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Laís Corrêa de Araújo - o ofício da poética

Laís Corrêa de Araújo (1950)
foto: Arquivo UFMG
Laís Corrêa de Araújo Ávila (poeta, ensaísta, cronista, tradutora e jornalista). Nascida em Campo Belo, MG, em 3 de março de 1927. Forma-se, por volta de 1950, bacharel em Línguas Neolatinas pela Faculdade de Filosofia da UFMG, em Belo Horizonte MG. Publica, em 1951, Caderno de Poesia, sua primeira obra poética. Tornou-se nacionalmente conhecida pela sua longa atividade de cronista na revista O Cruzeiro, do RJ, e nos jornais O Estado de São Paulo e Estado de Minas. Foi uma das fundadoras do Suplemento Literário do Minas Gerais.
Em 1954, participa do Congresso Internacional de Escritores, seção de Poesia, em São Paulo SP, onde conhece João Cabral de Melo Neto (1920 - 1999). No ano seguinte, publica O Signo e Outros Poemas. Em 1959 cria a coluna Roda Gigante no jornal O Estado de Minas; em 1960, colabora no jornal O Estado de S. Paulo. Participa no Segundo Congresso Brasileiro de Crítica e História Literária, em 1961, onde trava contato com Haroldo de Campos (1929 - 2003). Participa, ainda, na Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, realizada em Belo Horizonte MG em 1963. Em 1992 é lançada, em Ouro Preto MG, a publicação de seu livro Caderno de Traduções, com textos de poesia e prosa de André Breton, Enrique Anderson Imbert, Javier Villafãne, entre outros. Também faz parte de sua obra poética os livros Cantochão (1967), Maria e Companhia (1983), Decurso de Prazo (1988) e Pé de Página (1995). A poesia de Laís Corrêa de Araújo filia-se à terceira geração do Modernismo. Sobre ela, escreve o crítico Fábio Lucas: "o estilo vivo e até mesmo arrojado de Laís Corrêa é dotado de uma impulsiva força de expressão. Os seus sonetos refletem os grandes momentos do gênero, de tal modo a comunicar a sensação perfeita dos sonetos mais bem estruturados, mesmo quando a poeta não se dá a acompanhar os moldes clássicos e abole, por exemplo, a rima ou a rígida metrificação".
:: Fontes: Editora UFMG/ Enciclopédia Itáu Cultural (acessado em 7.1.2016).
MACIEL, Maria Esther. Laís Corrêa de Araújo. Coleção Encontro com Escritores Mineiros. 1ª ed., Belo Horizonte: Centro de Estudos Literários/Pós-Lit/UFMG, 2002. v. 1. 120p. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016). 



OBRA DE LAÍS CORRÊA DE ARAÚJO
Poesia
capa do livro "O signo e outros poemas"
:: Caderno de poesia. [seleção e organização Affonso Ávila e Wilson de Figueiredo; ilustrações Washington Junior]. Belo Horizonte: Santelmo Poesia, 1951.
:: Cantochão. Belo Horizonte: Imprensa Publicações/Governo do Estado de Minas Gerais, 1967.
:: Decurso do prazo. Ouro Preto: Gráfica Ouro Preto, 1988.
:: Pé de página. Ouro Preto: Edições Nonada, 1995. 
:: O signo e outros poemas. [ilustrações de Sara Ávila]. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1995.
:: Clips. [ilustrações Niúra Bellavinha]. Belo Horizonte: Editora Formato, 2000.
:: Inventário: 1951-2002. [reúne as edições originais: Caderno de poesia (1951); O signo e outros poemas (1995); Cantochão (1967); Decurso de prazo (1988); Pé de página (1995); Clips (2000) e o inédito Geriátrico (2002).]. Coleção inéditos & esparsos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004, 234p.

Infanto-juvenil
:: O grande blá - blá - blá. [prefácio Rachel de Queiroz]. São Paulo:  Editora Abril Cultural; Mobral, 1974. 
:: Maria e companhia. [ilustrações Marcelo Monteiro]. Rio de Janeiro: Editora Brasil-America, 1983.   
:: O relógio mandão. [ilustrações Sergio Luz]. Coleção Sementinha nº 3. Belo Horizonte: Editora RHJ, 1989. 

:: A loja do Zéconzé. Sabará: Editora Dubolsinho, 2000; 2ª ed., 2010.
:: Que quintal!. [ilustrações Ferruccio]. Coleção Guri nº 8, Belo Horizonte: RHJ, 1987; reedição [ilustrações Thaís Mesquita].  Belo Horizonte: Editora Baobá, 2013.

Ensaios
:: Murilo Mendes. 2
vols. coleção Poetas modernos do Brasil. 2ª ed., Petrópolis RJ: Editora Vozes, 1972.
:: De mãos dadas: ação comunitária e cultural. [redação Laís Correa de Araújo; ilustrações Herculano Ferreira]. Belo Horizonte: Governo do Estado de Minas Gerais; Secretaria de Estado do Governo; Coordenadoria de Cultura, 1984. 
:: Sedução do horizonte. [organização, pesquisa e introdução Laís Corrêa de Araújo]. Série centenário. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1996. 
:: Murilo Mendes: ensaio crítico; antologia de poemas e correspondência. Coleção signos, nº 29. São Paulo: Editora Perspectiva, 2000.

Antologias (participação)
Poesia
Laís Corrêa de Araújo
SILVA, Domingos Carvalho (org.). Vozes femininas da poesia brasileira. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1959.
SILVA, Alberto Costa e. (org.). A nova poesia brasileira. Lisboa: Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil, 1960. 
CAMPOS, Milton de Godoy (org.). Antologia da poética da geração de 45. São Paulo: Clube de Poesia, 1966.
TELES, Gilberto Mendonça (org.). La poesía brasileña en la actualidad. Montividéu: Editorial Letras, 1969.
HORTAS, Maria de Lourdes (org.). Palavra de mulher (poesia feminina brasileira contemporânea). Rio de Janeiro: Editora Fontana, 1979.
SAVARY, Olga (org.). Carne viva. Antologia brasileira de poemas eróticos. Rio de Janeiro: Editora Ânima, 1984.


