- Auta de Souza - poeta
“Não vês? Minh’alma é como a pena branca
Auta Henriqueta de Souza nasceu em Macaíba, em 12 de setembro de 1876, filha de Elói Castriciano de Souza e Henriqueta Leopoldina Rodrigues e irmã dos políticos norte-rio-grandenses Elói de Sousa e Henrique Castriciano.
Cores
(A Cecília Burle)
Enquanto a gente é criança
Tem no seio um doce ninho
Onde vive um passarinho
Formoso como a Esperança.
E ele canta noite e dia
Porque se chama: Alegria.
Depois... vai-se a Primavera...
É o tempo em que a gente cresce...
O riso se muda em prece,
A alma não canta: espera!
E ao ninho do Coração
Desce outra ave: a Ilusão.
Mas esta, como a Alegria,
Nos foge... E fica deserto
O coração, na agonia
Do inverno que já vem perto.
Nas ruínas da Mocidade
É quando pousa a saudade...
- Auta de Souza, [Nova Cruz, Setembro de 1897], in "Horto", 1900.
Página triste
Há muita dor por este mundo a fora
Muita lágrima à toa derramada;
Muito pranto de mãe angustiada
Que vem saudar o despontar da aurora!
Alma inocente só de amor cercada
A criancinha a soluçar descora,
Talvez no berço onde o menino chora
Também, oh Dor, tu queiras, desolada,
Erguer um trono, procurar guarida...
Foge do berço! Não magoes a vida
D’esta ave implume, lirial botão...
Queres um ninho, um carinhoso abrigo?
Pois bem! Procura-o neste seio amigo,
Dentro em minh’alma, aqui no coração!
- Auta de Souza, [Macaíba - 1895], in "Horto", 1900.
Róseo menino
Saudade
(A ela, a Eugênia, a doce criatura que me chama irmã).
Ah! se soubesse quanto sofro e quanto
Longe de ti meu coração padece!
Ah! se soubesses como dói o pranto
Que eternamente de meus olhos desce!
Ah! se soubesses!... Não perguntarias
De onde é que vem esta sombria mágoa
Que traz-me o peito cheio de agonias
E os tristes olhos arrasados d’água!
Querem que a lira de meus versos cante
Mais esperança e menos amargura,
Que fale em noites de luar errante
E não invoque a pobre noite escura.
Mas... como posso eu levar sonhando
A vida inteira n’um anseio infindo,
Se choro mesmo quando estou cantando
Se choro mesmo quando estou sorrindo!
Ouve, ó formosa e doce e imaculada,
Visão gentil de eterna fantasia:
Minh’alma é uma saudade desfolhada
De mãe querida sobre a cova fria.
Ah! minha mãe! Pois tu não sabes, santa,
Que Ela partiu e me deixou no berço?
Desde esse dia a minha lira canta
Toda a saudade que lhe inspira o verso!
Depois que Ela se foi a Mágoa veio
Encher-me o coração de luto e abrolhos.
Eu sofro tanto longe de seu seio,
Eu sofro tanto longe de seus olhos!
Ó minha Eugênia! Estrela abençoada
Que iluminas o horror deste deserto...
De teu afeto a chama consagrada
Lança à minh’alma como um pálio aberto.
Quando beijares teus filhinhos, pensa
O que seria d’eles sem teus beijos;
E, então, compreenderás a dor imensa,
A amargura cruel destes harpejos!
Junta as mãozinhas dos pequenos lírios,
Das criancinhas que tu’alma adora,
E ensina-os a rezar sobre os martírios
E a saudade infinita de quem chora.
- Auta de Souza, in “Horto”, 1900.
CASCUDO, Luís
da Câmara. A vida breve da Auta de Sousa.
Recife: Gráfica Oficial, 1961.
GOMES, Ana Laudelina
Ferreira. Auta de Souza: uma poeta de
múltiplas marcas culturais. Revista da FARN, v. 6, p. 161-181, 2008.
SILVA,
Francisca Gregório da; MELO,
Felipe Morais de. A mítica mística em Auta.
Disponível no link. (acessado 15.5.2013).
Horto
© Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske
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Que o vento amigo da poeira arranca
E vai com ela assim, de ramo em ramo,
Para um ninho gentil de gaturamo...
Leva-me, ó coração, como esta pena,
De dor em dor, até a paz serena.”
- Auta de Souza
Auta Henriqueta de Souza nasceu em Macaíba, em 12 de setembro de 1876, filha de Elói Castriciano de Souza e Henriqueta Leopoldina Rodrigues e irmã dos políticos norte-rio-grandenses Elói de Sousa e Henrique Castriciano.
Ficou órfã aos três anos, com a morte de sua mãe por
tuberculose, e no ano seguinte perdeu também o pai, pela mesma doença. Sua mãe
morreu aos 27 anos e seu pai aos 38 anos.
Durante a infância, foi criada por sua avó materna,
Silvina Maria da Conceição de Paula Rodrigues, conhecida como Dindinha, em uma
chácara no Recife, onde foi alfabetizada por professores particulares. Sua avó,
embora analfabeta, conseguiu proporcionar boa educação aos netos.
Aos onze anos, foi matriculada no Colégio São Vicente de
Paula, dirigido por freiras vincentinas francesas, e onde aprendeu Francês,
Inglês, Literatura (inclusive muita literatura religiosa), Música e Desenho.
Lia no original as obras de Victor Hugo, Lamartine, Chateaubriand e Fénelon.
Quando tinha doze anos, vivenciou nova tragédia: a morte
acidental de seu irmão mais novo, Irineu Leão Rodrigues de Sousa, causada pela
explosão de um candeeiro.
Mais tarde, aos catorze anos, recebeu o diagnóstico de
tuberculose, e teve que interromper seus estudos no colégio religioso, mas deu
prosseguimento à sua formação intelectual como autodidata.
Continuou participando da União Pia das Filhas de Maria,
à qual se uniu na escola. Foi professora de catecismo em Macaíba e escreveu
versos religiosos. Jackson Figueiredo (1914) a considera uma das mais altas
expressões da poesia católica nas letras femininas brasileiras.
Começou a escrever aos dezesseis anos, apesar da doença.
Frequentava o Club do Biscoito, associação de amigos que promovia reuniões
dançantes onde os convidados recitavam poemas de vários autores, como Casimiro
de Abreu, Gonçalves Dias, Castro Alves, Junqueira Freire e os potiguares
Lourival Açucena, Areias Bajão e Segundo Wanderley.
Por volta de 1895, Auta conheceu João Leopoldo da Silva
Loureiro, promotor público de sua cidade natal, com quem namorou durante um ano
e de quem foi obrigada a se separar pelos irmãos, que preocupavam-se com seu
estado de saúde. Pouco depois da separação, ele também morreria vítima da
tuberculose. Esta frustração amorosa se tornaria o quinto fator marcante de sua
obra, junto à religiosidade, à orfandade, à morte trágica de seu irmão e à
tuberculose. A poetisa, então, encerrou seu primeiro livro de manuscritos, intitulado Dhálias, que mais tarde seria publicado sob o título de Horto.
Aos dezoito anos, passou a colaborar com a revista Oásis,
e aos vinte escrevia para A República, jornal de maior circulação e que lhe deu
visibilidade para a imprensa de outras regiões. Seus poemas foram publicados no
jornal O Paiz, do Rio de Janeiro. No ano seguinte, passaria a escrever
assiduamente para o prestigiado jornal A Tribuna, de Natal, e seus versos eram
publicados junto aos de vários escritores famosos do Nordeste. Entre 1899 e
1900, assinou seus poemas com os pseudônimos
de Ida Salúcio e Hilário das Neves, prática comum à época.
