Liria Porto - foto: Carlos Magno Sena |
sou dois
um que não sei
outro que sei só um pouco
- Líria Porto, em "Poesia para mudar o mundo". Editora Blocos Online, 2015.
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Líria Porto nasceu em araguari - minas gerais, mora em araxá. professora, poeta, tem dois livros editados em Portugal - 'borboleta desfolhada' e 'de lua'; e dois no Brasil - 'asa de passarinho' e 'garimpo' (finalista do prêmio jabuti 2015), publicados pela editora lê. tem inúmeros poemas publicados em jornais, revistas e sites, entre eles escritoras suicidas, germina literatura, mallarmargens, zunái, raimundo, zona da palavra e participações em algumas antologias como dedo de moça e memórias embaralhadas. é autora do blogue 'tanto mar'.
:: fonte: revista parênteses. (acessado em 27.6.2016).
"Há palavras lindas – orvalho, crepúsculo, desmaio... Sem falar que amo as proparoxítonas, dão-me a impressão de morrerem antes do tempo, antes que acabemos de pronunciá-las, o que as transforma numa força delicada, meio etérea, sei lá... pétala, trágica, fórmula, esquálida, mística..."
- Líria Porto, em "Entrevista com Líria Porto", concedida a Cláudio B. Carlos. in: Balaio de Letras, 20 de junho de 2008.
dedicatória
nus descampados (im)puros
fiamos o plenilúnio
- Líria Porto, em "tanto mar". blogue da autora.
Líria Porto - foto: acervo pessoal da autora |
Poesia
:: Borboleta desfolhada. Portugal: Canto escuro editora, 2009.
:: De lua. Porto|Portugal: Corpos Editora, 2009.
:: Cadela prateada. Guaratinguetá: Editora Penalux, 2016.
Poesia (infanto-juvenil)
:: Asa de passarinho. [ilustrações Silvana de Menezes]. Belo Horizonte MG: Editora Lê, 2014.
:: Garimpo. [ilustrações Silvana de Menezes]. Belo Horizonte MG: Editora Lê, 2014.
Antologia (participação)
:: Dedo de moça — uma antologia das escritoras suicidas. [organização Florbela de Itamambuca e Silvana Guimarães]. São Paulo: Terracota Editora, 2009.
:: Saciedade dos Poetas Vivos Digital. Vol. 8. [organização Leila Míccolis]. Editora Blocos online. (acessado em 27.6.2016).
:: Poesia para mudar o mundo. [organização Leila Míccolis]. Editora Blocos Online, 2015. (acessado em 27.6.2016).
lembranças
quando amanhã for ontem
esperanças serão acervo
- Líria Porto, em "escritoras suicidas". edição 36. agosto 2009.
sem conhecimento de causa
quem diz que poesia não tem regras não é mulher
escrevi poemas com sangue nas coxas
- Líria Porto, em "Poesia para mudar o mundo". Editora Blocos Online, 2015.
Liria Porto - foto: Carlos Magno Sena |
acessórios
o céu azul que beleza
com nuvens que maravilha
quebram a rotina dos mares
ondas ilhas e navios
na floresta tem orquídeas
(nu deserto
sem oásis)
- Líria Porto, em "revista mallarmargens", poemas, vol. 1, nº 4, 8 de maio de 2015.
§
adiamentos
a lua esperava o sol
redonda um talismã
quando ela se despiu
ficou de manhã
o sol lambia a lua
o meio o lado as beiras
lamberia a face oculta
a nuvem veio
só amanhã
- Líria Porto, em "revista mallarmargens", poemas, vol. 3, nº 9, 9 de janeiro de 2015.
§
aspectos
as coisas são
como estão?
o cão vê o gato
bem diferente do rato
(questão de defesa e ataque)
aurora e crepúsculo
são noite dia ou mestiços?
(depende do ponto de vista)
o sol é para todos
e a chuva?
- Líria Porto, em "revista mallarmargens", poemas. vol. 4, nº 10, 21 de fevereiro de 2016.
§
desespelho
eu te acudo
quando te necessito
ficas acuado
e mudo
- Líria Porto, em "revista mallarmargens", poemas, vol. 1, nº 4, 8 de maio de 2015.
§
defloração
a terra molhada
exala um perfume
tão próprio das fêmeas
um cheiro de coito
e dentro em pouco
estará inundada
de verdes de brotos
de intumescências
- Líria Porto, em "Esculturas musicais 14". Zunái - revista de poesia e debates, 26.7.2013.
§
dor
escrevo num soco
única palavra
tem ela três letras
depois da pancada
e esse grunhido
não faz um poema
é ele o gemido
da minha pena
- Líria Porto, em "tanto mar". blogue da autora.
§
fiel
amava a humanidade
deitava com uns com outras
e não era traição
- Líria Porto, em "revista mallarmargens", poemas. vol. 4, nº 10, 21 de fevereiro de 2016.