Ensaio
ÁVILLA, Affonso (org.). O modernismo. [ensaio]. Coleção Stylus, 1. São Paulo: Editora Perspectiva, 1975. 
RUBEM A. In Memrian. vol. I. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1981, p. 106-108. (inclui o texto: "Uma torre portuguesa com certeza").
AMARO, Luís (coord.). Modernismo e vanguarda. Caderno da Colóquio/Letras, 2. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984, p. 161-173. (inlui ensaio: 'Dimensão mineira da poesia modernista'). 

SILVA, Newton; D'AGUIAR, Antônio Augusto (orgs.). Belo Horizonte - a cidade revelada. Belo Horizonte: Fundação Emílio Odebrecht, 1989. 
BARBOSA, Francisco de Assis (org.). Poesia em 1930. Rio de Janeiro: Revista do Brasil, ano 5, nº 11/90; Rio Arte/Fundação Rio, 1990, p. 73-78. (inclui o ensaio: 'O modernismo desarticulado de Murilo Mendes'). 
SANTOS, Ângelo oswaldo de Araújo; SOUZA, Eneida Maria de.; MIRANDA, Wander Melo (orgs.). Minas de liberdade. Belo Horizonte: Assembleia Legislativa do Estado/Secretaria de Estado da Cultura, 1992. (inclui o ensaio: 'Variações em torno das palavras cidadania, liberdade e poesia'). 
SANTA ROSA, Eleonora (coord.). 30 anos - Semana Nacional de Poesia de Vanguarda - 1963/1993. Belo Horizonte: Secretaria Municipal de Cultura, 1993.
RIBEIRO, Gilvan P.; NEVES, José Alberto P. (orgs). Murilo Mendes, o visionário. Série ideias. Juiz de Fora: EDUFJJ, 1997, p. 11-13. (inclui o ensaio: "Abertura para o debate'). 


Jornalismo literário: crônica, colunismo crítico, direção e coordenação de publicações e colaborações avulsas
MACIEL, Maria Esther. Laís Corrêa de Araújo. Coleção Encontro com Escritores Mineiros. 1ª ed., Belo Horizonte: Centro de Estudos Literários/Pós-Lit/UFMG, 2002. v. 1. 120p. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016). 

Traduções realizadas pela autora
TOLMAN, Jon M.. Augusto Frederico Schmidt. [tradução Laís Corrêa de Araújo]. São Paulo: Edições Quíron/INL, 1976.
THOMPSON, Thomas. Sangue e dinheiro. [tradução Laís Corrêa de Araújo]. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 1978.
CADERNO de traduções. (textos traduzidos do francês, inglês e espanhol, em prosa e poesia, de André Breton, Enrique Anderson Imbert, Javier Villafãne, Philippe Soupault, Robert Desnos, Paul Éluard, T. S. Eliot, Robert Frost, Thomas Kabdebo, Juan Calzadilla, Pierre Rottenberg, Michel Robic e Raymond Federman)..  [tradução, organização e seleção Laís Corrêa de Araújo]. Ouro Preto: Gráfica Ouro Preto, primavera/verão de 1991/1992. 


POEMAS ESCOLHIDOS DE LAÍS CORRÊA DE ARAÚJO
 

Laís Corrêa de Araújo (1954)
Adeus
É assim que eu te digo adeus:
como uma menina que mora na beira
da estrada e abana a mão para o trem.

Apenas te vi.
E te digo adeus porque não
apanho rosas.
 

- Laís Corrêa de Araújo, em "Caderno de poesia". [sel. e org. Affonso Ávila e Wilson de Figueiredo; ilust. Washington Junior]. Belo Horizonte: Santelmo Poesia, 1951.

§
 
Ato de contrição
Não me arrependo de meus erros:
nada mais que sofrimento e vida.
Não me arrependo de meus beijos:
deixaram um pouco de mim
em muitas bocas.
Não me arrependo de meus pensamentos:
eram belos como mulheres nuas.
Perdoai, Senhor, se alguma vez
não fui eu mesma.
 
- Laís Corrêa de Araújo, em "Caderno de poesia". [sel. e org. Affonso Ávila e Wilson de Figueiredo; ilust. Washington Junior]. Belo Horizonte: Santelmo Poesia, 1951.

§

Auto-retrato
O que eu era fui
fluída fugidia fumaça
fui e era
não ao perfeito ser

Vislumbro o que fui
ou só vislumbre o outro é
ostensiva fragmentação
de bem moldada forma

no barro adâmico
de sonho e sono fui
derrapante à erosão
era fui ser não sei

a chuva corre em mim
esta que era, fui
brasa evaporada
sob as gotas do medo

- Laís Corrêa de Araújo, em "Inventário: 1951-2002". Coleção inéditos & esparsos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004.


§

Canção banal
Ó pálida folha escrita
por minha letra assustada,
vá dizer ao meu amado
que dele não quero nada.

(Que eu dele não queria nada,
nem tampouco compaixão)
Que não se apague a face
que eu guardo no coração.

Que não me venha buscar,
me respeite essa distância,
me sinta sem me beijar.

Pois ai dele se não for,
como o deseja essa ânsia,
como o espera esse amor.

- Laís Corrêa de Araújo, em "Caderno de poesia". [sel. e org. Affonso Ávila e Wilson de Figueiredo; ilust. Washington Junior]. Belo Horizonte: Santelmo Poesia, 1951.


§

Poemas de todas
Não conhecemos estradas sem marcas,
ficamos diante do mar,
da fria imensidão do mar.