Efígie de Auta, [em bico de pena] para a 2ª ed., do livro "Horto". |
Também foi publicada nos jornais A Gazetinha, de Recife,
e no jornal religioso Oito de Setembro, de Natal, e na Revista do Rio Grande do
Norte, onde era a única mulher entre os colaboradores.
Venceu a resistência dos círculos literários masculinos e
escrevia profissionalmente em uma sociedade em que este ofício era quase que
exclusividade dos homens, já que a crítica ignorava as mulheres escritoras. Sua
poesia passou a circular nas rodas literárias de todo o país, despertando grande
interesse. Tornou-se a poetisa norte-rio-grandense mais conhecida fora do
estado.
Aos 24 anos, no dia 7 de fevereiro de 1901, Auta de Souza
morria tuberculosa. Foi sepultada no cemitério do Alecrim, em Natal, em 1904
seus restos mortais foram transportados para o jazigo da família, na parede da
Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Macaíba, sua cidade natal. No ano
anterior (1900) havia publicado seu único livro de poemas sob o título de Horto,
com prefácio de Olavo Bilac, que obteve significativa repercussão na crítica
nacional. Em 1910 saía à segunda edição, em Paris, e, em 1936, a terceira, no
Rio de janeiro, com prefácio de Alceu de Amoroso Lima.
Homenagens
Em 1936, a
Academia Norte-Riograndense de Letras dedicou-lhe a poltrona XX, como reconhecimento
à sua obra.
Em 1951, foi
feita uma lápide, tendo como epitáfio versos extraídos de seu poema Ao Pé do
Túmulo: "Longe
da mágoa, enfim no céu repousa/Quem sofreu muito e quem amou demais.”
"A tormenta se desfizera ao pé do túmulo; e do
naufrágio em que abismou esta singular existência, resta o Horto, livro de uma
Santa."
- Henrique
Castriciano de Souza - irmão, escritor e político brasileiro, 2ª ed.: “Horto”,
de Auta de Souza.
"A maior poetisa mística do Brasil"
- Luís da
Câmara Cascudo
AUTA DE SOUZA - OBRA E AS
EDIÇÕES
![]() |
Capa da 2ª ed., do livro "Horto", Auta de Souza - Ilustração de D. O. Widhopff. |
Horto. [prefácio de Olavo Bilac],
contendo 114 poemas - 1ª. ed., Rio de
Janeiro: Tipografia d’A República/Biblioteca do Grêmio Polimático, 1900, 232 p.
Horto. (incluindo 17 novos poemas que integravam o manuscrito Dhálias), - [Breve biografia da autora, por seu irmão
Henrique Castriciano de Sousa; e Ilustração e Capa de D.O. Widhopff], 2ª. ed., Paris:
Tipographie Aillaud, Alves & Cia, Boulevard Montparnasse, 96, 1910.
Horto. [prefácio de Tristão de Ataíde
(Alceu Amoroso Lima)], 3ª. ed., Rio de Janeiro: Tip. Batista de Sousa, 1936.
Horto. 4ª. ed., Natal/RN: Fundação José
Augusto, 1970.
Horto. Brasília: Sociedade de
Divulgação Espírita Auta de Souza, 2000.
Horto. [Coleção Nordestina], - (incluindo
“Introdução para um Estudo da Vida e Obra de Auta de Sousa”, de Ana Laudelina
Ferreira Gomes). 5ª. ed., Natal/RN: Editoras Universitárias do Nordeste, 2001.
Horto, outros poemas e ressonâncias. [obra reunida], Natal: EDUFRN, 2009, 270p.
Horto, outros poemas e ressonâncias. [obra reunida], Natal: EDUFRN, 2009, 270p.
MANUSCRITOS
Dhálias. [S.l.: s.n., 1893-1897].
Manuscrito.
Horto. Manuscrito. (1898).
"[..] Horto o
labor pertinaz de uma artista, transformando as suas idéias, as suas torturas,
as suas esperanças, os desenganos em pequeninas jóias, [...]."
- Olavo
Bilac, in "Prefácio", 1ª ed.: "Horto", de Auta de Souza.
O cancioneiro
das nossas tristezas
"A Auta de Souza conhecida era como um perfume de
novena trazido num sopro de familiaridade lírica. Menina e moça, levada de casa
para o colégio, esvaiu-se em versos. Plantou um jasmineiro e deixou um livro de
saudades que é o cancioneiro geral das nossas tristezas."
- Edgar
Barbosa, "A vida breve que foi canção"
Auta de Souza |
O amor da
poesia
"Fez versos por amor da poesia, por um amor tocante,
puríssimo, da poesia e não para aparecer ou comunicar uma mensagem. Fez versos
para si e para aqueles que mais perto a cercavam. […] E esse sentimento de
absoluta pureza é o que mais encanta nos seus poemas."
- Alceu
Amoroso Lima, Prefácio [à 3ª edição de Horto].
AUTA DE SOUZA - POEMAS ESCOLHIDOS
À alma de minha
mãe
Partiu-se o fio
branco e delicado
Dos sonhos de
minh’alma desditosa...
E as contas do
rosário assim quebrado
Caíram como folhas
de uma rosa.
Debalde eu as
procuro lacrimosa,
Estas doces
relíquias do Passado,
Para guardá-las na
urna perfumosa,
Do meu seio no
cofre imaculado.
Aí! se eu ao menos
uma só pudesse
D’estas contas
achar que me fizesse
Lembrar um mundo de
alegrias doidas...
Feliz seria... Mas
minh’alma atenta
Em vão procura uma
continha benta:
Quando partiste
m’as levaste todas!
- Auta de Souza [Natal,
Março de 1895].
À minha avó
Minh’alma vai
cantar, alma sagrada!
Raio de sol dos
meus primeiros dias...
Gota de luz nas
regiões sombrias
De minha vida
triste e amargurada.
Minh’alma vai
cantar, velhinha amada!
Rio onde correm
minhas alegrias...
Anjo bendito que me
refugias
Nas tuas asas
contra a sina irada!
Minh’alma vai
cantar... Transforma o seio
N’um cofre santo de
carícias cheio,
Para este livro todo
o meu tesouro... -
Eu quero vê-lo, em
desejada calma,
No rico santuário
de tu’alma...
- Hóstia guardada
n’um cibório de ouro! -
- Auta de Souza, in
“Horto”, 1900.
Agonia do Coração
(A Maria Carolina de Vasconcellos)
"Estrelas
fulgem da noite em meio
Lembrando círios
louros a arder...
E eu tenho a treva
dentro do seio...
Astros! velai-vos,
que eu vou morrer!
Ao longe cantam.
São almas puras
Cantando á hora do
adormecer...
E o eco triste sobe
ás alturas...
Moças! não cantem,
que eu vou morrer!
As mães embalam o
berço amigo,
Doce esperança de
seu viver...
E eu vou sozinha
para o jazigo...
Chorai, crianças,
que eu vou morrer!
Pássaros tremem no
ninho santo
Pedindo a graça do
alvorecer...
Enquanto eu parto
desfeita em pranto...
Aves, suspirem, que
eu vou morrer!
