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Em sua obra em prosa mais importante, Os cadernos de Malte Laurids Brigge (1910), novela iniciada em Roma no ano de 1904, empregou imagens corrosivas para transmitir as reações que a vida em Paris provocava em um jovem escritor muito parecido com ele mesmo.
Residiu em Munique durante quase toda a I Guerra Mundial e em 1919 mudou-se para Sierra (Suíça), onde se estabeleceu para o resto de sua vida, salvo algumas visitas ocasionais a Paris e Veneza, concluindo as Elegias de Duíno e escreveu Sonetos a Orfeu (1923). Estas obra são consideradas as mais importantes de sua produção poética. As Elegias representam a morte como uma transformação da vida e uma realidade interior que, junto com a vida, foram uma coisa única. A maioria dos sonetos cantam a vida e a morte como uma experiência cósmica. Rilke morreu no dia 29 de dezembro de 1926 em Valmont (Suíça).
Sua obra, com seu hermetismo, solidão e ociosidade, chegou a um profundo existencialismo e influenciou os escritores dos anos cinqüenta tanto na Europa como na América.
___
* Fonte: in: RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. A canção de amor e de morte do porta-estandarte Cristóvão Rilke. [tradução Paulo Rónai e Cecília Meireles]. Porto Alegre: Globo, 1975.
"O que se torna preciso é, no entanto, isto: solidão, uma grande solidão interior. Entrar em si mesmo, não encontrar ninguém durante horas - eis o que se deve saber alcançar. Estar sozinho como se estava quando criança, enquanto os adultos iam e vinham, ligados a coisas que pareciam importantes e grandes porque esses adultos tinham um ar tão ocupado e porque nada se entendia de suas ações."
- Rainer Maria Rilke, em "Cartas a um jovem poeta." [tradução Paulo Rónai]. in: RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. A canção de amor e de morte do porta-estandarte Cristóvão Rilke. [tradução Paulo Rónai e Cecília Meireles]. Porto Alegre: Globo, 1975.
OBRA DE RAINER MARIA RILKE
Principais
:: Vida e Canções (Leben und Lieder). 1894.
:: Historias do bom Deus (Geschichten vom lieben Gott).. 1900
:: Historias de ouro (Vom lieben Gott und Anderes). 1900.
:: Historias de ouro (Vom lieben Gott und Anderes). 1900.
:: Poemas (Geldbaum). 1901.
:: Livro de Imagens (Das Buch der Bilder). 1902.
:: Augusto Rodin (Auguste Rodin). 1903.
:: Augusto Rodin (Auguste Rodin). 1903.
:: O livro das horas (Stundenbuch). 1905.
:: Histórias de amor e de morte do corneteiro Christopher Rilke. (Die Weise von Liebe und Tod des Cornet Christopher Rilke). 1906.
:: Histórias de amor e de morte do corneteiro Christopher Rilke. (Die Weise von Liebe und Tod des Cornet Christopher Rilke). 1906.
:: Novos poemas (Neue Gedichte). 1907-1908.
:: Os Cadernos de Malte Laurids Brigge (Die Aufzeichnungen des Malte Laurids Brigge). 1910.
:: A vida de Maria (Das Merien Leben). 1913.
:: Cartas a um jovem poeta (Briefe an einen jungen Dichter). 1920.
:: O testamento. 1921.
:: Elegias de Duíno (Duineser Elegien). 1923
:: Sonetos a Orfeu (Sonette an Orpheus). 1923.
RILKE PUBLICADO EM
PORTUGUÊS
Rilke no Brasil (apresentação
em ordem alfabética)
:: A melodia das coisas (coletânea de
contos, ensaios e cartas). Rainer Maria Rilke. [organização e tradução
Claudia Cavalcanti]. São Paulo: Estação da Liberdade, 2011, 228p.
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:: A princesa branca: cena à beira-mar (Die weiße Fürstin).
Rainer Maria Rilke. [tradução Ângela Leite Lopes]. Rio de Janeiro: 7
Letras, 1996, 47p.
:: Alguns poemas. Cartas a um jovem poeta
(Gedichte: Briefe an einem jungen Dichter). Rainer Maria Rilke. [tradução
Geir Campos]. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997, 93p.
:: As rosas (Les roses). Rainer Maria
Rilke. [tradução e prefácio Janice Caiafa; e desenho de capa Anna
Schewitz de Riga]. Rio de Janeiro: 7
Letras, 1996; 2ª ed., 2002; 3ª ed., 2007, 67p.
:: Auguste Rodin (Auguste Rodin). Rainer
Maria Rilke. [tradução Marion Fleischer]. São Paulo: Nova Alexandria,
2003, 174p.
:: Cartas a um jovem poeta (Briefe an
einen jungen Dichter). Rainer Maria Rilke. [introdução e tradução Fernando Jorge].
Rio de Janeiro: Editora Hemus, 1967, 71p.
:: Cartas a um jovem poeta (Briefe an
einen jungen Dichter). Rainer Maria Rilke. [tradução
Pedro Süssekind]. Porto Alegre: L&PM Pocket, v. 530, 2006, 96p.
:: Cartas a um jovem poeta. A canção de amor e
de morte do porta-estandarte Cristóvão Rilke (Briefe an einen jungen
Dichter. Die Weise von Liebe und Tod des
Cornet Christoph Rilke). Rainer Maria Rilke. [tradução Paulo Rónai e Cecília
Meireles]. 1ª ed., Porto Alegre: Globo, 1953, 112p.
:: Cartas a um jovem poeta. A canção de amor e
de morte do porta-estandarte Cristóvão Rilke (Briefe an einen jungen
Dichter. Die Weise von Liebe und Tod des
Cornet Christoph Rilke). Rainer Maria Rilke. [tradução Paulo Rónai e Cecília
Meireles]. São Paulo: Globo, 2001 111p.
:: Cartas do poeta
sobre a vida: a sabedoria de Rilke. (Coleção Prosa). São Paulo:
Martins Fontes, 2007, 272p.
:: Cartas Natalinas à mãe
(Weihnachtsbriefe an die Mutter). Rainer Maria Rilke. [tradução Maria
Aparecida Barbosa]. Sao Paulo: Editora Globo, 2007, 118p.
:: Cartas sobre Cézanne (Briefe über
Cézanne). Rainer Maria Rilke. [tradução Pedro Süssekind]. 1ª ed., Rio de Janeiro: 7 Letras, 1996; 4ª
ed., 2001; 5ª ed., 2006, 99p.
:: Coisas e anjos de Rilke. Rainer
Maria Rilke. [organização e tradução Augusto de Campos].. (Coleção Signos 30). São Paulo: Perspectiva, 2007,
127p.; 2ª ed., revista e ampliada, São Paulo: Perspectiva, 2013, 368p.
:: Elegias de Duíno (Duineser Elegien).
Rainer Maria Rilke. [tradução Dora Ferreira da Silva]. 1ª ed., Porto Alegre: Editora Globo, 1972.
:: Elegias de Duíno (Duineser Elegien).
Rainer Maria Rilke. [tradução Dora Ferreira da Silva]. 1ª ed., São
Paulo: Globo, 1991; 2ª ed., 2001, 126p.
:: Elegias de Duíno. (Duineser
Elegien). Rainer Maria Rilke. [tradução Paulo Plínio Abreu em colaboração com o
antropólogo alemão Peter Paul Hilbert]. Belém/Pará: Jornal Folha do Norte,
publicado entre os anos de 1946 e 1948.
:: Histórias do bom Deus (Geschichten
vom lieben Gott). Rainer Maria Rilke. [tradução Pedro Süssekind].. (Coleção
Rocinante nº 6). Rio de Janeiro: 7 Letras, 2003, 109p.
:: Jardins (Vergers). Rainer Maria
Rilke. [tradução Fernando Santoro]. Rio de Janeiro: 7 Letras, 1995,
168p.
:: Livro de horas (Das Stundenbuch). Rainer
Maria Rilke. [tradução Geir Campos]. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993; 2ª
ed., 1994, 185p.
:: O amor de Madalena (L'amour de
Madeleine). Rainer Maria Rilke. [tradução Renata Maria Parreira
Cordeiro]. São Paulo: Landy, 2000, 100p.
:: O diário de Florença (Das Florenzer Tagebuch).
Rainer Maria Rilke. [tradução Marion Fleischer]. São Paulo: Nova Alexandria,
2002, 143p.
:: Os cadernos de Malte Laurids Brigge
(Die
Aufzeichnungen des Malte Laurids Brigge). Rainer Maria Rilke. [tradução
e notas de Renato Zwick]. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2009, 208p.
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:: Os cadernos de Malte Laurids Brigge.
(Die Aufzeichnungen des Malte Laurids Brigge). Rainer
Maria Rilke. [tradução
Lya Luft]. São Paulo: Editora Mandarim, 1996, 165p.
:: Os sonetos a Orfeu (Die Sonette an
Orpheus); Elegias de Duíno (Duineser Elegien). Rainer Maria Rilke. [tradução
Karlos Rischbieter e Paulo Garfunkel]. Rio de Janeiro: Record, 2002, 191p.
:: Poemas e Cartas a um jovem poeta (Gedichte e Briefe an einen jungen Dichter).
Rainer Maria Rilke. [tradução Geir Campos e Fernando Jorge]. Rio de
Janeiro: Ediouro, 1992, 145p.
:: Poemas (Gedichte). Rainer Maria
Rilke. [tradução José Paulo Paes]. São Paulo: Companhia das Letras, 1993; 3ª ed., 2001, 183p.
:: Rilke: poesia-coisa. Rainer Maria Rilke. [tradução
Augusto de Campos].. (Coleção Lazuli). Rio de Janeiro: Imago, 1994, 85p.
:: Rodin (Auguste Rodin). Rainer Maria
Rilke. [tradução Daniela Caldas]. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 1995,
149p.
:: Sonetos a Orfe; Elegias de Duino (Die Sonette an Orpheus).
Rainer Maria Rilke. [tradução Emmanuel Carneiro Leão]. Petrópolis:
Vozes, 2000, 206p.
:: Vida de Maria: levo uma tempestade dentro de
mim (Das Marienleben). Rainer Maria Rilke. [tradução Dora
Ferreira da Silva]. Petrópolis: Vozes, 1995, 61p.
Rilke em Portugal
:: Poemas I. Rainer Maria Rilke. [seleção, prefácio e tradução Paulo Quintela]. Coimbra: Instituto Alemão da Univiversidade de Coimbra Editores, 2ª ed., 1967, 267p.
:: Poemas II - dispersos e inéditos de 1906 a 1926. Rainer Maria Rilke. [seleção, prefácio e tradução Paulo Quintela]. Coimbra: Instituto Alemão da Univiversidade de Coimbra Editores, 1967, 2ª ed., 1967, 301p.
:: Os cadernos de Malte Laurids Brigge (Die Aufzeichnungen des Malte Laurids Brigge). Rainer Maria Rilke. [tradução Paulo Quintela]. Lisboa: Editora O Oiro do Dia, 1983, 233p.
:: Poemas, As elegias de Duíno e Sonetos a Orfeu. Rainer Maria Rilke. [tradução Paulo Quintela]. Lisboa: Editora O Oiro do Dia, 1983, 445p.; Lisboa: Edições Asa, 2001.
:: Cartas a um Jovem Poeta. Rainer Maria Rilke. Lisboa: Contexto, 1986.
:: As elegias de Duíno. Rainer Maria Rilke. [tradução Maria Teresa Dias Furtado]. Lisboa: Assírio & Alvim, 1993.
:: Os sonetos a Orfeu. Rainer Maria Rilke. [tradução Vasco Graça Moura]. Lisboa: Quetzal Editores, 1994.
:: Frutos e apontamentos. Rainer Maria Rilke. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 1996.
:: O livro das imagens. Rainer Maria Rilke. [tradução de Maria João Costa Pereira]. Lisboa: Relógio D’Água, 2005, 296p.
:: O livro das imagens. Rainer Maria Rilke. [tradução de Maria João Costa Pereira]. Lisboa: Relógio D’Água, 2005, 296p.
“O destino gosta de inventar desenhos e figuras. A dificuldade dele reside no complicado. A vida mesma, porém, é difícil pela simplicidade. Tem apenas algumas coisas de um tamanho que nos não é adequado. O santo, rejeitando o destino, escolhe estas coisas, em face de Deus. Mas que a mulher, conforme à sua natureza, tenha de fazer a mesma escolha em relação ao homem, é o que evoca a fatalidade de todas as relações de amor: resoluta e sem destino como uma eterna, ergue-se ela ao lado dele, dele que se transforma. Sempre a amante ultrapassa o amado, porque a vida é maior do que o destino. O dom de si mesma quer ser desmedido: é esta a sua ventura. A dor inominada do seu amor, porém, foi sempre esta: que se exija dela que limite este dom de si mesma.”
- Rainer Maria Rilker, em "Os cadernos de Malte Laurids Brigge".[tradução Paulo Quintela]. Lisboa: Editora O Oiro do Dia, 1983.
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POEMAS ESCOLHIDOS RILKE MARIA RAINER ( BILÍNGUE: PORTUGUÊS - ALEMÃO)
Abisag
1.
Sobre. Servos, seus Braços, Meninice,
Fizeram enlear no Corpo augusto,
De Bruços. Horas mortas, que Velhice!,
não podia reter o Medo e o Susto.
Virava, revirava, (Barba), o Rosto,
a cada Pio de Mocho. E todo o Meio
da noite distendia-se, disposto
a vê-la, Medo, e a envolvê-la, Anseio.
Tremeram as Estrelas, suas iguais,
um Sopro abriu, sagaz, o Cortinado,
(e um Ar insinuou-se perfumado)
atraindo os seus Olhos com Sinais.
Mas ela, ao Rei sombrio, fiel se prende
e, salva da pior das Noites, calma,
na Realeza fria a Pele estende,
virginalmente leve como uma Alma.
2.
Soberano sem Gozo em Dia vazio,
e sem Feitos, o Rei medita
em sua cadelinha favorita.
A Noite vem: arqueia-se no Frio
o Corpo de Abisag. Da Vida os Leitos
são Costas de má Fama, Orla maldita
sob a mortal Constelação dos Peitos.
Mas, versado em Mulher e seus Desejos,
julgava ver, às vezes, (Sobrancelhas),
uma boca suspensa, Flor sem Beijos
- e via: para as suas Lavras velhas
não se inclinava a Haste amorosa, langue.
