux neiges éblouies,
Baiser montant aux yeux des mers avec lenteurs,
La circulation des sèves inouïes,
Et l'éveil jaune et bleu des phosphores chanteurs!
J'ai suivi, des mois pleins, pareille aux vacheries
Hystériques, la houle à l'assaut des récifs,
Sans songer que les pieds lumineux des Maries
Pussent forcer le mufle aux Océans poussifs!
J'ai heurté, savez-vous, d'incroyables Florides
Mêlant aux fleurs des yeux de panthères à peaux
D'hommes! Des arcs-en-ciel tendus comme des brides
Sous l'horizon des mers, à de glauques troupeaux!
J'ai vu fermenter les marais énormes, nasses
Où pourrit dans les joncs tout un Léviathan!
Des écroulements d'eaux au milieu des bonaces,
Et les lointains vers les gouffres cataractant!
Glaciers, soleils d'argent, flots nacreux, cieux de braises!
Échouages hideux au fond des golfes bruns
Où les serpents géants dévorés des punaises
Choient, des arbres tordus, avec de noirs parfums!
J'aurais voulu montrer aux enfants ces dorades
Du flot bleu, ces poissons d'or, ces poissons chantants.
– Des écumes de fleurs ont bercé mes dérades
Et d'ineffables vents m'ont ailé par instants.
Parfois, martyr lassé des pôles et des zones,
La mer dont le sanglot faisait mon roulis doux
Montait vers moi ses fleurs d'ombre aux ventouses jaunes
Et je restais, ainsi qu'une femme à genoux...
Presque île, ballottant sur mes bords les querelles
Et les fientes d'oiseaux clabaudeurs aux yeux blonds.
Et je voguais, lorsqu'à travers mes liens frêles
Des noyés descendaient dormir, à reculons!
Or moi, bateau perdu sous les cheveux des anses,
Jeté par l'ouragan dans l'éther sans oiseau,
Moi dont les Monitors et les voiliers des Hanses
N'auraient pas repêché la carcasse ivre d'eau;
Libre, fumant, monté de brumes violettes,
Moi qui trouais le ciel rougeoyant comme un mur
Qui porte, confiture exquise aux bons poètes,
Des lichens de soleil et des morves d'azur;
Qui courais, taché de lunules électriques,
Planche folle, escorté des hippocampes noirs,
Quand les juillets faisaient crouler à coups de triques
Les cieux ultramarins aux ardents entonnoirs;
Moi qui tremblais, sentant geindre à cinquante lieues
Le rut des Béhémots et les Maelstroms épais,
Fileur éternel des immobilités bleues,
Je regrette l'Europe aux anciens parapets!
J'ai vu des archipels sidéraux! et des îles
Dont les cieux délirants sont ouverts au vogueur:
– Est-ce en ces nuits sans fonds que tu dors et t'exiles,
Million d'oiseaux d'or, ô future Vigueur?
Mais, vrai, j'ai trop pleuré! Les Aubes sont navrantes.
Toute lune est atroce et tout soleil amer:
L'âcre amour m'a gonflé de torpeurs enivrantes.
Ô que ma quille éclate! Ô que j'aille à la mer!
Si je désire une eau d'Europe, c'est la flache
Noire et froide où vers le crépuscule embaumé
Un enfant accroupi plein de tristesse, lâche
Un bateau frêle comme un papillon de mai.
Je ne puis plus, baigné de vos langueurs, ô lames,
Enlever leur sillage aux porteurs de cotons,
Ni traverser l'orgueil des drapeaux et des flammes,
Ni nager sous les yeux horribles des pontons.
- Arthur Rimbaud [mai/1872]. in: "Rimbaud Livre"[introdução e tradução Augusto de Campos]. Coleção Signos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2ª ed., 2002, p. 29-35.
§§
Cidade
Sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole considerada moderna porque todo estilo conhecido foi excluído das mobílias e do exterior das casas bem como do plano da cidade. Aqui você não encontrará o menor sinal de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas às expressões mais simples, enfim! Estes milhões de pessoas que nem tem necessidade de se conhecer levam a educação, o trabalho e a velhice de um modo tão igual que sua expectativa de vida é muitas vezes mais curta do que uma estatística louca encontrou para os povos do continente. Assim como, de minha janela, vejo espectros novos rolando pela espessa e eterna fumaça de carvão, — nossa sombra dos bosques, nossa noite de verão! — as Erínias novas, na porta da cabana que é minha pátria e meu coração, já que tudo aqui parece isto, — Morte sem lágrimas, nossa filha ativa e serva, um Amor desesperado, e um Crime bonito gemendo na lama da rua.
