COMPARTILHE NAS SUAS REDES

Lord Byron - poeta inglês

Lord Byron (George Gordon Byron), por Thomas Phillips, ca. 1813 (detalhe)


© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske; colaboração José Alexandre da Silva
Por gentileza citar conforme consta no final desse trabalho. 
Página original ABRIL/2016 | ** Página revisada, ampliada e atualizada AGOSTO/2021.


Lord Byron (George Gordon Noel Byron)
nasceu em 22 de janeiro de 1788, em Londres. Apesar de nascer em família rica, seu pai, Capitão John Byron, era um "bon-vivant" que destruiu toda a riqueza. Sua mãe, Catherine Gordon Byron, vinha da família dos Gordons escocês, uma família tradicional e muito conhecida por sua ferocidade e violência. Havia, junto com a esposa, imigrado para a França para fugir das cobranças de credores. Porém, como ela não queria que seu rebento nascesse em solo francês, não hesitou em voltar à ilha da rainha. John ficou e encontrou abrigo na casa de sua irmã. Em 1791, ele encontrou a morte, aparentemente por suicídio, aos 36 anos. Logo após o nascimento de Byron, sua mãe o levou para a Aberdeen, Escócia, onde uma deformidade em seu pé logo ficou evidente.

Ganhou botas especiais e passou por inúmeros tratamentos mas logo deixou estas dolorosas experiências para trás. O pequeno George vivia mergulhado em leituras, com atenção especial para a história de Roma. Mas sua infância não se resumia a isto. Ele era marcado pelo amor. Aos sete anos, Byron se apaixonou perdidamente por sua prima, Mary Duff. Aos nove, sua babá o introduziu aos prazeres da carne.

Com 10 anos, Byron herda o título nobiliárquico de um tio-avô, tornando-se o sexto Lord Byron. As finanças minguavam. Tudo o que remetia ao nome dos Byron era motivo de processos por dívidas. O pequeno Byron foi enviado para a academia do doutor Glennie, em Dulwich, e logo em seguida, para Harrow. Durante um Natal, ele retornou para Newstead, que havia sido alugada por Lorde Ruthyn, que o iniciou no bissexualismo. Apaixonou-se perdidamente por Mary Ann Chaworth, uma vizinha. Ficou tão obcecado que se recusou a voltar. Ruthyn praticamente o obrigou a retornar.

Em sua adolescência, Byron foi tomando consciência de seu poder. Possuidor de carisma, beleza e poder de sedução, ele logo começou a aproveitar seus dons. Envolveu-se com colegas, empregadas, professores, prostitutas e garotas que adoravam um título de nobreza.

Em 1805, Byron teve um grande choque. Mary Ann casou-se. Logo, ele se torna mais rebelde ainda. Arrumou um emprego em Cambridge mas nunca trabalhava, já que esta era a moda para os descolados da época. Era o tédio, o "spleen". Era a forma que os, então, românticos viviam a vida, e da qual Byron foi o mestre supremo. Escrevia versos e mais versos e gastava muito dinheiro. Após entrar na "Trinity College" de Cambridge, em 1807, publica seu primeiro livro de poesia, Hours of Idleness (Horas de ócio), mal recebido pela crítica da prestigiosa Edinburgh Review. Byron respondeu com o poema satírico English Bards and Scotch Reviewers (Bardos ingleses e críticos escoceses), em 1809.

Em 1811, publica os dois primeiros cantos de Childe Harold's Pilgrimage (Peregrinação de Childe Harold), longo poema em que narra as andanças e amores de um herói desencantado, ao mesmo tempo em que descreve a natureza da península ibérica, Grécia e Albânia. A obra alcançou sucesso imediato e sua fama se consolidou com outros trabalhos, principalmente The Corsair (O Corsário) em 1814 e Lara no mesmo ano; além de The Siege of Corinth (O Cerco de Corinto) em 1816. Nesses poemas, de enredos exóticos, Byron confirmou seu talento para a descrição de ambientes.

Em 1815 casa-se com Anne Milbanke. Muda-se para a Suíça em 1816, após o divórcio de Lady Byron, causado pela suspeita de incesto do poeta com sua meia-irmã Augusta Leigh. Na Suíça escreve o canto III de Childe Harold's Pilgrimage, The Prisoner of Chillon (O prisioneiro de Chillon) e o poema dramático Manfred, enigmático e demoníaco. Em Genebra vive com Claire Clairmont e faz-se amigo de Shelley. Passam horas discutindo filosofias e poesias. Navegavam pelo lago e visitam os cenários da Nova Heloísa, de Rousseau. Chegaram, inclusive, a trocar rosas e carícias.

Numa noite chuvosa em Diodati, o grupo decidiu compor histórias macabras. Nasceu ali Frankenstein de Mary Shelley e O Vampiro de Polidori.

Compôs então, em 1818, o canto IV de Childe Harold's Pilgrimage e Beppo - A Venetian Story (Beppo - Uma história veneziana), poema em oitava-rima, de tom ligeiro e cáustico, em que ridiculariza a alta sociedade de Veneza. Em 1819 começou o poema herói-cômico Don Juan, sátira brilhante e atrevida, à maneira do século XVIII, que deixaria inacabada. No mesmo ano ligou-se à condessa Teresa Guiccioli, seguindo-a a Ravena onde, juntamente com o irmão dela, participou das conspirações dos carbonários.

George Gordon Lord Byron, por Colonel William,
 Stirling of Keir 1951
Em novembro de 1821, tendo fracassado o movimento revolucionário dos carbonários, Byron partiu para Pisa. Em 1822 fundou, com Leigh Hunt, o periódico The Liberal. Foi a seguir para Montenegro e daí para Gênova. Nomeado membro do comitê londrino pela independência da Grécia, embarcou para aquele país em 15 de julho de 1823, a fim de combater ao lado dos gregos, os turcos, onde escreveu o drama The Deformed Transformed (O Deformado Transformado), em 1824.

Passou quatro meses em Cefalônia e viajou para Missolonghi, onde morreu em 19 de abril de 1824, após contrair uma misteriosa febre.

A obra e a personalidade romântica de Lord Byron tiveram, no início do século XIX, grande projeção no panorama literário europeu e exerceram enorme influência em seus contemporâneos, por representarem o melhor da sensibilidade da época, conferindo-lhe muito de sedução e elegância mundana. Lord Byron teve uma vida pessoal bastante conturbada: na juventude foi acusado de abuso sexual pela prima, homossexualismo e também foi um dos primeiros escritores a descrever os efeitos da maconha. Em meio a toda essa agitação existencial, que se tornou o paradigma do homem romântico que busca a liberdade, Byron escreveu uma obra grandiloqüente e passional. Encantou o mundo inicialmente com seus poemas narrativos folhetinescos, em que não faltam elementos autobiográficos, como Childe Harold's Pilgrimage, e depois o assustou com a faceta satírica e satânica que apresenta em poemas como Don Juan. Foi um dos principais poetas ultra-românticos. O cinismo e o pessimismo de sua obra haveriam de criar, juntamente com sua mirabolante vida, uma legião de jovens poetas "byronianos" por todo o mundo, chegando até o Brasil na obra de grandes escritores, como Álvares de Azevedo.
-----------
* Fonte: por Spectrum | Spectrum Gothic (acessado em 3.4.2016).
** Arte: (1) Lord George Gordon Byron, por George Sanders, 1830.

Lord Byron (George Gordon Byron). por Thomas Phillips, ca. 1835 (detalhe)

OBRA DE BYRON PUBLICADA NO BRASIL E PORTUGAL

:: Lara. Lord Byron (romance).. [tradução Tibúrcio Antônio Craveiro]. Rio de Janeiro, RJ: Tipografia Austral, 1837. {Lara: Romance de Lord Byron; vertido e oferecido à Sociedade Literária do Rio de janeiro pelo sócio da mesma, T. A. Craveiro} / BLPL - Literatura Brasileira / UFSC. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021)/ e / Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin - USP. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021). 
:: O cerco de Corinto: Poema de Lord Byron. [tradução Henrique Ernesto d' Almeida Coutinho]. Porto, Portugal: Tipografia Comercial Portuense, 1839 / BLPL - Literatura Brasileira / UFSC. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).
:: Byron – obras.
 [
organização, seleção e esboço biográfico José Pérez; tradução de Francisco Octaviano, Francisco José Pinheiro Guimarães, Barão de Paranapiacaba (João Cardoso de Meneses e Sousa), João Vieira, ...]. Coleção Série Clássica de Cultura 'Os Mestres do Pensamento'. 
São Paulo: Edições Cultura, 1942. {inclui 'O Sonho' (traduzido por Francisco Octaviano), 'A peregrinação de Childe Harold' (Francisco José Pinheiro Guimarães), 'O Corsário' (Barão de Paranapiacaba), 'Manfredo' e 'Os Amores de D. Juan' (João Vieira), extraídos da obra poética e teatral de um dos maiores nomes do Romantismo}.
:: Poesia de Lorde Byron. [tradução, introdução e notas Péricles Eugênio da Silva Ramos]. Coleção Toda Poesia, v. 8., Edição bilíngue. São Paulo: Art Editora, 1989. 
:: Beppo – uma história veneziana
Lord Byron. [tradução Paulo Henriques Britto]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989; 2ª ed., 2003; 2013. 
:: As trevas e outros poemas. Lord Byron. [organização Cid Vale Ferreira; tradução vários autores]. Coleção Clássicos Saraiva. São Paulo: Saraiva, 2007. 
:: Byron: poemas
Lord Byron. [organização e tradução Péricles Eugênio da Silva Ramos]. São Paulo: Hedra, 2008.
:: Byron e Keats - entreversos. [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.
:: Beppo – uma história venezianaLord Byron. [tradução Paulo Henriques Britto]. Coleção Saraiva de Bolso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014

Em 'Antologias' (participação)
:: 
Traduções poéticas: Childe Harold e Sardanapalo, de Lord Byron; O roubo da madeixa, de Pope; Hernani, de Victor Hugo. [tradução Francisco José Pinheiro Guimarães]. Rio de Janeiro, RJ: Tipografia Universal de Laemmert, 1863 / BLPL - Literatura Brasileira / UFSC. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).
:: Poesia romântica inglesa -Byron, Shelley, Keats. [tradução, introdução e notas Fernando Guimarães]. Porto: Editorial Inova, 1977; Lisboa: Relógio d’Água, 1992; 3ª ed., 2010.
:: Grandes poetas da língua inglesa do século XIX.  [tradução e introdução José Lino Grünewald]. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1994.
:: 31 poetas, 214 poemas: do Rigveda e Safo a Apolinnaire[tradução e organização Décio Pignatari]. São Paulo: Companhia das Letras, 1996; 2ª ed., Campinas SP: Unicamp,  2007, 272p.
:: Contos clássicos de vampiro: Byron, Stoker e outros. [organização Bruno Costa; tradução Marta Chiarelli]. Editora Hedra, 2010; 2ª ed., 2012. {autores presentes: Lord Byron, Bram Stoker, Theóphile Gautier, Samuel Taylor Coleridge, Filóstrato, John Polidori, Francis Marion Crawford, F.G. Loring, Heinrich August Ossenfeld e Gottfried August Bürger}.
:: Poesia romântica inglesa - Keats, Byron, Blake e Shelley [organização e tradução Péricles Eugênio da Silva Ramos e Ivo Barroso]. São Paulo: Editora Hedra, 2011. {o box reúne 4 livros que contemplam a produção literária romântica inglesa: 'Ode sobre a Melancolia', de John Keats, 'Poemas', de Byron, 'O casamento do céu e do inferno', de William Blake e 'Ode ao vento oeste', de P.B. Shelley}.
* Arte: Lord Byron, por Thomas Lawrence.

Poemas de Lord Byron em tradução de Castro Alves, Francisco Otaviano, Álvares de Azevedo, João Cardoso de Menezes e Souza 
:: A uma taça feita de um crânio humano (Lines inscribed upon a cup formed from a skull). Lord Byron. [tradução Castro Alves]. In: ALVES, Castro. 'Espumas flutuantes: poesias'. (Bahia, 1870). Edição fac-similar. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 2011 / Wikisource. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).
:: As trevas (Darkness). Lord Byron. [tradução Castro Alves]. In: ALVES, Castro. 'Espumas flutuantes: poesias'. (Bahia, 1870). Edição fac-similar. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 2011 / Wikisource. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).
:: À M.S.G. Lord Byron. [tradução Francisco Otaviano]. In: Wikisource. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).
:: Crepúsculo da tarde. Lord Byron. [tradução Francisco Otaviano]. In: Wikisource. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).
:: Parisina (introdução). Lord Byron. [tradução Álvares de Azevedo]. In: Wikisource. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).
:: Eutanásia. Lord Byron. [tradução João Cardoso de Menezes e Sousa (Barão de Paranapiacaba)]. In: Wikisource. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).
:: Tu me chamas. Lord Byron. [tradução João Cardoso de Menezes e Sousa (Barão de Paranapiacaba)]. In: Wikisource. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).

