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Bruna Beber - a poética do instante

Bruna Beber - foto: Rafael Roncato
ludíbrio 
vou enterrar cada parte
junto ao rasto impreciso
dos mínimos sinais

e sobre cada indício
construir um cemitério
de notícias

qualquer dia apareça
de surpresa
como um soluço.
- Bruna Beber, no livro "Balés". Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.


Bruna Beber (Bruna Beber Franco Alexandrino de Lima) escritora carioca, nascida em 5 de março de 1984, na cidade de Duque de Caxias, um dos municípios da baixada fluminense. Vive, atualmente, em São Paulo. Já trabalhou como redatora publicitária, jornalista e tradutora. Também trabalhou com pesquisa, produção e revisão de conteúdo para livros e roteiros para TV. Publicou, em setembro de 2006, seu livro de estréia de poesia 'A fila sem fim dos demônios descontentes'.
A poesia de Bruna Beber combina de maneira original humor e melancolia para falar dos azares da vida amorosa, revelar breves instantâneos da paisagem urbana brasileira e refletir sobre o próprio ofício de escritora, driblando com igual habilidade o solene e o banal. Seus poemas, reconhecidos entre os mais importantes de sua geração, já foram publicados em revistas e antologias no Brasil, Alemanha, Argentina, Espanha, Estados Unidos, México e Portugal. 



bruna beber, por beta maya
obra de bruna beber
poesia
:: A fila sem fim dos demônios descontentesRio de Janeiro: 7Letras, 2006.
:: Balés. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.
:: Rapapés & apupos. [ilustrações Francine Jallageas]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012.
:: Rua da PadariA. Rio de Janeiro: Editora Record, 2013. 

Antologia (participação)
poesia
:: Caos portátil: poesía contemporánea del Brasil. {autores: Elisa Andrade Buzzo-Bruna Beber-Rod Britto-Sergio Cohn-Bruno Dorigatti-Camila do Valle-Angélica Freitas-Izabela Guerra Leal-Augusto de Guimaraens Cavalcanti-André Monteiro-Elza de Sá Nogueira-Ana Rüsche-Virna Texeira}.. [selección de Camila do Valle y Cecilia Pavón; traducción de Cecilia Pavón]. Edición bilingüe. Edições El Billar de Lucrecia, 2007.
:: Poesia do dia: poetas de hoje para leitores de agora. {autores: Alberto Pucheu, André Dick, Bruna Beber, Danilo Monteiro, Diego Vinhas, Elisa Andrade Buzzo, Fabricio Carpinejar, Fabricio Corsaletti, Joca Reiners Terron, Marcelo Camelo, Mario Bortolotto, Paulo Scott, Paulo Seben, Rodrigo Petronio}.. [ilustrações Leandro Velloso]. Coleção Quero Ler São Paulo: Editora Ática, 2008.
:: Traçados diversos - antologia de poesia contemporânea. [organização Adilson Miguel].. {autores: Annita Costa Malufe, Antonio Cicero, Arnaldo Antunes, Bruna Beber, Chacal, Donizete Galvao, Fabiano Calixto, Fabio Weintraub, Fabricio Corsaletti, Fernando Paixao, Heitor Ferraz Melo, Ricardo Aleixo e Ruy Proença}. Coleção Escrita Contemporânea: Rio de Janeiro: Editora Scipione, 2009.
:: Otra línea de fuego. antologia espanhola de poesia brasileira contemporânea. [organização Heloísa Buarque de Hollanda e Teresa Arjón]. Edição bilíngue. Editora Selo Maremoto, 2009.

crônica
:: BlablaBlogue. [organização Nelson de Oliveira]. Editora Terracota, maio 2009
:: Pitanga. [edição independente da loja Pitanga]. Lisboa/Portugal, outubro de 2009.



Bruna Beber - foto: Daniel Barros
poemas selecionadas de bruna beber

As avós e as tias
durante toda minha caminhada
pela bola que uns chamam
de terra e outros de água
ou como carinhosamente
já apelidaram um amigo
balofo no colégio
só consegui
tomar posse
de uma certeza
e por isso gostaria
de dividi-la passem
para os seus filhos:
não há
sequer 
um ser 
humano que caminhe
pela bola – há quem
a diga achatada –
que não tenha
não teve
ou nunca terá 
uma 
toalha 
bordada
é importante 
que seus filhos
passem pros deles
essa verdade
mas se não tiverem
filhos netos tudo bem
sempre terão toalhas
bordadas.
- Bruna Beber, no livro "Rua da PadariA". Rio de Janeiro: Editora Record, 2013.