**
Ville
Je suis un éphémère et point trop mécontent citoyen d'une métropole crue moderne parce que tout goût connu a été éludé dans les ameublements et l'extérieur des maisons aussi bien que dans le plan de la ville. Ici vous ne signaleriez les traces d'aucun monument de superstition. La morale et la langue sont réduites à leur plus simple expression, enfin ! Ces millions de gens qui n'ont pas besoin de se connaître amènent si pareillement l'éducation, le métier et la vieillesse, que ce cours de vie doit être plusieurs fois moins long que ce qu'une statistique folle trouve pour les peuples du continent. Aussi comme, de ma fenêtre, je vois des spectres nouveaux roulant à travers l'épaisse et éternelle fumée de charbon, — notre ombre des bois, notre nuit d'été ! — des Erinnyes1 nouvelles, devant mon cottage qui est ma patrie et tout mon cœur puisque tout ici ressemble à ceci, — la Mort sans pleurs, notre active fille et servante, et2 un Amour désespéré, et un joli Crime piaulant dans la boue de la rue.
§§
Noturno vulgar
Um sopro abre fendas operádicas nas paredes, — embaralha o eixo dos tetos podres, — dispersa os limites dos foyers, — eclipsa vidraças. — Pelas videiras, apoiando o pé numa gárgula, — desci nesse coche de uma época bem indicada pelos espelhos convexos, almofadas bojudas e sofás distorcidos.
Carro funerário do meu sono, solitário, casa de pastor de minha tolice, o veículo vira sobre o mato da grande estrada desaparecida: e num defeito no alto do espelho, à direita, giram pálidas figuras lunares, folhas, seios; — Um verde e um azul escuros invadem a imagem. Desatrelagem perto de uma mancha de cascalho.
— Aqui vão assoviar às tempestades, e às Sodomas, — e às Solimas, — e aos animais ferozes e aos exércitos,
— (Postilhões e animais de sonho vão voltar sob as matas mais sufocantes para me afogar até os olhos na nascente de seda) — E a nos enviar, açoitados por ondas crispadas e bebidas derramadas, rolando entre latidos de dogues...
**Ville
Je suis un éphémère et point trop mécontent citoyen d'une métropole crue moderne parce que tout goût connu a été éludé dans les ameublements et l'extérieur des maisons aussi bien que dans le plan de la ville. Ici vous ne signaleriez les traces d'aucun monument de superstition. La morale et la langue sont réduites à leur plus simple expression, enfin ! Ces millions de gens qui n'ont pas besoin de se connaître amènent si pareillement l'éducation, le métier et la vieillesse, que ce cours de vie doit être plusieurs fois moins long que ce qu'une statistique folle trouve pour les peuples du continent. Aussi comme, de ma fenêtre, je vois des spectres nouveaux roulant à travers l'épaisse et éternelle fumée de charbon, — notre ombre des bois, notre nuit d'été ! — des Erinnyes1 nouvelles, devant mon cottage qui est ma patrie et tout mon cœur puisque tout ici ressemble à ceci, — la Mort sans pleurs, notre active fille et servante, et2 un Amour désespéré, et un joli Crime piaulant dans la boue de la rue.
- Arthur Rimbaud, em "Iluminuras - gravuras coloridas". [tradução Rodrigo Garcia Lopes e Mauricio Arruda Mendonça]. São Paulo: Editora Iluminuras, 3ª ed., 2002, p. 49.
Arthur Rimbaud - foto: Étienne Carjat (1871) |
Um sopro abre fendas operádicas nas paredes, — embaralha o eixo dos tetos podres, — dispersa os limites dos foyers, — eclipsa vidraças. — Pelas videiras, apoiando o pé numa gárgula, — desci nesse coche de uma época bem indicada pelos espelhos convexos, almofadas bojudas e sofás distorcidos.
Carro funerário do meu sono, solitário, casa de pastor de minha tolice, o veículo vira sobre o mato da grande estrada desaparecida: e num defeito no alto do espelho, à direita, giram pálidas figuras lunares, folhas, seios; — Um verde e um azul escuros invadem a imagem. Desatrelagem perto de uma mancha de cascalho.
— Aqui vão assoviar às tempestades, e às Sodomas, — e às Solimas, — e aos animais ferozes e aos exércitos,
— (Postilhões e animais de sonho vão voltar sob as matas mais sufocantes para me afogar até os olhos na nascente de seda) — E a nos enviar, açoitados por ondas crispadas e bebidas derramadas, rolando entre latidos de dogues...
Nocturne vulgaire
Un souffle ouvre des brèches opéradiques dans les cloisons, — brouille le pivotement des toits rongés, — disperse1 les limites des foyers, — éclipse les croisées. — Le long de la vigne, m'étant appuyé du pied à une gargouille, — je suis descendu dans ce carrosse dont l'époque est assez indiquée par les glaces convexes, les panneaux bombés et les sophas contournés — Corbillard de mon sommeil, isolé, maison de berger de ma niaiserie, le véhicule vire sur le gazon de la grande route effacée ; et dans un défaut en haut de la glace de droite tournoient les blêmes figures lunaires, feuilles, seins ; — Un vert et un bleu très foncés envahissent l'image. Dételage aux environs d'une tache de gravier.