De lá do campo
cheio de rosas
Vem um perfume de
entontecer...
Meu Deus! que
mágoas tão dolorosas...
Flores! Fechai-vos,
que eu vou morrer!"
- Auta de Souza, in
“Horto”, 1900.
Ao Cair da Noite
(A Maria Emília Loureiro)
Não sei que paz imensa
Envolve a Natureza,
N’ess’hora de
tristeza,
De dor e de pesar.
Minh’alma, rindo,
pensa
Que a sombra é um
grande véu
Que a Virgem traz
do Céu
Num raio de luar.
Eu junto as mãos,
serena,
A murmurar
contrita,
A saudação bendita
Do Anjo do Senhor;
Enquanto a lua
plena
No azul, formosa e
casta,
Um longo manto
arrasta
De lúrido
esplendor.
Minhas saudades
todas
Se vão mudando em
astros...
A mágoa vai de
rastros
Morrer na
escuridão...
As amarguras doidas
Fogem como um
lamento
Longe do
Pensamento,
Longe do Coração.
E a noite desce,
desce
Como um sorriso
doce,
Que em sonhos
desfolhou-se
Na voz cheia de
amor,
Da mãe que ensina a
Prece
Ao filho pequenino,
De olhar meigo e
divino
E lábio aberto em
flor.
Ah! como a Noite
encanta!
Parece um
Santuário,
Com o lindo lampadário
De estrelas que ela
tem!
Recorda-me a luz
santa,
Imaculada e pura,
Da grande noite
escura
Do olhar de minha
mãe!
Ó noite embalsamada
De castas
ambrósias...
No mar das
harmonias
Meu ser deixa
boiar.
Afasta, ó noite
amada,
A dúvida e o
receio,
Embala-me no seio
E deixa-me sonhar!
- Auta de Souza, in
“Horto”, 1900.
Ao Luar
(A Maria Fausta e a Mercês Coelho)
Astros celestes,
docemente louros,
Giram no espaço, em
luminoso bando;
E, mais além, n’um
soluçar dolente,
Canções serenas, ao
luar voando.
Quanta tristeza
pela noite clara!
Quanta saudade pelo
azul boiando!
Cuida-se ouvir,
n’um dolorido choro,
As preces tristes
de um magoado coro
De almas penadas ao
luar rezando.
O céu parece uma
igrejinha antiga
Que a lua branca
vai alumiando...
E essas estrelas,
muito além dispersas,
São rosas brancas
no Infinito imersas,
Monjas benditas, ao
luar chorando.
Os pirilampos,
pelas moitas tristes,
Voam, calados e
sutis, brilhando...
Lembram descrenças,
a bailar sombrias,
Ilusões mortas de
esquecidos dias,
Almas de loucos, ao
luar passando.
Flocos de nuvens
pela Esfera adejam,
Barcos de neve pelo
Azul formando...
Semelham preces que
se vão da terra,
Almas mimosas, que
este mundo encerra,
De criancinhas, ao
luar sonhando.
Eles parecem também
velas brancas
Soltas, à toa pelo
mar vogando...
Leves e tênues, a
correr imensas,
Folhas de lírios
pelo Ar suspensas,
Aves saudosas, ao
luar chorando.
Ai! quem me dera
ser também criança!
Ai! quem me dera andar
também voando!
Fazer dos astros um
barquinho amado,
N’ele vagar por
todo o Céu dourado,
As minhas dores ao
luar cantando!
- Auta de Souza [Angicos -
Junho de 1896], in “Horto”, 1900.
A Eugênia
Imagem santa que
entrevejo em sonho,
Sempre, sempre a
cantar,
Criatura inocente,
anjo risonho,
Que me ensinaste a
amar!
Meu doce amor!
Calhandra maviosa
Que canta dentro em
mim;
Minha esperança
tímida e formosa,
Meu sonho de
marfim!
Amaranto do Céu,
flor encantada,
Mimoso colibri;
Minha açucena
pálida e magoada,
Meu níveo bogari;
Gota de orvalho a
tremular n’um lírio
Que mal começa a
abrir;
Ó tu que apagas meu
cruel martírio
E que me fazes rir;
Madressilva
entreaberta, lira de ouro,
Celeste beija-flor;
Minha camélia, meu
sorriso louro,
Amor de meu amor;
Guarda estes versos
que só dizem mágoa
E tristezas sem
fim...
Deixa-os no seio
como a gota d’água
No cálix de um
jasmim...
- Auta de Souza, in
“Horto”, 1900.
Bohemias
(A Rosa Monteiro)
Quando me vires
chorar,
Que sou infeliz não
creias;
Eu choro porque no
Mar
Nem sempre cantam
sereias.
Choro porque, no
Infinito,
As estrelas
luminosas
Choram o orvalho
bendito,
Que faz desabrochar
as rosas.
Do lábio o consolo
santo
É o riso que vem
cantando...
O riso do olhar é o
pranto:
Meus olhos riem
chorando.
O seio branco da
aurora
Derrama orvalhos a
flux...
O círio que brilha
chora:
A dor também fere a
luz?
Teus olhos cheios
de ardores
Aninham rosas nas
faces...
Que seria dessas
flores,
Responde, se não
chorasses?
Sou moça e bem
sabes que
A moça não tem
martírios;
Se chora sempre, é
porque
Pretende imitar os
lírios.
Enquanto eu viver
no mundo,
Meus olhos hão de
chorar...
Ah! como é doce o
profundo
Soluço eterno do
Mar!
Do lábio o consolo
santo
É o riso que vem
cantando...
O riso do olhar é o
pranto:
Meus olhos riem
chorando.
- Auta de Souza, [Jardim,
08.1897], in “Horto”, 1900.
(A meu irmão João Cancio)
Tão longe a casa!
Nem sequer alcanço
Vê-la através da
mata. Nos caminhos
A sombra desce; e,
sem achar descanso,
Vamos nós dois, meu
pobre irmão, sozinhos!
É noite já. Como em
feliz remanso,
Dormem as aves nos
pequenos ninhos...
Vamos mais
devagar... de manso e manso,
Para não assustar
os passarinhos.
Brilham estrelas.
Todo o céu parece
Rezar de joelhos a
chorosa prece
Que a Noite ensina
ao desespero e a dor...
Ao longe, a Lua vem
dourando a treva...
Turíbulo imenso
para Deus eleva
O incenso agreste
da jurema em flor.
- Auta de Souza, in “Horto”,
1900.
Cantai
(A Edwiges de Sá Pereira)
Ó vós, que guardais
no seio
Com tanto amor e
carinho,
- Com o mesmo doce
receio
De um’ave que
guarda o ninho:
As ilusões mais
douradas
Que um’alma de moça
encerra: -
Cantai as crenças
nevadas
Que divinizam a
terra;
Cantai a meiga
harmonia
Das esperanças em
flor,
Cantai a vida, a
alegria,
Na lira santa do
amor.
Cantai a vida, a
alegria,
- Dizei-o nos
vossos cantos -
É uma aurora
querida
Que desabrocha sem
prantos.
Expatriai a
saudade,
- O espinho do
coração -
Cantai a felicidade
De uma existência
em botão.
É para vós a
ventura,
A glória que o
mundo tem...
Que vos importa a
amargura
De um’alma que
chora além?
Eu também irei
cantando,
Como vós, meus
pensamentos,
Vivendo sempre
sonhando
Sem dores e sem
tormentos.