§

A violência
vontade constante
de dizer te quero tanto
dela me distraio
mas você me abraça
e de repente todo
o mundo não tem
membros superiores
e então me beija
eu poderia matar
todas as plantas
tenho muito ar
até que sinto
na ponta dos dedos
a coragem de dizê-la.
- Bruna Beber, no livro "Rua da PadariA". Rio de Janeiro: Editora Record, 2013.

§

barragem
deve ser perigoso
esse gosto recorrente
de incêndio na boca

mas não há saliva pra apagar
e não há saliva que apague
por isso falo pouco

não sei o que de fato queima
fecho a boca e o fogo sai
pelo nariz

respiro mal, meu ar é qualquer fumaça
queria um gosto bom, queria pernas
pra sair correndo.
- Bruna Beber, no livro "Balés". Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.

§

dotes 
coleciono mas não leio
cartas antigas, anúncios de almanaque
em latas de goiabada nolasco

sei que estou em permanente mudança
porque todos os dias abro e fecho
gavetas e caixas

no entanto aprendi pouco sobre apostas
e temporais, só sei que levam
muito mais do que trazem.
- Bruna Beber, no livro "Balés". Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.

§


John Cage
partiremos
surgiremos
morreremos

dos barulhos afinados estancados das sirenes do corpo
de bombeiros

surgiremos
morreremos
partiremos

dos assovios noturnos
do vento
nas altas esquadrias

morreremos
partiremos
surgiremos

num palco abandonado
para cantar uma música
e sair.
- Bruna Beber, no livro "A fila sem fim dos demônios descontentes". Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.

§

Lusofeelings
quando formiga e arde
o nariz e o olho
engulo

choro com saliva
e o que mais comprometa
a fala

a despedida é tão intrigante
quanto a saudade
desnecessária

banho de água fria
se cura com um balde
de café

beijo a mão e aceno
para o espelho
o dedo do meio
- Bruna Beber, no livro "A fila sem fim dos demônios descontentes". Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.

§

o pecúlio
estou sempre indo ao seu encontro
chego de costas pra você achar que estou indo embora
saio de frente pra você achar que estou chegando
estou sempre perdido indo ao seu encontro

é assim a minha vida e o meu calendário
eu estou sempre indo ao seu encontro
não preciso ir mais longe pra saber
que estou sempre indo ao seu encontro.
- Bruna Beber, no livro "Rua da PadariA". Rio de Janeiro: Editora Record, 2013.

§

paraquedistas
escrever é dedicar
os dedos à marcenaria
de qualquer jardim

desatamos as mãos
e a tontura que dá
vem do alto

o cair das nuvens folhas
passarinho avião papel
picado a lua no mar

silêncio de planta, euforia
de cama elástica, alegria
de piquenique no parque

e tanto carinho
guardo pra você
numa luva de boxe
- Bruna Beber, no livro "Balés". Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.

§

Rio de Janeth
chovem rios
mas aqui é o mar
quem leva a Princesinha
do Braguinha pra cheirar pó
com o Tom e a Garota de Ipanema
e o Viníciu Em Copacabana
Drummond nos esper
sentado marcando uma hora
para ver as bailarinas
mexendo as mãos no ar
condicionado do Municipal.
- Bruna Beber, no livro "A fila sem fim dos demônios descontentes". Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.

§

sentido sem título
quando penso que queria
que caísse sobre nós
a pedra da gávea

dou aquela risadinha
maligna em seguida
aquela choradinha

invisível, atravessada
entre o olho e a garganta
nem piscando passa
- Bruna Beber, no livro "Balés". Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.

§

Situação
to dormindo no lodo
da vala confortável onde dormem
os apaixonados

e lambendo sabão de cachorro
sorrindo, e sentindo cheiro de maçã
onde não tem

chamando os amigos pra almoçar
e deixando a comida esfriar
pra falar de você.
- Bruna Beber, no livro "A fila sem fim dos demônios descontentes". Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.