Outras traduções e referências da obra de Lord Byron no Brasil
:: AGUSTINI, Lucas de Lacerda Zaparolli de.. Don Juan de Lorde Byron: estudo descritivo das traduções, tradução, comentários e notas. (Dissertação Mestrado em Estudos da Tradução). Universidade de São Paulo, USP, 2015. Disponível no link. (acessado em 3.4.2016).
:: ZEMBRUSKI, Soeli Staub. Um outro Byron no Brasil: a Tradução de Paulo Henriques Britto. (Dissertação Mestrado em Estudos da Tradução). Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, 2008. Disponível no link. (acessado em 3.4.2016).

Biografias e memórias de Lord Byron traduzidas no Brasil
O'BRIEN, Edna. Byron apaixonado. [tradução Mauro Gama]. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2011.
MAUROIS, André. Don Juan ou a fascinante vida de Lord Byron. [tradução de Maria Clara Mariani Lacerda e Tereza Bulhões de Carvalho da Fonseca]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1966.
NYE, Robert. Memórias de Lord Byron (The memoirs of Lord Byron).. [tradução Celso Loureiro Chaves]. Porto Alegre: L&pm Editores, 1990.
* Arte: Lord Byron, por Henry Pierce Bone, 1837.

Lord Byron em inglês online
:: Voyage of H.M.S. Blonde to the Sandwich Island in the years 1824-1825. Lord Byron. Londres, Inglaterra: John Murray, 1826 / BLPL - Literatura Brasileira / UFSC. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).


Lord Byron (George Gordon Byron), por Richard Westall, ca. 1836 (detalhe)

BYRON - POEMAS ESCOLHIDOS

Childe Harold – Excertos

Do CANTO III

72

Não vivo por mim mesmo. Sou só um
Elo do que me cerca, mas se a altura
Das montanhas enleva-me, o zum-zum
Das cidades humanas me tortura.
A criação só errou na criatura
Presa à carne, onde paro, relutante,
Buscando, libertada a alma pura,
Mesclar-me ao céu, aos montes, ao ondeante
Plaino do oceano, às estrelas, e ir adiante.

113

O mundo eu não o amei, nem ele a mim;
Não bajulei seu ar vicioso, nem dobrei
Aos seus idólatras o joelho do sim. -
Meu rosto não abriu risos ao rei
Nem repetiu ecos; a turba, eu sei,
Não me inclui entre os seus. Vivi ao lado
Deles, porém sem ser da sua grei;
E à mortalha da sua mente atado
Estaria se não me houvesse precatado.

114

O mundo eu não amei, nem ele a mim –
Bons inimigos, vamos sem rancor.
Não as achei, mas creio que há, enfim,
Palavras que são coisas, vi a cor
Da esperança e cheguei mesmo a supor
Virtudes sem perjúrio ou falsidade;
Nos prantos dos demais vislumbro dor
Em dois ou três, e penso, de verdade,
Que o bem pode existir e assim felicidade.

*

From CANTO III

72

I live not in myself, but I become 
Portion of that around me; and to me 
High mountains are a feeling, but the hum 
Of human cities torture: I can see 
Nothing to loathe in nature, save to be 
A link reluctant in a fleshly chain, 
Class’d among creatures, when the soul can flee, 
And with the sky, the peak, the heaving plain 
Of ocean, or the stars, mingle, and not in vain. 

113

I have not loved the world, nor the world me;
I have not flatter'd its rank breath, nor bowed
To its idolatries a patient knee, --
Nor coined my cheek to smiles, nor cried aloud
In worship of an echo; in the crowd
They could not deem me one of such; I stood
Amongst them, but not of them; in a shroud
Of thoughts which were not their thoughts, and still could,
Had I not filed my mind, which thus itself subdued.

114

I have not loved the world, nor the world me, – 
But let us part fair foes; I do believe, 
Though I have found them not, that there may be 
Words which are things, – hopes which will not deceive, 
And virtues which are merciful, or weave 
Snares for the failing: I would also deem 
O’er others’ griefs that some sincerely grieve; 
That two, or one, are almost what they seem, – 
That goodness is no name, and happiness no dream.
- Lord Byron, "Childe Harold – Excertos" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.

§

Do CANTO IV

1

  Veneza. Estou na Ponte dos Suspiros.
  O palácio e a prisão, de canto a canto:
  Das ondas dos canais vejo subir os
  Antigos muros como por encanto:
  Mil anos passam na memória enquanto
  Em suas asas de névoa eu vejo as trilhas
  Dos povos que vieram sob o manto
  Do Leão alado, e as muitas maravilhas
Onde Veneza está em seu trono de cem ilhas!

11

  O Adriático chora por seu doge
  E o matrimônio já não comemora.
  O Buccentoro jaz – o tempo foge –
  Deteriorado e sem o ouro de outrora!
  São Marcos não revê o leão agora
  Como antes, só o escarnio da memória
  Do poder imperial, quando, de fora,
  Monarcas invejavam sua história
E Veneza reinava em toda a sua glória.

15

   Cacos de estátuas vítreas – a fileira
   Dos doges mortos em pó se desfaz.
   Mas a cidade se ergue da poeira
   Na pompa dos palácios senhoriais.
   Cetros rotos a espadas e punhais
   De estranhos entregaram a grandeza:
   Ruas estreias, escuros canais, 
   Salas vazias da antiga beleza,
Lançaram uma nuvem gris sobre Veneza.

18

  Desde cedo eu a pus em meu altar,
  Cidade etérea que se vê surgir
  Como em colunas de água sobre o mar.
  Sítio do amor e sede do mercar,
  Que Otway, Radcliffe, Schiller, Shakespeare
  Celebrizaram. Mas ainda a dor
  De agora não nos pode dividir,
  Talvez mais bela no seu desfavor
Do que quando era só poder, glória e fulgor.

*

From CANTO IV

1

   I stood in Venice, on the Bridge of Sighs;
  A palace and a prison on each hand:
  I saw from out the wave her structures rise
  As from the stroke of the enchanter’s wand:
  A thousand years their cloudy wings expand        
  Around me, and a dying glory smiles
  O’er the far times when many a subject land
  Looked to the winged Lion’s marble piles,
Where Venice sate in state, throned on her hundred isles!

11

  The spouseless Adriatic mourns her lord;
  And, annual marriage now no more renewed,
  The Bucentaur lies rotting unrestored,
  Neglected garment of her widowhood!
  St. Mark yet sees his lion where he stood        
  Stand, but in mockery of his withered power,
  Over the proud place where an Emperor sued,
  And monarchs gazed and envied in the hour
When Venice was a queen with an unequalled dower.

15

  Statues of glass — all shivered — the long file
  Of her dead doges are declined to dust;
  But where they dwelt, the vast and sumptuous pile
  Bespeaks the pageant of their splendid trust;
  Their sceptre broken, and their sword in rust,
  Have yielded to the stranger: empty halls,
  Thin streets, and foreign aspects, such as must
  Too oft remind her who and what enthrals,
Have flung a desolate cloud o'er Venice' lovely walls.

18

  I loved her from my boyhood: she to me
  Was as a fairy city of the heart,
  Rising like water-columns from the sea,
  Of joy the sojourn, and of wealth the mart
  And Otway, Radclifife, Schiller, Shakespeare's art,
  Had stamped her image in me, and e`en so,
  Although I found her thus, we did not part,
  Perchance e`en dearer in her day of woe,

Than when she was a boast, a marvel, and a show.
- Lord Byron,  "Childe Harold – Excertos" |  em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.



Don Juan – Digressões

FRAGMENTO

Nas costas do manuscrito do CANTO I 

Tivesse eu tanto barro em mim pesado,
Quanto sangue, ossos, dor, nervos, paixão –
Ao menos o passado era passado –
E o futuro – (eu escrevo em confusão,
Tendo bebido tanto, que, coitado,
Penso pisar o teto em vez do chão)
O futuro não é questão de moda –
Então – Que diabo! – um viva ao vinho e à soda!

Do CANTO I

1

Quero um herói – o que é um desejo insano.
Anunciá-los ao mundo é o tolo afã
Desses jornais que todo mês e ano
Acham um novo... Que esperança vã!
Com eles, podem crer, eu não me engano.
Por isso eu fui buscar um D. Juan.
Todos o vimos já na pantomina,
Mandado às favas por alguma rima.

5

Bravos guerreiros, já, desde Agamêmnon,
Viveram e mostraram seu valor,
Alguns grandes como ele, outros menos,
Mas se um bardo não faz o seu louvor,
São esquecidos. Eu não os condeno,
Mas de nenhum deles posso dispor
Para o meu Canto (isto é, para amanhã!).
Por isso recorri ao D. Juan.

6

Poeta épicos in midias res-
Iniciam (Horácio assim prescreve).
O herói, aqui e ali, de quando em vez,
Os casos, ao revés, depois descreve,
Tendo a seu lado a amante e um bom xerez,
Depois da janta, sob a brisa leve,
Num palácio ou até numa caverna,
Contanto que lhes sirva de taverna.

7

É o método usual, não é o meu.
O que pretendo é iniciar do início.
Caminhadas e errâncias, isto eu 
Condeno sem rebuços, como um vício,
E assim começo com luz, não com breu,
E embora seja mais do que um suplício,
Falando sobre o pai de D. Juan,
E, data vênia, sobre sua mãe.

200

Meu poema é épico e irá tomar
Doze cantos, ao menos, abrangendo
Amor e guerra, tempestade e mar,
Navios e capitães e reis regendo.
Três episódios vão ter seu lugar.
E uma visão do inferno ainda pretendo
No estilo de Virgílio e de Homero,
(O nome “épico” não é só mero).

202

Há só uma pequena diferença 
Entre este épico e o que vieram antes,
A meu favor, suponho. A sentença  
(Não que eu não tenha méritos bastantes)
Virá depois que a todos eu convença.
Tanto embelezam que tornam maçantes
Os labirintos do seu artificio,
Enquanto em meu cantar nada é fictício.

203

Se alguém duvida, desde logo invoco
A tradição, a história e os mesmos fatos
Que os jornais cotidianos põem em foco, 
Peças em cinco e óperas em três atos.
Todos confirmam que eu nada retoco.
Mas o que mais comprova os meus relatos
É que eu e outros vimos em Sevilha
O próprio Juan e o diabo em família.

213

Meu cabelo é grisalho aos trinta anos. 
(Como estarei quando tiver quarenta?
Já tive uma peruca entre os meus planos)
Meu coração secou, já não agüenta.
Perdi todo o verão com desenganos
E já coisa nenhuma me contenta.
Gastei a vida, o principal e o juro.
Já não me sinto dono do futuro.

214

Não mais – ah! nunca mais – descubro em mim
Esse frescor do coração que cai 
Como orvalho e do mais longe confim
Belas e novas emoções extrai,
Como uma abelha o seu mel, enfim.
Pensas que o mel desses objetos sai?
Não era neles mas no teu calor
Que eu captava a doçura de uma flor.

215

Não mais – ah! nunca mais – meu coração,
Serás meu mundo, o único universo.
Outrora foste – hoje sem emoção –
Bênção ou maldição para o meu verso.
Há muito tempo foi-se a ilusão. 
Sou insensível, sim, mas não perverso.
Em teu lugar só tenho julgamento,
Embora não encontre alojamento.

216

Os meus dias de amor já longe estão,
Donzela, esposa, viúva, ainda menos, 
Já não me fazem perder a razão. 
Em suma, fujo dos dias amenos; 
As almas gêmeas são uma ilusão. 
Os goles de clarete são pequenos.
Assim, para quem veio da nobreza,
Só me resta apelar para a avareza.