Abrimos as mãos nas noites,
nossas desejadas noites,
nossas noites sem jasmins.

Soubemos acariciar pobres rostos,
sem medida e sem amargura,
acariciar os perdidos rostos.

Agora ficaremos simplesmente
rodeadas de nossas meigas filhas,
se tivermos filhas, algum dia.

Agora ficaremos sentadas tranquilamente,
dentro dos olhos esconderemos
doces histórias de estrelas desiludidas.

- Laís Corrêa de Araújo, em "Caderno de poesia". [sel. e org. Affonso Ávila e Wilson de Figueiredo; ilust. Washington Junior]. Belo Horizonte: Santelmo Poesia, 1951.

§

Retrato de homem
 A paisagem estrita
ao apuro do muro
feito vértebra a vértebra
                   e escuro.

A geração dos pêlos
sobre a casca e os rostos
em seus diques de sombra
                   repostos.

Os poços com seu lodo
de ira e de tensão:
entre cimento e fronte
                   — um vão.

As setas se atiram
às margens de ninguém,
ilesas a si mesmas
                   retêm.

Compassos de evasão
entre falange e rua
sondando a solitude
                   nua.

E na armadura de coisa
salobra, um só segredo:
a polpa toda é fruição
                   de medo.  

- Laís Corrêa de Araújo, em "Cantochão". Belo Horizonte: Imprensa Publicações/Governo do Estado de Minas Gerais, 1967.

§

Ritos de passagem
Minúscula coisa vacilante
Ocioso incêndio de hormônios
Esperma  DNA  genes efervescentes
Nostalgia da menstruação
Pobre coisa vacilante
                            à beira de  

- Laís Corrêa de Araújo, em "Inventário: 1951-2002". Coleção inéditos & esparsos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004.

§

Sólida e só
Não como mulher
- seu pêlo de garça -
mas muro de ardente
      sarça.

Não breve e inofensiva
- seu decorado rosto -
mas garra de sol
     posto.

Não desatenta e viva
- o seio indivisível -
nas pá de solidão
   audível.

Não trêmula e constante
- o desejo luzente -
mas árbitro de fato
     potente.

Não o matriz intermédio
- de sexo equipada -
mas bravia orla
     drenada.

Não a língua sutil
- entranha a lacerar -
mas a lucidez abjeta
      do azar.

Não feminina. Fêmea
sólida e só, inteira,
por um instante eterno
     - clareira.

- Laís Corrêa de Araújo, em "Cantochão". Belo Horizonte: Imprensa Publicações/Governo do Estado de Minas Gerais, 1967.

§

Vocabulário
Gosto das  palavras
           infecto  e  nauseabundo
—  palavras  que  silabam
     em  rude  contraponto
     a  avaria  do  mundo.

De umas  palavras  quentes
                      — casa, cama, mesa —
      que  escapam  pretéritos
      e  futuros  presentes
      em  sua  reta  clareza.

Certas partes  do  corpo
      que  bem  que  sonorizam:
      —  púbis,  hímen,  vagina  —
      palavras  que  batizam
      a  encoberta  mina.

E gosto  de  orgasmo
      palavra  atravessada
      como  um espinho  agudo
      que  rascante  lateja
      um momento  de  pasmo.

Também gosto  de  enfarte
      — palavra  lancinante
      que quando  se  presenta
     nem  se  diz  —  e  parte
     a  vida  num  instante.

- Laís Corrêa de Araújo, em "Decurso do prazo". Ouro Preto: Gráfica Ouro Preto, 1988.