Insone, via-se Mastim, Orelhas,
Buscando-se nas So(m)bras do seu Sangue.
***
Abisag
I
Sie lag. Und ihre Kinderarme waren
von Dienern um den Welkenden gebunden,
auf dem sie lag die süßen langen Stunden,
ein wenig bang vor seinen vielen Jahren.
Und manchmal wandte sie in seinem Barte
ihr Angesicht, wenn eine Eule schrie;
und alles, was die Nacht war, kam und scharte
mit Bangen und Verlangen sich um sie.
Die Sterne zitterten wie ihresgleichen,
der Duft ging suchend durch das Schlafgemach,
der Vorhang rührte sich und gab ein Zeichen,
und leise ging ihr Blick dem Zeichen nach - .
Aber sie hielt sich an dem dunkeln Alten,
und von der Nacht der Nächte nicht erreicht,
lag sie auf seinem fürstlichen Erkalten
jungfräulich und wie eine Seele leicht.
II
Der König saß und sann den leeren Tag
getaner Taten, ungefühlter Lüste
und seiner Lieblingshündin, der er pflag - ,
Aber am Abend wölbte Abisag
sich über ihm. Sein wirres Leben lag
verlassen wie verrufne Meeresküste
unter dem Sternbild ihrer stillen Brüste.
Und manchmal, als ein Kundiger der Frauen,
erkannte er durch seine Augenbrauen
den unbewegten, küsselosen Mund;
und sah: ihres Gefühles grüne Rute
neigte sich nicht herab zu seinem Grund.
Ihn fröstelte. Er horchte wie ein Hund
und suchte sich in seinem letzten Blute.
- Rainer Maria Rilke [tradução Décio Pignatari]. in: PIGNATARI, Décio. "Poesia Pois É Poesia 1950-2000". Cotia, SP: Ateliê Editorial; Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2004, p. 257.
§§
A canção do mendigo
Vou indo de porta em porta,
ao sol e à chuva, não importa;
de repente descanso o meu ouvido
direito em minha mão direita:
minha voz me soa imperfeita,
como se nunca a tivesse ouvido.
E já nem sei quem clama em meus ais,
eu ou outra pessoa.
Eu clamo por qualquer coisa à toa.
Os poetas clamam por mais.
Com os olhos eu fecho o meu rosto
e minha mão lhe serve de encosto
de modo que ele pareça
descansar. Para que não se esqueça
que eu também tenho um posto
para pousar a cabeça.
***
A canção do cego
Sou cego – escutem – é uma maldição,
um contrassenso, uma contradição,
não é uma doença qualquer.
Eu ponho a mão no braço da mulher,
minha mão cinzenta no seu cinza gris,
e ela só me leva para onde eu não quis.
Vocês andam, volteiam e gostam de pensar
que fazem um som diferente em seu andar,
mas estão errados: eu sozinho
vivo e vozeio o vazio.
Trago comigo um grito sem fim
e não sei se é a alma ou são as entranhas
o que grita em mim.
Já cantaram esta canção? Ninguém o saberia,
ao menos não com este acento.
Para vocês uma luz nova todo dia
vem e aquece o claro aposento.
E de olhar a olhar passa aquela energia
que induz à indulgencia e ao alento.
***
Das lied des blinden
Ich bin blind, ihr draussen, das ist ein Fluch,
ein Widerwillen, ein Widerspruch,
etwas täglich Schweres.
Ich leg meine Hand auf den Arm der Frau,
meine graue Hand auf ihr graues Grau,
und sie fürht mich durch lauter Leeres.
Ihr rürht euch und rückt und bildet euch ein,
anders zu klingen als Stein auf Stein,
aber ihr irrt euch: ich allein
lebe und leide und lärme.
In mir ist ein endloses Schrein,
und ich weiss nicht, schreit mir mein
Herz oder meine Gedärme.
Erkennt ihr die lieder? Ihr sanget sie nicht,
nicht ganz in dieser Betonung.
Euch kommt jeden Morgen das neue Licht
warm in die offene Wohnung.
Und ihr habt ein Gefühl von Gesicht zu Gesicht,
und das verleitet zur Schonung.
- Rainer Maria Rilke, em "O livro de imagens". In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013.
Das Lied des Bettlers
Ich gehe immer von Tor zu Tor,
verregnet und verbrannt;
auf einmal leg ich mein rechtes Ohr
in meine rechte Hand.
Dann kommt mir meine Stimme vor
als hätt ich sie nie gekannt.
verregnet und verbrannt;
auf einmal leg ich mein rechtes Ohr
in meine rechte Hand.
Dann kommt mir meine Stimme vor
als hätt ich sie nie gekannt.
Dann weiß ich nicht sicher wer da schreit,
ich oder irgendwer.
Ich schreie um eine Kleinigkeit.
Die Dichter schrein um mehr.
ich oder irgendwer.
Ich schreie um eine Kleinigkeit.
Die Dichter schrein um mehr.
Und endlich mach ich noch mein Gesicht
mit beiden Augen zu;
wie's dann in der Hand liegt mit seinem Gewicht
sieht es fast aus wie Ruh.
Damit sie nicht meinen ich hätte nicht,
wohin ich mein Haupt tu.
mit beiden Augen zu;
wie's dann in der Hand liegt mit seinem Gewicht
sieht es fast aus wie Ruh.
Damit sie nicht meinen ich hätte nicht,
wohin ich mein Haupt tu.
- Rainer Maria Rilke, em "O livro de imagens"(Paris, 12.6.1906). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 70-71.
§§
A canção do cego
Sou cego – escutem – é uma maldição,
um contrassenso, uma contradição,
não é uma doença qualquer.
Eu ponho a mão no braço da mulher,
minha mão cinzenta no seu cinza gris,
e ela só me leva para onde eu não quis.
Vocês andam, volteiam e gostam de pensar
que fazem um som diferente em seu andar,
mas estão errados: eu sozinho
vivo e vozeio o vazio.
Trago comigo um grito sem fim
e não sei se é a alma ou são as entranhas
o que grita em mim.
Já cantaram esta canção? Ninguém o saberia,
ao menos não com este acento.
Para vocês uma luz nova todo dia
vem e aquece o claro aposento.
E de olhar a olhar passa aquela energia
que induz à indulgencia e ao alento.
***
Das lied des blinden
Ich bin blind, ihr draussen, das ist ein Fluch,
ein Widerwillen, ein Widerspruch,
etwas täglich Schweres.
Ich leg meine Hand auf den Arm der Frau,
meine graue Hand auf ihr graues Grau,
und sie fürht mich durch lauter Leeres.
Ihr rürht euch und rückt und bildet euch ein,
anders zu klingen als Stein auf Stein,
aber ihr irrt euch: ich allein
lebe und leide und lärme.
In mir ist ein endloses Schrein,
und ich weiss nicht, schreit mir mein
Herz oder meine Gedärme.
Erkennt ihr die lieder? Ihr sanget sie nicht,
nicht ganz in dieser Betonung.
Euch kommt jeden Morgen das neue Licht
warm in die offene Wohnung.
Und ihr habt ein Gefühl von Gesicht zu Gesicht,
und das verleitet zur Schonung.
- Rainer Maria Rilke, em "O livro de imagens". In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013.
§§
A Gazela
[à Gazella Dorcas]
Rainer Maria Rilke - German Photographer (20th Century) |
Mágico ser:
onde encontrar quem colha
duas palavras
numa rima igual
a essa que
pulsa em ti como um sinal?
De tua fronte
se erguem lira e folha
e tudo o que és
se move em similar
canto de amor
cujas palavras, quais
pétalas, vão
caindo sobre o olhar
de quem fechou
os olhos, sem ler mais,
para te ver: no
alerta dos sentidos,
em cada perna
os saltos reprimidos
sem disparar,
enquanto só a fronte
a prumo,
prestes, pára: assim, na fonte,
a banhista que
um frêmito assustasse:
a chispa de
água no voltear da face.
***
Die Gazelle
[Gazella Dorcas]
Verzauberte: wie kann der Einklang zweier
erwählter Worte je den Reim erreichen,
der in dir kommt und geht, wie auf ein Zeichen.
Aus deiner Stirne steigen Laub und Leier,
und alles Deine geht schon im Vergleich
durch Liebeslieder, deren Worte, weich
wie Rosenblätter, dem, der nicht mehr liest,
sich auf die Augen legen, die er schließt:
um dich zu sehen: hingetragen, als
wäre mit Sprüngen jeder Lauf geladen
und schüsse nur nicht ab, solang der Hals
das Haupt ins Horchen hält: wie wenn beim Baden
im Wald die Badende sich unterbricht:
den Waldsee im gewendeten Gesicht.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas I" (1907). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 122-123.
§§
A montanha
Trinta e seis vezes e mais outras cem
o pintor escreveu essa montanha,
devotado, sem êxito, à façanha
(trinta e seis vezes e mais outras cem)
de entender o vulcão que ele trazia,
feliz, mesmerizado, no seu peito,
mas a montanha de perfil perfeito
não lhe quis revelar sua magia:
doando-se do ar de cada dia,
mil vezes, cada noite cintilante
abandonando, como sem valia;
cada imagem imersa num instante,
em cada forma a forma transformada,
indiferente, distante, modesta —,
sabendo, como uma visão, do nada,
acontecer atrás de cada fresta.
***
Der Berg
Sechsunddreißig Mal und hundert Mal
hat der Maler jenen Berg geschrieben,
weggerissen, wieder hingetrieben
(sechsunddreißig Mal und hundert Mal)
zu dem unbegreiflichen Vulkane,
selig, voll Versuchung, ohne Rat, -
während der mit Umriss Angetane
seiner Herrlichkeit nicht Einhalt tat:
tausendmal aus allen Tagen tauchend,
Nächte ohne gleichen von sich ab
fallen lassend, alle wie zu knapp;
jedes Bild im Augenblick verbrauchend,
von Gestalt gesteigert zu Gestalt,
teilnahmslos und weit und ohne Meinung -,
um auf einmal wissend, wie Erscheinung,
sich zu heben hinter jedem Spalt.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas II" (1908). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 296-297.
§§
A morte do Poeta
Jazia. A sua face, antes intensa,
pálida negação no leito frio,
desde que o mundo, e tudo o que é presença,
dos seus sentidos já vazio,
se recolheu à Era da Indiferença.
Ninguém jamais podia ter suposto
que ele e tudo estivessem conjugados
e que tudo, essas sombras, esses prados,
essa água mesma eram o seu rosto.
Sim, seu rosto era tudo o que quisesse
e que ainda agora o cerca e o procura;
a máscara da vida que perece
é mole e aberta como a carnadura
de um fruto que no ar, lento, apodrece.
***
Der tod des Dichters
Er lag. Sein aufgestelltes Antlitz war
bleich und verweigernd in den steilen Kissen,
seitdem die Welt und dieses von ihr Wissen,
von seinen Sinnen abgerissen,
zurückfiel an das teilnahmslose Jahr.
Die, so ihn leben sahen, wußten nicht,
wie sehr er eines war mit allem diesen,
denn Dieses: diese Tiefen, diese Wiesen
und diese Wasser waren sein Gesicht.
O sein Gesicht war diese ganze Weite,
die jezt noch zu ihm will und um ihn wirbt;
und seine Maske, die nun bang verstirbt,
ist zart und offen wie die Innenseite
von einer Frucht, die an des Luft verdirbt.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas I" (1907). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2007, p. 44-45.
§§
A Pantera
(No Jardin des Plantes, Paris)
De tanto olhar as grades seu olhar
esmoreceu e nada mais aferra.
Como se houvesse só grades na terra:
grades, apenas grades para olhar.
A onda andante e flexível do seu vulto
em círculos concêntricos decresce,
dança de força em torno a um ponto oculto
no qual um grande impulso se arrefece.
De vez em quando o fecho da pupila
se abre em silêncio. Uma imagem, então,
na tensa paz dos músculos se instila
para morrer no coração.
***
Der Panther
[Im Jardin des Plantes, Paris]
Sein Blick ist vom Vorübergehn der Stäbe
so müd geworden,dass er nichts mehr hält.
Ihm ist, als ob es tausend Stäbe gäbe
und hinter tausend Stäben keine Welt.
Der weiche Gang geschmeidig starker Schritte,
der sich im allerkleinsten Kreise dreht,
ist wie ein Tanz von Kraft um eine Mitte,
in der betäubt ein grosser Wille steht.
Nur manchmal schiebt der Vorhang der Pupille
sich lautlos auf -. Dann geht ein Bild hinein,
geht durch der Glieder angespannte Stille -
und hört im Herzen auf zu sein.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas I" (1907). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 120-121.
§§
Amo as horas noturnas
Amo as horas noturnas do meu ser em
que se me aprofundam os sentidos;
nelas fui eu achar, como em cartas velhíssimas,
já vivida a vida dos meus dias
e como lenda longínqua e superada.
Delas eu aprendi que tenho espaço
para uma segunda vida, vasta e sem tempo.
E por vezes me sinto como a árvore
que, madura e rumorosa, sobre uma campa
realiza o sonho que o menino foi
(em volta do qual apertam suas raízes quentes)
e perdeu em tristezas e canções.
***
Ich liebe meines Wesens Dunkelstunden
Ich liebe meines Wesens Dunkelstunden,
in welchen meine Sinne sich vertiefen;
in ihnen hab ich, wie in alten Briefen,
mein täglich Leben schon gelebt gefunden
und wie Legende weit und überwunden.
Aus ihnen kommt mir Wissen, daß ich Raum
zu einem zweiten zeitlos breiten Leben habe.
Und manchmal bin ich wie der Baum,
der, reif und rauschend, über einem Grabe
den Traum erfüllt, den der vergangne Knabe
(um den sich seine warmen Wurzeln drängen)
verlor in Traurigkeiten und Gesängen.
- Rainer Maria Rilke, em "Poemas, As elegias de Duíno e Sonetos a Orfeu". [tradução Paulo Quintela]. Lisboa: Edições Asa, 2001.
§§
Dançarina espanhola
Como um fósforo a arder antes que cresça
a flama, distendendo em raios brancos
suas línguas de luz, assim começa
e se alastra ao redor, ágil e ardente,
a dança em arco aos trêmulos arrancos.
E logo ela é só flama, inteiramente.
Com um olhar põe fogo nos cabelos
e com a arte sutil dos tornozelos
incendeia também os seus vestidos
de onde, serpentes doidas, a rompê-los,
saltam os braços nus com estalidos.