— Ici, va-t-on siffler pour l'orage, et les Sodomes, — et les Solymes, — et les bêtes féroces et les armées,
— (Postillon et bêtes de songe reprendront-ils sous les plus suffocantes futaies, pour m'enfoncer jusqu'aux yeux dans la source de soie).
— Et nous envoyer, fouettés à travers les eaux clapotantes et les boissons répandues, rouler sur l'aboi des dogues...
— Un souffle disperse les limites du foyer.
- Arthur Rimbaud, em "Iluminuras - gravuras coloridas". [tradução Rodrigo Garcia Lopes e Mauricio Arruda Mendonça]. São Paulo: Editora Iluminuras, 3ª ed., 2002.
§§
Promontório
A aurora dourada e o pôr do sol arrepiante encontram nosso brickem alto-mar diante dessa vila e de suas dependências, que formam um promontório tão extenso quanto o Épiro e o Peloponeso, ou mesmo a grande ilha do Japão, quem sabe a Arábia! Templos iluminados pelo retorno das teorias, das vistas imensas da defesa das costas modernas; dunas ilustradas de flores quentes e de bacanais; dos grandes canais de Cartago e os Embankments de uma Veneza suspeita; a erupção mole de Etnas e as fissuras de flores e águas nas geleiras; lavatórios rodeados de álamos da Alemanha; declives de parques singulares inclinando as copas da Árvore do Japão; e as fachadas circulares dos “Royal” ou dos “Grand” de Scarbro e do Brooklyn; e seus railways flanqueiam, cruzam e pendem sobre as disposições deste Hotel, escolhidas na história das mais elegantes e mais colossais construções da Itália, América, Ásia, em cujas janelas e terraços, agora cheios de luzes, de bebidas e brisas chiques, estão abertos ao espírito dos viajantes e dos nobres — permitindo, durante o dia, a todas as tarantelas do litoral, — e até mesmo aos ritornelos dos vales ilustres da arte, decorar maravilhosamente as fachadas do Palácio-Promontório.
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Promontoire
L'aube d'or et la soirée frissonnante trouvent notre brick en large en face de cette villa et de ses dépendances, qui forment un promontoire aussi étendu que l'Épire et le Péloponnèse, ou que la grande île du Japon, ou que l'Arabie ! Des fanums qu'éclaire la rentrée des théories, d'immenses vues de la défense des côtes modernes ; des dunes illustrées de chaudes fleurs et de bacchanales ; de grands canaux de Carthage et des Embankments d'une Venise louche ; de molles éruptions d'Etnas et des crevasses de fleurs et d'eaux des glaciers ; des lavoirs entourés de peupliers d'Allemagne ; des talus de parcs singuliers pendant des têtes d'Arbres1 du Japon ; les façades circulaires des "Royal" ou des "Grand" de Scarbro ou de Brooklyn ; et leurs railways flanquent, creusent, surplombent les dispositions de cet Hôtel, choisies dans l'histoire des plus élégantes et des plus colossales constructions de l'Italie, de l'Amérique et de l'Asie, dont les fenêtres et les terrasses à présent pleines d'éclairages, de boissons et de brises riches, sont ouvertes à l'esprit des voyageurs et des nobles — qui permettent, aux heures du jour, à toutes les tarentelles des côtes, — et même aux ritournelles des vallées illustres de l'art, de décorer merveilleusement les façades du Palais-Promontoire.
- Arthur RImbaud, em "Iluminuras - gravuras coloridas". [tradução Rodrigo Garcia Lopes e Mauricio Arruda Mendonça]. São Paulo: Editora Iluminuras, 3ª ed., 2002, p. 89.
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À volta da mesa, pintura de Henri Fantin-Latour (1872) - Rimbaud é o segundo à esquerda, tendo ao seu lado direito Paul Verlaine |
FORTUNA CRÍTICA DE ARTHUR RIMBAUD
[bibliografia e estudos acadêmicos sobre Rimbaud: livros, teses, dissertações, monografias, artigos e ensaios]
ALMEIDA,
Carlos Pereira de. O Poeta e o Desencanto
com a Poesia: a maldição de Rimbaud. In: Juarez Nogueira Lins; Rosilda
Alves Bezerra; Waldeci Ferreira Chgas. (Org.). Perspectivas interdisciplinares
& propostas didáticas. João Pessoa: Editora dos organizadores, 2006, v. ,
p. 83-89.