Laís Corrêa de Araújo Ávila

FORTUNA CRÍTICA DE  LAÍS CORRÊA DE ARAÚJO
AGUILAR, Gonzalo Moisés (org.). Poesia concreta brasileira: as vanguardas na encruzilhada modernista. São Paulo: Edusp, 2005. 
BERNARDINI, Aurora Fornoni. Obra fixa em B.H. o Espírito do Lugar - Ensaio crítico sobre Sedução do Horizonte, de Laís Correa de Araújo. Jornal da Tarde, São Paulo - SP, p. 06-06, 1998. 
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 3 ed., São Paulo: Editora Cultrix, 1994, p. 447, 485 e 493.
BRASIL, Assis (org.). Dicionário prático de literatura brasileira. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1979, p. 200. 
BRASIL, Assis (org.). A poesia mineira no século XX: antologia. Coleção Poesia brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1998.
CAMPOS, Haroldo de.. Morfologia do macunaíma. Coleção Estudos. São Paulo: Editora Perspectiva, 1973, p. 23 e 40.
CARVALHO, Leonides de.. Imagens da história. Belo Horizonte: Clube de Autores, 2015.
CAVALCANTI, Ildney; LIMA, Ana Cecília; SCHNEIDER, Liane (coord.) Da mulher às mulheres: dialogando sobre literatura, gênero e identidades. Maceió: Editora UFAL, 2006.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura & linguagem. São Paulo: Edições Quíron, 1976, p. 257-258. COELHO, Nelly Novaes (org.). Dicionário crítico da literatura infantil/juvenil brasileira. São Paulo: Edições Quíron, 1983.
COELHO, Nelly Novaes (org.). Dicionário crítico de escritoras brasileiras: 1711-2001. São Paulo: Escrituras Editora, 2002.
CORTÁZAR, Julio. Nas ruas de Ouro Preto, um gigante chamado Cortázar. Entrevista a Roberto Drummond. in: Estado de Minas, Belo Horizonte, 14 fev. 1973, p. 10.
COUTINHO, Afrânio (org.). Brasil e brasileiros de hoje. Rio de Janeiro: Editorial Sul-Americana, 1961, vol. I, p. 350-351. 
COUTINHO, Afrânio; SOUZA, José Galante de (direção). Enciclopédia de literatura brasileira. Rio de Janeiro: MEC/FAE, 1990, vol. I, p. 239.
DUARTE, Constância Lima (org.). Dicionário Biobibliográfico  de escritores mineiros. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. 374p. 
DUARTE, Constância Lima; DUARTE, Eduardo de Assis; BEZERRA, Katia da Costa (org.). Gênero e representação na literatura brasileira. Volume 2, Coleção Mulher & Literatura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
HOLLANDA, Heloísa Buarque de; ARAÚJO, Lúcia Nascimento (org.). Ensaístas brasileiras. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1993, p. 151.
MACIEL, Maria Esther. Laís Corrêa de Araújo. Coleção Encontro com Escritores Mineiros. 1ª ed., Belo Horizonte: Centro de Estudos Literários/Pós-Lit/UFMG, 2002. v. 1. 120p. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016).
MACIEL, Maria Esther. Exercício de lucidez: o trajeto criativo de Laís Corrêa de Araújo. Minas Gerais. Suplemento Literário, Belo Horizonte, v. 78, p. 11-16, 2001.
MACIEL, Maria Esther. O pathos da lucidez - a trajetória poético-intelectual de Laís Corrêa de Araújo. in: Inventário -UFMG. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016). 
MENEZES, Raimundo de (org.). Dicionário literário brasileiro. São Paulo: Editora Saraiva, 1969, vol. 1, p. 118.
MILLIET, Sérgio. Diário crítico (1951-1952). São Paulo: Livraria Martins Editora, 1995, p. 121-122. 
PAES, José Paulo; MOISÉS, Massaud (org.). Pequeno dicionário de literatura brasileira. São Paulo: Editora Cultrix, 1967, p. 162.
Capa do livro 'Inventário: 1951-2002'
PEREIRA, Maria do Rosário Alves. Laís Corrêa de Araújo. In: Constância Lima Duarte. (Org.). Mulheres em Letras - Antologia de escritoras mineiras. 1ª ed., Florianópolis: Mulheres, 2008, v. 1, p. 181-194.
PEREIRA, Maria do Rosário Alves. O inventário poético de Laís Corrêa de Araújo. In: Osmar Pereira Oliva. (Org.). Escritores mineiros e contemplações de Minas. 1ª ed., Montes Claros: Unimontes, 2007, v. 1, p. 263-270.
PEREIRA, Maria do Rosário Alves. Laís Corrêa de Araújo, Bárbara de Araújo: poesia e prosa em uma família mineira. In: Anais XIII Seminário Nacional e IV Seminário Internacional Mulher e Literatura. Natal, v. 1, 2009.
PICCHIO, Luciana Stegagno. La letteratura brasiliana. Firenze/Milano: Sansoni/Accademia, 1972, p. 596 e 633. 
PICCHIO, Luciana Stegagno. La littératura brésiliene. [tradução Linc-François Granier]. Paris: Press Universitaires de France, 1981, p. 151.
RIBEIRO, Marília Andrés. Noevanguardas: Belo Horizonte - anos 60. Belo Horizonte: Editora C/Arte, 1997, p. 108, 136, 137 e 138.
SANTOS, Ivana Campos Mendes dos.. Laís Corrêa de Araújo - bibliografia. Belo Horizonte: Escola de Biblioteconomia da UFMG, 1967. 
SILVA, Viviana Pereira; OLIVEIRA, Ilca Vieira de. Decurso de prazo: escolhas poéticas de Laís Corrêa de Araújo. In:  V Seminário de Literatura Brasileira - Vozes do Gênero: autoria e representação, 2011, Montes Claros. Vozes do gênero: autoria e representações do feminino, Montes Claros: Editora Unimontes, 2011. p. 3-11.
WERNECK, Humberto (org.). O desatino da rapaziada. Jornalistas e escritores de Minas. São Paulo: Instituto Moreira Salles; Editora Companhia das Letras, 1992, p. 146. 
:: Mais sobre Fortuna Crítica de Laís Corrêa de Araújo, em: MACIEL, Maria Esther. Laís Corrêa de Araújo. Coleção Encontro com Escritores Mineiros. 1ª ed., Belo Horizonte: Centro de Estudos Literários/Pós-Lit/UFMG, 2002. v. 1. 120p. Disponível no link. (acessado em 7.2.2016). 


"Essa “inspiração do sentimento” só é válida como início de um ciclo complexo de propagação de energia: o que tem importância é o resultado químico, depois da oxigenação sangüínea."
- Laís Corrêa de Araújo, no artigo "A poesia". in: Estado de Minas, 8 de junho de 1980. 

Laís Correa de Araújo, Affonso Ávila, Rui Mourão, Fábio Lucas, Henriqueta Lisboa, 
Lúcia Machado de Almeida, Murilo Rubião e João Etienne Filho (1972)


"Eis então o meu resumo,
fácil é constatá-lo.
Da vidas somos só
                   o talo. "

- Laís Corrêa de Araújo, em "Cantochão". Belo Horizonte: Imprensa Publicações/Governo do Estado de Minas Gerais, 1967.