§

sonata
não me emociona o heroísmo
o que arranha as unhas nas paredes
do precipício deixo cair

a saudade que se sente,
o faz de conta, aquela fantasia
não me emocionam mais

meu coração parou de bater e agora
o que você chama de amor
eu não atendo mais
- Bruna Beber, no livro "Balés". Rio de Janeiro: Língua Geral, 2009.

§

verbo irregular
pra sempre é passado
é mais uma promessa apostando corrida
com todas as outras
na escadaria da igreja da penha

voltaria atrás
de joelhos
pra chegar primeiro
no futuro

porque se o tempo cura tudo
e o tal futuro a deus pertence
não vou duvidar
que milagres acontecem

mas pra sempre vou achar
não quero me especializar
em ter certezas, em fabricar
situações definitivas
toda vez que me vierem à cabeça
seus lábios de algodão
doce se dissolvendo
nos meus.
- Bruna Beber, no livro "Rapapés & apupos". Rio de Janeiro: 7Letras, 2012.


bruna beber - foto: elisa mendes
fortuna crítica de bruna beber
ARIEL, Marcelo. Beber-blues (A fila sem fim dos demônios descontentes). in: O TeatroFantasma, 13 de março de 2007. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
BEBER, Bruna. Muito prazer, Bruna. 'Correspondência'. in: Instituto Moreira Salles, 20.3.2013. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
BECKER, Paulo. Balés, de Bruna Beber. in: meusdemonioscantam, 12.4.2013. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
GUIMARÃES, Raquel Beatriz Junqueira. Poesia, dança e música em Balés, de Bruna Beber. in: Lit Cult, s/d. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
FAGUNDES, Igor. A grande confusão das coisas simples. in: Jornal Rascunho, edição 115, janeiro de 2012. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
LEONES, André de.. Para se esconder da rotina num quarto escuro. (resenha). in: Diário de Cuiabá, especial - DC Ilustrado, e dição nº 11756 - 4.3.2007. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
LEVINO, Rodrigo. Bruna Beber lança seu quarto livro de poesias na quinta-feira em São Paulo. in: Folha S. Paulo, ilustrada - 17.7.2013. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
MELLO, Ramon. A poesia de Bruna Beber. in: debê produções. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
MENDES, André Di Bernardi Batista. Bruna Beber lança 'Rua da padaria' e confirma seu lugar na poesia brasileira contemporânea. in: Estado de Minas, divirta-se - 11.1.2014. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
PEREIRA, Fabiane. Entrevista Bruna Beber: "Não há só um caminho a seguir. o que tem que fazer é escrever e circular, o resto vem devagar com o tempo, como tudo". in: Heloisa Tolipan, arte e literatura, 8.8.2016. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
SOUZA, Susan. Bruna Beber recorda infância nos anos 1990 com poemas de "Rua da Padaria". in: iG, Último Segundo (são paulo), livros, 28 de julho de 2013. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
TRIGO, Luciano. Em ‘Rua da Padaria’, Bruna Beber faz da poesia uma janela para o passado. (entrevista). in: O G1/Globo - Máquina de Escrever, 14.7.2013. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).
ZH. Bruna Beber busca o mundo em obra poética. in: Zero Hora, entretenimento, 30 de agosto de 2013. Disponível no link. (acessado em 11.8.2016).


Bruna Beber em colagem de  Joana Coccarelli
outros cantos: a poesia de bruna beber
:: antônio miranda - bruna beber
:: Blog do caderno-revista 7faces: Três poemas de Bruna Beber
:: Bruna Beber - escritoras suicidas
:: Germina - revista de literatura
:: um livro de poesia por dia (blog) - bruna beber


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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Bruna Beber - a poética do instante. Templo Cultural Delfos, agosto/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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** Página atualizada em 11.8.2016.




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Um comentário:

  1. Gostaria de ter o contato de Bruna Beber. Achei lindos os textos dela e gostaria de conversar sobre a possibilidade de poder compor música para alguns deles.

    Não sou cantor, nem compositor; Sou um professor que gosta de tocar um violão de vez em quando.

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