E, já que não tenho
amores,
E nem embalo
esperanças...
Canto o perfume das
flores,
Canto o riso das
crianças.
- Auta de Souza, in
“Horto”, 1900.
Cantando
(A meu irmão Henrique)
Tão mimosa estrela
No céu ontem vi.
Que minh’alma, ao
vê-la,
Pensou logo em ti.
Pensou em ti,
santo!
Vendo-a assim
brilhar...
Parecia o encanto
De teu doce olhar.
De teu olhar puro,
Meu celeste amor!
Onde o meu futuro
Vai boiando em
flor.
Vai boiando, à toa,
Sem querer parar,
Qual pena que voa,
Suspensa no Ar.
Suspensa voando
Como um Querubim
Que passa cantando
Pelo Azul sem fim.
Pelo Azul se
esconda
Quem deseja amar,
Qual nuvem, qual
onda,
No céu ou no mar.
No céu, se
anoitece,
Ninguém vê o sol...
Mas, que importa? A
prece
É um rouxinol.
Rouxinol que chora,
Mas sempre a
cantar.
Quando nasce a
aurora,
Também canta o
Luar.
Também canta amores
Um’alma sem luz...
Nunca viste flores
Aos pés de uma
Cruz?
Aos pés de Maria,
Como é bom rezar!
Que casta ambrosia
Se espalha no
altar.
Se espalha no
lábio!
Sem gosto de fel,
O doce ressaibo
De um favo de mel.
De um favo tão doce
Como o teu olhar,
Pois nele
encarnou-se
Mimosa, a
brilhar...
Mimosa e tão clara,
A estrela que eu
vi!
A luz que me
aclara,
Quando penso em ti.
- Auta de Souza, [Macába,
1896], in “Horto”, 1900.
Consolo supremo
(A quem sofre)
“Bem aventurados
os que choram,
porque eles
serão consolados.”
JESUS.
Os tristes dizem
que a vida
É feita de
dissabores
E a alma verga
abatida
Ao peso das grandes
dores.
Não acredito que
seja
Assim como dizem,
não...
Ai daquele que
deseja
Viver sem uma
ilusão!
Se há noites frias,
escuras,
Também há noites
formosas;
Há risos nas
amarguras;
Entre espinhos
nascem rosas.
E rosas também
cobriram
O lenho santo da Cruz,
Quando os espinhos
cingiram
A cabeça de Jesus.
Rosas do sangue
adorado
- Fonte de graça e
de fé -
Brotando do rosto
amado
Do Filho de Nazaré.
Ó alma triste,
chorosa
Como uma dália no
inverno,
Despe da mágoa
trevosa
O negro cilício
eterno!
Enquanto vires
estrelas
Do Céu no imenso
sacrário,
Na terra flores
singelas
E uma Cruz sobre o
Calvário;
Enquanto, mansa,
pousar
A prece nos lábios
teus,
E souberes murmurar
Com as mãos unidas:
meu Deus!
Não digas que à luz
vieste
Para chorar e
sofrer,
E como a plantinha
agreste
Sonhar um dia e...
morrer...
Não digas, pobre
querida!
Mesmo se a dor te
magoa;
É sempre feliz na
vida
A alma que é pura e
boa.
- Auta de Souza, in
“Horto”, 1900.
Cores
(A Cecília Burle)
Enquanto a gente é criança
Tem no seio um doce ninho
Onde vive um passarinho
Formoso como a Esperança.
E ele canta noite e dia
Porque se chama: Alegria.
Depois... vai-se a Primavera...
É o tempo em que a gente cresce...
O riso se muda em prece,
A alma não canta: espera!
E ao ninho do Coração
Desce outra ave: a Ilusão.
Mas esta, como a Alegria,
Nos foge... E fica deserto
O coração, na agonia
Do inverno que já vem perto.
Nas ruínas da Mocidade
É quando pousa a saudade...
- Auta de Souza, [Nova Cruz, Setembro de 1897], in "Horto", 1900.
Desalento
Quando o meu
pensamento se transporta
A’s praias de
além-mar,
Sinto no peito uma
tristeza imensa
Que manda-me
chorar.
É que vejo
morrerem, uma a uma,
Santas aspirações,
E voarem com os
pássaros saudosos
As minhas
ilusões...
Nunca julguei que a
terra fosse um túmulo
De sonhos juvenis,
Sorrindo acreditei
que aqui, no mundo,
Podia ser feliz...
Enganei-me: - a
tristeza, que me oprime
O coração sem luz...
Como o Sol o
derradeiro raio
Nos braços de uma
cruz...
A trêmula saudade
que entristece
E faz desfalecer;
Essa agonia lenta
que me inspira
Desejos de
morrer... –
Tudo me diz que a
vida é o desengano,
A morte da Ilusão,
E o mundo um grande
manto de tristezas
Que enluta o
coração.
- Auta de Souza [Jardim,
1893], in “Horto”, 1900.
Fio partido
Fugir à mágoa
terrena
E ao sonho, que faz
sofrer,
Deixar o mundo sem
pena
Será morrer?
Fugir neste anseio
infindo
À treva do
anoitecer,
Buscar a aurora
sorrindo
Será morrer?
E ao grito que a
dor arranca
E o coração faz tremer,
Voar uma pomba
branca
Será morrer?
II
Lá vai a pomba
voando
Livre, através dos
espaços...
Sacode as asas
cantando:
“Quebrei meus laços!”
Aqui, n’amplidão
liberta,
Quem pode deter-me
os passos?
Deixei a prisão
deserta,
Quebrei meus laços!
Jesus, este vôo
infindo
Há de amparar-me
nos braços
Enquanto eu direi
sorrindo:
Quebrei meus laços!
- Auta de Souza, [janeiro,
1901], in “Horto”, 1900.
Luz e sombra
[Versos
escritos três dias antes da morte da autora]
(À poetisa Anna Lima)
Vamos seguindo pela
mesma estrada,
Em busca das
paragens da ilusão;
A alma tranqüila
para o Céu voltada,
Suspensa a lira
sobre o coração.
Ris e eu soluço...
(Loucas peregrinas!)
E em toda parte,
enfim, onde passamos,
Deixo chorando os
olhos das meninas,
Deixas cantando os
pássaros nos ramos.
Porque elas amam
tua voz canora,
Ó delicado sabiá da
mata!
E eu lembro triste
a juriti que chora
E a voz dorida em
lágrimas desata.
Gostam de ver-te o
rosto de criança
Limpo das névoas de
um martírio vago,
O lábio em riso,
desmanchada a trança,
No olhar sereno a
candidez do lago.
Até perguntam
quando sobre a areia
Em que tu pisas vão
nascendo rosas:
“Bela criança,
tímida sereia,
Irmã dos sonhos das
manhãs radiosas.
Por que trilhando a
terra dos caminhos,
Onde o teu passo
faz brotar mil flores,
Esta velhinha vai
deixando espinhos
E um longo rastro
de saudade e dores?”
Não lhes
respondas... Pela mesma estrada
Sigamos sempre em
busca da Ilusão;
A alma tranqüila
para o céu voltada,
Suspensa a lira
sobre o coração.
Vamos; desprende a
doce voz canora,
Que ela afugenta da
tristeza o açoite;
E, enquanto elevas
o teu hino à aurora,
Eu vou rezando as
orações da noite...
- Auta de Souza, in
“Horto”, 1900.