Então, como se fosse um feixe aceso,
colhe o fogo num gesto de desprezo,
atira-o bruscamente no tablado
e o contempla. Ei-lo ao rés do chão, irado,
a sustentar ainda a chama viva.
Mas ela, do alto, num leve sorriso
de saudação, erguendo a fronte altiva,
pisa-o com seu pequeno pé preciso.
***
Spanische Tänzerin
Wie in der Hand ein Schwefelzündholz, weiß,
eh es zur Flamme kommt, nach allen Seiten
zuckende Zungen streckt -: beginnt im Kreis
naher Beschauer hastig, hell und heiß
ihr runder Tanz sich zuckend auszubreiten.
Und plötzlich ist er Flamme, ganz und gar.
Mit einem Blick entzündet sie ihr Haar
und dreht auf einmal mit gewagter Kunst
ihr ganzes Kleid in diese Feuersbrunst,
aus welcher sich, wie Schlangen die erschrecken,
die nackten Arme wach und klappernd strecken.
Und dann: als würde ihr das Feuer knapp,
nimmt sie es ganz zusamm und wirft es ab
sehr herrisch, mit hochmütiger Gebärde
und schaut: da liegt es rasend auf der Erde
und flammt noch immer und ergiebt sich nicht -.
Doch sieghaft, sicher und mit einem süßen
grüßenden Lächeln hebt sie ihr Gesicht
und stampft es aus mit kleinen Füßen.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas I" (1907). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 158-159.
Ich liebe meines Wesens Dunkelstunden
Ich liebe meines Wesens Dunkelstunden,
in welchen meine Sinne sich vertiefen;
in ihnen hab ich, wie in alten Briefen,
mein täglich Leben schon gelebt gefunden
und wie Legende weit und überwunden.
Aus ihnen kommt mir Wissen, daß ich Raum
zu einem zweiten zeitlos breiten Leben habe.
Und manchmal bin ich wie der Baum,
der, reif und rauschend, über einem Grabe
den Traum erfüllt, den der vergangne Knabe
(um den sich seine warmen Wurzeln drängen)
verlor in Traurigkeiten und Gesängen.
- Rainer Maria Rilke, em "Poemas, As elegias de Duíno e Sonetos a Orfeu". [tradução Paulo Quintela]. Lisboa: Edições Asa, 2001.
§§
Dançarina espanhola
Como um fósforo a arder antes que cresça
a flama, distendendo em raios brancos
suas línguas de luz, assim começa
e se alastra ao redor, ágil e ardente,
a dança em arco aos trêmulos arrancos.
E logo ela é só flama, inteiramente.
Com um olhar põe fogo nos cabelos
e com a arte sutil dos tornozelos
incendeia também os seus vestidos
de onde, serpentes doidas, a rompê-los,
saltam os braços nus com estalidos.
Então, como se fosse um feixe aceso,
colhe o fogo num gesto de desprezo,
atira-o bruscamente no tablado
e o contempla. Ei-lo ao rés do chão, irado,
a sustentar ainda a chama viva.
Mas ela, do alto, num leve sorriso
de saudação, erguendo a fronte altiva,
pisa-o com seu pequeno pé preciso.
***
Spanische Tänzerin
Wie in der Hand ein Schwefelzündholz, weiß,
eh es zur Flamme kommt, nach allen Seiten
zuckende Zungen streckt -: beginnt im Kreis
naher Beschauer hastig, hell und heiß
ihr runder Tanz sich zuckend auszubreiten.
Und plötzlich ist er Flamme, ganz und gar.
Mit einem Blick entzündet sie ihr Haar
und dreht auf einmal mit gewagter Kunst
ihr ganzes Kleid in diese Feuersbrunst,
aus welcher sich, wie Schlangen die erschrecken,
die nackten Arme wach und klappernd strecken.
Und dann: als würde ihr das Feuer knapp,
nimmt sie es ganz zusamm und wirft es ab
sehr herrisch, mit hochmütiger Gebärde
und schaut: da liegt es rasend auf der Erde
und flammt noch immer und ergiebt sich nicht -.
Doch sieghaft, sicher und mit einem süßen
grüßenden Lächeln hebt sie ihr Gesicht
und stampft es aus mit kleinen Füßen.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas I" (1907). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 158-159.
§§
Exercícios ao piano
O calor cola. A
tarde arde e arqueja.
Ela arfa, sem
querer, nas leves vestes
e num é tudo
enérgico despeja
a impaciência
por algo que está prestes
a acontecer:
hoje, amanhã, quem sabe
agora mesmo,
oculto, do seu lado;
da janela, onde
um mundo inteiro cabe,
ela percebe o
parque arrebicado.
Desiste, enfim,
o olhar distante; cruza
as mãos;
desejaria um livro; sente
o aroma dos
jasmins, mas o recusa
num gesto
brusco. Acha que á faz doente.
***
Übung am Klavier
Der Sommer summt. Der Nachmittag macht müde;
sie atmete verwirrt ihr frisches Kleid
und legte in die triftige Etüde
die Ungeduld nach einer Wirklichkeit,
die kommen konnte: morgen, heute abend -,
die vielleicht da war, die man nur verbarg;
und vor den Fenstern, hoch und alles habend,
empfand sie plötzlich den verwöhnten Park.
Da brach sie ab; schaute hinaus, verschränkte
die Hände; wünschte sich ein langes Buch -
und schob auf einmal den Jasmingeruch
erzürnt zurück. Sie fand, dass er sie kränkte.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas II" (1908). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 276-277.
§§
Fonte romana
(Vila Borghese)
Duas velhas bacias sobrepondo
suas bordas de mármore redondo.
Do alto a água fluindo, devagar,
sobre a água, mais em baixo, a esperar,
muda, ao murmúrio, em diálogo secreto,
como que só no côncavo da mão,
entremostrando um singular objeto:
o céu, atrás da verde escuridão;
ela mesma a escorrer na bela pia,
em círculos e círculos, constante-
mente, impassível e sem nostalgia,
descendo pelo musgo circundante
ao espelho da última bacia
que faz sorrir, fechando a travessia.
***
Römische Fontäne
(Villa Borghese)
Zwei Becken, eins das andere übersteigend
aus einem alten runden Marmorrand,
und aus dem oberen Wasser leis sich neigend
zum Wasser, welches unten wartend stand,
dem leise redenden entgegenschweigend
und heimlich, gleichsam in der hohlen Hand,
ihm Himmel hinter Grün und Dunkel zeigend
wie einen unbekannten Gegenstand;
sich selber ruhig in der schönen Schale
verbreitend ohne Heimweh, Kreis aus Kreis,
nur manchmal träumerisch und tropfenweis
sich niederlassend an den Moosbehängen
zum letzten Spiegel, der sein Becken leis
von unten lächeln macht mit Übergängen.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas I" (1907). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 156-157.
§§
Hora grave
Quem agora chora em algum lugar do mundo,
Sem razão chora no mundo,
Chora por mim.
Quem agora ri em algum lugar na noite,
Sem razão ri dentro da noite,
Ri-se de mim.
Quem agora caminha em algum lugar no mundo,
Sem razão caminha no mundo,
Vem a mim.
Quem agora morre em algum lugar no mundo,
Sem razão morre no mundo,
Olha para mim.
***
Ernste stunde
Wer jetzt weint irgendwo in der Welt,
ohne Grund weint in der Welt,
weint über mich.
Wer jetzt lacht irgendwo in der Nacht,
ohne Grund lacht in der Nacht,
lacht mich aus.
Wer jetzt geht irgendwo in der Welt,
ohne Grund geht in der Welt,
geht zu mir.
Wer jetzt stirbt irgendwo in der Welt,
ohne Grund stirbt in der Welt:
sieht mich an.
- Rainer Maria Rilke, em "O livro de imagens" (1902). [tradução Paulo Plínio Abreu em colaboração com o antropólogo alemão Peter Paul Hilbert]. Belém/Pará: Jornal Folha do Norte.
Ernste stunde
Wer jetzt weint irgendwo in der Welt,
ohne Grund weint in der Welt,
weint über mich.
Wer jetzt lacht irgendwo in der Nacht,
ohne Grund lacht in der Nacht,
lacht mich aus.
Wer jetzt geht irgendwo in der Welt,
ohne Grund geht in der Welt,
geht zu mir.
Wer jetzt stirbt irgendwo in der Welt,
ohne Grund stirbt in der Welt:
sieht mich an.
- Rainer Maria Rilke, em "O livro de imagens" (1902). [tradução Paulo Plínio Abreu em colaboração com o antropólogo alemão Peter Paul Hilbert]. Belém/Pará: Jornal Folha do Norte.
§§
Hortênsia Azul
Como um último verde em um pote de tinta
As folhas têm um tom áspero, seco , velho,
Sob umbelas em flor que um azul pinta
Do falso azul, que é o seu remoto espelho.
Tosco espelho sem luz, choroso e baço
Como que prestes a perder o tom postiço,
Como antigo papel de carta já sem viço,
Onde o amarelo, o roxo e o cinza deixam traço;
Desbotado como o avental de uma criança
Que não foi mais usado e agora só descansa:
Como uma vida breve que se extingue.
Mas de repente o azul quer como que viver de
Novo em alguma umbela e se distingue
Um comovente azul sorrir de verde.
***
Blaue Hortensie
So wie das letzte Grün in Farbentiegeln
sind diese Blätter, trocken, stumpf und rauh,
hinter den Blütendolden, die ein Blau
nicht auf sich tragen, nur von ferne spiegeln.
Sie spiegeln es verweint und ungenau,
als wollten sie es wiederum verlieren,
und wie in alten blauen Briefpapieren
ist Gelb in ihnen, Violett und Grau;
Verwaschenes wie an einer Kinderschürze,
Nichtmehrgetragenes, dem nichts mehr geschieht:
wie fühlt man eines kleinen Lebens Kürze.
Doch plötzlich scheint das Blau sich zu verneuen
in einer von den Dolden, und man sieht
ein rührend Blaues sich vor Grünem freuen.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas I" (1907). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013.
§§
Hortênsia Azul
Como um último verde em um pote de tinta
As folhas têm um tom áspero, seco , velho,
Sob umbelas em flor que um azul pinta
Do falso azul, que é o seu remoto espelho.
Tosco espelho sem luz, choroso e baço
Como que prestes a perder o tom postiço,
Como antigo papel de carta já sem viço,
Onde o amarelo, o roxo e o cinza deixam traço;
Desbotado como o avental de uma criança
Que não foi mais usado e agora só descansa:
Como uma vida breve que se extingue.
Mas de repente o azul quer como que viver de
Novo em alguma umbela e se distingue
Um comovente azul sorrir de verde.
***
Blaue Hortensie
So wie das letzte Grün in Farbentiegeln
sind diese Blätter, trocken, stumpf und rauh,
hinter den Blütendolden, die ein Blau
nicht auf sich tragen, nur von ferne spiegeln.
Sie spiegeln es verweint und ungenau,
als wollten sie es wiederum verlieren,
und wie in alten blauen Briefpapieren
ist Gelb in ihnen, Violett und Grau;
Verwaschenes wie an einer Kinderschürze,
Nichtmehrgetragenes, dem nichts mehr geschieht:
wie fühlt man eines kleinen Lebens Kürze.
Doch plötzlich scheint das Blau sich zu verneuen
in einer von den Dolden, und man sieht
ein rührend Blaues sich vor Grünem freuen.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas I" (1907). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013.
§§
Morgue
Rainer Maria Rilke - foto: (...) |
Estão prontos,
ali, como a esperar
que um gesto
só, ainda que tardio,
possa
reconciliar com tanto frio
os corpos e um
ao outro harmonizar;
como se algo
faltasse para o fim.
Que nome no seu
bolso já vazio
há por achar?
Alguém procura, enfim,
enxugar dos
seus lábios o fastio:
em vão; eles só
ficam mais polidos.
A barba está
mais dura, todavia
ficou mais
limpa ao toque do vigia,
para não repugnar
o circunstante.
Os olhos, sob a
pálpebra, invertidos,
olham só para
dentro, doravante.
***
Morgue
Da liegen sie bereit, als ob es gälte,
nachträglich eine Handlung zu erfinden,
die mit einander und mit dieser Kälte
sie zu versühnen weiß und zu verbinden;
denn das ist alles noch wie ohne Schluß.
Wasfür ein Name hätte in den Taschen
sich finden sollen? An dem Überdruß
um ihren Mund hat man herumgewaschen:
er ging nicht ab; er wurde nur ganz rein.
Die Bärte stehen, noch ein wenig härter,
doch ordentlicher im Geschmack der Wärter,
nur um die Gaffenden nicht anzuwidern.
Die Augen haben hinter ihren Lidern
sich umgewandt und schauen jetzt hinein.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas I" (1907). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 114-115.
O cego
Ele caminha e interrompe a cidade,
que não existe em sua cela escura,
como uma escura rachadura
numa taça atravessa a claridade.
Sombras das coisas, como numa folha,
nele se riscam sem que ele as acolha:
só sensações de tato, como sondas,
captam o mundo em diminutas ondas:
serenidade; resistência -
como se à espera de escolher alguém, atento,
ele soergue, quase em reverência,
a mão, como num casamento.
Morgue
Da liegen sie bereit, als ob es gälte,
nachträglich eine Handlung zu erfinden,
die mit einander und mit dieser Kälte
sie zu versühnen weiß und zu verbinden;
denn das ist alles noch wie ohne Schluß.
Wasfür ein Name hätte in den Taschen
sich finden sollen? An dem Überdruß
um ihren Mund hat man herumgewaschen:
er ging nicht ab; er wurde nur ganz rein.
Die Bärte stehen, noch ein wenig härter,
doch ordentlicher im Geschmack der Wärter,
nur um die Gaffenden nicht anzuwidern.
Die Augen haben hinter ihren Lidern
sich umgewandt und schauen jetzt hinein.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas I" (1907). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 114-115.
§§
O cego
Ele caminha e interrompe a cidade,
que não existe em sua cela escura,
como uma escura rachadura
numa taça atravessa a claridade.
Sombras das coisas, como numa folha,
nele se riscam sem que ele as acolha:
só sensações de tato, como sondas,
captam o mundo em diminutas ondas:
serenidade; resistência -
como se à espera de escolher alguém, atento,
ele soergue, quase em reverência,
a mão, como num casamento.