§
meia lua meu amor
é tua
a outra metade
guardei-a para o compadre
que me beija a boca
quando chegas tarde
da casa da outra
- Líria Porto, em "escritoras suicidas". edição 36. agosto 2009.
§
fluidos
tornei-me assim liquefeita
quando daquela feita
despi-me de nãos e sins
de mim então me perdi
nessa vontade inconclusa
acumulada no rim
ficou a mágoa comigo
fincada dentro do umbigo
quase criava raiz
minha tristeza de chuva
esta amargura profusa
tem olhos túmidos
sou tal e qual o dilúvio
derramo transbordo enxurro
sangro os pulsos
- Líria Porto, em "Esculturas musicais 14". Zunái - revista de poesia e debates, 26.7.2013.
§
esta procura tem um nome insanidade
passei da idade de tentar fazer sonetos
eu só consigo descrever cinzas e pretos
acho que o verso não alcança claridade
pelas gavetas prateleiras escondidos
ainda agarro pelo rabo alguns cometas
quero as estrelas não encontro suas tetas
sinto a fissura dos pequenos desvalidos
a minha escrita sempre foi penosa esgrima
desde menina que não tenho paradeiro
eu caço sapo com bodoque o dia inteiro
nesta esperança de catar melhores rimas
vasculho as glebas os grotões e quem diria
bateio o sol chego a pensar que a noite é dia
- Líria Porto, no livro "Garimpo". [ilustrações Silvana de Menezes]. Belo Horizonte MG: Editora Lê, 2014.
§
iguarias
a vida passa vou dentro
enquanto nela eu couber
um dia para eu apeio
volto pra terra e sem jeito
serei banquete pros vermes
(tu também)
- Líria Porto, em "tanto mar". blogue da autora.
§
inércia
fico parada
quem anda
é a estrada
- Líria Porto, no livro "Garimpo". [ilustrações Silvana de Menezes]. Belo Horizonte MG: Editora Lê, 2014.
§
infâmia
o rio nasce espontâneo
brota do ventre da terra
rasga seu leito estreito
escorre por entre as pedras
ganha corpo correnteza
leva cardumes inteiros
atravessa as florestas
as campinas as veredas
o rio recolhe às margens
o canto das lavadeiras
a alegria dos pássaros
o corpo d’algum menino
anzóis canoas as redes
o riso das cachoeiras
sua vida peregrina
até se jogar ao mar
há homens pensam-se deuses
violam as águas do rio
roubam-lhe as riquezas
desviam-no da sua trilha
transformam-no em brejo seco
- Líria Porto, no livro "Garimpo". [ilustrações Silvana de Menezes]. Belo Horizonte MG: Editora Lê, 2014.
§
insônia
a boca escancarada da noite
os urros do silêncio
as teclas mudas
não tilintam os cristais
não estilhaçam a vidraça
amantes não sussurram
não há sinos de igreja
o mundo acabou
o relógio dorme
o tempo não passa
onde estão os latidos
os galos os gritos
os olhos do sol?
na cama
o corpo exausto
o vazio da tua ausência
e os mil anos desta noite
que nos engole
que nos vomita
- Líria Porto, em "revista mallarmargens", poemas, vol. 3, nº 9, 9 de janeiro de 2015.
§
tão pequenino o ipê
tão carregado de sonhos
de responsabilidades
que levar flores ao colo
com tempo seco
é milagre
- Líria Porto, em "revista mallarmargens", poemas, vol. 1, nº 4, 8 de maio de 2015.
§
namoro
de encontro ao vento
ando lento pra sentir seus dedos finos
e seu corpo sem matéria
eleva-me do chão alguns centímetros
- Líria Porto, no livro "Garimpo". [ilustrações Silvana de Menezes]. Belo Horizonte MG: Editora Lê, 2014.
§
o fio da meada é cor de prata
o tempo passarava e o canto do galo
rasgava com um dardo
as madrugadas
amanhã era hoje num instante
embora nos olhássemos
e jamais fôssemos grandes
a vida pássara deixa-nos atrás
traz-nos cabelos brancos
o galo canta — não sei se agora
ou ontem
- Líria Porto, em "escritoras suicidas". edição 36. agosto 2009.
§
pálpebras
de manhã abro a janela
e deixo o sol penetrar
no corpo da casa
à noite fecho-a de novo
(estrelas ficam lá fora)
eu durmo dentro
do ovo
na lua cheia
não tenho
regras
- Líria Porto, em "revista mallarmargens", poemas, vol. 3, nº 9, 9 de janeiro de 2015.
§
panorama
meio aos morros
desce um rio
tão igual fio de prata
pelo verde uns pontos brancos
a moverem-se sobre o pasto
mais abaixo uma casinha
uma chaminé
fumaça
e por certo outra maria
a preparar as marmitas
a socar arroz
em casca
- Líria Porto em "Mulheres. revista parênteses". edição especial. nº 3, 2016.