222

“Vai, meu livrinho, de um porto esquecido
Lanço-te às águas, para onde for,
E se houveres de ser bem-sucedido,
O mundo saberá do teu valor.”
Com Southey lido e Wordsworth compreendido,
Não posso renunciar em seu favor.
Cito versos de Southey, linha a linha;

Não pense o meu leitor que é obra minha.

*

FRAGMENT

On the back of the Poet’s MS. of CANTO I

I would to Heaven that I were so much clay,
As I am blood, bone, marrow, passion, feeling –
Because at least the past were pass`d away –
And for the future – (but I write this reeling.
Having got drunk exceedingly to-day.
So that I seem to stand upon the ceiling)
I say – the future is a serious matter –
And so – for God's sake – hock and soda-water!


From CANTO I

I

I want a hero: an uncommon want,
When every year and month sends forth a new one,
Till, after cloying the gazettes with cant,
The age discovers he is not the true one;
Of such as these I should not care to vaunt,
I'll therefore take our ancient friend Don Juan — 
We all have seen him, in the pantomime,
Sent to the devil somewhat ere his time.

5

Brave men were living before Agamemnon
And since, exceeding valorous and sage,
A good deal like him too, though quite the same none;
But then they shone not on the poet's page,
And so have been forgotten: — I condemn none,
But can't find any in the present age
Fit for my poem (that is, for my new one);
So, as I said, I'll take my friend Don Juan.

6

Most epic poets plunge "in medias res"
(Horace makes this the heroic turnpike road),
And then your hero tells, whene'er you please,
What went before — by way of episode,
While seated after dinner at his ease,
Beside his mistress in some soft abode,
Palace, or garden, paradise, or cavern,
Which serves the happy couple for a tavern.

7

That is the usual method, but not mine — 
My way is to begin with the beginning;
The regularity of my design
Forbids all wandering as the worst of sinning,
And therefore I shall open with a line
(Although it cost me half an hour in spinning)
Narrating somewhat of Don Juan's father,
And also of his mother, if you'd rather.

200

My poem's epic, and is meant to be
Divided in twelve books; each book containing,
With love, and war, a heavy gale at sea,
A list of ships, and captains, and kings reigning,
New characters; the episodes are three:
A panoramic view of hell's in training,
After the style of Virgil and of Homer,
So that my name of Epic's no misnomer.

202

There's only one slight difference between
Me and my epic brethren gone before,
And here the advantage is my own, I ween
(Not that I have not several merits more,
But this will more peculiarly be seen);
They so embellish, that 't is quite a bore
Their labyrinth of fables to thread through,
Whereas this story's actually true.

203

If any person doubt it, I appeal
To history, tradition, and to facts,
To newspapers, whose truth all know and feel,
To plays in five, and operas in three acts;
All these confirm my statement a good deal,
But that which more completely faith exacts
Is that myself, and several now in Seville,
Saw Juan's last elopement with the devil.

213

But now at thirty years my hair is grey
(I wonder what it will be like at forty?
I thought of a peruke the other day) — 
My heart is not much greener; and, in short, I
Have squander'd my whole summer while 't was May,
And feel no more the spirit to retort; I
Have spent my life, both interest and principal,
And deem not, what I deem'd, my soul invincible.

214

No more — no more — Oh! never more on me
The freshness of the heart can fall like dew,
Which out of all the lovely things we see
Extracts emotions beautiful and new,
Hived in our bosoms like the bag o' the bee:
Think'st thou the honey with those objects grew?
Alas! 't was not in them, but in thy power
To double even the sweetness of a flower.

215

No more — no more — Oh! never more, my heart,
Canst thou be my sole world, my universe!
Once all in all, but now a thing apart,
Thou canst not be my blessing or my curse:
The illusion's gone for ever, and thou art
Insensible, I trust, but none the worse,
And in thy stead I've got a deal of judgment,
Though heaven knows how it ever found a lodgment.

216

My days of love are over; me no more
The charms of maid, wife, and still less of widow,
Can make the fool of which they made before, — 
In short, I must not lead the life I did do;
The credulous hope of mutual minds is o'er,
The copious use of claret is forbid too,
So for a good old-gentlemanly vice,
I think I must take up with avarice.

222

"Go, little book, from this my solitude!
I cast thee on the waters — go thy ways!
And if, as I believe, thy vein be good,
The world will find thee after many days."
When Southey's read, and Wordsworth understood,
I can't help putting in my claim to praise — 
The four first rhymes are Southey's every line:

For God's sake, reader! take them not for mine.
- Lord Byron, "Don Juan – Digressões" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.

§

Do CANTO II

214

O coração é um céu dentro dos céus,
Mas muda como o céu, da noite ao dia. 
Às vezes com seus raios e escarcéus
De terror e de trevas se anuvia.
Mas quando se descarna expia os seus 
Males com gotas de água.   Olho expia
A dor com sangue transformado em pranto
Que os Ingleses agora vertem tanto.

215

O fígado é um asilo para a bile,
Mas muito pouco exerce essa função –
Que a primeira paixão ali se exile
É para que o resto entre em ação
E um ninho de serpentes lá instile
Ciúme, despeito, amor, horror, que vão
Roendo e arrancando dessa entranha
Terremotos que o fogo desentranha.

216 

Enquanto isso, sem seguir adiante
Com esta anatomia, chego ao fim
Destas estrofes. Já falei bastante.
São duzentas e tantas; o que, enfim,
Eu me permito para cada canto e
Deixando a pena, eu os deixo assim,
Don Juan e Haidée com seus amores,
Na expectativa de ainda ter leitores.

*

From CANTO II

214

The heart is like the sky, a part of heaven,
But changes night and day, too, like the sky;
Now o'er it clouds and thunder must be driven,
And darkness and destruction as on high:
But when it hath been scorch'd, and pierced, and riven,
Its storms expire in water-drops; the eye
Pours forth at last the heart's blood turn'd to tears,
Which make the English climate of our years.

215

The liver is the lazaret of bile,
But very rarely executes its function,
For the first passion stays there such a while,
That all the rest creep in and form a junction,
Life knots of vipers on a dunghill's soil, —
Rage, fear, hate, jealousy, revenge, compunction, —
So that all mischiefs spring up from this entrail,
Like earthquakes from the hidden fire call'd "central,"

216

In the meantime, without proceeding more
In this anatomy, I've finish'd now
Two hundred and odd stanzas as before,
That being about the number I'll allow
Each canto of the twelve, or twenty-four;
And, laying down my pen, I make my bow,
Leaving Don Juan and Haidée to plead

For them and theirs with all who deign to read.
- Lord Byron,  "Don Juan – Digressões" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.

§

Do CANTO III

1

Ó Musa, et cetera. Deixei dormindo
Juan no seio do mais suave leito
Sob um olhar que só viveu sorrindo,
E amado por alguém tão sem defeito
Que não cabe o veneno que vem vindo
Para tomar-lhe a alma. No seu peito
Ela pusera um malfeitor, enquanto
Seu coração ia do sangue ao pranto.

111

Sinto que está ficando muito chato
Este canto, e (ao copiá-lo) o jeito
É cortar em dois atos o meu ato;
Nunca descobrirão o que foi feito,
Salvo alguns poucos. Por artesanato
Vão dá-lo e achar que tudo isso é perfeito.
E eu provo, pois esse conselho crítico es- 
Tá em Aristóteles passim, Ποιητικῆς.

*

From CANTO III

1

Hail, Muse! et cetera. — We left Juan sleeping,
Pillow'd upon a fair and happy breast,
And watch'd by eyes that never yet knew weeping,
And loved by a young heart, too deeply blest
To feel the poison through her spirit creeping,
Or know who rested there, a foe to rest,
Had soil'd the current of her sinless years,
And turn'd her pure heart's purest blood to tears!

111

I feel this tediousness will never do —
'T is being too epic, and I must cut down
(In copying) this long canto into two;
They'll never find it out, unless I own
The fact, excepting some experienced few;
And then as an improvement 't will be shown:
I 'll prove that such the opinion of the critic is

From Aristotle passim. — See Ποιητικῆς.
- Lord Byron, "Don Juan – Digressões" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.

§

Do CANTO IV

1

Nada é mais difícil que o começo 
Em poesia, a menos que se trate 
Do final, porque quando eu já pareço 
Ganhar o páreo, eis que uma asa bate 
E eu caio como Lúcifer e desço;
Nosso pecado sobre nós se abate –
O orgulho, que nos faz subir ao alto 
Até que a falta corte o nosso salto.

*

From CANTO IV

1

Nothing so difficult as a beginning
In poesy, unless perhaps the end;
For oftentimes when Pegasus seems winning
The race, he sprains a wing, and down we tend,
Like Lucifer when hurl'd from heaven for sinning;
Our sin the same, and hard as his to mend,
Being pride, which leads the mind to soar too far,

Till our own weakness shows us what we are.
- Lord Byron, "Don Juan – Digressões" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.

§

Do CANTO V

1

Quando os poetas cantam seus amores
E arrumam suas rimassem fileira,
Como Vênus suas pombas e favores,
Mal sabem do tamanho da besteira.
Tal é o sucesso, tantos os horrores,
Como se vê em Ovídio, e nessa esteira,
Petrarca é o proxeneta da poesia
Platônica da nossa fantasia.

*

From CANTO V

1

When amatory poets sing their loves
In liquid lines mellifluously bland,
And pair their rhymes as Venus yokes her doves,
They little think what mischief is in hand;
The greater their success the worse it proves,
As Ovid's verse may give to understand;
Even Petrarch's self, if judged with due severity,

Is the Platonic pimp of all posterity.
- Lord Byron, "Don Juan – Digressões" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.

§

Do CANTO VI

4

Tronos, mundos, et cetera são movidos 
Pela ânsia do poder, mas se a paixão 
O ultrapassa, esquecemos os perdidos 
Ou perdoamos o erro de sua ação. 
Se Marco Antonio ainda encontra ouvidos 
Não é pela vitória ou danação.  
Os olhos de Cleópatra, e sua história 
Empanam César e sua vitória.

*

From CANTO VI

4

Thrones, worlds, et cetera, are so oft upset
By commonest ambition, that when passion
O'erthrows the same, we readily forget,
Or at the least forgive, the loving rash one.
If Antony be well remember'd yet,
'T is not his conquests keep his name in fashion,
But Actium, lost for Cleopatra's eyes,
Outbalances all Caesar's victories.
- Lord Byron, "Don Juan – Digressões" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.

§

Do CANTO VII

3

Acusam-me – a mim – que sou o autor 
Deste poema de – sei lá o que mais –
Subestimar ou negar o valor 
De virtude e poder – coisas que tais, 
E o fazem com excesso de furor. 
O que querem de mim essas vestais? 
Eu só digo o que Dante disse antes 
E Salomão também e até Cervantes;

4

Machiavel, Swift e Rochefoucauld, 
Fenelon e Lutero e Platão, 
Tillotson e ainda Wesley e Rousseau, 
Cônscios da nossa pobre condição. 
A falta não é minha e nem eu sou 
Desses que assume mares de Catão 
Ou Diógenes. – Vivemos sem saber 
De onde viemos e onde vamos ter.

5

Sócrates resumiu tudo ao dizer:
“Só sei que nada sei”. Uma sentença
Que fulmina a soberba do saber
E todas as fumaças de sabença.
Newton foi outro grande a perceber:
Em busca da verdade, quando pensa,
“É uma criança, o pobre ser humano,
Catando conchas diante do oceano.”

6

A Bíblia diz que tudo é vacuidade. 
O pregador moderno bem o sabe e os 
Exemplos sobram para a Cristandade. 
É algo que já está em todos os lábios; 
E nessa autoconfessa inanidade 
De pensadores, poetas, santos, sábios, 
Devo poupar-me, por temor da lida, 
De proclamar o nada desta vida?

7

Homens ou cães! – e a estes nem faz jus,
Pois são melhores, a comparação –
Leiam vocês ou não o que compus,
Para mostrar-lhes o que vocês são:
Como o uivo dos lobos não reduz
A luz da lua, a minha Musa não
Deixará de brilhar, por mais que a ira
Faça rugir a quem meus versos fira.

*

From CANTO VII

3

They accuse me — Me — the present writer of
The present poem — of — I know not what —
A tendency to under-rate and scoff
At human power and virtue, and all that;
And this they say in language rather rough.
Good God! I wonder what they would be at!
I say no more than hath been said in Danté's
Verse, and by Solomon and by Cervantes;

4

By Swift, by Machiavel, by Rochefoucault,
By Fénélon, by Luther, and by Plato;
By Tillotson, and Wesley, and Rousseau,
Who knew this life was not worth a potato.
'T is not their fault, nor mine, if this be so —
For my part, I pretend not to be Cato,
Nor even Diogenes. — We live and die,
But which is best, you know no more than I.