Laís Corrêa de Araújo
OUTRAS FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA
:: Antonio Miranda

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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Laís Corrêa de Araújo - o ofício da poética. Templo Cultural Delfos, fevereiro/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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Maria da Conceição Paranhos - desvelando o tempo

Maria da Conceição Paranhos
Maria da Conceição Paranhos Pedreira Brandão poeta, ficcionista, crítica de literatura e artes, dramaturga e tradutora. Nasceu em Salvador/BA, em 8 de junho de 1944. Publica pela primeira vez, em periódicos de Salvador, aos dezesseis anos. Em 1969, conquistou o Prêmio Arthur de Salles, com seu primeiro livro de poesia, Chão Circular, com prefácio de Adonias Filho, publicado em l970. Formada em Letras, cursou o Bacharelado na Faculdade Santa Úrsula da PUC do Rio de Janeiro, e a Licenciatura, pela Universidade Federal da Bahia. Professora Adjunta do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia, onde já lecionou as seguintes disciplinas: Língua Portuguesa, Teoria da Comunicação, Teoria da Literatura, Literatura Brasileira e Literatura Comparada. Mestre em Teoria da Literatura pela Universidade Federal da Bahia. Ph.D. pela Universidade da Califórnia, Berkeley. EUA. Responsável pela criação da Divisão de Produção Literária do Departamento de Literatura da Fundação Cultural do Estado da Bahia, quando realizou várias oficinas de criação e de crítica literária. Ficcionista premiada nacionalmente, no gênero conto. Dramaturga, tradutora, tem a maior parte de sua obra inédita em poesia, embora esteja presente em inúmeros livros, antologias, revistas e periódicos. Autora, dentro outros, de As Esporas do Tempo (Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado/COPENE, 1996), Prêmio COPENE de Cultura e Arte. 
Detentora de vários prêmios nas categorias de poesia, conto e ensaio, tem inúmeras conferências e comunicações sobre temas da teoria e da crítica literária, da literatura comparada, da literatura brasileira, da teoria da história, e da filosofia, no Brasil e nos Estados Unidos. Dramaturga com várias peças montadas na Bahia e em outros estados brasileiros. Da sua experiência como orientadora de Oficinas de Criação Literária publicou o livro As Formas Curtas da Lírica (1987). Entre várias obras inéditas, destaca-se o livro A Construção Tardia (poesia), em 10 cantos, no qual propõe uma fusão do épico ao lírico, utilizando-se de formas da tradição, ao tempo em que dialoga com o Modernismo e o Pós-Modernismo sobre “fazer poesia”.
:: Fonte: Cronópios - perfil / Casa Jorge Amado (acessado em 6.2.2016).


OBRA DE MARIA DA CONCEIÇÃO PARANHOS
Maria da Conceição Paranhos
Poesia
:: Chão circular. [prefácio Adonias Filho]. Salvador: Imprensa Oficial da Bahia,1970.
:: ABC re-obtido. Salvador: Bureau Gráfica e Editora, 1974.

:: Os eternos tormentos. Salvador: Edições Macunaíma, l986.
:: Delírio do ver: seleta de poemas, 1970-2001. Salvador: Secretaria de Cultura e Turismo; Rio de Janeiro: Imago Editora, 2002.
:: As esporas do tempo. [capa e ilustrações Sante Scaldaferri]. Coleção Casa de Palavras, Série poesia nº 7. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado/COPENE, 1996.

Contos
:: Doutor Augusto partiu: contos, relatos e sonhos. São Paulo: Edicoes GRD, 1995.

Ensaios
:: As formas curtas da lírica. 1987.
:: O mundo ficcionalizado - dois ensaios. Belo Horizonte: Editora  UFMG, 1988.
:: Adonias Filho: representação épica da forma dramática. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado, 1989.
:: Jorge de Lima: as asas do poeta - ensaios. Maceió: Secretaria de Cultura, 1993.

Antologias e seletas (participação)
AZEVEDO FILHO, Leodegário Amarante de.; PORTELLA,  Eduardo (org.). Moderna poesia baiana - Antologia. [apresentação Walmir Ayala]. Coleção Tempoesia, nº 7.  Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967.

25 POETAS - Bahia: de 1633 a 1968. Salvador: Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Bahia; Atelier Planejamento Gráfico, 1968.
FESTAS da Bahia. Álbum de poemas e gravuras. Salvador: Imprensa Oficial da Bahia,1970. 
OLIVEIRA, Adelmo (org.). Breve romanceiro do Natal - poemas. [apresentação de Timóteo Amoroso Anastácio, O.S.B]. Salvador: Editora Beneditina, 1972.
VV.AA. Antologia de poesia da Bahia em alfabeto Braille. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1976.
BRASIL, Assis (org.). A poesia baiana no século XX - antologia. Coleção Poesia Brasileira. Rio de Janeiro: Imago; Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1999.
TAVARES, Ildásio (coord.). Poemas soltos (seleta). Salvador: Edições Palmares 2000.
TAVARES, Simone Lopes Pontes (org.). A paixão premeditada. Poesia da geração 60 na Bahia. Coleção Bahia: prosa e poesia. Salvador BA: Imago; Fundação Cultural do Estado da Bahia, 2000. 
TAVARES, Ildásio (org.). Poetas da Bahia século XVII ao século XX. Rio de Janeiro: Editora Imago/Biblioteca Nacional, 2001. 
DAMULAKIS, Gerana (org. e intr.) Antologia Panrâmica do conto baiano - século XX. Coleção Nordestina. lhéus BA: Editora Editus/UESC, 2004. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).
FUNCEB (org.). Autores baianos: um panorama. [Antonio Brasileiro; Cyro de Mattos; José Carlos Limeira; José Inácio Vieira de Melo; Lande Onawale; Laura Castro; Luciany Aparecida; Marcus Vinícius Rodrigues; Maria da Conceição Paranhos; Mariana Paiva; Narlan Matos; Tom Correia]. vol. 2. multilíngue português/alemão/inglês e espanhol. Salvador BA: Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB); P55 Edições, 2014. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).