***
Der blinde
Sieh, er geht und unterbricht die Stadt,
die nicht ist auf seiner dunkeln Stelle,
wie ein dunkler Sprung durch eine helle
Tasse geht. Und wie auf einem Blatt
ist auf ihm der Widerschein der Dinge
aufgemalt; er nimmt ihn nicht hinein.
Nur sein Fühlen rührt sich, so als finge
es die Welt in kleinen Wellen ein
eine Stille, einen Widerstand -,
und dann scheint er wartend wen zu wählen:
hingegeben hebt er seine Hand,
festlich fast, wie um sich zu vermählen.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas II" (1908). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2007.
§§
Lamento de uma jovem
A inclinação que nos vem do passado,
quando crianças, sempre tão constante,
de sermos sós, era algo delicado;
para os demais era luta cada instante,
e cada qual tinha o seu lado,
o seu perto, o seu distante,
um chão, um cão, um quadro.
E eu ainda achava que a vida
nunca cessaria de doar,
e que é em nós mesmos nosso lar.
Não sou em mim a minha preferida?
O que é meu não há mais de ter confiança
e me entender como quando era criança?
Súbito, estou como entre alheios,
e em algo que me ultrapassa
a solidão se muda em mim,
quando, do alto dos meus seios,
meus sentimentos clamam por asas
ou por um fim.
***
Mädchen-Klage
Diese Neigung, in den Jahren,
da wir alle Kinder waren,
viel allein zu sein, war mild;
andern ging die Zeit im Streite,
und man hatte seine Seite,
seine Nähe, seine Weite,
einen Weg, ein Tier, ein Bild.
Und ich dachte noch, das Leben
hörte niemals auf zu geben,
dass man sich in sich besinnt.
Bin ich in mir nicht im Größten?
Will mich Meines nicht mehr trösten
und verstehen wie als Kind?
Plötzlich bin ich wie verstoßen,
und zu einem Übergroßen
wird mir diese Einsamkeit,
wenn, auf meiner Brüste Hügeln
stehend, mein Gefühl nach Flügeln
oder einem Ende schreit.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas I". In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 94-95.
§§
O encantador de serpentes
Quando na praça, ondeando, o encantador
toca a flauta que embala e entorpece,
às vezes ele atinge ao seu redor
alguém, em meio à turba, e o adormece,
e o faz entrar no círculo da flauta,
que quer e quer e quer e vai e volta,
até que emerja a cabeça alta
do réptil, que do seu cesto se solta,
alternando tontura e lassidão,
o que expande e tensiona e o que represa —;
basta um olhar daquele indiano, então,
para infundir no outro uma estranheza
que te mata. Como se de repente
o céu caísse. De súbito estrias
racham-te o rosto. Há especiarias
na memória boreal e a tua mente
de nada serve. Inútil, a magia.
O sol fermenta, vêm febres ferventes,
os raios têm maléfica alegria
e o veneno cintila nas serpentes.
***
Schlangen-Beschwörung
Wenn auf dem Markt, sich wiegend, der Beschwörer
die Kürbisflöte pfeift, die reizt und lullt,
so kann es sein, da er sich einen Hörer
herüberlockt, der ganz aus dem Tumult
der Buden eintritt in den Kreis der Pfeife,
die will und will und will und die erreicht,
dass das Reptil in seinem Korb sich steife
und die das steife schmeichlerisch erweicht,
abwechselnd immer schwindelnder und blinder
mit dem, was schreckt und streckt, und dem, was löst -;
und dann genügt ein Blick: so hat der Inder
dir eine Fremde eingeflößt,
in der du stirbst. Es ist als überstürze
glühender Himmel dich. Es geht ein Sprung
durch dein Gesicht. Es legen sich Gewürze
auf deine nordische Erinnerung,
die dir nichts hilft. Dich feien keine Kräfte,
die Sonne gärt, das Fieber fällt und trifft;
von böser Freude steilen sich die Schäfte,
und in den Schlangen glänzt das Gift.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas II" (1908). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 246-247.
§§
Der blinde
Sieh, er geht und unterbricht die Stadt,
die nicht ist auf seiner dunkeln Stelle,
wie ein dunkler Sprung durch eine helle
Tasse geht. Und wie auf einem Blatt
ist auf ihm der Widerschein der Dinge
aufgemalt; er nimmt ihn nicht hinein.
Nur sein Fühlen rührt sich, so als finge
es die Welt in kleinen Wellen ein
eine Stille, einen Widerstand -,
und dann scheint er wartend wen zu wählen:
hingegeben hebt er seine Hand,
festlich fast, wie um sich zu vermählen.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas II" (1908). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2007.
§§
Lamento de uma jovem
A inclinação que nos vem do passado,
quando crianças, sempre tão constante,
de sermos sós, era algo delicado;
para os demais era luta cada instante,
e cada qual tinha o seu lado,
o seu perto, o seu distante,
um chão, um cão, um quadro.
E eu ainda achava que a vida
nunca cessaria de doar,
e que é em nós mesmos nosso lar.
Não sou em mim a minha preferida?
O que é meu não há mais de ter confiança
e me entender como quando era criança?
Súbito, estou como entre alheios,
e em algo que me ultrapassa
a solidão se muda em mim,
quando, do alto dos meus seios,
meus sentimentos clamam por asas
ou por um fim.
***
Mädchen-Klage
Diese Neigung, in den Jahren,
da wir alle Kinder waren,
viel allein zu sein, war mild;
andern ging die Zeit im Streite,
und man hatte seine Seite,
seine Nähe, seine Weite,
einen Weg, ein Tier, ein Bild.
Und ich dachte noch, das Leben
hörte niemals auf zu geben,
dass man sich in sich besinnt.
Bin ich in mir nicht im Größten?
Will mich Meines nicht mehr trösten
und verstehen wie als Kind?
Plötzlich bin ich wie verstoßen,
und zu einem Übergroßen
wird mir diese Einsamkeit,
wenn, auf meiner Brüste Hügeln
stehend, mein Gefühl nach Flügeln
oder einem Ende schreit.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas I". In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 94-95.
§§
O encantador de serpentes
Quando na praça, ondeando, o encantador
toca a flauta que embala e entorpece,
às vezes ele atinge ao seu redor
alguém, em meio à turba, e o adormece,
e o faz entrar no círculo da flauta,
que quer e quer e quer e vai e volta,
até que emerja a cabeça alta
do réptil, que do seu cesto se solta,
alternando tontura e lassidão,
o que expande e tensiona e o que represa —;
basta um olhar daquele indiano, então,
para infundir no outro uma estranheza
que te mata. Como se de repente
o céu caísse. De súbito estrias
racham-te o rosto. Há especiarias
na memória boreal e a tua mente
de nada serve. Inútil, a magia.
O sol fermenta, vêm febres ferventes,
os raios têm maléfica alegria
e o veneno cintila nas serpentes.
***
Schlangen-Beschwörung
Wenn auf dem Markt, sich wiegend, der Beschwörer
die Kürbisflöte pfeift, die reizt und lullt,
so kann es sein, da er sich einen Hörer
herüberlockt, der ganz aus dem Tumult
der Buden eintritt in den Kreis der Pfeife,
die will und will und will und die erreicht,
dass das Reptil in seinem Korb sich steife
und die das steife schmeichlerisch erweicht,
abwechselnd immer schwindelnder und blinder
mit dem, was schreckt und streckt, und dem, was löst -;
und dann genügt ein Blick: so hat der Inder
dir eine Fremde eingeflößt,
in der du stirbst. Es ist als überstürze
glühender Himmel dich. Es geht ein Sprung
durch dein Gesicht. Es legen sich Gewürze
auf deine nordische Erinnerung,
die dir nichts hilft. Dich feien keine Kräfte,
die Sonne gärt, das Fieber fällt und trifft;
von böser Freude steilen sich die Schäfte,
und in den Schlangen glänzt das Gift.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas II" (1908). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 246-247.
§§
O homem que
contempla
Vejo que as
tempestades vêm aí
pelas árvores
que, à medida que os dias se tomam mornos,
batem nas
minhas janelas assustadas
e ouço as
distâncias dizerem coisas
que não sei
suportar sem um amigo,
que não posso
amar sem uma irmã.
E a tempestade
rodopia, e transforma tudo,
atravessa a
floresta e o tempo
e tudo parece
sem idade:
a paisagem,
como um verso do saltério,
é pujança,
ardor, eternidade.
Que pequeno é
aquilo contra que lutamos,
como é imenso,
o que contra nós luta;
se nos
deixássemos, como fazem as coisas,
assaltar assim
pela grande tempestade, —
chegaríamos
longe e seríamos anônimos.
Triunfamos
sobre o que é Pequeno
e o próprio
êxito torna-nos pequenos.
Nem o Eterno
nem o Extraordinário
serão
derrotados por nós.
Este é o anjo
que aparecia
aos lutadores
do Antigo Testamento:
quando os
nervos dos seus adversários
na luta ficavam
tensos e como metal,
sentia-os ele
debaixo dos seus dedos
como cordas
tocando profundas melodias.
Aquele que
venceu este anjo
que tantas
vezes renunciou à luta.
esse caminha
erecto, justificado,
e sai grande
daquela dura mão
que, como se o
esculpisse, se estreitou à sua volta.
Os triunfos já
não o tentam.
O seu
crescimento é: ser o profundamente vencido
por algo cada
vez maior.
***
Der Schauende
Ich sehe den Bäumen die Stürme an,
die aus laugewordenen Tagen
an meine ängstlichen Fenster schlagen,
und höre die Fernen Dinge sagen,
die ich nicht ohne Freund ertragen,
nicht ohne Schwester lieben kann.
Da geht der Sturm, ein Umgestalter,
geht durch den Wald und durch die Zeit,
und alles ist wie ohne Alter:
Die Landschaft, wie ein Vers im Psalter,
ist Ernst und Wucht und Ewigkeit.
Wie ist das klein, womit wir ringen,
was mit uns ringt, wie ist das groß;
ließen wir, ähnlicher den Dingen,
uns so vom großen Sturm bezwingen, -
wir würden weit und namenlos.
Was wir besiegen, ist das Kleine,
und der Erfolg selbst macht uns klein.
Das Ewige und Ungemeine
will nicht von uns gebogen sein.
Das ist der Engel, der den Ringern
des Alten Testaments erschien:
Wenn seiner Widersacher Sehnen
im Kampfe sich metallen dehnen,
fühlt er sie unter seinen Fingern
wie Saiten tiefer Melodien.
Wen dieser Engel überwand,
welcher so oft auf Kampf verzichtet,
der geht gerecht und aufgerichtet
und groß aus jener harten Hand,
die sich, wie formend, an ihn schmiegte.
Die Siege laden ihn nicht ein.
Sein Wachstum ist: Der Tiefbesiegte
von immer Größerem zu sein.
- Rainer Maria Rilke, em "O Livro das Imagens", (1902).. [tradução Maria João Costa Pereira]. Lisboa: Relógio D’Água, 2005.
Der Schauende
Ich sehe den Bäumen die Stürme an,
die aus laugewordenen Tagen
an meine ängstlichen Fenster schlagen,
und höre die Fernen Dinge sagen,
die ich nicht ohne Freund ertragen,
nicht ohne Schwester lieben kann.
Da geht der Sturm, ein Umgestalter,
geht durch den Wald und durch die Zeit,
und alles ist wie ohne Alter:
Die Landschaft, wie ein Vers im Psalter,
ist Ernst und Wucht und Ewigkeit.
Wie ist das klein, womit wir ringen,
was mit uns ringt, wie ist das groß;
ließen wir, ähnlicher den Dingen,
uns so vom großen Sturm bezwingen, -
wir würden weit und namenlos.
Was wir besiegen, ist das Kleine,
und der Erfolg selbst macht uns klein.
Das Ewige und Ungemeine
will nicht von uns gebogen sein.
Das ist der Engel, der den Ringern
des Alten Testaments erschien:
Wenn seiner Widersacher Sehnen
im Kampfe sich metallen dehnen,
fühlt er sie unter seinen Fingern
wie Saiten tiefer Melodien.
Wen dieser Engel überwand,
welcher so oft auf Kampf verzichtet,
der geht gerecht und aufgerichtet
und groß aus jener harten Hand,
die sich, wie formend, an ihn schmiegte.
Die Siege laden ihn nicht ein.
Sein Wachstum ist: Der Tiefbesiegte
von immer Größerem zu sein.
- Rainer Maria Rilke, em "O Livro das Imagens", (1902).. [tradução Maria João Costa Pereira].
§§
O homem que lê
Eu lia há
muito. Desde que esta tarde
com o seu ruído
de chuva chegou às janelas.
Abstraí-me do
vento lá fora:
o meu livro era
difícil.
Olhei as suas
páginas como rostos
que se
ensombram pela profunda reflexão
e em redor da
minha leitura parava o tempo. —
De repente
sobre as páginas lançou-se uma luz
e em vez da
tímida confusão de palavras
estava: tarde,
tarde... em todas elas.
Não olho ainda
para fora, mas rasgam-se já
as longas
linhas, e as palavras rolam
dos seus fios,
para onde elas querem.
Então sei:
sobre os jardins
transbordantes,
radiantes, abriram-se os céus;
o sol deve ter
surgido de novo. —
E agora cai a
noite de Verão, até onde a vista alcança:
o que está
disperso ordena-se em poucos grupos,
obscuramente,
pelos longos caminhos vão pessoas
e estranhamente
longe, como se significasse algo mais,
ouve-se o pouco
que ainda acontece.
E quando agora
levantar os olhos deste livro,
nada será estranho,
tudo grande.
Aí fora existe
o que vivo dentro de mim
e aqui e mais
além nada tem fronteiras;
apenas me
entreteço mais ainda com ele
quando o meu
olhar se adapta às coisas
e à grave
simplicidade das multidões, —
então a terra
cresce acima de si mesma.
E parece que
abarca todo o céu:
a primeira
estrela é como a última casa.
***
Der Lesende
Ich las schon lang. Seit dieser Nachmittag,
mit Regen rauschend, an den Fenstern lag.
Vom Winde draußen hörte ich nichts mehr:
mein Buch war schwer.
Ich sah ihm in die Blätter wie in Mienen,
die dunkel werden von Nachdenklichkeit,
und um mein Lesen staute sich die Zeit. -
Auf einmal sind die Seiten überschienen,
und statt der bangen Wortverworrenheit
steht: Abend, Abend ... überall auf ihnen;
ich schau noch nicht hinaus, und doch zerreißen
die langen Zeilen, und die Worte rollen
von ihren Fäden fort, wohin sie wollen ...