Meu Pai
(A Eloy)
Desce, meu Pai, a noite baixou mansa.
Nem uma nuvem se vê mais no céu:
Aninharam-se aqui no peito meu,
Onde, chorando, a negra dor descansa.
Quando morreste eu era bem criança,
Balbuciava, sim, o nome teu,
Mas d’este rosto santo que morreu
Já não conservo a mínima lembrança.
A noite é clara; e eu, aqui sentada,
Tenho medo da lua embalsamada,
Corta-me o frio a alma comovida.
Se lá no Céu teu coração padece,
Vem comigo rezar a mesma prece:
Tua bênção, meu pai, me dará vida!
- Auta de Souza, in
“Horto”, 1900.
Meu Sonho
(A Yayá e a Maria Leonor Medeiros)
Eu tenho um sonho
que no Céu mora
Feito de luz e
feito de amor,
Um sonho róseo como
uma aurora,
Um sonho lindo como
uma flor.
E eu vivo sempre,
sempre sonhando,
O mesmo sonho de
noite e dia,
O mesmo sonho suave
e brando
De minha vida toda
a alegria.
Quando soluço,
quando minh’alma,
Cheia de angústia,
fica a chorar.
O sonho amado me
traz a calma
E, então, minh’alma
põe-se a rezar.
Quando, nas noites
frias de inverno,
Eu tenho medo da
tempestade,
Ele, o meu sonho,
consolo eterno,
Transforma as
sombras em claridade.
Quando no seio,
choroso e louco,
Palpita, incerto,
meu coração...
O sonho doce vem,
pouco a pouco,
Trazer-me a graça
de uma ilusão.
E eu canto e rio na
luz dispersa
Deste dilúvio de
fantasias...
Minh’alma voa no
Azul imersa
Buscando a pátria
das harmonias.
Imagem doce, visão
sagrada,
Quimera excelsa dos
meus amores,
Pérola branca,
delícia amada,
Bálsamo puro das
minhas dores;
Ele, o meu sonho,
farol que encanta,
Guia-me à pátria da
salvação,
Sorriso ingênuo,
relíquia santa,
Do relicário do
coração!
- Auta de Souza, in
“Horto”, 1900.
Minh'Alma e o
verso
Não me olhes mais
assim... Eu fico triste
Quando a fitar-me o
teu olhar persiste
Choroso e
suplicante...
Já não possuo a
crença que conforta.
Vai bater, meu
amigo, a uma outra porta.
Em terra mais
distante.
Cuidavas que era
amor o que eu sentia
Quando meus olhos,
loucos de alegria,
Sem nuvem de
desgosto,
Cheios de luz e
cheios de esperança,
N’uma carícia
ingenuamente mansa,
Pousavam no teu
rosto?
Cuidavas que era
amor? Ah! se assim fosse!
Se eu conhecesse
esta palavra doce,
Este queixume
amado!
Talvez minh’alma
mesmo a ti voasse
E n’um berço de
flor ela embalasse
Um riso abençoado.
Mas, não, escuta
bem: eu não te amava.
Minha alma era,
como agora, escrava...
Meu sonho é tão
diverso!
Tenho alguém a quem
amo mais que a vida,
Deus abençoa esta
paixão querida:
Eu sou noiva do
Verso.
E foi assim. Num
dia muito frio.
Achei meu seio de
ilusões vazio
E o coração
chorando...
Era o meu ideal que
se ia embora,
E eu soluçava,
enquanto alguém lá fora
Baixinho ia
cantando:
“Eu sou o orvalho
sagrado
Que dá vida e
alento às flores;
Eu sou o bálsamo
amado
Que sara todas as
dores.
Eu sou o pequeno
cofre
Que guarda os risos
da Aurora;
Perto de mim
ninguém sofre,
Perto de mim
ninguém chora.
Todos os dias bem
cedo
Eu saio a procurar
lírios,
Para enfeitar em
segredo
A negra cruz dos
martírios.
Vem para mim, alma
triste
Que soluças de
agonia;
No meu seio o Amor
existe,
Eu sou filho da
Poesia.”
Meu coração despiu
toda a amargura,
Embalado na mística
doçura
Da voz que
ressoava...
Presa do Amor na
delirante calma,
Eu fui abrir as
portas de minh’alma
Ao verso que
passava...
Desde esse dia,
nunca mais deixei-o;
Ele vive cantando
no meu seio,
N’uma algazarra
louca!
Que seria de mim se
ele fugisse,
Que seria de mim se
não ouvisse
A voz de sua boca!
Não posso dar-te
amor, bem vês. Meus sonhos
São da Poesia os
ideais risonhos,
Em lago de ouro
imersos...
Não sabias dourar
os meus abrolhos,
E eu procurava
apenas nos teus olhos
Assunto para
versos.
- Auta de Souza, in
“Horto”, 1900.
Noites amadas
Ó noites claras de
lua cheia!
Em vosso seio,
noites chorosas,
Minh’alma canta
como a sereia,
Vive cantando n’um
mar de rosas;
Noites queridas que
Deus prateia
Com a luz dos
sonhos das nebulosas,
Ó noites claras de
lua cheia,
Como eu vos amo,
noites formosas!
Vós sois um rio de
luz sagrada
Onde, sonhando,
passa embalada
Minha Esperança de
mágoas nua...
Ó noites claras de
lua plena
Que encheis a terra
de paz serena,
Como eu vos amo,
noites de lua!
- Auta de Souza [Macaíba,
Agosto de 1898], in “Horto”, 1900.
Nunca Mais
... II n’est plus
dans mon coeur
Une fibre que n’ait
résonné sa Douleur.
LAMARTINE -
Harmonics.
Que é feito de meu
sonho, um sonho puro
Feito de rosa e
feito de alabastro,
Quimera que
brilhava, como um astro,
Pela noite sem fim
do meu futuro?
Que é feito deste
sonho, o cofre aberto
Que recebia as
gotas de meu pranto,
Bagas de orvalho,
folhas de amaranto,
Perdidas na solidão
de meu deserto?
Ele passou como uma
nuvem passa,
Roçando o azul em
flor do firmamento...
Ele partiu, e
apenas o tormento,
Sobre minh’alma
triste, inda esvoaça.
Meu casto sonho! Lá
se foi cantando,
Talvez em busca de
uma pátria nova.
Deixou-me o coração
como uma cova,
E dentro dele, o
meu amor chorando.
Nunca mais
voltará... Pois, que lhe importa
Esta morada lúgubre
e sombria?
Não pode agasalhar
uma alegria
Minh’alma, pobre
morta!
- Auta de Souza, in
“Horto”, 1900.
Olhos Azuis
(A Palmyra Magalhães)
O teu olhar azul
claro
Reflete não sei que
luz,
O brilho fulgente e
raro
Do meigo olhar de
Jesus.
Eu cuido ver todo o
encanto,
Toda a beleza do
Céu,
Nestes teus olhos
sem pranto,
N’estes teus olhos
sem véu.
Sinto uma doce
ventura,
Uma alegria sem
fim,
Se d’eles a chama
pura
A’s vezes cai sobre
mim.
São flores azuis
boiando
À tona d’água, de
leve,
Esses dois olhos
beijando
O teu semblante de
neve!
- Auta de Souza, [Angicos,
1896], in “Horto”, 1900.