5

Socrates said, our only knowledge was
"To know that nothing could be known;" a pleasant
Science enough, which levels to an ass
Each man of wisdom, future, past, or present.
Newton (that proverb of the mind), alas!
Declared, with all his grand discoveries recent,
That he himself felt only "like a youth
Picking up shells by the great ocean — Truth."

6

Ecclesiastes said, "that all is vanity" —
Most modern preachers say the same, or show it
By their examples of true Christianity:
In short, all know, or very soon may know it;
And in this scene of all-confess'd inanity,
By saint, by sage, by preacher, and by poet,
Must I restrain me, through the fear of strife,
From holding up the nothingness of life?

7

Dogs, or men! — for I flatter you in saying
That ye are dogs — your betters far — ye may
Read, or read not, what I am now essaying
To show ye what ye are in every way.
As little as the moon stops for the baying
Of wolves, will the bright muse withdraw one ray
From out her skies — then howl your idle wrath!
While she still silvers o'er your gloomy path.
- Lord Byron, "Don Juan – Digressões" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.

§

Do CANTO VIII


1

Trovão e sangue! E mais sangue e feridas!
Não passam de patéticos clamores,
Caro leitor, bravatas compungidas.
Só isso, já que todos os horrores
Levam à gloria. As honras indevidas
Devo expor. Chamem seus inspiradores
Belona ou Marte, o resultado é: guerra.
Não há maior desgraça sobre a terra.

12

Centenas de canhões jorram, eméticos;
Mil mosquetes, suas pílulas fatais,
Granizo de sangrentos diuréticos.
Mortais, os homens têm contas mensais,
Pragas, fomes. Os médicos, mais céticos,
No seus relógios contam nossos ais
Passados e atuais até a mortalha.
Mas nada iguala um campo de batalha.

14

Mas viva a glória – a glória a tudo abarca.
Que bom chegar a uma provecta idade
Vivendo a expensas de um grato monarca.
Um magro soldo atrai a sociedade
E há sempre um bardo a extrair da arca
O hino ao herói. Eis que a celebridade
Coroa, enfim, a guerra. Ah! que delícia
Matar por uma renda vitalícia!

*

From CANTO VIII

1

O blood and thunder! and oh blood and wounds!
These are but vulgar oaths, as you may deem,
Too gentle reader! and most shocking sounds:
And so they are; yet thus is Glory's dream
Unriddled, and as my true Muse expounds
At present such things, since they are her theme,
So be they her inspirers! Call them Mars,
Bellona, what you will — they mean but war.

12

Three hundred cannon threw up their emetic,
And thirty thousand musket flung their pills
Like hail, to make a bloody diuretic.
Mortality! thou hast thy monthly bills;
Thy plagues, thy famines, thy phyisicians, yet tick,
Like the death-watch, within our ears the ills
Past, present, and to come; -- but all may yield
To the true portrait of one batlle-field;

14

Yet I love glory; — glory's a great thing: —
Think what it is to be in your old age
Maintain'd at the expense of your good king:
A moderate pension shakes full many a sage,
And heroes are but made for bards to sing,
Which is still better; thus in verse to wage
Your wars eternally, besides enjoying
Half-pay for life, make mankind worth destroying.
- Lord Byron, "Don Juan – Digressões" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.

§

Do CANTO IX     

1

Oh! Wellington! (ou "Villainton" — a Fama
Pode soar de um ou de outro jeito.
A França ainda não sabe como chama 
Teu nome: com despeito ou sem respeito,
Ri sempre, refazendo a sua trama.)
Tens glórias e pensões pelo teu feito.
Negar teus méritos não ousarei.
A humanidade gritaria: "Ney!"*

2

A Kinnaird não trataste muito bem 
No caso Marinet, culpa te cabe; 
E outras histórias vão pesar também 
No teu sepulcro em Westminster Abbey. 
Mas falar sobre isso não convém. 
Conversas de comadre, já se sabe. 
Embora os anos marchem para o zero 
Serás o herói da hora – assim espero.

3

Mesmo a Inglaterra ter devendo tanto
(E te pagando), a Europa deve mais.
Salvaste a legitimidade, e quanto!
Um amparo que não houve jamais.
Espanha, França, Holanda, com espanto
Viram tuas restaurações reais.
Waterloo fez de nós teus devedores
(Pena serem tão maus os teus cantores).

4

“O melhor corta-goelas”. De Shakespeare
É a expressão. Não te zangues. Cito “sic”.
A guerra é um matadouro, há que convir,
Se não há uma razão que a santifique.
O mundo (e não seus reis) vai decidir
Se houve uma causa que te justifique.
Só queria saber quem mais ganhou,
Além de ti e os teus, com Waterloo.

5

Desdenho a adulação. Mas a aprecias,
Segundo dizem, o que não me assusta.
Quem viveu entre o ataque e as baterias
Ao menos pode repousar à custa
Do embalo das suaves melodias
Da louvação, ainda quando injusta.
“Salvador das Nações” – não totalmente.
“Libertador da Europa” – ainda doente.

6

Falei. Agora vai comer da torta
Que veio em nome do Rei do Brasil,
E manda à sentinela de tua porta
Umas fatias do teu melhor pernil.
Este lutou, mas a fome ainda corta,
E fome – dizem – tem a plebe vil.
Mereces – com certeza – essa ração,
Mas deixa alguma coisa pra nação.

16

“Ser ou não ser eis...” Antes que eu decida,
Quero saber, primeiro, o que é ser.
De fato, pretendemos, indevida-
Mente, só porque vemos, tudo-ver.
De minha parte não vejo saída,
Até que alguém me possa convencer.
Que a vida é morte e eu chego a acreditar
Mais do que a vida um afazer de ar.

17

Que sais-je?, esse mote de Montaigne
É uma verdade mais do que curial.
É duvidoso tudo o que se ganhe
Por mais que nos pareça natural,
Certeza não existe, tudo é vão e 
Fugaz como é a condição mortal.
Tão pouco nós sabemos desta vida
Que a dúvida da dúvida duvida.

20

Oh! deuses, o que é teogonia?
Oh! mortais, o que é filantropia?
Oh! mundos, o que é cosmogonia?
Há quem me acuse de misantropia,
Mais eu disso sei tanto (que agonia!...)
Quanto esta mesa. De licantropia,
Sim, eu entendo. Sem transformação,
O homem é um lobo sempre que há ocasião.

22

É tempo de voltar ao bom poema,
Pois eu sustento que o poema é bom,
Desde o proêmio, e não só no tema,
Por mais que poucos ora o tenham com-
Preendido. A verdade, enfim, suprema,
Há de mostrar a todos o seu dom.
Até lá, com prazer, eu me contento
Com sua beleza e se banimento.

74

Além do amor platônico, do amor
De Deus, do amor sentimental, além do
Amor fiel (a rima pede humor,
A velha barca sempre se movendo
Contra a razão; esta nunca deu valor
À rima, preferindo, eu bem entendo,
O senso ao som.) – além dos assim tidos
Amores, há o que chamam de sentidos;

76

A mais nobre paixão é a platônica,
Para fim ou começo. Outra feição
Do amor é que chamam de canônica,
Pelo que rende aos padres de plantão.
A terceira é a que mostra nossa crônica.
Vem florescendo muito entre os cristãos:
Castas damas que juntam aos feitiços,
Que já têm, disfarçados compromissos.

*

From CANTO IX

I

Oh, Wellington! (or "Villainton" — for Fame
Sounds the heroic syllables both ways;
France could not even conquer your great name,
But punn'd it down to this facetious phrase —
Beating or beaten she will laugh the same),
You have obtain'd great pensions and much praise:
Glory like yours should any dare gainsay,
Humanity would rise, and thunder "Nay!"

2

I don't think that you used Kinnaird quite well
In Marinet's affair — in fact, 't was shabby,
And like some other things won't do to tell
Upon your tomb in Westminster's old abbey.
Upon the rest 't is not worth while to dwell,
Such tales being for the tea-hours of some tabby;
But though your years as man tend fast to zero,
In fact your grace is still but a young hero.

3

Though Britain owes (and pays you too) so much,
Yet Europe doubtless owes you greatly more:
You have repair'd Legitimacy's crutch,
A prop not quite so certain as before:
The Spanish, and the French, as well as Dutch,
Have seen, and felt, how strongly you restore;
And Waterloo has made the world your debtor
(I wish your bards would sing it rather better).

4

You are "the best of cut-throats:" — do not start;
The phrase is Shakspeare's, and not misapplied:
War's a brain-spattering, windpipe-slitting art,
Unless her cause by right be sanctified.
If you have acted once a generous part,
The world, not the world's masters, will decide,
And I shall be delighted to learn who,
Save you and yours, have gain'd by Waterloo?

5

I am no flatterer — you've supp'd full of flattery:
They say you like it too — 't is no great wonder.
He whose whole life has been assault and battery,
At last may get a little tired of thunder;
And swallowing eulogy much more than satire, he
May like being praised for every lucky blunder,
Call'd "Saviour of the Nations" — not yet saved,
And "Europe's Liberator" — still enslaved.

6

I've done. Now go and dine from off the plate
Presented by the Prince of the Brazils,
And send the sentinel before your gate
A slice or two from your luxurious meals:
He fought, but has not fed so well of late.
Some hunger, too, they say the people feels: —
There is no doubt that you deserve your ration,
But pray give back a little to the nation.

16

"To be, or not to be?" — Ere I decide,
I should be glad to know that which is being?
'T is true we speculate both far and wide,
And deem, because we see, we are all-seeing:
For my part, I'll enlist on neither side,
Until I see both sides for once agreeing.
For me, I sometimes think that life is death,
Rather than life a mere affair of breath.

17

"Que scais-je?" was the motto of Montaigne,
As also of the first academicians:
That all is dubious which man may attain,
Was one of their most favourite positions.
There's no such thing as certainty, that's plain
As any of Mortality's conditions;
So little do we know what we're about in
This world, I doubt if doubt itself be doubting.

20

Oh, ye immortal gods! what is theogony?
Oh, thou too, mortal man! what is philanthropy?
Oh, world! which was and is, what is cosmogony?
Some people have accused me of misanthropy;
And yet I know no more than the mahogany
That forms this desk, of what they mean; Lykanthropy
I comprehend, for without transformation
Men become wolves on any slight occasion.
22

'T is time we should proceed with our good poem, —
For I maintain that it is really good,
Not only in the body but the proem,
However little both are understood
Just now, — but by and by the Truth will show 'em
Herself in her sublimest attitude:
And till she doth, I fain must be content
To share her beauty and her banishment.

74

Besides Platonic love, besides the love
Of God, the love of sentiment, the loving
Of faithful pairs (I needs must rhyme with dove,
That good old steam-boat which keeps verses moving
'Gainst reason — Reason ne'er was hand-and-glove
With rhyme, but always leant less to improving
The sound than sense) — beside all these pretences
To love, there are those things which words name senses;

76

The noblest kind of love is love Platonical,
To end or to begin with; the next grand
Is that which may be christen'd love canonical,
Because the clergy take the thing in hand;
The third sort to be noted in our chronicle
As flourishing in every Christian land,
Is when chaste matrons to their other ties
Add what may be call'd marriage in disguise.
- Lord Byron, "Don Juan – Digressões" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.

* Em inglês, há aqui um trocadilho intraduzível entre “nay” (não) e o marechal Ney (1769-1815), apelidado “o bravo dos bravos”, derrotado em Waterloo, e famoso companheiro de Napoleão. 

§

Do CANTO X

40

Diziam os murmúrios e os rumores
Que por Potiômkin fora envenenado;
Os mais doutos falavam de tumores,
Exaustão, ou desordem deste estado;
Alguns, uma mistura de humores
Que no seu sangue havia-se entranhado.
Outros tinham razão menos estranha:
“Era só o cansaço da campanha.”

41

Eis uma prescrição entre centenas:
“Soda-sulphat.3vj.3fs. Manne optim.
Aq.fervent.f/ 3ifs.3ij.tinct.Sennae
Haustus” (E uma sangria para o fim)
“Rx Pulv. Com.gr. iij. Ipecacuanhe”
(E mais se Juan tivesse dito “sim”)
“bolus potasse Sulphuret. Sumendus,
Et haustus ter in die capiendus”.