Artigos e ensaios em revistas e jornais
PARANHOS, Maria da Conceição. Affonso Manta, poeta do lúcido delírio. in: jornal de poesia. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).
_______ . Os abismos varridos pelo vento nordeste. in: Usina de Letras, Salvador, 1 de setembro de 2002. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).
_______ . Sobre a poesia de Miguel Antônio Carneiro. in: jornal de poesia, outubro 2003. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).
_______ . A nau da (in)sanidade. in: Jornal de Poesia. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016). 
_______ . Sanctus (poesia). in: Jornal de Poesia. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016). 
_______ . O síndico (conto). in: Jornal de Poesia. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).
_______ . Soares Feitosa - O Segredo das Fontes. in: Jornal de Poesia. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).
_______ . Este livro de Judith Grossmann. in: Jornal de Poesia. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).
_______ . Espelho partido. in: Jornal de Poesia. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).
_______ . Poesia Carlos Cunha - Olor de fruto recém-colhido. in: A Tarde - Cultural, 21/7/2001/reproduzido: jornal de poesia. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).
_______ . Emma Louise. in: Cronópios, 5/10/2006. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).
_______ . Ciconia. in: Cronópios, 22/11/2006. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016). 
_______ . Glosando a glosa. in: Cronópios, 13/4/2008. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).
_______ . Luz inesperada. in: Cronópios, 18/6/2008. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).
_______ . Horácio e Fernando Pessoa (Ricardo Reis): o Tempo e a Aurea Mediocritas. in: Cronópios, 5/7/2008. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).
_______ . Romério Rômulo: uma poética implacável. in: Cronópios, 11/8/2010. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016). 

Entrevistas
RIBEIRO, Carlos. Perguntas para Maria da Conceição Paranhos. [entrevista]. in: Jornal de Poesia. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).
FELICÍSSIMO, Gustavo. Entrevista: Maria da Conceição Paranhos. in: Overmundo, 3.3.2009. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).

RIBEIRO, Carlos. Subúrbios da memória. [entrevista]. in: Jornal A Tarde, 22.5.2004/ reproduzida: Carlosribeiroescritor. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).
BRANDÃO, Fabrício. Pequena sabatina ao artista (Maria da Conceição Paranhos). Entrevista. in: Diversos afins, 28 de fev de 2011. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016). 



POEMAS ESCOLHIDOS DA POETA MARIA DA CONCEIÇÃO PARANHOS

Maria da Conceição Paranhos
A inquietante transilvânia
Há caminhos de perder,
caminhos a se perderem.
Ser, no inquietante ser,
o meio.

Há paisagens por se abrirem,
paisagens por descobrirem
do gesto fugaz, temível,
o nexo.

Há felinos na retina,
asma esgarçando o peito,
agoniza no ar turvo,
um vulto.

Há dançarinos e tango,
vampiros sorvendo o sumo
de uma artéria adormecida,
sem pulso.

Há fileiras de canções,
vozes crescendo em rumor.
Não se divisa de quem,

o grito.
- Maria da Conceição Paranhos, em "Delírio do ver: seleta de poemas, 1970-2001". Salvador: Secretaria de Cultura e Turismo; Rio de Janeiro: Imago Editora, 2002.

§

Anunciação
 Anunciar.
Lembra-me o encontro,
vez primeira
em que vi teu rosto no entanto oculto
por tanta e tão espessa bruma.

Tarefa de dizer.
Pedi a tua vinda,
supliquei às garras do tempo
o teu encontro.

Vieste,
a indesejada das gentes,
vieste
e te alojaste à flor
do lábio que não abre.

Tomei a iniciativa.
Ou fui, ao revés,
tomada pela iminência,
essa ganância,

essa arrogância,
essa demência,
que se aloja na garganta?

Pouco importa.
Necessário sonharmos juntos.

Vieste,
apesar da hesitação
nas fontes hostis
da História.

Doçura de ficar
em tua sombra,
permitida dessa luz
inesperada,
que me arrasta
em surtos de violência

Anunciação.

- Maria da Conceição Paranhos, em "As esporas do tempo". Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado/ COPENE, 1996.

§

Construção tardia
Acordamos tarde para a tarefa
de juntar as partes da vida,
jogo de armar em mãos inábeis.

Demasiado próximos da seiva,
enxergamos pouco.
Quem disse que é tão simples
dividir a vida em frases?
(ó infância rasurada!)
Só tempos fases.

A vida invade o tempo
(e não o oposto)
e nos atordoa
com sua face leve,
sedução e jogo,

ó vida, vida,
construção tardia:
acordamos tarde nessa arquitetura.

Grande é a gula. Parcas as nascentes.
Mas a garganta molha-se de sede,
procriando espaços de viver.

- Maria da Conceição Paranhos, em "As esporas do tempo". Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado/ COPENE, 1996.

§

Desvelando o tempo
Ocultem os outros
a palavra tempo
em poemas curtos
com tal tema, centro.

A palavra tempo
deve ser usada
tantas vezes quanto
impuser nossa alma.

A palavra tempo
descerra suas portas
de argila e de vento,
suas linhas tortas.

Escrever o tempo
permite retornos:
ligeiros transtornos,
fugaz contratempo.

Porque tempo, tempo,
tempo passa, corre;
se você não dorme,
ele pára, lento.

Importa saber
com visão preclara
o que quer dizer
o tempo, que exala.

- Maria da Conceição Paranhos, em "As esporas do tempo". Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado/ COPENE, 1996.

§

Escuta
Ocorre que há uns lapsos na história,
há uns lapsos. Então vêm, videntes,
relatar histórias conhecidas
em noites longas de calor, insônia.
Ouvimos. Pacientemente.
Sob discursos jazem outras vozes.

Necessário cantar.
Animais se aninham ao nosso ânimo,
baixam seu brado à espera da canção.
E os leões de pedra dos portões
deixam rolar os globos que os sustentam.

Falamos línguas obscenas.
Não. Endureceu-se o ouvir.
Indefinidamente?
Afrontar a rija espada dos confrontos,
permitir soluções, se o peito arfa
curvado de rajadas imprudentes.
Se não se deixa a alma nesses lances
em que transidos vagamos dementes,
como afrontar as rugas, decifrar mensagens
(não correm ventos nas paisagens mortas,
largadas ao relento)?

Necessário é amar.
Primeiro e último tormento.
 

- Maria da Conceição Paranhos, em "As esporas do tempo". Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado/ COPENE, 1996.