Página triste
Há muita dor por este mundo a fora
Muita lágrima à toa derramada;
Muito pranto de mãe angustiada
Que vem saudar o despontar da aurora!
Alma inocente só de amor cercada
A criancinha a soluçar descora,
Talvez no berço onde o menino chora
Também, oh Dor, tu queiras, desolada,
Erguer um trono, procurar guarida...
Foge do berço! Não magoes a vida
D’esta ave implume, lirial botão...
Queres um ninho, um carinhoso abrigo?
Pois bem! Procura-o neste seio amigo,
Dentro em minh’alma, aqui no coração!
- Auta de Souza, [Macaíba - 1895], in "Horto", 1900.
Palavras Tristes
(Ao Nenenzinho)
Quando eu deixar a
terra, anjo inocente,
Ó meu formoso lírio
perfumado!
Reza por mim, de
joelhos, docemente,
Postas as mãos no
seio imaculado,
Quando eu deixar a
terra, anjo inocente!
És a estrela gentil
das minhas noites,
Noites que mudas no
mais claro dia.
Não tenho medo aos
gélidos açoites
Da escuridão se a
tua luz me guia,
Ó estrela gentil
das minhas noites!
Quando eu deixar a
terra, dá-me flores
Boiando à tona de
um sorriso teu;
Que os risos das
crianças são andores
Onde os anjos nos
levam para o céu...
Quando eu deixar a
terra, quero flores!
Flores e risos me
tecendo o manto,
Manto celeste feito
de esperanças...
Quando eu d’aqui me
for, não quero pranto,
Só quero riso,
preces de criança:
Flores e risos me
tecendo um manto!
Anjo moreno de alma
cor de lírio,
Mais branca do que
a estrela da Alvorada...
Meu coração na hora
do martírio
Pede o consolo de
uma prece amada,
Anjo moreno de asas
cor do lírio!
Quando eu deixar a
terra, anjo inocente,
Ó meu formoso lírio
perfumado!
Reza por mim, de
joelhos, docemente,
Postas as mãos no
seio imaculado,
Quando eu deixar a
terra, anjo inocente!
- Auta de Souza, [Serra da
Raiz - Fevereiro de 1898], in “Horto”, 1900.
Quando eu morrer
(A Julieta Mascarenhas).
Quando eu morrer...
(Quem me dera
que fosse n’um dia
assim,
n’um dia de
primavera
cheirando cravo e
jasmim!)
... transformem meu
coração
- sacrário azul de
esperanças -
n’um pequenino
caixão
para enterrar as
crianças.
De meus olhos façam
círios,
de meu sorriso um
altar
- cheio de rosas e
lírios,
tão doce como o
luar -,
e guardem nele,
entre flores,
longe, bem longe da
terra,
a Virgem santa das
Dores
lá da Igrejinha da
Serra.
D’aquele sonho
formoso
que minh’alma tanto
adora,
façam o turíbulo
piedoso
que incense os pés
da Senhora...
E as saudades
orvalhadas
- de meu amor
triste enleio -
transformem nas
sete espadas
de dor que Ela tem
no seio!...
Se d’este repouso
santo
em que meu corpo
adormece
vier perturbar o
encanto
o choro de quem
padece:
eu quero as gotas
de pranto
todas mudadas em
prece...
Prece que leve,
cantando,
minh’alma ao
celeste ninho,
como um pássaro
ruflando
as asas brancas de
arminho.
- Auta de Souza, in
“Horto”, 1900.
Regina Coeli
(À Antonia de Araújo)
Tudo o que sobe ao
céu, tudo o que desce a terra
Balbucia o teu
nome.
Luiz Murat
Teu nome santo, ó
Maria,
Tem a doçura
inocente
De uma carícia
macia,
De uma quimera
dolente.
Nele se embala a
Esperança
N’uma meiguice
dileta,
Como no berço a
criança,
Como no verso o
poeta.
Do céu teu nome nos
desce
Numa harmonia
divina,
Como um cicio de
prece
Nos lábios de uma
menina.
Teu nome é setíneo
laço
Prendido em formoso
véu,
Qual branca nuvem
no espaço,
Qual uma estrela no
céu.
Teu nome reflete a
imagem
Da melodia serena
Que passa rindo
n’aragem
E no voejar da
falena.
Uma blandícia suave
Nele cantando
divaga,
Como no azul uma
ave,
Como no mar uma
vaga.
Teu nome, cheiroso
lírio,
No níveo cálice
encerra
Todo o mistério do
Empíreo,
Toda a alegria da
Terra.
Como um contraste
do encanto,
N’este teu nome
diviso
Toda a saudade do
pranto
E todo o afago do
riso...
Ah! todo o perfume
amado,
Toda a fragrância
mimosa
Que o colibri
namorado
Bebe no seio da
rosa;
Toda a pureza do
Amor,
Todo o feitiço do
olhar,
Orvalho a cair na
flor,
Sereno a cair no
mar...
Tudo em teu nome
palpita,
Tudo embriaga e
seduz,
Como a delícia infinita
De um paraíso de
luz.
E n’um canto
repassado
De lirismo que
extasia,
Teu nome vive
embalado,
Teu nome santo, ó
Maria!
- Auta de Souza, in
“Horto”, 1900.
Rezando
(A Laura Ramos)
O Jasminseiro de Auta, ilustração de D. O. Widhopff , para a 2ª ed., do livro Horto, de Auta de Souza |
Feito de luz,
Lírio divino,
Santo Jesus!
Meu cravo olente,
Cor de marfim,
Pobre inocente,
Branco jasmim!
Entre as palhinhas,
Pequeno amor,
Das criancinhas
Tu és a flor.
Cabelo louro,
Olhos azuis...
És meu tesouro,
Manso Jesus!
Estrela pura,
Santo farol,
Flor de candura,
Raio de sol...
Dá-me a esperança
N’um teu olhar:
Loura criança,
Me ensina a amar.
Sonho formoso
Cheio de luz,
Jesus piedoso,
Meu bom Jesus...
Como eu te adoro,
Pequeno assim!
Jesus, eu choro,
Tem dó de mim.
No doce encanto
De um riso teu,
Jesus tão santo,
Leva-me ao Céu!
Em ti espero,
Mostra-me a luz...
Leva-me, eu quero
Ver-te Jesus!
- Auta de Souza, [Macaíba - Noite de Natal - 1896], in “Horto”, 1900.
Saudade
(A ela, a Eugênia, a doce criatura que me chama irmã).
Ah! se soubesse quanto sofro e quanto
Longe de ti meu coração padece!
Ah! se soubesses como dói o pranto
Que eternamente de meus olhos desce!
Ah! se soubesses!... Não perguntarias
De onde é que vem esta sombria mágoa
Que traz-me o peito cheio de agonias
E os tristes olhos arrasados d’água!
Querem que a lira de meus versos cante
Mais esperança e menos amargura,
Que fale em noites de luar errante
E não invoque a pobre noite escura.
Mas... como posso eu levar sonhando
A vida inteira n’um anseio infindo,
Se choro mesmo quando estou cantando
Se choro mesmo quando estou sorrindo!
Ouve, ó formosa e doce e imaculada,
Visão gentil de eterna fantasia:
Minh’alma é uma saudade desfolhada
De mãe querida sobre a cova fria.
Ah! minha mãe! Pois tu não sabes, santa,
Que Ela partiu e me deixou no berço?
Desde esse dia a minha lira canta
Toda a saudade que lhe inspira o verso!