42

O médico remenda e encomenda,
Secundum artem. E ainda que indigesto,
Queremos um doutor que nos atenda,
Rápido, quando enfermos, sem protesto.
E até que o hiatus maxime deflendus
Por pá ou picareta se encha, presto,
Em vez de deslizarmos para o Lethe,
Chamamos Dr. Baillie, ou Abernethy.

*

From CANTO X

40

Low were the whispers, manifold the rumours:
Some said he had been poison'd by Potemkin;
Others talk'd learnedly of certain tumours,
Exhaustion, or disorders of the same kin;
Some said 't was a concoction of the humours,
Which with the blood too readily will claim kin;
Others again were ready to maintain,
"'T was only the fatigue of last campaign."

41

But here is one prescription out of many:
"Sodæ-Sulphat. 3vj.3fs. Mannæ optim.
Aq. fervent. f. /3ifs. 3ij. tinct. Sennae
Haustus" (And here the surgeon came and cupp'd him)
"Rx Pulv. Com. gr. iij. Ipecacuanhæ"
(With more beside if Juan had not stopp'd 'em).
"Bolus Potassæ Sulphuret. sumendus,
Et haustus ter in die capiendus."

42

This is the way physicians mend or end us,
Secundum artem: but although we sneer
In health — when ill, we call them to attend us,
Without the least propensity to jeer:
While that "hiatus maxime deflendus"
To be fill'd up by spade or mattock's near,
Instead of gliding graciously down Lethe,
We tease mild Baillie, or soft Abernethy.
- Lord Byron,  "Don Juan – Digressões" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.

§

Do CANTO XI


86


Mas carpe diem, Juan, degusta o dia!  

Amanhã outra raça transitória
Será comida pela mesma harpia. 
“A vida é um conto tonto”. Então, “a história 
Contem, seus tontos!” tenham crença fria 
No que dizem (não fazem) com vanglória. 
Sejam cautos, hipócritas, não sejam 
O que pareçam, mas só o que vejam.

*

From CANTO XI


86


But "carpe diem," Juan, "carpe, carpe!"

To-morrow sees another race as gay
And transient, and devour'd by the same harpy.
"Life's a poor player," — then "play out the play,
Ye villains!" above all keep a sharp eye
Much less on what you do than what you say:
Be hypocritical, be cautious, be
Not what you seem, but always what you see.
- Lord Byron, "Don Juan – Digressões" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.

§

Do CANTO XII

87

O Canto XII desta introdução
Terminou. O que vai ser começado
Vai ter uma diversa construção
Da que supôs algum mais apressado.
O atual plano é só preparação;
Caro leitor, não se veja obrigado
A seguir-me, mas o homem que merece
Não teme a corte, nem jamais a esquece.

88

E se nem sempre rujo os meus trovões,
Recorde-se, leitor! do que houve atrás.
Tormentas, raios, guerras e canhões,
Do mais terrível do que o homem faz
Ao mais sublime (Deus, quantos tostões
Um usuário quereria mais?).
Meu Canto, salvo um sobre astronomia,
Volta-se agora para “economia

89

Politica”. Um tema popular.
Hoje que não há cerca tem cercado,
É um ato patriótico mostrar
Ao povo o que fazer com o seu gado.
Meu plano (que por ser tão singular,
Reservo) fala em dívida e mercado.
Leiam sobre as despesas pela imprensa,
E digam-me o que pensam de quem pensa.

*

From CANTO XII

87

Here the twelfth Canto of our introduction
Ends. When the body of the book's begun,
You'll find it of a different construction
From what some people say 't will be when done:
The plan at present's simply in concoction,
I can't oblige you, reader, to read on;
That's your affair, not mine: a real spirit
Should neither court neglect, nor dread to bear it.

88

And if my thunderbolt not always rattles,
Remember, reader! you have had before
The worst of tempests and the best of battles
That e'er were brew'd from elements or gore,
Besides the most sublime of — Heaven knows what else:
An usurer could scarce expect much more —
But my best canto, save one on astronomy,
Will turn upon "political economy."

89

That is your present theme for popularity:
Now that the public hedge hath scarce a stake,
It grows an act of patriotic charity,
To show the people the best way to break.
My plan (but I, if but for singularity,
Reserve it) will be very sure to take.
Meantime, read all the national debt-sinkers,
And tell me what you think of your great thinkers.
- Lord Byron,  "Don Juan – Digressões" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.

§

Do CANTO XIII

12

Estou “variando” – digressão – e olvido
A Lady Adeline Amundeville,
Eu não podia tê-la esquecido,
Bela, não sendo má nem sendo vil,
O destino tramou o seu tecido
(É uma boa escusa, entre mil)
E os atingiu, Mas a quem não atinge?
Não sou Édipo e a vida é uma esfinge.

*

From CANTO XIII

12

I'm "at my old lunes" — digression, and forget
The Lady Adeline Amundeville;
The fair most fatal Juan ever met,
Although she was not evil nor meant ill;
But Destiny and Passion spread the net
(Fate is a good excuse for our own will),
And caught them; — what do they not catch, methinks?
But I'm not Oedipus, and life's a Sphinx.
- Lord Byron, "Don Juan – Digressões" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos].Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.

§

Do CANTO XIV

1

Se a Natureza e a reflexão mais alta   
Nos indicassem a única via,
O homem acharia que lhe falta –
A frustração da vã filosofia.
É que um sistema engole o que o outro exalta,
Como Saturno engoliria a cria. 
Pois quando a esposa só pedras lhe deu,
Em vez de filhos, ele não comeu.

2

Mas o Sistema inverte o desjejum
Dos Titãs. Come, embora a digestão 
Seja difícil. Digam, sabem de um
Só que nos dê total satisfação?
Revejam com cuidado, antes que algum
Os enleie com precipitação.
Nada melhor que a própria consciência;
Que provas há de sua consciência?

3

Nas as conheço; mas não nego nem
Desprezo, admito, excluo. E o que mais
Além de vida e morte sabe alguém?
Quem sabe elas terão outros finais.
Quem sabe a Eternidade ainda vem
Para tornar o velho e o novo iguais.
O homem que espera a morte tão temida
Passa dormindo um terço de sua vida.

4

Um sono sem sonhar, noite tranquila,
É tudo o que se quer ao fim do dia.
Mas a argila se move sob a argila!
O Suicida que a dívida inadia
E salda de uma vez, sem dividi-la,
(Para desgosto do credor que a cria)
Deixa a respiração que lhe é devida
Mais por temor à morte que ódio à vida.

5

A morte ronda por todos os lados;
E há uma coragem que provém do medo,
Que ousa o pior, os mais desesperados
Meios para saber, quando o rochedo
Se põe diante dos pés despreparados.
Olha-se o precipício, do penedo,
O abismo se abre e não se olha um segundo
Sem o desejo de fundir-se ao fundo.

6

Você recua, é certo, com terror;
Mas não esquece nunca essa impressão,
E há de encontrar no espelho furtacor
Da memória, em autoconfissão,
O impulso para o amor ou temor
Do ignoto, a inata predisposição
Para fundir-se ao medo. Onde? Qual
O motivo? Ninguém sabe, afinal.

7

Mas, que tem isso a ver? dirão vocês,
Leitores. Nada; é só especulação.
Minha única escusa – é byronês;
Às vezes com, às vezes sem razão, 
Escrevo o que o mais devo, de uma vez;
É narrativa, não é narração,
Figurações fantástica de alguns
Fatos comuns com lugares-comuns.

8

Bacon nos diz: “Jogue uma palha no ar
E saberá para onde sopra o vento.”
Esta palha, do humano respirar,
É a poesia – e a mente é como o alento,
Pipa entre a vida e a morte a vacilar,
Sombra que a alma lançou ao pensamento,
Uma bolha que eu sopro da lembrança
Para brincar, só, como uma criança.

9

Eu vejo o mundo à frente – ou atrás; 
Pois já conheço uma boa gama
Dele, o bastante e até demais; –
Já conheci também paixão e fama,
Para gáudio dos ávidos mortais
Que gostam de mesclar a fama e a lama;
Pois eu fui bem famoso em minha era
E com meus versos despertei a fera.
10

O mundo inteiro cai nos meus ouvidos
E o outro, também, isto é, o dos santarrões
Que com os seus libelos desabridos
Lançaram sobre mim os seus sermões.
Mas eu sigo, cansado os mais renhidos
Leitores e sem novas adesões.
Jovem, de cuca cheia, eu escrevia,
Hoje escrevo com mente mais vazia.

11

“Para que publicar”, se são baldados
Louros e lucros quando o mundo pesa?
Para que ler, beber, jogar os dados?
Para esquecer tudo o que se despreza.
A mim me faz lembrar dias passados
Que eu vivi na alegria ou na tristeza.
E o que eu escrevo, atiro na corrente;
Vingue ou não, é o meu sonho e a minha mente.

12

Se eu tivesse certeza do sucesso,
Nenhuma linha mais escreveria:
Tanto eu batalho e com tamanho excesso
Que o fracasso não pesa na poesia.
Não sei bem se o exprimo, quando o expresso,
Mas a sinceridade é que me guia.
No jogo há duas formas de prazer:
Uma é ganhar, a outra é perder.

13

Minha Musa não gosta de ficção:
Reúne unicamente um rol de fatos
Com alguma reserva ou restrição,
Mas fala de coisas humanas e atos – 
E é onde encontra uma contradição;
Pois a verdade dói nos meus retratos,
E se eu corresse atrás da minha glória,
Teria que inventar uma outra história.

14

Amor, guerra, trovões – há variedade;
Também um pouco de elucubração;
Uma visão da selva, a Sociedade;
Algo dos homens de toda a extração;
E nada mais; por fim, a saciedade
Na performance e na preparação;
E se de mim supõem alguns encantos, 
O comercio é que cabe nos meus Cantos.

15

A porção deste mundo que apresento
Para as próximas pedras do caminho,
É uma que não tem sido a contento
Visitada, e a razão eu adivinho:
Embora nos pareça um monumento,
Há semelhança entre as gemas e o arminho,
Mesmice há muito tempo familiar 
E que à poesia pouco tem a dar.

16

Muito a excitar, pouco a exaltar; enfim,
Nada que eleve os homens e os anime.
Algum verniz em cada falta, sim,
Lugar-comum, até no próprio crime,
Falsas paixões, saber sem sal, chinfrim,
Carência de verdade, de sublime;
E quando a achei, certa monotonia
De caráter, nos homens onde o havia.

17

Às vezes me parece uma parada 
De soldados que impávidos reagem
Ao dispersar; mas quando para a estrada 
Convocados, lamentam a viagem.
Sem dúvida, uma bela mascarada.
Mas logo, a boa vista da paisagem
Empalidece – foi o que eu senti,
Um paraíso de prazer e ennui.

101

É estranho, mas veraz; é sempre rara
A verdade. Se dita, quem diria
Quanto romance não teria outra cara.
Quão falso o mundo nos pareceria
Vendo virtude e vício permutar a 
Posição, como a noite faz ao dia,
Se algum Colombo dos mares morais
Mostrasse a contra-alma dos mortais.

102

Que "vastos antros e desertos" des-
Cobrir-se-iam, então, na alma humana!
Que icebergs no coração soez
Dos poderosos, que egos maus, que gana
De antropófagos em nove em cada dez
Dos que imperam com aura soberana.
Dessem às coisas o seu nome justo,
César desdenharia do meu busto.

*

From CANTO XIV   

1

If from great nature's or our own abyss
Of thought we could but snatch a certainty,
Perhaps mankind might find the path they miss —
But then 't would spoil much good philosophy.
One system eats another up, and this
Much as old Saturn ate his progeny;
For when his pious consort gave him stones
In lieu of sons, of these he made no bones.

2

But System doth reverse the Titan's breakfast,
And eats her parents, albeit the digestion
Is difficult. Pray tell me, can you make fast,
After due search, your faith to any question?
Look back o'er ages, ere unto the stake fast
You bind yourself, and call some mode the best one.
Nothing more true than not to trust your senses;
And yet what are your other evidences?

3

For me, I know nought; nothing I deny,
Admit, reject, contemn; and what know you,
Except perhaps that you were born to die?
And both may after all turn out untrue.
An age may come, Font of Eternity,
When nothing shall be either old or new.
Death, so call'd, is a thing which makes men weep,
And yet a third of life is pass'd in sleep.