§

Ilha iluminada
A vida surge rara,
ressurge das fenestras,
uma explosão contida,
um girassol sedento
imóvel na moldura.
Vigiam olhos d’água —
aberto azul turquesa,
piscina de desejo
a refletir o alto.

Cá dentro, hospital,
o choro dos nascidos.
Também meu ventre abriu-se,
menino, numa rosa.
De bruços na varanda,
medito e reencontro
um corpo tumescido,
a face repartida
nos ritos da espécie
e sua garra firme
e minha solidão.

Retomo minha voz:
embargo, engasgo,
tosse, difícil
redenção.

Suor, em fio, escorre
da sede de voar.
Janela tão pequena,
qual ilha iluminada,
afronta a escuridão
dos blocos, argamassa,
em fila, ameaça.

Eu grito, de paixão.

- Maria da Conceição Paranhos, em "As esporas do tempo". Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado/ COPENE, 1996.

§

Luz inesperada
Preparei a casa para te esperar:
procurei nos cantos o passado
e engastei-o à soleira da porta,
petrificado em dor, mas refulgente.

Não foi necessário mudar de casa
para te esperar. Bastou a tua vinda,
ainda de madrugada, para que tudo mudasse,
e a lua crescente surgisse ao meio dia.

A cama está feita, a mesa está posta,
nas compoteiras brilham sobremesas
feitas para adoçarem a tua boca
quando a vida amargar, travar-se o riso.

Meu corpo não é o mesmo de ontem,
mas é mais virgem, através das horas,
que me apartaram de outros desejos
dos quais me afasto, emigrada de mim mesma.

Foi gratuito o teu chegar. Por isso fica:
permanece em mim e esquece a lágrima.
Te esperei para chamar-te “meu amor”,
embora ingressem em minha voz e corpo

antigas sereias, com pentes de espelhos,
a retrançar meus cabelos destrançados,
e te convidem para o sábio mergulho
onde habitaremos: nós e o tempo.
 
- Maria da Conceição Paranhos, em "As esporas do tempo". Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado/ COPENE, 1996.

§

O poeta e a rosa
O poeta anda só em seu eito de pedra,
e em riste zunem lanças no peito sem veste,
e nesse batalhar sem fim e lato, medra 
a púrpura da rosa, e seu espinho agreste.

As dores do poeta, reiteradamente,
esquecem a mão ferida, pois sabem da rosa.
E ao ver a flor de chama, arriscada e preciosa,
o menino que é permanece imprudente.

O sangue estua em brasa, e o olhar só quer a rosa,
envolta em natureza imprecisa e dolorosa,
espinho de veludo ao tato do poeta.

Ele, ao chorar de dor, prefere sempre o pranto
à inanidade fria de vida sem encanto,
a pesar do estertor e da ferida aberta. 

- Maria da Conceição Paranhos, em "Poemas da rosa". (livro inédito).

§

Quatro sonetos cardinais

1
Rosa e ouro se mesclam no teu sexo,
tão gaia espera, confundindo a busca
da flor cilíndrica que tens no púbis.
Quanto me atinges, seta no meu peito?

Colho teu sumo em corpo tão trançado
ao teu enlevo, que me rouba o fôlego,
enquanto o brilho dos teus olhos sádicos
esmaga minha boca a insano sorvo.

Tento dizer-te do tremor da casa,
mas só entendes do ganir do lobo
em minha toca a estertorar de gozo,

a trucidar-me com tua adaga em chama,
menos espero, e já me emborcas, louco.
O meu deleite a ti te adentra. Amas?

2
Mor ventura não há neste meu fado
do que mirar teu corpo e usufruí-lo,
pausadamente, a mão a desvesti-lo,
saboreando teu olhar de dardos,

enquanto sofres com meu gesto lento –
ânsia mortal qual susto em punho destro,
mas à sinistra teço-te uma festa,

deslizando sussurros no teu peito.
Levo tua mão a cada poro intacto:
recobras-me novel e me entrelaças
com vendaval de sons em presto tato.

Cobra no bote, tuas coxas presas,
enrodilhado em meus joelhos altos,
danças e lanças seta no meu alvo.

3
Quero teu corpo quanto quero à chave
retorcer-se em estreita fechadura.
Quando tu tranças tua pele tersa,
exibes nervo e músculo, arma-dura.

Que me estarreces! Miro, deslumbrada,
a ruga tesa e tensa da procura
do rego rijo onde te largas, ávido,
galopando as campinas da luxúria.

Dorso e penugem vejo-te. E revejo
o teu espelho, que a memória é falha.
Teu desatino encontro, meu amigo,

gesto lúbrico, inchado de desejo,
e, sábia mão, tu me abres como a livro
inda não lido, prenhe de tuas marcas.

4
Teu dormir só suscita meu desejo,
pois eu, então, vejo tua chama insone –
corcel insano em desandado trote,
que me galope enquanto ainda sonho

com toda a lava que nos cobre e me arde
em fronha de cetim que se entreabre
ao corpo túrgido, encerrado, dentro,
rasgando a pele – em gana transformado,

rugindo rouquidão. Mucosa ávida,
escancarando-se a teu beijo álacre,
cortante gládio a lacerar-me o gáudio.

Com lassa boca, plena de alvoradas,
eu te derroto quando, exausto, tombas,
e eu te profano com meu terno afago.
- Maria da Conceição Paranhos, em "As esporas do tempo". Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado/COPENE, 1996. 