Da weiß ich es: über den übervollen
glänzenden Gärten sind die Himmel weit;
die Sonne hat noch einmal kommen sollen. -
Und jetzt wird Sommernacht, soweit man sieht:
Zu wenig Gruppen stellt sich das Verstreute,
dunkel auf langen Wegen gehn die Leute,
und seltsam weit, als ob es mehr bedeute,
hört man das Wenige, das noch geschieht.
Und wenn ich jetzt vom Buch die Augen hebe,
wird nichts befremdlich sein und alles groß.
Dort draußen ist, was ich hier drinnen lebe,
und hier und dort ist alles grenzenlos;
nur daß ich mich noch mehr damit verwebe,
wenn meine Blicke an die Dinge passen
und an die ernste Einfachheit der Massen, -
da wächst die Erde über sich hinaus.
Den ganzen Himmel scheint sie zu umfassen:
der erste Stern ist wie das letzte Haus.
- Rainer Maria Rilke, em "O Livro das Imagens", (1902).. [tradução Maria João Costa Pereira]. Lisboa: Relógio D’Água, 2005.
§§
O leitor
Quem pode conhecer esse que o rosto
mergulha de si mesmo em outras vidas,
que só o folhear das páginas corridas
alguma vez atalha a contragosto?
A própria mãe já não veria o seu
filho nesse diverso ele que agora,
servo da sombra, lê. Presos à hora,
como sabermos quanto se perdeu
antes que ele soerga o olhar pesado
de tudo o que no livro se contém,
com olhos, que, doando, contravêm
o mundo já completo e acabado:
como crianças que brincam sozinhas
e súbito descobrem algo a esmo;
mas o rosto, refeito em suas linhas,
nunca mais será o mesmo.
***
Der leser
Wer kennt ihn, diesen, welcher sein Gesicht
wegsenkte aus dem Sein zu einem zweiten,
das nur das schnelle Wenden voller Seiten
manchmal gewaltsam unterbricht?
Selbst seine Mutter wäre nicht gewiss,
ob er es ist, der da mit seinem Schatten
Getränktes liest. Und wir, die Stunden hatten,
was wissen wir, wieviel ihm hinschwand, bis
er mühsam aufsah: alles auf sich hebend,
was unten in dem Buche sich verhielt,
mit Augen, welche, statt zu nehmen, gebend
anstießen an die fertig-volle Welt:
wie stille Kinder, die allein gespielt,
auf einmal das Vorhandene erfahren;
doch seine Züge, die geordnet waren,
blieben für immer umgestellt.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas II" (1908). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 294-295.
Der Lesende
Ich las schon lang. Seit dieser Nachmittag,
mit Regen rauschend, an den Fenstern lag.
Vom Winde draußen hörte ich nichts mehr:
mein Buch war schwer.
Ich sah ihm in die Blätter wie in Mienen,
die dunkel werden von Nachdenklichkeit,
und um mein Lesen staute sich die Zeit. -
Auf einmal sind die Seiten überschienen,
und statt der bangen Wortverworrenheit
steht: Abend, Abend ... überall auf ihnen;
ich schau noch nicht hinaus, und doch zerreißen
die langen Zeilen, und die Worte rollen
von ihren Fäden fort, wohin sie wollen ...
Da weiß ich es: über den übervollen
glänzenden Gärten sind die Himmel weit;
die Sonne hat noch einmal kommen sollen. -
Und jetzt wird Sommernacht, soweit man sieht:
Zu wenig Gruppen stellt sich das Verstreute,
dunkel auf langen Wegen gehn die Leute,
und seltsam weit, als ob es mehr bedeute,
hört man das Wenige, das noch geschieht.
Und wenn ich jetzt vom Buch die Augen hebe,
wird nichts befremdlich sein und alles groß.
Dort draußen ist, was ich hier drinnen lebe,
und hier und dort ist alles grenzenlos;
nur daß ich mich noch mehr damit verwebe,
wenn meine Blicke an die Dinge passen
und an die ernste Einfachheit der Massen, -
da wächst die Erde über sich hinaus.
Den ganzen Himmel scheint sie zu umfassen:
der erste Stern ist wie das letzte Haus.
- Rainer Maria Rilke, em "O Livro das Imagens", (1902).. [tradução Maria João Costa Pereira].
§§
O leitor
Quem pode conhecer esse que o rosto
mergulha de si mesmo em outras vidas,
que só o folhear das páginas corridas
alguma vez atalha a contragosto?
A própria mãe já não veria o seu
filho nesse diverso ele que agora,
servo da sombra, lê. Presos à hora,
como sabermos quanto se perdeu
antes que ele soerga o olhar pesado
de tudo o que no livro se contém,
com olhos, que, doando, contravêm
o mundo já completo e acabado:
como crianças que brincam sozinhas
e súbito descobrem algo a esmo;
mas o rosto, refeito em suas linhas,
nunca mais será o mesmo.
***
Der leser
Wer kennt ihn, diesen, welcher sein Gesicht
wegsenkte aus dem Sein zu einem zweiten,
das nur das schnelle Wenden voller Seiten
manchmal gewaltsam unterbricht?
Selbst seine Mutter wäre nicht gewiss,
ob er es ist, der da mit seinem Schatten
Getränktes liest. Und wir, die Stunden hatten,
was wissen wir, wieviel ihm hinschwand, bis
er mühsam aufsah: alles auf sich hebend,
was unten in dem Buche sich verhielt,
mit Augen, welche, statt zu nehmen, gebend
anstießen an die fertig-volle Welt:
wie stille Kinder, die allein gespielt,
auf einmal das Vorhandene erfahren;
doch seine Züge, die geordnet waren,
blieben für immer umgestellt.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas II" (1908). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 294-295.
§§
O mundo estava no Rosto
O mundo estava no rosto da amada -
e logo converteu-se em nada, em
mundo fora do alcance, mundo-além.
Por que não o bebi quando o encontrei
no rosto amado, um mundo à mão, ali,
aroma em minha boca, eu só seu rei?
Ah, eu bebi. Com que sede eu bebi.
Mas eu também estava pleno de
mundo e, bebendo, eu mesmo transbordei.
***
Welt war in dem Antlitz
Welt war in dem Antlitz der Geliebten —,
aber plötzlich ist sie ausgegossen:
Welt ist draußen, Welt ist nicht zu fassen.
Warum trank ich nicht, da ich es aufhob,
aus dem vollen, dem geliebten Antlitz
Welt, die nah war, duftend meinem Munde ?
Ach, ich trank. Wie trank ich unerschöpflich.
Doch auch ich war angefüllt mit zu viel
Welt, und trinkend ging ich selber über.
- Rainer Maria Rilke, em "Quatro Poemas Esparsos" (1908). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2007.
§§
O poeta
Já te despedes de mim, Hora.
Só: da boca o que faço agora?
Que faço do dia, da noite?
Sem paz, sem amor, sem teto,
caminho pela vida afora.
Tudo aquilo em que ponho afeto
fica mais rico e me devora.
***
Der dichter
Du entfernst dich von mir, du Stunde.
Wunden schlägt mir dein Flügelschlag.
Allein: was soll ich mit meinem Munde?
mit meiner Nacht? mit meinem Tag?
Ich habe keine Geliebte, kein Haus,
keine Stelle auf der ich lebe
Alle Dinge, an die ich mich gebe,
werden reich und geben mich aus.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas I" (1907). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 130-131.
§§
Orfeu. Eurídice. Hermes
Eram as minas ásperas das almas.
Como veios de prata caminhavam
silentes pela treva. Das raízes
brotava o sangue que parece aos vivos,
na treva, duro como pórfiro. Depois
nada mais foi vermelho.
Somente rochas,
bosques imateriais. Pontes sobre o vazio
e o lago imenso, cinza, cego,
que sobre o fundo jaz, distante, como
um céu de chuva sobre uma paisagem.
Por entre os prados, suave, em plena calma,
deitado, como longa veia branca,
via-se o risco pálido da estrada.
Desta única via vinham eles.
À frente o homem com o manto azul,
esguio, olhar em alvo, mudo, inquieto.
Sem mastigar, seu passo devorava a estrada
em grandes tragos; suas mãos pendiam
rígidas, graves, das dobras das vestes
e não sabiam mais da leve lira
que brotava da ilharga como um feixe
de rosas dentre ramos de oliveira.
seus sentidos estavam em discórdia:
o olhar corria adiante como um cão,
voltava presto, e logo andava longe,
parando, alerta, na primeira curva,
mas o ouvido estacava como um faro.
Às vezes parecia-lhe sentir
a lenta caminhada dos dois outros
que o acompanhavam pela mesma senda.
Mas só restava o eco dos seus passos
a subir e do vento no seu manto.
A si mesmo dizia que eles vinham.
Gritava, ouvindo a voz esmorecer.
Eles vinham, os dois, vinham atrás,
em tardo caminhar. Se ele pudesse
voltar-se uma só vez (se contemplá-los
não fosse o fim de todo o empreendimento
nunca antes intentado) então veria
as duas sombras a seguir, silentes:
o deus das longas rotas e mensagens,
o capacete sobre os olhos claros,
o fino caduceu diante do corpo,
um palpitar de asas junto aos pés
e, confiada à mão esquerda: ela.
A mais amada, essa por quem a lira
chorou mais que o chorar das carpideiras,
por quem se ergueu um mundo de chorar,
um mundo com florestas e com vales,
estradas, povos, campos, rios, feras;
um mundo-pranto tendo como o outro
um sol e um céu calado com seus astros,
um céu-pranto de estrelas desconformes -
a mais amada.
Ia guiada pela mão do deus,
o andar tolhido pelas longas vestes,
incerto, tímido, sem pressa .
Ia dentro de si, como esperança,
e não pensava no homem que ia à frente,
nem no caminho que subia aos vivos.
Ia dentro de si. E o dom da morte
dava-lhe plenitude.
Como um fruto em doçura e escuridão,
estava plena em sua grande morte,
tão nova que não tinha entendimento.
Entrar em uma nova adolescência
inviolada. Seu sexo se fechava
como flor em botão ao entardecer
e suas mãos estavam tão distantes
de enlaçar outro ser que mesmo o toque
levíssimo do guia, o deus ligeiro,
a magoava por nímia intimidade.
Não era mais a jovem resplendente
que ecoava nos cantos do poeta,
nem o aroma do leito do casal
nem ilha e propriedade de um só homem.
Estava solta como os seus cabelos,
liberta como a chuva quando cai,
exposta como farta provisão.
Agora era raiz.
E quando enfim o deus
a deteve e, com voz cheia de dor,
disse as palavras: “Ele se voltou.” –
ela não compreendeu e disse: “Quem?”
Mas pouco além, sombrio, frente à clara
saída, se postava alguém, o rosto
já não reconhecível. Esse viu
em meio ao risco branco do caminho
o deus das rotas, com olhar tristonho,
volver-se, mudo, e acompanhar o vulto
que retornava pela mesma via,
o andar tolhido pelas longas vestes,
incerto, tímido, sem pressa.
***
Orpheus. Eurydike. Hermes
Das war der Seelen wunderliches Bergwerk.
Wie stille Silbererze gingen sie
als Adern durch sein Dunkel. Zwischen Wurzeln
entsprang das Blut, das fortgeht zu den Menschen,
und schwer wie Porphyr sah es aus im Dunkel.
Sonst war nichts Rotes.
Felsen waren da
und wesenlose Wälder. Brücken über Leeres
und yener grosse graue blinde Teich,
der über seinem fernem Grunde hing
wie Regenhimmel über einer Landschaft.
Und zwischen Wiesen, sanft und voller Langmut,
erschien des einen Weges blasser Streifen,
wie eine lange Bleiche hingelegt.
Und dieses einen Weges kamen sie.
Voran der schlanke Mann im blauen Mantel,
der stumm und ungedulgig vor sich aussah.
Ohne zu kauen frass sein Schritt den Weg
in grossen Bissen.; seine Hände hingen
schwer und verschlossen aus dem Fall der Falten
und wussten nich mehr von der leichten Leier,
die in die Linke eingewachsen war
wie Rosenranken in den Ast des ölbaums.
Und seine Sinne waren wie entzweit:
indes der Blick ihm wie ein Hund vorauslief,
umkehrte, kam und immer wieder weit
und wartend an der nächsten Wendung stand, —
blieb sein Gehör wie ein Geruch zurück.
Manchmal erschien es ihm als reichte es
bis an das Gehen jener beiden andern,
die folgen sollten diesen ganzen Aufstieg.
Dann wieder wars nur seins Steigens Nachklang
und seines Mantels Wind was hinter ihm war.
Er aber sagte sich, sie kämen doch.;
sagte es laut und hörte sich verhallen.
Sie kämen doch, nur wärens zwei
die furchtbar leise gingen. Dürfte er
sich einmal wenden (wäre das Zurückschaun
nicht die Zersetzung dieses ganzen Werkes,
das erst vollbracht wird), müsste er sie sehen,
die beiden Leisen, die ihm schweigend nachgehn:
Den Gott des Ganges und der weiten Botschaft,
die Reisehaube über hellen Augen,
den schlanken Stab hertragend vor dem Leibe
und flügelschlagend an den Fussgelenken.;
und seiner linken Hand gegeben: sie
Die So-geliebt, dass aus einer Leier
mehr Klage kam als je aus Klagefrauen.;
dass eine Welt aus Klage ward, in der
alles noch einmal da war: Wald und Tal
und Weg und Ortschaft, Feld und Fluss und Tier.;
und dass um diese Klage-Welt, ganz so
wie um die andre Erde, eine Sonne
und ein gestirnter stiller Himmel ging,
ein Klage-Himmel mit entstellten Sternen —
Diese So-geliebt.
Sie aber ging an jenes Gottes Hand,
den Schritt beschränkt von langen Leichenbändern,
unsicher, sanft und ohne Ungeduld.
Sie war in sich, wie Eine hoher Hoffnung,
und dachte nicht des Mannes, der voranging,
und nicht des Weges, der ins Legen aufstieg.
Sie war in sich. Und ihr Gestorbensein
erfüllte sie wie Fülle.
Wie eine Frucht von Süssigkeit und Dunkel,
so war sie voll von ihrem grossen Tode,
der also neu war, dass sie nichts begriff.
Sie war in einem neuen Mädchentum
und unberührbar.; ihr Geschlecht war zu
wie eine junge Blume gegen Abend,
und ihre Hände waren der Vermählung
so sehr entwöhnt, dasss selbst des leichten Gottes
unendlich leise, leitende Berührung
sie kränkte wie zu sehr Vertraulichkeit.