4

A sleep without dreams, after a rough day
Of toil, is what we covet most; and yet
How clay shrinks back from more quiescent clay!
The very Suicide that pays his debt
At once without instalments (an old way
Of paying debts, which creditors regret)
Lets out impatiently his rushing breath,
Less from disgust of life than dread of death.

5

'T is round him, near him, here, there, every where;
And there's a courage which grows out of fear,
Perhaps of all most desperate, which will dare
The worst to know it — when the mountains rear
Their peaks beneath your human foot, and there
You look down o'er the precipice, and drear
The gulf of rock yawns — you can't gaze a minute
Without an awful wish to plunge within it.

6

'T is true, you don't — but, pale and struck with terror,
Retire: but look into your past impression!
And you will find, though shuddering at the mirror
Of your own thoughts, in all their self-confession,
The lurking bias, be it truth or error,
To the unknown; a secret prepossession,
To plunge with all your fear — but where? You know not,
And that's the reason why you'd — or do not.

7

But what's this to the purpose? you will say.
Gent. reader, nothing; a mere speculation,
For which my sole excuse is — 't is my way;
Sometimes with and sometimes without occasion
I write what's uppermost, without delay:
This narrative is not meant for narration,
But a mere airy and fantastic basis,
To build up common things with common places.

8

You know, or don't know, that great Bacon saith,
"Fling up a straw, 't will show the way the wind blows;"
And such a straw, borne on by human breath,
Is poesy, according as the mind glows;
A paper kite which flies 'twixt life and death,
A shadow which the onward soul behind throws:
And mine's a bubble, not blown up for praise,
But just to play with, as an infant plays.

9

The world is all before me — or behind;
For I have seen a portion of that same,
And quite enough for me to keep in mind; —
Of passions, too, I have proved enough to blame,
To the great pleasure of our friends, mankind,
Who like to mix some slight alloy with fame;
For I was rather famous in my time,
Until I fairly knock'd it up with rhyme.

10

I have brought this world about my ears, and eke
The other; that's to say, the clergy, who
Upon my head have bid their thunders break
In pious libels by no means a few.
And yet I can't help scribbling once a week,
Tiring old readers, nor discovering new.
In youth I wrote because my mind was full,
And now because I feel it growing dull.

11

But "why then publish?" — There are no rewards
Of fame or profit when the world grows weary.
I ask in turn — Why do you play at cards?
Why drink? Why read — To make some hour less dreary.
It occupies me to turn back regards
On what I've seen or ponder'd, sad or cheery;
And what I write I cast upon the stream,
To swim or sink — I have had at least my dream.

12

I think that were I certain of success,
I hardly could compose another line:
So long I've battled either more or less,
That no defeat can drive me from the Nine.
This feeling 't is not easy to express,
And yet 't is not affected, I opine.
In play, there are two pleasures for your choosing —
The one is winning, and the other losing.

13

Besides, my Muse by no means deals in fiction:
She gathers a repertory of facts,
Of course with some reserve and slight restriction,
But mostly sings of human things and acts —
And that's one cause she meets with contradiction;
For too much truth, at first sight, ne'er attracts;
And were her object only what's call'd glory,
With more ease too she'd tell a different story.

14

Love, war, a tempest — surely there's variety;
Also a seasoning slight of lucubration;
A bird's-eye view, too, of that wild, Society;
A slight glance thrown on men of every station.
If you have nought else, here's at least satiety
Both in performance and in preparation;
And though these lines should only line portmanteaus,
Trade will be all the better for these Cantos.

15

The portion of this world which I at present
Have taken up to fill the following sermon,
Is one of which there's no description recent.
The reason why is easy to determine:
Although it seems both prominent and pleasant,
There is a sameness in its gems and ermine,
A dull and family likeness through all ages,
Of no great promise for poetic pages.

16

With much to excite, there's little to exalt;
Nothing that speaks to all men and all times;
A sort of varnish over every fault;
A kind of common-place, even in their crimes;
Factitious passions, wit without much salt,
A want of that true nature which sublimes
Whate'er it shows with truth; a smooth monotony
Of character, in those at least who have got any.

17

Sometimes, indeed, like soldiers off parade,
They break their ranks and gladly leave the drill;
But then the roll-call draws them back afraid,
And they must be or seem what they were: still
Doubtless it is a brilliant masquerade;
But when of the first sight you have had your fill,
It palls — at least it did so upon me,
This paradise of pleasure and ennui.

101

'T is strange — but true; for truth is always strange;
Stranger than fiction; if it could be told,
How much would novels gain by the exchange!
How differently the world would men behold!
How oft would vice and virtue places change!
The new world would be nothing to the old,
If some Columbus of the moral seas
Would show mankind their souls' antipodes.

102

What "antres vast and deserts idle" then
Would be discover'd in the human soul!
What icebergs in the hearts of mighty men,
With self-love in the centre as their pole!
What Anthropophagi are nine of ten
Of those who hold the kingdoms in control
Were things but only call'd by their right name,
Cæsar himself would be ashamed of fame.
- Lord Byron, "Don Juan – Digressões" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.

§

Do CANTO XV

1

Ah! O que se segue foge à reflexão.
Seja o que for, pode servir de ponte
Para a esperança ou a retrospecção,
Embora a idéia, livre, seja a fonte.
A vida, hoje, é só uma interjeição,
Ou um "oh!", um "ah!", de dor ou alegria,
Ou um "há, ha!" ou "bah!", um “ufa!” ou “arrh!”,
Que a última é a melhor para expressar.

2

Mas o todo não passa de uma sín-
Cope ou singulto – emblemas de emoção no
Afã, antídoto do tédio, enfim,
Com que soltamos bolhas no oceano, –
Aquoso símile do nosso fim,
Miniatura do eterno sobre-humano,
Que engana o ser em busca do prazer
De ver aquilo que não pode ver.

65

Frangos à la Condé, idem salmon
Com molhos genevoises e carneiro:
Vinhos que matariam um Amon
(Que eu não queria ter por companheiro),
Fiambre glacé westfaliano, dom
Que Apicius comeria por inteiro.
E champanhe, oferecendo a espuma a
Cleópatra e suas pérolas, em suma. 

88

Todos se contradizem. Eu, por fim,
Não devia contradizer a alguém,
Ou a mim mesmo, até? Assim
Não fiz, porém, nem poderia. Quem
Descrê nunca dirá nem não nem sim.
A verdade é uma fonte, mas que vem
Por rios turvos, e a contradição
Navega alguma vez pela ficção.

89

Lenda, poesia, fábula e provável-
Mente são falsas. Mas é veraz 
Ser for semeado numa terra arável.
Há quem suponha que uma lenda faz
Tornar a realidade suportável.
Mas o que é o real? Que sabem os mortais?
Filosofia? Não. Tudo rejeita.
Religião? Pode ser. Mas de que seita?

90

Milhões podem errar. Isto é evidente.
Quem sabe até estejam muito certos.
Porém, bem que faz falta algum vidente
Que iluminasse os homens inexpertos.
Seria bom se algum profeta raro
Nos deixasse de olhos mais abertos.
Mas as idéias mudam com os anos,
Sem dar maior alívio aos humanos.

91

Eis-me aqui outra vez atribulado 
Com metafísicas. Ninguém o obscuro
Dessas questões, como eu, tem detestado. 
É destino ou loucura o que procuro
Ao bater a cabeça contra o estado
Do passado e o presente, e o do futuro,
Mas eu abraço gregos e troianos,
Porque nasci entre presbiterianos.

92

E embora eu seja um teólogo mediano
E um metafísico sem convicção,
Imparcial entre o grego e o troiano
Como Eldon em lunática missão –
Em política ouso mostrar o dano
Que infligem os tiranos à nação.
Meu sangue ferve quando vejo um rei
Sem contradita descumprir a lei.

93

Política, polícia e poesia 
São tópicos que às vezes introduzo, 
Não somente em razão da variedade. 
É como um moralista que eu os uso, 
Pois me cabe mostrar à sociedade 
Vazia, o seu lado mais obtuso.
E agora que já estamos no final 
Meu tema será o sobrenatural.

*

From CANTO XV

1

Ah! — What should follow slips from my reflection;
Whatever follows ne'ertheless may be
As à-propos of hope or retrospection,
As though the lurking thought had follow'd free.
All present life is but an interjection,
An "Oh!" or "Ah!" of joy or misery,
Or a "Ha! ha!" or "Bah!" — a yawn, or "Pooh!"
Of which perhaps the latter is most true.

2

But, more or less, the whole's a syncopé
Or a singultus — emblems of emotion,
The grand antithesis to great ennui,
Wherewith we break our bubbles on the ocean, —
That watery outline of eternity,
Or miniature at least, as is my notion,
Which ministers unto the soul's delight,
In seeing matters which are out of sight.

65

Fowls "à la Condé," slices eke of salmon,
With "sauces Génevoises," and haunch of venison;
Wines too, which might again have slain young Ammon —
A man like whom I hope we shan't see many soon;
They also set a glazed Westphalian ham on,
Whereon Apicius would bestow his benison;
And then there was champagne with foaming whirls,
As white as Cleopatra's melted pearls.

88

If people contradict themselves, can I
Help contradicting them, and every body,
Even my veracious self? — But that's a lie:
I never did so, never will — how should I?
He who doubts all things nothing can deny:
Truth's fountains may be clear — her streams are muddy,
And cut through such canals of contradiction,
That she must often navigate o'er fiction.

89

Apologue, fable, poesy, and parable,
Are false, but may be render'd also true,
By those who sow them in a land that's arable.
'T is wonderful what fable will not do!
'T is said it makes reality more bearable:
But what's reality? Who has its clue?
Philosophy? No: she too much rejects.
Religion? Yes; but which of all her sects?

90

Some millions must be wrong, that's pretty clear;
Perhaps it may turn out that all were right.
God help us! Since we have need on our career
To keep our holy beacons always bright,
'T is time that some new prophet should appear,
Or old indulge man with a second sight.
Opinions wear out in some thousand years,
Without a small refreshment from the spheres.

91

But here again, why will I thus entangle
Myself with metaphysics? None can hate
So much as I do any kind of wrangle;
And yet, such is my folly, or my fate,
I always knock my head against some angle
About the present, past, or future state.
Yet I wish well to Trojan and to Tyrian,
For I was bred a moderate Presbyterian.

92

But though I am a temperate theologian,
And also meek as a metaphysician,
Impartial between Tyrian and Trojan,
As Eldon on a lunatic commission —
In politics my duty is to show John
Bull something of the lower world's condition.
It makes my blood boil like the springs of Hecla, 
To see men let these scoundrel sovereigns break law.

93

But politics, and policy, and piety,
Are topics which I sometimes introduce,
Not only for the sake of their variety,
But as subservient to a moral use;
Because my business is to dress society,
And stuff with sage that very verdant goose.
And now, that we may furnish with some matter all
Tastes, we are going to try the supernatural.
- Lord Byron, "Don Juan – Digressões" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.

§

Do CANTO XVI

1

Os velhos persas deram-nos (relatam): 
O arco, a equitação e a verdade.
Assim fez o rei Ciro. E, hoje, tratam
Os jovens de segui-lo com vontade.
Seus arcos têm duas cordas e maltratam
Os cavalos sem dó nem piedade.
No dizer a verdade são mais parcos,
Porém manejam com perícia os arcos.

2

A causa deste efeito ou defeito
(“Já que o efeito de algum defeito vem”)
É que eu não tenho o tempo nem o jeito
Pra mais (e nisto aplaudo a mim também).
Pois de todas as Musas que eu empreito,
Qualquer que seja a falha que elas têm, 
A minha, sem quaisquer contestações,
É a mais veraz de todas as ficções.

4

De todas as verdades que ela emite, 
A maior é a que agora conto eu.
A história de um fantasma, acredite.
Mas como? Eu só sei que aconteceu.
Alguém chegou ao último limite
Onde algum habitante já viveu?
É hora de aos descrentes dar um tombo
Como que aos céticos já deu Colombo.

11

Mas pior que vestir-se para a dança
É desvestir-se; um robe de chambre
Lembra-nos o de Nessus e à lembrança
Vem, amarelo, o ciúme antes que o âmbar.
“Perdi meu dia!" (Titus não descansa).
De noite e dia muita gente lembra
(Tive dos dois, alguns de bom tamanho),
Bem queria saber quanto foi ganho.