 
FORTUNA CRÍTICA DE MARIA DA CONCEIÇÃO PARANHOS
Maria da Conceição Paranhos
COELHO, Nelly Novaes (org.). Dicionário crítico de escritoras brasileiras: 1711-2001. São Paulo: Escrituras Editora, 2002.
NOGUEIRA, Juliana de Souza Gomes. Caminhos da memória nas poéticas de Sophia de Mello Breyner Andresen e Maria da Conceição Paranhos. (Tese Doutorado em Literatura e Cultura). Universidade Federal da Bahia, UFBA, 2014.
NOGUEIRA, Juliana de Souza Gomes.. Nas tessituras das memórias fluidas de Sophia Andresen e Conceição Paranhos. Revista Crioula (USP), v. 15, p. 1, 2015. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).
NOGUEIRA, Juliana de Souza Gomes.. Memória e descentramento do eu no poema avô materno, de Maria da Conceição Paranhos. In: 19º Congresso de Leitura do Brasil, 2014, Campinas - São Paulo. Leituras sem margens. Campinas SP: Editora da Unicamp, 2014. v. 24. p. 1774-1784.  
PAZ, Vilma Santos da.. Memória e Esquecimento na poesia de Maria da Conceição Paranhos. In: Curso Castro Alves - II Colóquio de Literatura Baiana, 2008, Salvador. O olhar de Castro Alves: Ensaios críticos de Literatura Baiana. Salvador: Assembleia Legislativa da Bahia, Academia de Letras da Bahia, 2008. p. 397-404. 
PAZ, Vilma Santos da.. Todos os cantos: Representações da cidade entre memória e poesia em "Delírio do ver", de Maria da Conceição Paranhos. In: Curso Castro Alves - II Colóquio de Literatura Baiana, 2008, Salvador. O olhar de Castro Alves: Ensaios críticos de Literatura Baiana. Salvador: Assembleia Legislativa da Bahia, Academia de Letras da Bahia, 2008. p. 413-420.  
POEMAS. Maria da Conceição. in: Janela Poética IV - Diversos afins, 6/2013. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).  
REIS, Ricardo Pacheco. Cotidiano, Memória e Experiência urbana na Poesia de Maria da Conceição Paranhos. (Dissertação Mestrado em Literatura e Diversidade Cultural). Universidade Estadual de Feira de Santana, UEFS, 2012.
REIS, Ricardo Pacheco. Memória, mulher e experiência urbana na Lírica de Maria da Conceição Paranhos. (Monografia Graduando em Letras Vernáculas). Universidade Estadual de Feira de Santana, UEFS, 2007.
REIS, Ricardo Pacheco. Os delírios do ver na lírica urbana de Maria da Conceição Paranhos. In: Humberto Luiz Lima Oliveira; Marie-Rose Abomo-Maurin. (Org.). Poéticas da alteridade. 1ª ed., Feira de Santana: UEFS, 2011, v. 1, p. 249-259.
REIS, Ricardo Pacheco. Cotidiano e experiência urbana na poesia de Mario de Andrade e Maria da Conceição Paranhos. In: II Seminário Nacional de Literatura e Cultura, 2010, São Cristóvão - SE. Anais do II Seminário Nacional de Literatura e Cultura, 2010. v. 2. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).

SCHEINOWITZ, Celina de Araújo. Maria da Conceição Paranhos. In: Carlos Ribeiro. (Org.). Com a palavra o escritor. 1ª ed., Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado/Braskem, 2002, v. 1, p. 84-92. 
SILVA, Edson Oliveira da.. Cegos de tanto ver: o olhar em movimentos na poesia de Maria da Conceição Paranhos. Revista Outros Sertões, v. 1, p. 16-22, 2010.
SILVA, Edson Oliveira da.. Cegos de tanto ver: o olhar em fragmentos na poesia de Maria da Conceição Paranhos. In: Aleilton Fonseca; Rosana Ribeiro Patrício. (Org.). Cantos & recantos da cidade. Itabuna: Via Litterarum, 2009, v. , p. -.
SILVA, Edson Oliveira da.. As três faces da "rosa" na poesia de Maria da Conceição Paranhos. In: II Seminário de Estudos Filológicos - SEF, 2007, Feira de Santana. Caderno de Resumos. Feira de Santana: UEFS, 2007. v. 1. p. 29-29. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).

SILVA, Suely de Souza. Euterpe [in] cantos parisienses, paulistanos e cariocas. in: conlire - I Congresso Nacional de Linguagens e Representações: Linguagens e Leituras; III Encontro Nacional da Cátedra UNESCO de Leitura; VII Encontro Local do PROLER. UESC, Ilhéus BA, 14 a 17 de outubro de 2009. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016). 
TAVARES, Ildásio. Uma poesia neobarroca. in: Jornal de Poesia. Disponível no link. (acessado em 6.2.2016).

Adolesce
[...]
A cidade. A grande cidade.
O prazer das ruas, o cheiro do mar
penetrando na pele, soltos os cabelos,
a ele mais morena, o corpo mais redondo,
suave, itinerando.

Sem roteiros, andar pela cidade,
Convivendo com seus cantos e ruelas-
Cada lugar inscrito no seu corpo,
Enquanto ocorre o espetáculo:
As amplas avenidas e a busca
Da cidade como agulha no palheiro.

Como estancar esse andar de peregrino,
Confundir-se com todos, ser igual?
Mas sendo igual. É tão diversos.

- Maria da Conceição Paranhos, em "As esporas do tempo". Salvador BA: Fundação Casa de Jorge Amado/ COPENE, 1996, p. 19.



Maria da Conceição Paranhos
OUTRAS FONTES E REFERÊNCIAS DE PESQUISA
 :: Alguma Poesia - Carlos Machado
:: Antonio Miranda
:: Jornal de Poesia - Soares Feitosa 
:: Blog GLN - Página de Maria da Conceição Paranhos



* "Desvelando o tempo", é um poema de Maria da Conceição Paranhos, do livro 'As esporas do tempo'. Que também dá o ttítulo a esta página. 

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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Maria da Conceição Paranhos - desvelando o tempo. Templo Cultural Delfos, fevereiro/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
____
** Página atualizada em 6.2.2016.



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