Sie war schon nicht mehr diese blonde Frau,
die in des Dichters Liedern manchmal anklang,
nicht mehr des breiten Bettes Duft und Eiland
und jenes Mannes Eigentum nicht mehr.
Sie war schon aufgelöst wie langes Haar
und hingegeben wie gefallner Regen
und ausgeteilt wie hundertfacher Vorrat.
Sie war schon Wurzel.
Und als plötzlich jäh
der Gott sie anhielt und mit Schmerz im Ausruf
die Worte sprach: Er hat sich umgewendet —,
begriff sie nichts und sagte leise: Wer?
Fern aber, dunkel vor dem klaren Ausgang,
stand irgend jemand, dessen Angesicht
nicht zu erkennen war. Er stand und sah,
wie auf dem Streifen eines Wiesenpfades
mit trauervollem Blick der Gott der Botschaft
sich schweigend wandte, der Gestalt zu folgen,
die schon zurückging dieses selben Weges,
den Schritt beschränkt von langen Leichenbändern,
unsicher, sanft und ohne Ungeduld.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas I" (1907). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013.
§§
Os cântaros
Ó boca de fonte, doadora, ó boca
que inexaurível dizes uma só coisa, pura, -
tu, máscara de mármore ante a face
fluida da água. E no plano de fundo
a origem dos aquedutos. De longe, passando
junto aos túmulos, da vertente do Apenino
trazem-te a tua fala, que então
pelo negro envelhecer do queixo
passa e cai na concha em tua frente.
Esta é a orelha jacente e adormecida,
a orelha de mármore pra que falas sempre.
Uma orelha da Terra. Apenas pra si só
ela fala assim. Interpõe-se um cântaro,
parece-lhe que estás a interrompê-la.
***
XV - O Brunnen-Mund, du gebender, du Mund
O Brunnen-Mund, du gebender, du Mund,
der unerschöpflich Eines, Reines, spricht, -
du, vor des Wassers fließendem Gesicht,
marmorne Maske. Und im Hintergrund
der Aquädukte Herkunft. Weither an
Gräbern vorbei, vom Hang des Apennins
tragen sie dir dein Sagen zu, das dann
am schwarzen Altern deines Kinns
vorüberfällt in das Gefäß davor.
Dies ist das schlafend hingelegte Ohr,
das Marmorohr, in das du immer sprichst.
Ein Ohr der Erde. Nur mit sich allein
redet sie also. Schiebt ein Krug sich ein,
so scheint es ihr, daß du sie unterbrichst.
- Rainer Maria Rilke, em "Sonetos a Orfeu" (1923).. in: RILKE, Rainer Maria. Poemas, As elegias de Duíno e Sonetos a Orfeu. [tradução Paulo Quintela]. Lisboa: Editora O Oiro do Dia, 1983.
§§
O solitário
Não: uma torre
se erguerá do fundo
do coração e eu
estarei à borda:
onde não há
mais nada, ainda acorda
o indizível, a
dor, de novo o mundo.
Ainda uma
coisa, só, no imenso mar
das coisas, e
uma luz depois do escuro,
um rosto
extremo do desejo obscuro
exilado em um
nunca-apaziguar,
ainda um rosto
de pedra, que só sente
a gravidade
interna, de tão denso:
as distâncias
que o extinguem lentamente
tornam seu
júbilo ainda mais intenso.
***
Der Einsame
Wie einer, der auf fremden Meeren fuhr,
so bin ich bei den ewig Einheimischen;
die vollen Tage stehn auf ihren Tischen,
mir aber ist die Ferne voll Figur.
In mein Gesicht reicht eine Welt herein,
die vielleicht unbewohnt ist wie ein Mond,
sie aber lassen kein Gefühl allein,
und alle ihre Worte sind bewohnt.
Die Dinge, die ich weither mit mir nahm,
sehn selten aus, gehalten an das Ihre -:
in ihrer großen Heimat sind sie Tiere,
hier halten sie den Atem an vor Scham.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas II" (1907). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 292-293.
§§
Para recitar antes de adormecer
Eu queria cantar para dentro de alguém,
sentar-me junto de alguém e estar aí.
Eu queria embalar-te e cantar-te mansamente
e acompanhar-te ao despertares e ao adormeceres.
Queria ser o único na casa
a saber: a noite estava fria.
E queria escutar dentro e fora
de ti, do mundo, da floresta.
Os relógios chamam-se anunciando as horas
e vê-se o fundo o tempo.
E em baixo ainda passa um estranho
e acirra um cão desconhecido.
Depois regressa o silêncio. Os meus olhos,
muito abertos, pousaram em ti;
e prendem-te docemente e libertam-te
quando algo se move na escuridão.
Der Einsame
Wie einer, der auf fremden Meeren fuhr,
so bin ich bei den ewig Einheimischen;
die vollen Tage stehn auf ihren Tischen,
mir aber ist die Ferne voll Figur.
In mein Gesicht reicht eine Welt herein,
die vielleicht unbewohnt ist wie ein Mond,
sie aber lassen kein Gefühl allein,
und alle ihre Worte sind bewohnt.
Die Dinge, die ich weither mit mir nahm,
sehn selten aus, gehalten an das Ihre -:
in ihrer großen Heimat sind sie Tiere,
hier halten sie den Atem an vor Scham.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas II" (1907). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 292-293.
§§
Para recitar antes de adormecer
Eu queria cantar para dentro de alguém,
sentar-me junto de alguém e estar aí.
Eu queria embalar-te e cantar-te mansamente
e acompanhar-te ao despertares e ao adormeceres.
Queria ser o único na casa
a saber: a noite estava fria.
E queria escutar dentro e fora
de ti, do mundo, da floresta.
Os relógios chamam-se anunciando as horas
e vê-se o fundo o tempo.
E em baixo ainda passa um estranho
e acirra um cão desconhecido.
Depois regressa o silêncio. Os meus olhos,
muito abertos, pousaram em ti;
e prendem-te docemente e libertam-te
quando algo se move na escuridão.
***
Zum Einschlafen zu sagen
Ich möchte jemanden einsingen,
bei jemandem sitzen und sein.
Ich möchte dich wiegen und kleinsingen
und begleiten schlafaus und schlafein.
Ich möchte der Einzige sein im Haus,
der wüßte: die Nacht war kalt.
Und möchte horchen herein und hinaus
in dich, in die Welt, in den Wald.
Die Uhren rufen sich schlagend an,
und man sieht der Zeit auf den Grund.
Und unten geht noch ein fremder Mann
und stört einen fremden Hund.
Dahinter wird Stille. Ich habe groß
die Augen auf dich gelegt;
und sie halten dich sanft und lassen dich los,
wenn ein Ding sich im Dunkel bewegt.
- Rainer Maria Rilke, em "O livro das imagens" (1902).[tradução de Maria João Costa Pereira]. Lisboa: Relógio D’Água, 2005.
§§
Primeira Elegia
Quem, se eu gritasse, entre as legiões de Anjos
me ouviria? E mesmo que um deles me tomasse
inesperadamente em seu coração, aniquilar-me-ia
sua existência demasiado forte. Pois que é o Belo
senão o grau do Terrível que ainda suportamos
e que admiramos porque, impassível, desdenha
destruir-nos? Todo Anjo é terrível.
E eu me contenho, pois, e reprimo o apelo
do meu soluço obscuro. Ai, quem nos poderia
valer? Nem anjos, nem homens
e o intuitivo animal logo adverte
que para nós não há amparo
neste mundo definido. Resta-nos, quem sabe,
a árvore de alguma colina, que podemos rever
cada dia; resta-nos a rua de ontem
e o apego cotidiano de algum hábito
que se afeiçoou a nós e permaneceu.
E a noite, a noite, quando o vento pleno dos espaços
do mundo desgastar-nos a face — a quem se furtaria ela,
a desejada, ternamente enganosa, sobressalto para o
coração solitário? Será mais leve para os que amam?
Ai, apenas ocultam eles, um ao outro, seu destino.
Não o sabias? Arroja o vácuo aprisionado em teus braços
para os espaços que respiramos — talvez os pássaros
sentirão o ar mais dilatado, num vôo mais comovido.
(…)
***
Die Erste Elegie
Wer, wenn ich schriee, hörte mich denn aus der Engel
Ordnungen? und gesetzt selbst, es nähme
einer mich plötzlich ans Herz: ich verginge von seinem
stärkeren Dasein. Denn das Schöne ist nichts
als des Schrecklichen Anfang, den wir noch grade ertragen,
und wir bewundern es so, weil es gelassen verschmäht,
uns zu zerstören. Ein jeder Engel ist schrecklich.
Und so verhalt ich mich denn und verschlucke den Lockruf
dunkelen Schluchzens. Ach, wen vermögen
wir denn zu brauchen? Engel nicht, Menschen nicht,
und die findigen Tiere merken es schon,
daß wir nicht sehr verläßlich zu Haus sind
in der gedeuteten Welt. Es bleibt uns vielleicht
irgend ein Baum an dem Abhang, daß wir ihn täglich
wiedersähen; es bleibt uns die Straße von gestern
und das verzogene Treusein einer Gewohnheit,
der es bei uns gefiel, und so blieb sie und ging nicht.
O und die Nacht, die Nacht, wenn der Wind voller Weltraum
uns am Angesicht zehrt -, wem bliebe sie nicht, die ersehnte,
sanft enttäuschende, welche dem einzelnen Herzen
mühsam bevorsteht. Ist sie den Liebenden leichter?
Ach, sie verdecken sich nur mit einander ihr Los.
Weißt du's noch nicht? Wirf aus den Armen die Leere
zu den Räumen hinzu, die wir atmen; vielleicht daß die Vögel
die erweiterte Luft fühlen mit innigerm Flug.
(…)
- Rainer Maria Rilke, in "Elegias de Duíno – Rainer Maria Rilke". [tradução Dora Ferreira da Silva]. São Paulo: Globo, 1991.
§§
Recordação
E tu esperas, aguardas a única coisa
que aumentaria infinitamente a tua vida;
o poderoso, o extraordinário,
o despertar das pedras,
os abismos com que te deparas.
Nas estantes brilham
os volumes em castanho e ouro;
e tu pensas em países viajados,
em quadros, nas vestes
de mulheres encontradas e já perdidas.
E então de súbito sabes: era isso.
Ergues-te e diante de ti estão
angústia e forma e oração
de certo ano que passou.
***
Erinnerung
Und du wartest, erwartest das Eine,
das dein Leben unendlich vermehrt;
das Mächtige, Ungemeine,
das Erwachen der Steine,
Tiefen, dir zugekehrt.
Es dämmern im Bücherständer
die Bände in Gold und Braun;
und du denkst an durchfahrene Länder,
an Bilder, an die Gewänder
wiederverlorener Fraun.
Und da weißt du auf einmal: das war es.
Du erhebst dich, und vor dir steht
eines vergangenen Jahres
Angst und Gestalt und Gebet.
- Rainer Maria Rilke, em "O livro das imagens" (1902).[tradução de Maria João Costa Pereira]. Lisboa: Relógio D’Água, 2005.
§§
São Sebastião
Como alguém que jazesse, está de pé,
sustentado por sua grande fé.
Como mãe que amamenta, a tudo alheia,
grinalda que a si mesma se cerceia.
E as setas chegam: de espaço em espaço,
como se de seu corpo desferidas,
tremendo em suas pontas soltas de aço.
Mas ele ri, incólume, às feridas.
Num só passo a tristeza sobrevém
e em seus olhos desnudos se detém,
até que a neguem, como bagatela,
e como se poupassem com desdém
os destrutores de uma coisa bela.
***
Sankt Sebastian
Wie ein Liegender so steht er, ganz
hingehalten von dem großen Willen.
Weitentrückt wie Mütter, wenn sie stillen,
und in sich gebunden wie ein Kranz.
Und die Pfeile kommen: jetzt und jetzt
als sprängen sie aus seinen Lenden,
eisern bebend mit den freien Enden.
Doch er lächelt dunkel, unverletzt.
Einmal nur wird seine Trauer groß,
und die Augen liegen schmerzlich bloß,
bis sie etwas leugnen, wie Geringes,
und ließen sie verächtlich los
die Vernichter eines schönen Dinges.
§§
Zum Einschlafen zu sagen
Ich möchte jemanden einsingen,
bei jemandem sitzen und sein.
Ich möchte dich wiegen und kleinsingen
und begleiten schlafaus und schlafein.
Ich möchte der Einzige sein im Haus,
der wüßte: die Nacht war kalt.
Und möchte horchen herein und hinaus
in dich, in die Welt, in den Wald.
Die Uhren rufen sich schlagend an,
und man sieht der Zeit auf den Grund.
Und unten geht noch ein fremder Mann
und stört einen fremden Hund.
Dahinter wird Stille. Ich habe groß
die Augen auf dich gelegt;
und sie halten dich sanft und lassen dich los,
wenn ein Ding sich im Dunkel bewegt.
- Rainer Maria Rilke, em "O livro das imagens" (1902).[tradução de Maria João Costa Pereira]. Lisboa: Relógio D’Água, 2005.
§§
Primeira Elegia
Quem, se eu gritasse, entre as legiões de Anjos
me ouviria? E mesmo que um deles me tomasse
inesperadamente em seu coração, aniquilar-me-ia
sua existência demasiado forte. Pois que é o Belo
senão o grau do Terrível que ainda suportamos
e que admiramos porque, impassível, desdenha
destruir-nos? Todo Anjo é terrível.
E eu me contenho, pois, e reprimo o apelo
do meu soluço obscuro. Ai, quem nos poderia
valer? Nem anjos, nem homens
e o intuitivo animal logo adverte
que para nós não há amparo
neste mundo definido. Resta-nos, quem sabe,
a árvore de alguma colina, que podemos rever
cada dia; resta-nos a rua de ontem
e o apego cotidiano de algum hábito
que se afeiçoou a nós e permaneceu.
E a noite, a noite, quando o vento pleno dos espaços
do mundo desgastar-nos a face — a quem se furtaria ela,
a desejada, ternamente enganosa, sobressalto para o
coração solitário? Será mais leve para os que amam?
Ai, apenas ocultam eles, um ao outro, seu destino.
Não o sabias? Arroja o vácuo aprisionado em teus braços
para os espaços que respiramos — talvez os pássaros
sentirão o ar mais dilatado, num vôo mais comovido.