Depois que Ela se foi a Mágoa veio
Encher-me o coração de luto e abrolhos.
Eu sofro tanto longe de seu seio,
Eu sofro tanto longe de seus olhos!
Ó minha Eugênia! Estrela abençoada
Que iluminas o horror deste deserto...
De teu afeto a chama consagrada
Lança à minh’alma como um pálio aberto.
Quando beijares teus filhinhos, pensa
O que seria d’eles sem teus beijos;
E, então, compreenderás a dor imensa,
A amargura cruel destes harpejos!
Junta as mãozinhas dos pequenos lírios,
Das criancinhas que tu’alma adora,
E ensina-os a rezar sobre os martírios
E a saudade infinita de quem chora.
- Auta de Souza, in “Horto”, 1900.
Se tudo foge e tudo
desaparece,
Se tudo cai ao
vento da Desgraça,
Se a vida é o sopro
que nos lábios passa
Gelando o ardor da
derradeira prece;
Se o sonho chora e
geme e desfalece
Dentro do coração
que o amor enlaça,
Se a rosa murcha
inda em botão, e a graça
Da moça foge quando
a idade cresce;
Se Deus transforma
em sua lei tão pura
A dor das almas que
o ideal tortura
Na demência feliz
de pobres loucos...
Se a água do rio
para o oceano corre,
Se tudo cai,
Senhor! por que não morre
A dor sem fim que
me devora aos poucos?
- Auta de Souza, in
“Horto”, 1900.
Teus Anos
(A Eugênia B. de Albuquerque Mello)
Teus anos amanhã.
Fui ver, contente,
(E como procurei
por toda parte!)
Um mimo que te
desse... e achei, somente,
Meu triste coração,
mimo sem arte.
Mas... o que dirás
tu quando, de leve,
Bem cedinho batendo
à tua porta,
Vires meu coração
frio, de neve,
Pobre flor sem
perfume e quase morta?
Manda-o entrar... E
diz, ó doce amada!
Que ele se aqueça
d’esse olhar no brilho...
Vai de tão longe te
pedir pousada:
Deixa-o ficar no
berço de teu filho...
- Auta de Souza, [Angicos,
2 de Maio de 1896], in “Horto”, 1900.
Versos ligeiros
Eu acho tão feiticeira
A Noemita da
esquina,
Com o seu recato de
freira,
Muito morena e
franzina;
Que fico toda
encantada
Quando na Igreja a
contemplo,
Pois cuido ver uma
fada
Ajoelhada no
Templo.
Doce nuvem cor de
rosa
Parece que a Deus
se eleva.
D’aquela boca
mimosa,
D’aquele olhar cor
de treva.
É sua prece que
voa,
Indefinida e tão
mansa,
Como um hino que
ressoa,
Como uma voz de
criança
A trança de seu
cabelo,
(Como ela é negra,
Jesus!)
Semelha um lindo
novelo
Tão preto que já
reluz.
Tem a boquinha
vermelha
Como uma rosa
entreabrindo...
É um favo de mel de
abelha
Aquela boca
sorrindo!
Minh’alma nunca se
cansa
De vê-la assim, tão
divina,
Sempre formosa e
criança
Com seu perfil de
menina.
Às vezes, eu olho-a
tanto,
Com tanta veneração,
Que fico muda de
espanto,
Depois da
contemplação.
É verdade que não
faz
Mal nenhum fitá-la
assim...
Meu Deus! se eu
fosse rapaz
O que diriam de
mim?!
- Auta de Souza, [Macaíba,
1897], in “Horto”, 1900.
"A primeira edição do
Horto, publicada em 1900, esgotou-se em dois meses. O livro foi recebido com
elogios pela melhor crítica do país; leram-no os intelectuais com avidez; mas a
verdadeira consagração veio do povo, que se apoderou dele com devoto carinho,
passando a repetir muitos de seus versos ao pé dos berços, nos lares pobres e,
até, nas igrejas, sob a forma de “benditos” anônimos."
- Henrique
Castriciano de Souza - irmão, escritor e político brasileiro, 2ª ed.: “Horto”,
de Auta de Souza.
Auta de Souza |
FORTUNA CRÍTICA DE AUTA DE SOUZA
ALVES, Alexandre
Bezerra. Guia Literatura UFRN 2011:
Horto, Auta de Souza. 1ª ed., Natal: Editora Sol, 2010. v. 1. 84p.
ALVES,
Henrique L. Auta de Souza – poesia em
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do Norte. Natal (RN), vols. LXX-LXXII, anos 1979-1980.
ANDRADE,
Mário. O turista aprendiz. São Paulo:
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ARAUJO,
Murillo. Uma alma do céu. Revista
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ARAÚJO,
Wellington Medeiros de. Auta de Souza:
uma leitura além Horto. In Mulher e Literatura no Rio Grande do Norte (Org.
Constância Lima Duarte). Natal: CCHLA/ NEPAM/ UFRN, 1994.
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Wellington Medeiros de. De esquifes e
despontar da aurora: uma leitura da representação lírica em Auta de Souza.
XIII Encontro da ABRALIC Internacionalização do Regional - UEPB/UFCG – Campina
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BILAC, Olavo. Prefácio à primeira edição. In: SOUZA,
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BOSI, Alfredo.
História concisa da literatura brasileira.
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CARPEAUX, Otto
Maria. Simbolismo: Auta de Sousa. In:
___. Pequena bibliografia crítica da literatura brasileira. 4ª ed., com um
apêndice de Assis Brasil. Rio de Janeiro: Ed. de Ouro, 1967. p.302-303.
CARVALHO,
Jandira. Auta de Sousa. In: Mulheres
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CARVALHO, José
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Norte Literário. Revista da Academia Cearense de Letras. Fortaleza: Typ.
Studart, 1900. p.25-145.
Capa do livro "A vida breve da Auta de Sousa", de Luís Câmara Cascudo |
CASTRICIANO,
Henrique. Nota - Auta de Souza.
[Paris, 4 de Agosto de 1910], Extraída da 3ª ed., livro ‘HORTO’, 1936.
Disponível no link. (acessado 14.5.2013).
COSTA, Jairo
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DANTAS,
Manoel. (Fala em nome da redação de A
República, no enterro de Auta de Souza). Oásis. Edição especial. 16 fev.,
1901.
DOCUMENTÁRIO "Noite Auta, céu risonho", dirigido por Ana Laudelina Ferreira Gomes (NCCEN/UFRN), vídeo produzido pela TV Universitária, em parceria com o Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-Rio-Grandenses e financiado pelo Banco do Nordeste (BNB), 2008.
DUARTE, Constância Lima. Auta de Souza. In: Zahidé L. Muzart. (Org.). Escritoras Brasileiras do Século XIX. Antologia. Florianópolis: Editora Mulheres / EDUNISC, 2004, v. 2, p. 759-772.
DOCUMENTÁRIO "Noite Auta, céu risonho", dirigido por Ana Laudelina Ferreira Gomes (NCCEN/UFRN), vídeo produzido pela TV Universitária, em parceria com o Núcleo Câmara Cascudo de Estudos Norte-Rio-Grandenses e financiado pelo Banco do Nordeste (BNB), 2008.
DUARTE, Constância Lima. Auta de Souza. In: Zahidé L. Muzart. (Org.). Escritoras Brasileiras do Século XIX. Antologia. Florianópolis: Editora Mulheres / EDUNISC, 2004, v. 2, p. 759-772.