12

E Juan, voltando para o quarto, findos
Seus aprestos, inquieto, desvaria:
Pensa em Aurora Raby, de olhos lindos,
Como Adeline já o advertia;
Se soubesse para onde estava indo,
Talvez usasse de filosofia:
Consolo para alguns, se não retiro
Para os mais; Juan não deu mais que um suspiro.

13

Suspirou; só faltava a lua cheia,
Caçamba de suspiros, com a sua
Face casta e o seu brilho de candeia
Que o clima apropriado insinua;
E a mente de Juan já se incendeia
Para saudar com um “Oh, tu!” a lua –
O egotismo amatório do tuísmo
(Explicá-lo seria já um truísmo).

14

Mas poeta, astrônomo ou amante,
Pastor, campônio que a houver contemplado,
Sente uma abstração, quando diante
Dela, e idéias (além de um resfriado,
Às vezes, se não se cuidar bastante);
Grandes segredos tem ela guardado:
Marés e mentes pesa sutilmente
E corações, se é que a canção não mente.

18

As formas de um guerreiro e de um santo
Esgueiram-se ao luar – visão noturna,
E os ecos dos teus pés soam enquanto
Pensas ouvir as vozes de uma urna.
Sombras vagas desdobram o seu manto
Das molduras na solidão soturna,
Como se a perguntar com que ousadia
Velas o que só à morte caberia.

19

E o pálido sorriso de quem era
Tão bela em outras eras ainda brilha,
Seu cabelo sepulto agora impera
Na tela, os olhos pura maravilha
De luz, tal uma imagem de quimera,
Mas a morte se espalha em sua trilha.
Pintura é outrora – antes que a moldura
Dourem, quem pousa é já outra figura.

45

Oh! as longas noites de duetos e trios!
De admirações e de especulações!
As “mamma mia!”`s e os “amor mio!”s 
Os “tanti palpiti”s das ocasiões:
Os “lasciami”s e trêmulos “addio!`s
Da que é a mais musical dentre as nações;
Com “tu me chamas” lá da Portugália,
Caso a Itália tivesse alguma falha.

50

Não soube que tivesse dom poético;
Leu o Bath Guide e os Triumphs de Hayley,
Que achou um livro mais do que patético,
Tendo sofrido em sua própria pele
O bastante. O bardo foi profético
Nos amores e humores da donzela.
Ela adorava mesmo era um buquê
Com sonetos de amor e bouts-rimés.

99

Poetas da aritmética são esses
Que, mesmo sem provar que dois mais dois
São cinco, nos demonstram que, ao revés,
Quatro podem ser três e antes depois
Do que tomam e pagam todo mês –
O mar dos Fundos insondáveis e os
Iliquidáveis líquidos que bebem
Seus débitos sugando o que recebem.

115

Tinha os olhos abertos? Sim. E cava
A boca, idem, aberta, quase mudo,
Na eloqüência, porém, sem pôr a trava,
Pois há sempre um discurso para tudo.
Perto, mais perto, o eco ressoava,
Trêmulo como um tímpano agudo.
De olhos abertos e de boca aberta,
Parou. E o que se abriu? (Que descoberta!)

116

Abriu-se, então, com infernal rangido,
Uma porta, Lasciate ogni speranza
Voi che entrate! O gonzo era um gemido,
Terrível terza rima que não cansa;
Mas a palavra aqui não faz sentido:
Basta uma sombra para a contradança
Do herói – o que é um espirito afinal?
Pra que a matéria trema ao seu sinal?

123

O fantasma, se tanto, era o mais doce 
Que jamais abrigou manto tão grosso.
Um rosto róseo e um colo revelou-se, 
Parecendo bem ser de carne e osso. 
Capa e capuz caíram, acabou-se 
A charada, e roliço, um corpo moço, 
Voluptuoso surgiu: ninguém mais do que 
O fantasma de Lady Fitz-Fulke!

*

From CANTO XVI

1

The antique Persians taught three useful things,
To draw the bow, to ride, and speak the truth. 
This was the mode of Cyrus, best of kings —
A mode adopted since by modern youth.
Bows have they, generally with two strings;
Horses they ride without remorse or ruth;
At speaking truth perhaps they are less clever,
But draw the long bow better now than ever.

2

The cause of this effect, or this defect, —
"For this effect defective comes by cause," — 
Is what I have not leisure to inspect;
But this I must say in my own applause,
Of all the Muses that I recollect,
Whate'er may be her follies or her flaws
In some things, mine's beyond all contradiction
The most sincere that ever dealt in fiction.

4

But of all truths which she has told, the most
True is that which she is about to tell.
I said it was a story of a ghost —
What then? I only know it so befell.
Have you explored the limits of the coast,
Where all the dwellers of the earth must dwell?
'T is time to strike such puny doubters dumb as
The sceptics who would not believe Columbus.

11

But next to dressing for a rout or ball,
Undressing is a woe; our robe de chambre
May sit like that of Nessus, and recall
Thoughts quite as yellow, but less clear than amber.
Titus exclaim'd, "I've lost a day!" Of all
The nights and days most people can remember
(I have had of both, some not to be disdain'd),
I wish they 'd state how many they have gain'd.

12

And Juan, on retiring for the night,
Felt restless, and perplex'd, and compromised:
He thought Aurora Raby's eyes more bright
Than Adeline (such is advice) advised;
If he had known exactly his own plight,
He probably would have philosophised:
A great resource to all, and ne'er denied
Till wanted; therefore Juan only sigh'd.

13

He sigh'd; — the next resource is the full moon,
Where all sighs are deposited; and now
It happen'd luckily, the chaste orb shone
As clear as such a climate will allow;
And Juan's mind was in the proper tone
To hail her with the apostrophe — "O thou!"
Of amatory egotism the Tuism,
Which further to explain would be a truism.

14

But lover, poet, or astronomer,
Shepherd, or swain, whoever may behold,
Feel some abstraction when they gaze on her:
Great thoughts we catch from thence (besides a cold
Sometimes, unless my feelings rather err);
Deep secrets to her rolling light are told;
The ocean's tides and mortals' brains she sways,
And also hearts, if there be truth in lays.

18

The forms of the grim knight and pictured saint
Look living in the moon; and as you turn
Backward and forward to the echoes faint
Of your own footsteps — voices from the urn
Appear to wake, and shadows wild and quaint
Start from the frames which fence their aspects stern,
As if to ask how you can dare to keep
A vigil there, where all but death should sleep.

19

And the pale smile of beauties in the grave,
The charms of other days, in starlight gleams,
Glimmer on high; their buried locks still wave
Along the canvas; their eyes glance like dreams
On ours, or spars within some dusky cave,
But death is imaged in their shadowy beams.
A picture is the past; even ere its frame
Be gilt, who sate hath ceased to be the same.

45

Oh! the long evenings of duets and trios!
The admirations and the speculations;
The "Mamma Mia's!" and the "Amor Mio's!"
The "Tanti palpiti's" on such occasions:
The "Lasciami's," and quavering "Addio's!"
Amongst our own most musical of nations;
With "Tu mi chamas's" from Portingale,
To soothe our ears, lest Italy should fail.

50

I have not heard she was at all poetic,
Though once she was seen reading the Bath Guide,
And Hayley's Triumphs, which she deem'd pathetic,
Because she said her temper had been tried
So much, the bard had really been prophetic
Of what she had gone through with — since a bride.
But of all verse, what most ensured her praise
Were sonnets to herself, or bouts rimés.

99

The poets of arithmetic are they
Who, though they prove not two and two to be
Five, as they might do in a modest way,
Have plainly made it out that four are three,
Judging by what they take, and what they pay.
The Sinking Fund's unfathomable sea,
That most unliquidating liquid, leaves
The debt unsunk, yet sinks all it receives.

115

Were his eyes open? — Yes! and his mouth too.
Surprise has this effect — to make one dumb,
Yet leave the gate which eloquence slips through
As wide as if a long speech were to come.
Nigh and more nigh the awful echoes drew,
Tremendous to a mortal tympanum:
His eyes were open, and (as was before
Stated) his mouth. What open'd next? — the door.


116

It open'd with a most infernal creak,
Like that of hell. "Lasciate ogni speranza
Voi che entrate!" The hinge seem'd to speak,
Dreadful as Dante's rima, or this stanza;
Or — but all words upon such themes are weak:
A single shade's sufficient to entrance
Hero — for what is substance to a spirit?
Or how is 't matter trembles to come near it?

123

The ghost, if ghost it were, seem'd a sweet soul
As ever lurk'd beneath a holy hood:
A dimpled chin, a neck of ivory, stole
Forth into something much like flesh and blood;
Back fell the sable frock and dreary cowl,
And they reveal'd — alas! that e'er they should!
In full, voluptuous, but not o'ergrown bulk,
The phantom of her frolic Grace — Fitz-Fulke!
- Lord Byron, "Don Juan – Digressões" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.

§


Do CANTO XVII


1

O mundo é cheio de órfãos. Em primeiro 
Lugar os que o são estrito senso
(Há sempre um raro tronco que, altaneiro, 
Se eleva em meio ao arvoredo denso).
Outros também o são, e por inteiro,
Que não perdem os pais; segundo penso,
É a ausência do carinho dos seus entes
Mais caros que os faz órfãos e carentes. 


2


Por fim, há os "filhos únicos", chamados 

“Únicos”, não por serem sós, mas por

Serem, por sós, menos ou mais mimados.
Para não ir mais longe, é de supor 
Que, com brandura ou cólera educados, 
Passada a linha do amor ou temor,
Os que sofrem – de alma ou de intelecto –
São órfãos, afinal, sob esse aspecto.

8

O grande Galileu viu-se privado 
De Sol porque fixou o movimento
Da Terra em torno dele. Condenado,
Recebeu a prisão em pagamento: 
Custou, para que, tudo bem pesado,
O juízo julgasse o julgamento.
Sua teoria agora é verdadeira,
O que é um consolo pra sua poeira.

9

Pitágoras, Locke, Sócrates – volumes
Podiam-se escrever contando a história
Dos maus tratos que dão aos grandes lumes,
Vistos com desagrado pela escória.
Os mais dotados chocam os costumes
Tardos da era e sofrem vida inglória.
Sábio é quem deixa, sem pensar na idade,
O seu pós-óbito à posteridade.

11

Sou calmo – mas não sou calmo demais; 
Modesto – mas com autoconfiança; 
Paciente, sim – porém sem muita paz; 
Mutável – sem que se note mudança;
Tímido – mas às vezes muito audaz; 
Alegre, mas sem rir, porque isso cansa; 
Como se a minha minha pele, numa tez, 
Tivesse, onde não tem, duas ou três.

12

O nosso herói foi, no canto dezesseis,
Ficou em delicada situação
Lunar, dessas que mostram higidez
Moral ou física. Nessa ocasião,
Se a virtude triunfou ou se, de vez,
Seu vício – ele provinha de nação
“Caliente” –, não direi. Não tenho escusa,
A menos que algum beijo me seduza.

13

Deixo em aberto, como tudo o mais.
Veio o dia, o breakfast, o chá, a torrada,
Que ninguém canta, mas sempre apraz.
A turma toda, cuja vida atirada
Custou-me algumas cordas musicais,
Lá estava para mais uma jornada.
Chegaram um a um, menos a dama,
Com Juan, que pareceu cair da cama.

14

Se viu fantasmas, eu não sei dizer.
Mas Juan, exausto, muitos parecia
Ter combatido; mal podia ver,
Ao filtro da janela, a luz do dia.
A Lady, em calafrios, fazia crer
Que passara por grande agonia,
Trêmula, desgrenhado o seu cabelo,
Com ar de insônia ou de pesadelo.

*

Form. CANTO XVII

1

The world is full of orphans: firstly, those
Who are so in the strict sense of the phrase;
But many a lonely tree the loftier grows
Than others crowded in the Forest's maze. — 
The next are such as are not doomed to lose
Their tender parents in their budding days,
But, merely, their parental tenderness,
Which leaves them orphans of the heart no less.

2

The next are "only Children," as they are styled,
Who grow up Children only, since th' old saw
Pronounces that an "only's" a spoilt child — 
But not to go too far, I hold it law,
That where their education, harsh or mild,
Transgresses the great bounds of love or awe,
The sufferers — be 't in heart or intellect — 
Whate'er the cause, are orphans in effect.