(…)
***
Die Erste Elegie
Wer, wenn ich schriee, hörte mich denn aus der Engel
Ordnungen? und gesetzt selbst, es nähme
einer mich plötzlich ans Herz: ich verginge von seinem
stärkeren Dasein. Denn das Schöne ist nichts
als des Schrecklichen Anfang, den wir noch grade ertragen,
und wir bewundern es so, weil es gelassen verschmäht,
uns zu zerstören. Ein jeder Engel ist schrecklich.
Und so verhalt ich mich denn und verschlucke den Lockruf
dunkelen Schluchzens. Ach, wen vermögen
wir denn zu brauchen? Engel nicht, Menschen nicht,
und die findigen Tiere merken es schon,
daß wir nicht sehr verläßlich zu Haus sind
in der gedeuteten Welt. Es bleibt uns vielleicht
irgend ein Baum an dem Abhang, daß wir ihn täglich
wiedersähen; es bleibt uns die Straße von gestern
und das verzogene Treusein einer Gewohnheit,
der es bei uns gefiel, und so blieb sie und ging nicht.
O und die Nacht, die Nacht, wenn der Wind voller Weltraum
uns am Angesicht zehrt -, wem bliebe sie nicht, die ersehnte,
sanft enttäuschende, welche dem einzelnen Herzen
mühsam bevorsteht. Ist sie den Liebenden leichter?
Ach, sie verdecken sich nur mit einander ihr Los.
Weißt du's noch nicht? Wirf aus den Armen die Leere
zu den Räumen hinzu, die wir atmen; vielleicht daß die Vögel
die erweiterte Luft fühlen mit innigerm Flug.
(…)
- Rainer Maria Rilke, in "Elegias de Duíno – Rainer Maria Rilke". [tradução Dora Ferreira da Silva]. São Paulo: Globo, 1991.
§§
Recordação
E tu esperas, aguardas a única coisa
que aumentaria infinitamente a tua vida;
o poderoso, o extraordinário,
o despertar das pedras,
os abismos com que te deparas.
Nas estantes brilham
os volumes em castanho e ouro;
e tu pensas em países viajados,
em quadros, nas vestes
de mulheres encontradas e já perdidas.
E então de súbito sabes: era isso.
Ergues-te e diante de ti estão
angústia e forma e oração
de certo ano que passou.
***
Erinnerung
Und du wartest, erwartest das Eine,
das dein Leben unendlich vermehrt;
das Mächtige, Ungemeine,
das Erwachen der Steine,
Tiefen, dir zugekehrt.
Es dämmern im Bücherständer
die Bände in Gold und Braun;
und du denkst an durchfahrene Länder,
an Bilder, an die Gewänder
wiederverlorener Fraun.
Und da weißt du auf einmal: das war es.
Du erhebst dich, und vor dir steht
eines vergangenen Jahres
Angst und Gestalt und Gebet.
- Rainer Maria Rilke, em "O livro das imagens" (1902).[tradução de Maria João Costa Pereira]. Lisboa: Relógio D’Água, 2005.
§§
São Sebastião
Como alguém que jazesse, está de pé,
sustentado por sua grande fé.
Como mãe que amamenta, a tudo alheia,
grinalda que a si mesma se cerceia.
E as setas chegam: de espaço em espaço,
como se de seu corpo desferidas,
tremendo em suas pontas soltas de aço.
Mas ele ri, incólume, às feridas.
Num só passo a tristeza sobrevém
e em seus olhos desnudos se detém,
até que a neguem, como bagatela,
e como se poupassem com desdém
os destrutores de uma coisa bela.
***
Sankt Sebastian
Wie ein Liegender so steht er, ganz
hingehalten von dem großen Willen.
Weitentrückt wie Mütter, wenn sie stillen,
und in sich gebunden wie ein Kranz.
Und die Pfeile kommen: jetzt und jetzt
als sprängen sie aus seinen Lenden,
eisern bebend mit den freien Enden.
Doch er lächelt dunkel, unverletzt.
Einmal nur wird seine Trauer groß,
und die Augen liegen schmerzlich bloß,
bis sie etwas leugnen, wie Geringes,
und ließen sie verächtlich los
die Vernichter eines schönen Dinges.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas I" (1907). In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 124-125.
Solidão
A solidão é
como uma chuva.
Ergue-se do mar
ao encontro das noites;
de planícies
distantes e remotas
sobe ao céu,
que sempre a guarda.
E do céu tomba
sobre a cidade.
Cai como chuva
nas horas ambíguas,
quando todas as
vielas se voltam para a manhã
e quando os
corpos, que nada encontraram,
desiludidos e
tristes se separam;
e quando
aqueles que se odeiam
têm de dormir
juntos na mesma cama:
então, a
solidão vai com os rios...
***
Einsamkeit
Die Einsamkeit ist wie ein Regen.
Sie steigt vom Meer den Abenden entgegen;
von Ebenen, die fern sind und entlegen,
geht sie zum Himmel, der sie immer hat.
Und erst vom Himmel fällt sie auf die Stadt.
Regnet hernieder in den Zwitterstunden,
wenn sich nach Morgen wenden alle Gassen
und wenn die Leiber, welche nichts gefunden,
enttäuscht und traurig von einander lassen;
und wenn die Menschen, die einander hassen,
in einem Bett zusammen schlafen müssen:
dann geht die Einsamkeit mit den Flüssen...
- Rainer Maria Rilke, em "O Livro das Imagens", (1902).. [tradução Maria João Costa Pereira]. Lisboa: Relógio D’Água, 2005.
Einsamkeit
Die Einsamkeit ist wie ein Regen.
Sie steigt vom Meer den Abenden entgegen;
von Ebenen, die fern sind und entlegen,
geht sie zum Himmel, der sie immer hat.
Und erst vom Himmel fällt sie auf die Stadt.
Regnet hernieder in den Zwitterstunden,
wenn sich nach Morgen wenden alle Gassen
und wenn die Leiber, welche nichts gefunden,
enttäuscht und traurig von einander lassen;
und wenn die Menschen, die einander hassen,
in einem Bett zusammen schlafen müssen:
dann geht die Einsamkeit mit den Flüssen...
- Rainer Maria Rilke, em "O Livro das Imagens", (1902).. [tradução Maria João Costa Pereira].
§§
Soneto
(à Franz Kappus)
sem suspiro, uma dor muito sombria.
Só dos sonhos a nívea floração
é a festa de algum mais tranqüilo dia.
Tanta vez a grande interrogação
se me depara! Encolho-me, e com fria
timidez passo, como passaria
por bravo mar, sem aproximação.
Desce, então, sobre mim, turva amargura
como esses céus cinzentos de verão
Onde uma estrela às vezes estremece.
Tateantes, minhas mãos vão à procura
do amor, buscam palavras da oração
Que meu lábio deseja e não conhece.
***
Sonnet
(Franz Kappus)
Meiner Träume reiner Blütenschnee
ist die Weihe menier stillsten Tage.
Öfter aber kreuzt die große Frage
Meinen Pfad. Ich werde klein und geh
kalt vorüber wie an einem See,
dessen Flut ich nicht zu messen wage.
Und dann sinkt win Leid auf mich, so trüble
wie das Grau galanzarmer Sommernächte,
die ein Stern durchflimmert – dann und wann – :
Mein Hände tasten dann nach Liebe,
weil ich gerne Laute beten möchte,
die mein heißer Mund nicht finden kann…
- Rainer Maria Rilke, em "Carta nº 7' - Cartas a um jovem poeta." [tradução Paulo Rónai]. in: RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. A canção de amor e de morte do porta-estandarte Cristóvão Rilke. [tradução Paulo Rónai e Cecília Meireles]. 22ª ed., São Paulo: Globo, 1995.
Sonnet
(Franz Kappus)
Durch mein Leben Zittert ohne Klage,
ohne Seufzer ein tiefdunkles WehMeiner Träume reiner Blütenschnee
ist die Weihe menier stillsten Tage.
Öfter aber kreuzt die große Frage
Meinen Pfad. Ich werde klein und geh
kalt vorüber wie an einem See,
dessen Flut ich nicht zu messen wage.
Und dann sinkt win Leid auf mich, so trüble
wie das Grau galanzarmer Sommernächte,
die ein Stern durchflimmert – dann und wann – :
Mein Hände tasten dann nach Liebe,
weil ich gerne Laute beten möchte,
die mein heißer Mund nicht finden kann…
- Rainer Maria Rilke, em "Carta nº 7' - Cartas a um jovem poeta." [tradução Paulo Rónai]. in: RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. A canção de amor e de morte do porta-estandarte Cristóvão Rilke. [tradução Paulo Rónai e Cecília Meireles]. 22ª ed., São Paulo: Globo, 1995.
§§
Soneto XXI
Eis outra vez a
Primavera. A Terra
é um menino que
sabe dizer versos;
tantos, oh
tantos... Por aquele esforço
de longo estudo
vai receber um prêmio.
Severo foi o
mestre. Nós gostávamos
da brancura da
barba daquele velho.
Agora podemos
perguntar o nome
do verde, o
azul: ela sabe, ela sabe!
Terra feliz, em
férias, brinca agora
co′as crianças.
Queremos agarrar-te,
Terra alegre. A
mais jovial consegue-o.
Oh, o muito em
que o mestre as instruiu
e o impresso
nas raízes e nos longos
troncos
difíceis: ela o canta, canta!
***
XXI. Sonett
Singe die Gärten, mein Herz, die du nicht kennst; wie in Glas
eingegossene Gärten, klar, unerreichbar.
Wasser und Rosen von Ispahan oder Schiras,
singe sie selig, preise sie, keinem vergleichbar.
Zeige, mein Herz, daß du sie niemals entbehrst.
Daß sie dich meinen, ihre reifenden Feigen.
Daß du mit ihren, zwischen den blühenden Zweigen
wie zum Gesicht gesteigerten Lüften verkehrst.
Meide den Irrtum, daß es Entbehrungen gebe
für den geschehnen Entschluß, diesen: zu sein!
Seidener Faden, kamst du hinein ins Gewebe.
Welchem der Bilder du auch im Innern geeint bist
(sei es selbst ein Moment aus dem Leben der Pein),
fühl, daß der ganze, der rühmliche Teppich gemeint ist.
- Rainer Maria Rilke, em "Sonetos a Orfeu" (1923).. in: RILKE, Rainer Maria. Poemas, as elegias de Duíno e Sonetos a Orfeu. [tradução Paulo Quintela]. Lisboa: Editora O Oiro do Dia, 1983.
§§
Torso arcaico de Apolo
Não conhecemos a sua cabeça inaudita
Onde as pupilas amadureciam. Mas
Seu torso brilha ainda como um candelabro
No qual o seu olhar, sobre si mesmo voltado
Detém-se e brilha. Do contrário não poderia
Seu mamilo cegar-te e nem à leve curva
Dos rins poderia chegar um sorriso
Até aquele centro, donde o sexo pendia.
De outro modo ergue-se-ia esta pedra breve e mutilada
Sob a queda translúcida dos ombros
E não tremeria assim, como pele selvagem.
E nem explodiria para além de todas as suas fronteiras
Tal como uma estrela. Pois nela não há lugar
Que não te mire: precisas mudar de vida.
***
Archaïscher Torso Apollos
Wir kannten nicht sein unerhörtes Haupt,
darin die Augenäpfel reiften. Aber
sein Torso glüht noch wie ein Kandelaber,
in dem sein Schauen, nur zurückgeschraubt,
sich hält und glänzt. Sonst könnte nicht der Bug
der Brust dich blenden, und im leisen Drehen
der Lenden könnte nicht ein Lächeln gehen
zu jener Mitte, die die Zeugung trug.
Sonst stünde dieser Stein entstellt und kurz
unter der Schultern durchsichtigem Sturz
und flimmerte nicht so wie Raubtierfelle;
und bräche nicht aus allen seinen Rändern
aus wie ein Stern: denn da ist keine Stelle,
die dich nicht sieht. Du mußt dein Leben ändern.
- Rainer Maria Rilke, em "Outra parte dos novos poemas" (1926). in: FAUSTINO, Mário. Poesia completa e traduzida. [Org. Benedito Nunes]. São Paulo: Max Limonard, 1985, p.262-263.
§§
Tumbas das Hetairas
Em seus longos cabelos elas jazem,
rostos escuros, encerrados em si mesmos,
olhos cerrados como se distantes.
Esqueletos e bocas, flores. E nas bocas
dentes polidos, como num xadrez de bolso,
peças enfileiradas em marfim.
Flores, pérolas amarelas, ossos finos
e mãos e mantas, murchas vestimentas,
e lá no fundo, o coração cravado.
Mas sob anéis e talismãs e pedras
de olhos azuis (regalos preferidos),
ainda resta, em sua cripta, o sexo mudo,
cumulado de pétalas de flores.
Pérolas amarelas, ainda, esparsas,—
pratos de terracota, curvos, adornados
de suas imagens, cacos verdoengos
de jarras de óleo olentes como flores,
miniaturas de deuses e altares,
céus de hetairas, deuses desejantes.
Cintos soltos, escaravelhos-pedras,
vultos pequenos com enormes falos,
boca ridente, atletas, dançarinas,
fíbulas de ouro, como arcos de caça
para amuletos de animais e pássaros,
e agulhas finas, utensílios raros,
e sobre um vaso circular, vermelho,
como a negra inscrição de algum portal,
as pernas rígidas de uma quadriga.
De novo flores, perólas roladas,
as ancas lisas da pequena lira,
e dentre os véus que caem como névoa,
como se de crisálidas-sandálias:
a borboleta leve de um artelho.
Jazem assim, acúmulo de coisas,
coisas preciosas, pedras, jóias, jogos,
bagatelas (caidas sobre elas)
no escuro, como se o leito de um rio.
Pois elas foram rios,
e em ondas breves e velozes, nelas,
precipitaram-se os corpos de jovens
(que ansiavam só por uma vida nova)
e torrentes de homens irromperam.
E às vezes os meninos das colinas
da infância vinham em tímidas quedas,
brincavam com as coisas até quando
a cachoeira enchia os seus sentidos:
Então davam à água rasa e clara
toda a extensão dos cursos expansivos
e enfrentavam remoinhos e águas fundas,
refletindo, pela primeira vez, as margens
e a voz dos pássaros ao longe —, e as noites
estelares de um país ameno abriam
um céu que nunca mais se fecharia.