Arthur Rimbaud, por Soleit |
ALSELMI, André
Luiz. O poema em prosa na literatura
francesa: Aloysius Bertrand, Charles Baudelaire e Arthur Rimbaud.
Diversidade (Araraquara), Faculdade de Ciências e Letras, v. 2, p. 3-8, 2004.
ALVARES, Maria
Cristina Daniel. Photographie et fonction paternelle dans
Rimbaud le Fils, de Pierre Michon. Contemporary French and Francophone Studies, v.
10, p. 389-396, 2006.
AMORIM, Bernardo Nascimento de. A míngua e o excesso: Mário de Sá-Carneiro, Arthur Rimbaud e o complexo de Ícaro. (Tese Doutorado em Estudos Literários). Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, 2010. Disponível no link. (acessado em 24.6.2014).
ANDRADE JUNIOR,
Antonio Francisco de. O tema poético da
luz em Rimbaud: diálogos com a poesia finissecular. Intersignos (Rio de
Janeiro), v. 3, p. 39-48, 2010.
BARBOSA,
Lohaine Jardim. Rimbaud: Um subalterno
hibrido em contexto colonial?. (Dissertação Mestrado em Ciências Sociais).
Universidade Federal do Espírito Santo, UFES, 2011.
BARBOSA, Luiz
Guilherme Ribeiro. O olho do desconhecido: o quem e a língua na poesia de Rimbaud.
Revista Garrafa (PPGL/UFRJ), v. 11, p. 1-0, 2006.
BARBOSA, Luiz
Guilherme Ribeiro. Eu, pronome obliquo: a
escrita poética em Rimbaud e Fernando Pessoa. (Monografia Graduação em
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BORER, Alain. Rimbaud l’heure de la Fuite. France, Gallimard, 1991.
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infernos de rimbaud. Signótica, Goiânia- GO, v. 16 (1), p. 120-141, 2004.
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prosa na Literatura Francesa Um estudo sobre Aloysius Bertrand, Charles
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Arthur Rimbaud, por (....) |
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ler as Iluminações de Rimbaud. 1ª ed., São Paulo: Editora UNESP, 2010.
121p.
WHITE, Edmund. Rimbaud: a vida dupla de um rebelde. (ensaio biográfico).. [tradução: Marcos Bagno]. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Rimbaud - obra disponível em pdf
:: Iluminações, de Arthur Rimbaud. [tradução Janer Cristaldo]. eBooksBrasil. 2012. Disponível em pdf no link. (acessado em 25.6.2014).
:: Les Illuminations, de Rimbaud (francês). Athena. Disponível no link. (acessado em 25.6.2014).
:: Una temporada en el infierno; Iluminaciones; y Cartas del vidente - de Arthur Rimbaud. [tradução Ramón Buenaventura].. (em espanhol). Revolucionária Anarquista. Disponível em pdf no link. (acessado em 24.6.2014).
Textos de Rimbaud (Versiones Completas)
Paul Verlaine e Arthur Rimbaud |
:: Una Temporada en el Infierno (Versión I) - Arthur Rimbaud (Español)
:: Una Temporada en el Infierno (Versión de Ramón Buenaventura) - Arthur Rimbaud (Español)
:: Iluminations - Arthur Rimbaud (Francés)
:: Iluminaciones - (Versión I) - Arthur Rimbaud
:: Iluminaciones - (Versión de R. Buenaventura) - Arthur Rimbaud
:: Cartas del vidente (Versión de R. Buenaventura) - por Arthur Rimbaud
Livro de Rimbaud para consulta online
:: Rimbaud Livre. [introdução e tradução Augusto de Campos]. São Paulo: Perspectiva, 2ª ed., 2002.
FANPAGE DEDICADO A LITERATURA FRANCESA
:: Literatura francesa / Littérature française
REFERÊNCIAS E OUTRAS FONTES DE PESQUISA
:: Rimbaud - Portal Domínio Público
:: La Máquina del Tiempo - una revista de literatura = Arthur Rimbaud
:: Musée Arthur Rimbaud
:: Truca - Biografia Rimbaud
:: Biblioteca Nacional - Catalogo online (Arthur Rimbaud)
:: Poemargens - Rimbaud
:: Arthur Rimbaud (Francês y Inglês)
:: Encyclopédia Larousse: Arthur Rimbaud - poète français (Charleville 1854-Marseille 1891)
* Colaboração: José Alexandre da Silva
© Direitos reservados ao autor/e ou aos herdeiros
© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Arthur Rimbaud - moderno e visionário. Templo Cultural Delfos, agosto/2021. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Arthur Rimbaud - moderno e visionário. Templo Cultural Delfos, agosto/2021. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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* Página atualizada em 26.8.2021.
UM BELO TRABALHO! PARA LER E GUARDAR!
ResponderExcluirOBRIGADA!
parabéns!
ResponderExcluirExcelente trabalho.
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