8

Great Galileo was debarr'd the Sun,
Because he fix'd it; and, to stop his talking,
How Earth could round the solar orbit run,
Found his own legs embargo'd from mere walking:
The man was well-nigh dead, ere men begun
To think his skull had not some need of caulking;
But now, it seems, he's right — his notion just:
No doubt a consolation to his dust

9

Pythagoras, Locke, Socrates — but pages
Might be fill'd up, as vainly as before,
With the sad usage of all sorts of sages,
Who, in his life-time, each, was deem'd a Bore!
The loftiest minds outrun their tardy ages:
This they must bear with and, perhaps, much more;
The wise man's sure when he no more can share it, he
Will have a firm Post Obit on posterity.

11

Temperate I am – yet never had a temper;
Modest I am – yet with some slight assurance;
Changeable too – yet somehow idem semper;
Patient – but not enamoured of endurance;
Cheerful – but, sometimes, rather apt to whimper;
Mild – but at times a sort of Hercules furens;
So that I almost think that the same skin
For one without – has two or three within.

12

Our Hero was, in Canto the Sixteenth,
Left in a tender moonlight situation,
Such as enables Man to show his strength
Moral or physical: on this occasion
Whether his virtue triumph'd — or, at length,
His vice — for he was of a kindling nation — 
Is more than I shall venture to describe; — 
Unless some Beauty with a kiss should bribe.

13

I leave the thing a problem, like all things: — 
The morning came — and breakfast, tea and toast,
Of which most men partake, but no one sings.
The company whose birth, wealth, worth, has cost
My trembling Lyre already several strings,
Assembled with our hostess, and mine host;
The guests dropp'd in — the last but one, Her Grace,
The latest, Juan, with his virgin face.

14

Which best it is to encounter — Ghost, or none,
'T were difficult to say; but Juan look'd
As if he had combated with more than one,
Being wan and worn, with eyes that hardly brook'd
The light that through the Gothic window shone:
Her Grace, too, had a sort of air rebuked — 
Seem'd pale and shiver'd, as if she had kept
A vigil, or dreamt rather more than slept.
- Lord Byron, "Don Juan – Digressões" | em "Byron e Keats - entreversos". [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009.


Lord Byron (George Gordon Noel Byron) - poeta inglês

FORTUNA CRÍTICA DE LORD BYRON

[Lord Byron teses e dissertações;  livros, ensaios e artigos]

AGUSTINI, Lucas de Lacerda Zaparolli de.. Don Juan de Lorde Byron: estudo descritivo das traduções, tradução, comentários e notas. (Dissertação Mestrado em Estudos da Tradução). Universidade de São Paulo, USP, 2015. Disponível no link. (acessado em 3.4.2016).
AGUSTINI, Lucas de Lacerda Zaparolli de.. Canibas versus vegetarianos no Don Juan de Lord Byron. Mallarmargens - Revista de Poesia e Arte Contemporâneas, v. 4, p. 1-1, 2016.
AGUSTINI, Lucas de Lacerda Zaparolli de.. O pé em que anda o Byron coxo no Brasil da Tradução: com Don Juan. In: Tradução em Revista (Online), v. 2013/1, p. 187-207, 2013. Disponível no link. (acessado em 3.4.2016).
AGUSTINI, Lucas de Lacerda Zaparolli de.. Entre a morte a amoras: a tradução do romantismo na sátira de Byron. In: II Jornada TradUSP, 2014, São Paulo. II Jornada TradUSP - tradução e poética. São Paulo: Citrat USP, 2013. v. 1. p. 243-255.
AGUSTINI, Lucas de Lacerda Zaparolli de.. Tradução de dezesseis oitavas do Canto I do Don Juan de Lord Byron. YAWP, v. 6, p. 69-77, 2012.
Baron Byron by Henry Meyer 1816 - © National
 Portrait Gallery, London
ALMEIDA, Pires de.. A escola Byroniana no Brasil. São Paulo: Conselho Estadual de Cultural, 1962.
ALVES, Castro. 'Espumas flutuantes: poesias'. (Bahia, 1870). Edição fac-similar. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 2011.
ARIOCH, David. Lord Byron e a abstinência da carne. In: Editoras, s.data. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021). 
AUGUSTINI, Lucas de Lacerda Zaparolli de.. Don Juan de Lord Byron: tradução integral, comentário e notas (Tese Doutorado em Estudos da Tradução). Universidade São Paulo, USP, 2020. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).
AZEVEDO, Álvares de.. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
BARBOZA, Onédia Célia de Carvalho. Byron no Brasil: traduções. São Paulo: Ática, 1975.
BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario bibliographico brazileiro. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1895.
CASTELAR, Emilio. Vida de Lord Byron. [tradução M. Fernandes Reis]. Porto: Typopgrafia do Jornal do Porto, 1876. {traduzida da 2ª edição}.
CATÁLOGO. Castro Alves - o olhar do outro. Catálogo de Exposição comemorativa dos 150 anos de nascimento de Antônio de Castro Alves (1847-1997).. [ilustração capa Clóvis Graciano; organizada pelo Departamento Nacional do Livro; inauguração 2 de julho de 1997]. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Dep. Nacional do Livro, 1997. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).
CAVALCANTE, Maria Imaculada. A presença do byronismo na produção literária de Álvares de Azevedo. RevLet: Revista Virtual de Letras, v. 1, p. 1-17, 2009. Disponível no link. (acessado em 3.4.2016).
DICK, André. Byron e Keats por Augusto de Campos: entre a juventude e a longevidade. in: Cronópios, 13.9.2009. Disponível no link. (acessado em 3.4.2016).
DON Juan. [tradução Juan Vicente Martinez Luciano, Maria José Coperías Aguilar e Miguel Teruel Pozas]. Edição bilíngue espanhol – inglês. Madrid: Cátedra, 2009.
FLORES, Guilherme Gontijo. “Don Juan”, de Byron, por Lucas Zaparolli de Augustini. In: Escamandro, 7.12.2015. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).
GÓES, José Cristian. Épico satírico de Byron ganha tradução inédita para o português. In: A Pátria, 19.11.2020. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).
JORDÃO, Vera Pacheco. Maneco, o byroniano. Rio de Janeiro: MEC, Serviço de documentação, 1955.
KRISTEVA, Julia. Don Juan ou amar poder. in: Historias de Amor. [tradução Leda Tenório da Motta]. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1988.
LACERDA, Daniel. Lord Byron: poeta crítico - as(trans)digressões metalinguísticas de Don Juan. (Tese Doutorado em Letras). Universidade Federal do Paraná, UFPR, 2007. Disponível no link. (acessado em 3.4.2016).
LACERDA, Daniel. Lord Byron: Poeta Crítico: As Di(Trans)gressões Metalinguísticas em Don Juan. Revista Zunai, 10 ago. 2009.
LORD Byron - obras escogidas. [tadução F. Villalba e José Alcalá Galliano]. Buenos Aires: El Ateneo, 1957.
LORD Byron: vida e obra. in: Luso Poemas, 2.11.2008.  Disponível no link. (acessado em 3.4.2016).
LORD Byron - biografia. in: Universo sombrio, 15 maio de 2010.  Disponível no link. (acessado em 3.4.2016).
MARTINEAU, Gilbert. Lord Byron - el genio maldito. [traducción Floreal Mazía]. Buenos Aires: Javier Vergara editor, 1987.
MAUROIS, André. Don Juan ou a fascinante vida de Lord Byron. [tradução de Maria Clara Mariani Lacerda e Tereza Bulhões de Carvalho da Fonseca]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1966.
MENEZES, Raimundo de.. Dicionário literário brasileiro. 2ª ed., Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos, 1978.
NYE, Robert. Memórias de Lord Byron (The memoirs of Lord Byron).. [tradução Celso Loureiro Chaves]. Porto Alegre: L&pm Editores, 1990.
O'BRIEN, Edna. Byron apaixonado. [tradução Mauro Gama]. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2011.
OLIVEIRA, Solange Ribeiro de.. Byron e os românticos brasileiros. SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 15, n. 29, p. 143-159, 2º sem. 2011.
OS POETAS. Lord George Gordon Byron - 1788-1824. in: Letras UFRJ, romantismo inglês - anotações de aula. Disponível no link. (acessado em 3.4.2016).
POESIA TRADUZIDA. Lord Byron. In: Poesia Traduzida, 14.5.2016. Disponível no link(acessado em 7.6.2016).
REIS, Vitor. 5 poemas imperdíveis do poeta gótico Lord Byron. in: Homo Literatus, 1.12.2013. Disponível no link. (acessado em 3.4.2016).
SANTOS, Ricardo Neves dos.. Prometeu acorrentado e as poéticas tradutórias de João Cardoso de Menezes e Dom Pedro II. (Dissertação Mestrado em Letras Clássicas e Vernáculas). Universidade São Paulo, USP, 2020. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).
George Gordon, Lord Byron - Google ArtProject
Autor desconcido
SILVA, Karine Teresa dos Santos. Os herdeiros de Lord Byron a influência do byrosnismo na obra "Noite na taverna", de Álvares de Azevedo. (Monografia Graduação em Letras). Universidade Nove de Julho, UNINOVE, 2004.
SOARES, Fabiana Regina da Silva. Tradução Comentada das Cartas de Lord Byron para e sobre Madame de Staël. (Dissertação Mestrado em Estudos da Tradução). Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, 2010. Disponível no link. (acessado em 3.4.2016).
SOARES, Fabiana Regina da Silva. As cartas em língua inglesa de Lord Byron para Madame de Staël: uma tradução comentada. Scientia Traductionis, Florianópolis, v. 1, 2005. Disponível no link. (acessado em 3.4.2016).
ZEMBRUSKI, Soeli Staub. A Tradução da Ironia em Don Juan de Lord Byron: Uma Análise dos Fragmentos Traduzidos ao Português do Brasil (Tese Doutorado em Estudos da Tradução). Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, 2013. Disponível no link. (acessado em 3.4.2016).
ZEMBRUSKI, Soeli Staub. Um outro Byron no Brasil: a Tradução de Paulo Henriques Britto. (Dissertação Mestrado em Estudos da Tradução). Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, 2008. Disponível no link. (acessado em 3.4.2016).
ZEMBRUSKI, Soeli Staub. A tradução da Lenda Byroniana no Brasil do Séc.XIX. In: Seminário internacional de estudos literários - sinel, 2011, Frederico Westphalen. SINEL, 2011.


LORD BYRON EM IMAGENS


Lord Byron (George Gordon Byron), por Thomas Sully, ca. 1816

Baron Byron, by Henry Meyer, after James Holmes 1818 - © National Portrait Gallery, London


Lord Byron (George Gordon Byron), por Thomas Phillips, ca. 1813

Lord Byron (George Gordon Byron), por Richard Westall, ca. 1836

Lord Byron (George Gordon Byron), por Thomas Phillips, ca. 1835

Lord Byron (George Gordon Byron), por Samuel Drummond (?)

Lord Byron (George Gordon Byron), por © Fototeca Gilardi/Leemage



Baron Byron by and published by Henry
Meyer, after James Holmes - © National
Portrait Gallery, London

OUTRAS FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA


Em inglês
:: George Gordon Byron | Academy of American Poets
:: BBC - History - Lord Byron
:: Portraits of George Gordon Byron
:: LORD Byron. Imagens. In: Picture Nottingham, s./data. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).
:: LORD Byron. Imagens. In: OMNIA, s. data. Disponível no link. (acessado em 24.8.2021).



© Obra em domínio público

© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske; colaboração José Alexandre da Silva

=== === ===

Trabalhos sobre o autor:
Caso, você tenha algum trabalho não citado e queira que ele seja incluído - exemplo: livro, tese, dissertação, ensaio, artigo - envie os dados para o nosso "e-mail de contato", para que possamos incluir as referências do seu trabalho nesta pagina. 



COMO CITAR:

FENSKE, Elfi Kürten; SILVA, José Alexandre da..  (pesquisa, seleção, edição e organização). Lord Byron - poeta inglês. In: Templo Cultural Delfos, agosto/2021Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____

** Página atualizada em 24.8.2021
* Página original de ABRIL/2016.



Licença de uso: O conteúdo deste site, vedado ao seu uso comercial, poderá ser reproduzido desde que citada a fonte, excetuando os casos especificados em contrário. 
Direitos Reservados © 2021 Templo Cultural Delfos

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradecemos a visita. Deixe seu comentário!

COMPARTILHE NAS SUAS REDES