***
Hetären-Gräber
In ihren langen Haaren liegen sie
mit braunen, tief in sich gegangenen Gesichtern.
Die Augen zu wie vor zu vieler Ferne.
Skelette, Munde, Blumen. In den Munden
die glatten Zähne wie ein Reise-Schachspiel
aus Elfenbein in Reihen aufgestellt.
Und Blumen, gelbe Perlen, schlanke Knochen,
Hände und Hemden, welkende Gewebe
über dem eingestürzten Herzen. Aber
dort unter jenen Ringen, Talismanen
und augenblauen Steinen (Lieblings-Angedenken)
steht noch die stille Krypta des Geschlechtes,
bis an die Wölbung voll mit Blumenblättern.
Und wieder gelbe Perlen, weitverrollte, –
Schalen gebrannten Tones, deren Bug
ihr eignes Bild geziert hat, grüne Scherben
von Salben-Vasen, die wie Blumen duften,
und Formen kleiner Götter: Hausaltäre,
Hetärenhimmel mit entzückten Göttern.
Gesprengte Gürtel, flache Skarabäen,
kleine Figuren riesigen Geschlechtes,
ein Mund der lacht und Tanzende und Läufer,
goldene Fibeln, kleinen Bogen ähnlich
zur Jagd auf Tier- und Vogelamulette,
und lange Nadeln, zieres Hausgeräte
und eine runde Scherbe roten Grundes,
darauf, wie eines Eingangs schwarze Aufschrift,
die straffen Beine eines Viergespannes.
Und wieder Blumen, Perlen, die verrollt sind,
die hellen Lenden einer kleinen Leier,
und zwischen Schleiern, die gleich Nebeln fallen,
wie ausgekrochen aus des Schuhes Puppe:
des Fußgelenkes leichter Schmetterling.
So liegen sie mit Dingen angefüllt,
kostbaren Dingen, Steinen, Spielzeug, Hausrat,
zerschlagnem Tand (was alles in sie abfiel),
und dunkeln wie der Grund von einem Fluss.
Flussbetten waren sie,
darüber hin in kurzen schnellen Wellen
(die weiter wollten zu dem nächsten Leben)
die Leiber vieler Jünglinge sich stürzten
und in denen der Männer Ströme rauschten.
Und manchmal brachen Knaben aus den Bergen
der Kindheit, kamen zagen Falles nieder
und spielten mit den Dingen auf dem Grunde,
bis das Gefälle ihr Gefühl ergriff:
Dann füllten sie mit flachem klarem Wasser
die ganze Breite dieses breiten Weges
und trieben Wirbel an den tiefen Stellen;
und spiegelten zum ersten Mal die Ufer
und ferne Vogelrufe –, während hoch
die Sternennächte eines süßen Landes
in Himmel wuchsen, die sich nirgends schlossen.
- Rainer Maria Rilke, em "Novos poemas I". In: CAMPOS, Augusto de (organização e tradução). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 166-167.
§§
Fragmento de Rainer Maria Rilke
'intradução', do poeta Augusto de Campos
Rosa de Rilke. [tradução Augusto de Campos]. 2004. |
FORTUNA CRÍTICA RAINER MARIA RILKE
[Estudos acadêmicos: livros, teses, dissertações, monografias, ensaios e artigos]
Rainer Maria Rilke, por (....) |
ABREU, Paulo Plínio. Poesia. 2ª ed.m Belém: EDUFPA, 2008.
AGUIAR,
Melânia Silva de; LOBO, Suely Maria
de Paula e Silva; MELLER, Lauro
Wanderley. Rilke, poeta superlativo, e os
modernos: uma introdução. In: AGUIAR, Melânia Silva de; LOBO, Suely Maria
de Paula e Silva (Org.).. (Org.). Poesia, tradição e modernidade:
interlocuções. Belo Horizonte: Veredas & Cenários, 2008, v. , p. 129-148.
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***
ELEGIAS DE DUÍNO
- 1ª carta -
Rainer Maria Rilke , por Helmut Westhoff (1901) |
Quem se eu
gritasse, me ouviria pois entre as ordens
Dos anjos? E
dado mesmo que me tomasse
Um deles de
repente em seu coração, eu sucumbiria
Ante sua
existência mais forte. Pois o belo não é
Senão o início
do terrível, que já a custo suportamos,
E o admiramos
tanto porque ele tranqüilamente desdenha
Destruir-nos.
Cada anjo é terrível.
E assim me
contenho pois, e reprimo o apelo
De obscuro
soluço. Ah! A quem podemos
Recorrer então?
Nem aos anjos nem aos homens,
E os animais
sagazes logo percebem
Que não estamos
muito seguros
No mundo
interpretado. Resta-nos talvez
Alguma árvore
na encosta que diariamente
Possamos rever.
Resta-nos a rua de ontem
E a mimada
fidelidade de um hábito,
Que se compraz
conosco e assim fica e não nos abandona.
Ó e a noite, a
noite, quando o vento cheio dos espaços
Do mundo
desgasta-nos o rosto -, para quem ela não é /sempre a desejada,
Levemente
decepcionante, que para o solitário coração
Se impõe
penosamente. Ela é mais leve para os amantes?
Ah! Eles
escondem apenas um com o outro a própria sorte.
Não o sabes
ainda? Atira dos braços o vazio
Para os espaços
que respiramos; talvez que os pássaros
Sintam o ar
mais vasto num vôo mais íntimo.
Sim, as
primaveras precisavam de ti.Muitas estrelas
Esperavam que
tu as percebesses. Do passado
Erguia-se uma
vaga aproximando-se, ou
Ao passares sob
uma janela aberta,
Um violino se
entregava. Tudo isso era missão.
Mas a levaste
ao fim? Não estavas sempre
Distraído pela
espera, como se tudo te ansiasse
A bem amada?
(onde queres abrigá-la
Então, se os
grandes e estranhos pensamentos entram
E saem em ti e
muitas vezes ficam pela noite.)
Se a nostalgia
te dominar, porém, cantas as amantes; muito
Ainda falta
para ser bastante imortal seu celebrado sentimento.
Aquelas que tu
quase invejaste, as desprezadas, que tu
Achaste muito
mais amorosas que as apaziguadas. Começa
Sempre de novo
o louvor jamais acessível;
Pensa: o herói
se conserva, mesmo a queda lhe foi
Apenas um
pretexto para ser : o seu derradeiro nascimento.
As amantes,
porém, a natureza exausta as toma
Novamente em
si, como se não houvesse duas vezes forças para realizá-las.
Já pensaste
pois em Gaspara Stampa
O bastante para
que alguma jovem,
A quem o amante
abandonou, diante do elevado exemplo
Dessa
apaixonada, sinta o desejo de tornar-se como ela?
Essas
velhíssimas dores afinal não se devem tornar
Mais fecundas
para nós? Não é tempo de nos libertarmos,
Amando, do
objeto amado e a ele tremendo resistirmos Como a flecha suporta à corda, para,
concentrando-se no salto Ser mais do que ela mesma?
Pois parada não
há em /parte alguma.
Vozes,
vozes.Escuta, coração como outrora somente
os santos
escutavam: até que o gigantesco apelo
levantava-os do
chão; mas eles continuavam ajoelhados,
inabaláveis,
sem desviarem a atenção:
eles assim
escutavam. Não que tu pudesses suportar
a voz de Deus,
de modo algum. Mas escuta o sopro,
a incessante
mensagem que nasce do silêncio.
Daqueles jovens
mortos sobe agora um murmúrio em direção /a ti.
Onde quer que
penetraste, nas igrejas
De Roma ou de
Nápoles, seu destino não falou a ti, /tranqüilamente?
Ou uma augusta inscrição
não se impôs a ti
Como
recentemente a lousa em Santa Maria Formosa.
Que eles querem
de mim? Lentamente devo dissipar
A aparência de
injustiça que às vezes dificulta um pouco
O puro
movimento de seus espíritos.
Certo, é
estranho não habitar mais terra,
Não mais
praticar hábitos ainda mal adquiridos,
Às rosas e
outras coisas especialmente cheias de promessas
Não dar sentido
do futuro humano;
O que se era,
entre mãos infinitamente cheias de medo
Não ser mais, e
até o próprio nome
Deixar de lado
como um brinquedo quebrado.
Estranho, não
desejar mais os desejos. Estranho,
Ver tudo o que
se encadeava esvoaçar solto
No espaço. E
estar morto é penoso
E cheio de
recuperações, até que lentamente se divise
Um pouco da
eternidade. - Mas os vivos
Cometem todos o
erro de muito profundamente distinguir.
Os anjos
(dizem) não saberiam muitas vezes
Se caminham
entre vivos ou mortos. A correnteza eterna
Arrebata
através de ambos os reinos todas as idades
Sempre consigo
e seu rumor as sobrepuja em ambos.
Finalmente não
precisam mais de nós os que partiram cedo,
Perde-se
docemente o hábito do que é terrestre, como o /seio materno
suavemente se
deixa, ao crescer.Mas nós que de tão grandes
mistérios
precisamos, para quem do luto tantas vezes
o abençoado
progresso se origina - : poderíamos passar /sem eles?
É vã a lenda de
que outrora, lamentando Linos,
A primeira
música ousando atravessou o árido letargo,
Que então no
sobressaltado espaço, do qual um quase /divino adolescente
escapou de súbito
e para sempre, o vazio entrou
naquela
vibração que agora nos arrebata e consola e ajuda?
- Rainer Maria
Rilke, em "Elegias de Duíno". [tradução Paulo Plínio Abreu em
colaboração com o antropólogo alemão Peter Paul Hilbert]. Belém/Pará: Jornal
Folha do Norte, publicado entre os anos de 1946 e 1948.
***
CARTAS A UM JOVEM POETA
- Carta nº 1 -
Paris, 17 de fevereiro de 1903
Prezadíssimo Senhor,
Rainer Maria Rilke, por Leonid Pasternak (1928) |
Depois de feito esse reparo, dir-lhe-ei ainda que seus versos não possuem feição própria, somente acenos discretos e velados de personalidade. É o que sinto com a maior clareza no último poema Minha Alma. Aí, algo de peculiar procura expressão e forma. No belo poema A Leopardi talvez uma espécie de parentesco com esse grande solitário esteja apontando. No entanto as poesias nada tem ainda de próprio e de independente, nem mesmo a última, nem mesmo a dirigida a Leopardi. Sua amável carta que as acompanha não deixou de me explicar certa insuficiência que senti ao ler seus versos sem que a pudesse definir explicitamente. Pergunta se os seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem, – usando da licença que me deu de aconselhá-lo – peço que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, – ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende as suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: “sou mesmo forçado a escrever?” Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples “sou”, então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se, então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite de início as formas usuais e demasiado comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e amadurecida para se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram tradições boas, algumas brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos gerais para aqueles que a sua própria existência cotidiana lhe oferece; relate suas mágoas e seus desejos, seus pensamentos passageiros, sua fé em qualquer beleza – relate tudo isto com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas de seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos de suas lembranças. Se a própria existências cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a sim mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Paro o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente. Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, essa esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações? Volte a atenção para ela. Procure soerguer as sensações submersas desse longínquo passado: Sua personalidade há de reforçar-se, sua solidão há de alargar-se e transformar-se numa habitação entre lusco e fusco diante da qual o ruído dos outros passa longe, sem nela penetrar.Se depois desta volta para dentro, deste ensimesmar-se brotarem versos, não mais pensará em perguntar seja a quem for se são bons. Nem tão pouco tentará interessar as revistas por esses seus trabalhos, pois há de ver neles sua querida propriedade, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério, – o único existente. Também, meu prezado senhor, não lhe posso dar outro conselho fora deste: entrar em si e examinar as profundidades de onde jorra a sua vida; na fonte desta é que encontrará a resposta à questão de saber se deve criar. Aceite-a tal como se lhe apresentar à primeira vista sem procura interpretá-la. Talvez venha a significar que o senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso aceito o destino e carregue-o com seu peso e sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora. O criador, com efeito, deve ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou.
Rainer Maria Rilke , por (...) |
Que mais lhe devo dizer? Parece-me que tudo foi acentuado segundo convinha. Afinal de contas, queria apenas sugerir-lhe que se deixasse chegar com discrição e gravidade ao término de sua evolução. Nada a poderia perturbar mais do que olhar para fora e aguardar de fora respostas a perguntas a que talvez somente seu sentimento mais íntimo possa responder na hora mais silenciosa.
Foi com alegria eu encontrei em sua carta o nome do professor Horacek; guardo por esse amável sábio uma grande estima e uma gratidão que desafia os anos. Fale-lhe, por favor, neste meu sentimento É bondade dele lembrar-se ainda de mim; e eu sei apreciá-la.
Restituo-lhe ao mesmo tempo os versos que me veio confiar amigavelmente. Agradeço-lhe mais uma vez a grandeza e a cordialidade de sua confiança. Procurei por meio desta resposta sincera, feita o melhor que pude, tornar-me um pouco mais digno dela do que realmente sou, em minha qualidade de estranho.
Com todo o devotamento e toda a simpatia,
___
** Fonte: RILKE, Rainer Maria, em "Carta nº 1' - Cartas a um jovem poeta." [tradução Paulo Rónai]. in: RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. A canção de amor e de morte do porta-estandarte Cristóvão Rilke. [tradução Paulo Rónai e Cecília Meireles]. 22ª ed., São Paulo: Globo, 1995.
AMIGOS
Rodin, Rose, Rilke dans le jardin de Meudon en compagnie de deux chiens, [S.1380] - Photo: Albert Harlingue - Acervo Musée Rodin |
Rainer Maria Rilke e Paul Valéry em Paris (verão, 1926) |
Rilke, 1902 (stehend, mit Notizheft) |
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Como citar:
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Rainer Maria Rilke - o poeta de todos os tempos. Templo Cultural Delfos, fevereiro/2024. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Rainer Maria Rilke - o poeta de todos os tempos. Templo Cultural Delfos, fevereiro/2024. Disponível no link. (acessado em .../.../...).
Obrigado, Elfi, por divulgar esse poeta e sua obra.
ResponderExcluirEu tenho em minha memória um verso assim : "Rosa, pura contradição - volúpia de quem não é o olho de ninguém debaixo de tantas pálpebras".
Eu agradeço a vc por fazer isso.
José Elias
Obrigada 😊 Adoro esse poeta e não tive oportunidade de comprar nenhum livro dele😊🌻🌺🌹🏵
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