§
pôr de lua
estou naquela fase
cheia de resumo
foge-me o verso
a rima escapole-me
peço a são jorge
lave-me leve-me
love me
- Líria Porto, em "tanto mar". blogue da autora, 10.11.2008.
§
sem piedade
enviuvei-me pela quinta vez
matei os zangões
agora espero as libélulas
seres de asas translúcidas
que não me exijam mel
e tragam-me
néctar
- Lírio Porto, em 'revista mallarmargens', poemas. vol. 4, nº 5, 12 de setembro 2015.
§
traumas
tantos fatos
decorrentes
das correntes
da memória
são imbróglios
são algemas
que nos prendem
a nós próprios
e nos tornam
tão parados
e inativos
quanto as rochas
- Líria Porto, no livro "Garimpo". [ilustrações Silvana de Menezes]. Belo Horizonte MG: Editora Lê, 2014.
§
Líria Porto - foto: acervo pessoal da autora |
ALMEIDA, Márcio. escritoras suicidas usam dedo de moça para provocar orgasmo da linguagem. in: Germina Literatura, 2009. Disponível no link. (acessado em 27.6.2016).
CARLOS, B. Cláudio.. Entrevista com Líria Porto. in: Balaio de Letras, 20 de junho de 2008. Disponível no link. (acessado em 27.6.2016).
JARDIM, Rubens. As mulheres poetas na literatura brasileira (40ª postagem). in: blog Rubens Jardim, 7.10.2013. Disponível no link. (acessado em 27.6.2016).
LIMA, Eliane F. C.. O porto lírico de Líria Porto. in: Literatura em vida, 16 de dezembro de 2012. Disponível no link. (acessado em 27.6.2016).
LÍRIA Porto. poemas. in: Mulheres. revista parênteses. edição especial. nº 3, 2016. Disponível no link. (acessado em 27.6.2016).
RIBEIRO NETO, Amador. Poesia de mil asas. in: jornal Contraponto, João Pessoa-PB. Caderno B, coluna Augusta Poesia, dia 14.11.2014, p. B-7| reproduzido em Zona da Palavra. Disponível no link. (acessado em 27.6.2016).
Ilustração (...) |
ZANCHI, Jandira.. Acessórios - Líria Porto. in: revista mallarmargens, poemas, vol. 1, nº 4, 8 de maio de 2015. Disponível no link. (acessado em 27.6.2016).
ZANCHI, Jandira.. O erotismo na poesia de Líria Porto. in: revista mallarmargens, poemas. vol. 4, nº 5, 12 de setembro 2015. Disponível no link. (acessado em 27.6.2016).
ZANCHI, Jandira.. Fiel - Líria Porto. in: revista mallarmargens, poemas. vol. 4, nº 10, 21 de fevereiro de 2016. Disponível no link. (acessado em 27.6.2016).
. Outras publicações em sites e blogues: (acessados em 27.6.2016).
:: Alguma Poesia - Líria Porto
:: Escritoras Suícidas - Líria Porto
:: Germina: revista de literatura e arte - Líria Porto
:: Jornal de Poesia - Líria Porto
:: Penetra surdamente no reino das palavras
:: Portal Vermelho - Líria Porto, a poeta das pequenas coisas
:: Zona da palavra - Líria Porto: Poemas VII - Poemas VIII - Poemas XXVII - Poemas XXIII - Poemas XXIV
:: Zunái - Revista de Poesia e Debates - Líria Porto
limitações
a morte não chega
a vida não basta
não quero não queiras
ser ave sem asas
- Líria Porto, em "revista mallarmargens", poemas, vol. 1, nº 4, 8 de maio de 2015.
Liria Porto, por Seh M. Pereira |
:: Blogue Líria Porto - tanto mar
© Direitos reservados a autora
© Pesquisa, seleção e organização: Elfi Kürten Fenske
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Trabalhos sobre o autor:
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção e organização). Líria Porto - a poética do olhar. Templo Cultural Delfos, junho/2016. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
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parabéns, elfi. a líria porto é uma preciosidade. beijo. d.g
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma)é como define seus poemas o Mario Quintana, o poeta das coisas simples.
ResponderExcluirLiria tem esta habilidade e competência. Seu blog Tanto mar é fascinante. Que achado Elfi .
gracias!!!
ExcluirSua poesia tem um quê de tensão-distensão-tensão do tempo não como matéria poética em si, mas do ritmo (im)previsto na travessia de suas estações...
ResponderExcluirSimplicidade que dói!
Nunca vi um nome tão apropriado! Líria Porto. A poesia já começa transbordando no nome. Quero ser seu amigo, quero minha embarcação nesse abrigo feito de palavras... Você deixa?
ResponderExcluirencantada com os poemas, parabéns !
ResponderExcluirencontrei um tanto de alegria em alguns versos. Isso é maravilhoso.
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