FARIAS,
Genilson de Azevedo. Auta de Souza: a
poeta de "pele clara, um moreno doce": memória e cultura da
intelectualidade afrodescendente no Rio Grande do Norte. (Dissertação
Mestrado em Ciências Sociais). Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
UFRN, Brasil, 2013.
FARIAS,
Genilson de Azevedo. Auta de Souza: moça,
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Identidades na História, 2010, Natal. Anais Eletrônicos do IV Encontro de
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FARIAS, Genilson
de Azevedo. Auta de Souza: uma moça poeta
e negra no Rio Grande do Norte oitocentista. In: Anais Eletrônicos do II
Encontro de História do Império Brasileiro. João Pessoa: Editora universitária
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FARIAS,
Genilson de Azevedo; ARAUJO ,
Lucicleide da Silva. Auta de Souza X
Nísia Floresta: reconhecimento e silêncio no espaço das letras femininas do
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UFG/Jataí: História e diversidade cultural, 2012, Jataí. I Congresso Internacional
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Outro aspecto importantíssimo da obra de Auta de Souza
diz respeito a poemas seus que foram musicados por compositores regionais e
transmitidos oralmente de uma geração para outra, desde o final do século XIX
até hoje. Sem considerar aqueles que foram e vêm sendo musicados mais
recentemente, e que não tiveram esta vinculação com a tradição oral, tem-se
conhecimento da existência de quatorze deles, somando dezesseis ao
considerar-se que um deles, Caminho do sertão, conta com três versões melódicas
diferentes. Algumas destas canções ficaram conhecidas de norte a sul do país,
chegando também a Portugal.
Integrariam esse cancioneiro de Auta de Souza os
seguintes poemas musicados: Caminho do sertão, Teus anos, Desalento, Agonia do
coração, Ao cair da noite, Ao luar, Meu pai, Nunca mais, Olhos azuis, Palavras
tristes, Regina Coeli, ÀEugênia, Meu sonho, Rezando (Róseo Menino).
Fonte: GOMES,
Ana Laudelina Ferreira. Vida e obra da
poeta potiguar Auta de Souza (1876-1901). Disponível no link. (acessado 14.5.2013).
POEMAS
PSICOGRAFADOS E ORIENTAÇÕES ESPIRITUAIS
Além de seus
poemas e de seu cancioneiro, Auta de Souza é conhecida também como uma grande
mentora espiritual. Para os seguidores do espiritismo kardecista, que no Brasil
hoje somam aproximadamente um milhão e meio de praticantes, a poeta é tida como
um espírito superior que atuaria no “planoceleste” enquanto mentora e protetora
espiritual.
Fonte: GOMES,
Ana Laudelina Ferreira. Vida e obra da
poeta potiguar Auta de Souza (1876-1901). Disponível no link. (acessado 14.5.2013).
Horto
“ Oro de joelhos,
Senhor, na terra
Purificada pelo teu
pranto ...
Minh’alma triste
que a dor aterra
Beija os teus passos,
Cordeiro Santo!
Eu tenho medo de
tanto horror ...
Reza comigo, doce
Senhor!
Que noite negra,
cheia de sombras.
Não foi a noite que
aqui passaste?
Ó noite imensa ...
porque me assombras.
Tu que nas trevas
me sepultaste?
Jesus amado, reza
comigo ...
Afasta a noite,
divino amigo! ”
Eu disse ... e as
sombras se dissiparam.
Jesus descia sobre
o meu Horto ...
Estrelas lindas no
céu brilharam,
Voltou-me o riso,
já quase morto.
E a sua boca falou
tão doce,
Como se a corda de
um’harpa fosse:
“Filha adorava que
o teu gemido
Ergueste n’asa de
uma oração,
Na treva escura
sempre envolvido,
Por que soluça teu
coração?
Levanta os olhos
para o meu rosto,
Que a vista d’ele
foge o desgosto.
Não tenhas medo do
sofrimento,
Ele é a escada do
paraíso ...
Contempla os astros
do firmamento,
Doces reflexos de
meu sorriso.
Não pensa em dores
nem canta magoas,
A garça nívea
fitando as águas.
Sigo-te os passos
por toda parte,
Vivo contigo como
um irmão.
Acaso posso
desamparar-te
quando me trazes no
coração?
Nas oliveiras nos
mesmos Horto,
Enquanto orares,
terás conforto.
Olha as estrelas
... no céu escuro
Parecem sonhos
amortalhados ...
Assim, nas trevas
do mundo impuro,
Brilham as almas
dos desolados.
Mesmo das noites a
mais sombria
Sempre conduz-nos á
luz do dia.”
Ergui os olhos para
o céu lindo:
Vi-o boiando num
mar de luz ...
E, então,
minh’alma, n’um gozo infindo,
Chorando e rindo,
disse a Jesus:
“Guia o meu passo,
nos bons caminhos,
Na longa estrada
cheia de espinhos.
Dá-me nas noites,
negras de dores,
Uma cruz santa para
adorar,
E em dias claros,
cheios de flores,
Uma criança para
beijar.
Junta os meus
sonhos, no azul dispersos,
Desce os teus olhos
sobre os meus versos ...
E vós, amigos tão
carinhosos,
Irmãos queridos que
me adorais
E nos espinhos tão
dolorosos
De minha estrada
também pisais ...
Velai comigo. longe
da luz,
Que já levantam a
minha cruz.
A hora triste já
vem chegando
De nossa longa
separação ...
Que lança aguda vai
traspassando
De lado a lado meu
coração!
Não adormeçam, meus
bem amados,
Já vejo os cravos
ensangüentados.
Longe, bem longe,
naquele monte,
Não brilha um astro
de luz divina ?
É o diadema da
minha fronte,
É a esperança que
me ilumina!
A cruz bendita, que
aterra o vício,
Fogueira ardente do
sacrifício.
Adeus, da vida
sagrados laços ...
Adeus, ó lírios de
meu sacrário!
A cruz, no monte,
mostra-me os braços ...
Eu vou subindo para
o calvário.
Ficai no vale,
pobres irmãos,
Da. vovozinha
beijando as mãos.
E, se ela,
inquieta, com a voz tremente,
Ouvindo as aves
pela manhã,
Interrogar-vos
ansiosamente:
“Que é do sorriso
de vossa irmã?”
Dizei, alegres: foi
passear ...
Foi colher flores
para o altar.”
E, quando a tarde
vier deixando
Nos lábios todos
saudosos ais,
E a pobre santa
falar chorando:
“A minha neta não
volta mais?”
Dizei, sem prantos:
“A tarde é linda ...
Anda nos campos,
brincando ainda.”
Livrai su’alma do
frio açoite
Das ventanias que traz o inverno ...
Cerrai-lhe os olhos
na grande noite,
Na noite imensa do
sono eterno.
Anjo da guarda, de
rosto ameno,
Mostra-me o trilho
do Nazareno ...
..................................................
E ... adeus, ó
lírios, do meu sacrário,
Que eu vou subindo
para o calvário!
- Auta de Souza, in
“Horto”, 1900.
Auta de Souza |
REFERÊNCIAS E FONTES DE PESQUISA
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Auta de Souza - seus versos e traços de sua vida breve. Templo Cultural Delfos, maio/2013. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Auta de Souza - seus versos e traços de sua vida breve. Templo Cultural Delfos, maio/2013. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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